Teses e Dissertações
Percepção de distúrbios de voz relacionados ao trabalho em professores da rede estadual de ensino e fatores ocupacionais associados
Michelle Moreira Abujamra Fillis, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 26/05/2017
A profissão de professor é considerada de alto risco para a presença do distúrbio de
voz. Além das características do vínculo de trabalho, como carga horária e
quantidade de alunos por sala de aula, certas condições estruturais da escola, a
exposição a cargas físicas e psíquicas e o risco de sofrer violência escolar são
aspectos que merecem destaque na prevenção e no tratamento de problemas
vocais. Objetivos: Analisar as relações entre fatores ocupacionais e condição vocal
em professores da rede estadual de ensino de Londrina, Paraná. Para isso,
consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar a associação entre
fatores ocupacionais e percepção de distúrbio de voz em professores de escolas
públicas estaduais 2) Analisar os fatores de risco ocupacionais para percepção de
distúrbio de voz nesses professores. MÉTODOS: Para a estruturação da presente
tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um estudo com
metodologia, resultados e conclusões próprias. Esses objetivos foram explorados no
âmbito do projeto de pesquisa Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da
Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), o qual permitiu a obtenção das
informações necessárias analisadas nesta tese, além de outras investigações
exploradas pela equipe do projeto. A coleta de dados do PRÓ-MESTRE deu-se em
duas etapas. Para se alcançar o primeiro objetivo específico, realizou-se um estudo
transversal (Estudo 1) com dados coletados na etapa denominada baseline, entre
agosto de 2012 e junho de 2013, em entrevistas individuais de professores com
atuação em sala de aula nos níveis fundamental e/ou médio das 20 maiores escolas
Estaduais de Londrina. Para o segundo objetivo específico, um estudo de
delineamento do tipo coorte (Estudo 2) foi realizado com base em dados do baseline
e, ainda, de novos dados coletados no seguimento dos participantes após o período
de 24 meses (2014-2015). Especificamente para essa análise, consideraram-se
dados do seguimento apenas de participantes que continuavam exercendo a função
de professor da educação básica em escolas públicas. O instrumento para a coleta
de dados foi elaborado com base na literatura e previamente testado em estudo
piloto e após ajustes, a versão definitiva foi constituída por um formulário para
entrevista, cujas respostas eram anotadas pelo entrevistador, com questões
majoritariamente objetivas referentes à percepção de frequência de problemas
vocais, condições de trabalho, estilo de vida, saúde e violência escolar, entre outras
variáveis. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi
Info, versão 3.5.4 e analisados usando o programa SPSS, versão 19.0. A análise
descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de
tendência central e de dispersão. Para a análise bivariada, no estudo 1, utilizou-se a
razão de prevalência (RP) como medida de associação, e foi adotado nível de
significância de 5%. Para as análises ajustadas, construíram-se modelos de
regressão de Poisson. Já no estudo 2, para a análise bivariada, utilizou-se o odds
ratio como medida de associação, e foi adotado nível de significância de 5% (Teste
Qui-quadrado de Wald com apresentação do p-valor e do intervalo de confiança (IC)
de 95%) e para as análises ajustadas, construíram-se modelos de regressão
logística. Resultados: No Estudo 1, a percepção de problemas vocais frequentes foi
de 25,7%. Análises ajustadas mostraram associação desses problemas com
características do vínculo de trabalho (≥40 horas/semana, percepção ruim da
remuneração e dos benefícios de saúde), características do ambiente de trabalho
(quantidade de alunos por sala, exposição a pó de giz e microorganismos), aspectos
psicológicos (menor realização profissional, baixa oportunidade de expressar
opiniões, pior relacionamento com superiores e equilíbrio entre vida profissional e
pessoal) e situações de violência (insultos e assédio moral). No Estudo 2, a
manutenção/piora de percepção de distúrbios de voz frequentes (GPDVF) foi de
19,7% em 24 meses e tal condição associou-se ao sexo feminino, idade mais
elevada, tempo de profissão maior que 12 anos, exposição ao pó de giz, não se
sentir realizado profissionalmente e referir exposição a insultos e a violência física.
Após análise ajustada por sexo e idade, associou-se ao GPDVF a não realização
profissional e a exposição a insultos e violência física. Conclusão: O Estudo 1
permitiu concluir que a percepção de transtornos vocais frequentes afeta um em
cada quatro professores da educação básica e está associada a diversas
características da atividade docente, tanto estruturais como referentes ao processo
de trabalho. No Estudo 2, concluiu-se que um de cada 5 professores mantiveram ou
pioraram a percepção de distúrbio de voz relazionado ao trabalho em 24 meses de
seguimento. Evidenciou-se, ainda, que a insatisfação profissional e a exposição a
condições adversas do trabalho, como a violência, são fatores de risco para a
manutenção ou piora da percepção de distúrbio de voz frequentes.
