Teses e Dissertações
Estratégias fortalecedoras de atenção básica no SUS em municípios de pequeno porte da Macrorregião Norte do Paraná
Carolina Milena Domingos, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 16/03/2017
No Brasil, a Política de Atenção Básica possui um conjunto de estratégias indutoras de
mudanças para o fortalecimento da Atenção Básica, que devem ser implementadas pelos
municípios. Dentre esses, os Municípios de Pequeno Porte, muitas vezes, possuem
fragilidades já instaladas que dificultam o desenvolvimento dessas estratégias. Para a
organização da prática de saúde na Atenção Básica por meio de tais ações fortalecedoras,
ressalta-se a equipe gestora dos serviços de saúde municipais como detentoras de papel
decisivo. Diante deste contexto, esse estudo buscou analisar a implementação das estratégias
federais para o fortalecimento da Atenção Básica em Municípios de Pequeno Porte da
macrorregião norte do Paraná. Os dados foram coletados entre 2014 e 2015 durante três
movimentos: no primeiro foi realizada a análise documental que visou identificar e analisar as
Estratégias Fortalecedoras da Atenção Básica no Sistema Único de Saúde; o segundo
movimento utilizou a abordagem quantitativa para levantar as Estratégias Fortalecedoras da
Atenção Básica desenvolvidas nos Municípios de Pequeno Porte e o terceiro movimento
utilizou a abordagem qualitativa para analisar como as Estratégias Fortalecedoras da Atenção
Básica entram na agenda decisória desses municípios, as atividades desenvolvidas para a
operacionalização das mesmas e o significado de sua implementação. O segundo e terceiro
movimentos do estudo foram realizados em 82 municípios da macrorregião norte do Paraná.
A população de estudo foi constituída pelos trabalhadores de saúde que integravam as equipes
gestoras dos mesmos. Foram encontradas 224 normas jurídicas, relacionadas a 22 estratégias
priorizadas pelo Ministério da Saúde para o fortalecimento da Atenção Básica. O
levantamento sobre as estratégias federais em desenvolvimento nos municípios mostrou que
das 22 ações, nove tiveram repasse de recursos nacionais para os mesmos, três foram
relatadas por toda a equipe gestora (744 entrevistados) e 13 foram referidas pela equipe de
gestores chave (55 trabalhadores). Os profissionais da equipe de gestores chave revelaram que
as Estratégias Fortalecedoras da Atenção Básica são formuladas pelo Poder Executivo Federal
e chegam até os municípios “prontas”, principalmente por meio de portarias. Depois de tomar
conhecimento sobre uma nova estratégia, os municípios podem decidir por implantar ou não
determinada ação, ou seja, entra (ou não) na sua agenda. Um conjunto de condições, criadoras
de uma janela de oportunidade influenciam os Municípios de Pequeno Porte a aderir uma
determinada estratégia: os recursos financeiros atrelados à estratégia; a fragilidade do
município em relação ao provimento da força de trabalho e os empreendedores
governamentais do processo decisório dessas ações. Feita a adesão, são desenvolvidas um
conjunto de atividades relacionadas com a implementação das estratégias, dentre essas: a
viabilização e capacitação da força de trabalho; o cumprimento de atividades para avaliação
de resultados e recebimento de recursos; a ação do prefeito no desenvolvimento das
estratégias; o enfrentamento dos impasses relacionados ao profissional médico e a construção
de redes de saúde informais. Para a equipe de gestores chave, as Estratégias Fortalecedoras da
Atenção Básica significaram uma melhoria do cuidado prestado ao longo dos anos, no
entanto, também expressam o domínio do Poder Executivo Federal na formulação dessas
ações.
