Teses e Dissertações
Análise da estrutura dimensional do Demand Control Support Questionnaire e fatores ocupacionais associados às demandas psicológicas, ao controle e ao trabalho de alta exigência em professores do ensino básico de Londrina (PR)
Marcela Maria Birolim, Selma Maffei de Andrade, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 25/02/2015
A docência é considerada uma profissão estressante e seu exercício é permeado por condições
de trabalho adversas. O Demand Control Support Questionnaire (DCSQ) considera o trabalho
de alta exigência como decorrente da combinação entre altas demandas psicológicas e baixo
controle no processo de trabalho e tem sido utilizado para investigar associação entre estresse
e desfechos negativos em saúde. Este estudo tem como objetivo analisar a estrutura
dimensional do Demand Control Support Questionnaire e fatores ocupacionais associados às
demandas psicológicas, ao controle e ao trabalho de alta exigência em professores do ensino
básico de Londrina (PR). Trata-se de um estudo transversal. A população foi composta por
842 professores das 20 escolas com maior número de docentes da rede estadual do município.
Informações ocupacionais foram obtidas por meio de entrevistas no período de agosto de
2012 a junho de 2013. Dados sociodemográficos e o DCSQ faziam parte de um questionário
autorrespondido. Análises fatoriais confirmatórias e exploratórias foram utilizadas na
avaliação da dimensionalidade do DSCQ. Para o estudo de associação das dimensões e
subdimensões do DSCQ com fatores ocupacionais foi utilizada a análise de regressão
logística com cálculo das razões de odds (OR) e respectivos intervalos de confiança (IC 95%).
Nos modelos multivariados finais permaneceram as variáveis com p < 0,05. Os resultados da
análise fatorial confirmatória apoiaram o intrumento formado por quatro dimensões:
demandas psicológicas, uso de habilidades, autonomia para decisão e apoio social, com
melhor ajuste do modelo com exclusão do item “trabalho repetitivo”. No estudo de
associação, após ajustes, altas demandas psicológicas foram associadas (p<0,05) com idade
mais jovem, maior tempo de trabalho na docência, percepção regular/ruim sobre a
remuneração, sobre a quantidade de alunos por sala de aula e sobre o equilíbrio entre a vida
profissional e pessoal, além de à violência sofrida nos 12 meses anteriores à entrevista. Para a
dimensão controle foram observadas diferenças nas associações em sua forma combinada
(uso de habilidades e autonomia de decisão) e naquelas que consideraram separadamente
estas duas subdimensões. Carga horária maior que 40 horas (OR=1,72; IC 95%=1,05-2,82),
percepção negativa em relação à remuneração (OR=1,93; IC 95%=1,41-2,65), à quantidade
de alunos por sala de aula (OR=1,43; IC 95%=1,03-1,99), ao equilíbrio entre a vida pessoal e
profissional (OR=2,36; IC 95%=1,71-3,26) e ter sofrido violência na escola nos 12 meses
anteriores à entrevista (OR=1,84; IC 95%=1,31-2,58) foram significativamente associados ao
trabalho de alta exigência. No entanto, após análise estratificada por grupos de maior e menor
apoio social no trabalho, as variáveis carga horária acima de 40 horas e percepção
regular/ruim em relação à quantidade de alunos por sala foram significativas apenas no grupo
de menor apoio social. Os resultados revelam que condições específicas de trabalho e
percepções dos professores sobre seu ambiente laboral estão associadas a altas demandas
psicológicas, baixo controle e ao trabalho de alta exigência e que o apoio social no trabalho
atua como moderador em algumas dessas associações
Exposição ambiental ao chumbo e pressão arterial em população urbana: estudo de base populacional
Ana Carolina Bertin de Almeida Lopes, Mônica Maria Bastos Paoliello
Data da defesa: 15/01/2015
A exposição ambiental e ocupacional ao chumbo representa um importante problema de
saúde pública. O acúmulo do chumbo no organismo pode levar ao desenvolvimento de
