Prevalência de cárie dentária em crianças de 06 a 36 meses de idade e sua relação com variáveis sócioculturais, Florestópolis, PR.
Roseli Alves, Zuleika Thomson, Maria Celeste Morita
Data da defesa: 10/05/1999
O estudo, de delineamento transversal, foi desenvolvido em 359 crianças de 6 a 36 meses de idade, residentes na zona urbana do município de Florestópolis, Paraná, Brasil. Os dados foram coletados em visitas domiciliares a todos os residentes do município na faixa etária estudada. O diagnóstico de cárie foi realizado através de exame clínico, sob luz natural, por três examinadores previamente calibrados (k menor/igual ,096). As informações relativas às variáveis socioculturais (condições sócio econômicas, escolaridade do pai e da mãe, pessoa responsável pelos cuidados com a criança, situação da criança na prole, tipo de aleitamento, hábitos alimentares e métodos de prevenção da cárie dentária), foram obtidas através de questionário aplicado ao responsável pela criança, com o objetivo de analisar as relações com o aparecimento ou desenvolvimento da cárie dentária. A prevalência de cárie encontrada foi nula dos 6 aos 11 meses, de 26,2% para crianças de 12-23 meses de idade e 51,6% aos 24-36 meses. A doença demonstrou uma tendência de aumento com o evoluir da idade. A pesquisa mostrou associação positiva estatisticamente significante para a escolaridade do pai (p=0,005) e da mãe (p=0,014) na faixa etária de 12 a 23 meses de idade, e uma associação negativa, (p=0,038), da relação higiene bucal/cárie dentária na mesma faixa etária. As demais variáveis não apresentaram diferenças estatisticamente significativas. O estudo evidencia a necessidade de atenção odontológica precoce para prevenção de doenças bucais e a importância de que o estímulo ao aleitamento materno exclusivo seja intensificado na comunidade estudada.
Fluorose dentária em criança nascidas entre 1986 E 1989, usuárias da rede de unidades básicas de saúde de Londrina: frequência, severidade e fatores associados
Cristiane de Andrade Janene Gonini, Maria Celeste Morita
Data da defesa: 10/06/1999
A fluorose dentária é uma alteração do esmalte causada pela ingestão de flúor durante o desenvolvimento dentário. Estudos de diversos países têm mostrado que a prevalência desta alteração vem aumentando em regiões fluoradas e em não fluoradas, devido a uma maior exposição a variadas fontes de flúor disponíveis atualmente. O presente estudo teve por objetivo estabelecer a freqüência e severidade de fluorose dentária e investigar a associação com exposição a fontes de flúor, nos primeiros seis anos de vida, das crianças atendidas em clínicas odontológicas da rede de Unidades Básicas de Saúde do Município de Londrina. Sortearam-se cinco Unidades Básicas de Saúde da zona urbana da cidade e examinaram-se 434 crianças, nascidas entre 1986 e 1989. O diagnóstico e classificação da fluorose dentária foram feitos utilizando-se o Índice de THYLSTRUP E FEJERSKOV (TF), através de exames clínicos realizados nas clínicas odontológicas, por cinco cirurgiões dentistas previamente treinados. Os exames bucais foram realizados com o paciente deitado na cadeira odontológica, utilizando-se iluminação artificial, tendo-se procedido profilaxia, isolamento relatico, e secagem, por um minuto, dos dentes. Examinaram-se somente dentes permanentes com pelo menos 2/3 da coroa erupcionada. Dez por cento da amostra foi reexaminada, tendo-se obtido uma concordância quase perfeita nos critérios de diagnóstico, tanto intra-examinador (K=1,00,p<0,0001) como inter-examinadores (k=1,00, p<0,0001). A história de exposição a fontes de flúor (água fluorada, suplementos de flúor, dentifrícios fluorados, dieta) e fatores modificadores desta exposição (renda, escolaridade, atenção odontológica), foi obtida junto às mães ou responsáveis pelas crianças, através de entrevistas estruturadas realizadas por Técnicos em Higiene Dentária ou Auxiliares de Odontologia, previamente capacitados. Reentrevistaram-se 48 mães e a confiabilidade das respostas foi 90%. A freqüência de fluorose dentária verificada entre as crianças foi de 91,0%, com 48,7% dos dentes examinados classificados como TF grau 1,11,4% como TF grau 2, 1,9% como TF grau 3 e 0,4% como TF grau 4 a 5. O estudo não constatou associação estatisticamente significativa entre o uso de suplementos de flúor e a fluorose dentária, porém mostrou que 54 crianças (12,4% da amostra) haviam consumido este produto em algum momento dos seis primeiros anos de vida e que a maioria delas já estava exposta à água fluorada. Não se observou associação estatisticamente significativa entre a fluorose dentária e a idade de início da atenção odontológica e também entre a utilização de dentifrícios e a patologia estudada. A alta freqüência encontrada, embora a severidade tenha sido baixa, aponta para a necessidade de monitoramento períodico da fluorose dentária no Município de Londrina, de implementação de medidas que previnam a sobre-utilização do flúor tanto pelos profissionais quanto pela população, de vigilância sanitária dos teores de flúor na água de consumo público e de realização de mais estudos para a melhor compreensão dos fatores associados à fluorose dentária nas crianças londrinenses.
Mortalidade infantil geral e específica por broncoaspiração em Curitiba, PR, no período de 1994-97: fatores de risco
Irene Okabe, Darli Antönio Soares
Data da defesa: 07/07/1999
O estudo tem como objetivo descrever e determinar os fatores de risco associados a mortalidade infantil que tem como causa básica a aspiração de alimentos que provoquem obstrução do trato respiratório ou sufocação, considerada como a broncoaspiração. Os fatores de risco investigados foram algumas variáveis contidas na Declaração de Nascidos Vivos relacionadas às características do recém nascido, da gestação, do parto e da mãe. A associaçãodos fatores de risco com o desfecho foi analisada por meio do estudo tipo caso-controle; a primeira etapaconsistiu em cálculo da razão de chance e seus limites de confiançca. O baixo pesoao nascer, gestação pré-termo, idade materna abaixo de 20 anos e baixa instruçãomaterna mostraram-se associadas à variável dependente. Na segunda etapa foi feitoo ajuste pelo modelo de regressão logística e somente três variáveis permaneceram estasticamente associadas com a mortalidade infantil por broncoaspiração: baixopeso ao nascer, mães adolescentes e baixo nível de escolaridade materna. Foi também utilizado o método de análise fatorial de correspondências múltiplas para determinar o perfil das criançcas que morreram por broncoaspiração, sengod as características apresentadas ao nascer. Nascidos de gestação acima de 36 semanas com peso superior a 2.499 gramas, índice de Apgar no primeiro e quinto minuto acima de 7 e filhos de mães com baixo nível de escolaridade são as características dos recém-nascidos acometidos pela morte por broncoaspiração. Conclui-se que a mortalidade por broncoaspiração em menores de um ano está fortemente associada às condições sociais da família, em particular da mãe.
Perfil de utilização de medicamentos por lactantes do município de Londrina: Contribuição ao estudo de utilização de medicamentos
Ester Massae Okamoto Dalla Costa, Marcelo de Souza Tavares
Data da defesa: 20/09/1999
Descreve-se neste estudo, o perfil da utilização de medicamentos durante a lactação, nos 4 meses subseqüentes ao parto, à partir da coleta de dados de prontuários e entrevistas domiciliárias. Fizeram parte do estudo, 279 lactantes residentes no Município de Londrina - Pr, que tiveram o parto realizado em um dos seis hospitais do Município, com atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), particulares e de convênios privados, e em diferentes níveis de complexidade, no período de junho a agosto de 1.998. Os medicamentos foram identificados e classificados quanto ao risco de utilização durante a lactação, de acordo com a publicação "Amamentação e Medicação Materna - Recomendações sobre Drogas da 8ª Lista Básica de Medicamentos da Organização Mundial da Saúde" (AMM/OMS) e o "Farmacevtiska Specialiteter i Sverige" (FASS), conhecido como Catálogo Sueco de Especialidades Farmacêuticas. Verificou-se que em média, a utilização de medicamentos foi mais freqüente naquelas que tiveram o parto cesárea, do que nas que tiveram parto normal. Os medicamentos mais utilizados no período de internação após o parto até a alta, foram: Diclofenaco (18,3%), Metilergometrina (15,9%), Sulfato ferroso (8,2%), Simeticona (6,1%) e a Dipirona (5,0%). Na alta, os medicamentos mais prescritos foram: Diclofenaco (38,3%), Sulfato ferroso (22,7%), Metilergometrina (11,3%) e a Cefalexina (10,4%). Nas consultas de retorno, os mais prescritos foram os contraceptivos orais: a Noretisterona (38,3%) e a associação de Levonorgestrel e Etinilestradiol (9,7%). Nos 4 meses subseqüentes ao parto, os medicamentos mais utilizados foram: Dipirona (20,3%), Paracetamol (13,5%) e a Noretisterona (3,8%). Do total de medicamentos utilizados, segundo a classificação da AMM/OMS, 20,9% foram considerados compatíveis com a amamentação, 16,4% compatíveis com ressalvas, 7,7% deveriam ser evitados, se possível, 0,8% referidos como sem dados disponíveis e 54,3% não constavam da lista. De acordo com o FASS, 7,8% pertenciam à Classe I, 32,9% Classe II, 10,7% Classe III, 13,4% Classe IV e 35,4% não constavam da lista. Com relação ao número de princípios ativos, em média, 73% dos medicamentos eram monodrogas e 37% associações de 2 a 22 princípios ativos. As associações foram mais freqüentes nos medicamentos utilizados após alta. Entre as monodrogas, 55,3% constavam da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME). Em síntese, pode-se dizer que embora sejam conhecidas as contra-indicações, cerca de 10% dos medicamentos utilizados pertenciam à Classe III ou deveriam ter sido evitados, se possível e, o mais preocupante, cerca de 50% não constavam das listas, não existindo ou sendo ainda insuficientes os estudos realizados. Isto evidencia a necessidade de se difundir a informação sobre os riscos da utilização de medicamentos durante a lactação, e a necessidade de realização de estudos farmacocinéticos e de farmacovigilância, principalmente daqueles mais utilizados e para os quais, não existem estudos suficientes.
Sistemas de incentivo como instrumentos de gestão do trabalho em saúde.
Maria Christina Fekette, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 27/09/1999
A implantação do Sistema Único de Saúde - SUS, aprovada pela Constituição Federal de 1988, representou uma inovação política cuja característica central é a descentralização. A expressão concreta, dada por essa dimensão política, situa-se no âmbito das relações que se estabelecem entre as três esferas de governo e as instâncias de participação popular que participam do processo de produção e consumo dos serviços de saúde. A descentralização implicou na redistribuição do poder e na transferência para os municípios da responsabilidade pela gestão do sistema municipal de saúde, numa inflexão nas normas e práticas até então vigentes. Esta tese trata das repercussões da reforma do sistema de saúde sobre as políticas de recursos humanos, focalizando a adoção de novas práticas de gestão do trabalho, com ênfase no estudo dos sistemas de incentivo. O ponto de partida foi a análise acerca das principais características da gestão pública de recursos humanos em saúde no Brasil. Em seguida foram identificadas algumas modalidades de programas de avaliação de desempenho, vinculados à sistemas de incentivo financeiro, implantados no país nos anos 90. O enfoque do estudo centrou-se na análise do Programa de Incentivo ao Desempenho - PRÓ/SUS, elaborado e implementado pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte em 1996. A opção metodológica foi a investigação qualitativa de estudo de caso. Foram realizadas observações diretas, coleta de documentos e entrevistas com técnicos, dirigentes e representantes dos trabalhadores, enquanto atores privilegiados das políticas e do processo de gestão de recursos humanos. Na descrição do caso foram considerados aspectos relativos ao contexto político institucional, à concepção teórico-metodológica e ao processo de implantação propriamente dito. Para a análise foi feito um recorte em torno de três categorias: regulação do trabalho, concepção de gestão e processo de trabalho em saúde. O estudo possibilitou a verificação das contribuições do PRÓ/SUS na reorganização do processo de trabalho, na flexibilização da gestão e na motivação dos trabalhadores. Permitiu, ainda, a identificação das possibilidades e limitações de sua utilização como instrumento de regulação do trabalho em saúde.
