Internações Hospitalares pelo SUS: Perfil Epidemiológico e Gastos em Maringá-PR, 1998 a 2002
Maria da Penha Marques Sapata, Darli Antônio Soares
Data da defesa: 18/12/2003
O acesso às internações hospitalares assume grande importância no contexto da organização do sistema municipal de saúde e é de grande relevância a participação desse nível de assistência no gasto da saúde, podendo afetar diretamente a governabilidade do sistema. Tendo Maringá dificuldades para custear a assistência hospitalar especialmente nos últimos anos, este estudo teve como objetivo analisar os gastos e o perfil das internações hospitalares pelo SUS. Foram estudadas todas as internações de Maringá no período de 1998 a 2002. Estas foram agrupadas em: residentes em Maringá que se internaram no próprio município e fora (evasão), bem como os não residentes que se internaram em Maringá (invasão). Os dados foram coletados do banco de dados SIH/SUS, disponíveis em Cdrom; dos processos de empenho do Fundo Municipal de Saúde e relatórios do DATASUS. Para análise de gastos utilizou-se os valores da Tabela SIH/SUS em reais e para estudo do déficit financeiro do FMS, os gastos foram corrigidos pelo IGP-M. Constatou-se que os leitos hospitalares são insuficientes para o atendimento da clientela SUS com déficit de pelo menos 161 leitos. Quanto às internações de residentes, a taxa de internação foi baixa, menos de 7%, tendo como principais causas: as doenças do aparelho respiratório (21,51%), doenças do aparelho circulatório (13,73%) e gravidez, parto e puerpério (11,17%). Nas faixas etárias > de 1 ano, 1 a 4 e 5 a 14 anos percebeu-se diminuição na taxa de internação. Diminuiu a evasão de residentes a partir de 2000, porém aumentou o custo médio das internações deste grupo em 2001 e 2002. No que se refere à ocorrência de internações dentro de Maringá, o comportamento das internações foi sempre crescente, tanto de residentes quanto de não residentes. As principais causas de internações de não residentes (invasão) foram os transtornos mentais e comportamentais (34,52%), doenças do aparelho circulatório (11,58%) e neoplasias (8,19%).O gasto com internações de residentes no próprio município subiu 36 % de 1998 a 2002, porém, o custo médio da AIH foi praticamente constante. O custo médio AIH de não residentes foi sempre superior ao custo médio das internações dos residentes (próximo do dobro). O Município acumulou déficit importante no Fundo Municipal de Saúde, principalmente nos anos de 2001 e 2002. Assim, este estudo mostrou que há necessidade de repactuação de recursos financeiros para garantir a assistência hospitalar aos usuários do SUS.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e os Cursos Paranaenses de Odontologia: Processo de Construção e Perspectivas e Implementação
Mariângela Monteiro de Melo, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 27/01/2004
Após o incontestável avanço da constitucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS) é necessária sua consolidação que se dará por meio de políticas públicas que garantam à população o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. Dentre as estratégias para a consolidação do SUS está a reformulação do sistema formador de recursos humanos para a saúde que, por meio da publicação da Lei de Diretrizes e Bases, em 1996, oportunizou concretizá-la. O Edital 04/97 da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC), as Instituições de Ensino Superior foram convocadas a apresentarem propostas para a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para todas as carreiras de ensino superior brasileiro. Houve grande mobilização da área da saúde e, na odontologia, as discussões se deram na Associação Brasileira de Ensino Odontológico, em conjunto com núcleos de pesquisas e a comissão de especialistas da SESu/MEc. Diante deste cenário, surge o questionamento de como ocorreu a construção das Diretrizes Curriculares Nacionais e como está sendo sua implementação nos cursos de odontologia do Estado do Paraná. Para se obter tais respostas utilizou-se o método qualitativo em que a coleta de dados se deu por meio de entrevistas semi-estruturadas que foram analisadas pela técnica de análise de conteúdo. Os atores que compuseram a pesquisa foram os coordenadores de cursos do Estado do Paraná e entidades que participaram da construção das Diretrizes para a odontologia como a Associação de Ensino Odontológico e a Rede Unida, compondo dois panoramas de análises: o Panorama Nacional e o Institucional. A partir do material coletado foram extraídas categorias que serviram na análise dos dados de onde foi possível identificar uma inquietação importante nos cursos do Paraná em relação as mudanças propostas pelas Diretrizes. Alguns processos mais maduros e ousados que outros, porém mais na dependência de “forças” individuais, comprometidas com o SUS, do que propriamente mudanças institucionalizadas. O estudo aponta a necessidade de que haja uma reformulação das Pós-graduações stricto sensu, de modo a subsidiar os docentes universitários às novas práticas de ensino que são requeridas pelas diretrizes. Destaca também que as dificuldades encontradas durante as discussões no interior dos cursos reforçam as relações de poder que existem nas Instituições de Ensino Superior no Brasil que por muitas vezes dificultam ou mesmo impedem a implementação das mudanças necessárias. Por outro lado, mostra que a Associação Brasileira de Ensino Odontológico exerce sobre os cursos um poder simbólico que, em função do tradicionalismo de algumas vertentes da entidade, pode inviabilizar os avanços significativos e necessários na formação de graduação em odontologia. O estudo encontrou ainda a inexistência de uma entidade de representação nacional dos estudantes de odontologia, o que também pode significar dificuldades de implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais.
