Teses e Dissertações
Palavra-chave: Sistema Único de Saúde
Atuação do Ministério Público Estadual de Londrina na área da saúde pública: análise das demandas e atividades
Paulo César Vieira Tavares, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 22/07/2010
O tema do presente trabalho versa sobre a atuação do Ministério Público Estadual
de Londrina na área da saúde pública, mais precisamente acerca das atividades
desenvolvidas pela 24ª. Promotoria de Justiça da Comarca de Londrina, no Estado
do Paraná, durante o período de 1º de fevereiro de 2008 a 31 de julho de 2008.
Almejou-se elucidar quais são as principais atribuições e características do Ministério
Público, qual é a demanda que chega ao Ministério Público e como essa instituição
desempenha as suas funções nessa área. Trata-se de uma pesquisa documental
exploratória, que restringiu-se às demandas, vinculadas ao Sistema Único de Saúde,
que provocaram a instauração de procedimentos administrativos no âmbito da
instituição. Nessa análise foram consideradas as demandas segundo sua origem,
tipo, desfechos e encaminhamentos realizados. Verificou-se, nesse estudo, que as
demandas que chegaram ao Ministério Público têm natureza predominantemente
individual e não coletiva, e que dizem respeito a deficiências nas ações de saúde,
particularmente no campo de atuação da vigilância sanitária; a dificuldades de
acesso à atenção especializada e à obtenção de medicamentos de alto custo e até
mesmo daqueles inseridos na relação de medicamentos essenciais, relativos à
atenção básica; e a relações interpessoais conflituosas entre o profissional médico e
os pacientes/familiares. No que se refere ao desfecho dos procedimentos
administrativos instaurados – objeto desse estudo -, oitenta e um por cento (81%)
foram arquivados com resolução dos problemas ou com o recebimento de
esclarecimentos satisfatórios. Depreendendo-se, assim, que a maioria dos casos
acaba sendo resolvida ou esclarecida no âmbito do Ministério Público, sendo, nesse
caso, desnecessária a intervenção do Poder Judiciário para a resolução do
problema de saúde.
Não adesão ao tratamento medicamentoso contínuo e fatores associados: estudo de base populacional
Fellipe Assan Remondi, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/04/2012
Este trabalho investiga os fatores associados a não adesão à terapia
medicamentosa contínua, entre eles a complexidade da farmacoterapia, em
indivíduos de 40 anos e mais de idade. Foi realizado um inquérito transversal de
base populacional em Cambé/PR. A adesão à terapia foi avaliada pela escala de 4
itens de Morisky, Green e Levine e a complexidade pelo Índice de Complexidade da
Farmacoterapia. Analisaram-se também variáveis sociodemográficas, de condições
de saúde, de utilização dos serviços de saúde e do uso de medicamentos. Após
análise bruta, foram construídos modelos multivariados de regressão linear
generalizada de Poisson com estimação robusta da variância para descrever a
associação entre as variáveis e a não adesão. Foram entrevistados 1180 indivíduos,
dos quais 78% utilizaram medicamentos nos 15 dias anteriores a entrevista e em
55% registrou-se o uso contínuo. Foram analisados 639 indivíduos, com
predominância do sexo feminino, idade entre 40 e 59 anos, baixa escolaridade. A
cobertura da Estratégia de Saúde da Família foi de 57,6% e 14,5% dos
entrevistados relataram ter tido descontinuidade no acesso aos medicamentos. A
resposta mais frequente dentre as perguntas realizadas para mensurar a não
adesão foi a referente aos esquecimentos (45,9%). A prevalência de não adesão foi
de 63,5%. A complexidade terapêutica teve valor médio de 8,1 pontos, e adotou-se o
percentil 80 para definição dos casos de maior complexidade. Após análise ajustada,
permaneceram associados a não adesão (p<0,05): não ser acompanhado pelo
agente comunitário de saúde, ter tido descontinuidade no acesso aos medicamentos
e a elevada frequência de utilização dos medicamentos ao longo do dia. Os
resultados indicam uma alta prevalência da não adesão com possíveis impactos
negativos para os indivíduos e para a sociedade. A partir destes dados, se fazem
necessárias estratégias que visem potencializar o trabalho das equipes de saúde da
família, a garantia do acesso gratuito e contínuo aos medicamentos e a simplificação
do número de doses diárias para minimização deste problema de saúde pública.
