EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE COLETIVA: APROXIMAÇÕES ACADÊMICAS E PROFISSIONAIS
Tese de doutorado
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Introdução: A institucionalização da Saúde Coletiva no Brasil foi e é mediada por muitos acontecimentos desde a década de 1970 advindos da Saúde Pública, quando se inicia formalmente sua estruturação por meio de avanços das ciências sociais na saúde e na formação de recursos humanos, sendo nesta década criados os primeiros programas de mestrado e doutorado em Saúde Pública e Medicina Social do país, que mais tarde foram integrados ao campo hoje formado pela Saúde Coletiva. Na primeira década dos anos 2000, em decorrência da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e seus princípios, especialmente o da integralidade, inicia-se uma ampliação do campo de atuação da Educação Física por meio de resoluções e políticas públicas decorrentes da visão ampliada de saúde, conectando a Educação Física à Saúde Pública. Objetivo: analisar aproximações acadêmicas e profissionais da Educação Física com a Saúde Coletiva. Objetivos específicos: 1) verificar a intenção de atuar no SUS de estudantes de bacharelado em Educação Física de três instituições públicas do Paraná; 2) verificar a inserção de profissionais de Educação Física nos mestrados acadêmicos em Saúde Coletiva e Saúde Pública no Brasil de 2010 a 2019. Métodos: esta tese foi estruturada no modelo de compilação de artigos, e cada objetivo específico foi trabalhado em um artigo científico, cada um com métodos, resultados, discussão e considerações finais próprios. O primeiro objetivo foi desenvolvido a partir de um estudo transversal e descritivo em que 349 estudantes responderam questionário sobre informações sociodemográficas, percepções sobre o SUS, conhecimento sobre Programas Públicos para Práticas Corporais e Atividades Físicas (PCAF) e intenção de atuação profissional no SUS, especificamente em Unidades Básicas de Saúde (UBS), hospitais que atendem SUS e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Para contemplar o objetivo dois, foi realizado um estudo descritivo em que se buscou identificar os programas com nome Saúde Coletiva e Saúde Pública com dissertações defendidas no período de interesse (2010-2019), sendo elegíveis 35 programas de mestrado acadêmico para esta investigação. Nos sites desses programas realizou-se busca das dissertações e posteriormente, identificou-se a formação inicial de cada egresso (a) no currículo Lattes, sendo identificados 149 egressos com formação inicial em Educação Física. Resultados: artigo 1) Cerca de quatro em cada 10 estudantes referiram ter intenção de atuar em ao menos uma das possibilidades analisadas: 30,4% em UBS, 27,5% em hospitais e 24,6% nos CAPS. As prevalências foram maiores entre as mulheres, entre os que referiram avaliação mais positiva sobre o SUS, entre os que conheciam programas públicos que ofereciam PCAF e entre aqueles que já tinham ouvido falar do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF-AB) e do Programa Academia da Saúde antes de entrar na universidade. Artigo 2) Foram analisadas informações de 5.629 egressos e destes, 149 (2,6%) tinham formação inicial em Educação Física. Dos 35 programas investigados, 27 (77,1%) tinham ao menos um egresso com formação inicial em Educação Física. Os programas com maior percentual de egressos com formação inicial em Educação Física foram UFRGS (11,3%), FURG (10%), UNIFESP (6,4%), UFSC (6,1%), UECE (5,8%), UNISINOS (5,1%) e UEFS (4,8%). Considerando a análise ano a ano (2010 a 2019), observou-se que a porcentagem de egressos com formação inicial em Educação Física variou de 1,9% a 4,3% e quando realizada a análise por quinquênio (2010-2014 e 2015-2019), apesar de não ter sido observada diferença significativa, verificou-se crescimento de 36,4%, sendo maior na região Sul (76,1%), mas sendo observada diminuição de 20% na região Sudeste. Conclusão: no primeiro artigo, considerando que a Educação Física é uma profissão que possibilita ampla atuação, pode-se considerar relativamente alta a proporção de estudantes que referiu interesse em atuar no SUS, especialmente na APS. No segundo artigo, no geral, houve crescimento da participação de egressos da Educação Física em mestrados acadêmicos em Saúde Coletiva e Saúde Pública no Brasil no período de 2010 a 2019. Entretanto essa participação ainda é incipiente e mostra grande variação entre as regiões e entre as instituições do país. Como conclusão geral da tese reforça-se a importância de potencializar experiências sobre a Saúde Coletiva e a Saúde Pública em cursos de graduação em Educação Física, tanto na licenciatura como no bacharelado, por docentes com expertise no assunto para instrumentalizar adequadamente os futuros PPEF (Professores e Profissionais de Educação Física) sobre as especificidades e possibilidades desse campo de atuação profissional, bem como sobre as possibilidades de inserção em cursos de pós-graduação Stricto Sensu na área de Saúde Coletiva e Saúde Pública.