Sistema Único de Saúde: Paradigma Válido para a Odontologia? Representações dos Cirugiões Dentistas sobre o SUS
Sérgio Xavier de Carvalho, Luiza Nakama
Data da defesa: 16/04/2004
O Estado Brasileiro, enquanto promotor de justiça social tem, na atenção à Saúde, um de seus maiores desafios. Conta para tanto com um instrumento privilegiado e legítimo, fruto do esforço coletivo de atores sociais variados, constitucionalmente instituído: o Sistema Único de Saúde (SUS). O presente estudo partiu da necessidade de compreensão do processo histórico de construção do SUS, ontem e hoje, notadamente em sua relação com a atenção odontológica, diante dos seguintes fatores: a) mais de uma década e meia de instituição jurídica do SUS; b) Dificuldades na implantação do SUS como Modelo Assistencial de Saúde; c) Dificuldades específicas relativas à atenção odontológica no SUS; d) Possibilidade de os significados das representações sociais dos profissionais serem fatores explicativos desta realidade. Este estudo teve por objetivo verificar se o SUS é reconhecido como paradigma válido pelo cirurgião-dentista para a prática profissional odontológica. A presente pesquisa configura-se como um Estudo Comparativo de Casos, ou Estudo Multicaso (TRIVIÑOS,1987), ou ainda, um Estudo de Caso Coletivo (BERG, 1998), utilizando-se a metodologia de pesquisa qualitativa, podendo ser tipificado como uma pesquisa aplicada em Ciências Sociais. O grupo de estudo foi constituído de 26 profissionais cirurgiões-dentistas com atuação profissional vinculada ao Sistema Único de Saúde: profissionais dos serviços públicos de saúde e docentes; O grupo de estudo foi constituído de três Casos, aqui denominados subgrupos de estudo: a) Profissionais do serviço público tradicional, de Londrina (PR); b) Profissionais do Programa Saúde da Família (PSF), de Curitiba (PR); c) Docentes de escolas de Odontologia, de Londrina (PR). As representações dos profissionais entrevistados evidenciaram três possibilidades: a) Desconhecimento do SUS; b) Conhecimento e ceticismo; c) Conhecimento e Utopia. Conclui-se deste estudo que o SUS ainda é parcialmente reconhecido como referencial cognitivo e político-ideológico para a atenção odontológica pelos cirurgiões-dentistas.
