Percepção de distúrbios de voz relacionados ao trabalho em professores da rede estadual de ensino e fatores ocupacionais associados
Tese de doutorado
Visualizar PDFResumo
A profissão de professor é considerada de alto risco para a presença do distúrbio de voz. Além das características do vínculo de trabalho, como carga horária e quantidade de alunos por sala de aula, certas condições estruturais da escola, a exposição a cargas físicas e psíquicas e o risco de sofrer violência escolar são aspectos que merecem destaque na prevenção e no tratamento de problemas vocais. Objetivos: Analisar as relações entre fatores ocupacionais e condição vocal em professores da rede estadual de ensino de Londrina, Paraná. Para isso, consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar a associação entre fatores ocupacionais e percepção de distúrbio de voz em professores de escolas públicas estaduais 2) Analisar os fatores de risco ocupacionais para percepção de distúrbio de voz nesses professores. MÉTODOS: Para a estruturação da presente tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um estudo com metodologia, resultados e conclusões próprias. Esses objetivos foram explorados no âmbito do projeto de pesquisa Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), o qual permitiu a obtenção das informações necessárias analisadas nesta tese, além de outras investigações exploradas pela equipe do projeto. A coleta de dados do PRÓ-MESTRE deu-se em duas etapas. Para se alcançar o primeiro objetivo específico, realizou-se um estudo transversal (Estudo 1) com dados coletados na etapa denominada baseline, entre agosto de 2012 e junho de 2013, em entrevistas individuais de professores com atuação em sala de aula nos níveis fundamental e/ou médio das 20 maiores escolas Estaduais de Londrina. Para o segundo objetivo específico, um estudo de delineamento do tipo coorte (Estudo 2) foi realizado com base em dados do baseline e, ainda, de novos dados coletados no seguimento dos participantes após o período de 24 meses (2014-2015). Especificamente para essa análise, consideraram-se dados do seguimento apenas de participantes que continuavam exercendo a função de professor da educação básica em escolas públicas. O instrumento para a coleta de dados foi elaborado com base na literatura e previamente testado em estudo piloto e após ajustes, a versão definitiva foi constituída por um formulário para entrevista, cujas respostas eram anotadas pelo entrevistador, com questões majoritariamente objetivas referentes à percepção de frequência de problemas vocais, condições de trabalho, estilo de vida, saúde e violência escolar, entre outras variáveis. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi Info, versão 3.5.4 e analisados usando o programa SPSS, versão 19.0. A análise descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e de dispersão. Para a análise bivariada, no estudo 1, utilizou-se a razão de prevalência (RP) como medida de associação, e foi adotado nível de significância de 5%. Para as análises ajustadas, construíram-se modelos de regressão de Poisson. Já no estudo 2, para a análise bivariada, utilizou-se o odds ratio como medida de associação, e foi adotado nível de significância de 5% (Teste Qui-quadrado de Wald com apresentação do p-valor e do intervalo de confiança (IC) de 95%) e para as análises ajustadas, construíram-se modelos de regressão logística. Resultados: No Estudo 1, a percepção de problemas vocais frequentes foi de 25,7%. Análises ajustadas mostraram associação desses problemas com características do vínculo de trabalho (≥40 horas/semana, percepção ruim da remuneração e dos benefícios de saúde), características do ambiente de trabalho (quantidade de alunos por sala, exposição a pó de giz e microorganismos), aspectos psicológicos (menor realização profissional, baixa oportunidade de expressar opiniões, pior relacionamento com superiores e equilíbrio entre vida profissional e pessoal) e situações de violência (insultos e assédio moral). No Estudo 2, a manutenção/piora de percepção de distúrbios de voz frequentes (GPDVF) foi de 19,7% em 24 meses e tal condição associou-se ao sexo feminino, idade mais elevada, tempo de profissão maior que 12 anos, exposição ao pó de giz, não se sentir realizado profissionalmente e referir exposição a insultos e a violência física. Após análise ajustada por sexo e idade, associou-se ao GPDVF a não realização profissional e a exposição a insultos e violência física. Conclusão: O Estudo 1 permitiu concluir que a percepção de transtornos vocais frequentes afeta um em cada quatro professores da educação básica e está associada a diversas características da atividade docente, tanto estruturais como referentes ao processo de trabalho. No Estudo 2, concluiu-se que um de cada 5 professores mantiveram ou pioraram a percepção de distúrbio de voz relazionado ao trabalho em 24 meses de seguimento. Evidenciou-se, ainda, que a insatisfação profissional e a exposição a condições adversas do trabalho, como a violência, são fatores de risco para a manutenção ou piora da percepção de distúrbio de voz frequentes.