Teses e dissertações

A dor musculoesquelética crônica é caracterizada como uma dor persistente que afeta diretamente o(s) osso(s), articulação(ões), músculo(s) ou tecido(s) mole(s) relacionado(s). O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de dor musculoesquelética crônica em usuários da Atenção Primária à Saúde (APS) em municípios de pequeno porte do estado do Paraná e seus fatores associados. Foi realizado um estudo transversal, de amostragem intencional, no qual foram realizadas 1878 entrevistas com usuários com ≥ 18 anos, da APS de seis municípios com menos de 20 mil habitantes no Paraná. Para identificar os usuários com dor musculoesquelética crônica, foi realizada a pergunta: “Você sente algum tipo de dor muscular há seis meses ou mais?”, caso a resposta fosse positiva, havia questões para caracterização da dor. Variáveis sociodemográficas e de saúde foram consideradas variáveis independentes. Para a análise descritiva, usou-se a frequência absoluta e relativa, razões de prevalência (RP) brutas e ajustadas foram obtidas mediante regressão de Poisson com variância robusta. A prevalência de dor musculoesquelética crônica foi de 55,8%. Considerando as análises ajustadas, observou-se maior prevalência entre as mulheres (RP=1,30; IC=1,17-1,43), entre os sujeitos com 25 a 39 anos (RP=1,25; IC=1,01-1,55), com 40 a 59 anos (RP=1,80; IC=1,46-2,21) e com mais de 60 anos (RP=2,12; IC=1,69-2,66) em comparação aos de 18 e 24 anos, em usuários com ensino superior e especialização (RP=0,72; IC=0,61-0,84) a razão de prevalência foi menor, em comparação aos usuários com até o nível fundamental incompleto. Ademais, observou-se associação com autopercepção negativa de saúde (RP=1,51; IC=1,38-1,64), diagnóstico de hipertensão (RP=1,16; IC=1,06-1,26), diabetes (RP=1,19; IC=1,08-1,30), hipercolesterolemia (RP=1,10; IC=1,01-1,21), doenças reumáticas (RP=1,41; IC=1,31-1,53) e depressão (RP=1,28; IC=1,18-1,39). Apresentam alta prevalência de dor moderada ou intensa (84,9%) e a dor interferia de maneira moderada ou extrema nas atividades diárias de 72,7%. A região lombar foi a apontada como sendo o local mais frequente de dor com maior prevalência (22,5%). Os resultados indicam alta prevalência de dor crônica nos usuários da APS dos municípios de pequeno porte investigados, portanto, é necessário a promoção de ações e políticas públicas voltadas as especificidades desses municípios
Objetivo: Verificar fatores socioeconômicos e espaciais relacionados ao consumo de frutas e hortaliças (CFH) na população adulta brasileira, mediante dois objetivos específicos: 1. Analisar a relação entre o espaço geográfico urbano (capital, região metropolitana (RM) e interior) e o consumo regular de frutas e hortaliças no Brasil. 2. Analisar as desigualdades no CFH em adultos brasileiros a partir da intersecção de diferentes exposições a marcadores sociais relativos à gênero, raça/cor, renda e escolaridade. Métodos: Foram produzidos dois artigos científicos observacionais e em delineamento transversal, com dados de adultos (≥18 anos) da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 (n=60.202) e de 2019 (n=88.531), para o primeiro e segundo artigo, respectivamente. 1. No primeiro artigo o desfecho foi o consumo regular de fruas (CRF) e o consumo regular de hortaliças (CRH), considerando como variável independente o espaço geográfico urbano dividido em três categorias: capital, RM e interior. Para verificar a associação entre as variáveis foi realizada regressão logística com cálculo do Odds Ratio (OR) e Intervalo de Confiança 95% (IC95%) bruto e ajustado. 2. No segundo artigo o desfecho foi o CFH irregular, considerando como variável independente a intersecção dos marcadores sociais da diferença: sexo, raça/cor, renda e escolaridade. Para verificar a associação entre as variáveis foi realizada regressão logística com cálculo do OR e IC95% bruto e ajustado. Resultados: 1. O CRF foi menor na RM e no interior quando comparados à capital, tanto entre as mulheres (RM: OR= 0,83; IC95%: 0,73-0,94; interior: OR= 0,68; IC95%: 0,61-0,76), quanto entre os homens (RM: OR= 0,84; IC95%: 0,75-0,93; Interior: OR= 0,78; IC95%: 0,71-0,85), o mesmo ocorreu na maioria dos subgrupos de características socioeconômicas. Não houve associação do CRH com o espaço geográfico urbano de maneira geral, e nos subgrupos os resultados foram divergentes. 2. A prevalência do CFH irregular foi 38,1% no grupo de menor risco (mulheres brancas com maior renda e maior escolaridade), seguido por 47,5% no grupo com uma categoria de risco, 57,9% com duas categorias de risco, 67,6% com três categorias de risco e 74,4% no grupo de maior risco (homens negros com menor renda e menor escolaridade). O grupo de maior risco apresentou 4,36 (3,86-4,92) vezes maior chance de CFH irregular. Conclusão: Os resultados mostram que, no geral, foram encontradas associações significativas entre o espaço geográfico urbano e o CRF, porém não para o CRH; e associações significativas entre a intersecção de marcadores sociais da diferença e o CFH irregular. É possível perceber o caminho complexo a ser enfrentado para a promoção do CRFH na população brasileira, com a necessidade de políticas intersetoriais voltadas para redução de iniquidades.