Formação de facilitadores de educação permanente em saúde: Percepções de tutores e facilitadores
Fernanda de Freitas Mendonça, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 20/02/2008
O Ministério da Saúde (MS) instituiu a política de Educação Permanente em Saúde (EPS) como estratégia de transformação das práticas de saúde e de formação dos profissionais. Para tanto, houve a criação dos pólos de EPS, como instância locoregionais. Apesar de toda essa estruturação surgiram dificuldades para trabalhar a educação permanente. Dessa forma, como estratégia de fortalecimento da implementação da EPS iniciou-se a formação de tutores e facilitadores de EPS em todo o país. A formação de tutores e facilitadores de EPS é uma iniciativa recente, logo não se conhece como esses atores estão lidando com a responsabilidade de produzir mudanças no processo de trabalho. Com base nisso, o objetivo dessa pesquisa é analisar a percepção de tutores e facilitadores sobre a Educação Permanente em Saúde e sobre suas atuações no processo de implementação dessa política. Trata-se de um estudo qualitativo, realizado com tutores e facilitadores de EPS, em Londrina – PR, no período de dezembro de 2006 a janeiro de 2007. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e submetidos à análise de discurso proposta por Martins e Bicudo. Da análise das entrevistas emergiram quatro categorias: Percebendo o processo de formação de facilitadores de EPS; Compreensão da EPS; Ser Tutor e Facilitador de EPS e Vivenciando o processo de mudança. Os entrevistados revelaram que o processo de formação de facilitadores de EPS teve diversas limitações, dentre elas, a greve dos profissionais de saúde, o sentimento de falta de apoio da gestão e a persistência de práticas hegemônicas. Por conta disso, os participantes enfatizaram em seus discursos as dificuldades e necessidades que têm vivenciado para implementar a EPS. Essas necessidades e dificuldades influenciaram a percepção de tutores e facilitadores acerca de seu papel. Para os sujeitos, só haverá mudanças significativas no processo de trabalho quando a EPS for institucionalizadal. Apesar dos percalços, os sujeitos conseguiram compreender e reconhecer a importância da política de EPS e da formação de facilitadores. Os participantes deram destaque para: ampliação do olhar sobre o processo de trabalho em saúde, reflexão, autocrítica e crescimento pessoal e profissional. Espera-se que os resultados desse estudo possam fornecer subsídios para o enfrentamento dos desafios que se colocam no desenvolvimento EPS e fortalecer esse processo, sobretudo, no atual contexto, em que as discussões em torno da EPS voltam a ocupar um espaço na agenda da gestão, devido à publicação da nova portaria 1996 GM/MS.
Atuação do Ministério Público Estadual de Londrina na área da saúde pública: análise das demandas e atividades
Paulo César Vieira Tavares, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 22/07/2010
O tema do presente trabalho versa sobre a atuação do Ministério Público Estadual de Londrina na área da saúde pública, mais precisamente acerca das atividades desenvolvidas pela 24ª. Promotoria de Justiça da Comarca de Londrina, no Estado do Paraná, durante o período de 1º de fevereiro de 2008 a 31 de julho de 2008. Almejou-se elucidar quais são as principais atribuições e características do Ministério Público, qual é a demanda que chega ao Ministério Público e como essa instituição desempenha as suas funções nessa área. Trata-se de uma pesquisa documental exploratória, que restringiu-se às demandas, vinculadas ao Sistema Único de Saúde, que provocaram a instauração de procedimentos administrativos no âmbito da instituição. Nessa análise foram consideradas as demandas segundo sua origem, tipo, desfechos e encaminhamentos realizados. Verificou-se, nesse estudo, que as demandas que chegaram ao Ministério Público têm natureza predominantemente individual e não coletiva, e que dizem respeito a deficiências nas ações de saúde, particularmente no campo de atuação da vigilância sanitária; a dificuldades de acesso à atenção especializada e à obtenção de medicamentos de alto custo e até mesmo daqueles inseridos na relação de medicamentos essenciais, relativos à atenção básica; e a relações interpessoais conflituosas entre o profissional médico e os pacientes/familiares. No que se refere ao desfecho dos procedimentos administrativos instaurados – objeto desse estudo -, oitenta e um por cento (81%) foram arquivados com resolução dos problemas ou com o recebimento de esclarecimentos satisfatórios. Depreendendo-se, assim, que a maioria dos casos acaba sendo resolvida ou esclarecida no âmbito do Ministério Público, sendo, nesse caso, desnecessária a intervenção do Poder Judiciário para a resolução do problema de saúde.
Não adesão ao tratamento medicamentoso contínuo e fatores associados: estudo de base populacional
Fellipe Assan Remondi, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/04/2012
Este trabalho investiga os fatores associados a não adesão à terapia medicamentosa contínua, entre eles a complexidade da farmacoterapia, em indivíduos de 40 anos e mais de idade. Foi realizado um inquérito transversal de base populacional em Cambé/PR. A adesão à terapia foi avaliada pela escala de 4 itens de Morisky, Green e Levine e a complexidade pelo Índice de Complexidade da Farmacoterapia. Analisaram-se também variáveis sociodemográficas, de condições de saúde, de utilização dos serviços de saúde e do uso de medicamentos. Após análise bruta, foram construídos modelos multivariados de regressão linear generalizada de Poisson com estimação robusta da variância para descrever a associação entre as variáveis e a não adesão. Foram entrevistados 1180 indivíduos, dos quais 78% utilizaram medicamentos nos 15 dias anteriores a entrevista e em 55% registrou-se o uso contínuo. Foram analisados 639 indivíduos, com predominância do sexo feminino, idade entre 40 e 59 anos, baixa escolaridade. A cobertura da Estratégia de Saúde da Família foi de 57,6% e 14,5% dos entrevistados relataram ter tido descontinuidade no acesso aos medicamentos. A resposta mais frequente dentre as perguntas realizadas para mensurar a não adesão foi a referente aos esquecimentos (45,9%). A prevalência de não adesão foi de 63,5%. A complexidade terapêutica teve valor médio de 8,1 pontos, e adotou-se o percentil 80 para definição dos casos de maior complexidade. Após análise ajustada, permaneceram associados a não adesão (p<0,05): não ser acompanhado pelo agente comunitário de saúde, ter tido descontinuidade no acesso aos medicamentos e a elevada frequência de utilização dos medicamentos ao longo do dia. Os resultados indicam uma alta prevalência da não adesão com possíveis impactos negativos para os indivíduos e para a sociedade. A partir destes dados, se fazem necessárias estratégias que visem potencializar o trabalho das equipes de saúde da família, a garantia do acesso gratuito e contínuo aos medicamentos e a simplificação do número de doses diárias para minimização deste problema de saúde pública.