A prática de enfermagem em saúde coletiva e o modelo assistencial.
Josiane Vivian Camargo de Lima, Maria José Scochi
Data da defesa: 18/02/2000
O Sistema Único de Saúde é um processo em construção e, para se efetivar e alcançar os princípios estabelecidos pela Constituição Brasileira e Leis Orgânicas Estaduais e Municipais, precisa vencer muitos desafios. Para sua consolidação, apesar dos avanços conseguidos no âmbito jurídico-legal, faz-se necessário buscar a solução de seus problemas no que se refere ao financiamento, organização, gestão e infra-estrutura Além disso, é preciso transformar as práticas de saúde instituídas de forma coerente com os princípios do SUS. Compreender o exercício da enfermagem em saúde coletiva enquanto uma pratica articulada às demais práticas de saúde, constitui importante contribuição na construção desse processo. Neste estudo, pretendeu-se identificar e analisar a prática de enfermagem em saúde coletiva na rede de UBS em Londrina e, mais especificamente, descrever e analisar as atividades relevantes desenvolvidas nas UBS, segundo a percepção dos trabalhadores de enfermagem; identificar a freqüência e tipo de atividade desenvolvida nas UBS e, ainda, analisar a percepção dos trabalhadores de enfermagem quanto ao modelo de atenção à saúde, instrumentos e finalidade do trabalho nas unidades pesquisadas. O referencial metodológico e os instrumentos de pesquisa utilizados são provenientes do projeto de Classificação das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva -CIPESC - Brasil. Para identificar o tipo de atividade e sua freqüência, utilizou-se um formulário (check list), ao qual foi acrescentada uma questão aberta, com a finalidade de conhecer a percepção dos trabalhadores quanto ao objetivo da UBS. Para saber como esses profissionais entendem o modelo de atenção à saúde, instrumentos e finalidade do trabalho, escolheu-se a técnica do grupo focal. Para a análise dos dados, utilizou-se a categorização e o cálculo de freqüência simples para os dados quantitativos, e a análise de conteúdo, mais especificamente, a análise temática para os dados do grupo focal. Os resultados encontrados revelam que o fazer dos trabalhadores de enfermagem é norteado pelas concepções de vínculo e responsabilidade com a clientela, trabalho em equipe e participação da população nas questões que dizem respeito à saúde. As atividades realizadas com maior freqüência pelos auxiliares de enfermagem são as voltadas para a atenção individual e, no caso das enfermeiras, além dessas, as de organização do processo de trabalho na UBS. As atividades em saúde coletiva são consideradas mais relevantes pelos trabalhadores de enfermagem. Os resultados relevam, ainda, que existe uma organização tecnológica do trabalho que busca intervir positivamente na situação de saúde da população.
