Autonomia Performativa em um Cenário Escolar: Relatos de Si e Subjetividades
Luiza Gabriela Razêra de Souza, Profª. Drª. Rosana Figueiredo Salvi
Data da defesa: 18/02/2020
Na presente tese, considera-se como objeto de pesquisa relatos de estudantes acerca da avaliação de si mesmos em determinado cenário escolar e problematiza-se como se dá a constituição ética de sujeitos para que eles se entendam autônomos. Para isso, o trabalho é articulado em dois movimentos complementares entre si. No primeiro movimento, por meio das teorizações de Michel Foucault, delimita-se a emergência da ideia de autonomia do indivíduo que é celebrada na contemporaneidade e se esboçam as tecnologias no contexto escolar que moldam os sujeitos de modo que governem a si mesmos. O conceito de performatividade de Judith Butler vai ao encontro do que é exposto para elucidar como é naturalizada ao sujeito a ideia de que autonomia é um modo de ser intrínseco à existência do indivíduo, chamando de autonomia performativa o conjunto de ações de um sujeito dito autônomo. No segundo movimento, estabelecem-se as ferramentas metodológicas dispostas por Michel Foucault e traça-se um modo de investigar os relatos produzidos sobre si mesmo em um dispositivo pedagógico denominado Ficha de Autoavaliação. Como efeito das problematizações realizadas, elucida-se a composição da autonomia performativa sob seis mecanismos de subjetivação que operam na moldagem e transformação das condutas dos sujeitos, dentre os quais: 1) Devoção: mecanismo que molda as vontades dos sujeitos em relação àquilo que se almeja; 2) Oralidade: mecanismo que delimita modos de se expressar por meio da fala evocada; 3) Cordialidade: mecanismo que estabelece estilos eticamente corretos dos sujeitos se relacionarem; 4) Medicalização: mecanismo que age no sujeito para que ele entenda quando deve buscar ajuda para curar-se de suas imperfeições; 5) Pontualidade: mecanismo que incita o sujeito a cumprir aquilo que lhe é apresentado como obrigação; 6) Organização: mecanismo que circunscreve maneiras de o sujeito se relacionar com as coisas que lhe são dispostas. As transformações das condutas do sujeito ocorrem à medida que ele é provocado a relatar a si mesmo, falando sobre suas relações com os regimes de verdade que lhe são apresentados. Por meio do conjunto desses mecanismos, os sujeitos incorporam a si valores estéticos de ser, garantindo que sejam reconhecidos como autônomos e dando continuidade, ainda que em uma escala microscópica, à economia da maquinaria político-social.
Os modos de ser PIBID
Angélica Cristina Rivelini-Silva, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 16/12/2016
A presente tese busca compreender o processo de construção do espaço discursivo do subprojeto PIBID- Química UTFPR-Câmpus Apucarana. Esse processo foi analisado a partir das práticas discursivas e não discursivas que envolvem e constituem os bolsistas do subprojeto, afim de entendê-las como produtoras de um discurso que articula os dispositivos pedagógicos ao regular e autorizar os bolsistas a se perceberem em um espaço diferente ao da licenciatura. As análises permitiram uma justaposição entre os discursos colocados em circulação no espaço PIBID/Ap, como formação de professores, pedagogias, escola básica e avaliação constituintes do discurso do programa. Para que essa reflexão fosse possível, desviei o olhar de qualquer naturalidade e analisei os dados registrados durante um período de doze meses. Ao participar das reuniões semanais e atividades do grupo PIBID/Ap compus um registro de pesquisa formado por diário de campo (anotações), gravação de áudio e filmagem. Com esse material fui descrevendo as práticas que envolvem os bolsistas de iniciação à docência e de coordenação e pude apreender o processo de construção do espaço PIBID/Ap e a produção de verdades que regulam o seu funcionamento. Fundamentada teórica e metodologicamente em Foucault, especialmente nos conceitos de genealogia para um caminho metodológico e nas ferramentas conceituais de acontecimento, dispositivo, subjetivação e heterotopia, busquei entender como o espaço PIBID/Ap tornou-se produtor de verdades e de modos de subjetivação. O processo de implantação do programa e as atividades desenvolvidas nas reuniões semanais de orientação, me autorizaram a assumir o pressuposto de que no espaço PIBID/Ap desenvolvem-se práticas discursivas produtoras de modos de ser PIBIDiano. Na articulação dos conceitos de subjetividade e heterotopia, foi possível constatar que há uma relação intrínseca entre a representação do que seria o ‘professor melhor’ e a subjetividade do sujeito bolsista. Olhar para o PIBID/AP como construtor de heterotopias o torna um espaço de multiplicidade, de experiência e de singularidade – heterotopia acontece como possibilidade.