Com Grandes Poderes Vem Grandes Responsabilidades: A Vida Acadêmica e as Formações Identitárias de Peter Parker nas Histórias em Quadrinhos do Homem-Aranha

Dissertação de mestrado

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Resumo

Em nosso cotidiano, estamos rodeados por manifestações midiáticas. Na perspectiva dos Estudos Culturais, esses produtos veiculam em seus discursos marcadores que impactam diretamente na constituição de nossas vontades, nossas percepções de mundo e, principalmente, nossas identidades. Guiada por esse entendimento e por algumas discussões realizadas pelo sociólogo Stuart Hall acerca da formação cultural da identidade, esta dissertação objetiva caracterizar e problematizar, a partir de uma análise cultural, as formações identitárias do personagem Homem-Aranha/Peter Parker, da editora Marvel Comics, e discutir o modo como alguns dos elementos presentes nesses enredos são capazes de fomentar as produções identitárias do público que os consome. As histórias escolhidas para a análise foram publicadas originalmente entre 1962 e 2001, com enredos que compreenderam fases que considerei serem as principais na vida acadêmica do personagem, indo do Ensino Médio até a Pós-Graduação, e foram lidas e interpretadas à luz da Análise de Discurso. Durante as análises, interpretei três formações identitárias como sendo as mais expressivas: a formação identitária do nerd; a do pesquisador/cientista em formação; e a de docente, em um momento em que o personagem já não mais é apresentado como estudante. Acerca dessas formações identitárias do personagem, minhas interpretações permitiram-me concluir que, nos enredos considerados para esta pesquisa, elas não necessariamente substituem umas às outras, mas coexistem, de modo que uma identidade era apenas posta sob rasura – para usar um termo discutido por Hall – quando outra(s) entrava(m) em funcionamento. Com as análises dos quadrinhos do Homem-Aranha, foi possível, também, entender que os elementos presentes nos enredos do personagem, por mais que tratem de questões cotidianas e, de certa forma, universais, não permitem a identificação de leitores com um perfil diferente daquele que Peter Parker (re)produz, o que acaba excluindo essa possibilidade para uma parcela do público. Apesar das problematizações e das discussões que realizo, não é minha intenção, com esta pesquisa, propor um modo único de olhar ou instituir uma metodologia de análise para produtos da mídia tais quais os quadrinhos do Homem-Aranha. O que busco, aqui, é chamar a atenção para a potência que instâncias dessa natureza possuem, ao colocar em funcionamento uma pedagogia própria para ensinar-nos, entre outras coisas, modos de ser e de agir, influenciando nossas constituições, em especial as identitárias, quando nos posicionamos como público consumidor dessas produções