Formação do enfermeiro para educação em saúde em um currículo integrado: interfaces com o pensamento complexo
Andréia Bendine Gastadi , Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 16/02/2017
As práticas educativas, dentre elas a educação em saúde, constituem uma das principais
dimensões do processo de trabalho do enfermeiro. Apesar do desenvolvimento e de uma
reorientação crescente no campo das reflexões teóricas e metodológicas da educação em
saúde, há ainda avanços a serem alcançados, principalmente na realidade dos serviços de
saúde. Um dos desafios consiste na formação de recursos humanos orientada pela
educação popular e respeito aos saberes da comunidade, em busca de uma cidadania
compartilhada. O curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina desenvolve,
desde o ano 2000, o Currículo Integrado, utilizando a problematização e metodologias ativas
de ensino e aprendizagem. O projeto pedagógico propõe 12 temas transversais,
compreendidos como dinamizadores das atividades acadêmicas, articulados de forma
crescente aos conteúdos específicos e desempenhos essenciais dos módulos. A educação
em saúde constitui um desses temas transversais. O objetivo geral deste estudo foi
compreender como o tema transversal educação em saúde está sendo desenvolvido na
formação do enfermeiro em um currículo integrado. Trata-se de um estudo compreensivo, do
tipo estudo de caso. As fontes de dados foram constituídas de 17 cadernos de planejamento
e desenvolvimento dos módulos interdisciplinares; 23 estudantes que participaram de grupos
focais e 22 estudantes que responderam a um questionário; 11 professores que foram
entrevistados; observação de duas atividades de ensino-aprendizagem envolvendo a
temática em estudo. A coleta de dados ocorreu de novembro de 2013 a fevereiro de 2016. A
análise documental pautou-se nas leituras exploratória, seletiva, analítica e interpretativa. O
material obtido dos grupos focais e entrevistas foi audiogravado e transcrito na íntegra. O
corpus foi produzido por triangulação de dados e analisado na perspectiva do pensamento
complexo de Edgar Morin por meio do círculo hermenêutico crítico. A pesquisa foi aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da universidade em estudo. Os resultados evidenciaram o
tema educação em saúde na formação do enfermeiro sob três perspectivas: a trajetória do
desenvolvimento do tema transversal na formação do enfermeiro, as concepções de
educação em saúde para estudantes e professores e, desafios, potencialidades e sugestões.
No que tange à perspectiva transversal a educação em saúde vem sendo desenvolvida em
todas as séries do currículo em estudo sob diferentes contextos, sendo ainda um desafio
alcançar a multidimensionalidade e a globalidade para a pertinência do conhecimento. No
que tange à perspectiva conceitual os professores contemplam diferentes dimensões que
envolvem, para alguns, o referencial da educação popular em saúde, que, todavia, não se
mostra no conceito dos estudantes, que apresentam conceitos mais voltados ao modelo
tradicional. Os estudantes apresentaram lacunas em relação à compreensão intelectual de
educação em saúde, somando-se a isso o desafio da compreensão humana. No que tange à
perspectiva operacional, na visão dos professores, os desafios estão ligados ao próprio
docente e a questões estruturais e administrativas. Entretanto elencaram como
potencialidades o próprio currículo e o perfil do corpo docente. Conclui-se que as vivências
ancoradas nos princípios da educação popular configuraram boas práticas pedagógicas e
que a formação para a educação em saúde se faz em um processo contínuo de construção
do conhecimento e escolhas em meio a um universo complexo e permeado por incertezas.
Acredita-se que as escolhas devem ser pautadas no respeito, na ética e na humanização,
com práticas educativas baseadas no compartilhamento de saberes e experiências para o
desenvolvimento da autonomia e da cidadania de todos os envolvidos.
Acesso a medicamentos para tratamento de fatores de risco cardiovasculares
Airton José Petris, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 29/01/2014
INTRODUÇÃO: O acesso a medicamentos para tratamento da hipertensão arterial, diabetes
e dislipidemias é um aspecto relevante do controle das doenças cardiovasculares.
OBJETIVO: Analisar a prevalência e a utilização de medicamentos para tratamento da
hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias. MATERIAIS E MÉTODOS: Estudo
epidemiológico de base populacional com delineamento transversal em indivíduos com idade
igual ou superior a 40 anos, residentes na área urbana do município de Cambé/PR. Foram
realizadas entrevistas para preenchimento de Formulário Estruturado sobre utilização de
medicamentos, aferição de pressão arterial (PA) e coleta de sangue para exames laboratoriais.
RESULTADOS: Foram entrevistados 1180 indivíduos, dos quais 1162 tiveram PA aferidas e
967 realizaram exames laboratoriais. A prevalência estimada de hipertensão arterial foi de
56,4%, a de diabetes 13,6% e a de dislipidemias 69,2%. As prevalências de tratamento
medicamentoso entre as pessoas com hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias foram,
respectivamente, 62,0% 59,1%, e 16,1%. Entre os indivíduos com hipertensão arterial que se
tratavam com medicamentos, 39,5% apresentaram PA classificadas como ótima, normal ou
limítrofe; entre os indivíduos com diabetes que utilizavam medicamentos antidiabéticos,
35,9% tinham valores de glicemia de jejum (GJ) compatíveis com as categorias GJ normal e
GJ alterada, e entre os indivíduos com dislipidemias que faziam uso de hipolipemiantes
22,2% apresentaram valores de Colesterol total <200mg/dl e/ou LDL-C <160 mg/dl e/ou
Triglicérides <150mg/dl e/ou HDL-C homens ≥40mg/dl e mulheres ≥50mg/dl. Os fármacos
anti-hipertensivos mais utilizados foram hidroclorotiazida, enalapril, captopril, atenolol,
anlodipino e losartana, sendo suas principais fontes de obtenção os serviços próprios do SUS
(56,0%) e as farmácias e drogarias privadas, mediante pagamento direto pelo usuário (32,0%).
Os fármacos antidiabéticos mais utilizados foram os antidiabéticos orais metformina e
glibenclamida e a insulina NPH, obtidos principalmente nos estabelecimentos vinculados ao
SUS (68,8%) e por aquisição com custeio próprio em farmácias e drogarias privadas (21,6%).
Os fármacos hipolipemiantes mais utilizados foram sinvastatina (81,5%) e bezafibrato
(6,5%), obtidos principalmente por pagamento direto em farmácias e drogarias privadas
(52,2%) e serviços próprios do SUS (33,6%). CONCLUSÃO: O tratamento medicamentoso
da hipertensão arterial mostrou-se superior ao de outras regiões do Brasil, enquanto o da
diabetes é similar. As unidades próprias do SUS eram os principais locais de aquisição de
medicamentos para o tratamento da hipertensão e diabetes, o que sugere que as políticas
públicas de Assistência Farmacêutica em Cambé/PR proporcionam boas condições de
acessibilidade aos mesmos. Para as dislipidemias, entretanto, o alcance das políticas ainda é
limitado. O baixo nível de controle da hipertensão, diabetes e dislipidemias pode indicar que o
acesso aos medicamentos circunscreve-se ao domínio restrito. É recomendado que o
planejamento de ações de atendimento integral às pessoas com hipertensão arterial, diabetes e
dislipidemias baseie-se nos conceitos linha de cuidados e redes matriciais de atenção à saúde.
Qualidade do sono entre professores e fatores associados
Denise Andrade Pereira Meier, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 09/11/2016
O sono desempenha função notável na prevenção de doenças, manutenção e
recuperação da saúde física e mental. Como processo reparador, sofre influências de
fatores determinantes e condicionantes, que o tornam complexo e multifacetado. As
condições adversas de trabalho enfrentadas por professores podem prejudicar sua
qualidade de vida e, consequentemente, seu padrão de sono. Este estudo objetivou
analisar a qualidade do sono e fatores associados em professores da educação
básica. Trata-se de um estudo transversal com professores do ensino fundamental e
médio, alocados nas 20 escolas com maior número de docentes da rede estadual de
Londrina-PR. A coleta de dados, de agosto de 2012 a junho de 2013, deu-se por
entrevistas e aplicação de um questionário respondido pelo professor. Foi analisada a
associação entre pior qualidade do sono e características sociodemográficas, de estilo
de vida, condições de saúde e percepções sobre o trabalho. A qualidade do sono foi
obtida por meio do Pittsburgh Sleep Quality Index, considerando-se a pior qualidade do
sono escores superiores a cinco pontos. Os dados foram digitados e tabulados no
programa Epi Info e Statistical Package for the Social Sciences, respectivamente.
