Excesso de peso em adolescentes: associações com características próprias e de seus pais ou responsáveis
Diego Giulliano Destro Christofaro, Selma Maffei de Andrade, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 29/08/2012
O excesso de peso tem se tornado um dos maiores problemas da saúde pública na atualidade. A alta prevalência de excesso de peso tem sido detectada não apenas na população adulta, mas também nas populações mais jovens. Dessa forma, é importante conhecer fatores que possam contribuir para esse problema em adolescentes. Este estudo transversal teve como objetivo examinar a associação entre o excesso de peso em adolescentes e fatores sociodemográficos e comportamentais dos próprios adolescentes e de seus pais ou responsáveis. Foram avaliados 1231 adolescentes e, pelo menos, um dos seus pais ou responsáveis em seis escolas da região central de Londrina-PR. As informações dos adolescentes foram coletadas nas escolas mediante aplicação de questionários e medidas objetivas de peso e estatura. O excesso de peso nos adolescentes foi identificado segundo valores de referência específicos para sexo e idade preconizados na literatura especializada. Para a obtenção dos dados dos pais ou responsáveis, utilizaram-se questionários. A prevalência de excesso de peso nos adolescentes que participaram do estudo foi de 18,5%. Nos pais ou responsáveis do sexo masculino, a prevalência de excesso de peso foi de 70,7%, enquanto que nas mães ou responsáveis do sexo feminino foi de 54,9%. Na análise bivariada, observou-se associação entre o excesso de peso dos adolescentes e seus comportamentos sedentários (p<0,001) e baixo consumo de doces (p=0,003). Quando consideradas as características dos pais, o excesso de peso de pais e mães e o baixo consumo de verduras por parte dos pais (sexo masculino) associaram-se ao excesso de peso nos adolescentes. Na análise multivariada, com ajuste de variáveis de confusão, mantiveram-se associadas ao excesso de peso dos adolescentes: comportamento sedentário dos adolescentes, baixo consumo de doces desses jovens, excesso de peso dos pais de ambos os sexos e baixo consumo de verdura dos pais ou responsáveis do sexo masculino. No modelo multivariado final, foram associados ao excesso de peso dos adolescentes, de forma independente entre si: baixa escolaridade da mãe (OR= 1,85); excesso de peso do pai (OR=1,62); excesso de peso da mãe (OR= 2,68); o sedentarismo dos adolescentes (OR=2,30); alto consumo de doces dos adolescentes (OR=0,46); e o baixo consumo de verduras do pai (OR=1,53). Os achados do presente estudo indicam que características e comportamentos dos pais ou responsáveis podem contribuir para o aumento do índice de massa corporal nos adolescentes. Estratégias para conter o aumento da prevalência de excesso de peso em idades precoces devem ser focadas também nas famílias e não apenas nos adolescentes.
Bem-estar emocional e doenças crônicas: associação da autopercepção da felicidade, amor e bom humor à condição de saúde de adulto e idosos de Matinhos, Paraná
Milene Zanoni da Silva Vosgerau, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 16/05/2012
Este estudo, de base populacional e delineamento transversal, teve como objetivo analisar a associação de desfechos relacionados ao bem-estar emocional como autopercepção de felicidade, amor e bom humor à presença de hipertensão arterial, diabetes mellitus, depressão e dor crônica. A população de estudo consistiu em adultos com 40 anos ou mais residentes permanentemente no município de Matinhos/PR. A coleta de dados, que utilizou dados dos setores censitários do IBGE, foi realizada por meio de entrevista semiestruturada com questões referentes às variáveis socioeconômicas e demográficas, estilo de vida, fatores relacionados a emoções e situações positivas, religião, espiritualidade e crenças pessoais, saúde autorreferida, consumo contínuo de medicamentos e uso dos serviços de saúde. Para análise estatística utilizou-se a regressão logística, cujos desfechos foram os indicadores de bem estar emocional. Entrevistou-se 638 indivíduos entre abril e julho de 2011. A perda foi de 4,5%. Como resultado, mais da metade dos entrevistados tinham entre 40 e 59 anos (58,9%), não chegaram a concluir o primeiro grau (57,5%), não tem vínculo empregatício (60,6%) e foram classificados no estrato C da ABEP (57,1%), sendo que 29,8% das famílias tem renda inferior a R$ 600,00. Do total de entrevistados, apenas 32,6% apresentaram escores ≥ 30, que segundo a classificação escala de satisfação com vida (SWLS) são considerados como extremamente satisfeitos. A média do escore na SWLS foi de 25,38 [dp=6,04], sendo que o maior preditor para a autopercepção