Teses e Dissertações
Gestão de trabalho no SUS em municípios de pequeno porte
Stela Maris Lopes Santini, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 14/09/2018
Este estudo teve o objetivo de compreender a gestão do trabalho no SUS em
Municípios de Pequeno Porte (MPP) por meio da análise da organização da gestão
do trabalho, dos instrumentos utilizados para provimento e fixação dos trabalhadores
e sua interface com os modelos de administração/gestão pública. Faz parte da
pesquisa denominada ―A gestão do trabalho no SUS em MPP do Paraná a partir do
olhar da Equipe Gestora‖, Chamada Pública de Projetos 04/2012-Programa de
Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS): Gestão Compartilhada em
Saúde, Edição 2011. O estudo foi desenvolvido nos MPP da macrorregião norte do
Estado do Paraná, utilizando abordagem quantitativa e qualitativa. A coleta de dados
ocorreu em três movimentos, sendo o primeiro o levantamento da composição das
Equipes Gestoras (EG) da saúde; o segundo foi realizado por meio de entrevista
estruturada para caracterização do perfil dos Responsáveis pela Área de RH/GT, no
período de novembro/2013 a outubro/2014; e o terceiro abordou aspectos sobre a
gestão do trabalho e dos instrumentos de gestão utilizados. Os dados foram obtidos
por meio de encontros com representantes das equipes gestoras (REG), durante o
curso ―A gestão da força de trabalho no SUS em MPP‖, realizado no período de
março a junho de 2015. Foi possível entrevistar 73 responsáveis pela área de
RH/GT durante o segundo movimento. Destes, 50 (68,5%) encontravam-se atuando
nas prefeituras e 23 (31,5%) nas secretarias municipais de saúde. Mesmo que os
responsáveis pela área de RH/GT estivessem centralizados nas prefeituras, as EG
da saúde também executavam ações nessa área. Dentre as potencialidades da
gestão do trabalho em MPP, foram destacadas a pouca distância física entre as
secretarias municipais e a autonomia para adesão a programas. As fragilidades
foram relacionadas à falta de autonomia para: provimento das equipes, deliberação
para pagamento de direitos trabalhistas e definição para alocação de servidores. Os
Planos de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) não eram específicos para a área da
saúde e geralmente não vinculavam todos os seus servidores. Os MPP possuíam
oferta de profissionais de saúde em seus próprios territórios. No entanto,
determinados programas corriam o risco de ter seus incentivos financeiros
suspensos por dificuldades de provimento de determinadas categorias profissionais.
Algumas legislações foram destacadas como limitadoras para o provimento de
pessoal, sendo elas a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a Emenda
Constitucional (EC) n. 41/2003. As formas de seleção frequentemente aplicadas nos
MPP foram os concursos públicos e os testes seletivos; as admissões por estatuto,
emprego público, contratos, credenciamentos e cargos comissionados. A categoria
médica foi considerada como a de maior dificuldade para provimento. Com a adesão
ao Programa Mais Médicos (PMM) foi atendida a expectativa de provimento dessa
categoria. A rotatividade dava-se mais frequentemente em situações de: vínculos
não estáveis, não inserção a PCCS, exigência de cumprimento de carga horária
contratual e baixos vencimentos. Desenvolviam-se ações que contribuíam para a
fixação dos profissionais, dentre elas, a preferência por contratação de profissionais
já residentes nos municípios e concessão de plantões ou de vínculos adicionais.
Concluiu-se que a gestão do trabalho dos MPP ainda apresenta resquícios da
Administração Pública Patrimonial (APP); as características da Administração
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Pública Burocrática (APB) mostraram-se evidentes nos controles e nas formalidades
dos processos de trabalho, e as influências da Administração Pública Gerencial
(APG) estão sendo vivenciadas nos múltiplos vínculos, em outras formas de
flexibização e na legislação.
