Teses e Dissertações
Palavra-chave: educação química
Educação Química Pelo Olhar Latouriano
Cristiane Beatriz Dal Bosc Rezzadori, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 20/03/2017
O papel político, a dimensão mais humana, as conexões estabelecidas, os jogos de
poder, as disputas, os recursos de justificação e tradução parecem não chamar a
atenção da comunidade que estuda a educação química em nosso país, deixando
uma lacuna importante na compreensão dos seus processos produtivos. O
pensamento do filósofo francês Bruno Latour e, mais especificamente, a sua noção
de rede sociotécnica tem oferecido ferramentas, vieses e sensações produtivas para
pensar de novo uma educação química como um fluxo mais realista e articulado a
uma teia social, dos fatos quentes e moles que ainda não podem dizer nada de si e
aguardam por validação em meio a um campo de disputas. Essa abordagem está
voltada para a dinâmica da formação de associações e distribuição da ação entre
atores humanos e não humanos. A partir da expressão destes atores, pode-se
descrever e enfatizar seus movimentos, fluxos, circulações, alianças, estratégias e
táticas de associação e negociação utilizadas na construção de uma rede antes que
esta se torne uma “caixa-preta”. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo
traçar um conjunto de articulações possíveis entre o pensamento latouriano e a
prática e pesquisa no campo da educação química. Como esta abordagem não é de
uso habitual, ao menos entre educadores químicos, inicialmente foram expostos
alguns conceitos-chave do trabalho de Latour para habilitar o seu diálogo com a
educação química. Posteriormente, com base nos conceitos apresentados, foram
delineadas algumas possibilidades de uma articulação e contribuição do
pensamento latouriano às investigações na área da educação química, a saber: o
esvaziamento da origem da educação química e a recuperação do papel dos
actantes não humanos no processo educacional ao lhes devolver o reconhecimento
de sua agência e mediação. Nesse sentido, a proposta que aqui será apresentada
não pretende inaugurar tendências, muito menos fazer recomendações e
prescrições, mas sim oferecer um subsídio a-epistemológico e heterogêneo para
multiplicar e matizar a gama de olhares e abordagens investigativas nesta área.
Pensar a educação química a partir desta articulação permite passar ao largo de
uma visão epistemológica de que qualquer atividade seja defendida com base em
sua produção conceitual e teórica, em suas verdades consolidadas e encaradas
como prontas e acabadas. Além disso, encará-la como uma prática de mediação
que ocorre nos interstícios, nas micropolíticas que estão em jogo e requer um gasto
energético de uma série de coisas conectadas e agenciadas por entidades que
mobilizam recursos a fim de instaurá-la e de mantê-la dentro da rede a que pertence,
abre um leque de possibilidades de investigação muito mais fecundo em direção à
heterogênese das práticas educacionais.