Sistemas de incentivo como instrumentos de gestão do trabalho em saúde.
Maria Christina Fekette, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 27/09/1999
A implantação do Sistema Único de Saúde - SUS, aprovada pela Constituição Federal de 1988, representou uma inovação política cuja característica central é a descentralização. A expressão concreta, dada por essa dimensão política, situa-se no âmbito das relações que se estabelecem entre as três esferas de governo e as instâncias de participação popular que participam do processo de produção e consumo dos serviços de saúde. A descentralização implicou na redistribuição do poder e na transferência para os municípios da responsabilidade pela gestão do sistema municipal de saúde, numa inflexão nas normas e práticas até então vigentes. Esta tese trata das repercussões da reforma do sistema de saúde sobre as políticas de recursos humanos, focalizando a adoção de novas práticas de gestão do trabalho, com ênfase no estudo dos sistemas de incentivo. O ponto de partida foi a análise acerca das principais características da gestão pública de recursos humanos em saúde no Brasil. Em seguida foram identificadas algumas modalidades de programas de avaliação de desempenho, vinculados à sistemas de incentivo financeiro, implantados no país nos anos 90. O enfoque do estudo centrou-se na análise do Programa de Incentivo ao Desempenho - PRÓ/SUS, elaborado e implementado pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte em 1996. A opção metodológica foi a investigação qualitativa de estudo de caso. Foram realizadas observações diretas, coleta de documentos e entrevistas com técnicos, dirigentes e representantes dos trabalhadores, enquanto atores privilegiados das políticas e do processo de gestão de recursos humanos. Na descrição do caso foram considerados aspectos relativos ao contexto político institucional, à concepção teórico-metodológica e ao processo de implantação propriamente dito. Para a análise foi feito um recorte em torno de três categorias: regulação do trabalho, concepção de gestão e processo de trabalho em saúde. O estudo possibilitou a verificação das contribuições do PRÓ/SUS na reorganização do processo de trabalho, na flexibilização da gestão e na motivação dos trabalhadores. Permitiu, ainda, a identificação das possibilidades e limitações de sua utilização como instrumento de regulação do trabalho em saúde.
A prática de enfermagem em saúde coletiva e o modelo assistencial.
Josiane Vivian Camargo de Lima, Maria José Scochi
Data da defesa: 18/02/2000
O Sistema Único de Saúde é um processo em construção e, para se efetivar e alcançar os princípios estabelecidos pela Constituição Brasileira e Leis Orgânicas Estaduais e Municipais, precisa vencer muitos desafios. Para sua consolidação, apesar dos avanços conseguidos no âmbito jurídico-legal, faz-se necessário buscar a solução de seus problemas no que se refere ao financiamento, organização, gestão e infra-estrutura Além disso, é preciso transformar as práticas de saúde instituídas de forma coerente com os princípios do SUS. Compreender o exercício da enfermagem em saúde coletiva enquanto uma pratica articulada às demais práticas de saúde, constitui importante contribuição na construção desse processo. Neste estudo, pretendeu-se identificar e analisar a prática de enfermagem em saúde coletiva na rede de UBS em Londrina e, mais especificamente, descrever e analisar as atividades relevantes desenvolvidas nas UBS, segundo a percepção dos trabalhadores de enfermagem; identificar a freqüência e tipo de atividade desenvolvida nas UBS e, ainda, analisar a percepção dos trabalhadores de enfermagem quanto ao modelo de atenção à saúde, instrumentos e finalidade do trabalho nas unidades pesquisadas. O referencial metodológico e os instrumentos de pesquisa utilizados são provenientes do projeto de Classificação das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva -CIPESC - Brasil. Para identificar o tipo de atividade e sua freqüência, utilizou-se um formulário (check list), ao qual foi acrescentada uma questão aberta, com a finalidade de conhecer a percepção dos trabalhadores quanto ao objetivo da UBS. Para saber como esses profissionais entendem o modelo de atenção à saúde, instrumentos e finalidade do trabalho, escolheu-se a técnica do grupo focal. Para a análise dos dados, utilizou-se a categorização e o cálculo de freqüência simples para os dados quantitativos, e a análise de conteúdo, mais especificamente, a análise temática para os dados do grupo focal. Os resultados encontrados revelam que o fazer dos trabalhadores de enfermagem é norteado pelas concepções de vínculo e responsabilidade com a clientela, trabalho em equipe e participação da população nas questões que dizem respeito à saúde. As atividades realizadas com maior freqüência pelos auxiliares de enfermagem são as voltadas para a atenção individual e, no caso das enfermeiras, além dessas, as de organização do processo de trabalho na UBS. As atividades em saúde coletiva são consideradas mais relevantes pelos trabalhadores de enfermagem. Os resultados relevam, ainda, que existe uma organização tecnológica do trabalho que busca intervir positivamente na situação de saúde da população.
Internações hospitalares em Londrina – 1990-1998
Brígida Gimenez Carvalho, Darlí Antonio Soares
Data da defesa: 29/02/2000
A atenção hospitalar é tema de grande relevância em estudo sobre o Sistema de Saúde. Com objetivo de analisar a assistência hospitalar pública e privada prestada no município de Londrina, foram estudadas 516.463 internações hospitalares ocorridas no período de 1990 a 1998. As internações foram classificadas, de acordo com a categoria de financiamento em: particulares, de planos de saúde e do Sistema Único de Saúde, e agrupadas as internações de residentes e não residentes em Londrina. Observou-se no período, crescimento contínuo do número de hospitalizações, passando de 48.590 para 69.321 internações ao ano. Para as internações gerais, verificou-se que as particulares apresentaram redução tanto do número absoluto quanto da participação percentual no total das internações (2.540 e 5,5% para 2.178 e 3,3%); as internações do SUS apresentaram aumento em números absolutos, porém decresceram na participação percentual (37.319 e 81,1% para 41.788 e 63,3%) e as internações de planos de saúde apresentaram aumento tanto do número absoluto como da participação percentual ( 6.155 e 13,4% para 22.005 e 33,7%). No custeio da assistência psiquiátrica, o SUS manteve-se como grande financiador, respondendo durante todo o período por aproximadamente 88% das internações. Para a população de Londrina, observou-se aumento do coeficiente de internação e redução do índice de leitos, tanto gerais quanto psiquiátricos. A taxa de ocupação dos leitos, o tempo de permanência das internações, o índice de renovação dos leitos e a taxa de mortalidade hospitalar foram estudados para o ano de 1998, e não se afastaram dos parâmetros nacionais e estaduais vigentes. Ressalta-se porém, que o valor médio para o município é resultado de valores muito discrepantes para cada tipo de assistência, e muitas vezes esconde problemas diversos. Verificou-se um significativo aumento das internações por planos de saúde nos hospitais privados e filantrópicos do município, e um concomitante decréscimo das internações pelo SUS nesses hospitais, resultado da política de financiamento que desestimula os prestadores privados a atenderem pacientes SUS. Estudos realizados em outras localidades constataram esta mesma tendência, demonstrando que este é o panorama que vem consolidando na assistência hospitalar no Brasil na última década.
Acidentes de Motocicleta em Londrina: Estudo das Vítimas, dos Acidentes e da Utilização de Capacete.
Christiane Lopes Barrancos Liberatti, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 31/03/2000
Os ocupantes de motocicleta constituem-se, desde 1996, no principal tipo de vítima fatal por acidente de trânsito no Município de Londrina. Dessa forma, estudos que avaliem as características dessas vítimas, de seus acidentes e da utilização de equipamentos de segurança, como o capacete, são fundamentais para fornecer indicações para medidas que visem à redução da morbi-mortalidade desses usuários da via pública. Este estudo foi dividido em duas partes. Na primeira, trabalhou-se de forma descritiva com o total (1576) de ocupantes de veículo a motor de duas rodas, vítimas de acidentes de trânsito, atendidas pelo Serviço de Atendimento ao Trauma e às Emergências (SIATE) do Município de Londrina, no ano de 1998. Para essa população foi realizada uma análise do perfil epidemiológico, baseado em algumas características dos acidentes e das vítimas. Na segunda etapa foi realizado um estudo comparativo das vítimas que usavam ou não o capacete no momento do acidente. Essa etapa compreendeu análises univariadas e multivariada, em relação às características das vítimas e dos acidentes, com o objetivo de identificar possíveis variáveis associadas com a não utilização deste equipamento. Além disso, foram observados alguns desfechos (como tipo de lesão e evolução da vítima) de acordo com o uso deste dispositivo. Os resultados evidenciaram que os tipos de acidentes mais freqüentes, entre os ocupantes de motocicleta, foram as colisões com carro/caminhonete (56,6%) e que estes ocorreram predominantemente no horário das 18 às 24 horas (39,6%) e nos finais de semana. Quanto à região de ocorrência do acidente, a Centro foi a que apresentou maior proporção de vítimas traumatizadas, principalmente durante os dias úteis. O número médio de vítima/dia foi crescente nos trimestres do ano, variando de 3,3 vítimas/dia no primeiro até 5,2 vítimas/dia no quarto trimestre. O menor número de vítimas foi registrado no mês de fevereiro, reflexo provavelmente do novo Código de Trânsito, implantado em 22 de janeiro de 1998. A análise das vítimas constatou que grande parte era jovem (média de idade igual a 26,5 anos), do sexo masculino (78,4%) e condutores da motocicleta (77,0%), com elevada proporção de menores de 18 anos (11,6%), sendo que, destes últimos, 45,1% (83) conduziam o veículo no momento do acidente. Em 13,9% das vítimas foi constatada presença de hálito etílico no momento do atendimento, principalmente nas madrugadas do final de semana. Os tipos de traumatismos predominantes foram as lesões superficiais (66,4%), ferimentos (15,7%) e fraturas (11,7%) e, quanto à região lesada, os membros inferiores (34,11%), membros superiores (31,24%) e cabeça (20,14%). Das vítimas traumatizadas, 2,9% morreram e 85,3% necessitaram de encaminhamento para atendimento hospitalar/pronto-socorro. A comparação entre as vítimas fatais e sobreviventes, mostrou diferenças em relação a alguns fatores relacionados às vítimas e aos acidentes, apesar do número reduzido de mortes. Nas análises univariadas, observou-se a associação significativa do não uso do capacete com o sexo feminino, faixa etária menor de 18 anos, posição de passageiro, percepção de hálito etílico, com acidentes ocorridos nas horas da noite, finais de semana e nas outras regiões que não a Centro. Para os que não usavam o capacete foi verificada maior probabilidade (cerca de 3 vezes) de apresentar lesões na cabeça em comparação aos que usavam o equipamento. Maior probabilidade de óbito (3,3 vezes) também foi verificada entre os que não utilizavam capacete no momento do acidente. Para a análise multivariada, os fatores mais fortemente associados com a não utilização de capacete foram a idade (vítimas menores de 18 anos) e presença de hálito etílico (“odds ratios” de 6,60 e 3,83 respectivamente). As demais características independentemente associadas com a não utilização desse equipamento de segurança foram, em ordem de força dessa associação: ocorrência do acidente no final de semana (sábado e domingo), ocorrência do acidente fora da região Centro, acidente ocorrido no horário noturno (entre 18 e 6 horas) e a posição no veículo como passageiro. Os resultados apresentados apontam algumas características específicas dos motociclistas traumatizados acidentes de trânsito, bem como variáveis associadas a não utilização do capacete, o que pode servir para subsidiar ações apropriadas de prevenção tanto de acidentes, como de fatores que aumentam o risco de lesões secundárias ao acidente.
Interação com os Serviços e com a Comunidade durante a formação médica: o que pensam os professores?
