Teses e Dissertações
Alterações no desempenho cognitivo e funcional após quatro anos de acompanhamento na população de 50 anos ou mais: Projeto VIGICARDIO
Maria Cristina Umpiérrez Vieira, Marcos A. Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/03/2018
OBJETIVO: Identificar a incidência de declínio cognitivo e dependência funcional em
pessoas com 50 ou mais anos residentes na comunidade e analisar a relação com as
variáveis sociodemográficas, de estilo de vida e de condições de saúde. Para isso,
analisou-se a associação entre mudanças em fatores de risco com incidência de
declínio cognitivo (DC) e incidência de dependência funcional para atividades
instrumentais da vida diária (AIVD). MÉTODOS: Para a estruturação desta tese, cada
objetivo específico foi apresentado no formato de um artigo científico com
metodologia, resultados e conclusões próprias, cujos dados foram obtidos em um
projeto de pesquisa de base populacional conhecido como VIGICARDIO, no qual uma
amostra representativa de pessoas do município de Cambé, Paraná, foram
entrevistadas em dois momentos: linha de base (2011) e seguimento (2015). Ambos
os artigos são estudos epidemiológicos observacionais do tipo coorte que utilizam
dados dos dois momentos do VIGICARDIO. O primeiro aborda o declínio cognitivo,
ao passo que o segundo manuscrito tem como desfecho principal a dependência
funcional para realização de AIVD. RESULTADOS: Artigo 1 - A incidência de DC foi
de 13,1%, condição associada de maneira independente à perda do companheiro
durante o seguimento (RR=2,86; IC95%=1,22-6,71) e à presença de depressão
(RR=3,50; IC95%=1,65-7,43). Artigo 2 - A incidência de dependência para AIVD ao
longo de quatro anos foi de 18,9%. A análise ajustada mostrou que esse agravo
associou-se com baixa escolaridade (RR=1,99; IC95%=1,32-3,00), menor condição
socioeconômica (RR=2,03; IC95%=1,24–3,32), ausência de atividade laboral
(RR=2,46; IC95%=1,31–4,61), consumo insuficiente de frutas e verduras (RR=1,90;
IC95%=1,06–3,38), menor pontuação no mini exame do estado mental (RR=2,52;
IC95%=1,53–4,17) e tendeu a se associar com diabetes mellitus (RR=1,39;
IC95%=0,92–2,10). CONCLUSÕES: Os estudos originais incluídos nesta tese
apresentaram evidências de que fatores modificáveis, principalmente piores
condições socioeconômicas e condições crônicas passiveis de prevenção e de
controle, estão associadas a alta incidência de DC e de dependência para AIVD. Estes
dados refletem as iniquidades sociais e as falhas do sistema de saúde e sugerem a
necessidade de planejamento político estratégico que vise o cuidado integral da
população.
Violência e burnout em professores da educação básica de Londrina
Francine Nesello Melanda, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 12/03/2018
O objetivo deste estudo foi analisar se a exposição prévia à violência no
ambiente escolar aumenta o risco de os professores sofrerem novamente
violência após dois anos e identificar relações transversais e longitudinais entre
violência psicológica e burnout. Trata-se de um estudo de coorte com dois anos
de seguimento realizado com 430 professores do ensino fundamental e médio
da rede pública de Londrina, Paraná. As informações foram obtidas em 2012-
2013 (T1) e 2014-2015 (T2) por entrevista face a face realizada por
entrevistadores treinados e preenchimento, pelo próprio professor, de um
questionário. As formas de violências investigadas foram violências
psicológicas (relatos de insultos de alunos, humilhações ou constrangimentos
por colegas ou superiores e ameaças recebidas) e violências físicas, nos 12
meses anteriores à pesquisa. Para mensurar burnout, utilizou-se o Maslach
Burnout Inventory, sendo consideradas apenas as dimensões de exaustão
emocional e despersonalização. Características sociodemográficas,
relacionadas ao trabalho e à saúde foram incluídas como covariáveis. Para a
análise da recorrência de violência foram utilizados o teste de McNemar e a
regressão de Poisson com variância robusta, com apresentação do risco
relativo (RR), intervalo de confiança de 95% (IC95%) e valor de p,
considerando nível de significância de 5%. A relação entre violência psicológica
e burnout foi verificada por modelos de equações estruturais. Violência
psicológica, exaustão emocional e despersonalização foram consideradas
variáveis latentes. Após dois anos, observou-se redução de 65,4% (T1) para
56,9% (T2) de violência reportada por professores (p=0,003), porém devido