diferentes morbidades, como aumento na pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD),
hipertensão arterial, arteriosclerose, disfunção renal, entre outras. Dessa forma, este estudo
objetivou verificar os determinantes socioeconômicos, ambientais, de estilo de vida e de
condições de saúde relacionados aos níveis de chumbo em sangue em adultos com 40 anos ou
mais de idade. Além disso, examinou-se a associação entre os níveis de chumbo em sangue e
alterações na PAS e PAD e hipertensão arterial. Realizou-se um estudo transversal de base
populacional, com 959 adultos residentes na região urbana de um município de médio porte
no Sul do Brasil. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas, exame físico e exames de
laboratório. Foram incluídas variáveis socioeconômicas, de estilo de vida, condições de saúde,
dieta, e sobre exposição ocupacional ao chumbo. Os níveis de chumbo em sangue foram
medidos pela técnica da espectrometria de massa com plasma de argônio indutivamente
acoplado (ICP-MS). Considerou-se como PAS elevada valores 140 mmHg e PAD elevada
90 mmHg. A hipertensão arterial foi definida como PAS 140 mmHg e/ou PAD 90 mmHg
ou uso de medicação antihipertensiva. As análises estatísticas foram realizadas nos programas
Stata versão 13.1 e SPSS versão 20. A média geométrica dos níveis de chumbo em sangue foi
1,97 g/dL (95% CI: 1,90-2,04 g/dL). No Modelo 1 da análise de regressão linear múltipla
ajustou-se por sexo, idade, cor da pele, educação, classe socioeconômica, tabagismo, consumo
de álcool, exposição ocupacional ao chumbo, consumo de carne vermelha e de leite de vaca.
O Modelo 2 foi ajustado para sexo e exposição ocupacional ao chumbo. Os níveis mais
elevados de chumbo em sangue foram associados ao sexo masculino, à idade avançada, ao
tabagismo, ao consumo de álcool e ao menor consumo de leite de vaca. No Modelo 2, os
níveis de chumbo em sangue foram maiores nos participantes não brancos em relação ao
brancos, em ex-fumantes e naqueles expostos ocupacionalmente ao chumbo. Participantes
vivendo em área onde foram identificadas mais indústrias que utilizam chumbo apresentaram
níveis de chumbo em sangue mais elevados (3,30 g/dL) comparados aqueles vivendo em
outras áreas com menor número de indústrias (1,95 g/dL). Os níveis de chumbo em sangue
foram associados à PAS e PAD na análise de regressão linear múltipla. A análise de regressão
logística mostrou que os indivíduos do mais alto quartil de concentração de chumbo em
sangue apresentaram odds ratio (OR) para hipertensão arterial significativamente elevado em
relação aos participantes do quartil 1, com aumento gradativo entre os quartis (quartil 2: OR,
1,16 (0,77-1,74); quartil 3: OR, 1,15 (0,76-1,74); quartil 4: OR, 1,82 (1,17-2,82), p-trend =
0,011). O OR ajustado para PAD elevada foi mais alto para os participantes do maior quartil
de chumbo em sangue em relação aos participantes do quartil 1 (OR: 2,31; IC 95%: 1,21-
4,41). A análise de clusters revelou que os participantes com níveis de chumbo em sangue
mais elevados (2,99 g/dL), eram geralmente hipertensos, com PAS e PAD elevadas, do sexo
masculino, com média de idade de 54,92 anos e com sobrepeso (IMC de 25 a >30). O
cluster dos participantes com níveis de chumbo em sangue mais baixos (2,16 g/dL) eram
geralmente não hipertensos, com PAS e PAD normais, do sexo feminino, com média de idade
de 50,89 anos e com IMC normal (de 0 a <25). Conclui-se que os níveis de chumbo em
sangue foram associados ao sexo masculino, à idade avançada e a hábitos como tabagismo,
consumo de álcool e menor consumo de leite de vaca. Além disso, indivíduos com níveis de
chumbo mais elevados têm mais chances de apresentarem hipertensão arterial. Finalmente, apesar dos baixos níveis de chumbo em sangue encontrados nos adultos desta área urbana, é
importante que a exposição ao chumbo seja monitorada e que leis regulatórias sejam
decretadas com o objetivo de prevenir a contaminação de chumbo em ambientes urbanos.
Capacidade funcional e composição corporal em indivíduos com mais de 55 anos
Renata Maciulis Dip, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 11/08/2014
As perdas de massa magra e de força muscular apresentam grande impacto na
qualidade de vida e na mortalidade de idosos. Este estudo, realizado por meio de
inquérito domiciliar e aferição da composição corporal e da força muscular a
domicílio, derivado de uma pesquisa de base populacional, teve por objetivos
analisar o papel da baixa massa magra, da força muscular baixa e da obesidade na
dificuldade para utilizar escadas e na dependência para a realização das Atividades
Instrumentais de Vida Diária (AIVD), assim como analisar também o papel das
comorbidades na relação entre a composição corporal e capacidade funcional. A
composição corporal foi avaliada pelo método de bioimpedância corporal e a força
muscular pelo dinamômetro de preensão palmar. A capacidade funcional foi avaliada
para a realização de Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD), AIVD e capacidade
para utilizar escadas. A população de estudo foi constituída por pessoas com mais
de 55 anos residentes no município de Cambé, PR. A amostra foi constituída por
451 pessoas, proporcionais aos setores censitários da área urbana do município.
Houve 83 perdas (18,4%), por recusa à participação ou pelo fato do indivíduo não ter
sido encontrado no domicílio após 4 tentativas de visita. Foram entrevistadas 368
pessoas, com idade entre 56 e 91 anos. A média de idade encontrada foi de 65,4
anos, sendo que 60% eram mulheres, cerca de 80% dos entrevistados pertenciam
às classes econômicas B e C e 60% referiu ter de um a oito anos de estudo. A
obesidade foi encontrada em 36% das mulheres e 25% dos homens. Para os
homens, a força muscular baixa foi um fator associado à dificuldade para utilizar
escadas e para a realização das AIVD independentemente da massa muscular, da
idade e da obesidade. No entanto, quando analisamos as comorbidades juntamente
com a composição corporal, a força deixa de ser um fator independente. Para os
homens, a dor crônica em membros inferiores (MMII) e a obesidade foram os fatores
independentemente associados à dificuldade para utilizar escadas. Para a
realização das AIVD, a IC foi o único fator associado de forma independente à
dificuldade. Para as mulheres, a força muscular baixa e a obesidade foram os
fatores associados à dificuldade para utilizar escadas independentemente da idade e
da massa magra baixa. Quando as comorbidades são analisadas conjuntamente, a
força muscular baixa e a obesidade se mantêm como fator associado, e surgem
outros dois fatores: a dor crônica em membros inferiores e a depressão. Já para a
realização das AIVD, a idade, a força muscular baixa e a baixa massa magra
associaram-se de forma independente à dificuldade. Ao analisarmos conjuntamente
as comorbidades, apenas a faixa etária (ter 65 anos ou mais) associou-se
independentemente à dificuldade. A prevenção da perda de força muscular deveria
ser priorizada pelas políticas de saúde pública, no intuito de retardar e reduzir a
dependência funcional dos idosos.
Prevalência e fatores associados à síndrome metabólica na população adulta em Cambé (PR), 2011. Vigicardio.
Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Regina Kazue Tanno de Souza , Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 27/05/2014
A síndrome metabólica (SM) confere um alto risco para ocorrência de doenças
cardiovasculares dado à sua combinação de intolerância à glicose, hipertensão, triglicerídeos
elevados e HDL-C baixo. Destaca-se que o risco global de complicação cardiovascular é o
triplo entre os portadores de SM comparativamente aos não portadores. Dessa maneira, este
estudo tem como objetivo determinar a prevalência de síndrome metabólica e fatores
associados a essa condição na população acima de 40 anos. Trata-se de um estudo transversal
de base populacional realizado em todos os setores censitários do município de Cambé-PR;
este estudo faz parte de um estudo mais abrangente denominado Vigicardio. No presente
estudo participaram 959 indivíduos. Foram realizados entrevistas, exame físico e exames
laboratoriais. Entre as variáveis do estudo incluíram-se as socioeconômicas e demográficas,
de estilo de vida, sobre comorbidades, de utilização de medicamentos e de serviços de saúde.