Internações hospitalares em Londrina – 1990-1998
Brígida Gimenez Carvalho, Darlí Antonio Soares
Data da defesa: 29/02/2000
A atenção hospitalar é tema de grande relevância em estudo sobre o Sistema de Saúde. Com objetivo de analisar a assistência hospitalar pública e privada prestada no município de Londrina, foram estudadas 516.463 internações hospitalares ocorridas no período de 1990 a 1998. As internações foram classificadas, de acordo com a categoria de financiamento em: particulares, de planos de saúde e do Sistema Único de Saúde, e agrupadas as internações de residentes e não residentes em Londrina. Observou-se no período, crescimento contínuo do número de hospitalizações, passando de 48.590 para 69.321 internações ao ano. Para as internações gerais, verificou-se que as particulares apresentaram redução tanto do número absoluto quanto da participação percentual no total das internações (2.540 e 5,5% para 2.178 e 3,3%); as internações do SUS apresentaram aumento em números absolutos, porém decresceram na participação percentual (37.319 e 81,1% para 41.788 e 63,3%) e as internações de planos de saúde apresentaram aumento tanto do número absoluto como da participação percentual ( 6.155 e 13,4% para 22.005 e 33,7%). No custeio da assistência psiquiátrica, o SUS manteve-se como grande financiador, respondendo durante todo o período por aproximadamente 88% das internações. Para a população de Londrina, observou-se aumento do coeficiente de internação e redução do índice de leitos, tanto gerais quanto psiquiátricos. A taxa de ocupação dos leitos, o tempo de permanência das internações, o índice de renovação dos leitos e a taxa de mortalidade hospitalar foram estudados para o ano de 1998, e não se afastaram dos parâmetros nacionais e estaduais vigentes. Ressalta-se porém, que o valor médio para o município é resultado de valores muito discrepantes para cada tipo de assistência, e muitas vezes esconde problemas diversos. Verificou-se um significativo aumento das internações por planos de saúde nos hospitais privados e filantrópicos do município, e um concomitante decréscimo das internações pelo SUS nesses hospitais, resultado da política de financiamento que desestimula os prestadores privados a atenderem pacientes SUS. Estudos realizados em outras localidades constataram esta mesma tendência, demonstrando que este é o panorama que vem consolidando na assistência hospitalar no Brasil na última década.
Acidentes de Motocicleta em Londrina: Estudo das Vítimas, dos Acidentes e da Utilização de Capacete.
Christiane Lopes Barrancos Liberatti, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 31/03/2000
Os ocupantes de motocicleta constituem-se, desde 1996, no principal tipo de vítima fatal por acidente de trânsito no Município de Londrina. Dessa forma, estudos que avaliem as características dessas vítimas, de seus acidentes e da utilização de equipamentos de segurança, como o capacete, são fundamentais para fornecer indicações para medidas que visem à redução da morbi-mortalidade desses usuários da via pública. Este estudo foi dividido em duas partes. Na primeira, trabalhou-se de forma descritiva com o total (1576) de ocupantes de veículo a motor de duas rodas, vítimas de acidentes de trânsito, atendidas pelo Serviço de Atendimento ao Trauma e às Emergências (SIATE) do Município de Londrina, no ano de 1998. Para essa população foi realizada uma análise do perfil epidemiológico, baseado em algumas características dos acidentes e das vítimas. Na segunda etapa foi realizado um estudo comparativo das vítimas que usavam ou não o capacete no momento do acidente. Essa etapa compreendeu análises univariadas e multivariada, em relação às características das vítimas e dos acidentes, com o objetivo de identificar possíveis variáveis associadas com a não utilização deste equipamento. Além disso, foram observados alguns desfechos (como tipo de lesão e evolução da vítima) de acordo com o uso deste dispositivo. Os resultados evidenciaram que os tipos de acidentes mais freqüentes, entre os ocupantes de motocicleta, foram as colisões com carro/caminhonete (56,6%) e que estes ocorreram predominantemente no horário das 18 às 24 horas (39,6%) e nos finais de semana. Quanto à região de ocorrência do acidente, a Centro foi a que apresentou maior proporção de vítimas traumatizadas, principalmente durante os dias úteis. O número médio de vítima/dia foi crescente nos trimestres do ano, variando de 3,3 vítimas/dia no primeiro até 5,2 vítimas/dia no quarto trimestre. O menor número de vítimas foi registrado no mês de fevereiro, reflexo provavelmente do novo Código de Trânsito, implantado em 22 de janeiro de 1998. A análise das vítimas constatou que grande parte era jovem (média de idade igual a 26,5 anos), do sexo masculino (78,4%) e condutores da motocicleta (77,0%), com elevada proporção de menores de 18 anos (11,6%), sendo que, destes últimos, 45,1% (83) conduziam o veículo no momento do acidente. Em 13,9% das vítimas foi constatada presença de hálito etílico no momento do atendimento, principalmente nas madrugadas do final de semana. Os tipos de traumatismos predominantes foram as lesões superficiais (66,4%), ferimentos (15,7%) e fraturas (11,7%) e, quanto à região lesada, os membros inferiores (34,11%), membros superiores (31,24%) e cabeça (20,14%). Das vítimas traumatizadas, 2,9% morreram e 85,3% necessitaram de encaminhamento para atendimento hospitalar/pronto-socorro. A comparação entre as vítimas fatais e sobreviventes, mostrou diferenças em relação a alguns fatores relacionados às vítimas e aos acidentes, apesar do número reduzido de mortes. Nas análises univariadas, observou-se a associação significativa do não uso do capacete com o sexo feminino, faixa etária menor de 18 anos, posição de passageiro, percepção de hálito etílico, com acidentes ocorridos nas horas da noite, finais de semana e nas outras regiões que não a Centro. Para os que não usavam o capacete foi verificada maior probabilidade (cerca de 3 vezes) de apresentar lesões na cabeça em comparação aos que usavam o equipamento. Maior probabilidade de óbito (3,3 vezes) também foi verificada entre os que não utilizavam capacete no momento do acidente. Para a análise multivariada, os fatores mais fortemente associados com a não utilização de capacete foram a idade (vítimas menores de 18 anos) e presença de hálito etílico (“odds ratios” de 6,60 e 3,83 respectivamente). As demais características independentemente associadas com a não utilização desse equipamento de segurança foram, em ordem de força dessa associação: ocorrência do acidente no final de semana (sábado e domingo), ocorrência do acidente fora da região Centro, acidente ocorrido no horário noturno (entre 18 e 6 horas) e a posição no veículo como passageiro. Os resultados apresentados apontam algumas características específicas dos motociclistas traumatizados acidentes de trânsito, bem como variáveis associadas a não utilização do capacete, o que pode servir para subsidiar ações apropriadas de prevenção tanto de acidentes, como de fatores que aumentam o risco de lesões secundárias ao acidente.
Interação com os Serviços e com a Comunidade durante a formação médica: o que pensam os professores?
Bárbara Turini, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 20/04/2000
Este estudo analisa o conhecimento e a opinião dos docentes do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) sobre os módulos de Práticas Interdisciplinares de Interação entre Ensino, Serviços de Saúde e Comunidades (módulos PIN), implantados no novo curso de medicina da UEL em 1998. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário encaminhado aos docentes e de entrevistas semi-estruturadas com docentes que ocupam cargos no CCS ou exercem liderança no processo de implantação do novo currículo. Os resultados demonstram, entre outros aspectos, que: a) pouco mais da metade dos docentes participantes da pesquisa haviam se envolvido, até setembro de 1999, com atividades do novo currículo; b) há docentes, inclusive entre os que ocupam cargos de direção, que questionam a validade e a eficácia dos novos métodos pedagógicos; c) o conhecimento dos módulos PIN no novo currículo do curso de medicina e a aceitação de seus propósitos são bastante heterogêneos entre os docentes pesquisados; d) embora grande parte dos docentes afirme considerar as atividades práticas em serviços de saúde e junto às comunidades como fundamentais para a formação do profissional médico, muitos consideram a sua execução inviável; e) apenas uma minoria dos professores médicos dispõe-se a atuar como instrutores nos módulos PIN, e estes, ainda, manifestam a sua preferência por fazê-lo sem necessidade de “ir a campo”. O estudo conclui que os docentes podem ser categorizados em defensores, apoiadores, opositores e indiferentes aos módulos PIN e discute a dificuldade que cerca metade dos docentes apresentou para emitir opinião sobre o assunto. Propõe a adoção de medidas especialmente adaptadas aos interesses dos docentes da área clínica, relacionadas à humanização da atenção e à revisão das práticas não só de ensino, mas também de assistência. Considera que só assim a mudança curricular não se manterá apenas no plano fenomênico mas também poderá chegar a planos mais profundos, alcançando inclusive as relações sociais e políticas dos atores institucionais e sujeitos sociais envolvidos.