apenas à diminuição da frequência de relatos de humilhações ou
constrangimentos por colegas ou superiores. Ter sofrido uma determinada
forma de violência aumentou em até três vezes o risco de sofrê-la novamente
em dois anos. Além disso, professores que relataram três ou quatro formas de
violências em T1 apresentaram RR de 2,23 (IC95%1,70-2,93) de sofrer
qualquer violência em T2, em comparação àqueles que não sofreram qualquer
forma de violência em T1. Não foram encontradas evidências de que estar
exposto à violência psicológica em T1 aumenta o risco de sofrer violência física
em T2 ou que violência física em T1 aumenta o risco de violência psicológica
em T2. Violência psicológica apresentou efeito direto sobre exaustão emocional
e despersonalização, quando analisados transversalmente. Longitudinalmente,
não foram observados efeitos diretos significativos. No entanto, observou-se
um efeito indireto da violência psicológica em T1 sobre ambas as dimensões
de burnout em T2. Este estudo mostrou que a violência contra professores,
exceto a referente a humilhações ou constrangimentos por colegas ou
superiores, é recorrente e que tem efeito sobre o burnout. Tendo em vista o
impacto destrutivo da violência e do burnout no ambiente de trabalho, ressalta-se
a importância da identificação da ocorrência desses eventos no ambiente escolar e
no estabelecimento de políticas de prevenção e gerenciamento da
violência e do esgotamento no trabalho.
Impacto do burnout na saúde de professores da rede pública do Paraná
Denise Albieri Jodas Salvagioni, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 04/12/2017
Burnout é um fenômeno complexo e multidimensional resultante da interação entre
aspectos individuais e ambiente de trabalho. É a resposta ao estresse crônico do
trabalho definida por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e
reduzida realização profissional. Objetivo: Analisar se professores com maior nível de
burnout estão submetidos a maior risco de acidentes de trânsito, depressão e
afastamento da função docente por problemas de saúde. Método: Trata-se de estudo
de coorte prospectiva com dois anos de seguimento. Foram investigados 509
professores do ensino básico estadual do Paraná. Utilizou-se o Maslach Burnout
Inventory. Altos níveis de exaustão emocional e despersonalização (valores acima do
percentil 75) e baixos níveis de realização profissional (valores abaixo do percentil 25)
foram estabelecidos. Os acidentes de trânsito e os motivos de afastamento da função
docente foram autorreferidos pelos entrevistados. Considerou-se depressão o relato de
diagnóstico médico pelo professor. Usou-se Regressão de Poisson com variância
robusta para cálculo do risco relativo. Resultados: A incidência de acidentes de trânsito
entre professores foi de 11%. Após ajustes, a exaustão emocional e a reduzida
realização profissional não influenciaram na incidência de acidente de trânsito. No
entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho – RR=1,73 (IC 95%: 1,05-2,86,
p=0,03). A incidência de depressão foi de 38 casos (9%). Exaustão emocional e
despersonalização influenciaram novos casos de depressão, após ajustes por sexo e
idade, mas perderam significância estatística quando variáveis relacionadas ao
ambiente de trabalho e às condições de saúde foram adicionadas ao modelo. A
incidência de afastamento da função docente por problemas de saúde foi de 31 casos
(6%). Desses, 13 estavam de licença médica (41,9%), 11 foram readaptados (35,5%),
um foi aposentado compulsoriamente (3,2%) e seis abandonaram definitivamente a
docência (19,4%). Após ajustes, a exaustão emocional não influenciou no afastamento
da função docente. No entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho –
RR=2,62 (IC95%: 1,30-5,25, p<0,01). Baixos níveis de realização profissional
apresentaram relação com o afastamento da função docente por problemas de saúde,
porém sem significância estatística – RR=1,90 (IC95%: 0,93-3,87, p=0,08).
Conclusões: Este estudo encontrou que (1) despersonalização é fator de risco para
acidentes de trânsito, com risco 73% maior de professores em burnout sofrerem o
desfecho, independente de sexo, idade e maior exposição ao trânsito; (2) nenhuma
dimensão de burnout foi associada à incidência de depressão, após ajustes e, (3)
despersonalização e reduzida realização profissional mostraram-se indicadoras de
maior risco de afastamento da função docente por problemas de saúde.
