Teses e Dissertações
Psicanálise e Fenomenologia nos dois eixos do pensamento de Gaston Bachelard: Diurno-Epistemológico e Noturno-Poético
PEDRO OLIVIERI FONSECA, Eder Soares Santos
Data da defesa: 18/01/2024
Dentro dessa pesquisa, foi adotado um recorte temático para que se pudesse trabalhar com os
dois polos que marcam toda extensão filosófica das obras do autor Gaston Bachelard, e
investigando a partir delas a possibilidade de uma interpretação da complementaridade entre
os dois núcleos de produção do autor. Para isso, foram selecionados temas não só que estão
presentes dentro das duas estruturas de produção do autor, como também elementos externos
à filosofia dele, mas que pudessem nos ajudar a reunir estas duas partes constituintes do
pensamento bachelardiano através da psicanálise e da fenomenologia. Portanto, a problemática
está assentada, sobretudo, nessa dualitude de suas obras, mas também na procura das ligações
existentes entre elas como complementares. Estes dois lados que compõem a completude do
pensamento são formados por um pensamento diurno, claro e objetivo que é estipulado para a
atividade científica e por isso caracteriza-se como epistemológico, e outro lado do pensamento
noturno, onírico e imagético, que se destina a devanear sobre as imagens poéticas. A despeito
da metodologia deste trabalho, foi elaborada uma dupla investigação bibliográfica que
pudessem respeitar as idiossincrasias de cada um dos eixos temáticos de produção do autor,
respeitando as particularidades específicas de cada área dentro de nossa reconstrução teórica
dos pontos principais que decidimos abordar tanto no período diurno como também no noturno.
Mas, não deixando obstante nossa busca em reunir aspectos que se entrecruzam dentro de uma
dinâmica de alternância para com a variação das atividades dos dois períodos, e que se
conectam numa interligação que atravessa os dois eixos por algum vínculo temático filosófico
que, em nossa opinião, provoca uma espécie de retroalimentação entre os polos, em sentido de
fomentar, enriquecer e ampliar uma mútua influência entre os lados da ciência e da poesia e
constituir a noção antropológica do homem das 24 horas.
O MÉTODO DE WITTGENSTEIN E A ALTERNATIVA AO NATIVISMO: A Gramática como Objeto de Investigação Gramatical
THAUAN SANTOS SOARES, Mirian Donat
Data da defesa: 24/01/2024
O propósito desta dissertação é conduzir uma investigação sobre a aquisição da
linguagem e da gramática, explorando o embate entre a Teoria da Linguagem como
Instinto, aqui personificada por Steven Pinker e fundamentada em Noam Chomsky, e a
tradição da Teoria da Aquisição da Linguagem Baseada no Uso, encabeçada por Michael
Tomasello e enraizada na filosofia de Ludwig Wittgenstein. Nossa meta é sustentar, a
partir de uma perspectiva Wittgensteiniana, que as explicações propostas pelas teorias
nativistas não contribuem efetivamente para o entendimento dos fenômenos que buscam
esclarecer. Em vez disso, ao fundamentar suas explicações no idealismo e no mentalismo,
essas teorias tendem a obscurecer ainda mais a compreensão dos processos linguísticos.
Assim, ao contrapor o nativismo à abordagem baseada no uso, nosso objetivo principal é
demonstrar a viabilidade de desenvolver abordagens alternativas para a compreensão da
gramática, especialmente no que concerne às diversas práticas que conferem sentido a
ela. Para alcançar nossos objetivos delineados, examinaremos os principais componentes
do método de investigação gramatical concebido por Wittgenstein, a fim de destacar as
ferramentas metodológicas que possam se revelar benéficas tanto para desafiar o
nativismo como para construir uma teoria da aquisição da linguagem ancorada no uso.
Posteriormente, nossa abordagem incluirá uma análise do contraste entre Pinker e
Tomasello sob duas óticas distintas. A primeira perspectiva engloba uma avaliação
comparativa das origens da linguagem e dos fatores biológicos, sociais e ontogenéticos
que facilitam a aquisição e o desenvolvimento linguístico. A segunda perspectiva se
concentra nos próprios processos de aquisição da linguagem.
Paridade de participação como paradigma normativo na concepção de justiça de Nancy Fraser
PAMELA PEREIRA PRESTUPA, CHARLES FELDHAUS
Data da defesa: 24/01/2024
Partindo da teoria crítica de Nancy Fraser, sob a discussão redistribuiçãoreconhecimento como foco inicial, o presente trabalho almeja examinar o princípio da
paridade de participação como fundamento normativo de sua concepção de justiça.