Processo de trabalho do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e o desenvolvimento matricial para a produção do cuidado
Kátia Santos de Oliveira, Regina Melchior, Rossana Staevie Baduy
Data da defesa: 29/05/2014
A Atenção Básica (AB) tem a Saúde da Família como estratégia prioritária para a expansão e a consolidação da atenção à saúde no Brasil. Embora considerada de baixa complexidade tecnológica, as necessidades de saúde trazidas pelos usuários são extremamente complexas. Diante dessa complexidade e a fim de alcançar a integralidade da atenção e a interdisciplinaridade das ações, foi proposta pelo Ministério da Saúde a implantação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), para atuar junto às equipes de saúde da família (eSF), com o intuito de transpor a lógica hegemônica e fragmentada do cuidado à saúde. O NASF é constituído por equipes, com profissionais de diferentes áreas, que devem utilizar ferramentas, como o apoio matricial, para oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnicopedagógico às eSF. No entanto, esse é um processo em construção, que demanda mudanças de práticas de todos os profissionais envolvidos em sua implementação. Este estudo teve o objetivo de compreender como vem se estruturando o processo de trabalho do NASF no município de Londrina e, em especial, como vem se dando o desenvolvimento do apoio matricial para a produção do cuidado em saúde. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, com uma equipe NASF do referido município, integrada por profissional de educação física, farmacêutico, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo. Os instrumentos de investigação foram a observação, o grupo focal e a análise documental, colocados em prática de setembro de 2012 a fevereiro de 2013. Para análise do material, foram utilizados referenciais teóricos de textos oficiais, relacionados ao trabalho do NASF, abrangendo apoio matricial, cuidado em saúde, trabalho em equipe e outros temas que surgiram durante a análise. Os resultados foram organizados em três principais categorias: 1. Organização do trabalho da equipe NASF; 2. Apoio Matricial: concepções, modos de produção, ferramentas e estratégias utilizadas pela equipe NASF; e 3. Atividades desenvolvidas pelo NASF. Na primeira categoria, foi descrito o processo vivenciado pelos profissionais do NASF para se inserir na rotina de trabalho da Unidade Básica de Saúde (UBS); as tensões existentes no cotidiano do trabalho do NASF na AB e as possibilidade de intercessão entre NASF e eSF, para o desenvolvimento do trabalho em equipe. Na segunda categoria, foram descritas as ferramentas utilizadas pelos profissionais do NASF para desenvolver o apoio matricial, destacando-se a necessidade de encontro entre os profissionais, propiciado pela criação da reunião de matriciamento, realizada uma vez por mês em cada unidade de atuação dessa equipe. Na reunião de matriciamento, baseada na discussão de casos, planos terapêuticos eram elaborados e assumidos como responsabilidade dos profissionais do NASF, havendo pouca apropriação desse espaço pelos profissionais da eSF. A terceira categoria descreve a organização do trabalho do NASF. Baseada em atividades centradas nos núcleos profissionais, a partir da realização de atendimentos individuais, e mesmo de atividades coletivas, eram determinadas pelas categorias profissionais que se responsabilizavam por sua condução. Na relação NASF e eSF predomina a lógica do encaminhamento, não havendo, na maioria das vezes, desenvolvimento conjunto das atividades. Com isso, a produção do cuidado mostrou-se fragmentada, representando um obstáculo a ser vencido pelas novas práticas. Há necessidade de apropriação da ferramenta do apoio matricial por parte dos trabalhadores, para ensejar um movimento em que profissionais das UBS e da equipe NASF atuem com corresponsabilidade, a fim de atingir a integralidade do cuidado em saúde, a partir de ações interdisciplinares voltadas, principalmente, às demandas e necessidades trazidas pelos usuários.