Bárbara Turini, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 20/04/2000
Este estudo analisa o conhecimento e a opinião dos docentes do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) sobre os módulos de Práticas Interdisciplinares de Interação entre Ensino, Serviços de Saúde e Comunidades (módulos PIN), implantados no novo curso de medicina da UEL em 1998. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário encaminhado aos docentes e de entrevistas semi-estruturadas com docentes que ocupam cargos no CCS ou exercem liderança no processo de implantação do novo currículo. Os resultados demonstram, entre outros aspectos, que: a) pouco mais da metade dos docentes participantes da pesquisa haviam se envolvido, até setembro de 1999, com atividades do novo currículo; b) há docentes, inclusive entre os que ocupam cargos de direção, que questionam a validade e a eficácia dos novos métodos pedagógicos; c) o conhecimento dos módulos PIN no novo currículo do curso de medicina e a aceitação de seus propósitos são bastante heterogêneos entre os docentes pesquisados; d) embora grande parte dos docentes afirme considerar as atividades práticas em serviços de saúde e junto às comunidades como fundamentais para a formação do profissional médico, muitos consideram a sua execução inviável; e) apenas uma minoria dos professores médicos dispõe-se a atuar como instrutores nos módulos PIN, e estes, ainda, manifestam a sua preferência por fazê-lo sem necessidade de “ir a campo”. O estudo conclui que os docentes podem ser categorizados em defensores, apoiadores, opositores e indiferentes aos módulos PIN e discute a dificuldade que cerca metade dos docentes apresentou para emitir opinião sobre o assunto. Propõe a adoção de medidas especialmente adaptadas aos interesses dos docentes da área clínica, relacionadas à humanização da atenção e à revisão das práticas não só de ensino, mas também de assistência. Considera que só assim a mudança curricular não se manterá apenas no plano fenomênico mas também poderá chegar a planos mais profundos, alcançando inclusive as relações sociais e políticas dos atores institucionais e sujeitos sociais envolvidos.
Experiências vivenciadas pelos familiares de crianças que se intoxicaram no município de Maringá-PR.
Éllen Cristina Santana Aleixo, Ana Maria Itinose
Data da defesa: 15/05/2000
Este é um estudo exploratório descritivo e tem o objetivo de apreender aspectos da experiência vivenciada pelos familiares por ocasião da intoxicação por medicamentos, agrotóxicos de uso doméstico e domissanitários. em crianças de 0 a 6 anos completos, residentes em Maringá. Foi realizado a partir do registro de intoxicações notificadas no Centro de Controle de Intoxicações (CCI-Maringá) localizado no Hospital Universitário Regional de Maringá durante o período de outubro a dezembro de 1999. Foram entrevistadas 13 famílias. Utilizamos para a coleta dos dados as fichas de Ocorrências Toxicológicas (OT), e um formulário elaborado pela pesquisadora para a entrevista domiciliar. Após a coleta os dados foram transcritos e categorizados. Identificamos uma categoria central “experiência de intoxicação do meu filho” a qual foi subdividida em quatro eixos temáticos para facilitar a discussão e análise: conhecendo as famílias e aspectos de suas experiências; a experiência dos familiares durante a ocorrência do episódio da intoxicação; atendimento oferecido pelos serviços de saúde; e mudanças de comportamentos em relação aos hábitos, atitudes dos familiares e de alterações voltados ao armazenamento e aquisição dos produtos tóxicos em suas residências. Este estudo demonstrou, que mesmo com os avanços científicos e tecnológicos hoje existentes, as famílias continuam a ter um papel de suma importância para os membros que delas fazem parte, ressaltando também a importância do cuidado feminino na prestação do cuidado no momento que algum membro adoece. A exploração do primeiro eixo temático permiti-nos conhecer informações relevantes sobre as características das famílias entrevistadas e nos possibilitou uma contextualização de suas realidade e compreensão de suas atitudes além do estabelecimento de uma interação efetiva. No segundo eixo tivemos a oportunidade de conhecer aspectos da experiência dos familiares quanto –a identificação da intoxicação, aos cuidados prestados na residência e após a alta dos serviços de saúde, os sentimentos experenciados e a compreensão da causa do acidente. Constatamos à necessidade de trabalhar com a prevenção de intoxicações, pois vários pais sentem dificuldade em agir perante estas ocorrências, e nem sempre conseguem reconhecer situações facilitadoras de acidentes. No terceiro eixo abordarmos questões relacionadas ao atendimento nos serviços de saúde, - a maioria dos familiares revelaram aspectos positivos do atendimento prestado. Quanto aos aspectos que mais os marcou durante o atendimento prestado alguns ressaltaram o fato de serem bem atendidos pelos profissionais; outros destacaram o sofrimento de seu filho, suas preocupações em relação à criança e seu estado emocional. No quarto eixo os familiares relataram que as atitudes foram modificadas, mesmo que discretamente, seja em relação ao armazenamento ou aquisição de produtos tóxicos ou em relação ao diálogo, supervisão e vigilância das crianças. Além disso eles reconheceram a necessidade de mudança de comportamento e terão que trabalhar para que eles próprios consigam realizá-las, com base na experiência que vivenciaram. Acreditamos que este trabalho contribuirá para uma atuação mais efetiva dos profissionais junto a famílias de indivíduos que se intoxicam, especificamente as crianças, pois é um dos poucos estudos sobre intoxicação voltado para a assistência a partir das perspectivas das pessoas envolvidas.
