Teses e Dissertações
Palavra-chave: ensino básico
A percepção de pesquisadores brasileiros e portugueses sobre o Ensino da Natureza da Ciência nas salas de aula da Educação Básica
Anderson Camatari Vilas Boas, Prof. Dr. Marcos Rodrigues da Silva
Data da defesa: 26/02/2018
Esta tese, de cunho qualitativo, buscou evidenciar a percepção de pesquisadores brasileiros e
portugueses a respeito de como ocorre, ou por quais motivos não ocorre, o ensino da Natureza
da Ciência (NdC) nas salas de aula do Ensino Fundamental e Ensino Médio brasileiras, e nas
salas de aula do Ensino Básico e Ensino Secundário portuguesas. O objeto de estudo foram
vinte entrevistas audiogravadas com pesquisadores, sendo: trezes brasileiros, líderes de
grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, da área de Ensino de Ciências e com linhas de
pesquisa em História e Filosofia da Ciência (HFC) ou NdC; e sete portugueses, docentes
universitários com experiência em formação de professores e com publicações que relacionam
História da Ciência (HC), ou HFC, ou NdC ao ensino. As entrevistas foram transcritas e
analisadas segundo a metodologia da Análise Textual Discursiva, de forma independente para
cada contexto, brasileiro e português. Os resultados mostram, em primeiro lugar, que tanto no
Brasil quanto em Portugal, de acordo com percepção dos pesquisadores entrevistados, a NdC
não é discutida pelos professores em suas salas de aula, salvo em alguns casos raros e
pontuais, quase sempre relacionados com a participação de estudantes ou pesquisadores da
universidade. Em segundo lugar, para esses casos em que a NdC é ensinada, ela é abordada de
cinco maneiras no contexto brasileiro: via relações Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS),
pelo uso de HC ou HFC, por meio de atividades práticas, pelo método do ensino por
investigação, por atividades de modelagem, ou via atividades de divulgação científica; e é
abordada de três maneiras no contexto português: enfatizando aspectos interdisciplinares das
ciências, pelo método do ensino por investigação, ou pelo uso da HC. Em terceiro lugar, para
os casos (mais comuns) em que não ocorre o ensino da NdC nas salas de aula, a despeito das
diferenças entre os contextos educacionais brasileiro e português, as causas apontadas pelos
pesquisadores entrevistados foram semelhantes: os professores não têm tempo para isso, pois
estão sobrecarregados pelas burocracias da rotina escolar diária e por conta das exigências do
currículo (com muitos conteúdos e pouca carga horária de aulas) e do sistema educacional
(por vezes muito invasivo e determinista em suas cobranças sobre o professor, e com sistemas
de avaliação que induzem à preferência por determinados conteúdos em detrimento de outros
como a NdC); ou não há materiais didáticos com discussões sobre NdC disponíveis para os
professores, ou quando há, são de qualidade duvidosa ou de difícil interpretação e uso pelos
professores; os cursos de formação docente ou não proveram os professores com o necessário
para que pudessem ensinar sobre a NdC, ou fizeram tais discussões de forma muito
superficial; e a universidade não se articula com a escola tanto quanto poderia, por meio de
projetos ou ações de pesquisa de mais longo prazo, limitando-se a ações pontuais que pouco
impactam na realidade escolar.