Teses e dissertações

A sustentabilidade se tornou objeto de interesse no mundo organizacional, fazendo com que as empresas passassem, cada vez mais, adotar narrativas que anunciam suas práticas sustentáveis. Nesta pesquisa, a sustentabilidade foi percebida como um dispositivo narrativo, em que o termo é aplicado frequentemente nas produções comunicativas para angariar lucros econômicos e simbólicos. A sociologia bourdieusiana foi considerada a lente interpretativa para esta pesquisa. Pierre Bourdieu rompe com a simplicidade do ato de comunicação, o sociólogo argumenta que as relações de comunicação são as próprias relações de dominação e de poder simbólico. Ao compreender que o falar é a externalização objetiva da linguagem e o dizer envolve toda uma complexidade subjetiva, assume-se que aquilo que é falado objetivamente nem sempre é aquilo que quer ser dito. E ainda, entre o falar e o dizer, existe a doxa, a dimensão simbólica da linguagem, representando o discurso dominante compartilhado. Para tanto, a pesquisa foi desenvolvida com o objetivo geral de compreender o que a Samarco Mineração S.A. quer dizer quando fala sobre a sustentabilidade. Para que esse objetivo fosse alcançado, a pesquisa foi classificada como qualitativa, descritiva e exploratória. Optou-se pela estratégia de pesquisa de estudo de caso, fundamentando-se pela associação da Samarco com o ecocídio ocorrido na cidade de Mariana (MG). Os dados foram alcançados por uma pesquisa documental, onde foram acessados documentos e fontes de comunicação da própria empresa, incluindo os relatórios de sustentabilidade, book de um ano do rompimento de Fundão e publicações do site institucional, Facebook e Youtube. As informações coletadas foram analisadas pelo método da análise de narrativas. Ao analisar a construção narrativa sobre a sustentabilidade, notou-se que a palavra foi aplicada distintivamente de maneira instrumental e superficial. Também foram encontradas fragilidades na coerência e fidelidade nas narrativas emitidas pela Samarco sobre sustentabilidade. A análise de narrativas promoveu a compreensão que quando a Samarco fala sobre sustentabilidade, a empresa exprime enunciações objetivas sobre suas ações sociais, ambientais e econômicas, mas quer dizer produtividade, gerenciamento e controle de imagem/reputação, crescimento econômico e operacional. Ademais, as ênfases narrativas que engradecem as ações socioambientais praticadas pela Samarco foram consideradas o discurso dominante compartilhado, ou seja, a doxa sobre a sustentabilidade da empresa, que reforça o estado de autonomização da empresa.
O Brasil é um país marcado pela religiosidade da sua população. Os valores religiosos estão presentes na maioria das instituições sociais como, por exemplo, nas famílias, escolas, hospitais, governos e prisões. No campo laboral não seria diferente. Assumir uma posição distinta e se declarar ateu na sociedade brasileira ainda é uma prática rara, marcada por preconceitos e enfrentamentos de diferentes tipos. Apesar disso, esse tema ainda é pouco estudado na área de Administração que lida diariamente com um vasto contingente de trabalhadores. Tomando esse cenário em consideração, o presente estudo teve por objetivo compreender como o preconceito contra ateus se materializa nas relações sociais e de trabalho. Para isso, optou-se por fazer um diálogo interdisciplinar mobilizando estudos teóricos advindos da Sociologia, Filosofia, Psicologia e Administração. A parte teórica da pesquisa abordou quatro temas: a cultura e a civilização como pilares da vida em sociedade; a religião como uma construção cultural que produz efeitos nas relações sociais; e os efeitos da laicidade no cotidiano relacional, bem como a religiosidade e o ateísmo no contexto laboral. Na parte empírica, optou-se pela metodologia qualitativa de tipo exploratório, que contou com a participação de cinco entrevistados que se declararam ateus e se dispuseram a relatar suas experiências de enfrentamentos religiosos em contexto social e laboral. A estratégia metodológica da história oral foi adotada para elucidar como os participantes expõem sua condição de não religiosidade bem como as adversidades geradas por essa exposição no cotidiano. Como resultado, pode-se dizer que os participantes evidenciaram situações de constrangimento e demonstraram que os ateus optam com frequência por se manter em silêncio, ocultando sua posição religiosa, para evitar adversidades nos contextos social e laboral. Ao final da pesquisa, pode-se dizer que a experiência de ateísmo no cotidiano relacional e laboral difere negativamente das experiências laborais daqueles que se declaram religiosos, em especial os cristãos, sob os quais não pesa de forma equivalente os efeitos excludentes e as punições da cultura brasileira.