Para tal fim, é necessário pontuar as divergências e convergências entre as esferas
de redistribuição e reconhecimento, bem como tratar dos comentários e críticas da
autora às teorias monistas, de modo a examinar seus efeitos práticos nas
reivindicações sociais. Para tanto, faz-se necessário explorar conceitos básicos de
formação da estrutura social contemporânea e o diagnóstico das injustiças
decorrentes desta de modo que se compreenda a sociedade contemporânea como
uma ordem institucional multifacetada, na qual coexistem diversos eixos de
subordinação e de opressão, que se entrecruzam e se reforçam mutuamente em uma
sociedade transnacional. Como conclusão, pretende-se defender o princípio da
paridade de participação como paradigma normativo central na concepção de justiça
de Nancy Fraser demonstrando a sua efetividade para a métrica das demandas
sociais na atualidade, que requerem uma análise integrada: redistribuição,
reconhecimento e representação.
O compromisso com a equidade: um estudo sobre os mecanismos de justificação de Rawls, seus críticos e uma possibilidade de aplicação
RAFAELA FERREIRA DE SOUZA, CHARLES FELDHAUS
Data da defesa: 27/07/2023
Este estudo visa a reconstruir os principais elementos das estratégias de justificação
da concepção de justiça de Rawls, especialmente em suas obras Uma teoria da
justiça e Liberalismo político. Rawls fundamenta-se nos valores compartilhados de
liberdade e igualdade nas sociedades contemporâneas, criando um conjunto de
conceitos, tais como a posição original, equilíbrio reflexivo, consenso sobreposto e o
ideal de razão pública, para identificar e justificar princípios de justiça. Nesse estudo,
buscamos compreender como Rawls desenvolve sua estratégia argumentativa
nessas obras e aplicar os princípios estabelecidos a questões concretas, embora
reconheçamos algumas dificuldades práticas e culturais que essa aplicação pode
enfrentar. Também abordaremos as críticas aos mecanismos de justificação feitas
por Habermas e Dworkin. Um aspecto fundamental da teoria de Rawls destacado
neste estudo é a importância da equidade, argumentando que a justiça requer
tratamento igualitário para todos os cidadãos, garantindo que as desigualdades
sociais sejam justificadas e que aqueles em posições menos privilegiadas tenham
oportunidades justas de alcançar uma vida digna. Além disso, examinaremos como
a razão pública pode auxiliar na resolução de questões religiosas em sociedades
pluralistas, onde a laicidade do Estado é um princípio importante. Compreendendo
as estratégias de justificação da concepção política de justiça de Rawls, esperamos
contribuir para o debate sobre o papel da filosofia política na construção de
sociedades mais justas e equitativas, além de compreender as possibilidades e
limitações da aplicação de seus princípios em sociedades reais. Ao analisar os
diferentes mecanismos de justificação de Rawls, é possível entender as diversas
abordagens para justificar princípios de justiça e avaliar qual deles é mais adequado
para uma determinada sociedade. Ademais, ao estudar esses mecanismos,
podemos identificar limitações e desafios à aplicação da razão pública em
sociedades concretas, buscando encontrar soluções úteis e eficazes para promover
a justiça em cada contexto.
Política moral em Kant
Cleiton Marcolino Isidoro dos Santos , Fábio César Scherer
Data da defesa: 28/03/2023
Esta dissertação tem como objetivo apresentar os pressupostos jurídicos e morais da política em Kant, a fim de evidenciar que, além dos estritos elementos jurídicos que abarcam o conceito de política, há também elementos morais que fundamentam o agir público. Isto posto, a questão central desta pesquisa configura na demonstração de pressupostos morais que permeiam a ação política. Para isso, se fará necessário identificar os pressupostos jurídicos de fundamentação da política apontados na Doutrina do direito apresentada por Kant na Metafísica dos costumes, além de definir o caráter exercitante da política como aplicação da doutrina do direito. Por conseguinte, iniciará o questionamento quanto aos pressupostos morais que circundam a política. Nessa perspectiva, se apresentará a relação entre o direito e a moral sob a discussão se há elementos morais na fundamentação do direito e; a relação entre a política e a moral sob a apresentação de circunstâncias onde o agir político harmoniza-se com o mandamento moral. Feito tais apontamentos, esta pesquisa pretende clarificar os elementos jurídicos e morais que consubstanciam o agir político na sociedade civil, apresentando como ponto fulcral o papel da moral em tal proceder.