Conselhos Locais de Saúde: Um Estudo Sobre Participação e Controle Social.
Maria Lúcia da Silva Lopes, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 22/05/2000
Esta pesquisa teve por objetivo geral estudar os Conselhos Locais de Saúde da zona urbana do município de Londrina – Paraná, e por objetivos específicos: caracterizar os Conselhos Locais de Saúde existentes; descrever o perfil de seus conselheiros, sua opinião sobre as funções de um conselho local, bem como o conceito de saúde adotado por cada um deles; relatar as ações que vêm sendo desenvolvidas por estas entidades e as dificuldades enfrentadas para a sua consolidação e analisar as relações existentes entre os conselhos locais, regionais, municipal e instituições de ensino superior. Na Introdução foi feita uma abordagem sobre a importância dos movimentos populares no país e na área da saúde, tendo sido identificadas as recomendações aprovadas na 8ª, 9ª e 10ª Conferências Nacionais de Saúde sobre a importância dos conselhos locais e a Lei 8142/90, que estabelece as formas de participação popular e controle social no SUS. Nos capítulos seguintes foi realizada uma retrospectiva histórica da participação social em saúde no Brasil e a trajetória do envolvimento popular na estruturação e manutenção dos serviços de saúde do município de Londrina, desde a sua fundação até a atualidade. Nesse contexto foi enfocada a Lei Municipal 5119/92, que cria as Comissões Locais de Saúde, designadas neste trabalho como Conselhos Locais de Saúde. Para o cumprimento dos objetivos estabelecidos foram entrevistados todos os membros das diretorias dos conselhos, num total de 183 pessoas. As questões fechadas foram analisadas quantitativamente e as abertas qualitativamente, através da análise de discurso baseada na fenomenologia estrutural. Os resultados obtidos demonstraram que das 38 UBS da zona urbana, 25 possuem conselhos considerados atuantes, 90% dos conselheiros são usuários, 50% deles participaram de cursos de capacitação, a maioria conceitua saúde de acordo com a Lei 8080/90, porém as ações desenvolvidas ainda estão voltadas para a solicitação de mais serviços de saúde, médicos e remédios e a quase totalidade referiu ter dificuldades para a execução dessas atividades. Quanto às relações dos conselhos locais com as demais entidades, as falas revelaram fragmentação e os conselheiros verbalizaram sugestões que poderiam contribuir com os conselhos ou a comunidade. A análise deste cenário permitiu concluir que existem avanços no processo de estruturação dos CLS, porém foi possível identificar inúmeras lacunas, como a necessidade de ampliação do número de conselhos e o fortalecimento dos existentes. Constatou-se que há um longo caminho a ser percorrido até que os CLS possam contribuir de maneira efetiva na inversão do modelo assistencial vigente.
Conhecimento de um Grupo de Mulheres Sobre Sinais e Sintomas do Trabalho de Parto.