Prevalência de dor crônica e associação com percepções e condições de trabalho dos professores da rede estadual de ensino de Londrina (PR)
Flávia Lopes Gabani, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 26/04/2017
As condições de trabalho estão relacionadas à ocorrência de dor em professores, a
qual resulta em limitação das atividades diárias, maior número de consultas
médicas, afastamento do trabalho e pior qualidade de vida. O processo álgico pode
ser deflagrado e perpetuado por diversos motivos, que podem diferir de acordo com
as características laborais e as regiões do corpo afetadas. Elucidar esse fenômeno
de forma mais detalhada pode reduzir danos adicionais à saúde do professor. Este
estudo teve por objetivo caracterizar a dor crônica, prevalência e regiões do corpo
mais afetadas, e associar com percepções e condições de trabalho de professores
da rede estadual de ensino de Londrina (PR). Tratou-se de estudo transversal
realizado no período de 2012 a 2013 com professores do ensino fundamental e
médio. Foram excluídos os educadores readaptados ou afastados de função, com
menos de um ano de serviço e com diagnóstico de neoplasia maligna. O desfecho
dor crônica foi dividido em três regiões do corpo: membros superiores, coluna lombar
e membros inferiores. A análise estatística ocorreu por meio de três modelos de
regressão de Poisson e cálculo da razão de prevalência ajustados por variáveis
sociodemográficas, de estilo de vida e comorbidades. Para comparação das
proporções de professores com e sem dor crônica utilizou-se o teste Qui-quadrado
com correção de Yates, considerando nível de significância de 5% (p < 0,05). A
amostra final correspondeu a 958 professores. Dor crônica foi referida por 408
(42,6%) docentes, com maior frequência em mulheres, na faixa etária acima de 40
anos, da raça/cor branca e amarela/indígena, entre aqueles que não realizavam
atividade física pelo menos uma vez por semana ou realizavam de forma
insuficiente, e não consumidores de álcool. Também foi mais frequente na
população com vínculo empregatício tipo estatutário e com tempo de atuação como
professor acima de 20 anos. As regiões reportadas como mais dolorosas foram
membros superiores, cabeça, membros inferiores e coluna lombar. No modelo final
da regressão de Poisson, dor nos membros superiores foi significativamente mais
frequente entre professores que consideravam que as seguintes situações afetavam
seu trabalho: condições para escrever no quadro e para carregar o material didático,
tempo que permanecia em pé e posição do corpo em relação ao mobiliário e
equipamentos. Também houve associação da dor em membros superiores com a
percepção regular/ruim sobre a quantidade de alunos em sala de aula e o equilíbrio
entre vida pessoal e profissional. A dor na coluna lombar associou-se à percepção
de que escrever no quadro afetava seu trabalho. A dor em membros inferiores
associou-se ao tempo de profissão > 20 anos, à percepção regular/ruim quanto ao
equilíbrio pessoal e profissional e à percepção de que o tempo que permanecia em
pé afetava o trabalho. Foram evidenciadas percepções e codições relativas ao
trabalho docente associadas a diferentes regiões corpóreas afetadas por dor crônica
em professores.