Processo de trabalho do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e o desenvolvimento matricial para a produção do cuidado
Kátia Santos de Oliveira, Regina Melchior, Rossana Staevie Baduy
Data da defesa: 29/05/2014
A Atenção Básica (AB) tem a Saúde da Família como estratégia prioritária para a expansão e a
consolidação da atenção à saúde no Brasil. Embora considerada de baixa complexidade
tecnológica, as necessidades de saúde trazidas pelos usuários são extremamente complexas.
Diante dessa complexidade e a fim de alcançar a integralidade da atenção e a
interdisciplinaridade das ações, foi proposta pelo Ministério da Saúde a implantação do Núcleo
de Apoio à Saúde da Família (NASF), para atuar junto às equipes de saúde da família (eSF),
com o intuito de transpor a lógica hegemônica e fragmentada do cuidado à saúde. O NASF é
constituído por equipes, com profissionais de diferentes áreas, que devem utilizar ferramentas,
como o apoio matricial, para oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnicopedagógico às eSF. No entanto, esse é um processo em construção, que demanda mudanças
de práticas de todos os profissionais envolvidos em sua implementação. Este estudo teve o
objetivo de compreender como vem se estruturando o processo de trabalho do NASF no
município de Londrina e, em especial, como vem se dando o desenvolvimento do apoio matricial
para a produção do cuidado em saúde. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória,
de abordagem qualitativa, com uma equipe NASF do referido município, integrada por
profissional de educação física, farmacêutico, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo. Os
instrumentos de investigação foram a observação, o grupo focal e a análise documental,
colocados em prática de setembro de 2012 a fevereiro de 2013. Para análise do material, foram
utilizados referenciais teóricos de textos oficiais, relacionados ao trabalho do NASF, abrangendo
apoio matricial, cuidado em saúde, trabalho em equipe e outros temas que surgiram durante a
análise. Os resultados foram organizados em três principais categorias: 1. Organização do
trabalho da equipe NASF; 2. Apoio Matricial: concepções, modos de produção, ferramentas e
estratégias utilizadas pela equipe NASF; e 3. Atividades desenvolvidas pelo NASF. Na primeira
categoria, foi descrito o processo vivenciado pelos profissionais do NASF para se inserir na
rotina de trabalho da Unidade Básica de Saúde (UBS); as tensões existentes no cotidiano do
trabalho do NASF na AB e as possibilidade de intercessão entre NASF e eSF, para o
desenvolvimento do trabalho em equipe. Na segunda categoria, foram descritas as ferramentas
utilizadas pelos profissionais do NASF para desenvolver o apoio matricial, destacando-se a
necessidade de encontro entre os profissionais, propiciado pela criação da reunião de
matriciamento, realizada uma vez por mês em cada unidade de atuação dessa equipe. Na
reunião de matriciamento, baseada na discussão de casos, planos terapêuticos eram elaborados
e assumidos como responsabilidade dos profissionais do NASF, havendo pouca apropriação
desse espaço pelos profissionais da eSF. A terceira categoria descreve a organização do
trabalho do NASF. Baseada em atividades centradas nos núcleos profissionais, a partir da
realização de atendimentos individuais, e mesmo de atividades coletivas, eram determinadas
pelas categorias profissionais que se responsabilizavam por sua condução. Na relação NASF e
eSF predomina a lógica do encaminhamento, não havendo, na maioria das vezes,
desenvolvimento conjunto das atividades. Com isso, a produção do cuidado mostrou-se
fragmentada, representando um obstáculo a ser vencido pelas novas práticas. Há necessidade
de apropriação da ferramenta do apoio matricial por parte dos trabalhadores, para ensejar um
movimento em que profissionais das UBS e da equipe NASF atuem com corresponsabilidade, a
fim de atingir a integralidade do cuidado em saúde, a partir de ações interdisciplinares voltadas,
principalmente, às demandas e necessidades trazidas pelos usuários.
