Autonomia do aprendiz de ciências sob as perspectivas da relação com o saber e das configurações de aprendizagem

Tese de doutorado

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Resumo

Esta tese apresenta uma investigação qualitativa que objetivou caracterizar as relações de um grupo de aprendizes, em diferentes situações de aprendizagem (na escola, em casa, na casa dos colegas, na rua, no sítio, no local de trabalho e nas plataformas digitais), por meio de uma análise de sua autonomia a partir das variáveis interesse e liberdade. Os dados foram provenientes de questionários, respondidos por um grupo de 22 aprendizes da Educação Básica, de uma escola, no Estado do Paraná. As manifestações dos aprendizes foram interpretadas segundo os procedimentos indicados pela Análise de Conteúdo. A caracterização da aprendizagem consistiu em analisar esses dados em um modelo teórico-metodológico que elaboramos a partir de uma abordagem epistemológica sobre a relação com o saber, e das pesquisas sobre autonomia na aprendizagem. Tal modelo foi composto por dois instrumentos: o Autonomadro, para a análise da autonomia, e a Matriz do Aprendiz, para a análise das relações em configurações de aprendizagem. Com base no Autonomadro, caracterizamos as relações com a autonomia acerca de quatro graus, a partir da presença e ausência do interesse e da liberdade. Caracterizamos o grau 1, quando os aprendizes manifestaram interesse e liberdade relativo à aprendizagem; grau 2, quando manifestaram interesse, mas não tiveram liberdade; grau 3, quando manifestaram a presença da liberdade, mas não tiveram interesse; grau 4, quando manifestaram a ausência do interesse e da liberdade. Na Matriz do Aprendiz caracterizamos essas manifestações sob as relações dos aprendizes com o saber, a própria aprendizagem, aquele que ensina (fonte de saber) e com o ensino; e das dimensões da aprendizagem: epistêmica (relativa às reflexões), pessoal (sentimentos) e social (valores). Dentre os resultados, a autonomia foi caracterizada como uma condição dos aprendizes, sob os quatro graus nas diferentes situações analisadas. Sob esses graus, a autonomia dos aprendizes também foi um conjunto de relações epistêmicas, pessoais e sociais, que eles precisaram gerir para aprender. Em algumas situações essa gestão foi realizada com mais de um tipo de grau, em uma única atividade e de maneira simultânea. E, sob graus e atividades específicos os aprendizes comportaram-se concomitantemente como aprendiz e como aquele que ensina. As fontes de saber foram diversas e expostas em inventários sobre as pessoas, objetos, atividades, impressões sensoriais e plataformas digitais envolvidos na aprendizagem. Destarte, destacaram-se 10 tipos de objetos reais e 33 tipos de atividades. A escola e a família motivaram a maioria dos aprendizes em relação à autonomia, mas outros reclamaram a ausência da liberdade e valorizaram a aprendizagem em outros locais. De modo diferente, a aprendizagem nas plataformas digitais, na rua, no sítio, no trabalho e na casa dos colegas não foi associada à autonomia sob a ausência da liberdade e remeteu ao interesse por aprender. Por fim, apresentamos algumas possibilidades para pesquisas futuras, como o aprofundamento deste estudo no que concerne às relações da aprendizagem com outras variáveis da autonomia; com os objetos mentais; e com os planos de ensino.