Hannah Arendt e a questão da Ideologia
Robson José Valentino Cruz, Maria Cristina Müller
Data da defesa: 29/03/2023
O tema da presente pesquisa é a concepção de ideologia apresentada por Hannah Arendt. Questionam-se o que é ideologia para Arendt e como a modernidade contribui para o seu uso como dominação. A pesquisa justifica-se por considerar que a ideologia na concepção de Arendt é um fenômeno da era moderna. A ideologia, como lógica de uma ideia, se configura como força que controla e guia o pensamento das pessoas e suas ações, vindo a substituir o senso comum. O senso comum, o “sexto sentido”, que possibilita o juízo reflexivo, é substituído pela ideologia transformando-se em força material da psicologia das massas. Arendt assevera que os movimentos totalitários modernos fazem uso da ideologia para controlar externa e internamente as pessoas; a linguagem, a história, o racismo e a religião assumem papel preponderante, contribuindo para a dominação da ideologia. Deste modo, a pesquisa tem como objetivo analisar como a ideologia é realizada materialmente na sociedade no que diz respeito à linguagem, a história, ao racismo e a religião. A pesquisa preocupa-se também em debater fenômenos que exemplificam como as ideologias funcionam para a fundamentação e propagação do racismo, como estopins para guerras civis, fundamento para o nacionalismo e para os movimentos étnicos e de classe, bem como para fundar e manter regimes totalitários comuns na Europa do Século XX. A hipótese aponta que a recusa ao pensar livremente é um aspecto importante das ideologias, uma recusa ativa de abertura ao mundo que destrói o poder de julgar e de compreender. Mais importante do que o conteúdo teórico, bem como a doutrina que a ideologia professa, é a cegueira que ela causa, em virtude da recusa ao mundo real e da falta de qualquer espaço para a pluralidade; recusa aos elementos que propiciam o exercício do julgamento e da autonomia de julgamento. A pesquisa é bibliográfica e concentra-se principalmente na obra de Hannah Arendt Origens do totalitarismo. Conclui-se que os regimes totalitários e os Estados Nacionais fizeram uso das ideologias — em seu aspecto político e racial — para alcançar o objetivo de dominação total de maneira a culminar não apenas no isolamento político, que está ligado à vida pública dos cidadãos, mas também na destruição interna da capacidade das pessoas refletirem e estabelecerem juízos acertados.
Wittgenstein e Danto: divergências e confluências sobre o tema da arte
Marco Aurélio Gobatto da Silva, Mirian Donat
Data da defesa: 10/03/2023
A presente tese aborda as filosofias de Ludwig Wittgenstein e Arthur Danto com foco no tema da arte. Discorre sobre a influência de Wittgenstein no âmbito da filosofia analítica da arte, principalmente em sua vertente antiessencialista. Nesse sentido, a tese apresenta as reflexões dos autores Paul Ziff, Morris Weitz e William Kennick destacando o posicionamento comum entre eles sobre a impossibilidade de se definir o conceito arte mediante propriedades necessárias e suficientes. A filosofia da arte de Danto é discutida aqui inicialmente em seu aspecto de oposição ao antiessencialismo de orientação wittgensteiniana. O escopo é apresentar o essencialismo dantiano e como ele buscou responder tanto os problemas que a própria produção artística contemporânea teria lançado no terreno teórico/filosófico quanto a influência de Wittgenstein na filosofia analítica da arte. Para Danto, o pensamento de Wittgenstein não era capaz de justificar uma resposta convincente sobre as razões pelas quais dois objetos aparentemente idênticos seriam ontologicamente distintos. Por outro lado, a tese pretende mostrar que se numa ontologia da arte a filosofia dantiana é demasiadamente contrária à de Wittgenstein, no caso de se considerar uma epistemologia da arte as duas perspectivas se aproximam de forma significativa. Ver algo transfigurado em arte - tal como defende Danto - apresenta paralelos com a noção wittgensteiniana de ver-como. Logo, defende-se aqui a existência de um diálogo entre as filosofias de Wittgenstein e Danto que transborda a discussão acerca da definição do conceito arte.