Mortes por doenças cerebrovasculares como eventos sentinelas de doenças cardiovasculares na Atenção Básica
Cristhiane Yumi Yonamine, Ana Maria Rigo Silva , Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 26/02/2018
O uso da técnica de evento sentinela, no cotidiano dos serviços de saúde, vem
contribuindo para maior conhecimento sobre a qualidade da atenção à saúde
prestada às populações, permitindo instaurar mecanismos de vigilância e
intervenção precoces. Relativamente às doenças crônicas não transmissíveis,
que são as principais causas de morbimortalidade e afetam negativamente a
qualidade de vida da população, destacam-se as doenças cerebrovasculares. O
presente estudo visa a analisar a assistência prestada pela Atenção Básica às
pessoas, de 74 anos ou menos, que faleceram por doenças cerebrovasculares,
na perspectiva do evento sentinela. Trata-se de um estudo observacional, com
série de casos, utilizando a técnica de investigação de evento sentinela. A
população do estudo correspondeu às pessoas residentes em Cambé, no ano
de 2013, cujas causas descritas nas declarações de óbito foram codificadas
como doenças cerebrovasculares (Capítulo IX da CID10 – Doenças do Aparelho
Circulatório que englobam os diagnósticos I60 a I69). Foram utilizados dados do
Laboratório de Vigilância das Doenças Crônicas Não Transmissíveis da
Secretaria de Saúde do município de Cambé, PR. O Laboratório dispõe de dados
registrados em formulário próprio, advindos das declarações de óbito, dos
prontuários dos serviços de saúde utilizados nos dois anos que antecederam o
óbito e das entrevistas domiciliárias e semiestruturadas com familiares. Cada
caso foi analisado, tendo por referência um modelo lógico elaborado
especificamente para este fim, contendo os componentes utilização da Unidade
Básica de Saúde, reconhecimento, acompanhamento, atendimento e controle da
Hipertensão Arterial. Conforme os componentes do modelo lógico, observou-se
que todos os portadores de Hipertensão Arterial foram reconhecidos como tal
pelas unidades básicas de saúde. Verificaram-se a falta ou a incoerência de
informação em alguns registros, a não utilização de instrumentos oficiais de
acompanhamento, a não cobertura integral pela Estratégia Saúde da Família e
a concentração de ações dos profissionais, elevada em alguns casos e abaixo
da preconizada em outros. Além disso, observou-se que poucos casos
apresentaram dificuldade do controle dos níveis pressóricos devido à não
adesão à terapia medicamentosa. Dessa maneira, pode-se inferir que as mortes
por doenças cerebrovasculares podem servir como eventos sentinela para
avaliar a Atenção Básica, mas destaca-se a ausência de registro, ou subregistro, como a principal falha a ser corrigida na promoção da longitudinalidade
do cuidado, primordial no contexto das doenças crônicas. Além disso, o uso da
tecnologia de eventos sentinela possibilitou analisar aspectos não contemplados
na avaliação quantitativa, contribuindo, dessa maneira, para o planejamento, o
fornecimento de informações e a elaboração de intervenções mais efetivas nos
serviços de saúde.
Associação entre ensino em saúde e percepção de trabalho de alta frequência com práticas relacionadas à alimentação em professores de educação básica de Londrina, Paraná
Renne Rodrigues, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 20/04/2018
A docência possui diversos desafios e responsabilidades, e fatores pessoais,
como o letramento em saúde, e ocupacionais, como o trabalho de alta exigência
(categoria de maior risco do modelo demanda-controle), podem predispor à
realização de condutas alimentares não recomendáveis. Em razão da
importância dos professores para a sociedade, considera-se essencial o
aprofundamento de questões pessoais e laborais com condutas alimentares.
Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivos investigar a associação do
letramento em saúde e das exigências para o trabalho com condutas
alimentares. Para a estruturação desta tese, cada objetivo foi apresentado no
formato de um estudo com métodos, resultados e conclusões próprias. Os
objetivos foram explorados no âmbito do projeto Saúde, Estilo de Vida e Trabalho
de Professores da Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), no qual
professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina foram entrevistados
individualmente em dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e
seguimento (após 24 meses). Desse modo, o primeiro estudo é um recorte
transversal, com dados obtidos no baseline, investigando a associação entre o
letramento em saúde (obtido por meio da ferramenta Newest Vital Sign – NVS)
e condutas alimentares. O segundo estudo é uma coorte prospectiva que
investiga a influência do trabalho de alta exigência em condutas alimentares. O
letramento em saúde inadequado foi observado em 62,6% dos 927 professores
incluídos no primeiro estudo, associando-se com menor frequência de consulta
a informações nutricionais em professores mais jovens, e com maior chance de
consumo de alimentos pré-preparados frequentemente entre os professores de
meia idade. O trabalho de alta exigência medido no baseline foi identificado em
39,2% dos 502 professores incluídos no segundo estudo, associando-se com
maior chance de manutenção do consumo não frequente de frutas, maior chance
de diminuição do consumo de frutas e verduras/legumes e com menor chance
de diminuição do consumo de gordura visível de carne vermelha, após 24 meses
de seguimento. Com base nos resultados encontrados é possível identificar que
tanto o letramento em saúde inadequado (em recorte transversal) quanto o
trabalho de alta exigência (em recorte longitudinal) estão implicados na maior
chance de manutenção de condutas alimentares não recomendados e piora de
condutas alimentares, bem como na menor chance de melhora de condutas
alimentares. É importante ressaltar que diversas associações esperadas entre
letramento em saúde e condutas alimentares não se confirmaram na presente
população. Desse modo, sugere-se a discussão sobre as condições de trabalho
e ações integradas que visem o incentivo à alimentação saudável.
Qualidade do sono em professores de educação básica: correlação entre métodos subjetivos e objetivos e sua relação com dor lombar crônica e uso de medicamentos
Marcela Zambrim Campanini, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 18/04/2018
OBJETIVO: Examinar a correlação entre medidas subjetivas e objetivas do sono, bem
como a relação entre sono, dor lombar crônica (DLC) e o uso de medicamentos em
professores da educação básica. Objetivos específicos: 1) Analisar a correlação e
concordância entre parâmetros subjetivos (diário) e objetivos (actigrafia) do sono; 2)
Analisar a associação bidirecional e prospectiva entre sono e dor lombar crônica; 3)
Investigar a associação entre o número de medicamentos de uso contínuo e parâmetros
do sono. MÉTODOS: Para a estruturação desta tese, uma introdução abordando os
temas de interesse foi elaborada. Em seguida, os objetivos específicos 1, 2 e 3 foram
contemplados na forma de 3 estudos, cujos resultados e discussões foram abordados
separadamente. A população estudada faz parte do projeto Saúde, Estilo de Vida e
Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (Pró-Mestre), no qual professores
das 20 maiores escolas estaduais de Londrina (PR) foram entrevistados individualmente
em dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses).
No seguimento, uma subamostra de professores (n=168) utilizou um actígrafo para
registro do ritmo vigília-sono e preencheu um diário de atividades durante 7 dias.
RESULTADOS: A concordância (coeficiente de correlação intraclasse – ICC) e a
correlação (coeficiente de correlação de Pearson ou Spearman - r) entre actígrafo e
diário foram de moderadas a altas para o tempo total de sono (ICC= 0,70; r= 0,60),
tempo total de cama (ICC= 0,83; r= 0,73), horário de dormir (ICC= 0,95; r= 0,91), hora
de início do sono (ICC= 0,94; r= 0,88) e hora de despertar (ICC= 0,87; r= 0,78).