Problemas e estratégias de gestão do SUS em municípios de pequeno porte
Elisangela Pinafo, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 06/04/2017
Este estudo teve o objetivo de compreender a dinâmica da gestão do SUS em
Municípios de Pequeno Porte (MPP) por meio da análise dos problemas e as
estratégias de gestão utilizadas no cotidiano desses municípios. Trata-se de um
subprojeto, fruto de uma pesquisa maior denominada “A gestão do trabalho no SUS
em MPP do Paraná a partir do olhar da Equipe Gestora” aprovada pelo edital do
PPSUS/2013. O estudo foi desenvolvido nos MPP da macrorregião norte do estado
do Paraná, por meio de método misto, utilizando abordagem quantitativa e
qualitativa. A coleta de dados ocorreu em dois movimentos. No primeiro foi realizado
o levantamento do nome e função desempenhada pelas pessoas que integravam a
equipe gestora dos municípios estudados. O segundo movimento abrangeu duas
fases: na primeira, com aspecto quantitativo exploratório, foi caracterizado o perfil da
equipe gestora; a segunda fase abordou aspectos qualitativos sobre os problemas e
as estratégias de gestão, cujos dados foram obtidos por meio de discussões com
integrantes chave das equipes, que foram gravadas durante um curso sobre “A
Gestão do SUS em MPP”. A análise quantitativa ocorreu por meio da análise de
frequência pelo Programa EPI INFO versão 3.5.1. As discussões durante o curso
foram gravadas e transcritas, e realizada análise compreensiva das falas conduzida
pelo referencial teórico da Teoria do Jogo Social e relações de poder, de Carlos
Matus. Em relação ao perfil das pessoas integrantes da equipe gestora, destaca-se:
média de idade de 37,8 anos, 66,7% são do sexo feminino, 70,5% referiram possuir
ensino superior completo. A especialização na área de Gestão e Modelos de
Atenção à Saúde foi a que mais se destacou com 40,2%, 43,6% possuíam
experiência de atuação nas funções de gestão no município de um a seis anos,
97,9% sentiam-se preparados para exercerem sua função e a maioria da equipe
gestora referiu conhecer os instrumentos de gestão e participar de sua elaboração.
Da análise qualitativa foram constituídas as seguintes categorias: Os problemas da
gestão em MPP; As estratégias realizadas no cotidiano da gestão; Limites da gestão
do SUS em MPP. A equipe gestora posiciona-se enquanto atores sociais e jogadores
responsáveis pela transformação da realidade da gestão nestes municípios. Os
problemas identificados abrangeram: o processo de descentralização da gestão do
SUS, sem respeitar a estrutura e os limites dos municípios; a reprodução do modelo
biomédico de atenção à saúde; o número insuficiente de médicos nos MPP; e a
oferta insuficiente de serviços de Média e Alta Complexidade (MAC). Para o
enfrentamento desses problemas, a equipe gestora lança mão de diversas
estratégias como: compra de serviços de MAC; adesão a programas e pactuações;
acordos informais. Mesmo assim tais estratégias não foram potentes para a
completa resolução dos problemas, o que os tornam em desafios para a gestão do
SUS nestas localidades. Esses desafios são mais exacerbados nos municípios
menores, devido a alguns limites como sua invisibilidade frente à organização do
sistema de saúde; a falta de empoderamento dos gestores de MPP, levando a uma
participação pouco efetiva no Consórcio Intermunicipal de Saúde e nas instâncias de
gestão (Comissões Intergestoras Bipartite/Comissões Intergestoras Regionais); e a
incipiente gestão interfederativa. Os enfrentamentos dos problemas devem ser
conduzidos por processos políticos e sociais. É necessário reorganizar o processo
de descentralização, para que o estado assuma uma posição de coordenação
efetiva e co-participação na constituição das redes de atenção e no processo de
regionalização, com financiamento condizente, retomando a responsabilidade pelo
atendimento da população nos níveis de maior complexidade. Também é preciso
fomentar o empoderamento do gestor municipal, com a implantação de uma cultura
de enfrentamento dos problemas de forma coletiva e compartilhada entre os entes
federados. Os trabalhadores de saúde e a população devem ser mobilizados em
defesa deste sistema. Torna-se necessário compreender que os problemas
enfrentados pelos municípios extrapolam a capacidade de gestão e passam a uma
outra dimensão maior, que é o SUS ser visto enquanto uma política de Estado e um
projeto a ser defendido por toda sociedade.
Atividade física no tempo livre e fatores ocupados em professores de educação básica da rede pública
Douglas Fernando Dias, Arthur Eumann Mesas, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 24/03/2017
OBJETIVO: Aprofundar a compreensão sobre a relação trabalho e atividade física no
tempo livre (AFTL) em professores da educação básica. Para isso, consideraram-se
os seguintes objetivos específicos: 1) Sintetizar as evidências científicas sobre fatores
ocupacionais e atividade física (AF) em professores da educação básica no Brasil; 2)
Analisar a associação entre fatores ocupacionais e atividade física insuficiente no
tempo livre (AFI) (<150min/sem) em professores da educação básica da rede pública;
e 3) Analisar a associação entre mudanças autorreferidas nas condições de trabalho
e incidência e manutenção de níveis recomendados de AFTL (≥150min/sem) em
professores da educação básica da rede pública. MÉTODOS: Para a estruturação
desta tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um artigo científico
com metodologia, resultados e conclusões próprias, conforme descrito na sequência.