Introdução: As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) contemplam uma variedade de recursos terapêuticos e racionalidades médicas não convencionais. Essas práticas integram os serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e têm na atenção primária à saúde o local preferencial para sua inserção. Objetivo: Investigar a prevalência e identificar os fatores associados ao uso das PICS entre usuários da atenção primária à saúde de municípios de pequeno porte do estado do Paraná. Métodos: Estudo transversal descritivo e quantitativo, com dados coletados por entrevistadores previamente treinados. Foram convidados a responder o questionário pessoas que aguardavam por atendimento em unidades de atenção primária à saúde dos municípios selecionados. Consideraram-se três variáveis dependentes: uso geral das PICS, uso de plantas medicinais/fitoterapia e uso de PICS exceto plantas medicinais/fitoterapia. Fatores sociodemográficos, comportamentais e de saúde foram as variáveis independentes. Realizou-se a análise descritiva dos dados, e verificaram-se as associações por meio do teste Qui-quadrado de Pearson, com significância estatística 5% (p-valor < 0,05) e regressão de Poisson com variância robusta, IC 95% e p-valor < 0,05. Resultados: A amostra foi composta por 1.878 pessoas. A prevalência de uso geral das PICS foi de 51,2%; de plantas medicinais/fitoterapia, 45,7%; e de PICS exceto plantas medicinais/fitoterapia, 14,7%. Destas, as mais prevalentes foram meditação (6,2%) e auriculoterapia (2,9%). A análise ajustada para o uso geral das PICS demonstrou maior prevalência entre pessoas do sexo feminino (RPa= 1,20, IC95%: 1,07-1,34), com 40 anos ou mais (40 a 59 anos, RPa= 1,35, IC95%: 1,11-1,65; ≥ 60 anos, RPa= 1,50, IC95%: 1,20-1,88), brancas ou amarelas (RPa= 1,20, IC95%: 1,08-1,33), com ensino superior completo (Rpa= 1,17, IC95%: 1,02-1,35), que praticavam atividade física no tempo livre (Rpa= 1,27, IC95%: 1,17-1,38), que realizaram consulta com profissional de saúde (não médico) (Rpa= 1,26, IC95%: 1,12-1,41), que receberam visita domiciliar (Rpa= 1,18, IC95%: 1,07-1,29), com diagnóstico de neoplasia (Rpa= 1,21, IC95%: 1,02-1,44) e presença de dor crônica musculoesquelética (Rpa= 1,25, IC95%: 1,13-1,38). Em relação ao uso de plantas medicinais/fitoterapia, observaram-se as mesmas associações, exceto para escolaridade. Quanto ao uso de PICS exceto plantas medicinais, houve maior prevalência nas pessoas com 25 anos ou mais (25 a 39 anos RPa= 1,78, IC95%: 1,13-2,81; 40 a 59 anos, RPa= 1,84, IC95%: 1,15-2,96; ≥ 60 anos, RPa= 1,83, IC95%: 1,03-3,25), maiores níveis de escolaridade (médio completo, RPa= 2,03, IC95% 1,45-2,85; superior completo, RPa= 3,70, IC95%: 2,59-5,27), que praticavam atividade física no tempo livre (RPa= 1,44, IC95%: 1,16-1,80) e que realizaram consulta com profissional de saúde (não médico) (RPa= 1,40, IC95%: 1,02-1,91). Conclusão: Os resultados demonstraram que cerca de metade dos usuários investigados referiram uso de pelo menos uma PICS, sendo plantas medicinais/fitoterapia a prática com prevalência bastante superior às demais. O uso das PICS foi maior entre pessoas do sexo feminino, com 40 anos ou mais, com ensino superior completo, que praticavam atividade física no tempo livre, que realizaram consulta com profissional da saúde, que receberam visita domiciliar, que referiram diagnóstico de neoplasia e com dor crônica musculoesquelética.