Autopercepção da equipe gestora sobre o preparo para o desempenho da função de gestão em saúde em municípios de pequeno porte
Maria Carolina Bot Bonfim, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 17/03/2016
A necessidade de avanços na formação de gestores nos serviços públicos de saúde é assunto de debates há anos. A produção dos serviços de saúde depende, dentre outras questões, da existência de profissionais capacitados e motivados em transformar as práticas em saúde. O objetivo deste estudo foi analisar a autopercepção de preparo da equipe gestora para o exercício da gestão nos municípios de pequeno porte da Macrorregião Norte do Paraná. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e transversal. A população de estudo foi composta por 744 profissionais que integravam a equipe de gestão dos 82 municípios de pequeno porte da 16ª, 17ª, 18ª, 19ª e 22ª Regionais de Saúde do Estado do Paraná. Este estudo é um recorte do projeto denominado A gestão do trabalho do SUS em municípios de pequeno porte do Paraná a partir do olhar da equipe gestora. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas presenciais, orientadas por um roteiro estruturado, no período de setembro de 2013 a outubro de 2014. A análise dos dados foi realizada pelo programa EPIINFO, versão 3.5.4, por meio de análise de freqüência e fatores associados à autopercepção de preparo pelo teste quiquadrado. Os resultados revelaram que 40,9% dos gestores possuíam pósgraduação, e a especialização lato sensu específica na área de gestão em saúde foi de 4,4%. A atividade de gestão mais referida foi a relacionada aos sistemas de informações (66,9%). A maioria dos gestores não possuía experiência prévia em gestão (74,9%), no entanto, 97,6% deles referiram sentir-se integralmente ou parcialmente preparados para o exercício da função. Em relação ao preparo obtido, do total de entrevistados, 37,2% atribuem aos cursos ofertados pelas regionais de saúde a principal forma de obtenção de preparo para o cargo e 24,7% a experiência do dia-a-dia. Ter nível superior, experiência anterior em gestão, idade abaixo da média (37,8 anos) e ter realizado algum curso como forma de preparo para atuação na gestão foram fatores associados à autopercepção de preparo. Conclui-se que grande parte dos gestores se sente preparado para a atuação na função e isso pode estar relacionado ao fato de a maioria ter formação na área da saúde. A falta de experiência na função de gestão e a pouca formação específica nessa área propicia que a autopercepção de preparo venha das experiências particulares de cada pessoa. Outra possibilidade está no desconhecimento do quanto é complexa a gestão do SUS, de modo que atuam apenas no sentido de reproduzir o modelo hegemônico vigente. Diante disso, investimentos em qualificação e em estratégias de valorização e reconhecimento das funções de gestão são de fundamental importância, pois um dos desafios do SUS é possuir pessoas que tenham qualificação, seja técnica, seja política, para os diversos cargos de gestão.
Governança das Ações e Serviços de Média Complexidade em uma Região de Saúde
Edinalva de Moura Ferraz, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/03/2018
Na governança das redes de atenção à saúde em uma região participam múltiplos atores, com diferentes graus de poder. Na constituição dessa rede, as ações e serviços de média complexidade (ASMC) têm representado um problema de grande relevância, seja no campo da gestão ou no campo da assistência, para os diferentes entes governamentais, constituindose em um desafio para a organização da atenção em saúde. Desse modo, esse estudo teve como objetivo compreender a governança da atenção de média complexidade em uma região de saúde. Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório, desenvolvido na área de abrangência de uma regional de saúde do norte do Paraná - PR, composta por 17 municípios. Os dados foram obtidos por meio de oito entrevistas semiestruturadas, sendo cinco com gestores públicos de saúde, um representante do Gestor Estadual do SUS, o apoiador regional do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Paraná (COSEMS- PR) e o diretor do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS) da região, realizadas no período de novembro de 2016 a maio de 2017. Os dados foram organizados e analisados por meio da análise de discurso. Os atores que participam do processo de governança das ASMC foram classificados em atores governamentais e atores de mercado. As reuniões da Comissão Intergestores Regional (CIR) foram ressaltadas como espaços potentes para a governança das ASMC, porém são subutilizadas para esse fim. A maior parte das ASMC na região é ofertada por prestadores privados, porém, a insuficiência de oferta ao SUS, a demanda expressiva para esta fração da assistência atrelada à baixa resolutividade da atenção básica e a um sistema de comunicação ineficaz entre os diferentes pontos de atenção, se constituem em fragilidades para a organização desse nível de atenção e potencializam os desafios envolvidos na governança dessas ações na região. Dentre esses desafios estão: a falta de solidariedade e de compartilhamento de responsabilidades entre os entes federativos; a fragilidade do ente municipal em relação aos demais atores envolvidos na governança; assimetrias de poder, o frágil planejamento integrado e regionalizado, a não efetivação do Contrato Organizativo da Ação Pública (COAP) na região; o subfinanciamento do SUS; o incipiente sistema regulatório e a interferência político partidária. O processo de governança das ações e serviços de média complexidade se constitui num grande jogo, complexo, permeado por relações sociais de competição e conflitos entre os atores participantes e que sofre forte influência do jogo econômico. Para superar esses obstáculos se faz necessário fortalecer a região de saúde e a cooperação entre os entes, viabilizando políticas de saúde coerentes com a necessidade coletiva.
