O protagonismo juvenil nas ocupações de duas escolas estaduais no NRE/Londrina : análise sociológica

Dissertação de mestrado

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Resumo

A presente pesquisa analisa sociologicamente o protagonismo juvenil durante o fenômeno das Ocupações em duas escolas públicas estaduais do NRE/Londrina. Objetiva investigar a experiência dos jovens e suas percepções sobre a participação no movimento estudantil e a reforma no Ensino Médio. Diante dos cortes nos investimentos da educação, inseridos sobretudo na PEC-241/2016 e contra a MP-746/2016 da reforma do Ensino Médio, estudantes se mobilizaram no Brasil, para manifestarem-se contrários a essas políticas governamentais. Observamos que as Ocupações nas escolas públicas (2016) foram as respostas destes jovens contra a autocracia na política brasileira, buscando abrir espaços mais democráticos para o exercício de seus direitos. Neste contexto, essa pesquisa qualitativa mescla técnicas de coleta de investigação, através de dados bibliográficos, documentais e de Grupo Focal constituído por seis participantes das Ocupações, em 2017, entrevistas semiestruturadas individuais com questões abertas e fechadas aplicadas aos estudantes de duas escolas do NRE/Londrina durante a Semana de Humanidades e na Semana de Sociologia, em 2016/2017, incluindo relatos dos estudantes captados na mídia tradicional, nas mídias sociais e independentes durante o fenômeno. Como hipótese, tomamos as Ocupações das escolas como demonstração de um caráter solidário. Pautamos o referencial teórico do protagonismo juvenil nos movimentos sociais de Gohn (2011), no conceito de relações de saber em Charlot (2000, 2001) e nas disposições individuais em Lahire (1997, 2004). A pesquisa evidenciou que atividades desempenhadas pelos estudantes durante as Ocupações se constituíram em experiência política, configurando-se como um material que poderá inspirar as mudanças curriculares futuras, mostrando que concepção de escola tais juventudes desejam. Logo, as respostas das juventudes são importantes para a reformulação da própria concepção de educação e de sociedade que se quer constituir. Dentre as muitas descobertas nessa pesquisa, destacamos o empoderamento dos jovens, através dos múltiplos conhecimentos adquiridos, as disposições exercitadas, a prática do exercício político, a autonomia, a criticidade, o enfrentamento nas arenas políticas, os diferentes tipos e relações com os saberes, a interação com estudantes universitários, com artistas e com profissionais de diversos campos. A resiliência dos jovens diante das retaliações sofridas por grupos de extrema direita ultraconservadores, além da solidariedade entre eles, o sentimento de pertença e zelo pela escola, também foram legados e disposições apreendidas. Enfim, dentro do contexto das Ocupações, os estudantes ressignificaram o espaço escolar, abrindo espaços democráticos para o protagonismo, nas interfaces entre culturas, lazer e saberes.