Participaram da pesquisa 972 professores e a taxa de resposta foi de 86,3%. Com
idade média de 41,5 anos, a maioria era do sexo feminino (68,3%), da raça/cor branca
(74,5%), vivia com companheiro (59,1%), tinha renda familiar mensal de até R$ 5 mil
(59,1%) e pós-graduação (87,5%). Mais da metade (52,9%) referiu inatividade física,
8,0% relataram fumar e metade consumia bebida alcoólica. Cerca de 70% citaram o
consumo diário de café. As condições de saúde mais frequentemente referidas foram:
dor crônica (42,1%), ansiedade (25,1%) e depressão (15,4%). A prevalência de pior
qualidade do sono foi de 54,3%. Associaram-se à pior qualidade do sono nas análises
bivariadas: renda mensal familiar de até R$ 5 mil, inatividade física, relatos de
diagnóstico de hipertensão, depressão, ansiedade e dor crônica, ter três vínculos de
trabalho, ter sofrido violência física ou psicológica e percepção negativa em relação a:
remuneração, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, tempo para lazer e família,
quantidade de alunos por sala de aula, ritmo e intensidade do trabalho, número de
tarefas realizadas e tempo disponível para preparar atividades. Entre as variáveis de
condições de trabalho, após análises ajustadas, permaneceram associadas à pior
qualidade do sono: ter sofrido violência física ou psicológica no trabalho como
professor, percepção negativa em relação ao tempo para lazer e para a família e ao
equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A análise detalhada da violência revelou
que todos os tipos permaneceram associados à pior qualidade do sono mesmo após
ajustes. Os dados identificados indicam aspectos importantes sobre a qualidade do
sono e sua associação com algumas características do trabalho docente. Espera-se
que os resultados despertem reflexões para formular políticas públicas que melhorem
as condições laborais desses profissionais, minimizando os efeitos sobre sua
qualidade de vida, incluído o sono.
Identificação e caracterização dos indivíduos com indicação de cuidados paliativos cadastrados na Estratégia Saúde da Família
Fernando Cesar Iwamoto Marcucci, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 22/08/2016
Introdução: Os Cuidados Paliativos (CP) buscam melhorar a qualidade de vida dos
pacientes com doença em fase avançada ou sem possibilidade de cura, mas há
poucos dados relacionados às características e necessidades destes indivíduos no
contexto da atenção primária. Objetivos: Busca-se identificar os indivíduos com
indicação para CP na Estratégia Saúde da Família (ESF); caracterizar suas
condições clínicas e sociodemográficas, os principais sintomas e a capacidade
funcional; e identificar quais serviços estes pacientes receberam da Unidade Básica
de Saúde (UBS). Método: Realizou-se um estudo transversal, de cunho
exploratório, em Londrina-PR. A amostra foi obtida a partir de UBSs que possuíam
equipes da ESF, e estas foram orientadas a indicarem os indivíduos cadastrados
que apresentavam as condições associadas aos CP. Os indivíduos indicados foram
triados pela escala Palliative Care Screening Tool (PCST) e, aqueles incluídos,
foram avaliados por: Questionário de dados sociodemográficos e clínicos; Escala de
Performance de Karnofsky (EPK); Escala Sintomas de Edmonton; e Palliative care
Outcome Scale (POS). Os resultados foram analisados por estatísticas descritiva e
analítica. Resultados: Seis equipes de ESF indicaram 238 pacientes. Destes, 13
faleceram e 38 não foram localizados. Foram triados 187 pacientes pela PCST, 114
foram excluídos, por não preencherem os critérios de inclusão, e 73 foram incluídos.
A frequência de pacientes com indicação de CP foi de 456/100 mil pessoas
registradas na ESF. Daqueles incluídos, 41% eram homens e 59% mulheres, com
média de idade de 77 anos. As doenças demenciais e cerebrovasculares foram os
quadros mais frequentes. A maioria tinha condições crônicas e limitação funcional
importante (média da EPK de 47,9 pontos). Os sintomas mais frequentes foram o
comprometimento do bem-estar, dor, cansaço e sonolência, de intensidade leve.
Houve correlação positiva entre a EPK e os sintomas de dor, cansaço e falta de ar.
A maioria dos pacientes utiliza a UBS para a obtenção de medicamentos e
orientação técnica de enfermeiros, médicos e agentes comunitários. Poucos tiveram atendimento de outros profissionais. Outros problemas percebidos foram a falta de
visita domiciliar e a demora no atendimento. A escala POS indicou maior
comprometimento nos aspectos de informação recebida, no valor próprio e na
ansiedade familiar. Os cuidadores tiveram uma média de idade de 61 ano, a maioria
era mulher, em geral, filhas e cônjuges dos pacientes. Dez indivíduos sem
cuidadores tiveram maior funcionalidade (p<0,01), mas a intensidade de sintomas de
dor (p=0,04) e cansaço (p=0,03), e o escore na escala POS (p=0,01) foram maiores,
indicando maior dificuldade no controle de sintomas e maior limitação na assistência
em CP que o grupo com cuidadores. Discussão: Os casos com necessidade de CP
estão presentes na ESF, mas há limitações na sua assistência. A formulação de
políticas de saúde e a capacitação dos profissionais envolvidos são aspectos
fundamentais para incluir o acesso aos CP no sistema de saúde, especialmente
neste nível de atenção, o que poderia melhorar a qualidade de vida destes pacientes
e seus familiares. Conclusão: Há necessidade de ofertar CP no contexto da ESF.
Para isto, é necessário treinamento, planejamento e políticas específicas nesta área.
A longitudinalidade do cuidado na atenção básica à luz da experiência dos usuários com hipertensão arterial
Crysthianne Cônsolo de Almeida Baricati, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 28/01/2016
A longitudinalidade ou vínculo longitudinal do cuidado, um dos atributos da atenção
básica à saúde, consiste no acompanhamento do usuário ao longo do tempo, na
qual se espera uma relação terapêutica que envolva a responsabilidade por parte do
profissional de saúde e a confiança por parte do usuário. Este atributo é constituído
por três elementos: a existência e o reconhecimento de uma fonte regular de
cuidados, o estabelecimento de vínculo terapêutico duradouro entre os usuários e os
profissionais de saúde da equipe local e a continuidade informacional. Este estudo
teve como objetivo compreender a longitudinalidade do cuidado na atenção básica a
partir da vivência do usuário com hipertensão arterial. Trata-se de pesquisa de
natureza qualitativa, com abordagem descritivo-exploratória, realizada com treze
pessoas com quarenta anos ou mais, residentes na zona urbana do município de
Cambé/PR, com hipertensão arterial e que utilizavam exclusivamente os serviços do
Sistema Único de Saúde. A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2014 e
janeiro de 2015, realizada por meio de entrevista com a questão norteadora: Conteme como tem sido o cuidado da hipertensão arterial na unidade básica de saúde.
Para analisar os dados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo com base em
duas categorias analíticas: a unidade básica de saúde como fonte regular de
cuidados e relação interpessoal para o estabelecimento do vínculo duradouro entre
o usuário e os profissionais. Os depoimentos dos usuários com doenças crônicas
revelam aspectos que apontam a longitudinalidade do cuidado na atenção básica do
município. Os usuários utilizam a unidade básica de saúde como fonte regular do
cuidado, mas não a reconhecem como tal porque há fragilidades quantitativas e
qualitativas nos serviços. Em relação ao estabelecimento do vínculo entre o usuário
e os profissionais, verificou-se que decorreu das relações interpessoais
influenciadas: pelo tempo de moradia na área, pela alta rotatividade dos
profissionais, pela qualidade do processo de comunicação verbal e não verbal entre
os usuários e a equipe, pela permanência do modelo biomédico na atenção básica e
pela dificuldade do usuário reconhecer as categorias profissionais atuantes e suas
atribuições. Conclui-se que exercer o atributo do vínculo longitudinal, embora esteja
relacionado às práticas profissionais, depende da união dos esforços direcionados à
melhoria da quantidade e da qualidade dos serviços ofertados e das estratégias de
valorização dos profissionais.
Aprendizagem para o trabalho em equipe: reflexões na perspectiva do estudante de enfermagem e do pensamento complexo
Fernanda da Silva Floter, Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 31/08/2015
O Currículo Integrado (CI) do curso de enfermagem da Universidade Estadual de
Londrina (UEL) foi implantado no ano de 2000 com uma organização pedagógica
diferenciada. Sua estrutura curricular é composta por módulos interdisciplinares e
por temas transversais que devem perpassar os módulos de todas as séries do
curso. Um desses temas é o Trabalho em Equipe. O objetivo desse estudo foi
compreender o processo de ensino e aprendizagem de habilidades para o trabalho
em equipe em um CI de Enfermagem, na percepção dos estudantes. Trata-se de um
estudo exploratório compreensivo, com abordagem qualitativa, do tipo estudo de
caso, realizado no curso de enfermagem da UEL. As fontes de dados foram
constituídas pelos cadernos de planejamento e desenvolvimento dos módulos
interdisciplinares e pelos estudantes que participaram de grupos focais. Os
encontros com os estudantes foram gravados, transcritos na íntegra e submetidos à
análise temática. A coleta de dados ocorreu de novembro de 2012 a dezembro de
2013. Participaram do estudo 25 estudantes. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética desta universidade em estudo. Os resultados foram organizados em quatro
momentos e as discussões apoiadas em elementos do pensamento complexo de
Edgar Morin. No primeiro momento foi realizada a analise documental de 16
módulos interdisciplinares. No segundo momento, apresenta as estratégias de
ensino e aprendizagem utilizadas nas quatro séries do curso de enfermagem para o
desenvolvimento de habilidades para o trabalho em equipe. Buscou-se analisar a
explicação que os estudantes fizeram de seus desenhos, estes utilizados como
estímulo para desencadear o conceito de equipe. Em seguida os resultados foram
discutidos na perspectiva da espiral complexa de Morin. A análise documental
possibilitou verificar que a temática vem sendo trabalhada de nas quatro séries em
vários momentos durante a formação. As estratégias de ensino e aprendizagem
elencadas pelos estudantes abrangem os seminários, os tutoriais, os módulos de
Práticas Interdisciplinares e Interação Ensino, Serviço e Comunidade (PIN 1, 2) e as
atividades práticas em estágios e no Internato de Enfermagem. O tema transversal
que trata do trabalho em equipe esta sendo desenvolvido nos diferentes módulos
interdisciplinares de maneira crescente. Os resultados da análise dos desenhos
realizados revelaram que os estudantes compreendem o trabalho em equipe como
pessoas unidas que buscam um objetivo comum, que possuem papéis
complementares, que se ajudam e que buscam harmonia e necessitam de
companheirismo. Os resultados apontaram que a estrutura curricular do curso em
estudo oportuniza o desenvolvimento de determinadas habilidades para o trabalho
em equipe desde o início do curso.
Histórias e trajetórias de pessoas com úlcera de perna em busca de tratamento
Maria Regiane Trincaus, Regina Melchior
Data da defesa: 30/07/2015
As úlceras, mais especificamente as de perna, levam os indivíduos a passar
por uma experiência de enfermidade que abrange múltiplos aspectos (físicos,
sociais, cognitivos, culturais e psicológicos) necessitando de abordagens mais
amplas para que o problema/aflição deles seja resolvido ou pelo menos amenizado.
