Fundamentos Teóricos-Metodológicos Para o Ensino do Corpo dos Números Racionais na Formação de Professores de Matemática
Henrique Rizek Elias, Profª. Drª. Angela Marta Pereira das Dores Savioli, Prof. Dr. Alessandro Jacques Ribeiro
Data da defesa: 12/06/2017
Esta tese, de natureza qualitativa, está inserida no contexto da formação inicial de professores de matemática, mais especificamente na formação matemática desses professores. Pautados em pesquisas que discutem e evidenciam o distanciamento entre a matemática veiculada na Licenciatura em Matemática e a matemática da prática docente na Educação Básica, realizamos uma investigação que procura debater possibilidades de aproximações entre essas matemáticas, com vistas a favorecer o desenvolvimento do conhecimento profissional docente. Para tanto, focamos nossa atenção nos números racionais, um conceito primordial para o trabalho do professor na escola e que, em geral, nos cursos de Licenciatura em Matemática recebe um tratamento que se mostra pouco conectado com a prática do professor, sendo visto como um corpo, o corpo dos números racionais. Diante disso, a presente tese tem como objetivo investigar e propor fundamentos teórico-metodológicos para o ensino do corpo dos números racionais em cursos de Licenciatura em Matemática. Tomamos como base teórica para esta pesquisa a diferenciação entre Matemática Acadêmica e Matemática Escolar, tal como proposta por Plínio Moreira e Maria Manuela David, a abordagem dos Perfis Conceituais, de Eduardo Mortimer e colaboradores, e a noção de Conhecimento do Conteúdo no Horizonte, no sentido de Arne Jakobsen, Mark Thames e Miguel Ribeiro. Em um primeiro momento, por meio de um exercício teórico que buscou relacionar os referenciais que nos fundamentam, construímos uma caracterização para a matemática na formação do professor, dando-nos uma sustentação necessária para prosseguir com nossa investigação. Em um segundo momento, realizamos a produção e análise de dados oriundos de diferentes fontes: livros didáticos destinados ao Ensino Fundamental e outros ao Ensino Superior, entrevistas com professores da Educação Básica e com professores formadores, análises de pesquisas no âmbito da Educação Matemática que discutissem os números racionais, tanto na perspectiva da Matemática Escolar, como da Matemática Acadêmica e, por fim, análises de documentos curriculares oficiais que orientam o ensino de matemática nas escolas e nos cursos de formação de professores. Dessas análises, produzimos 31 Reflexões, que são produtos de nossas interpretações dos dados e que nos possibilitaram maior entendimento sobre o objeto de pesquisa. Essas Reflexões, junto a um estudo conceitual dos números racionais baseado nos subconstrutos de Thomas Kieren e um estudo sobre o desenvolvimento histórico desses números, baseado em fontes secundárias da história da matemática, convergiram para o terceiro momento da pesquisa, a organização de diferentes temas a partir dos quais os números racionais podem ser significados. Tal organização deu-se por uma ferramenta metodológica da abordagem dos perfis conceituais, chamada Matriz Epistemológica. Um quarto momento refere-se ao aspecto propositivo da pesquisa. Após os entendimentos proporcionados pelos três momentos anteriores, construímos uma sequência de três tarefas que indica possibilidades para o ensino do corpo dos números racionais na Licenciatura em Matemática. Por fim, apresentamos uma compreensão para os fundamentos teórico-metodológicos para o ensino do corpo dos números racionais na formação de professores, propondo que os números racionais sejam tomados como foco de ensino, não como um exemplo da estrutura algébrica corpo.