Evanira Luisa Janjacomo Chiquetti, Zuleika Thomson
Data da defesa: 26/05/2000
O objetivo deste estudo foi de caracterizar o conhecimento sobre trabalho de parto em mulheres atendidas em uma maternidade pública e sua relação com variáveis socioeconômicas e obstétricas. Analisou-se, também, a fonte do conhecimento, o motivo que levou essas mulheres a comparecer aos serviço de saúde suspeitando trabalho de parto e a freqüência desses comparecimentos. A população de estudo foi composta por um grupo de 349 puérperas que tiveram seus partos normais ou cirúrgicos na referida maternidade da cidade de Londrina, no período de 14 de julho a 13 de agosto de 1999, entrevistadas pela autora. As puérperas pesquisadas se encontravam principalmente na faixa etária de 20 a 30 anos (54,1%) e na adolescência (30,1%). A grande maioria mantinha vínculo conjugal (83,7%), havia cursado menos que o primeiro grau do ensino formal (53,9%) e 66,2% não trabalhavam extra-domicílio. A renda percapita não ultrapassava a 1 salário mínimo para 69,9% das puérperas e quase a totalidade delas pertencia às classes sociais proletariado típico e subproletariado. Realizaram pré-natal 98,3% das puérperas pesquisadas, sendo alto também o percentual de mulheres que realizaram mais de 5 consultas(86,5%) , incluindo o terceiro trimestre de gestação. Essa assistência foi prestada principalmente nas UBS do Município de Londrina. As multíparas foram representadas por 55,9% da amostra estudada onde 95,1% atingiram o termo da gestação e 72,8% realizaram o parto normal. A grande maioria das puérperas manifestou conhecimento sobre a contração uterina (98,0%) e sobre a rotura da bolsa das águas (89,7%). A perda do tampão mucoso foi o sinal menos conhecido pelas puérperas (55,6%). Ao verificar-se a adequação do conhecimento sobre a sintomatologia do trabalho de parto, um número expressivo de puérperas apresentou conhecimento classificado como inadequado ou sem conhecimento manifestado para a perda do tampão mucoso (33,5% e 44,4% respectivamente) e a rotura da bolsa das águas (64,2% e 10,3% respectivamente). As puérperas referiram os profissionais de saúde como a principal fonte de conhecimento sobre a sintomatologia do trabalho de parto, seguida dos leigos. A experiência anterior e o cartão de pré-natal foram pouco valorizados. O motivo que mais levou as gestantes até o serviços de saúde suspeitando o início do TP foi a contração uterina (60,6%), seguido da perda do tampão mucoso (16,8%) e rotura da bolsa das águas (14,7%), sendo que quase a totalidade delas (94,6%) procurou o hospital. As variáveis idade, grau de instrução, número de consultas pré-natais e paridade, não estiveram estatisticamente associadas ao conhecimento das puérperas sobre a contração uterina, enquanto que o maior número de comparecimentos aos serviços de saúde se mostrou significativamente associado a esse conhecimento para primíparas quando comparadas às multíparas. Salienta-se a necessidade de esforços dos profissionais de saúde que atuam com as gestantes, no sentido de prepará-las para o reconhecimento dos sinais e sintomas do trabalho de parto, bem como a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema.