Autopercepção da equipe gestora sobre o preparo para o desempenho da função de gestão em saúde em municípios de pequeno porte
Maria Carolina Bot Bonfim, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 17/03/2016
A necessidade de avanços na formação de gestores nos serviços públicos de saúde
é assunto de debates há anos. A produção dos serviços de saúde depende, dentre
outras questões, da existência de profissionais capacitados e motivados em
transformar as práticas em saúde. O objetivo deste estudo foi analisar a
autopercepção de preparo da equipe gestora para o exercício da gestão nos
municípios de pequeno porte da Macrorregião Norte do Paraná. Trata-se de um
estudo exploratório, descritivo e transversal. A população de estudo foi composta por
744 profissionais que integravam a equipe de gestão dos 82 municípios de pequeno
porte da 16ª, 17ª, 18ª, 19ª e 22ª Regionais de Saúde do Estado do Paraná. Este
estudo é um recorte do projeto denominado A gestão do trabalho do SUS em
municípios de pequeno porte do Paraná a partir do olhar da equipe gestora. Os
dados foram obtidos por meio de entrevistas presenciais, orientadas por um roteiro
estruturado, no período de setembro de 2013 a outubro de 2014. A análise dos
dados foi realizada pelo programa EPIINFO, versão 3.5.4, por meio de análise de
freqüência e fatores associados à autopercepção de preparo pelo teste quiquadrado. Os resultados revelaram que 40,9% dos gestores possuíam pósgraduação, e a especialização lato sensu específica na área de gestão em saúde foi
de 4,4%. A atividade de gestão mais referida foi a relacionada aos sistemas de
informações (66,9%). A maioria dos gestores não possuía experiência prévia em
gestão (74,9%), no entanto, 97,6% deles referiram sentir-se integralmente ou
parcialmente preparados para o exercício da função. Em relação ao preparo obtido,
do total de entrevistados, 37,2% atribuem aos cursos ofertados pelas regionais de
saúde a principal forma de obtenção de preparo para o cargo e 24,7% a experiência
do dia-a-dia. Ter nível superior, experiência anterior em gestão, idade abaixo da
média (37,8 anos) e ter realizado algum curso como forma de preparo para atuação
na gestão foram fatores associados à autopercepção de preparo. Conclui-se que
grande parte dos gestores se sente preparado para a atuação na função e isso pode
estar relacionado ao fato de a maioria ter formação na área da saúde. A falta de
experiência na função de gestão e a pouca formação específica nessa área propicia
que a autopercepção de preparo venha das experiências particulares de cada
pessoa. Outra possibilidade está no desconhecimento do quanto é complexa a
gestão do SUS, de modo que atuam apenas no sentido de reproduzir o modelo
hegemônico vigente. Diante disso, investimentos em qualificação e em estratégias
de valorização e reconhecimento das funções de gestão são de fundamental
importância, pois um dos desafios do SUS é possuir pessoas que tenham
qualificação, seja técnica, seja política, para os diversos cargos de gestão.
Governança das Ações e Serviços de Média Complexidade em uma Região de Saúde
Edinalva de Moura Ferraz, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/03/2018
Na governança das redes de atenção à saúde em uma região participam múltiplos atores, com
diferentes graus de poder. Na constituição dessa rede, as ações e serviços de média
complexidade (ASMC) têm representado um problema de grande relevância, seja no campo
da gestão ou no campo da assistência, para os diferentes entes governamentais, constituindose em um desafio para a organização da atenção em saúde. Desse modo, esse estudo teve
como objetivo compreender a governança da atenção de média complexidade em uma região
de saúde. Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório, desenvolvido na área de
abrangência de uma regional de saúde do norte do Paraná - PR, composta por 17 municípios.