SUS para todos, para pobres ou para ninguém? A visão de estudantes de Educação Física de três universidades públicas do Paraná
Joamara de Oliveira Pimentel, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 16/03/2020
Introdução: O sistema de saúde brasileiro sofreu diversas mudanças desde o início do século XX, conforme se alteravam as condições econômicas, políticas e sociais no Brasil. O sistema Único de Saúde (SUS) tem entre seus princípios a universalidade, a integralidade e a equidade. No SUS atuam diferentes profissionais de saúde e, a partir da criação dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica a Educação Física, entre outras profissões, passou a ter a oportunidade de se inserir nas equipes de saúde pública. Esse é um dos fatores que faz com que a formação em Educação Física precise ter uma aproximação mais estreita com o SUS. Objetivo: Verificar a visão de estudantes de Educação Física (EEF) sobre como deveria ser o acesso ao SUS de maneira geral e em ações/serviços específicos. Métodos: Estudo de delineamento transversal, descritivo e quantitativo com estudantes ingressantes e concluintes em 2019, nos cursos de bacharelado em Educação Física de três universidades públicas do Paraná. Responderam a um questionário semiestruturado 349 EEF (216 ingressantes e 133 concluintes). As questões principais avaliaram a visão dos EEF sobre o princípio da universalidade, de um modo genérico (a partir de uma pergunta geral sobre como deveria ser o acesso) e para 11 serviços/ações específicas: acompanhamento de pessoas com doenças crônicas, acompanhamento psicológico, acompanhamento de gestantes (pré-natal), atendimento domiciliar para pessoas com dificuldade de locomoção, atendimento odontológico, atendimento de urgência e emergência, fisioterapia, fornecimento de medicamentos, programas de atividades físicas, vacinação para crianças e adolescentes e vacinação para adultos. Resultados: A maioria (85,4%) dos EEF considerou que o acesso deveria ser “para todos” (sem diferença entre ingressantes e concluintes, p=0,090), 12,9% “para pobres” e 1,7% “para ninguém”. Porém, menos da metade dos que responderam que o acesso deveria ser “para todos” (na questão geral) respondeu desta maneira em todos os 11 serviços/ações investigados. Os concluintes apresentaram uma visão mais ampla sobre a integralidade que os ingressantes, sendo maior a proporção de resposta “para todos” entre os concluintes em três ações/serviços: atendimento psicológico, atendimento de pessoas com dificuldade de locomoção e programas de práticas corporais/atividade física (PCAF). Além disso, algumas destas ações/serviços apresentaram mais de 90% de resposta “para todos” tanto para ingressantes como para concluintes: atendimento a pessoas com doenças crônicas, serviços de urgência e emergência e vacinação para crianças e adolescentes, enquanto outras ações tiveram menos de 70% de resposta entre os ingressantes: atendimento odontológico, fisioterapia e fornecimento de medicamentos, sendo que entre os concluintes, o serviço/ação que teve menos de 70% de resposta “para todos” foi fisioterapia. Conclusão: Um percentual elevado de EEF, tanto em ingressantes quanto em concluintes, considera que o acesso ao SUS deve ser universal, mas parece prevalecer uma visão limitada sobre os serviços/ações que devem ser “para todos”, indicando assim a necessidade de um maior foco na questão da integralidade na formação profissional.