Paisagens, lugares e trilhos: permanências e memórias em cidades da alta paulista
Cássia Regina Dias Ribeiro, Edilson Luis de Oliveira
Data da defesa: 15/02/2023
A instalação dos trilhos do prolongamento do Ramal de Agudos, da Companhia Paulista de Estrada de Ferro (CPEF), no espigão dos Rios Peixe/Feio Aguapeí, na região da Alta Paulista, colaborou na transformação e configuração da paisagem. A expectativa da chegada dos trilhos condicionou a localização e o traçado dos núcleos urbanos. Na maioria das cidades, compreendida entre o trecho de Garça a Pompeia-SP, a linha ferroviária atravessou a malha urbana, propiciando movimentos pendulares diários e condicionando diversas ações cotidianas. Nesse contexto espacial, encontram-se histórias de vidas constituídas pelas experiências vividas. Lembranças gravadas na memória que condicionam a forma de ver e perceber o mundo. Dessa forma, o objetivo geral da tese consiste na averiguação da conexão e da dinâmica das especificidades dessa paisagem com as experiências vividas, gravadas em nossas memórias. Para obtenção dos resultados esperados, os procedimentos para coleta e análise de dados foram: as referências bibliográficas, que permitiram analisar e compreender os conceitos essenciais para a construção do referencial teórico; a pesquisa documental e os testemunhos, coletados através de dezessete entrevistas semiestruturadas e cinco cartas, que possibilitaram investigar as experiências vividas e entrelaçar os rastros documentários com os afetivos. Na busca em decifrar os sentidos das narrativas, utilizou-se como respaldo filosófico o método hermenêutico fenomenológico elaborado por Ricouer (1989). No decorrer da pesquisa ficou evidente a dialética entre memória individual, com um caráter subjetivo e privado, defendido por Bergson (1999) em sua fenomenologia da lembrança e com o conceito de “minhadade”, proposto por Ricoeur (2007) e a coletiva, condicionada ao pertencimento a um grupo social, proposta por Halbwachs (1990). O aspecto locacional das lembranças reforça a tese da relação intrínseca entre memória, paisagem e lugar e é possível perceber a concentração de lembranças associadas à ferrovia e, consequentemente, afirmar que os trilhos do prolongamento do Ramal de Agudos podem ser considerados um lugar memorável. No ato de recordar o indivíduo lembra-se de si e reconhece seu mundo, sua paisagem, seu lugar.
Migração e trabalho dos haitianos no Paraná (2010-2022)
Lineker Alan Gabriel Nunes, Ideni Terezinha Antonello
Data da defesa: 21/03/2023
A migração haitiana para o Brasil, de natureza transnacional, advém de variados fatores explicativos oriundos da herança colonial francesa e, mais tarde, da vinculação político-econômica com os Estados Unidos, que situaram o Haiti historicamente como um país de emigração. Ademais, o enrijecimento da política migratória nos Estados Unidos e na Europa, o momento econômico vivido pelo Brasil nos anos 2010 e a atuação do Brasil na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) aproximaram os dois países, fazendo com que o terremoto de 2010 se tornasse um divisor de águas que acelerou as relações já existentes entre as duas nações. No Paraná, o fluxo de haitianos se constitui o maior movimento migratório ocorrido em décadas. A difusão da população do país caribenho se deu por várias regiões do estado, adquirindo grande amplitude e tendo como elemento comum a busca por trabalho e melhores condições de vida. Nesse contexto, esta tese objetivou investigar a dinâmica da inserção do migrante haitiano no mercado de trabalho no Paraná e sua relação com as políticas públicas e demais esferas voltadas à inclusão territorial do migrante. Para tanto, a metodologia abrangeu a esfera teórica bibliográfica, passando pelo universo quantitativo até chegar à empiria, por meio da realização de entrevistas. Dividiu-se a pesquisa em dois grandes campos: o da migração e do trabalho, visando a abordar a questão da inserção laboral dos migrantes haitianos no Paraná e consequentemente das implicações disso, como as condições de trabalho, de moradia e de acesso à educação, haja vista que o trabalho é elemento central que permeia as demais condições para a migração. A partir da pesquisa de campo e das informações quantitativas reunidas, dividiu-se o Paraná em três territórios do trabalho: Oeste e Sudoeste (polarizado por Cascavel, Toledo e Pato Branco), Norte (Polarizado por Maringá, Londrina, Cambé e Rolândia) e Leste (Polarizado por Curitiba). Trabalho, racismo, xenofobia, dificuldades para afirmação no território e desafios quanto ao trabalho de mulheres haitianas, atuação de entidades que atuam com os migrantes e conquistas dos haitianos no Paraná estão entre as questões abordadas na pesquisa.
