Violência contra estudantes universitários no ambiente acadêmico: uma análise por sexo

Dissertação de mestrado

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Resumo

A violência acarreta grandes prejuízos para a sociedade, acometendo principalmente os mais jovens. Alguns grupos são mais vulneráveis a sofrer violência. Pessoas de raça/cor preta, parda ou indígena, com baixo poder socioeconômico, mulheres, jovens, não heterossexuais e com sobrepeso ou obesidade estão sob maior risco. Contudo, é possível que as causas da violência sejam diferentes conforme o sexo. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo analisar a violência ocorrida no ambiente acadêmico de acordo com o sexo de estudantes de graduação da Universidade Estadual de Londrina. Foram analisadas as violências psicológica, física e sexual, ocorridas no ambiente acadêmico, incluindo eventos acadêmicos e festivos, nos 12 meses anteriores à pesquisa. Para análise de associações, focou-se na violência psicológica (VP), por sexo. Na investigação sobre VP foram consideradas situações como humilhação, sentir-se excluído, ameaças, discriminação por raça/cor ou orientação sexual. A análise foi feita segundo variáveis sociodemográficas, acadêmicas e de saúde, além do local da agressão e agressor. A coleta de dados ocorreu entre abril e junho de 2019 por meio de questionário online. Os dados foram armazenados diariamente em arquivo Excel. A análise descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas. Para verificar as associações, para cada sexo, utilizou-se teste qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 0,05. A regressão de Poisson com variância robusta foi usada para análises ajustadas, incluindo nos modelos as variáveis com p-valor < 0,20 nas análises bivariadas. A maior parte dos estudantes tinha idade entre 18 a 21 anos (60,5%), era do sexo feminino (68,6%) e de raça/cor branca (69,8%). As prevalências de violência psicológica, física e sexual foram, respectivamente, de 43,8%, 1,0% e 9,4%. A violência física foi proporcionalmente mais relatada por estudantes do sexo masculino, enquanto as violências psicológica e sexual pelo sexo feminino. O local mais frequente de ocorrência de VP foi a sala de aula, e, no caso das violências física e sexual, os eventos festivos. O principal agressor foi outro estudante da universidade, independente da natureza da violência. Após ajustes, observou-se maior frequência de VP contra estudantes de ambos os sexos que se declararam não heterossexuais. Entre as do sexo feminino, a frequência de VP foi maior entre as mais jovens (RP na faixa de 18 a 21 anos=1,25; IC95% 1,01-1,54 e RP de 22 a 25 anos=1,32; IC95% 1,06-1,64) em comparação à faixa de 26 anos ou mais, e entre as que consumiam álcool semanalmente/diariamente (RP= 1,29; IC95% 1,01-1,66). Entre os do sexo masculino, o ingresso na Universidade pelo sistema de cotas (RP=1,27; IC95% 1,01- 1,60) e ser da raça/cor preta/parda/indígena (RP=1,19; IC95% 1,01-1,39) associaramse à VP. Este estudo confirma que alguns estudantes são mais vulneráveis à violência, com destaque para a orientação sexual, em ambos os sexos, e condições socioeconômicas, no sexo masculino. Medidas de combate ao preconceito e discriminação precisam ser ampliadas no ambiente acadêmico a fim de reduzir a violência e suas consequências.