Momentos e movimentos da implantação de um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em uma cidade do Sul do Brasil
Sarah Beatriz Coceiro Meirelles Félix, Regina Melchior
Data da defesa: 30/10/2017
O mundo do trabalho é vivo e se constrói em ato a cada encontro. A incorporação de
trabalhadores dos núcleos de apoio à saúde da família para atuar em conjunto com
equipes de saúde da família na atenção básica é exemplo de como os arranjos são
permanentemente atualizados. A entrada de um trabalhador de saúde em um novo
campo é envolta por uma série de acontecimentos, afetações e deslocamentos, e a
sua subjetividade interage com os processos existentes nos locais que ele agora
passa a frequentar e com os sujeitos que ali atuam. Esta tese teve como objetivo
mapear como se deu a entrada dos trabalhadores do NASF em um novo campo de
atuação e como estes gestores e profissionais interagiram com processos de trabalho
já instituídos na Atenção Básica. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa,
na linha da análise micropolítica dos processos de trabalho. Foi acompanhado o
primeiro ano de trabalho de uma equipe de seis profissionais das áreas de educação
física, farmácia, fisioterapia, nutrição e psicologia que atuavam em um Núcleo de
Apoio à Saúde da Família de um município do Sul do Brasil e o grupo de gestores
diretamente envolvido com esta equipe. Os encontros do grupo e as rotinas de
trabalho nas Unidades Básicas de Saúde e fora dela formaram o corpus desta
pesquisa, utilizando-se diálogos, acompanhamento direto e diário de campo como
instrumentos de coleta e registro. O início do trabalho no campo produziu
deslocamentos nos trabalhadores, agenciando-os a buscar novas conexões de
pensamentos, a produzir novas subjetividades e construir processos de trabalho
próprios. A gestão do NASF propiciou dispositivos potentes para a entrada dos novos
profissionais, porém, também gerou separações que ocorreram de diferentes
maneiras. Estas divisões foram estratégias utilizadas pela gestão para organizar os
processos de trabalho das novas equipes NASF, porém, isto influenciou a potência do
trabalho multiprofissional. Percebeu-se a disputa entre trabalhadores e
coordenadoras das UBS na defesa de diferentes projetos de cuidado, esta disputa
também apareceu nas intencionalidades de cada categoria. Nos encontros de
planejamento, a organização dos processos de trabalho e as ofertas de serviços
prevaleciam sobre as discussões do cuidado em si, e isto pode interferir nos processos
de subjetivação em andamento destes trabalhadores. Havia uma busca e uma
cobrança para determinar os papéis de cada um: do NASF na UBS, do gestor e de
cada um dentro da equipe NASF. Porém a cada dia, a cada encontro, a cada projeto
que entra na roda, este papel é atualizado e modificado. Os trabalhadores sofreram
várias influências e foram atravessados por diferentes fluxos de intensidade e a
micropolítica das relações se fez presente. Seguiram linhas de fuga, e num caminho
rizomático produziram territórios coletivos. Os encontros, e como a micropolítica agia
nesses momentos, influenciaram diretamente os movimentos deste primeiro ano de
trabalho e os processos de subjetivação que se constituíram individual e
coletivamente.
