Teses e dissertações

A identidade é um tema que tem despertado interesse em diversas áreas de pesquisa nas últimas décadas. Dentre essas áreas está a Educação Matemática, com investigações com foco tanto na identidade do estudante quanto na do professor de Matemática. Tal interesse justifica-se pelo fato de a identidade funcionar como uma lente que possibilita a análise e a compreensão da complexidade dos processos educacionais. Nesta dissertação é adotada a definição de identidade fornecida por Sfard e Prusak (2005), segundo a qual as identidades consistem em um conjunto de narrativas significativas, endossáveis e reificantes. As reflexões presentes neste trabalho são feitas à luz da teoria pós-moderna, que considera que as identidades, que são construídas no interior de um sistema cultural, são sólidas ao mesmo tempo que são frágeis, são múltiplas, contraditórias e eternamente inacabadas. Nesse contexto, esta dissertação tem por objetivo compreender a forma como um professor participa do discurso da Matemática e as práticas com as quais ele se envolve, investigando por meio das histórias que ele conta de si mesmo os processos de construção das suas identidades. Esta pesquisa é de natureza qualitativa e conta com a realização de entrevistas semiestruturadas com um professor licenciado em Matemática que atua como professor desta disciplina na Educação Básica na rede pública de ensino. A exploração dos dados obtidos nas entrevistas é feita seguindo o arcabouço teórico da Análise Dialógica do Discurso, em que se busca compreender o enunciado por meio da contínua atribuição de sentidos (BRAIT, 2006a; SOBRAL, 2014). Argumenta-se que as narrativas significativas, endossáveis e reificantes de um professor de Matemática são mais do que apenas histórias, são identidades. Conclui-se que são as identidades, que consistem em narrativas reflexivamente ordenadas, que dão a esse professor as ferramentas com as quais ele dá coerência à vida e que é nelas que ele encontra abrigo temporário em um mundo que é fluído, transitório e incerto. Ainda, as práticas profissionais são norteadas pelas identidades desse professor porque as suas ações são direcionadas de forma a sustentar a autenticidade dessas histórias. Por fim, conclui-se que mudanças nas práticas profissionais só serão bem-sucedidas e sustentáveis a longo prazo se os programas de formação profissional forem atraentes às identidades desse professor.
O processo de alfabetização é um dos requisitos para a atuação plena na sociedade na qual o aluno está inserido, entretanto, os avanços tecnológicos têm afetado as atividades humanas, fornecendo novas tecnologias e multiplicando os meios e dispositivos de comunicação. Assim sendo, na atual sociedade, ou sociedade da informação (SI), as pessoas possuem acesso a uma vasta gama de informações, as quais, devido sua ambivalência, podem contribuir ou desamparar na superação dos desafios inerentes a vivência humana. Desta forma, para além da alfabetização tradicional, outras alfabetizações são importantes na formação do aluno, como a Alfabetização Científica e, como buscamos apontar na presente dissertação, a Alfabetização Midiática e Informacional (AMI). Assim sendo, caracterizada como um trabalho teórico-empírico de nível exploratório, objetivamos compreender e explicitar de que forma a AMI, proposta pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), pode contribuir com a educação científica (EC). Logo, destacamos a EC para a formação de alunos visando a superação de tais desafios, para tal, apontamos o desenvolvimento de competências pertinentes a SI, de forma que o aluno competente é aquele que possui condições de mobilizar seus conhecimentos, ou seja, para além das componentes conceituais, possui domínio das chamadas componentes procedimentais e atitudinais. Reconhecendo a AMI como contribuinte da EC, buscamos visualizar por meio de pesquisa documental algum indicativo de competências em AMI em documentos educacionais norteadores, a saber, os documentos analisados foram a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em especial as áreas de Ciências da Natureza no Ensino Fundamental (anos iniciais e finais) e a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, no Ensino Médio, assim como as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica (DCE) do estado do Paraná, nas áreas de Ciências e Física. Além disso, por meio de mapeamento, buscamos por trabalhos na plataforma Google Acadêmico visando identificar se, no ensino de ciências, há trabalhos cujo tema principal seja a AMI. Após a análise dos documentos educacionais, nota-se que não há menções diretas acerca da AMI, apenas de forma indireta, ou seja, competências que se assemelham as apontadas pela alfabetização. Por meio do mapeamento, destaca-se que são poucos os trabalhos no ensino de ciências que abordam a alfabetização, todavia, observa-se também que a quantidade de trabalhos, de forma geral, aumentou desde a publicação dos documentos da UNESCO. Ademais, mais do que apontar a AMI como contribuinte para a EC na SI, objetivamos propor um quadro teórico que possibilite aferir o nível em AMI de alunos, para tanto, foi feita uma adaptação do quadro proposto pela UNESCO de forma a incluir as componentes conceituais, procedimentais e atitudinais, assim como expandir um dos níveis presentes no quadro atual. Por fim, ante esta dissertação, pretendemos contribuir com a avaliação da AMI por meio do quadro teórico, assim como a popularização da alfabetização.