A Formação da Identidade Docente no Contexto do PIBID: Um Estudo à Luz das Relações com o Saber
Roberta Negrão de Araújo, Profª. Drª. Marinez Meneghello Passos
Data da defesa: 31/03/2017
A temática identidade docente passou a ser objeto de estudo no momento em que foi intensificada a discussão em torno da formação inicial do professor, sobretudo na década de 1990. Ao considerar tal discussão diante da formação docente, a presente pesquisa teve como norte o problema: Quais aspectos influenciam a formação da identidade do futuro professor no contexto do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID)? Compreender a formação da identidade docente (ID) constituiu-se, portanto, o objetivo geral dessa. Inicialmente, é abordado o contexto da pesquisa: o PIBID. O programa é apresentado no âmbito federal, além dos estudos do Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências e Educação Matemática (EDUCIM) – vinculado ao Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PECEM), ofertado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) – que o têm como objeto de estudo desde 2012, bem como a proposta de três subprojetos da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Na sequência, tendo como referência as teses produzidas acerca dessa temática desde a década de 1990, bem como seu fundamento teórico – Dubar (1997), Tardif (2002), Baumam (2005), Nóvoa (2007), Pimenta (1996, 1997) e Libâneo (2005), dentre outros – investigou-se a formação da identidade do licenciando. No que diz respeito ao referencial teórico-metodológico, são apresentadas a Matriz do Professor (ARRUDA; LIMA; PASSOS, 2001) e a Matriz do Estudante (ARRUDA; BENÍCIO; PASSOS, 2016) que subsidiaram a elaboração da Matriz Mista (MM)-Matriz 3x4. A partir desses fundamentos foram coletados dados, por meio de entrevistas semiestruturadas, junto aos licenciandos que atuaram como bolsistas, mais especificamente em três cursos que compõem o Centro de Ciência Humanas e da Educação (CCHE) do campus Cornélio Procópio: Ciências Biológicas, Geografia e Matemática. Foram selecionados quatro estudantes de cada uma das licenciaturas. Os dados foram analisados à luz da Análise Textual Discursiva, tendo os setores da Matriz Mista – um instrumento teórico-metodológico que investiga as relações com o saber a partir dos pressupostos de Charlot (2000) e do Triângulo Didático Pedagógico (ARRUDA; PASSOS, 2015) – como categorias a priori. Pode-se evidenciar que é em relação ao outro que o sujeito se constitui e se reconhece como sujeito, e é nesse contínuo que se constrói a identidade profissional, neste caso, a docente. Assim, considerando que o PIBID oportuniza inúmeras relações que possibilitam a aquisição dos saberes docentes, o referido programa tem contribuído, no caso dos subprojetos investigados, para a formação da identidade do futuro professor.
A aprendizagem de astronomia em redes sociais
Ferdinando Vinicius Domenes Zapparoli, Prof. Dr. Sérgio de Mello Arruda
Data da defesa: 15/08/2017
O objetivo dessa tese foi demonstrar como ocorre a aprendizagem científica em redes sociais, para isso, escolhemos de três comunidades dedicadas à Astronomia no Facebook e analisamos algumas das postagens realizadas pelos seus membros, além de entrevistar um moderador de cada uma dessas comunidades. As postagens devido às suas características foram enquadradas como Diálogos de Aprendizagem Informal (DIAI) e cada uma delas são compostas por pequenos textos chamados de posts que foram organizados e divididos em Unidades de Análise (UA) resultando em 255 ações virtuais que foram acomodadas em 22 categorias de ação separadas em dois tipos: pessoal e técnica. Tendo como referência os Focos de Aprendizagem Científica para analisar as postagens e as entrevistas, foi possível se constatar elementos como envolvimento, prática e reflexão, nas postagens dos membros das comunidades possibilitando a verificação de que durante os DIAI selecionados acontece aprendizado científico, concluindo que os mesmos são um exemplo de aprendizagem informal. Considerando as evidências apresentadas, concluímos que as comunidades do Facebook estudadas constituem uma comunidade de prática, sendo desse modo um setting apropriado para que seus membros discutam conceitos científicos associados à Astronomia possibilitando um aprendizado de acordo com o desejo pessoal dos participantes da comunidade, característica inerente à aprendizagem por livre escolha, um conceito importante da aprendizagem informal, o que nos permite considerar que mesmo nos ambientes virtuais pode-se aprender Astronomia.
