Tratamento de dislipidemias em usuários de alto risco pelo SUS: não adesão e efetividade em coorte populacional de pacientes

Tese de doutorado

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Resumo

O objetivo do trabalho foi analisar a não adesão e a efetividade da terapêutica com hipolipemiantes fornecidos pelo Sistema Único de Saúde para usuários de alto risco do estado do Paraná, entre 2008 e 2013. Para tanto, foi realizada uma coorte retrospectiva com o universo de pacientes assistidos no período de 2008 a 2012, acompanhados até 2013 para avaliação da adesão e do controle laboratorial. As informações foram obtidas no sistema eletrônico da Secretaria de Estado para o gerenciamento do fornecimento destes medicamentos. O cálculo da não adesão foi realizado a partir da combinação da taxa de posse, proporção de dias cobertos e média de dias entre as dispensações, sendo caracterizados como não aderentes os indivíduos que tiveram resultados insatisfatórios em ao menos duas das três medidas realizadas. O controle laboratorial foi avaliado pelos resultados categorizados da lipoproteína de baixa densidade (LDL), liproproteína de alta densidade (HDL) colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG). As análises de associação foram realizadas por meio da comparação de médias, correlação e regressão multivariada com distribuição de Poisson ou de Cox. Foram analisados 6751 usuários, sendo que a caracterização da não adesão restringiu-se a 5697 que tiveram quatro ou mais dispensações no período e, paralelamente, a de controle laboratorial para 5596 usuários que possuíam informações deste desfecho passível de avaliação. A população de análise foi composta principalmente por mulheres, indivíduos entre 50 e 59 anos de idade e com predominância de uso da atorvastatina. Observou-se que as regionais de saúde com maior porte populacional apresentaram maior número de usuários vinculados ao programa e, ao mesmo tempo, maior taxa de descontinuidade. A não adesão foi registrada em 37,0% dos usuários, com maior risco no caso do sexo feminino, idade entre 40 e 70 anos residência em regionais de saúde de 300 a 500 mil habitantes. A taxa de desistência na obtenção dos medicamentos em até um ano foi de 29,3%, sendo a persistência inicial (até três dispensações) preponderante (15,6%) em comparação a persistência tardia (até 12 meses; 13,7%). O controle laboratorial inadequado, por sua vez, foi de LDL (>100mg/dL): 45,9%; HDL (<40mg/dL para homens ou <50mg/dL para mulheres): 31,1%; CT (>190mg/dL): 28,0%; e TG (>150mg/dL): 32,3%. Tanto na comparação de médias entre aderentes e não aderentes, quanto na análise multivariada com o controle por fatores de confusão (sexo, idade, medicamento, dose, densidade populacional do local de residência), a não adesão esteve associada a piores taxas de controle para LDL (HR=2,34; IC95% 2,14-2,54), HDL (HR=3,28; IC95% 2,97-3,63), CT (HR=2,99, IC95% 2,69-3,32) e TG (HR=2,34; IC95% 2,13-2,59). As diferenças nos padrões de obtenção, elevada taxa de desistência em um ano, não adesão superior a um terço dos usuários e sua correlação com a falta de controle laboratorial apontam para a necessidade de reconhecer a problemática no sistema de saúde brasileiro e adoção de medidas de aprimoramento das políticas instituídas visando melhor controle das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil.