A dinâmica das controvérsias na transformação de um projeto pedagógico de curso: um estudo à luz da teoria ator rede.
Jayme Marrone Júnior, Prof. Dr. Sergio de Mello Arruda
Data da defesa: 07/06/2021
A pesquisa surge da observação e participação do autor no processo de implantação de uma proposta metodológica que sugeria a ruptura com o ensino tradicional através de iniciativas, como a desfragmentação disciplinar e regime não seriado, em um campus de uma instituição pública federal, no ensino médio profissionalizante. Durante esse processo ocorreram conflitos entre professores, estudantes e comunidade sobre a metodologia descrita no Projeto Pedagógico de Curso (PPC). Em quatro anos o PPC 2014 se transforma no PPC 2018 este último com características mais próximas do ensino tradicional. Como as discussões aconteciam em torno do documento (PPC), e ainda observando que o mesmo interagia com o coletivo escolar, provocando ações que resultavam em controvérsias, optamos por utilizar a Teoria Ator-Rede (ANT) de Bruno Latour como referencial teórico e metodológico. Para esse autor a ação não é uma prerrogativa apenas de humanos, mas de um conjunto de híbridos humanos e não humanos (actantes). Através da descrição das controvérsias e do movimento de transformação da rede do PPC, o trabalho tem como objetivo geral investigar a mudança na proposta pedagógica deste campus do IFPR entre 2014 e 2018 sob a lente da Teoria Ator-Rede. Como objetivo específico pretendemos atribuir significado à hipótese de que um ator-rede só tem existência em uma rede que o sustenta. Isso significa que a mudança do PPC 2014 para o PPC 2018 só aconteceu porque a proposta inicial (PPC 2014) não encontrou uma rede onde ela poderia se desenvolver. Com o auxílio da Análise de Conteúdo e da Cartografia de Controvérsias, constituímos e analisamos os dados a partir de documentos e entrevistas semiestruturadas. A partir daí produzimos um relato documentado que descreve o caminho do PPC 2014 desde sua criação até seu abandono e consequente surgimento do PPC 2018. O trabalho com a ANT permitiu observar que os elementos emergentes da análise da formação das redes são resultado da necessidade funcional de subsistência da própria rede, ou seja, o ator e a rede são uma única entidade. Cada formação de rede exige um PPC específico e sua consistência global não depende apenas da soma de suas partes, ou melhor dizendo, da constituição de seus actantes, mas das relações/ações entre eles. Ao seguir a dinâmica da Controvérsia da Metodologia, eleita como a principal controvérsia, constatamos que a proposta inicial representada pelo PPC 2014 existiu apenas em sua idealização como projeto. Durante toda tentativa de execução da proposta, a mesma exigiu adaptações que provocaram movimento de seus actantes, formando novos arranjos mas sem encontrar, em nenhum momento, uma rede apropriada à sua sustentação.
O antropoceno e a urgência de pensar possibilidades não modernas para a análise de questões ambientais: a controvérsia da solução para a poluição dos oceanos por plásticos
Bruna Jamila de Castro, Prof. Dr. Moisés Alves de Oliveira
Data da defesa: 27/04/2018
Antropoceno é um dos nomes que vêm sendo acionados para se pensar os modos possíveis de enfrentamento das condições de existência atuais. Aquecimento global, perda da biodiversidade, poluição atmosférica, acidificação dos oceanos, escassez de água potável, são bons exemplos de questões que batem à nossa porta e têm potência para colocar em risco o futuro da vida no planeta. Todavia, temos permanecido indiferentes a elas. O que explicaria essa nossa falta de afetação para com as questões ambientais? Segundo o filósofo Bruno Latour, a fonte do problema estaria no modo como temos interpretado o mundo. O grande entrave estaria no modelo moderno, que organiza a realidade em duas zonas ontológicas inteiramente distintas: Sociedade e Natureza. Com esta abordagem, de acordo com o autor, não temos condições de apreender e interpretar as questões ambientais, estaríamos apenas a proceder um “salto mortale” entre humano e não-humano, ignorando o “meio do caminho”, isto é, o que liga os seres uns aos outros: as práticas de tradução. Desenvolver uma pesquisa no campo da Educação de Ciências, neste sentido, parece necessário e produtivo. O objetivo desta tese é exemplificar um modo de retomar a tarefa de rastrear as associações entre humanos e não- humanos, em uma questão ambiental, sem recorrer às dicotomias modernas. Selecionei como temática a ser explorada a controvérsia da solução para a poluição dos oceanos por plásticos, uma temática bastante popular nos últimos anos e que tem circulado por inúmeras mídias, artigos científicos, campanhas de ONGs ambientalistas, assim como reuniões de nações (Fórum Econômico Mundial, Conferências da ONU). O método utilizado para proceder ao rastreamento foi a Cartografia de Controvérsias, um conjunto de estratégias que permite observar e descrever a complexidade das associações entre os diversos atores. O mapeamento revelou elementos heterogêneos como inovações tecnológicas (plásticos biodegradáveis, tecnologia de limpeza dos oceanos), alianças internacionais da indústria do plástico (Marine Litter Solutions), de ONGs ambientais (Break free from plastic) e de empresas multinacionais (The New Plastic Economy) e campanhas globais (Clean Seas). As associações que deram existência a essas redes envolveram humanos e não-humanos, ziguezagueando entre estes por meio de traduções/desvios que foram permitindo aos atores seguirem seus interesses. Pode-se dizer, neste sentido, que a Cartografia de Controvérsias mostrou ser um instrumento produtivo para realizar a desdramatização de uma questão ambiental, permitindo renunciar às categorias globais e dirigir o olhar para os momentos em que esta toma forma, ampliando suas formas de representação.