A FUNÇÃO CRÍTICA DO ÓCIO: A EDUCAÇÃO NO PERÍODO INTERMEDIÁRIO DE NIETZSCHE
Gabriel Mazamboni Pontes, José Fernandes Weber
Data da defesa: 14/04/2023
Ao abandonar os ideais de Schopenhauer e Wagner, sobretudo por identificar neles a reprodução de aspectos nocivos da Modernidade, Nietzsche escreve Humano, Demasiado Humano e inaugura uma nova fase em sua filosofia, que pode se caracterizar como uma reconciliação com a ciência a fim de combater a influência moral, religiosa e metafísica para a construção de uma cultura superior que toma a Grécia Antiga como aspiração. Em um aforismo intitulado Em favor dos ociosos, Nietzsche expõe a decadência dos eruditos e dos chamados “homens ativos” e a incapacidade destes de fruir uma vida contemplativa. A partir da valorização que o filósofo concebe ao ócio e à contemplação, intende-se mapear suas concepções de modo a inseri-las no problema da educação oriunda da Modernidade, questionar sua relevância no Cultivo de Si, discutir a figura do espírito livre neste âmbito, e identificar a ambiguidade da ciência no período intermediário de sua produção tomando o perspectivismo como parâmetro.
“Self-Ownership”e Propriedade Privada: O conflito normativo sobre direitos de propriedade privada e a justiça distributiva no libertarianismo de direita e de esquerda
Caio Motta, Andrea Luisa Bucchile Faggion
Data da defesa: 04/04/2023
No debate contemporâneo sobre filosofia política e justiça distributiva, o conceito de self-ownership aparece, especialmente no libertarianismo, como um importante elemento do argumento moral que justifica tanto os direitos que os indivíduos têm sobre o próprio corpo, como direitos de propriedade privada em recursos externos. Nesse sentido, nosso problema de pesquisa diz respeito à possibilidade de se conciliar self-ownership e uma distribuição igualitária de recursos externos, ou se a self-ownership somente nos confere o direito de não providenciar recursos e serviços a outros indivíduos, legitimando uma distribuição desigual de recursos externos. Desse modo, essa pesquisa tem como objetivo analisar, por meio da comparação dos argumentos normativos utilizados nas duas vertentes da teoria libertariana, como o libertarianismo de direita (representado, nessa pesquisa, por Eric Mack e Jan Narveson) e o libertarianismo de esquerda (representado por Hillel Steiner e John Christman) pensam a natureza da self-ownership como justificativa de direitos de propriedade privada e legitima moralmente distribuições igualitárias ou desiguais de recursos externos. A partir dessa discordância, propomos entender como ambas as visões pensam consequências distintas e contraditórias para a self-ownership no campo da justiça distributiva. No final, concluímos que self-ownership não pode ser conciliada com uma distribuição igualitária de recursos externos.
J.-J. Rousseau: do cuidado com a natureza e o viver em harmonia
Fábio José dos Santos, Arlei de Espíndola
Data da defesa: 13/04/2023
O trabalho enfatiza a compreensão de Jean-Jacques Rousseau sobre os elementos que compõem a interioridade do homem e dos diferentes ambientes naturais em que este se insere, bem como as relações entre essas duas esferas. A natureza é fator preponderante e estruturante para a construção das ideias do genebrino, de modo que, ela percorre toda a sua obra. Assim, o trabalho busca evidenciar, em várias de suas obras, a formação do ambiente natural construído a partir do conceito de natureza proposto pelo genebrino. No primeiro capítulo tratamos sobre o estado de natureza, com destaque ao ambiente natural que envolvia o bom selvagem e, posteriormente, o desenvolvimento do jovem Emílio, utilizando como referências a primeira parte do Segundo Discurso e os Livros I, II e III do Emílio. No segundo capítulo dissertamos sobre a ordem da natureza e o ambiente natural que se têm na relação entre o homem e a sua natureza, de maneira mais espiritual, religiosa e sentimental. Para esse fim utilizamos como referências a Profissão de fé do vigário saboiano (presente no Livro IV de Emílio) e a Sétima Caminhada dos Devaneios. Já o terceiro capítulo aborda as aproximações do homem, já corrompido pela sociedade, com a natureza, de forma a criar um ambiente natural nesses espaços. Aqui utilizamos como referências o Livro V do Emílio, a Quinta Caminhada dos Devaneios e as Cartas XI (Quarta Parte) e II (Quinta Parte) de Júlia ou A Nova Heloísa. Tem-se como resultado que o ambiente natural, mesmo que não seja diretamente mencionado pelo pensador, apresenta-se como um elemento externo na relação do homem com tudo o que o cerca, de modo a evidenciar um ordenamento em que o homem possa, mesmo em determinados espaços de tempo, viver harmoniosamente numa reconciliação de sua natureza com a cultura.