Prevalência, incidência e fatores predisponentes à síndrome metabólica na população de 40 anos e mais: Vigicardio 2011-2015
Kécia Costa, Ana Maria Rigo Silva, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 13/09/2017
A Síndrome Metabólica (SM) é definida como um conjunto de alterações
metabólicas que conferem aumento do risco cardiovascular. Sua prevalência
na população adulta tem aumentado no mundo e diversos fatores estão
relacionados à sua ocorrência. Este estudo tem como objetivo analisar o perfil
da SM em uma coorte de adultos de 40 anos e mais, comparando-se a
prevalência da SM e seus componentes entre dois períodos e identificando sua
incidência e fatores preditores após seguimento. Trata-se de um estudo com
dois delineamentos distintos, um comparativo entre dois períodos, 2011 e
2015, e o segundo uma coorte prospectiva. A população de estudo foi
constituída por adultos de 40 anos e mais residentes em Cambé, Paraná. A
coleta de dados da primeira etapa ocorreu entre os meses de fevereiro e maio
de 2011 e foram entrevistados 1180 indivíduos. A segunda etapa iniciou-se em
março e terminou em outubro de 2015 e 885 adultos foram entrevistados. Em
ambas as etapas realizou-se aferição da pressão arterial, medidas
antropométricas e exames laboratoriais. A SM foi identificada segundo a
definição harmonizada, que preconiza a presença de três ou mais dos
componentes: circunferência abdominal ≥102 cm homens e ≥ 88 cm mulheres;
triglicérides: ≥ 150mg/dl e/ou tratamento medicamentoso com hipolipemiantes;
PAS ≥ 130 e/ou PAD ≥ 85 mmHg e/ou tratamento com medicamentos antihipertensivos; HDL: <40 mg/dl em homens e <50 mg/dl em mulheres e/ou
tratamento medicamentos com hipolipemiantes; glicemia jejum: ≥100 mg/dl
e/ou medicamento para tratamento do diabetes. Todas as análises foram
realizadas no programa SPSS 19.0. Para a comparação das prevalências da
SM e de seus componentes entre os períodos foi utilizado o teste de Mc Nemar
e para a comparação entre os sexos o teste Qui-quadrado, adotando-se o nível
de significância de p<0,05. A análise de regressão logística múltipla foi utilizada
para identificar os fatores preditivos para a incidência acumulada da SM em
2015. Houve aumento estatisticamente significativo entre 2011 e 2015 da
prevalência da SM e de todos os seus componentes exceto da glicemia de
jejum alterada. O componente mais prevalente em ambos os períodos foi
alteração dos níveis pressóricos, 68,3% e 71,3% respectivamente. A obesidade
abdominal elevada foi o componente mais frequente entre as mulheres e, entre
os homens foi a alteração dos níveis pressóricos. Após o seguimento, a
incidência acumulada da SM foi de 32,4%. Entre as mulheres foi de 40,1% e,
entre os homens, de 20,0%. Após ajustes, as variáveis que permaneceram
associadas à incidência da SM no sexo feminino foram o hábito de fumar como
fator de proteção, a autopercepção negativa do estado de saúde e a presença
de componentes pré-SM, com aumento da chance de incidência da SM quanto
maior o número de pré-componentes. No sexo masculino apenas o índice da
massa corpórea (IMC) classificado como sobrepeso e/ou obbesidade foi
associado significativamente. Entre as principais conclusões destaca-se a
frequência elevada da SM, a piora do perfil de risco metabólico e
cardiovascular e a obesidade abdominal como um importante fator preditivo. A
condição de SM reconhecida permite classificar os grupos segundo a condição
de risco e planejar intervenções a fim de minimizar as consequências aos
indivíduos e serviços de saúde.
Avaliação de acessibilidade aos serviços de atenção primária e longitudinal do cuidado entre adultos
Bárbara Radigonda, Luiz Cordoni Junior, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 17/07/2017
A atenção primária em saúde (APS) deve ser o contato preferencial dos usuários, a
principal porta de entrada e o centro de comunicação com toda a rede de atenção. A
acessibilidade e a longitudinalidade estão entre os atributos essenciais da APS e
influenciam na efetividade do cuidado e satisfação do usuário. Avaliações produzidas a
partir de análises do cotidiano detectam carências e contribuem para o aperfeiçoamento
da APS. O presente estudo tem como objetivo analisar e avaliar a acessibilidade aos
serviços de atenção primária e a longitudinalidade do cuidado em grupo populacional de
adultos. Trata-se de um estudo transversal composto por adultos de 40 anos ou mais,
participantes de estudo de base populacional – VIGICARDIO - realizado no município
de Cambé – Paraná, em 2011. Em 2015, foi realizado o segundo contato com a
população entrevistada no baseline para verificar as alterações ocorridas no perfil de
risco cardiovascular. Para avaliação do presente estudo, utilizaram-se questões
propostas no PCATooL-Brasil para usuários adultos sendo construída uma matriz de
indicadores e calculado o escore individual, escore do indicador e índice composto das
dimensões de análise – acessibilidade organizacional e longitudinalidade. Os resultados
foram julgados de acordo com os valores obtidos: 2,0-1,80 (Excelente); 1,79-1,40
(Satisfatório); 1,39-1,00 (Regular); <1,00 (Crítico). Na análise descritiva e de