Foram realizadas a aferição da pressão arterial, medidas antropométricas e exames
laboratoriais (colesterol, triglicerídeos e glicemia). A SM foi determinada de acordo com a
definição harmonizada (presença de pelo menos três das seguintes condições; TG ≥150
mg/dL; HDL-C<40 mg/dL em homens ou <50 mg/dL em mulheres; pressão sistólica ≥ 130
mmHg e/ou pressão diastólica ≥85 mmHg ou uso de medicamentos anti-hipertensivas;
glicemia ≥100 mg/dL ou uso de medicamento para tratamento do diabetes e perímetro
abdominal ≥88 nas mulheres e ≥102 nos homens). A análise dos dados foi realizada no
programa SPSS versão19 e os testes utilizados foram o qui-quadrado ou exato de Fisher, e
regressão de Poisson. A prevalência de SM foi de 53,7% e, nas mulheres, essa prevalência foi
superior em relação aos homens (p=0,003). Entre os componentes, a obesidade abdominal
(p<0,001) e baixo HDL-C (p<0,001) foram superiores nas mulheres e entre os homens a
elevação da pressão (p=0,004) e dos níveis glicêmicos (p=0,006). A prevalência da SM
elevou-se com o aumento da idade, a elevação dos níveis pressóricos foi o componente mais
frequente nos diferentes sexos e faixas etárias, seguido pela obesidade abdominal nas
mulheres e pelo baixo HDL-C e elevação dos níveis glicêmicos nos homens. A presença dos
cinco componentes da SM foi de 12,0% (mulheres-15,8%, homens-7,3%). A classe
econômica de menor poder de compra esteve associada à maior prevalência de SM entre as
mulheres (p<0,001) e isso foi mais ocorrente entre as de maior idade. O fator associado a SM
foi o aumento da idade em ambos os sexos. Os resultados revelaram elevadas prevalências de
SM entre indivíduos com 40 anos ou mais, sugerindo a necessidade de formulação de
políticas mais amplas no sentido de favorecer a adoção de comportamentos saudáveis. As
diferenças observadas nos diferentes sexos, grupos etários e classes econômicas apontam para
a necessidade de melhor conhecer o padrão da SM nesses grupos objetivando compreender os
determinantes dessa distribuição e favorecer a implementação de políticas mais adequadas de
enfrentamento dos componentes da SM
A organização do trabalho em saúde bucal nas equipes da rede de atenção básica em municípios de pequeno porte do norte do Paraná
Vera Lúcia Ribeiro de Carvalho Bueno, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 26/05/2014
O objetivo desse estudo foi analisar a organização do trabalho em saúde bucal nas
equipes da Rede de Atenção Básica em municípios de pequeno porte do norte do
Paraná. Trata-se de um estudo transversal, teórico, empírico, de natureza analítico
compreensiva, com abordagem quantitativa/qualitativa. A região norte foi representada pelas regiões administrativas de Apucarana, Londrina e Cornélio Procópio que
correspondem às seguintes Regionais de Saúde (RS): 16ª RS, 17ª RS e 18ª RS. A
pesquisa aconteceu em duas etapas, sendo que a coleta de dados da primeira etapa, designada como quantitativa, aconteceu entre julho e dezembro de 2010, e a da
segunda etapa, designada como qualitativa, entre junho e julho de 2011, com exceção do segundo grupo focal da 18ª RS que foi realizado em junho de 2012. Na primeira etapa foram aplicados dois questionários, um específico para coordenadores
de Unidades Básicas de Saúde (UBS) e outro para os demais profissionais. Para
análise descritiva, utilizaram-se as medidas de ocorrência. Na segunda etapa foram
realizados grupos focais. Responderam às questões específicas para coordenadores 90 profissionais. De 295 profissionais que atuavam na Equipe Saúde Bucal,
(ESB) responderam às questões 178 (60,3%). Foram realizados nove grupos focais,
sendo cinco com coordenadores de UBS e quatro com membros da ESB. Os resultados revelaram que, na cidade pequena, existe uma grande proximidade entre as
pessoas, mas isso não resultou em gestão democrática e participativa, nem em vínculo com a população e trabalho em equipe. Nesses municípios, os recursos para
implantação das ESB foram absorvidos de maneira acrítica dificultando a implantação/implementação da Política Nacional de Saúde Bucal, como estabelecem os textos ministeriais e resultando em uma rotina de atividades sem planejamento. Nos
referidos locais, persistia a falta de integração entre os profissionais da ESB e da
UBS. Ambos alegaram que não se integravam por causa da demanda excessiva que
os impedia de fazer reuniões, o que pode ser questionado tendo em vista que diversos não cumpriam suas cargas horárias. Foi observado dificuldade de se romper
com o sistema incremental e efetivar os princípios da universalidade e integralidade
do Sistema Único de Saúde (SUS). Quanto à organização do trabalho, observou-se
uma dicotomia entre atividades de promoção/prevenção e atividades clínicas com
preferência pelo atendimento clínico, tanto dos profissionais, dos gestores, como
também da população. Os dentistas alegaram que não cumpriam a carga horária de
trabalho devido à baixa remuneração. Quanto à gestão, observou-se que era influenciada por quatro atores diferentes: Coordenador ESB, Coordenador UBS, Prefeito/secretário de saúde e RS. Esta última se destacou como ente articulador entre
os municípios, sendo um importante local para debater o modelo assistencial e apoiar a efetivação do SUS. Para a implantação da Política Nacional de Saúde Bucal,
sugere-se a adoção de sistemas de trabalho por compromisso em que se definem
ações com metas, previamente acordadas, acompanhadas por instâncias de participação democrática e gestores.
Características do trabalho, consumo de substâncias psicoativas e acidentes de trânsito entre motoristas de caminhão
Edmarlon Girotto, Selma Maffei de Andrade, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 15/04/2014
Os motoristas de caminhão estão frequentemente expostos a inúmeras situações deletérias à
sua saúde, como condições inadequadas de trabalho e comportamentos de risco no trânsito,
além do consumo de substâncias psicoativas, que podem contribuir para o envolvimento em
acidentes de trânsito. Assim, este estudo tem como objetivo identificar as características do
trabalho associadas ao consumo de substâncias psicoativas e acidentes de trânsito entre
motoristas de caminhão. Esta investigação, de delineamento transversal, foi conduzida com
caminhoneiros que transportavam grãos para o Porto de Paranaguá, Paraná, Brasil. Os
motoristas foram abordados no Pátio de Triagem do Porto e convidados a participar da
pesquisa para a obtenção de informações socioeconômicas e demográficas, situação de saúde,
características do sono, estilo de vida, condições e práticas profissionais, envolvimento em
acidentes de trânsito e consumo de substâncias psicoativas. A amostra foi de conveniência e a
coleta de dados ocorreu em julho de 2012 por meio de entrevista e aplicação de questionário.
O consumo de substâncias psicoativas nos 30 dias que antecederam a coleta de dados foi
avaliado por questionário autorrespondido. O envolvimento em acidentes foi relatado pelo
motorista durante entrevista. A tabulação dos dados foi realizada nos programas Epi Info e
SPSS. Os 670 motoristas de caminhão que participaram do estudo eram todos do sexo
masculino, com idade média de 41,9 anos e renda média de R$ 2.932,00. O consumo de
substâncias psicoativas nos últimos 30 dias foi citado por 10,9% dos caminhoneiros, a grande
maioria anfetaminas (9,9%). Nos últimos 12 meses 7,3% relataram ter se envolvido em
acidentes de trânsito. Em análise ajustada, mostraram-se associadas ao consumo de
substâncias psicoativas nos últimos 30 dias: direção predominantemente no período noturno
(Odds Ratio [OR]: 3,35; Intervalo de Confiança [IC] 95%: 1,51-7,42), idade igual ou menor a
39 anos (OR: 2,30; IC 95%: 1,31-4,05); situação conjugal como solteiro, divorciado ou viúvo
(OR: 2,08; OR 95%: 1,14-3,82), direção do caminhão estando bastante cansado (OR: 2,05; IC
95%: 1,19-3,50), e renda igual ou superior a R$ 2.500,00 (OR=1,84; IC 95%=1,06-3,32). O
envolvimento em acidentes nos últimos 12 meses revelou-se associado à experiência de
menos de sete anos como motorista de caminhão (OR: 2,97; OR 95%: 1,14-7,75), à direção
predominantemente no período noturno (OR: 2,60; IC 95%: 1,02-6,63), e à prática de
ultrapassar em locais proibidos (OR: 2,33; IC 95%: 1,04-5,21). Os resultados indicam
associação entre algumas características de trabalho e o consumo de substâncias psicoativas e
o envolvimento em acidentes de trânsito, destacando-se a prática de direção no período
noturno. O uso de substâncias psicoativas também se mostrou associado a algumas
características pessoais dos motoristas investigados. Espera-se que esta pesquisa possa
subsidiar políticas públicas e incentivar empregadores e caminhoneiros a adotar ações que
contribuam para melhorar as condições de trabalho desses motoristas e que reduzam o risco
de acidentes no trânsito.