Objetivo 1) Revisão sistemática sem restrição de idioma ou de data de publicação com
base nos descritores "professor", "atividade física" e termos relacionados. Os demais
objetivos específicos foram explorados no âmbito do projeto Saúde, Estilo de Vida e
Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), no qual
professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina, atuantes em sala de aula
e responsáveis por uma ou mais disciplinas foram entrevistados individualmente em
dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses).
Objetivo 2) Estudo transversal com dados obtidos no baseline. Objetivo 3) Estudo do
tipo coorte prospectiva, mediante análise de dados do baseline e do seguimento.
RESULTADOS: Objetivo 1) Na revisão sistemática foram identificados 17 artigos que
abordaram a AF em professores, todos publicados nos últimos dez anos, com
delineamento transversal e avaliação da AF realizada por meio de
questionários/formulários/escalas. A prevalência de AF variou de 19,3% a 62,4% e
apenas seis estudos verificaram sua associação com fatores ocupacionais. No total,
seis variáveis ocupacionais associaram-se à maior prática de atividade física. Objetivo
2) A prevalência de AFI entre os professores entrevistados foi de 71,9%, condição
associada de maneira independente à percepção de equilíbrio entre vida pessoal e
profissional ruim ou regular, percepção de que o tempo de permanência em pé afeta
o trabalho, percepção de capacidade atual para as exigências físicas do trabalho baixa
ou muito baixa e contrato de trabalho temporário. Objetivo 3) A incidência e
manutenção de níveis recomendados de AFTL ao longo de 24 meses foi de 23,2% e
63,6%, respectivamente. A análise ajustada mostrou que a incidência de níveis
recomendados de AFTL associou-se com a manutenção de bom equilíbrio entre vida
pessoal e profissional, manutenção da percepção de que raramente trabalha demais
e manutenção da percepção de que o trabalho raramente desgasta. CONCLUSÕES:
Com base nos estudos encontrados sobre o trabalho docente e a AF em professores
da educação básica no Brasil, as evidências ainda são insuficientes e os resultados
inconclusivos sobre tal relação. Por outro lado, dois estudos originais incluídos nesta
tese apresentaram evidências de que melhores condições de trabalho associam-se
com menor prevalência de AFI e com maior incidência de níveis recomendados de
AFTL.
Estratégias fortalecedoras de atenção básica no SUS em municípios de pequeno porte da Macrorregião Norte do Paraná
Carolina Milena Domingos, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 16/03/2017
No Brasil, a Política de Atenção Básica possui um conjunto de estratégias indutoras de
mudanças para o fortalecimento da Atenção Básica, que devem ser implementadas pelos
municípios. Dentre esses, os Municípios de Pequeno Porte, muitas vezes, possuem
fragilidades já instaladas que dificultam o desenvolvimento dessas estratégias. Para a
organização da prática de saúde na Atenção Básica por meio de tais ações fortalecedoras,
ressalta-se a equipe gestora dos serviços de saúde municipais como detentoras de papel
decisivo. Diante deste contexto, esse estudo buscou analisar a implementação das estratégias
federais para o fortalecimento da Atenção Básica em Municípios de Pequeno Porte da
macrorregião norte do Paraná. Os dados foram coletados entre 2014 e 2015 durante três
movimentos: no primeiro foi realizada a análise documental que visou identificar e analisar as
Estratégias Fortalecedoras da Atenção Básica no Sistema Único de Saúde; o segundo
movimento utilizou a abordagem quantitativa para levantar as Estratégias Fortalecedoras da
Atenção Básica desenvolvidas nos Municípios de Pequeno Porte e o terceiro movimento
utilizou a abordagem qualitativa para analisar como as Estratégias Fortalecedoras da Atenção
Básica entram na agenda decisória desses municípios, as atividades desenvolvidas para a
operacionalização das mesmas e o significado de sua implementação. O segundo e terceiro
movimentos do estudo foram realizados em 82 municípios da macrorregião norte do Paraná.