associação foram incluídas variáveis sociodemográficas, econômica, uso de
medicamento, hipertensão arterial e diabetes autorreferidas. As análises foram
realizadas por meio da regressão de Poisson com ajuste de variância robusta e nível de
significância de 5%. Foram entrevistados 885 adultos, entre os 1180 participantes do
baseline. Entre os 92,5% dos indivíduos que mencionaram ter um serviço de referência,
a Unidade Básica de Saúde (UBS) foi o serviço mais citado para o primeiro contato para
um problema de saúde não urgente. A acessibilidade organizacional à UBS mostrou-se
inferior à dos demais serviços analisados – especializados do SUS e
convênio/particular. A maioria dos indicadores de acessibilidade à UBS apresentou
resultados considerados críticos e a obtenção de aconselhamento pelo telefone foi o pior
indicador da dimensão. A proporção dos que conseguem atendimento pelo telefone foi
significativamente mais elevada entre as mulheres (p=0,001) e a facilidade para marcar
consulta de revisão mais elevada entre os homens (p=0,03). Ter vínculo com um médico
e considerá-lo referência para o acompanhamento da saúde, foi citado por 55,2% dos
entrevistados, sendo o médico da UBS o mais referido. A maioria dos indicadores de
relação interpessoal apresentou resultados satisfatórios ou excelentes. Telefonar e falar
com o médico foi o pior indicador dessa dimensão com resultado crítico nos serviços
públicos. Após análise ajustada, nenhum fator permaneceu associado à
longitudinalidade do cuidado. A pesquisa revelou vínculo entre a população atendida e
o profissional médico, no entanto há problemas na acessibilidade organizacional que
apontam para necessidade de estratégias que aprimorem esses atributos visando a
acessibilidade e longitudinalidade do cuidado e, consequentemente, a orientação dos
serviços para o fortalecimento da APS.
Percepção de distúrbios de voz relacionados ao trabalho em professores da rede estadual de ensino e fatores ocupacionais associados
Michelle Moreira Abujamra Fillis, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 26/05/2017
A profissão de professor é considerada de alto risco para a presença do distúrbio de
voz. Além das características do vínculo de trabalho, como carga horária e
quantidade de alunos por sala de aula, certas condições estruturais da escola, a
exposição a cargas físicas e psíquicas e o risco de sofrer violência escolar são
aspectos que merecem destaque na prevenção e no tratamento de problemas
vocais. Objetivos: Analisar as relações entre fatores ocupacionais e condição vocal
em professores da rede estadual de ensino de Londrina, Paraná. Para isso,
consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar a associação entre
fatores ocupacionais e percepção de distúrbio de voz em professores de escolas
públicas estaduais 2) Analisar os fatores de risco ocupacionais para percepção de
distúrbio de voz nesses professores. MÉTODOS: Para a estruturação da presente
tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um estudo com
metodologia, resultados e conclusões próprias. Esses objetivos foram explorados no
âmbito do projeto de pesquisa Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da
Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), o qual permitiu a obtenção das
informações necessárias analisadas nesta tese, além de outras investigações
exploradas pela equipe do projeto. A coleta de dados do PRÓ-MESTRE deu-se em
duas etapas. Para se alcançar o primeiro objetivo específico, realizou-se um estudo
transversal (Estudo 1) com dados coletados na etapa denominada baseline, entre
agosto de 2012 e junho de 2013, em entrevistas individuais de professores com
atuação em sala de aula nos níveis fundamental e/ou médio das 20 maiores escolas
Estaduais de Londrina. Para o segundo objetivo específico, um estudo de
delineamento do tipo coorte (Estudo 2) foi realizado com base em dados do baseline
e, ainda, de novos dados coletados no seguimento dos participantes após o período
de 24 meses (2014-2015). Especificamente para essa análise, consideraram-se
dados do seguimento apenas de participantes que continuavam exercendo a função
de professor da educação básica em escolas públicas. O instrumento para a coleta
de dados foi elaborado com base na literatura e previamente testado em estudo
piloto e após ajustes, a versão definitiva foi constituída por um formulário para
entrevista, cujas respostas eram anotadas pelo entrevistador, com questões
majoritariamente objetivas referentes à percepção de frequência de problemas
vocais, condições de trabalho, estilo de vida, saúde e violência escolar, entre outras
variáveis. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi
Info, versão 3.5.4 e analisados usando o programa SPSS, versão 19.0. A análise
descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de
tendência central e de dispersão. Para a análise bivariada, no estudo 1, utilizou-se a
razão de prevalência (RP) como medida de associação, e foi adotado nível de
significância de 5%. Para as análises ajustadas, construíram-se modelos de
regressão de Poisson. Já no estudo 2, para a análise bivariada, utilizou-se o odds
