O Ateísmo nas relações de Trabalho

Dissertação de mestrado

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Resumo

O Brasil é um país marcado pela religiosidade da sua população. Os valores religiosos estão presentes na maioria das instituições sociais como, por exemplo, nas famílias, escolas, hospitais, governos e prisões. No campo laboral não seria diferente. Assumir uma posição distinta e se declarar ateu na sociedade brasileira ainda é uma prática rara, marcada por preconceitos e enfrentamentos de diferentes tipos. Apesar disso, esse tema ainda é pouco estudado na área de Administração que lida diariamente com um vasto contingente de trabalhadores. Tomando esse cenário em consideração, o presente estudo teve por objetivo compreender como o preconceito contra ateus se materializa nas relações sociais e de trabalho. Para isso, optou-se por fazer um diálogo interdisciplinar mobilizando estudos teóricos advindos da Sociologia, Filosofia, Psicologia e Administração. A parte teórica da pesquisa abordou quatro temas: a cultura e a civilização como pilares da vida em sociedade; a religião como uma construção cultural que produz efeitos nas relações sociais; e os efeitos da laicidade no cotidiano relacional, bem como a religiosidade e o ateísmo no contexto laboral. Na parte empírica, optou-se pela metodologia qualitativa de tipo exploratório, que contou com a participação de cinco entrevistados que se declararam ateus e se dispuseram a relatar suas experiências de enfrentamentos religiosos em contexto social e laboral. A estratégia metodológica da história oral foi adotada para elucidar como os participantes expõem sua condição de não religiosidade bem como as adversidades geradas por essa exposição no cotidiano. Como resultado, pode-se dizer que os participantes evidenciaram situações de constrangimento e demonstraram que os ateus optam com frequência por se manter em silêncio, ocultando sua posição religiosa, para evitar adversidades nos contextos social e laboral. Ao final da pesquisa, pode-se dizer que a experiência de ateísmo no cotidiano relacional e laboral difere negativamente das experiências laborais daqueles que se declaram religiosos, em especial os cristãos, sob os quais não pesa de forma equivalente os efeitos excludentes e as punições da cultura brasileira.