Entre cientificidades e CUIAS: hibridizações no Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica dos Estudantes Indígenas da Universidade Estadual de Londrina (divulgação em 12/05/2023)
Felipe Tsuzuki, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 05/03/2021
Nesta pesquisa objetivou-se a investigação dos processos de negociação de significantes emergentes nas aulas da disciplina de Ciências da Natureza do Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica dos Estudantes Indígenas. As ações do Ciclo visam a qualificação acadêmica dos estudantes indígenas ingressantes na Universidade Estadual de Londrina via Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná, objetivando o fortalecimento de sua presença e permanência na universidade por meio da iniciação ao cotidiano acadêmico. Neste processo, os estudantes indígenas cursam as disciplinas de Ciências da Natureza, Língua Portuguesa e Matemática. A pesquisa foi conduzida com inspiração na prática etnográfica, visou-se a produção de uma descrição das aulas da disciplina de Ciências da Natureza do Ciclo, no período de um Eixo Temático, com ênfase nos processos de negociação e produção das diferenças culturais. No processo de descrição das aulas percebi uma suspensão das noções de ciências compartilhadas entre os estudantes, que se mostravam mais como sistemas complexos de fragmentos, tornando central as contingências emergentes de processos de hibridização, no sentido atribuído por Homi Bhabha, de identificações negociadas: identificações indígenas tradicionais e identificações indígenas traduzidas. No contexto do Ciclo, a identificação indígena traduzida se assemelha aos objetivos do curso, pois nessa identificação os estudantes indígenas mantêm relações com sua tradição e cultura, ao mesmo tempo que negocia com a universidade e, assim, produz com ela. Enquanto a identificação indígena tradicional pareceu se resguardar há uma identidade indígena fixada historicamente. Para além dos estudantes indígenas, a pesquisa evidenciou que a própria ciência, representada nas aulas analisadas pela química, sofreu torções resultantes da hibridização no espaço de diferença cultural. Esta química, antes tida como conteúdo da disciplina de Ciências da Natureza, se produziu ciência dotada de personalidades e desejos os quais os aproximaram da relação cultural dos indígenas com a natureza. Nesse sentido, a química se produziria de uma outra forma, torcida, modificada e personificada. Por fim, os estudantes indígenas e o educador agiram ativamente nesse processo de hibridização que produziu a torção da química, o que implica na influência destes estudantes indígenas sobre o espaço universitário e as modificações provocadas nas relações inerentes a ele.