A população de estudo foi constituída pelos trabalhadores de saúde que integravam as equipes
gestoras dos mesmos. Foram encontradas 224 normas jurídicas, relacionadas a 22 estratégias
priorizadas pelo Ministério da Saúde para o fortalecimento da Atenção Básica. O
levantamento sobre as estratégias federais em desenvolvimento nos municípios mostrou que
das 22 ações, nove tiveram repasse de recursos nacionais para os mesmos, três foram
relatadas por toda a equipe gestora (744 entrevistados) e 13 foram referidas pela equipe de
gestores chave (55 trabalhadores). Os profissionais da equipe de gestores chave revelaram que
as Estratégias Fortalecedoras da Atenção Básica são formuladas pelo Poder Executivo Federal
e chegam até os municípios “prontas”, principalmente por meio de portarias. Depois de tomar
conhecimento sobre uma nova estratégia, os municípios podem decidir por implantar ou não
determinada ação, ou seja, entra (ou não) na sua agenda. Um conjunto de condições, criadoras
de uma janela de oportunidade influenciam os Municípios de Pequeno Porte a aderir uma
determinada estratégia: os recursos financeiros atrelados à estratégia; a fragilidade do
município em relação ao provimento da força de trabalho e os empreendedores
governamentais do processo decisório dessas ações. Feita a adesão, são desenvolvidas um
conjunto de atividades relacionadas com a implementação das estratégias, dentre essas: a
viabilização e capacitação da força de trabalho; o cumprimento de atividades para avaliação
de resultados e recebimento de recursos; a ação do prefeito no desenvolvimento das
estratégias; o enfrentamento dos impasses relacionados ao profissional médico e a construção
de redes de saúde informais. Para a equipe de gestores chave, as Estratégias Fortalecedoras da
Atenção Básica significaram uma melhoria do cuidado prestado ao longo dos anos, no
entanto, também expressam o domínio do Poder Executivo Federal na formulação dessas
ações.
Formação do enfermeiro para educação em saúde em um currículo integrado: interfaces com o pensamento complexo
Andréia Bendine Gastadi , Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 16/02/2017
As práticas educativas, dentre elas a educação em saúde, constituem uma das principais
dimensões do processo de trabalho do enfermeiro. Apesar do desenvolvimento e de uma
reorientação crescente no campo das reflexões teóricas e metodológicas da educação em
saúde, há ainda avanços a serem alcançados, principalmente na realidade dos serviços de
saúde. Um dos desafios consiste na formação de recursos humanos orientada pela
educação popular e respeito aos saberes da comunidade, em busca de uma cidadania
compartilhada. O curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina desenvolve,
desde o ano 2000, o Currículo Integrado, utilizando a problematização e metodologias ativas
de ensino e aprendizagem. O projeto pedagógico propõe 12 temas transversais,
compreendidos como dinamizadores das atividades acadêmicas, articulados de forma
crescente aos conteúdos específicos e desempenhos essenciais dos módulos. A educação
em saúde constitui um desses temas transversais. O objetivo geral deste estudo foi
compreender como o tema transversal educação em saúde está sendo desenvolvido na
formação do enfermeiro em um currículo integrado. Trata-se de um estudo compreensivo, do
tipo estudo de caso. As fontes de dados foram constituídas de 17 cadernos de planejamento
e desenvolvimento dos módulos interdisciplinares; 23 estudantes que participaram de grupos
focais e 22 estudantes que responderam a um questionário; 11 professores que foram
entrevistados; observação de duas atividades de ensino-aprendizagem envolvendo a
temática em estudo. A coleta de dados ocorreu de novembro de 2013 a fevereiro de 2016. A
análise documental pautou-se nas leituras exploratória, seletiva, analítica e interpretativa. O
material obtido dos grupos focais e entrevistas foi audiogravado e transcrito na íntegra. O
corpus foi produzido por triangulação de dados e analisado na perspectiva do pensamento
complexo de Edgar Morin por meio do círculo hermenêutico crítico. A pesquisa foi aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da universidade em estudo. Os resultados evidenciaram o
tema educação em saúde na formação do enfermeiro sob três perspectivas: a trajetória do
desenvolvimento do tema transversal na formação do enfermeiro, as concepções de
educação em saúde para estudantes e professores e, desafios, potencialidades e sugestões.
No que tange à perspectiva transversal a educação em saúde vem sendo desenvolvida em
todas as séries do currículo em estudo sob diferentes contextos, sendo ainda um desafio
alcançar a multidimensionalidade e a globalidade para a pertinência do conhecimento. No
que tange à perspectiva conceitual os professores contemplam diferentes dimensões que
envolvem, para alguns, o referencial da educação popular em saúde, que, todavia, não se
mostra no conceito dos estudantes, que apresentam conceitos mais voltados ao modelo
tradicional. Os estudantes apresentaram lacunas em relação à compreensão intelectual de
educação em saúde, somando-se a isso o desafio da compreensão humana. No que tange à
perspectiva operacional, na visão dos professores, os desafios estão ligados ao próprio
docente e a questões estruturais e administrativas. Entretanto elencaram como
potencialidades o próprio currículo e o perfil do corpo docente. Conclui-se que as vivências
ancoradas nos princípios da educação popular configuraram boas práticas pedagógicas e
que a formação para a educação em saúde se faz em um processo contínuo de construção
do conhecimento e escolhas em meio a um universo complexo e permeado por incertezas.