Geografia do medo e sociedade de risco: a pandemia de SARS-CoV-2 e seus impactos na cidade de Cornélio Procópio – PR
Marcelo Mattos Junior, Jeani Delgado Paschoal Moura
Data da defesa: 19/07/2022
Globalização, modernidade e capitalismo são palavras que trazem de imediato o olhar egocêntrico que o acúmulo de capital permite, todavia, a partir do ano de 2019, que marca o início da pandemia mundial de SARS-CoV-2, a globalização negativa emerge e finca as suas raízes nos mais variados contextos, principalmente no urbano. Vivenciado por uma sociedade em constante transformação esse cenário recebe o impacto do desconhecido: um vírus invisível que toma conta dos mais variados espaços causando medo, incerteza, insegurança, angústia, entre tantos outros sentimentos. Neste sentido e no intuito de corroborar com o atual cenário, o objetivo da pesquisa aqui apresentada é identificar os impactos da pandemia de SARS-CoV-2 bem como a construção dessa sociedade de risco a partir da ótica da cidade de Cornélio Procópio e suas medidas. Todavia, é crucial não perder de vista o fato de que as pesquisas atuais no que diz respeito ao cenário pandêmico são apenas o começo do que virá. Sendo assim, como uma das metodologias adotadas foram realizados levantamentos bibliográficos que se iniciam a partir da triagem de Revistas científicas com Qualis A1 à B2 da Plataforma Sucupira, especificamente da área de Geografia e com publicações nacionais, dos anos de 2020 a 2021. Um dos principais resultados alcançados nesse processo é a percepção de que se que as pesquisas científicas estão com os seus olhos voltados à essas vivências na tentativa de descobrir maiores informações a respeito dos atuais acontecimentos e do vírus desconhecido. Por consequência, a parcela social que se encontra vivenciando as desigualdades latentes imposta por um mundo líquido moderno e capitalista vão sendo pouco a pouco percebidas. Assim, a passos lentos, vai se formando a sociedade de risco, que vivencia o risco social que Marandola Jr. (2004) intitula social hazards. Conclui-se que frente ao perigo, a sociedade agora percebe que todos estão expostos e vulneráveis, mas os riscos por sua vez não são iguais para todos, ele tem o seu ‘público-alvo’: Aqueles que vivenciam cotidianamente o impacto das ações governamentais tardias, do desespero pela falta de poder aquisitivo e da fome que vem por consequência e assim, passam a minimamente tornarem-se visíveis.
O empobrecimento no território milenar da Serra da Pitanga : uma rede logístico-rodoviária que reflete os baixos índices socioeconômicos da região imediata de Pitanga (RIP)
Cleverson Gonçalves, Nilson Cesar Fraga
Data da defesa: 30/03/2022
A Região Imediata de Pitanga (RIP) na sua formação socioespacial vem sendo negligenciada pelo estado paranaense, desde sua gênese formadora, mas principalmente, após o emprego de suas terras pelo uso capitalista. Essa região sempre esteve às margens de investimento federais e estaduais, e seus municípios não possuem condições de gerar infraestrutura que impacte local e regionalmente. Essa área já foi território de soberania indígena e cabocla e sempre esteve no centro de conexões entre diferentes povos e regiões, isso a partir do milenar Caminho do Peabiru e suas ramificações, porém, com o advento da migração de colonos europeus, sobretudo eslavos, essa região perde a significância de conectividade intrarregional/continental, e a partir disso sua rede viária se manteve sem investimentos por mais de um século, gerando uma ínfima produção, por conta disso, os baixos investimentos para um adequado escoamento regional. Somente a partir do final do século XX é que a RIP passa a conviver com algumas obras de implantação rodoviária, readquirindo e fortalecendo a parca conectividade com outras regiões, apenas nas décadas de 1980 e 1990. Porém, esses investimentos serviram apenas para o escoamento da produção do agronegócio que se instalava nas regiões circunvizinhas. Entretanto, tal conectividade está longe de ser a ideal, pois todas as rodovias da região são classificadas como ruins ou péssimas. Tal classificação foi obtida com a Metodologia de Avaliação Geográfica da Qualidade das Rodovias (MAGeoQR) produzida nessa pesquisa, fruto da adaptação da metodologia de avaliação empregada pela Confederação Nacional de Transporte (CNT) para avaliar o sistema rodoviário nacional. Os diagnósticos feitos nas rodovias analisadas, nesta pesquisa, não se diferem dos demais dados socioeconômicos regionais, que também são inferiores à média destes e de outros índices no estado paranaense. A RIP apresenta uma grande quantidade de população empobrecida, assim como tem convivido com uma perda populacional contínua nas últimas décadas. Metodologicamente as informações sócioeconômicas foram obtidas IBGE (SIDRA) e no SAGI, do Ministério da Cidadania, dentre outros órgãos públicos. Os levantamentos históricos que serviram de base para as análises da formação socioespacial foram realizados por meio de pesquisas documentais, principalmente na Hemeroteca Digital, na Biblioteca do DER/PR e nas bibliotecas e museus dos municípios integrantes da RIP. Para proceder à avaliação das rodovias foram feitos 2500 km de trabalho de campo na região de estudo. Esta pesquisa conseguiu demonstrar a má qualidade das rodovias regionais que refletem os baixos índices socioeconômicos lá existentes, mesmo que o sistema rodoviário-logístico não seja determinante para demonstrar o empobrecimento e o subdesenvolvimento registrado na RIP, sobretudo nos últimos 50 anos, eles ampliam um diagnóstico mais preciso na análise regional. Mas estes fatos não eliminam a falta de tais investimentos ao subdesenvolvimento regional. Propositivamente, para superar tal empobrecimento é preciso haver um desenvolvimento endógeno, ou seja, de base local, para e pelos moradores locais, respeitando as questões socioambientais e culturais milenares/seculares da RIP.