Teses e Dissertações
Palavra-chave: identidades
Que baguio é esse?’: a negociação das identidades nas aulas de ciências
Aline de Moura Mattos, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 19/03/2012
Na tentativa de compreender como os estudantes estão ativamente
negociando identidades e como o fluxo científico vai se mantendo numa
disciplina escolar, acompanhei, por um período de oito meses, atividades
realizadas em aulas de Ciências, no Ensino Fundamental de uma escola
particular na cidade de Londrina, Paraná. Procurei explorar a relação dos
alunos e alunas com o discurso científico, os seus meios de apropriação e
como esse processo contribui para a construção de identidades. Acredito que
entender como se dão estes processos de identificação, tendo em vista a
multiplicidade de formas de sujeito, nos leva a (re)olhar a questão das
diferenças em sala de aula, dos tratamentos dados aos saberes trazidos por
cada sujeito, do linguajar de cada um, das formas de apropriação e
reconfiguração dos discursos. Ao procurar realizar uma análise do fluxo da
ciência em aulas de ciências, por meio das vozes dos estudantes, busquei
desalojar a ciência de um local privilegiado e mostrar suas transformações,
mostrar que as palavras tidas muitas vezes como “não científicas” estão
imbricadas numa rede discursiva que dão significado aos modos como os
estudantes identificam e diferenciam os saberes científicos. Este trabalho tem
influência teórica do campo dos Estudos Culturais, mais especificamente das
contribuições de Stuart Hall sobre a questão da identidade cultural. A
preocupação com o contexto em que ocorrem as ações sociais é uma marca
dos Estudos Culturais compartilhada com noções etnometodológicas, das
quais acredito ter me valido neste trabalho. Por perceber os estudantes como
sujeitos ativos, que se produzem e são produzidos nas e pelas relações
sociais, ao perceber a diversidade entre as várias maneiras que as pessoas
têm de construir e viver suas vidas, entendo que estudos de cunho
interpretativo, tal qual a etnometodologia, talvez sejam um primeiro esforço
para aceitar as diferenças que se resultam nesse processo de “viver a vida”,
fora ou dentro da escola. As observações conduzem para a ideia de
identidades não essenciais e de uma ciência mutável, sempre em
transformação, sempre reconfigurada pelos estudantes, em processo constante
de elaboração e produção. Produção que, por ser ativa, envolve resistência,
confronto, negociação, lutas. Acredito que é nesse movimento e nessas
intensas interações e negociações que a ciência vai se mantendo. O que pude
construir foi que as identidades válidas entre os alunos e alunas são aquelas
que funcionam no registro da fragmentação e da reapropriação mixórdica do
discurso científico como sua maior força para sobreviver no mundo fluído da
invenção, estranhamentos e constante (re)criação em que estes sujeitos estão
envolvidos.