Violência e burnout em professores da educação básica de Londrina
Tese de doutorado
Visualizar PDFResumo
O objetivo deste estudo foi analisar se a exposição prévia à violência no ambiente escolar aumenta o risco de os professores sofrerem novamente violência após dois anos e identificar relações transversais e longitudinais entre violência psicológica e burnout. Trata-se de um estudo de coorte com dois anos de seguimento realizado com 430 professores do ensino fundamental e médio da rede pública de Londrina, Paraná. As informações foram obtidas em 2012- 2013 (T1) e 2014-2015 (T2) por entrevista face a face realizada por entrevistadores treinados e preenchimento, pelo próprio professor, de um questionário. As formas de violências investigadas foram violências psicológicas (relatos de insultos de alunos, humilhações ou constrangimentos por colegas ou superiores e ameaças recebidas) e violências físicas, nos 12 meses anteriores à pesquisa. Para mensurar burnout, utilizou-se o Maslach Burnout Inventory, sendo consideradas apenas as dimensões de exaustão emocional e despersonalização. Características sociodemográficas, relacionadas ao trabalho e à saúde foram incluídas como covariáveis. Para a análise da recorrência de violência foram utilizados o teste de McNemar e a regressão de Poisson com variância robusta, com apresentação do risco relativo (RR), intervalo de confiança de 95% (IC95%) e valor de p, considerando nível de significância de 5%. A relação entre violência psicológica e burnout foi verificada por modelos de equações estruturais. Violência psicológica, exaustão emocional e despersonalização foram consideradas variáveis latentes. Após dois anos, observou-se redução de 65,4% (T1) para 56,9% (T2) de violência reportada por professores (p=0,003), porém devido apenas à diminuição da frequência de relatos de humilhações ou constrangimentos por colegas ou superiores. Ter sofrido uma determinada forma de violência aumentou em até três vezes o risco de sofrê-la novamente em dois anos. Além disso, professores que relataram três ou quatro formas de violências em T1 apresentaram RR de 2,23 (IC95%1,70-2,93) de sofrer qualquer violência em T2, em comparação àqueles que não sofreram qualquer forma de violência em T1. Não foram encontradas evidências de que estar exposto à violência psicológica em T1 aumenta o risco de sofrer violência física em T2 ou que violência física em T1 aumenta o risco de violência psicológica em T2. Violência psicológica apresentou efeito direto sobre exaustão emocional e despersonalização, quando analisados transversalmente. Longitudinalmente, não foram observados efeitos diretos significativos. No entanto, observou-se um efeito indireto da violência psicológica em T1 sobre ambas as dimensões de burnout em T2. Este estudo mostrou que a violência contra professores, exceto a referente a humilhações ou constrangimentos por colegas ou superiores, é recorrente e que tem efeito sobre o burnout. Tendo em vista o impacto destrutivo da violência e do burnout no ambiente de trabalho, ressalta-se a importância da identificação da ocorrência desses eventos no ambiente escolar e no estabelecimento de políticas de prevenção e gerenciamento da violência e do esgotamento no trabalho.