As (re)construções das identidades de um professor de Matemática: uma interpretação a partir das narrativas
Ana Carolina Coutinho Consani , Profa. Dra. Ângela Marta Pereira das Dores Savioli
Data da defesa: 23/02/2023
A identidade é um tema que tem despertado interesse em diversas áreas de pesquisa nas últimas décadas. Dentre essas áreas está a Educação Matemática, com investigações com foco tanto na identidade do estudante quanto na do professor de Matemática. Tal interesse justifica-se pelo fato de a identidade funcionar como uma lente que possibilita a análise e a compreensão da complexidade dos processos educacionais. Nesta dissertação é adotada a definição de identidade fornecida por Sfard e Prusak (2005), segundo a qual as identidades consistem em um conjunto de narrativas significativas, endossáveis e reificantes. As reflexões presentes neste trabalho são feitas à luz da teoria pós-moderna, que considera que as identidades, que são construídas no interior de um sistema cultural, são sólidas ao mesmo tempo que são frágeis, são múltiplas, contraditórias e eternamente inacabadas. Nesse contexto, esta dissertação tem por objetivo compreender a forma como um professor participa do discurso da Matemática e as práticas com as quais ele se envolve, investigando por meio das histórias que ele conta de si mesmo os processos de construção das suas identidades. Esta pesquisa é de natureza qualitativa e conta com a realização de entrevistas semiestruturadas com um professor licenciado em Matemática que atua como professor desta disciplina na Educação Básica na rede pública de ensino. A exploração dos dados obtidos nas entrevistas é feita seguindo o arcabouço teórico da Análise Dialógica do Discurso, em que se busca compreender o enunciado por meio da contínua atribuição de sentidos (BRAIT, 2006a; SOBRAL, 2014). Argumenta-se que as narrativas significativas, endossáveis e reificantes de um professor de Matemática são mais do que apenas histórias, são identidades. Conclui-se que são as identidades, que consistem em narrativas reflexivamente ordenadas, que dão a esse professor as ferramentas com as quais ele dá coerência à vida e que é nelas que ele encontra abrigo temporário em um mundo que é fluído, transitório e incerto. Ainda, as práticas profissionais são norteadas pelas identidades desse professor porque as suas ações são direcionadas de forma a sustentar a autenticidade dessas histórias. Por fim, conclui-se que mudanças nas práticas profissionais só serão bem-sucedidas e sustentáveis a longo prazo se os programas de formação profissional forem atraentes às identidades desse professor.
Com Grandes Poderes Vem Grandes Responsabilidades: A Vida Acadêmica e as Formações Identitárias de Peter Parker nas Histórias em Quadrinhos do Homem-Aranha
Susan Caroline Camargo, Profª. Drª. Rosana Figueiredo Salvi
Data da defesa: 19/02/2020
Em nosso cotidiano, estamos rodeados por manifestações midiáticas. Na perspectiva dos Estudos Culturais, esses produtos veiculam em seus discursos marcadores que impactam diretamente na constituição de nossas vontades, nossas percepções de mundo e, principalmente, nossas identidades. Guiada por esse entendimento e por algumas discussões realizadas pelo sociólogo Stuart Hall acerca da formação cultural da identidade, esta dissertação objetiva caracterizar e problematizar, a partir de uma análise cultural, as formações identitárias do personagem Homem-Aranha/Peter Parker, da editora Marvel Comics, e discutir o modo como alguns dos elementos presentes nesses enredos são capazes de fomentar as produções identitárias do público que os consome. As histórias escolhidas para a análise foram publicadas originalmente entre 1962 e 2001, com enredos que compreenderam fases que considerei serem as principais na vida acadêmica do personagem, indo do Ensino Médio até a Pós-Graduação, e foram lidas e interpretadas à luz da Análise de Discurso. Durante as análises, interpretei três formações identitárias como sendo as mais expressivas: a formação identitária do nerd; a do pesquisador/cientista em formação; e a de docente, em um momento em que o personagem já não mais é apresentado como estudante. Acerca dessas formações identitárias do personagem, minhas interpretações permitiram-me concluir que, nos enredos considerados para esta pesquisa, elas não necessariamente substituem umas às outras, mas coexistem, de modo que uma identidade era apenas posta sob rasura – para usar um termo discutido por Hall – quando outra(s) entrava(m) em funcionamento. Com as análises dos quadrinhos do Homem-Aranha, foi possível, também, entender que os elementos presentes nos enredos do personagem, por mais que tratem de questões cotidianas e, de certa forma, universais, não permitem a