Os dados foram obtidos por meio de oito entrevistas semiestruturadas, sendo cinco com
gestores públicos de saúde, um representante do Gestor Estadual do SUS, o apoiador regional
do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Paraná (COSEMS- PR) e o diretor do
Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS) da região, realizadas no período de novembro de
2016 a maio de 2017. Os dados foram organizados e analisados por meio da análise de
discurso. Os atores que participam do processo de governança das ASMC foram classificados
em atores governamentais e atores de mercado. As reuniões da Comissão Intergestores
Regional (CIR) foram ressaltadas como espaços potentes para a governança das ASMC,
porém são subutilizadas para esse fim. A maior parte das ASMC na região é ofertada por
prestadores privados, porém, a insuficiência de oferta ao SUS, a demanda expressiva para esta
fração da assistência atrelada à baixa resolutividade da atenção básica e a um sistema de
comunicação ineficaz entre os diferentes pontos de atenção, se constituem em fragilidades
para a organização desse nível de atenção e potencializam os desafios envolvidos na
governança dessas ações na região. Dentre esses desafios estão: a falta de solidariedade e de
compartilhamento de responsabilidades entre os entes federativos; a fragilidade do ente
municipal em relação aos demais atores envolvidos na governança; assimetrias de poder, o
frágil planejamento integrado e regionalizado, a não efetivação do Contrato Organizativo da
Ação Pública (COAP) na região; o subfinanciamento do SUS; o incipiente sistema regulatório
e a interferência político partidária. O processo de governança das ações e serviços de média
complexidade se constitui num grande jogo, complexo, permeado por relações sociais de
competição e conflitos entre os atores participantes e que sofre forte influência do jogo
econômico. Para superar esses obstáculos se faz necessário fortalecer a região de saúde e a
cooperação entre os entes, viabilizando políticas de saúde coerentes com a necessidade
coletiva.
SUS para todos, para pobres ou para ninguém? A visão de estudantes de Educação Física de três universidades públicas do Paraná
Joamara de Oliveira Pimentel, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 16/03/2020
Introdução: O sistema de saúde brasileiro sofreu diversas mudanças desde o início do século
XX, conforme se alteravam as condições econômicas, políticas e sociais no Brasil. O sistema
Único de Saúde (SUS) tem entre seus princípios a universalidade, a integralidade e a
equidade. No SUS atuam diferentes profissionais de saúde e, a partir da criação dos Núcleos
Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica a Educação Física, entre outras profissões,
passou a ter a oportunidade de se inserir nas equipes de saúde pública. Esse é um dos fatores
que faz com que a formação em Educação Física precise ter uma aproximação mais estreita
com o SUS. Objetivo: Verificar a visão de estudantes de Educação Física (EEF) sobre como
deveria ser o acesso ao SUS de maneira geral e em ações/serviços específicos. Métodos:
Estudo de delineamento transversal, descritivo e quantitativo com estudantes ingressantes e
concluintes em 2019, nos cursos de bacharelado em Educação Física de três universidades
públicas do Paraná. Responderam a um questionário semiestruturado 349 EEF (216
ingressantes e 133 concluintes). As questões principais avaliaram a visão dos EEF sobre o
princípio da universalidade, de um modo genérico (a partir de uma pergunta geral sobre como
deveria ser o acesso) e para 11 serviços/ações específicas: acompanhamento de pessoas com
doenças crônicas, acompanhamento psicológico, acompanhamento de gestantes (pré-natal),
atendimento domiciliar para pessoas com dificuldade de locomoção, atendimento
odontológico, atendimento de urgência e emergência, fisioterapia, fornecimento de
medicamentos, programas de atividades físicas, vacinação para crianças e adolescentes e
vacinação para adultos. Resultados: A maioria (85,4%) dos EEF considerou que o acesso
deveria ser “para todos” (sem diferença entre ingressantes e concluintes, p=0,090), 12,9%
“para pobres” e 1,7% “para ninguém”. Porém, menos da metade dos que responderam que o
acesso deveria ser “para todos” (na questão geral) respondeu desta maneira em todos os 11
serviços/ações investigados. Os concluintes apresentaram uma visão mais ampla sobre a
integralidade que os ingressantes, sendo maior a proporção de resposta “para todos” entre os