A constituição do sujeito deficiente visual a partir do movimento de inclusão escolar: uma análise na perspectiva foucaultiana
Débora Ferreira da Silva, Profª. Drª. Rosana Figueiredo Salvi
Data da defesa: 19/07/2017
A presente tese teve como objetivos analisar, a partir dos enunciados dispersos nos documentos oficiais que compõem o corpus do trabalho, quais as condições de possibilidade para que o movimento de normalização/integração escolar perdesse força e desse lugar ao movimento de inclusão escolar no Brasil, dando destaque à deficiência visual; apontar como o processo de inclusão escolar, construído a partir de uma governamentalidade neoliberal, tem se caracterizado como imperativo de Estado e atuado como estratégia educacional e de mercado; e analisar o modo como os alunos com deficiência, mais especificamente os alunos com deficiência visual, tem sido caracterizados e posicionados nas recorrências discursivas dos documentos oficiais nacionais e internacionais. A partir da análise do corpus, duas questões apresentaram maior destaque: 1) O processo de inclusão escolar não é mais operado por opção, seja das famílias, das escolas ou dos próprios órgãos gestores destas políticas; ao se tornarem imperativas, tais políticas passam a ser operadas por uma questão de obrigatoriedade legal. Nessa perspectiva, todas as crianças devem ser matriculadas em escolas regulares, tenham elas deficiências ou não, e cabe às escolas, à comunidade e ao Estado se organizarem para a efetivação desse processo. 2) As práticas inclusivas, instituídas com esses documentos, proclamam a operação da governamentalidade neoliberal para a constituição de sujeitos capazes de participar do jogo econômico. Para tanto, é preciso que esses sujeitos desenvolvam determinadas habilidades e competências e tenham determinados modos de comportamento, possibilitando que a seguridade de todos seja mantida. Ao fim do trabalho, considerou-se dar continuidade à pesquisa a partir do desenvolvimento do dispositivo de cegagem, relacionando os elementos heterogêneos que o compõem.
A Matemática em Atividades de Modelagem Matemática: Uma Perspectiva Wittgensteiniana
Bárbara Nivalda Palharini Alvim Sousa, Profª. Drª. Lourdes Maria Werle de Almeida
Data da defesa: 14/03/2017
Nessa pesquisa buscamos investigar, sob uma perspectiva wittgensteiniana, o uso da linguagem e de procedimentos matemáticos em atividades de modelagem matemática. O estudo está fundamentado na Modelagem Matemática na Educação Matemática e tem como base filosófica os estudos de Ludwig Wittgenstein sobre linguagem e matemática. Para compor os dados empíricos da pesquisa, atividades de modelagem matemática foram desenvolvidas por alunos de um curso de Licenciatura em Matemática nas disciplinas de Equações Diferenciais Ordinárias e de Introdução à Modelagem Matemática. O desenvolvimento da pesquisa, a coleta de dados e o encaminhamento da análise fundamentam a metodologia de pesquisa como qualitativa. Os dados foram coletados por meio de registros escritos, gravações em áudio e vídeo, questionários e entrevistas. A análise dos dados, coletados com treze alunos no desenvolvimento de onze atividades de modelagem matemática, tem como suporte a metodologia de análise de dados que considera o uso da linguagem e as práticas discursivas dos alunos engajados nas atividades de modelagem matemática. No desenvolvimento das atividades de modelagem matemática a linguagem em uso é analisada e árvores de associação de ideias e linhas narrativas são os recursos analíticos que apresentam os resultados para a investigação. A partir da pesquisa empírica por meio de análises específicas investigamos os usos da linguagem e dos procedimentos matemáticos utilizados nas atividades de modelagem matemática, ou seja, equações diferenciais de primeira ordem, equações diferenciais ordinárias de segunda ordem e o recurso ao ajuste de curvas. Com base nas análises específicas, o cruzamento com as teorias de base nos permitiram definir três categorias a posteriori, às quais detalham, com base na perspectiva wittgensteiniana, a natureza das justificativas e proposições utilizadas em atividades de modelagem matemática, o uso de regras nas atividades de modelagem matemática e a ocorrência da formação de conceitos matemáticos no desenvolvimento das atividades de modelagem matemática.