No ensino de Ciências, a sexualidade é um tema que deve ser amplamente abordado, principalmente entre adolescentes que, com a puberdade, passam por mudanças físicas e emocionais geradoras de diversos questionamentos. No/a adolescente surdo/a, isto não é diferente, haja vista que a puberdade também aflora o seu desenvolvimento emocional e sexual. Conforme evidencia a literatura, é baixa a quantidade de pesquisas que buscam articular as temáticas da sexualidade e da surdez. É nesse sentido que buscamos contribuir, analisando e sistematizando elementos relativos ao ensino da sexualidade destinados aos estudantes surdos do Ensino Fundamental. Por meio desse movimento, torna-se possível, por exemplo, elaborar futuras abordagens voltadas ao processo de ensino e aprendizagem de estudantes surdos/as, bem como para a formação inicial e em serviço de docentes. Logo, o principal objetivo que guiou essa pesquisa foi identificar, problematizar e analisar aspectos de ensino interligados à sexualidade do estudante surdo presentes na literatura e contrastá-los com os documentos norteadores de escolas de Educação Básica, na modalidade da Educação Bilíngue para surdos. As características da presente investigação coadunam-se às particularidades da pesquisa de natureza qualitativa do tipo descritiva e interpretativa. Como abordagem metodológica, adotou-se um levantamento bibliográfico e uma análise documental, em função de sua pertinência e adequação às intencionalidades estabelecidas na pesquisa. A obtenção e análise dos dados subsidiou-se no referencial teórico metodológico da análise de conteúdo. Dentre as inferências é possível destacar a carência de investigações que interligam as temáticas sexualidade e surdez, contribuindo para entraves epistemológicos. Ademais, constatamos que a sexualidade não é abordada de forma significativa nos documentos específicos da Educação Básica, na modalidade da Educação Bilíngue de Surdos/as, uma vez que foi baixo o número escolas que trataram dessa temática de forma aprofundada e levando em consideração as múltiplas dimensões da sexualidade. Desta forma, é preciso que os documentos escolares, sejam eles de escolas de surdos ou não, estejam em conexão com estudos científicos para que a sexualidade seja tratada de forma significativa nos espaços escolares.
Na cultura ocidental a menstruação opera em regimes de verdade que evidenciam a vergonha e ensinam a mantê-la em sigilo. Há séculos, diferentes discursos sobre a menstruação circulam entre nós, definindo o que é natural, positivo ou desejável. As práticas-discursos que a atrelaram ao nojo e a vergonha, gerando repressão e silenciamento perduram e se sobressaem mais como eventos místicos que mantêm de fora as influências das ciências. Nos propomos a investigar de que forma a ciência se articula a essas práticas que regem a menstruação. Para tal, elaboramos um questionário eletrônico contendo questões a respeito da menstruação, costumes e crenças relacionados a ela. A pesquisa contou com a participação de 69 pessoas, sendo 61 mulheres e 8 homens, na faixa etária de 18 a 64 anos, que tiveram acesso ao questionário a partir das redes sociais. O desdobramento analítico se deu com base em teorizações foucautianas acerca do discurso. Organizamos a análise em três eixos: o corpo; a dor; e a feminilidade e a maternidade. Para concluir, a partir dos discursos das participantes, elaboramos argumentos que evidenciam eventos em que as ciências se articulam tanto na manutenção de estruturas que oprimem e controlam os corpos que menstruam, quanto na sustentação de resistências à essas estruturas, e nesse jogo de poderes são estabelecidas conexões com a cultura, economia, religiões, misticismo e biopolítica.

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