concluintes em três ações/serviços: atendimento psicológico, atendimento de pessoas com
dificuldade de locomoção e programas de práticas corporais/atividade física (PCAF). Além
disso, algumas destas ações/serviços apresentaram mais de 90% de resposta “para todos”
tanto para ingressantes como para concluintes: atendimento a pessoas com doenças crônicas,
serviços de urgência e emergência e vacinação para crianças e adolescentes, enquanto outras
ações tiveram menos de 70% de resposta entre os ingressantes: atendimento odontológico,
fisioterapia e fornecimento de medicamentos, sendo que entre os concluintes, o serviço/ação
que teve menos de 70% de resposta “para todos” foi fisioterapia. Conclusão: Um percentual
elevado de EEF, tanto em ingressantes quanto em concluintes, considera que o acesso ao SUS
deve ser universal, mas parece prevalecer uma visão limitada sobre os serviços/ações que
devem ser “para todos”, indicando assim a necessidade de um maior foco na questão da
integralidade na formação profissional.
Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica e as Práticas Colaborativas para o cuidado integral
Daiene Aparecida Alves Mazza, Brígida Gimenez Carvalho, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 20/05/2020
Introdução: Os profissionais do NASF-AB se encontram diante de uma aposta que pressupõe
uma relação de trabalho colaborativa, sendo que o grau de articulação esperado entre esses
trabalhadores, e destes com a equipe de referência e com outros componentes da rede são
essenciais para a produção da qualidade do cuidado. Buscando-se compreender as práticas
colaborativas desenvolvidas pelos NASF-AB de forma mais ampliada, utilizou-se o
referencial teórico das dimensões de colaboração, e as premissas da ergologia. Esta
possibilitou uma análise para além do trabalho prescrito, considerando a perspectiva dos
profissionais, a relação que eles estabelecem com o meio em que estão implicados, bem como
as singularidades existentes na realização das atividades. Objetivo: O estudo teve como
objetivo compreender os elementos estruturantes das práticas colaborativas desenvolvidas no
processo de trabalho de equipes NASF-AB para o cuidado integral em municípios que
integram a 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Método: Trata-se de um estudo
exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, de caráter abrangente, realizado em três
municípios da 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Os participantes da pesquisa
foram profissionais que integram as equipes da NASF-AB em cada município analisado. O
estudo foi realizado através de: revisão de literatura; definição de locais de pesquisa e
participantes; observação do participante; e entrevista semiestruturada. Para análise dos
dados, foi utilizado o método de análise de discurso proposto por Martins e Bicudo.
Resultados: O estudo revelou que aspectos macro e micropolíticos estão presentes de modo
conjunto e indissociável no cotidiano de atuação do NASF-AB, sendo que fatores referentes à
infraestrutura, gestão do trabalho, formação para o SUS, relação entre as equipes e
características dos profissionais influenciam a organização e o processo de trabalho do NASFAB. O espaço de apoio matricial possibilitou aos trabalhadores o desenvolvimento de
elementos essenciais para a colaboração, como respeito mútuo, comunicação aberta e escuta
de diversos pontos de vista, e o estabelecimento de consenso, tendo como essência o cuidado
do usuário. A interpretação das práticas realizadas pelo NASF-AB demonstrou o
desenvolvimento de práticas colaborativas na rotina desses profissionais expressas nos
atendimentos individuais, nas visitas domiciliares, no planejamento e execução de atividades
coletivas e na articulação com a rede. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos
profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito,
sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho. Conclusão: Este estudo
explorou a potência do trabalhador, de modo a desenvolver práticas colaborativas
considerando suas singularidades e o contexto em que estão inseridos. A operacionalização do
apoio matricial e o desenvolvimento de práticas colaborativas se mostraram favorecidos nos
municípios de pequeno porte, que integram equipes NASF-AB modalidade 2 e 3. As práticas
colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das
renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo
de trabalho.