O Contexto de Formação a Partir da Exploração de um caso Multimídia: Aprendizagens Profissionais de Futuros Professores de Matemática
Renata Viviane Raffa Rodrigues, Profª. Drª. Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino
Data da defesa: 12/04/2017
Esta pesquisa-intervenção, em que a pesquisadora assume o papel de formadora, situa-se em uma disciplina de prática como componente curricular de natureza interdisciplinar e integradora da teoria e da prática docente na formação inicial de professores de Matemática. Nesse campo, a investigação centra-se na questão geral: Que elementos do contexto de formação, assente em um caso multimídia de uma aula na perspectiva do Ensino Exploratório, oferecem oportunidades de aprendizagem profissional a futuros professores de Matemática? A aula contemplada nesse caso é desenvolvida por uma professora experiente no Ensino Exploratório e volta-se à promoção do pensamento algébrico de alunos de um 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública. Além de vídeos da aula, o recurso multimídia engloba o plano de aula, a tarefa matemática, áudios de entrevistas com a professora antes e após a aula, bem como as produções escritas dos alunos. Esta pesquisa segue uma metodologia de investigação qualitativa baseada na perspectiva interpretativa. Nessa direção, utiliza as respostas escritas que os futuros professores (FP) expressaram às questões integrantes do caso multimídia e as transcrições das discussões conjuntas de formação entre os FP e a formadora como fontes de dados. Os componentes da visão profissional do professor foram teórica e analiticamente adotados como indicadores dos conhecimentos e capacidades dos FP revelados no processo de perceber e raciocinar sobre aspectos relevantes do ensino e da aprendizagem nas mídias analisadas. Face ao ponto de partida dos 15 participantes desta pesquisa, os resultados da exploração, ao longo das duas primeiras etapas do caso multimídia, revelam evoluções na visão profissional dos sete grupos constituídos. O desenvolvimento dessa capacidade explicita aprendizagens mobilizadas sobre elementos nucleares do Ensino Exploratório – colaboração e comunicação, engajamento e autoridade matemática dos alunos, condizentes às abordagens de inquiry e à perspectiva dialógica, por conseguinte, difíceis de identificar e interpretar nas interações de sala de aula. De modo mais específico, os FP compreendem a constituição, articulação e sustentação de duas fases fundamentais em aulas dessa natureza – o desenvolvimento da tarefa e a discussão coletiva; bem como o papel do professor no seu planejamento e na promoção de aprendizagens e de interações dialógicas com e entre os alunos. Além disso, tomar decisões de ensino relativas à seleção e ao sequenciamento das resoluções dos alunos para a discussão coletiva caracteriza-se como uma capacidade profissional desafiadora para os FP, exigindo- lhes a percepção de aspectos do pensamento algébrico e compreensão matemática dos alunos combinada a outros elementos situacionais em jogo. Conclui-se que esse contexto oferece oportunidades diversificadas e substanciais de aprendizagem profissional a FP de Matemática ancorada em situações que representam mudanças significativas nos papéis tradicionais do professor e do aluno na cultura de sala de aula, cujos principais elementos associam-se ao formato e conteúdo das mídias; às questões propostas pelo multimídia; à organização e ao sequenciamento do multimídia; à dinâmica de exploração do caso multimídia e ao papel do formador no planejamento, suporte e orientação desse processo.