Acredita-se que as escolhas devem ser pautadas no respeito, na ética e na humanização,
com práticas educativas baseadas no compartilhamento de saberes e experiências para o
desenvolvimento da autonomia e da cidadania de todos os envolvidos.
Acesso a medicamentos para tratamento de fatores de risco cardiovasculares
Airton José Petris, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 29/01/2014
INTRODUÇÃO: O acesso a medicamentos para tratamento da hipertensão arterial, diabetes
e dislipidemias é um aspecto relevante do controle das doenças cardiovasculares.
OBJETIVO: Analisar a prevalência e a utilização de medicamentos para tratamento da
hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias. MATERIAIS E MÉTODOS: Estudo
epidemiológico de base populacional com delineamento transversal em indivíduos com idade
igual ou superior a 40 anos, residentes na área urbana do município de Cambé/PR. Foram
realizadas entrevistas para preenchimento de Formulário Estruturado sobre utilização de
medicamentos, aferição de pressão arterial (PA) e coleta de sangue para exames laboratoriais.
RESULTADOS: Foram entrevistados 1180 indivíduos, dos quais 1162 tiveram PA aferidas e
967 realizaram exames laboratoriais. A prevalência estimada de hipertensão arterial foi de
56,4%, a de diabetes 13,6% e a de dislipidemias 69,2%. As prevalências de tratamento
medicamentoso entre as pessoas com hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias foram,
respectivamente, 62,0% 59,1%, e 16,1%. Entre os indivíduos com hipertensão arterial que se
tratavam com medicamentos, 39,5% apresentaram PA classificadas como ótima, normal ou
limítrofe; entre os indivíduos com diabetes que utilizavam medicamentos antidiabéticos,
35,9% tinham valores de glicemia de jejum (GJ) compatíveis com as categorias GJ normal e
GJ alterada, e entre os indivíduos com dislipidemias que faziam uso de hipolipemiantes
22,2% apresentaram valores de Colesterol total <200mg/dl e/ou LDL-C <160 mg/dl e/ou
Triglicérides <150mg/dl e/ou HDL-C homens ≥40mg/dl e mulheres ≥50mg/dl. Os fármacos
anti-hipertensivos mais utilizados foram hidroclorotiazida, enalapril, captopril, atenolol,
anlodipino e losartana, sendo suas principais fontes de obtenção os serviços próprios do SUS
(56,0%) e as farmácias e drogarias privadas, mediante pagamento direto pelo usuário (32,0%).
Os fármacos antidiabéticos mais utilizados foram os antidiabéticos orais metformina e
glibenclamida e a insulina NPH, obtidos principalmente nos estabelecimentos vinculados ao
SUS (68,8%) e por aquisição com custeio próprio em farmácias e drogarias privadas (21,6%).
Os fármacos hipolipemiantes mais utilizados foram sinvastatina (81,5%) e bezafibrato
(6,5%), obtidos principalmente por pagamento direto em farmácias e drogarias privadas
(52,2%) e serviços próprios do SUS (33,6%). CONCLUSÃO: O tratamento medicamentoso
da hipertensão arterial mostrou-se superior ao de outras regiões do Brasil, enquanto o da
diabetes é similar. As unidades próprias do SUS eram os principais locais de aquisição de
medicamentos para o tratamento da hipertensão e diabetes, o que sugere que as políticas
públicas de Assistência Farmacêutica em Cambé/PR proporcionam boas condições de
acessibilidade aos mesmos. Para as dislipidemias, entretanto, o alcance das políticas ainda é
limitado. O baixo nível de controle da hipertensão, diabetes e dislipidemias pode indicar que o
acesso aos medicamentos circunscreve-se ao domínio restrito. É recomendado que o
planejamento de ações de atendimento integral às pessoas com hipertensão arterial, diabetes e
dislipidemias baseie-se nos conceitos linha de cuidados e redes matriciais de atenção à saúde.