Tratamento de dislipidemias em usuários de alto risco pelo SUS: não adesão e efetividade em coorte populacional de pacientes
Felipe Assan Remondi, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/03/2019
O objetivo do trabalho foi analisar a não adesão e a efetividade da terapêutica com
hipolipemiantes fornecidos pelo Sistema Único de Saúde para usuários de alto risco
do estado do Paraná, entre 2008 e 2013. Para tanto, foi realizada uma coorte
retrospectiva com o universo de pacientes assistidos no período de 2008 a 2012,
acompanhados até 2013 para avaliação da adesão e do controle laboratorial. As
informações foram obtidas no sistema eletrônico da Secretaria de Estado para o
gerenciamento do fornecimento destes medicamentos. O cálculo da não adesão foi
realizado a partir da combinação da taxa de posse, proporção de dias cobertos e
média de dias entre as dispensações, sendo caracterizados como não aderentes os
indivíduos que tiveram resultados insatisfatórios em ao menos duas das três medidas
realizadas. O controle laboratorial foi avaliado pelos resultados categorizados da
lipoproteína de baixa densidade (LDL), liproproteína de alta densidade (HDL)
colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG). As análises de associação foram realizadas
por meio da comparação de médias, correlação e regressão multivariada com
distribuição de Poisson ou de Cox. Foram analisados 6751 usuários, sendo que a
caracterização da não adesão restringiu-se a 5697 que tiveram quatro ou mais
dispensações no período e, paralelamente, a de controle laboratorial para 5596
usuários que possuíam informações deste desfecho passível de avaliação. A
população de análise foi composta principalmente por mulheres, indivíduos entre 50
e 59 anos de idade e com predominância de uso da atorvastatina. Observou-se que
as regionais de saúde com maior porte populacional apresentaram maior número de
usuários vinculados ao programa e, ao mesmo tempo, maior taxa de descontinuidade.
A não adesão foi registrada em 37,0% dos usuários, com maior risco no caso do sexo
feminino, idade entre 40 e 70 anos residência em regionais de saúde de 300 a 500 mil
habitantes. A taxa de desistência na obtenção dos medicamentos em até um ano foi
de 29,3%, sendo a persistência inicial (até três dispensações) preponderante (15,6%)
em comparação a persistência tardia (até 12 meses; 13,7%). O controle laboratorial
inadequado, por sua vez, foi de LDL (>100mg/dL): 45,9%; HDL (<40mg/dL para
homens ou <50mg/dL para mulheres): 31,1%; CT (>190mg/dL): 28,0%; e TG
(>150mg/dL): 32,3%. Tanto na comparação de médias entre aderentes e não
aderentes, quanto na análise multivariada com o controle por fatores de confusão
(sexo, idade, medicamento, dose, densidade populacional do local de residência), a
não adesão esteve associada a piores taxas de controle para LDL (HR=2,34; IC95%
2,14-2,54), HDL (HR=3,28; IC95% 2,97-3,63), CT (HR=2,99, IC95% 2,69-3,32) e TG
(HR=2,34; IC95% 2,13-2,59). As diferenças nos padrões de obtenção, elevada taxa
de desistência em um ano, não adesão superior a um terço dos usuários e sua
correlação com a falta de controle laboratorial apontam para a necessidade de
reconhecer a problemática no sistema de saúde brasileiro e adoção de medidas de
aprimoramento das políticas instituídas visando melhor controle das doenças crônicas
não transmissíveis no Brasil.