ratio como medida de associação, e foi adotado nível de significância de 5% (Teste
Qui-quadrado de Wald com apresentação do p-valor e do intervalo de confiança (IC)
de 95%) e para as análises ajustadas, construíram-se modelos de regressão
logística. Resultados: No Estudo 1, a percepção de problemas vocais frequentes foi
de 25,7%. Análises ajustadas mostraram associação desses problemas com
características do vínculo de trabalho (≥40 horas/semana, percepção ruim da
remuneração e dos benefícios de saúde), características do ambiente de trabalho
(quantidade de alunos por sala, exposição a pó de giz e microorganismos), aspectos
psicológicos (menor realização profissional, baixa oportunidade de expressar
opiniões, pior relacionamento com superiores e equilíbrio entre vida profissional e
pessoal) e situações de violência (insultos e assédio moral). No Estudo 2, a
manutenção/piora de percepção de distúrbios de voz frequentes (GPDVF) foi de
19,7% em 24 meses e tal condição associou-se ao sexo feminino, idade mais
elevada, tempo de profissão maior que 12 anos, exposição ao pó de giz, não se
sentir realizado profissionalmente e referir exposição a insultos e a violência física.
Após análise ajustada por sexo e idade, associou-se ao GPDVF a não realização
profissional e a exposição a insultos e violência física. Conclusão: O Estudo 1
permitiu concluir que a percepção de transtornos vocais frequentes afeta um em
cada quatro professores da educação básica e está associada a diversas
características da atividade docente, tanto estruturais como referentes ao processo
de trabalho. No Estudo 2, concluiu-se que um de cada 5 professores mantiveram ou
pioraram a percepção de distúrbio de voz relazionado ao trabalho em 24 meses de
seguimento. Evidenciou-se, ainda, que a insatisfação profissional e a exposição a
condições adversas do trabalho, como a violência, são fatores de risco para a
manutenção ou piora da percepção de distúrbio de voz frequentes.
Prevalência de dor crônica e associação com percepções e condições de trabalho dos professores da rede estadual de ensino de Londrina (PR)
Flávia Lopes Gabani, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 26/04/2017
As condições de trabalho estão relacionadas à ocorrência de dor em professores, a
qual resulta em limitação das atividades diárias, maior número de consultas
médicas, afastamento do trabalho e pior qualidade de vida. O processo álgico pode
ser deflagrado e perpetuado por diversos motivos, que podem diferir de acordo com
as características laborais e as regiões do corpo afetadas. Elucidar esse fenômeno
de forma mais detalhada pode reduzir danos adicionais à saúde do professor. Este
estudo teve por objetivo caracterizar a dor crônica, prevalência e regiões do corpo
mais afetadas, e associar com percepções e condições de trabalho de professores
da rede estadual de ensino de Londrina (PR). Tratou-se de estudo transversal
realizado no período de 2012 a 2013 com professores do ensino fundamental e
médio. Foram excluídos os educadores readaptados ou afastados de função, com
menos de um ano de serviço e com diagnóstico de neoplasia maligna. O desfecho
dor crônica foi dividido em três regiões do corpo: membros superiores, coluna lombar
e membros inferiores. A análise estatística ocorreu por meio de três modelos de
regressão de Poisson e cálculo da razão de prevalência ajustados por variáveis
sociodemográficas, de estilo de vida e comorbidades. Para comparação das
proporções de professores com e sem dor crônica utilizou-se o teste Qui-quadrado
com correção de Yates, considerando nível de significância de 5% (p < 0,05). A
amostra final correspondeu a 958 professores. Dor crônica foi referida por 408
(42,6%) docentes, com maior frequência em mulheres, na faixa etária acima de 40
anos, da raça/cor branca e amarela/indígena, entre aqueles que não realizavam
atividade física pelo menos uma vez por semana ou realizavam de forma
insuficiente, e não consumidores de álcool. Também foi mais frequente na
população com vínculo empregatício tipo estatutário e com tempo de atuação como
professor acima de 20 anos. As regiões reportadas como mais dolorosas foram
membros superiores, cabeça, membros inferiores e coluna lombar. No modelo final
da regressão de Poisson, dor nos membros superiores foi significativamente mais
frequente entre professores que consideravam que as seguintes situações afetavam
seu trabalho: condições para escrever no quadro e para carregar o material didático,
tempo que permanecia em pé e posição do corpo em relação ao mobiliário e
equipamentos. Também houve associação da dor em membros superiores com a
percepção regular/ruim sobre a quantidade de alunos em sala de aula e o equilíbrio
entre vida pessoal e profissional. A dor na coluna lombar associou-se à percepção
de que escrever no quadro afetava seu trabalho. A dor em membros inferiores
associou-se ao tempo de profissão > 20 anos, à percepção regular/ruim quanto ao
equilíbrio pessoal e profissional e à percepção de que o tempo que permanecia em
pé afetava o trabalho. Foram evidenciadas percepções e codições relativas ao
trabalho docente associadas a diferentes regiões corpóreas afetadas por dor crônica
em professores.