A pessoa com úlcera de perna sofre estigmatização, dor intensa e tende a isolar-se
socialmente com o intuito de autoproteger-se, além do longo período de evolução
destas lesões. O objetivo desta pesquisa foi compreender como as pessoas com
úlceras de perna constroem suas trajetórias na busca pelo tratamento destas
feridas. A metodologia escolhida foi a qualitativa. Foi utilizada a história de vida
como perspectiva de abordagem metodológica, a qual culminou na construção dos
itinerários terapêuticos. Foram realizadas entrevistas utilizando-se de uma questão
norteadora: Conte-me a sua história com esta ferida. Foram entrevistados nove
pacientes, em tratamento no Ambulatório de Feridas do CEDETEG, e três itinerários
foram analisados em profundidade. A presença da úlcera foi utilizada como situação
marcadora. Para análise do itinerário terapêutico foram utilizados os conceitos de
rizoma de Deleuze e Guatarri (2011), redes vivas de Merhy (2014) e redes de
Feuerwerker. A dor e o (auto)preconceito foram evidenciados nos relatos chegando
a interferir no cotidiano familiar. A análise do itinerário terapêutico nos leva a um
movimento rizomático pelo qual as pessoas constroem suas trajetórias em busca de
tratamento para estas feridas. Ferramentas como acolhimento, escuta, vínculo,
responsabilização, mostraram-se imprescindíveis para a relação profissional-usuário
e a manutenção do paciente no serviço, dando-lhe assim oportunidade digna de
tratamento. Compreendemos que os itinerários terapêuticos foram construídos
conforme novas entradas surgiam no rizoma, enquanto outras linhas mais frágeis
eram rompidas. A fragilização dos serviços de saúde e das condutas contribuíram
para a cronicidade deste agravo. A busca por melhor qualificação tende, além de
melhorar a autoestima do profissional, melhorar também a assistência prestada à
comunidade, mas necessita, contudo, do reconhecimento do gestor. A proximidade
dos serviços com Instituições de ensino pode ser uma alternativa para estimular a
busca por qualificação. A abertura do profissional para acolher e responsabilizar-se
pelas pessoas com feridas crônicas ou outros agravos são imprescindíveis para que
o cuidado ocorra. Verificamos que na maioria dos serviços de atenção básica e
especializada o modelo assistencial biomédico ainda é hegemônico. A
transformação das práticas em saúde passa pela formação dos profissionais, mas
também pela gestão dos serviços, que carecem de um trabalho integrado e
colaborativo em rede, onde Atenção Básica e Especializada se complementem e se
apoiem mutuamente. A reflexão pelos profissionais de saúde sobre essas práticas e
a educação permanente são essenciais para esse processo.
Integração ensino-serviço de saúde: uma compreensão por meio da fenomenologia heideggeriana
Lucimar Aparecida Britto Codato, Mara Lúcia Garanhani, Alberto Durán González
Data da defesa: 15/06/2015
Trata-se de estudo que buscou compreender os significados da integração ensinoserviço para a formação profissional em saúde, suas interfaces e o modo de 'ser-com-ooutro' em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Pesquisa de natureza qualitativa, com
abordagem fenomenológica hermenêutica, apoiada no referencial teórico filosófico de
Martin Heidegger. Foi realizada com coordenadores de colegiados de cursos da área da
saúde de uma universidade pública, com gestores municipais, estudantes, profissionais
da rede de serviços e docentes que acompanham estudantes em atividades realizadas
em UBS da região metropolitana de um município de grande porte do sul do Brasil. Os
participantes foram selecionados intencionalmente, totalizando 33 entrevistados. Os
resultados desvelaram que a aproximação entre o mundo ôntico do ensino e o do
serviço de saúde favorece o alcance dos pressupostos das Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN). Houve reconhecimento da complementaridade entre o mundo do
ensino e o do trabalho, embora o entendimento que cabe mais a um mundo pensar e ao
outro executar também esteve presente. A parceria entre o mundo do ensino com o do
serviço de saúde foi reconhecida como importante para cuidado da população, a qual foi
compreendida como beneficiária dessa relação. 'Ser-com-o-outro' na ocupação do
espaço existencial compartilhado entre o ensino-serviço de saúde nas UBS mostrou-se
permeado por modos próprios e impróprios de ser. Nele, desvelaram-se conflitos ligados
à linguagem, mais precisamente na verbalização e na escuta. Também foi reconhecido
como importante para a formação dos 'ser-aí' que coabitam este espaço existencial, a
qual mostrou-se dependente da postura ativa, da curiosidade e da criatividade do
estudante, do vínculo que o docente estabelece com o campo, da preocupação dos
profissionais, da abertura, disposição e da compreensão de todos os 'ser-aí' que
coexistem na UBS. A integração ensino-serviço de saúde revelou-se mais atrelada às
posturas ativas de gestores e docentes da universidade, possivelmente por serem os
mais dependentes dessa aproximação para o alcance de formação mais condizente
com as orientações das DCN. A integração ensino-serviço de saúde acontece, porém
num estágio que possibilita mais fortemente o 'ser-com' entre profissionais e estudantes
e o 'ser-com' entre estudantes e a população. A presença tênue do 'ser-com-outro'
envolvendo simultaneamente docentes, estudantes e profissionais demonstra que a
integração ensino-serviço de saúde ainda está sendo construída, principalmente quando
pensada em termos de trabalho realizado em conjunto. A ausência do 'ser-com-outro'
envolvendo docente-docente foi percebida como limitação para trabalhos
interdisciplinares neste espaço existencial. A integração ensino-serviço de saúde
desvelou-se dependente das relações que ocorrem nos espaços micros de cada UBS,
as quais foram percebidas como estruturantes e fundamentais para que esses espaços
existenciais sejam criados e mantidos. Os diferentes modos de 'ser-com-outro' foram
reconhecidos como facilitadores ou dificultadores dessa parceira. Os resultados
apontam para reflexões acerca das oportunidades que ainda precisam ser alcançadas
para operacionalizações, avaliações, planejamentos conjuntos e, consequentemente,
para a adoção de práticas mais integrativas.