Gestão de trabalho no SUS em municípios de pequeno porte
Stela Maris Lopes Santini, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 14/09/2018
Este estudo teve o objetivo de compreender a gestão do trabalho no SUS em
Municípios de Pequeno Porte (MPP) por meio da análise da organização da gestão
do trabalho, dos instrumentos utilizados para provimento e fixação dos trabalhadores
e sua interface com os modelos de administração/gestão pública. Faz parte da
pesquisa denominada ―A gestão do trabalho no SUS em MPP do Paraná a partir do
olhar da Equipe Gestora‖, Chamada Pública de Projetos 04/2012-Programa de
Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS): Gestão Compartilhada em
Saúde, Edição 2011. O estudo foi desenvolvido nos MPP da macrorregião norte do
Estado do Paraná, utilizando abordagem quantitativa e qualitativa. A coleta de dados
ocorreu em três movimentos, sendo o primeiro o levantamento da composição das
Equipes Gestoras (EG) da saúde; o segundo foi realizado por meio de entrevista
estruturada para caracterização do perfil dos Responsáveis pela Área de RH/GT, no
período de novembro/2013 a outubro/2014; e o terceiro abordou aspectos sobre a
gestão do trabalho e dos instrumentos de gestão utilizados. Os dados foram obtidos
por meio de encontros com representantes das equipes gestoras (REG), durante o
curso ―A gestão da força de trabalho no SUS em MPP‖, realizado no período de
março a junho de 2015. Foi possível entrevistar 73 responsáveis pela área de
RH/GT durante o segundo movimento. Destes, 50 (68,5%) encontravam-se atuando
nas prefeituras e 23 (31,5%) nas secretarias municipais de saúde. Mesmo que os
responsáveis pela área de RH/GT estivessem centralizados nas prefeituras, as EG
da saúde também executavam ações nessa área. Dentre as potencialidades da
gestão do trabalho em MPP, foram destacadas a pouca distância física entre as
secretarias municipais e a autonomia para adesão a programas. As fragilidades
foram relacionadas à falta de autonomia para: provimento das equipes, deliberação
para pagamento de direitos trabalhistas e definição para alocação de servidores. Os
Planos de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) não eram específicos para a área da
saúde e geralmente não vinculavam todos os seus servidores. Os MPP possuíam
oferta de profissionais de saúde em seus próprios territórios. No entanto,
determinados programas corriam o risco de ter seus incentivos financeiros
suspensos por dificuldades de provimento de determinadas categorias profissionais.
Algumas legislações foram destacadas como limitadoras para o provimento de
pessoal, sendo elas a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a Emenda
Constitucional (EC) n. 41/2003. As formas de seleção frequentemente aplicadas nos
MPP foram os concursos públicos e os testes seletivos; as admissões por estatuto,
emprego público, contratos, credenciamentos e cargos comissionados. A categoria
médica foi considerada como a de maior dificuldade para provimento. Com a adesão
ao Programa Mais Médicos (PMM) foi atendida a expectativa de provimento dessa
categoria. A rotatividade dava-se mais frequentemente em situações de: vínculos
não estáveis, não inserção a PCCS, exigência de cumprimento de carga horária
contratual e baixos vencimentos. Desenvolviam-se ações que contribuíam para a
fixação dos profissionais, dentre elas, a preferência por contratação de profissionais
já residentes nos municípios e concessão de plantões ou de vínculos adicionais.
Concluiu-se que a gestão do trabalho dos MPP ainda apresenta resquícios da
Administração Pública Patrimonial (APP); as características da Administração
7
Pública Burocrática (APB) mostraram-se evidentes nos controles e nas formalidades
dos processos de trabalho, e as influências da Administração Pública Gerencial
(APG) estão sendo vivenciadas nos múltiplos vínculos, em outras formas de
flexibização e na legislação.