Educação Química Pelo Olhar Latouriano
Cristiane Beatriz Dal Bosc Rezzadori, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 20/03/2017
O papel político, a dimensão mais humana, as conexões estabelecidas, os jogos de poder, as disputas, os recursos de justificação e tradução parecem não chamar a atenção da comunidade que estuda a educação química em nosso país, deixando uma lacuna importante na compreensão dos seus processos produtivos. O pensamento do filósofo francês Bruno Latour e, mais especificamente, a sua noção de rede sociotécnica tem oferecido ferramentas, vieses e sensações produtivas para pensar de novo uma educação química como um fluxo mais realista e articulado a uma teia social, dos fatos quentes e moles que ainda não podem dizer nada de si e aguardam por validação em meio a um campo de disputas. Essa abordagem está voltada para a dinâmica da formação de associações e distribuição da ação entre atores humanos e não humanos. A partir da expressão destes atores, pode-se descrever e enfatizar seus movimentos, fluxos, circulações, alianças, estratégias e táticas de associação e negociação utilizadas na construção de uma rede antes que esta se torne uma “caixa-preta”. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo traçar um conjunto de articulações possíveis entre o pensamento latouriano e a prática e pesquisa no campo da educação química. Como esta abordagem não é de uso habitual, ao menos entre educadores químicos, inicialmente foram expostos alguns conceitos-chave do trabalho de Latour para habilitar o seu diálogo com a educação química. Posteriormente, com base nos conceitos apresentados, foram delineadas algumas possibilidades de uma articulação e contribuição do pensamento latouriano às investigações na área da educação química, a saber: o esvaziamento da origem da educação química e a recuperação do papel dos actantes não humanos no processo educacional ao lhes devolver o reconhecimento de sua agência e mediação. Nesse sentido, a proposta que aqui será apresentada não pretende inaugurar tendências, muito menos fazer recomendações e prescrições, mas sim oferecer um subsídio a-epistemológico e heterogêneo para multiplicar e matizar a gama de olhares e abordagens investigativas nesta área. Pensar a educação química a partir desta articulação permite passar ao largo de uma visão epistemológica de que qualquer atividade seja defendida com base em sua produção conceitual e teórica, em suas verdades consolidadas e encaradas como prontas e acabadas. Além disso, encará-la como uma prática de mediação que ocorre nos interstícios, nas micropolíticas que estão em jogo e requer um gasto energético de uma série de coisas conectadas e agenciadas por entidades que mobilizam recursos a fim de instaurá-la e de mantê-la dentro da rede a que pertence, abre um leque de possibilidades de investigação muito mais fecundo em direção à heterogênese das práticas educacionais.
Aulas de Matemática: Narrativas de uma Professora em Transição
Angela Fontana Marques, Profª. Drª. Regina Luzia Corio de Buriasco
Data da defesa: 20/02/2017
Este trabalho apresenta narrativas cuja fonte foram aulas ministradas semanalmente em uma turma do 3º ano de um curso técnico do Ensino Médio, com 22 alunos, durante o primeiro semestre do ano de 2013, em uma escola de um município situado no noroeste do Paraná. O principal objetivo foi conhecer aspectos da minha prática letiva na qual pensei atender os princípios e ideias da abordagem Educação Matemática Realística, entre eles, a Matemática como atividade humana, a aprendizagem Matemática por meio da matematização, o ensino e a aprendizagem por meio da Reinvenção Guiada. Analisando minha prática narrada nesta investigação percebo a grande dificuldade que ainda tenho de esperar o aluno pensar, construir estratégias e procedimentos por ele mesmo. Entendi que os princípios e pressupostos da RME vão além do planejar bem as aulas uma vez que estão na ação do professor, na prática docente, na ação do aluno, na dinâmica das aulas. A matemática como atividade humana faz parte da concepção de ensino da matemática do professor que se dispõe a trabalhar nessa perspectiva.