As comissões intergestores regionais e a gestão interfederativa no norte do Paraná, 2011 a 2013
Sônia Cristina Stefano Nicoletto, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 26/02/2015
No Brasil, a política de saúde requer um sistema universal, integral, com participação
social, financiado pelo Estado. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem como diretrizes
organizacionais a descentralização e a regionalização. Em regiões de saúde quando
se aposta na construção de Rede de Atenção em Saúde (RAS) há relevância a
gestão interfederativa. A Comissão Intergestores Regional (CIR) é o espaço para o
desenvolvimento das inter-relações dos atores para a tomada de decisão sobre a
RAS. Diante disso, o estudo foi desenvolvido com objetivo de compreender as CIR da
macrorregião norte do Paraná no âmbito da gestão interfederativa. Com abordagem
qualitativa, tem duas dimensões, uma exploratória e descritiva, outra compreensiva.
Os dados são das atas das CIR, de grupos focais com gestores municipais e de
entrevistas com representantes da gestão estadual. Para análise utiliza-se a
hermenêutica-dialética que permite a interpretação dos dados cotejando-os com o
referencial teórico, em uma ação objetivada, para ultrapassar o discurso manifesto e
compreender os significados. As CIR foram tomadas como jogo social fundamentado
na teoria de Carlos Matus. A categoria poder teve destaque. A política de saúde
paranaense foi apresentada como cenário. As pautas das CIR estavam permeadas
por demandas das políticas nacional e estadual. Os representantes da gestão
estadual eram os principais condutores das reuniões, seguindo as orientações da
Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA/PR). Os assuntos, organizados em
dezoito temas, foram mais informados do que deliberados. A rotatividade e o
despreparo de gestores municipais dificultam a construção de um coletivo coeso. A
dinâmica de trabalho dos gestores municipais foi apontada como estressante e sem
valorização. O prefeito não participa diretamente da CIR, mas é um ator importante
dado o poder político que detém. A dinâmica das CIR tem sido, em alguns casos,
discutir e rediscutir uma problemática, sem resolver ou efetivar a solução. A
distribuição do poder é assimétrica e a vontade de uns prevalece sobre a dos demais.
Existem conflitos, mas eles acontecem mais fora das reuniões. Alguns acordos foram
firmados com apatia. A Rede Mãe Paranaense e a Rede de Urgência e Emergência
estavam sendo construídas, mas sem um eficiente sistema de governança. Alguns
“arranjos” e “movimentos” como o Conselho de Secretários Municipais de Saúde, a
SESA/PR e o Ministério da Saúde interferem diretamente nas pautas e nas reuniões.
Outros, como o prestador hospitalar, o Consórcio Intermunicipal de Saúde, o
Conselho de Saúde e o Ministério Público interferem mais na execução das decisões.
Alguns nós no cenário do SUS precisam ser enfrentados referentes à sociedade, à
política, à gestão e ao planejamento. Para desconstruir hegemonias que operam
contra o SUS é importante a implantação de colegiados de gestão nos pontos de
atenção das RAS, integrados com as CIR, formando uma Rede de Colegiados de
Gestão Regional. Mas tanto nos colegiados de gestão como nas CIR o processo
decisório necessita ser estabelecido dentro de acordos solidários em torno da missão
de garantir o direito à saúde, integral e com qualidade, para a população.