Problemas e estratégias de gestão do SUS em municípios de pequeno porte
Elisangela Pinafo, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 06/04/2017
Este estudo teve o objetivo de compreender a dinâmica da gestão do SUS em
Municípios de Pequeno Porte (MPP) por meio da análise dos problemas e as
estratégias de gestão utilizadas no cotidiano desses municípios. Trata-se de um
subprojeto, fruto de uma pesquisa maior denominada “A gestão do trabalho no SUS
em MPP do Paraná a partir do olhar da Equipe Gestora” aprovada pelo edital do
PPSUS/2013. O estudo foi desenvolvido nos MPP da macrorregião norte do estado
do Paraná, por meio de método misto, utilizando abordagem quantitativa e
qualitativa. A coleta de dados ocorreu em dois movimentos. No primeiro foi realizado
o levantamento do nome e função desempenhada pelas pessoas que integravam a
equipe gestora dos municípios estudados. O segundo movimento abrangeu duas
fases: na primeira, com aspecto quantitativo exploratório, foi caracterizado o perfil da
equipe gestora; a segunda fase abordou aspectos qualitativos sobre os problemas e
as estratégias de gestão, cujos dados foram obtidos por meio de discussões com
integrantes chave das equipes, que foram gravadas durante um curso sobre “A
Gestão do SUS em MPP”. A análise quantitativa ocorreu por meio da análise de
frequência pelo Programa EPI INFO versão 3.5.1. As discussões durante o curso
foram gravadas e transcritas, e realizada análise compreensiva das falas conduzida
pelo referencial teórico da Teoria do Jogo Social e relações de poder, de Carlos
Matus. Em relação ao perfil das pessoas integrantes da equipe gestora, destaca-se:
média de idade de 37,8 anos, 66,7% são do sexo feminino, 70,5% referiram possuir
ensino superior completo. A especialização na área de Gestão e Modelos de
Atenção à Saúde foi a que mais se destacou com 40,2%, 43,6% possuíam
experiência de atuação nas funções de gestão no município de um a seis anos,
97,9% sentiam-se preparados para exercerem sua função e a maioria da equipe
gestora referiu conhecer os instrumentos de gestão e participar de sua elaboração.
Da análise qualitativa foram constituídas as seguintes categorias: Os problemas da
gestão em MPP; As estratégias realizadas no cotidiano da gestão; Limites da gestão
do SUS em MPP. A equipe gestora posiciona-se enquanto atores sociais e jogadores
responsáveis pela transformação da realidade da gestão nestes municípios. Os
problemas identificados abrangeram: o processo de descentralização da gestão do
SUS, sem respeitar a estrutura e os limites dos municípios; a reprodução do modelo
biomédico de atenção à saúde; o número insuficiente de médicos nos MPP; e a
oferta insuficiente de serviços de Média e Alta Complexidade (MAC). Para o
enfrentamento desses problemas, a equipe gestora lança mão de diversas
estratégias como: compra de serviços de MAC; adesão a programas e pactuações;
acordos informais. Mesmo assim tais estratégias não foram potentes para a
completa resolução dos problemas, o que os tornam em desafios para a gestão do
SUS nestas localidades. Esses desafios são mais exacerbados nos municípios
menores, devido a alguns limites como sua invisibilidade frente à organização do
sistema de saúde; a falta de empoderamento dos gestores de MPP, levando a uma
participação pouco efetiva no Consórcio Intermunicipal de Saúde e nas instâncias de
gestão (Comissões Intergestoras Bipartite/Comissões Intergestoras Regionais); e a
incipiente gestão interfederativa. Os enfrentamentos dos problemas devem ser
conduzidos por processos políticos e sociais. É necessário reorganizar o processo
de descentralização, para que o estado assuma uma posição de coordenação
efetiva e co-participação na constituição das redes de atenção e no processo de
regionalização, com financiamento condizente, retomando a responsabilidade pelo
atendimento da população nos níveis de maior complexidade. Também é preciso
fomentar o empoderamento do gestor municipal, com a implantação de uma cultura
de enfrentamento dos problemas de forma coletiva e compartilhada entre os entes
federados. Os trabalhadores de saúde e a população devem ser mobilizados em
defesa deste sistema. Torna-se necessário compreender que os problemas
enfrentados pelos municípios extrapolam a capacidade de gestão e passam a uma
outra dimensão maior, que é o SUS ser visto enquanto uma política de Estado e um
projeto a ser defendido por toda sociedade.