Qualidade do sono entre professores e fatores associados
Denise Andrade Pereira Meier, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 09/11/2016
O sono desempenha função notável na prevenção de doenças, manutenção e
recuperação da saúde física e mental. Como processo reparador, sofre influências de
fatores determinantes e condicionantes, que o tornam complexo e multifacetado. As
condições adversas de trabalho enfrentadas por professores podem prejudicar sua
qualidade de vida e, consequentemente, seu padrão de sono. Este estudo objetivou
analisar a qualidade do sono e fatores associados em professores da educação
básica. Trata-se de um estudo transversal com professores do ensino fundamental e
médio, alocados nas 20 escolas com maior número de docentes da rede estadual de
Londrina-PR. A coleta de dados, de agosto de 2012 a junho de 2013, deu-se por
entrevistas e aplicação de um questionário respondido pelo professor. Foi analisada a
associação entre pior qualidade do sono e características sociodemográficas, de estilo
de vida, condições de saúde e percepções sobre o trabalho. A qualidade do sono foi
obtida por meio do Pittsburgh Sleep Quality Index, considerando-se a pior qualidade do
sono escores superiores a cinco pontos. Os dados foram digitados e tabulados no
programa Epi Info e Statistical Package for the Social Sciences, respectivamente.
Participaram da pesquisa 972 professores e a taxa de resposta foi de 86,3%. Com
idade média de 41,5 anos, a maioria era do sexo feminino (68,3%), da raça/cor branca
(74,5%), vivia com companheiro (59,1%), tinha renda familiar mensal de até R$ 5 mil
(59,1%) e pós-graduação (87,5%). Mais da metade (52,9%) referiu inatividade física,
8,0% relataram fumar e metade consumia bebida alcoólica. Cerca de 70% citaram o
consumo diário de café. As condições de saúde mais frequentemente referidas foram:
dor crônica (42,1%), ansiedade (25,1%) e depressão (15,4%). A prevalência de pior
qualidade do sono foi de 54,3%. Associaram-se à pior qualidade do sono nas análises
bivariadas: renda mensal familiar de até R$ 5 mil, inatividade física, relatos de
diagnóstico de hipertensão, depressão, ansiedade e dor crônica, ter três vínculos de
trabalho, ter sofrido violência física ou psicológica e percepção negativa em relação a:
remuneração, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, tempo para lazer e família,
quantidade de alunos por sala de aula, ritmo e intensidade do trabalho, número de
tarefas realizadas e tempo disponível para preparar atividades. Entre as variáveis de
condições de trabalho, após análises ajustadas, permaneceram associadas à pior
qualidade do sono: ter sofrido violência física ou psicológica no trabalho como
professor, percepção negativa em relação ao tempo para lazer e para a família e ao
equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A análise detalhada da violência revelou
que todos os tipos permaneceram associados à pior qualidade do sono mesmo após
ajustes. Os dados identificados indicam aspectos importantes sobre a qualidade do
sono e sua associação com algumas características do trabalho docente. Espera-se
que os resultados despertem reflexões para formular políticas públicas que melhorem
as condições laborais desses profissionais, minimizando os efeitos sobre sua
qualidade de vida, incluído o sono.
Identificação e caracterização dos indivíduos com indicação de cuidados paliativos cadastrados na Estratégia Saúde da Família
Fernando Cesar Iwamoto Marcucci, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 22/08/2016
Introdução: Os Cuidados Paliativos (CP) buscam melhorar a qualidade de vida dos
pacientes com doença em fase avançada ou sem possibilidade de cura, mas há
poucos dados relacionados às características e necessidades destes indivíduos no
contexto da atenção primária. Objetivos: Busca-se identificar os indivíduos com
indicação para CP na Estratégia Saúde da Família (ESF); caracterizar suas
condições clínicas e sociodemográficas, os principais sintomas e a capacidade
funcional; e identificar quais serviços estes pacientes receberam da Unidade Básica
de Saúde (UBS). Método: Realizou-se um estudo transversal, de cunho
exploratório, em Londrina-PR. A amostra foi obtida a partir de UBSs que possuíam
equipes da ESF, e estas foram orientadas a indicarem os indivíduos cadastrados
que apresentavam as condições associadas aos CP. Os indivíduos indicados foram
triados pela escala Palliative Care Screening Tool (PCST) e, aqueles incluídos,
foram avaliados por: Questionário de dados sociodemográficos e clínicos; Escala de
Performance de Karnofsky (EPK); Escala Sintomas de Edmonton; e Palliative care
Outcome Scale (POS). Os resultados foram analisados por estatísticas descritiva e
analítica. Resultados: Seis equipes de ESF indicaram 238 pacientes. Destes, 13
faleceram e 38 não foram localizados. Foram triados 187 pacientes pela PCST, 114
foram excluídos, por não preencherem os critérios de inclusão, e 73 foram incluídos.
