Corpos que sangram: sobre discursos de menstruação e ciências
Ana Carolina Hyrycena, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 20/04/2023
Na cultura ocidental a menstruação opera em regimes de verdade que evidenciam a vergonha e ensinam a mantê-la em sigilo. Há séculos, diferentes discursos sobre a menstruação circulam entre nós, definindo o que é natural, positivo ou desejável. As práticas-discursos que a atrelaram ao nojo e a vergonha, gerando repressão e silenciamento perduram e se sobressaem mais como eventos místicos que mantêm de fora as influências das ciências. Nos propomos a investigar de que forma a ciência se articula a essas práticas que regem a menstruação. Para tal, elaboramos um questionário eletrônico contendo questões a respeito da menstruação, costumes e crenças relacionados a ela. A pesquisa contou com a participação de 69 pessoas, sendo 61 mulheres e 8 homens, na faixa etária de 18 a 64 anos, que tiveram acesso ao questionário a partir das redes sociais. O desdobramento analítico se deu com base em teorizações foucautianas acerca do discurso. Organizamos a análise em três eixos: o corpo; a dor; e a feminilidade e a maternidade. Para concluir, a partir dos discursos das participantes, elaboramos argumentos que evidenciam eventos em que as ciências se articulam tanto na manutenção de estruturas que oprimem e controlam os corpos que menstruam, quanto na sustentação de resistências à essas estruturas, e nesse jogo de poderes são estabelecidas conexões com a cultura, economia, religiões, misticismo e biopolítica.
A Educação Ambiental diante da questão Pós-moderna: uma análise arqueológica dos discursos de professores de ciências
Adalberto Ferdnando. Inocêncio, Profª. Drª. Rosana Figueiredo Salvi
Data da defesa: 26/02/2015
O objeto de estudo nesta dissertação foi a relação Ser-saber no domínio discursivo de docentes com ênfase na problematização dos saberes que orientam suas compreensões de ciência e crise ambiental, identificando suas práticas em Educação Ambiental (EA). Essas práticas são entendidas como resultado de certos elementos discursivos aos quais os docentes têm acesso – discursos reverberados – em detrimento do que é apagado – discursos rarefeitos. O objetivo da investigação foi conhecer as manifestações discursivas de professores de Ciências a respeito de ciência na contemporaneidade e de que maneira a composição de enunciados aparentes repercutem nas abordagens em EA. Metodologicamente, foram entrevistados nove professores de Ciências do Ensino Fundamental de escolas de distintas regiões da cidade de Maringá-PR. Para a análise dos discursos desses docentes foi utilizado o método arqueológico teorizado por Michel Foucault, apresentando-os em Focos. Como resultado dessa análise pode-se notar a prevalência de compreensões mais “abertas” de ciência – paradigmas emergentes. Em relação à crise ambiental os resultados apontam discursos naturalizados e, portanto, hegemônicos, acompanhados da crença de que sua solução será orientada por apelos técnico-científicos. Em nosso exame, as formações discursivas dos docentes entrevistados mostraram uma transição de enunciados. Entre os docentes há, ainda, a crença em ideais da Modernidade, ao mesmo tempo em que há discursos que situam a ciência em um campo ainda incerto, destituído de políticas claramente estabelecidas.
(Re)significações da sexualidade: olhando um vídeo caseiro no YouTube
Maria Lúcia Corrêa, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 14/06/2011
Neste trabalho olho o vídeo caseiro produzido e postado no YouTube, como estratégia, por meio da qual procuro chamar a atenção para o papel que as tecnologias da comunicação e informática, em especial este site, adquire enquanto dispositivo implicado na produção de inscrições de corpos e nele, da sexualidade. Ao transitar pelos conceitos/ferramentas de autores do campo dos Estudos Culturais, numa perspectiva foucaultiana, utilizo a etnografia virtual como metodologia, procurando deslocar conceitos, tais como identidade, cultura, verdade, sexualidade e corpo, procurando mostrar o papel constitutivo das práticas culturais em funcionamento em diferentes instâncias e o caráter construído das identidades, e nelas, dos corpos e suas sexualidades. Para isto dois instrumentos da produção cinematográfica foram utilizados como ferramenta analítica: decupagem e endereçamento, uma como estratégia da produção de um vídeo e a outra como um evento ou uma estruturação, que atravessa deliberadamente esta montagem. Com estes instrumentos realizei uma (des)construção do vídeo com vista ao entendimento das relações de poder que atravessam o discurso de sexualidade. Os vídeos caseiros, postados neste site que discursam a respeito de corpo e sexualidade, permitem uma difusão e proliferação da sexualidade construída nas interações estabelecidas nestas relações de poder entendendo que, por meio desta tecnologia incutida da cibercultura. O vídeo analisado neste trabalho mostrou que corpo e sexualidade são difundidos e proliferados em uma leitura além de seus aspectos biológicos, revelando um discurso que pode trazer entonações históricas, políticas e sociais, cujas relações de poder podem ser lidas e interpretadas, constituindo um poder circulante neste vídeo, no próprio acontecimento registrado, mostrando um dispositivo que revela a sexualidade proferida no dia-a-dia, atravessando identidades, revelando diferentes corpos e diferentes maneiras de colocar o sexo em discurso.