Entretanto, a latência do sono (ICC= 0,49; r= 0,38) e a eficiência do sono (ICC= 0,16;
r= 0,22) demonstraram baixa concordância e correlação. O sono de pior qualidade
(PSQI>5) foi um fator preditor para dor lombar crônica persistente após 2 anos de
seguimento (Risco Relativo [RR]= 2,98, Intervalo de Confiança [IC] de 95%= 1,19-
7,48) mas não para novos casos dessa dor (RR= 1,09, IC 95%= 0,57-2,07). Não foram
encontradas associações entre a dor lombar crônica no baseline e a qualidade do sono
no seguimento. Nos participantes que tinham dor lombar crônica, a duração do sono ≤6
horas (RR= 1,54, IC 95%= 1,06; 2,25) e a eficiência do sono <85% (RR= 1,42, IC
95%= 1,07-1,89) medidas por actigrafia, e a hora de deitar reportada no diário >23h30m
(RR= 1,54, IC 95%= 1,06; 2,24) foram associadas ao relato de dor no dia seguinte. O
uso de ≥3 medicamentos foi associado com menor duração do sono (Odds ratio [OR]=
2,51; IC 95%= 1,01-6,21), maior latência do sono (OR= 2,65; IC 95%= 1,00-7,02) e
maior número de despertares durante a noite (OR= 3.30; IC 95%= 1,32-8,28), medidos
por actigrafia; e com maior latência (OR= 3,76; IC 95%= 1,36-10,5) e menor eficiência
do sono (OR=11,6; IC 95% =2,92-46,1), medidos pelo diário. O incremento de 1
medicamento foi associado a maior latência e menor eficiência autorreportados.
CONCLUSÕES: A actigrafia e o diário do sono demonstraram variados graus de
concordância nos parâmetros do sono, sugerindo que esses métodos medem diferentes
dimensões do sono, especialmente em relação à latência e à eficiência do sono. Os
parâmetros do sono podem desempenhar o papel de preditores de dor lombar crônica a
longo e a curto prazo. O uso contínuo de ≥3 medicamentos está associado a piores
parâmetros objetivos e subjetivos do sono em professores.
Alterações no desempenho cognitivo e funcional após quatro anos de acompanhamento na população de 50 anos ou mais: Projeto VIGICARDIO
Maria Cristina Umpiérrez Vieira, Marcos A. Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/03/2018
OBJETIVO: Identificar a incidência de declínio cognitivo e dependência funcional em
pessoas com 50 ou mais anos residentes na comunidade e analisar a relação com as
variáveis sociodemográficas, de estilo de vida e de condições de saúde. Para isso,
analisou-se a associação entre mudanças em fatores de risco com incidência de
declínio cognitivo (DC) e incidência de dependência funcional para atividades
instrumentais da vida diária (AIVD). MÉTODOS: Para a estruturação desta tese, cada
objetivo específico foi apresentado no formato de um artigo científico com
metodologia, resultados e conclusões próprias, cujos dados foram obtidos em um
projeto de pesquisa de base populacional conhecido como VIGICARDIO, no qual uma
amostra representativa de pessoas do município de Cambé, Paraná, foram
entrevistadas em dois momentos: linha de base (2011) e seguimento (2015). Ambos
os artigos são estudos epidemiológicos observacionais do tipo coorte que utilizam
dados dos dois momentos do VIGICARDIO. O primeiro aborda o declínio cognitivo,
ao passo que o segundo manuscrito tem como desfecho principal a dependência
funcional para realização de AIVD. RESULTADOS: Artigo 1 - A incidência de DC foi
de 13,1%, condição associada de maneira independente à perda do companheiro
durante o seguimento (RR=2,86; IC95%=1,22-6,71) e à presença de depressão
(RR=3,50; IC95%=1,65-7,43). Artigo 2 - A incidência de dependência para AIVD ao
longo de quatro anos foi de 18,9%. A análise ajustada mostrou que esse agravo
associou-se com baixa escolaridade (RR=1,99; IC95%=1,32-3,00), menor condição
socioeconômica (RR=2,03; IC95%=1,24–3,32), ausência de atividade laboral
(RR=2,46; IC95%=1,31–4,61), consumo insuficiente de frutas e verduras (RR=1,90;
IC95%=1,06–3,38), menor pontuação no mini exame do estado mental (RR=2,52;
IC95%=1,53–4,17) e tendeu a se associar com diabetes mellitus (RR=1,39;
IC95%=0,92–2,10). CONCLUSÕES: Os estudos originais incluídos nesta tese
apresentaram evidências de que fatores modificáveis, principalmente piores
condições socioeconômicas e condições crônicas passiveis de prevenção e de
controle, estão associadas a alta incidência de DC e de dependência para AIVD. Estes
dados refletem as iniquidades sociais e as falhas do sistema de saúde e sugerem a
necessidade de planejamento político estratégico que vise o cuidado integral da
população.