Problemas e estratégias de gestão do SUS em municípios de pequeno porte
Elisangela Pinafo, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 06/04/2017
Este estudo teve o objetivo de compreender a dinâmica da gestão do SUS em
Municípios de Pequeno Porte (MPP) por meio da análise dos problemas e as
estratégias de gestão utilizadas no cotidiano desses municípios. Trata-se de um
subprojeto, fruto de uma pesquisa maior denominada “A gestão do trabalho no SUS
em MPP do Paraná a partir do olhar da Equipe Gestora” aprovada pelo edital do
PPSUS/2013. O estudo foi desenvolvido nos MPP da macrorregião norte do estado
do Paraná, por meio de método misto, utilizando abordagem quantitativa e
qualitativa. A coleta de dados ocorreu em dois movimentos. No primeiro foi realizado
o levantamento do nome e função desempenhada pelas pessoas que integravam a
equipe gestora dos municípios estudados. O segundo movimento abrangeu duas
fases: na primeira, com aspecto quantitativo exploratório, foi caracterizado o perfil da
equipe gestora; a segunda fase abordou aspectos qualitativos sobre os problemas e
as estratégias de gestão, cujos dados foram obtidos por meio de discussões com
integrantes chave das equipes, que foram gravadas durante um curso sobre “A
Gestão do SUS em MPP”. A análise quantitativa ocorreu por meio da análise de
frequência pelo Programa EPI INFO versão 3.5.1. As discussões durante o curso
foram gravadas e transcritas, e realizada análise compreensiva das falas conduzida
pelo referencial teórico da Teoria do Jogo Social e relações de poder, de Carlos
Matus. Em relação ao perfil das pessoas integrantes da equipe gestora, destaca-se:
média de idade de 37,8 anos, 66,7% são do sexo feminino, 70,5% referiram possuir
ensino superior completo. A especialização na área de Gestão e Modelos de
Atenção à Saúde foi a que mais se destacou com 40,2%, 43,6% possuíam
experiência de atuação nas funções de gestão no município de um a seis anos,
97,9% sentiam-se preparados para exercerem sua função e a maioria da equipe
gestora referiu conhecer os instrumentos de gestão e participar de sua elaboração.
Da análise qualitativa foram constituídas as seguintes categorias: Os problemas da
gestão em MPP; As estratégias realizadas no cotidiano da gestão; Limites da gestão
do SUS em MPP. A equipe gestora posiciona-se enquanto atores sociais e jogadores
responsáveis pela transformação da realidade da gestão nestes municípios. Os
problemas identificados abrangeram: o processo de descentralização da gestão do
SUS, sem respeitar a estrutura e os limites dos municípios; a reprodução do modelo
biomédico de atenção à saúde; o número insuficiente de médicos nos MPP; e a
oferta insuficiente de serviços de Média e Alta Complexidade (MAC). Para o
enfrentamento desses problemas, a equipe gestora lança mão de diversas
estratégias como: compra de serviços de MAC; adesão a programas e pactuações;
acordos informais. Mesmo assim tais estratégias não foram potentes para a
completa resolução dos problemas, o que os tornam em desafios para a gestão do
SUS nestas localidades. Esses desafios são mais exacerbados nos municípios
menores, devido a alguns limites como sua invisibilidade frente à organização do
sistema de saúde; a falta de empoderamento dos gestores de MPP, levando a uma
participação pouco efetiva no Consórcio Intermunicipal de Saúde e nas instâncias de
gestão (Comissões Intergestoras Bipartite/Comissões Intergestoras Regionais); e a
incipiente gestão interfederativa. Os enfrentamentos dos problemas devem ser
conduzidos por processos políticos e sociais. É necessário reorganizar o processo
de descentralização, para que o estado assuma uma posição de coordenação
efetiva e co-participação na constituição das redes de atenção e no processo de
regionalização, com financiamento condizente, retomando a responsabilidade pelo
atendimento da população nos níveis de maior complexidade. Também é preciso
fomentar o empoderamento do gestor municipal, com a implantação de uma cultura
de enfrentamento dos problemas de forma coletiva e compartilhada entre os entes
federados. Os trabalhadores de saúde e a população devem ser mobilizados em
defesa deste sistema. Torna-se necessário compreender que os problemas
enfrentados pelos municípios extrapolam a capacidade de gestão e passam a uma
outra dimensão maior, que é o SUS ser visto enquanto uma política de Estado e um
projeto a ser defendido por toda sociedade.