Os cuidados paliativos podem ser definidos como um cuidado integral aos indivíduos frente a uma doença grave com ameaça da continuidade da vida, objetivando o alívio do sofrimento biopsicossocial e espiritual para melhora da qualidade de vida do indivíduo e seus familiares. Não estamos falando sobre a possibilidade de cura ou não, mas do cuidado na finitude, considerando a morte como parte da vida. Trata-se da conexão entre a ciência e a humanidade, da integralidade do cuidado sob todas as suas dimensões, centrado no usuário e respeitando sua autonomia. O trabalho em saúde é em fundamento coletivo e os cuidados paliativos colocam em evidência essa característica e apresenta inúmeros desafios. É uma situação delicada, de nossa finitude, que é um tema sensível tanto para os trabalhadores como para os usuários, para que se alcance e promova o apoio e conforto necessário, decompondo o ordinário e compondo-se do singular. Por se tratar de um processo eminentemente longitudinal, os CP guardam estreita relação com a Atenção Básica (AB), que tem como uma de suas características acompanhar seus usuários na horizontalidade de seus cuidados, No entanto, o CP muitas vezes é compreendido como uma especialidade ou uma assistência restrita ao âmbito hospitalar, o que o coloca de certa forma distante da AB ou apenas alvo de ações pontuais. Assim, os usuários em cuidado paliativo frequentemente enfrentam um vazio assistencial, com dificuldades de acesso e de um cuidado realizado em rede. Desta maneira, o objetivo desta pesquisa foi cartografar a produção dos cuidados paliativos na AB e dar visibilidade às possibilidades e barreiras para sua produção. Para isso, recorremos a cartografia como intercessor metodológico, que possibilitou o tracejo de mapas da produção viva do trabalho e do cuidado em seu espaço micropolítico, por meio da estratégia do usuário-guia, que é como um fio condutor nos guiando pela rede de cuidado. A pesquisa aconteceu de dezembro de 2022 à maio de 2023, em uma unidade básica de saúde do município de Londrina. Durante essa cartografia, foi possível observar que o cuidado paliativo está presente, mesmo que não intencionalmente no território e de alguma forma alguns usuários entraram na linha de produção do cuidado da AB. Outros tiveram suporte familiar, especialmente no luto e apesar de algumas ofertas de suporte da Unidade Básica de Saúde, alguns usuários não foram alcançados pelo cuidado da equipe. Nos encontros com os usuários, foi possível observar o quão reconfortante é, a segurança que traz para a família e para o usuário, ter sua rede de cuidados organizada, saber quando e para onde vai se algo acontecer. Sobre o Processo de Trabalho, os trabalhadores enfrentam diversos atravessamentos que endurecem a produção do cuidado enquanto trabalho vivo. Conversas com os trabalhadores nos deram pistas dessa captura e algumas repercussões das forças biopolíticas e mercadológicas que operam em uma lógica de linha de produção no processo de trabalho dos serviços de saúde, que frequentemente resultam em sobrecarga aos trabalhadores que desejam ofertar uma boa assistência, mas não conseguem pois são interceptados pelo modelo hegemônico compartimentalizado do cuidado. Diante disso, nossas conclusões tornam-se provisórias, uma vez que o trabalho em saúde é um processo intensamente relacional e orgânico, mas marcado por apostas e disputas de projetos mais ou menos produtores de vida. Os trabalhadores podem ser dispositivos potentes para disputar outras agendas e modos de cuidado, que problematizam e dão visibilidade às múltiplas possibilidades de arranjos, no entanto, enfrentam diariamente um grande desafio com a falta de recursos, perda de integrantes da equipe por diversos motivos, dificuldade do cuidado compartilhado com outros serviços e pontos da rede e a grande demanda gerencial e territorial, gerando sobrecarga e adoecimento da equipe. É de extremamente importante e urgente que haja espaços que possibilitem a reflexão da prática e das apostas feitas no espaço micropolítico que ocupamos, que sejam investidas forças e recursos financeiros, institucionais, políticos, processuais ou não, sejam eles governamentais ou instituído pelas próprias equipes na disputa de uma AB mais forte.