Semmelweis e a Febre Puerperal: Uma Análise na Perspectiva da Teoria do Ator-Rede
Aline de Moura Mattos, Prof. Dr. Marcos Rodrigues da Silva
Data da defesa: 07/03/2017
Neste trabalho proponho analisar um episódio da história da medicina ocidental do século XIX, envolvendo o médico Ignáz Semmelweis, que propôs uma etiologia e uma profilaxia para a doença que era conhecida como febre puerperal por acometer mulheres em seus períodos de pós-parto. Assim que começou a trabalhar na maternidade do Hospital Geral de Viena, em 1846, Semmelweis foi afetado por uma diferença nas taxas de mortalidade por febre puerperal que havia entre duas divisões da maternidade: a Primeira Divisão era dedicada à atuação de médicos e ao treinamento e formação de residentes; a Segunda, dedicada ao treinamento de parteiras. Na Primeira Divisão, a taxa de mortalidade por febre puerperal chegava a ser quatro vezes maior que na Segunda Divisão. Após investigar uma série de hipóteses que pudessem justificar essa perturbadora diferença e de um episódio crucial para a elaboração de sua hipótese, Semmelweis concluiu que a maior taxa de mortalidade na Primeira Divisão era devido ao que denominou de “matéria cadavérica”, transmitida às parturientes pelas mãos de médicos e residentes que realizavam dissecações em cadáveres, prática comum da anatomia patológica que começava a se instituir no século XIX. Assim, Semmelweis obrigou que todos lavassem as mãos com solução de cloreto, substância que, para ele, destruía a “matéria cadavérica”. Os resultados foram animadores: as taxas de mortalidade diminuíram significativamente assim que a higienização das mãos foi implantada; porém, apesar de tantas evidências e resultados que demonstrassem a eficiência da higienização nas práticas hospitalares, sua hipótese não foi aceita como um fato em sua época. Neste trabalho, analisarei Semmelweis como um construtor de fatos, buscando alimentar este episódio de controvérsias, de interesses heterogêneos e atribuindo à “matéria cadavérica” tanta ação como a Semmelweis. A intenção é pensar acerca das ações e conexões, das provas que uma hipótese terá de resistir para que possa adquirir o status de verdadeira e real. A realidade, na perspectiva adotada, é aquilo que resiste. Quanto mais articulada e conectada estiver uma hipótese, mais autonomia ela terá, mais chances de resistir, mais possibilidades de emergir como um fato, se tornar a realidade acerca de um fenômeno e ser aceita. É disso que trata a Teoria do Ator-Rede, abordagem que me valho para a criação da problemática e análise deste episódio da história da medicina. Não pretendo sugerir o que Semmelweis deveria ter feito para que sua hipótese fosse aceita, o objetivo é criar visibilidades para o quão complexa possa ser a aceitação de hipóteses científicas. Este trabalho se justifica na tentativa de trazer um enredo sobre práticas científicas que contribua para a desconstrução da noção, um tanto caricaturada, de investigações obedecendo a padrões gerais e duradouros de racionalidade.
Tecendo Redes na Formação Inicial Docente em Química: Por uma Identificação Fe(i)tichizada
Gustavo Pricinotto, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 17/02/2017
Neste trabalho, ao problematizarmos as possibilidades de produção de identidades docentes fixas e inertes nos cursos de Licenciatura em Química, questionamos os alicerces difusionistas fundamentados nos Estudos de Laboratório de Bruno Latour, buscando compreender o processo de formação de uma rede dentro destes cursos de formação inicial, na relação do par estagiário-professores. Buscamos na metodologia aberta da etnografia pós- moderna acompanhar durante um ano os atuantes do curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Maringá, na disciplina de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. As reflexões diante das observações, entrevistas, questionários e gravações das aulas, nos mostram como ocorre o processo de fortalecimento de determinados discursos em meio aos questionamentos que são feitos a identidade tradicional nos cursos. O processo de formação que visa levar os estudantes a se distanciarem de uma perspectiva tradicional e buscar ser “diferente” não “surge”, portanto, em sua oposição entre estes binários (fato-fe(i)tiche), mas da conexão e produção de uma rede com os mais diversos atuantes no processo de produção de identificações, móveis e instáveis. Neste sentido, acreditamos que a ideia de uma identidade de fato deva ser questionada, pois notamos que no curso proliferam-se identidades heterogêneas e híbridas, ou identificações fe(i)tichizadas, que ultrapassam o discurso biniarista/saltacionista: de um lado, tradicional, de outro, diferente. Neste sentido, se a formação é uma produção instável e passível de modificações ao longo do percurso, não seria mais de nosso interesse questionarmos os produtos destes curso de formação, mas de pensa-los enquanto produção, enquanto translações e controvérsias, e assim pensarmos a formação enquanto fe(i)tiche, enquanto constante identificação.