Pedagogizados por um mundo steampunk – um olhar para o ensino das ciências por meio de um filme de ficção científica
Ana Carolina Arenhardt Tomaz Bialetzi, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 13/05/2016
Esta dissertação tem como objetivo analisar e problematizar as produções no sentido em que pedagogizam os sujeitos para um mundo steampunk e para isso, como material de análise, foi escolhido o filme As Loucas Aventuras de James West (1999). Com base na vertente dos estudos culturais, considera-se que produtos midiáticos, como filmes, ensinam determinados modos de ser, estar e fazer, na relação aberta entre obra e espectador. No movimento inverso ao da produção cinematográfica, a escolha das cenas se deu identificando os sentidos que o filme produziu na pesquisadora, dentre os quais se destacou o conceito steampunk, que se tornou a ferramenta teórica da análise feita aqui. O steampunk coloca sobrasura diferentes conceitos e preconceitos que fluem por entre os grupos culturais, provocando pensamentos a respeito das informações que nos interceptam, das apropriações que fazemos, do que nos constituímos como participantes de uma geração profundamente afetada pela interrelação com os avanços tecnológicos e científicos. Deste modo, no processo de apropriação, entre lutas e desconfianças, em meio a processos de resistência, construímos/endereçamos de maneira negociada o significado de ciência, de homem, de máquina, conceitos que nos ensinam sobre um mundo steampunk, no qual relações de criação e interação formam um novo espaço. Por tais possibilidades entendemos que o material analisado pedagogiza e estabiliza modos de se viver e aceitar uma nova posição do homem, que já não é natureza em sua totalidade, que hibridizado se tornou ciborgue. Podemos, assim, apreender que o ato de assistir é um modo de apropriação e mediação cultural, de apropriação, pois nessa troca contrariam-se efeitos de homogeneização do cinema com relação ao grupo de espectadores que se pretende atingir. Encontramos neste trabalho subsídios para conjecturar que a educação pode ocorrer em diversos espaços da sociedade contemporânea, sendo a escola apenas um deles. Interpelados por filmes, propagandas, pela televisão, estamos a todo o momento sendo endereçados, particularmente neste caso, ensinados para a vida em uma sociedade tecnicista, uma vida steampunk.
Representações Modernas de Natureza nas Histórias em Quadrinhos do Papa-Capim
Bruna Jamila de Castro, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 11/12/2013
Pela perspectiva dos Estudos Culturais, toma-se Educação Ambiental como uma atividade discursiva que se propõe capaz de modificar atitudes, reformular conceitos e principalmente formar uma consciência ecológica. Corriqueiramente nos depararmos com inúmeras instâncias com intencionalidades conscientizadoras que almejam produzir e fazer-se representantes de um tipo particular de natureza: o mundo da ordem biológica, algo autônomo e independente do mundo cultural humano, que deve ser protegido. E com isso cada um de nós é interpelado a promover o “ecologicamente correto”, sendo convocados a transformar nossa maneira de ser. Partindo da ideia, advinda das teorias culturais, de que nos constituímos como sujeitos na e sobre a cultura, por meio da interação estabelecemos com as produções, as instituições e as práticas culturais, pareceu- me relevante e provocativo analisar um produto cultural que faz parte da vida de inúmeras crianças, adolescentes e adultos, algo que geralmente é visto como inocente e despretensioso: as Histórias em Quadrinhos (HQs) do Papa-Capim – da Mauricio de Sousa Produções. A presente investigação objetiva analisar as representações modernas de natureza presentes nas HQs do Papa-Capim, a fim de descrever e problematizar os significados, que a partir do meu olhar e de meus referenciais, estão sendo colocados em prática neste contexto de produção cultural de natureza. Do ponto de vista teórico-metodológico, a descrição apresentada tem fortes influências das perspectivas críticas das vertentes pós-estruturalistas, em especial as críticas à modernidade do filósofo Bruno Latour. O argumento central dessa dissertação é que amalgamado à aparência de entretenimento das HQs, há explícita tentativa de manter, de pôr em funcionamento, uma pedagogia ambiental, que ensina valores modernos, mantendo a ideia de uma transcendência da natureza-objeto, um tipo de discurso ambiental também amplamente conservador e colonialista. Por fim, alego que o discurso ambiental das HQs não simplesmente fala sobre a natureza, mas, antes, a constitui como uma forma específica e interessada de natureza. Defendo, portanto, que as HQs do Papa-Capim são uma das formas contemporâneas de produzir, de ensinar culturalmente, o que se entende por natureza.