Características e consequências de acidentes de trânsito para motociclistas após um ano do acidente, Londrina (PR)
Daniela Wosiack da Silva, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 17/02/2014
Este estudo teve o objetivo de analisar consequências de acidentes de trânsito para
motociclistas e fatores associados à alteração no desempenho das atividades laborais após um
ano do acidente. Trata-se de um estudo longitudinal, no qual foram identificados todos os
motociclistas atendidos pelos serviços de atenção pré-hospitalar do município de Londrina,
PR, e encaminhados a dois hospitais terciários do município no período de 1o
de abril de 2010
a 31 de março de 2011, com realização de entrevista um ano após o acidente. A Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) foi utilizada para avaliar a
funcionalidade dos motociclistas após 12 meses do acidente. Foram realizadas análises
descritivas e de associação, por regressão logística binária hierarquizada, entre o relato, pelos
motociclistas, de alteração no desempenho das atividades laborais em decorrência do acidente
(variável dependente) e as seguintes variáveis independentes: características
sociodemográficas, do acidente, assistenciais e outras consequências do acidente. As análises
estatísticas foram realizadas usando o programa SPSS 19.0. Foram entrevistados 242
motociclistas após um ano da ocorrência do acidente. Houve predomínio de motociclistas do
sexo masculino (74,4%) e com idade inferior a 35 anos (66,1%). O tempo de internação
variou de 0 a 32 dias e 44,3% receberam alta após a internação. A maior parte dos acidentes
(56,6%) envolveu trajetos relacionados ao trabalho. Quase 80% dos motociclistas estudados
referiram ter medo de envolvimento em novo acidente. Dos condutores, 26,4% deixaram de
dirigir moto, especialmente por medo de se envolver em novo acidente (62,5%) e por sequelas
físicas (25%). A maioria (91,3%) dos 219 motociclistas com ocupação profissional no
momento do acidente relatou necessidade de afastamento do trabalho, 35,6% referiram
alterações no desempenho de suas atividades laborais e 12,8% necessidade de mudança de
ocupação devido ao acidente. Dores constantes residuais foram relatadas pela maioria dos
motociclistas entrevistados (58,3%), sendo mais acometidos os membros inferiores e
superiores, segmentos que também apresentaram maior frequência de deficiências,
principalmente de força muscular e de mobilidade das articulações com percentuais superiores
a 30%. Os 242 motociclistas apresentaram dificuldades principalmente em atividades
relacionadas à “Mobilidade”, destacando-se, com prevalências próximas a 20%, as atividades
“Levantar e carregar objetos” e “Andar”. Em mais de 10% dos casos, os motociclistas
referiram dificuldades para “Dirigir” e nas atividades relacionadas à “Recreação e lazer”. Na
análise de regressão logística hierarquizada, foram fatores de risco para o relato de alteração
na forma de trabalhar dos motociclistas: baixa escolaridade (Odds ratio [OR]=3,42),
realização de tratamento de fisioterapia (OR=3,99) e ocorrência de lesão em região de
membros superiores (OR=2,45). Ser do sexo masculino foi fator de proteção para o desfecho
analisado (OR=0,46). A investigação das consequências dos acidentes de trânsito para os
participantes do presente estudo revelou um quadro bastante preocupante de
comprometimento da saúde física e emocional de muitos motociclistas, além de limitações
funcionais no desempenho das atividades pessoais e profissionais
Condições de saúde e utilização de serviços odontológicos entre adultos de 40 anos ou mais: estudo de base populacional
Maria Luiza Hiromi Iwakura Kasai, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 05/12/2013
O presente estudo teve por objetivo analisar as condições de saúde bucal e a
utilização de serviços odontológicos entre adultos de 40 anos ou mais e fatores
associados. Realizou-se estudo transversal de base populacional, com amostra