positiva da felicidade foi menor intensidade da dor crônica. Com relação ao amor, 82,1% referiram se sentirem amados sempre por seus familiares e amigos. A frequência de bom humor, ou seja, sorrir sempre ou na maior parte das vezes foi de 75,5%. No desfecho conjugado de bem-estar emocional – felicidade, amor e bom humor – a prevalência encontrada foi 24,9%. Os fatores ‘dor crônica’ e ‘depressão’ se mantiveram associados inversamente ao bem-estar emocional, o que aponta que estas patologias atuam como marcadores relevantes de baixa qualidade de vida, ao passo que, valores, crenças religiosas e renda – questões vinculadas às dimensões espirituais, existenciais e materiais – se mostraram como significativos indicadores positivos de bem-estar emocional. A partir dos achados da investigação, foi possível identificar contribuições e desafios para concepção do objeto saúde, prática clínica e políticas públicas da perspectiva positiva para o campo da saúde coletiva. Sugere-se que seja inserida a reflexão acerca dos fatores de promoção da saúde e indicadores positivos na formação permanente dos profissionais de saúde, com intuito de consolidar movimentos importantes para o Sistema Único de Saúde, tais como Estratégia Saúde da Família, Cidades Saudáveis e Redes de Cuidados em Saúde.
Ser-docente na área da saúde: uma abordagem à luz da fenomenologia heideggeriana
Alberto Durán González, Mara Lúcia Garanhani, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 15/05/2012
Introdução: As instituições de ensino superior possuem o grande desafio de revisar seu papel na educação dos profissionais de saúde. A formação do docente para a docência nas universidades, em especial na área da saúde, é dada em nível de pós-graduação em áreas técnicas específicas. Muitas vezes os docentes na área da saúde assumem a docência sem nenhuma preparação prévia. Os docentes possuem papel importante no resgate do papel da universidade como espaço de formação técnica e libertadora. Inquietação: Compreender as formas de se tornar docente na área da saúde e os modos de ser-docente no mundo da educação na área da saúde. Métodos: Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com referencial da fenomenologia heideggeriana. Realizaram-se 15 entrevistas semiestruturadas com docentes que atuavam, há pelo menos um ano, em um dos cinco cursos de graduação do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Londrina. Nos critérios de seleção dos entrevistados buscou-se a diversidade de cursos, níveis de carreira docente e de tipos de vínculos com a instituição. Resultados e Discussão: Docentes relataram que o desejo pela docência existia quando da possibilidade de entrada no mundo da educação, entretanto outros docentes relataram que o status e a necessidade de um segundo emprego foram os estímulos para a entrada na docência. No início da atuação, os docentes buscaram referências na impessoalidade da cotidianidade do mundo da educação para subsidiar a construção do ser- docente. Observou-se um movimento entre a impropriedade e a propriedade nos modos de ser-docente. Os docentes requisitaram programas de desenvolvimento docente, entretanto, solicitam ações focadas na instrumentalização pedagógica. Os docentes demonstraram importante sofrimento no finar da docência. Quando questionados, designam o cuidado pelo finar da docência à instituição de ensino ou buscam artimanhas para permanecer no mundo da educação. Considerações Provisórias: Os modos próprios e impróprios de ser-docente compuseram um movimento que se relacionou às „disposições‟ e à impessoalidade do mundo da educação na área da saúde. O desenvolvimento docente é solicitado como forma de instrumentalização e, em geral, as demandas não apresentaram em seu bojo a análise existencial e o „ser-com‟. A formação de professores é uma ação contínua, progressiva e envolve uma perspectiva individual e uma perspectiva institucional. Individual porque sempre está atrelada ao modo de ser-docente. Institucional porque deve ser interesse da universidade apoiar o desenvolvimento de seus docentes para resgatar e recriar seu papel sócio-histórico. Em geral, o ser-docente não possui o finar da docência como uma possibilidade constante da existência no mundo da educação. Quando o docente se preocupa com a construção do seu ser-docente sem se esquecer da busca pelo seu ser „si-mesmo‟ ele existe no mundo da educação de modo próprio e apresenta modos libertários de „ser-com‟. Nesse particular o movimento entre propriedade e impropriedade também existirá, entretanto, quando na impropriedade, o ser-docente pode perceber-se mais rapidamente impróprio e resgatar a contínua jornada pela compreensão de seu ser „si-mesmo‟.