A frequência de pacientes com indicação de CP foi de 456/100 mil pessoas
registradas na ESF. Daqueles incluídos, 41% eram homens e 59% mulheres, com
média de idade de 77 anos. As doenças demenciais e cerebrovasculares foram os
quadros mais frequentes. A maioria tinha condições crônicas e limitação funcional
importante (média da EPK de 47,9 pontos). Os sintomas mais frequentes foram o
comprometimento do bem-estar, dor, cansaço e sonolência, de intensidade leve.
Houve correlação positiva entre a EPK e os sintomas de dor, cansaço e falta de ar.
A maioria dos pacientes utiliza a UBS para a obtenção de medicamentos e
orientação técnica de enfermeiros, médicos e agentes comunitários. Poucos tiveram atendimento de outros profissionais. Outros problemas percebidos foram a falta de
visita domiciliar e a demora no atendimento. A escala POS indicou maior
comprometimento nos aspectos de informação recebida, no valor próprio e na
ansiedade familiar. Os cuidadores tiveram uma média de idade de 61 ano, a maioria
era mulher, em geral, filhas e cônjuges dos pacientes. Dez indivíduos sem
cuidadores tiveram maior funcionalidade (p<0,01), mas a intensidade de sintomas de
dor (p=0,04) e cansaço (p=0,03), e o escore na escala POS (p=0,01) foram maiores,
indicando maior dificuldade no controle de sintomas e maior limitação na assistência
em CP que o grupo com cuidadores. Discussão: Os casos com necessidade de CP
estão presentes na ESF, mas há limitações na sua assistência. A formulação de
políticas de saúde e a capacitação dos profissionais envolvidos são aspectos
fundamentais para incluir o acesso aos CP no sistema de saúde, especialmente
neste nível de atenção, o que poderia melhorar a qualidade de vida destes pacientes
e seus familiares. Conclusão: Há necessidade de ofertar CP no contexto da ESF.
Para isto, é necessário treinamento, planejamento e políticas específicas nesta área.
A longitudinalidade do cuidado na atenção básica à luz da experiência dos usuários com hipertensão arterial
Crysthianne Cônsolo de Almeida Baricati, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 28/01/2016
A longitudinalidade ou vínculo longitudinal do cuidado, um dos atributos da atenção
básica à saúde, consiste no acompanhamento do usuário ao longo do tempo, na
qual se espera uma relação terapêutica que envolva a responsabilidade por parte do
profissional de saúde e a confiança por parte do usuário. Este atributo é constituído
por três elementos: a existência e o reconhecimento de uma fonte regular de
cuidados, o estabelecimento de vínculo terapêutico duradouro entre os usuários e os
profissionais de saúde da equipe local e a continuidade informacional. Este estudo
teve como objetivo compreender a longitudinalidade do cuidado na atenção básica a
partir da vivência do usuário com hipertensão arterial. Trata-se de pesquisa de
natureza qualitativa, com abordagem descritivo-exploratória, realizada com treze
pessoas com quarenta anos ou mais, residentes na zona urbana do município de
Cambé/PR, com hipertensão arterial e que utilizavam exclusivamente os serviços do
Sistema Único de Saúde. A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2014 e
janeiro de 2015, realizada por meio de entrevista com a questão norteadora: Conteme como tem sido o cuidado da hipertensão arterial na unidade básica de saúde.
Para analisar os dados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo com base em
duas categorias analíticas: a unidade básica de saúde como fonte regular de
cuidados e relação interpessoal para o estabelecimento do vínculo duradouro entre
o usuário e os profissionais. Os depoimentos dos usuários com doenças crônicas
revelam aspectos que apontam a longitudinalidade do cuidado na atenção básica do
município. Os usuários utilizam a unidade básica de saúde como fonte regular do
cuidado, mas não a reconhecem como tal porque há fragilidades quantitativas e
qualitativas nos serviços. Em relação ao estabelecimento do vínculo entre o usuário
e os profissionais, verificou-se que decorreu das relações interpessoais
influenciadas: pelo tempo de moradia na área, pela alta rotatividade dos
profissionais, pela qualidade do processo de comunicação verbal e não verbal entre
os usuários e a equipe, pela permanência do modelo biomédico na atenção básica e
pela dificuldade do usuário reconhecer as categorias profissionais atuantes e suas
atribuições. Conclui-se que exercer o atributo do vínculo longitudinal, embora esteja
relacionado às práticas profissionais, depende da união dos esforços direcionados à
melhoria da quantidade e da qualidade dos serviços ofertados e das estratégias de
valorização dos profissionais.