representativa de 1180 indivíduos residentes na região urbana de Cambé, no
período de fevereiro a junho de 2011. Esta pesquisa faz parte de um estudo mais
abrangente – Projeto VigiCardio. Foram calculadas medidas de associação
expressas pelas razões de prevalências (RP) brutas e ajustadas, estimadas por
modelos de regressão de Poisson univariados e múltiplos, com estimadores
robustos de variância. A média de idade dos indivíduos foi de 54,6 anos e 54,4%
eram mulheres. O edentulismo total foi observado em 22,7% dos indivíduos, a
prevalência de mais de doze dentes perdidos foi de 49,7% e a média de dentes
perdidos foi igual a 15,6 (mediana de 12,0). A necessidade de tratamento dentário
atual foi citada por 67,6%, e 37,8% consultaram o dentista há três anos ou mais. No
modelo final, após análise ajustada pela regressão de Poisson os fatores que
permaneceram significativamente associados aos desfechos foram: a) perda
dentária superior a 12 dentes: ser do sexo feminino (RP=1,397; IC95%:
1,243;1,570); ter mais de 60 anos de idade (RP = 1,730; IC95%: 1,551;1,931); ter
cursado até 7 anos de estudo (RP = 2,074; IC95%: 1,710;2,516); e ter realizado a
última consulta com o dentista há três anos ou mais (RP = 1,297; IC95%:
1,161;1,449); b) consulta ao dentista há três anos ou mais: ser do sexo feminino (RP
= 0,710; IC95%: 0,575;0,877); ter cursado até 7 anos de estudo (RP = 2,076; IC95%:
1,627;2,648); possuir alguma prótese dentária (RP = 0,702; IC95%: 0,571;0,862);e
necessitar de tratamento dentário atual (RP = 2,155; IC95%: 1,520;3,056); c)
necessidade de tratamento dentário atual: última consulta ao dentista há três anos
ou mais (RP = 1,174; IC95%: 1,095;1,260); sangramento na gengiva (RP = 1,132;
IC95%: 1,049;1,222); presença de dente amolecido (RP = 1,117; IC95%:
1,038;1,203); e insatisfação com os dentes/boca (RP = 1,517; IC95%: 1,381;1,666).
Os resultados aqui apresentados apontam desigualdade no acesso aos serviços
odontológicos e iniquidade na atenção, e indicam a necessidade de ampliação da
oferta de serviços odontológicos e das opções de tratamento no âmbito do SUS à
população adulta idosa e não idosa.
Associação entre capital social e comportamentos relacionados à saúde: estudo de base populacional
Mathias Roberto Loch, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 07/08/2013
Estudos que investigam a relação entre comportamentos relacionados à saúde com
o capital social (CS) são escassos, especialmente na América Latina. O objetivo
deste trabalho foi verificar a relação entre indicadores de CS e a prevalência de
determinados comportamentos relacionados à saúde. Realizou-se estudo
transversal, de base populacional, com indivíduos com 40 anos ou mais de um
município de médio porte da região Sul do Brasil. Os dados foram coletados no
primeiro semestre de 2011. Para este estudo, foram considerados dados de 1081
sujeitos. Os comportamentos investigados foram: inatividade física no lazer (INFL),
baixo consumo de frutas e/ou verduras (BCFV), tabagismo (TAB) e consumo
abusivo de álcool (CAA), além de análise de simultaneidade dos comportamentos
citados. A INFL foi avaliada a partir do modelo de estágio de mudança de
comportamento e as questões relacionadas aos demais comportamentos foram
retiradas do questionário aplicado pelo sistema de Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) do Ministério da
Saúde do Brasil. Os indicadores de CS foram selecionados a partir do Questionário
Integrado para medir CS (QI-MCS): número de amigos e de pessoas que
emprestariam dinheiro em caso de necessidade, confiança nas pessoas do bairro,
frequência com que as pessoas no bairro se ajudam, segurança no bairro e
participação cívica ou comunitária. Foi ainda construído um escore de CS, baseado
nos indicadores isolados. Os dados foram analisados no Programa SPSS vs. 19, por
meio da regressão logística, realizando-se análise bruta e ajustada (p<0,05). Após
os ajustes, a INFL esteve associada ao número de amigos, confiança nas pessoas
