EDUCAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE O PRINCÍPIO EDUCACIONAL COOPERATIVO EM ORGANIZAÇÕES PARANAENSES
CHRYSTIAN BISCARO, Dr. LUIS MIGUEL LUZIO DOS SANTOS
Data da defesa: 30/08/2022
Esta dissertação aborda o tema da educação para a cooperação. A escolha desta expressão em detrimento de outras, como “educação cooperativista” ou “educação cooperativa”, deve-se ao foco estar direcionado aos valores cooperativos, o que por consequência pode levar a expressões organizacionais cooperativas. O movimento cooperativo deveria ser uma das materializações mais contundentes dos valores cooperativos, como solidariedade, democracia e bem comum, ainda que isso se dê em diferentes níveis e nuances. No entanto, ele se apresenta de modo bastante heterogêneo, repleto de manifestações, algumas complementares e outras antagônicas. Esse fato levou ao objetivo: compreender como diferentes modelos cooperativos entendem e vivenciam o exercício do quinto princípio cooperativo “educação, formação e informação” em organizações cooperativas paranaenses. A proposta centrou-se em entender os ideais e esforços que relacionam as cooperativas à questão da educação para a cooperação. Ademais, que educação seria essa, para quem serviria e a que custo? Foram analisados três modelos distintos de cooperativismo atuantes no Paraná: o concêntrico, o popular e o solidário. Destacam-se duas cooperativas vinculadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e uma cooperativa tradicional de grande porte. A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas semiestruturadas e pesquisa documental. A análise dos dados foi baseada no método de análise de conteúdo proposto por Bardin (2011), apoiado teórica e epistemologicamente pelos princípios do pensamento complexo de Edgar Morin. Dentre os resultados alcançados, destaca-se que a educação para a cooperação é vivenciada de maneira distinta entre as cooperativas pesquisadas. O compromisso com as causas sociais e o desenvolvimento de sujeitos novos com valores solidários e voltados ao bem comum são vistos com maior frequência nas cooperativas categorizadas como solidárias e populares. A cooperativa que representa o modelo concêntrico prioriza ações voltadas ao desenvolvimento técnico de capacitação de mão de obra, sem maior compromisso com o desenvolvimento da cultura da cooperação entre seus membros.
DIAGNÓSTICO E PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS À LUZ DA GESTÃO POR COMPETÊNCIAS PARA UM PLANO DE CARGOS, CARREIRAS E REMUNERAÇÕES: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA PREFEITURA MUNICIPAL
NELCI LOPES DE LIMA JUNIOR, Dr. LUCIANO MUNCK
Data da defesa: 30/11/2022
Essa dissertação buscou relatar, pela perspectiva do autor, a experiência vivenciada por um grupo de consultores / pesquisadores enquanto executaram um projeto de consultoria que teve como seu principal objetivo realizar um profundo diagnóstico e a partir dele propor melhorias, tendo como referencial essencial a gestão de pessoas por competências (GPPC), para um plano de cargos, carreiras e remunerações (PCCR) da Prefeitura Municipal de Arapongas / PR (PMA). A equipe do projeto, orientada pela metodologia de pesquisa-ação, utilizou uma série de procedimentos / instrumentos metodológicos como questionários, grupos focais, entrevistas e análise documental para realizar a coleta e o posterior tratamento dos dados com a intenção maior de apontar os principais gaps do atual Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações da Prefeitura Municipal de Arapongas / PR e, diante deles, propor alternativas que poderiam superá-los ou minimizar seus efeitos negativos. Já a presente dissertação utilizou a estratégica metodológica de relato de experiência, por meio da qual o pesquisador busca contribuir com a sua área de estudo relatando sistematicamente a experiência por ele vivenciada. Os resultados demonstraram que na PMA ainda há uma predominância do ideário que compõe o modelo de administração pública burocrático, fazendo com a estrutura e a atuação em relação as pessoas, incluindo o PCCR que determina muito do como deve ser realizada a gestão de pessoas, se concentre em procedimentos e processos que não permitem a real mensuração de resultados e, mais distante ainda, promova a melhoria do desempenho dos servidores públicos municipais. As proposições de melhora se concentraram na elaboração de um novo modelo que, entre outras coisas, sugere a adoção de cargos amplos ao invés de específicos, carreiras a partir dos cargos amplos com diferentes níveis de complexidade que podem ser atingidos com o desenvolvimento comprovado das competências identificadas como necessárias para os cargos, a mensuração das entregas dos servidores e a utilizações dessas como critério para promoção na carreira. A experiência, logo, o relato não contempla a implantação das melhorias propostas, essa é reconhecida como umas das principais limitações uma vez que se reconhece que durante o processo de implantação consideráveis mudanças podem se tornar necessárias. Por fim, se defende que novas pesquisa acerca das administrações públicas municipais sejam conduzidas para que, também, a população brasileira tenha acesso a serviços públicos em maiores quantidades e com melhores qualidades.