identificação de leitores com um perfil diferente daquele que Peter Parker (re)produz, o que acaba excluindo essa possibilidade para uma parcela do público. Apesar das problematizações e das discussões que realizo, não é minha intenção, com esta pesquisa, propor um modo único de olhar ou instituir uma metodologia de análise para produtos da mídia tais quais os quadrinhos do Homem-Aranha. O que busco, aqui, é chamar a atenção para a potência que instâncias dessa natureza possuem, ao colocar em funcionamento uma pedagogia própria para ensinar-nos, entre outras coisas, modos de ser e de agir, influenciando nossas constituições, em especial as identitárias, quando nos posicionamos como público consumidor dessas produções
Formação de professores de Matemática em Comunidades de Prática: um estudo sobre identidades
William Beline, Profª. Drª. Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino
Data da defesa: 27/03/2012
Este trabalho teve por objetivo apresentar traços de identidade evidenciados no caminhar de uma Comunidade de Prática de Formação de Professores (CoP-Ação2), de forma a se discutir em que medida a dinâmica assumida em seus encontros permitiu o desenvolvimento de alguns destes traços na própria Comunidade, assim como na identidade “de professor de Matemática” de duas de suas participantes. Assumimos a perspectiva teórica de Etienne Wenger (1998, et al. 2002) para Comunidades de Prática e Identidade. Analisamos qualitativamente os Registros de Reunião elaborados pelo pesquisador, bem como de vinte e seis entrevistas com os membros da CoP-Ação2. Para tanto, utilizamos uma análise vertical, procurando por unidades de análise em cada uma das entrevistas e nos Registros de Reunião, para em seguida analisarmos todo o conjunto de forma horizontal. Neste processo, emergiram traços de identidade da CoP-Ação2 e de duas professoras, Ivete e Ana, evidenciados por seus membros, assim como pelo pesquisador. Em seguida, procuramos evidenciar em que medida o trabalho assumido pela comunidade em seus encontros, permitiu que alguns destes traços fossem desenvolvidos. Os resultados de tais análises indicam que a dinâmica impressa com o trabalho desenvolvido pela CoP-Ação2 se apresenta como uma alternativa para os atuais programas de Formação de Professores permeados por cursos/treinamentos. Ao analisarmos o processo de constituição da identidade da CoP-Ação2, consideramos que este se deu em uma via de mão dupla, ou seja, sua identidade foi se desenvolvendo em conjunto com a de seus membros, respeitando-se quem eram os participantes da CoP, assim como de onde falavam e atuavam. Além disso, consideramos que olhar para as identidades nos permite compreender o processo dinâmico e complexo, próprio das relações sociais, que precisa ser levado em consideração em tais programas de formação, pois ao se focar nos processos de desenvolvimento das identidades dos membros de uma Comunidade de Prática, estamos a descortinar muito mais ‘como’ se aprende, ao invés ‘do quê’ se aprende, um aspecto relevante em nosso processo de formação, pois possibilita mudanças em nossas identidades, assim como dos contextos em que estamos inseridos.
A relação com o saber e o estágio supervisionado em Matemática
Francieli Cristina Agostinetto Antunes, Prof. Dr. Sérgio de Mello Arruda
Data da defesa: 09/02/2007
Este trabalho tem como objetivo investigar a relação com o saber docente estabelecida por estagiários do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade do Oeste do Paraná no período do estágio supervisionado, que aconteceu em colégios públicos da cidade de Cascavel. Utilizamos como referencial teórico a Relação com o Saber conforme apresentada por Charlot, que é o conceito central do nosso trabalho e entendida como relação com o mundo, relação com o outro e a relação consigo mesmo.O foco está na análise das relações estabelecidas entre o estagiário e seu orientador, com seus alunos, com o professor da turma, com a escola e com os saberes relacionados à Matemática. Para levantamento das informações desta pesquisa foram entrevistadas três duplas de estagiários, totalizando seis pessoas. No desenvolver da entrevista, os estagiários foram convidados a falar sobre o período do estágio supervisionado, as relações estabelecidas e a experiência oriunda desse processo. As análises das transcrições foram feitas primeiramente utilizando diagramas diacrônicos e posteriormente mapas conceituais para cada relação estabelecida pelas duplas. Utilizamos tais instrumentos com o intuito de analisar as relações estabelecidas pelos estagiários quando confrontados com a necessidade de dar aula, que postura assumir em sala de aula, como prender a atenção do aluno, entre outros fatores relevantes ao licenciando.