Avaliação do Programa de Alimentação Escolar no Município de Londrina/PR
Cristina Simões de Carvalho Tomasetti, Marcelo de Souza Tavares
Data da defesa: 16/06/2000
O Programa de Merenda Escolar, que é uma das mais abrangentes intervenções oficiais no Brasil, tem por principal meta, teoricamente, a melhoria das condições nutricionais de crianças e adolescentes em todo o país. Os parâmetros técnicos que ainda norteiam o planejamento deste programa foram adotados há aproximadamente cinqüenta anos, quando de sua criação. Entretanto, o estado nutricional de seu público-alvo passa por um processo de transição, marcado pela redução da prevalência de desnutrição e pelo aumento dos índices de sobrepeso e de obesidade. E é nesta perspectiva que o presente estudo buscou se situar, analisando também a contribuição do sistema municipalizado da merenda – recém-implantado na cidade de Londrina/Pr – ao atendimento das necessidades específicas dos escolares e sua adequação às particularidades locais. Objetivou-se, em suma, verificar a qualidade nutricional das refeições servidas, avaliar o estado nutricional dos escolares, identificando, porém, suas possíveis associações com o consumo da merenda. Para tanto, foram avaliados 640 alunos de 1ª a 4ª série de três escolas estaduais do município. O valor nutritivo da merenda distribuída nas escolas foi determinado com sabe nos per capitas médios obtidos por pesagem e mensuração de volumes. Os cálculos foram efetuados com a utilização do software Virtual Nutri, e os resultados comparados aos parâmetros do Programa e às recomendações do NAS, para verificação de adequação energético-protéica e de micronutrientes. Avaliou-se o estado nutricional por meio de antropometria, considerando-se os decis do NCHS para os diagnósticos populacional e individual. O consumo, aproveitamento e aceitação dos alimentos foram verificados por método específico com a utilização de volumes. Os principais resultados revelaram que o valor energético observado foi inferior ao estipulado pelo Programa, com um déficit de 31,43%. O teor protéico foi elevado e a maioria dos cardápios mostrava-se desequilibrado em seus macronutrientes. Notou-se uma acentuada insuficiência de cálcio e também das vitaminas A e C; com teores de ferro e fósforo proporcionalmente adequados. A avaliação do estado nutricional dos escolares indicou uma prevalência de 19,39% de excesso de peso e 4,08% de déficit ponderal. A ingestão foi seletiva, e apenas 9,18% das crianças tomaram a merenda diariamente. Os escolares eutróficos e com excesso de peso consumiram um número médio de porções superior ao ingerido pelas crianças de baixo peso. Os índices de consumo e de aproveitamento das preparações foram baixos, caracterizando grande desperdício de alimentos e diluição do Programa. Por fim, considerou-se que são necessários a readequação dos parâmetros e o ajuste dos objetivos – do Programa de Alimentação Escolar de Londrina – às reais necessidades de seus beneficiários.
Representações Sociais Sobre o Risco: mães adolescentes de crianças em situação de risco
Liza Holzmann Mass, Sebastião Jorge Chammé
Data da defesa: 27/06/2000
O presente estudo teve como objetivo a identificação das competências essenciais requeridas para o gerenciamento das Unidades Básicas de Saúde pelo enfermeiro. A abordagem conceitual visualiza as competências essenciais como fundamentos para a gestão das organizações. O conceito de competência essencial é baseado em três dimensões - conhecimento, habilidade e atitude e engloba as questões técnicas, a cognição e as atitudes relacionadas ao trabalho. O desenvolvimento da competência ocorre por meio da aprendizagem individual e coletiva, e pela assimilação de conhecimentos, integração de habilidades e adoção de atitudes no desempenho no trabalho. As competências essenciais nas organizações (core competences) são aquelas que conferem vantagem competitiva, e são difíceis de serem imitadas. As habilidades favorecem a aplicação das competências e da aptidão. As habilidades interpessoais assumem um caráter importante nas organizações. As atitudes permitem fazer uso do conhecimento, com orientação para a inovação e aprendizagem permanentes, integrando aspectos técnicos, sociais e atitudes relacionadas ao trabalho. A metodologia utilizada foi descritiva, exploratória e transversal, com a aplicação de uma escala diferencial semântico. A amostra constituiu-se de sete professores enfermeiros docentes no Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do PR, onze enfermeiros que gerenciam as UBS e 400 usuários que freqüentam as Unidades Básicas de Saúde. A análise dos dados ocorreu de forma qualitativa e descritiva. Os resultados, advindos do estudo, identificaram na categoria dos professores 02 competências do conhecimento, 05 das habilidades e 03 das atitudes. Na categoria dos enfermeiros foram descritas 02 competências do conhecimento, 01 das habilidades. Os resultados com usuários constatou-se que 80% deles destacaram que todas as variáveis, conhecimento, habilidades e atitudes, são muitos importantes. A pesquisa assinalou a necessidade da formação e reorganização das competências essenciais para o gerenciamento das Unidades Básicas de Saúde. O desenvolvimento das competências essenciais propicia a aquisição e atualização contínua dos conhecimentos, habilidades e atitudes, permitindo alcançar um desempenho gerencial com eficiência e qualidade nas Unidades Básicas de Saúde.