O que a Samarco Mineração S.A. fala e diz sobre a sustentabilidade: narrativas emitidas antes e depois do crime ambiental de Mariana (MG)
Camilla Atibaia Cestari, Prof. Dr. Rafael Borim de Souza
Data da defesa: 23/06/2022
A sustentabilidade se tornou objeto de interesse no mundo organizacional, fazendo com que as empresas passassem, cada vez mais, adotar narrativas que anunciam suas práticas sustentáveis. Nesta pesquisa, a sustentabilidade foi percebida como um dispositivo narrativo, em que o termo é aplicado frequentemente nas produções comunicativas para angariar lucros econômicos e simbólicos. A sociologia bourdieusiana foi considerada a lente interpretativa para esta pesquisa. Pierre Bourdieu rompe com a simplicidade do ato de comunicação, o sociólogo argumenta que as relações de comunicação são as próprias relações de dominação e de poder simbólico. Ao compreender que o falar é a externalização objetiva da linguagem e o dizer envolve toda uma complexidade subjetiva, assume-se que aquilo que é falado objetivamente nem sempre é aquilo que quer ser dito. E ainda, entre o falar e o dizer, existe a doxa, a dimensão simbólica da linguagem, representando o discurso dominante compartilhado. Para tanto, a pesquisa foi desenvolvida com o objetivo geral de compreender o que a Samarco Mineração S.A. quer dizer quando fala sobre a sustentabilidade. Para que esse objetivo fosse alcançado, a pesquisa foi classificada como qualitativa, descritiva e exploratória. Optou-se pela estratégia de pesquisa de estudo de caso, fundamentando-se pela associação da Samarco com o ecocídio ocorrido na cidade de Mariana (MG). Os dados foram alcançados por uma pesquisa documental, onde foram acessados documentos e fontes de comunicação da própria empresa, incluindo os relatórios de sustentabilidade, book de um ano do rompimento de Fundão e publicações do site institucional, Facebook e Youtube. As informações coletadas foram analisadas pelo método da análise de narrativas. Ao analisar a construção narrativa sobre a sustentabilidade, notou-se que a palavra foi aplicada distintivamente de maneira instrumental e superficial. Também foram encontradas fragilidades na coerência e fidelidade nas narrativas emitidas pela Samarco sobre sustentabilidade. A análise de narrativas promoveu a compreensão que quando a Samarco fala sobre sustentabilidade, a empresa exprime enunciações objetivas sobre suas ações sociais, ambientais e econômicas, mas quer dizer produtividade, gerenciamento e controle de imagem/reputação, crescimento econômico e operacional. Ademais, as ênfases narrativas que engradecem as ações socioambientais praticadas pela Samarco foram consideradas o discurso dominante compartilhado, ou seja, a doxa sobre a sustentabilidade da empresa, que reforça o estado de autonomização da empresa.
O Ateísmo nas relações de Trabalho
Diogo Barros de Azevedo, Profa. Dra. Sonia Regina Vargas Mansano
Data da defesa: 15/08/2022
O Brasil é um país marcado pela religiosidade da sua população. Os valores religiosos estão presentes na maioria das instituições sociais como, por exemplo, nas famílias, escolas, hospitais, governos e prisões. No campo laboral não seria diferente. Assumir uma posição distinta e se declarar ateu na sociedade brasileira ainda é uma prática rara, marcada por preconceitos e enfrentamentos de diferentes tipos. Apesar disso, esse tema ainda é pouco estudado na área de Administração que lida diariamente com um vasto contingente de trabalhadores. Tomando esse cenário em consideração, o presente estudo teve por objetivo compreender como o preconceito contra ateus se materializa nas relações sociais e de trabalho. Para isso, optou-se por fazer um diálogo interdisciplinar mobilizando estudos teóricos advindos da Sociologia, Filosofia, Psicologia e Administração. A parte teórica da pesquisa abordou quatro temas: a cultura e a civilização como pilares da vida em sociedade; a religião como uma construção cultural que produz efeitos nas relações sociais; e os efeitos da laicidade no cotidiano relacional, bem como a religiosidade e o ateísmo no contexto laboral. Na parte empírica, optou-se pela metodologia qualitativa de tipo exploratório, que contou com a participação de cinco entrevistados que se declararam ateus e se dispuseram a relatar suas experiências de enfrentamentos religiosos em contexto social e laboral. A estratégia metodológica da história oral foi adotada para elucidar como os participantes expõem sua condição de não religiosidade bem como as adversidades geradas por essa exposição no cotidiano. Como resultado, pode-se dizer que os participantes evidenciaram situações de constrangimento e demonstraram que os ateus optam com frequência por se manter em silêncio, ocultando sua posição religiosa, para evitar adversidades nos contextos social e laboral. Ao final da pesquisa, pode-se dizer que a experiência de ateísmo no cotidiano relacional e laboral difere negativamente das experiências laborais daqueles que se declaram religiosos, em especial os cristãos, sob os quais não pesa de forma equivalente os efeitos excludentes e as punições da cultura brasileira.