Atividade física no tempo livre e fatores ocupados em professores de educação básica da rede pública
Douglas Fernando Dias, Arthur Eumann Mesas, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 24/03/2017
OBJETIVO: Aprofundar a compreensão sobre a relação trabalho e atividade física no
tempo livre (AFTL) em professores da educação básica. Para isso, consideraram-se
os seguintes objetivos específicos: 1) Sintetizar as evidências científicas sobre fatores
ocupacionais e atividade física (AF) em professores da educação básica no Brasil; 2)
Analisar a associação entre fatores ocupacionais e atividade física insuficiente no
tempo livre (AFI) (<150min/sem) em professores da educação básica da rede pública;
e 3) Analisar a associação entre mudanças autorreferidas nas condições de trabalho
e incidência e manutenção de níveis recomendados de AFTL (≥150min/sem) em
professores da educação básica da rede pública. MÉTODOS: Para a estruturação
desta tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um artigo científico
com metodologia, resultados e conclusões próprias, conforme descrito na sequência.
Objetivo 1) Revisão sistemática sem restrição de idioma ou de data de publicação com
base nos descritores "professor", "atividade física" e termos relacionados. Os demais
objetivos específicos foram explorados no âmbito do projeto Saúde, Estilo de Vida e
Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), no qual
professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina, atuantes em sala de aula
e responsáveis por uma ou mais disciplinas foram entrevistados individualmente em
dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses).
Objetivo 2) Estudo transversal com dados obtidos no baseline. Objetivo 3) Estudo do
tipo coorte prospectiva, mediante análise de dados do baseline e do seguimento.
RESULTADOS: Objetivo 1) Na revisão sistemática foram identificados 17 artigos que
abordaram a AF em professores, todos publicados nos últimos dez anos, com
delineamento transversal e avaliação da AF realizada por meio de
questionários/formulários/escalas. A prevalência de AF variou de 19,3% a 62,4% e
apenas seis estudos verificaram sua associação com fatores ocupacionais. No total,
seis variáveis ocupacionais associaram-se à maior prática de atividade física. Objetivo
2) A prevalência de AFI entre os professores entrevistados foi de 71,9%, condição
associada de maneira independente à percepção de equilíbrio entre vida pessoal e
profissional ruim ou regular, percepção de que o tempo de permanência em pé afeta
o trabalho, percepção de capacidade atual para as exigências físicas do trabalho baixa
ou muito baixa e contrato de trabalho temporário. Objetivo 3) A incidência e
manutenção de níveis recomendados de AFTL ao longo de 24 meses foi de 23,2% e
63,6%, respectivamente. A análise ajustada mostrou que a incidência de níveis
recomendados de AFTL associou-se com a manutenção de bom equilíbrio entre vida
pessoal e profissional, manutenção da percepção de que raramente trabalha demais
e manutenção da percepção de que o trabalho raramente desgasta. CONCLUSÕES:
Com base nos estudos encontrados sobre o trabalho docente e a AF em professores
da educação básica no Brasil, as evidências ainda são insuficientes e os resultados
inconclusivos sobre tal relação. Por outro lado, dois estudos originais incluídos nesta
tese apresentaram evidências de que melhores condições de trabalho associam-se
com menor prevalência de AFI e com maior incidência de níveis recomendados de
AFTL.