Experiências vivenciadas pelos familiares de crianças que se intoxicaram no município de Maringá-PR.
Éllen Cristina Santana Aleixo, Ana Maria Itinose
Data da defesa: 15/05/2000
Este é um estudo exploratório descritivo e tem o objetivo de apreender aspectos da experiência vivenciada pelos familiares por ocasião da intoxicação por medicamentos, agrotóxicos de uso doméstico e domissanitários. em crianças de 0 a 6 anos completos, residentes em Maringá. Foi realizado a partir do registro de intoxicações notificadas no Centro de Controle de Intoxicações (CCI-Maringá) localizado no Hospital Universitário Regional de Maringá durante o período de outubro a dezembro de 1999. Foram entrevistadas 13 famílias. Utilizamos para a coleta dos dados as fichas de Ocorrências Toxicológicas (OT), e um formulário elaborado pela pesquisadora para a entrevista domiciliar. Após a coleta os dados foram transcritos e categorizados. Identificamos uma categoria central “experiência de intoxicação do meu filho” a qual foi subdividida em quatro eixos temáticos para facilitar a discussão e análise: conhecendo as famílias e aspectos de suas experiências; a experiência dos familiares durante a ocorrência do episódio da intoxicação; atendimento oferecido pelos serviços de saúde; e mudanças de comportamentos em relação aos hábitos, atitudes dos familiares e de alterações voltados ao armazenamento e aquisição dos produtos tóxicos em suas residências. Este estudo demonstrou, que mesmo com os avanços científicos e tecnológicos hoje existentes, as famílias continuam a ter um papel de suma importância para os membros que delas fazem parte, ressaltando também a importância do cuidado feminino na prestação do cuidado no momento que algum membro adoece. A exploração do primeiro eixo temático permiti-nos conhecer informações relevantes sobre as características das famílias entrevistadas e nos possibilitou uma contextualização de suas realidade e compreensão de suas atitudes além do estabelecimento de uma interação efetiva. No segundo eixo tivemos a oportunidade de conhecer aspectos da experiência dos familiares quanto –a identificação da intoxicação, aos cuidados prestados na residência e após a alta dos serviços de saúde, os sentimentos experenciados e a compreensão da causa do acidente. Constatamos à necessidade de trabalhar com a prevenção de intoxicações, pois vários pais sentem dificuldade em agir perante estas ocorrências, e nem sempre conseguem reconhecer situações facilitadoras de acidentes. No terceiro eixo abordarmos questões relacionadas ao atendimento nos serviços de saúde, - a maioria dos familiares revelaram aspectos positivos do atendimento prestado. Quanto aos aspectos que mais os marcou durante o atendimento prestado alguns ressaltaram o fato de serem bem atendidos pelos profissionais; outros destacaram o sofrimento de seu filho, suas preocupações em relação à criança e seu estado emocional. No quarto eixo os familiares relataram que as atitudes foram modificadas, mesmo que discretamente, seja em relação ao armazenamento ou aquisição de produtos tóxicos ou em relação ao diálogo, supervisão e vigilância das crianças. Além disso eles reconheceram a necessidade de mudança de comportamento e terão que trabalhar para que eles próprios consigam realizá-las, com base na experiência que vivenciaram. Acreditamos que este trabalho contribuirá para uma atuação mais efetiva dos profissionais junto a famílias de indivíduos que se intoxicam, especificamente as crianças, pois é um dos poucos estudos sobre intoxicação voltado para a assistência a partir das perspectivas das pessoas envolvidas.