do bairro, frequência com que as pessoas no bairro se ajudam, segurança no bairro,
participação comunitária e o escore de CS. O BCFV associou-se à participação
comunitária e ao escore de CS. O TAB se mostrou associado à frequência com que
as pessoas no bairro se ajudam e ao escore de CS. Apenas a frequência com que
as pessoas no bairro se ajudam esteve associada ao CAA. Em todas as
associações mencionadas, os sujeitos com menor CS tinham maior chance de
apresentarem os comportamentos negativos. Observou-se ainda que quanto maior o
CS, menor o número médio de comportamentos negativos. Sujeitos com maior CS
apresentaram em média 1,47 (DP=0,11) comportamentos negativos, enquanto os
com menor CS tinham média de 2,13 (DP=0,23) comportamentos negativos. Este
estudo mostrou uma associação moderada entre diferentes indicadores de CS e os
comportamentos relacionados à saúde investigados, sendo mais evidente a relação
com a INFL e em menor grau com o BCFV e o TAB. A relação do CS com o CAA foi
menos evidente. Recomenda-se que as políticas de promoção de comportamentos
saudáveis considerem o nível e as características do CS de cada lugar e busquem
implementar ações que contribuam para a criação de sociedades civis mais
organizadas, inclusive porque estas podem representar um aspecto positivo para a
adoção dos comportamentos considerados positivos para a saúde.
Grupos de educação em saúde como espaço de construção de corresponsabilidades: um estudo de caso
Fernanda de Freitas Mendonça, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 20/12/2012
O objetivo desse estudo foi analisar as atividades de grupo de educação em saúde
desenvolvidas pelas Equipes de Saúde da Família (ESF) como espaços de
constituição de sujeitos corresponsáveis. Trata-se de um estudo quanti-qualitativo
que utilizou a metodologia de estudo de caso para melhor apreensão do objeto de
pesquisa. O estudo foi realizado no município de Campo Mourão e a coleta de dados
ocorreu no período de novembro de 2010 a fevereiro de 2011. Durante esse período,
foram realizadas duas etapas de coleta de dados. A primeira quantitativa realizada
com todos os profissionais vinculados à ESF por meio de um formulário e a segunda
qualitativa desenvolvida com usuários dos grupos de educação em saúde por meio
de entrevista. Os dados quantitativos foram analisados por meio de medidas de
ocorrência, já os qualitativos com o uso da técnica de análise de discurso proposta
por Martins e Bicudo. Os resultados revelaram que a maioria das ESF realizava o
grupo de educação em saúde, contudo, verificou-se traços da pedagogia de
transmissão de conhecimentos com foco, predominantemente, em assuntos que
tratam apenas das doenças. Em relação às potencialidades e desafios para a produção
de corresponsabilidades, verificou-se a presença de algumas dualidades, sobretudo,
relacionadas ao aprendizado e à alteração no estilo de vida. Em geral, os que mais se
destacaram como elementos que favorecem a construção de corresponsabilidades
foram: a disposição do usuário de aprender e assumir o autocuidado bem como a
valorização do conhecimento adquirido; a utilização do saber popular; a construção
de conhecimento; a alteração no estilo de vida e manutenção do controle da doença; e
o apoio social. Por outro lado, a utilização de metodologias pouco participativas, a
dificuldade de aprendizado dos usuários, o discreto interesse em mudar a forma de
realização dos grupos e a incipiente utilização de instrumentos de avaliação surgiram
como elementos que dificultam a produção de sujeitos corresponsáveis. Diante disso,
embora os grupos de educação em saúde tenham o potencial de produção de
corresponsabilidade, isso só irá ocorrer na medida em que forem compreendidos
pelos seus diferentes atores, e adotados como estratégias de gestão em paralelo com a
formulação de políticas públicas que ofereçam as condições mínimas para que as
mudanças implicadas no processo de educação em saúde sejam concretizadas