Violência e burnout em professores da educação básica de Londrina
Francine Nesello Melanda, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 12/03/2018
O objetivo deste estudo foi analisar se a exposição prévia à violência no
ambiente escolar aumenta o risco de os professores sofrerem novamente
violência após dois anos e identificar relações transversais e longitudinais entre
violência psicológica e burnout. Trata-se de um estudo de coorte com dois anos
de seguimento realizado com 430 professores do ensino fundamental e médio
da rede pública de Londrina, Paraná. As informações foram obtidas em 2012-
2013 (T1) e 2014-2015 (T2) por entrevista face a face realizada por
entrevistadores treinados e preenchimento, pelo próprio professor, de um
questionário. As formas de violências investigadas foram violências
psicológicas (relatos de insultos de alunos, humilhações ou constrangimentos
por colegas ou superiores e ameaças recebidas) e violências físicas, nos 12
meses anteriores à pesquisa. Para mensurar burnout, utilizou-se o Maslach
Burnout Inventory, sendo consideradas apenas as dimensões de exaustão
emocional e despersonalização. Características sociodemográficas,
relacionadas ao trabalho e à saúde foram incluídas como covariáveis. Para a
análise da recorrência de violência foram utilizados o teste de McNemar e a
regressão de Poisson com variância robusta, com apresentação do risco
relativo (RR), intervalo de confiança de 95% (IC95%) e valor de p,
considerando nível de significância de 5%. A relação entre violência psicológica
e burnout foi verificada por modelos de equações estruturais. Violência
psicológica, exaustão emocional e despersonalização foram consideradas
variáveis latentes. Após dois anos, observou-se redução de 65,4% (T1) para
56,9% (T2) de violência reportada por professores (p=0,003), porém devido
apenas à diminuição da frequência de relatos de humilhações ou
constrangimentos por colegas ou superiores. Ter sofrido uma determinada
forma de violência aumentou em até três vezes o risco de sofrê-la novamente
em dois anos. Além disso, professores que relataram três ou quatro formas de
violências em T1 apresentaram RR de 2,23 (IC95%1,70-2,93) de sofrer
qualquer violência em T2, em comparação àqueles que não sofreram qualquer
forma de violência em T1. Não foram encontradas evidências de que estar
exposto à violência psicológica em T1 aumenta o risco de sofrer violência física
em T2 ou que violência física em T1 aumenta o risco de violência psicológica
em T2. Violência psicológica apresentou efeito direto sobre exaustão emocional
e despersonalização, quando analisados transversalmente. Longitudinalmente,
não foram observados efeitos diretos significativos. No entanto, observou-se
um efeito indireto da violência psicológica em T1 sobre ambas as dimensões
de burnout em T2. Este estudo mostrou que a violência contra professores,
exceto a referente a humilhações ou constrangimentos por colegas ou
superiores, é recorrente e que tem efeito sobre o burnout. Tendo em vista o
impacto destrutivo da violência e do burnout no ambiente de trabalho, ressalta-se
a importância da identificação da ocorrência desses eventos no ambiente escolar e
no estabelecimento de políticas de prevenção e gerenciamento da
violência e do esgotamento no trabalho.
Impacto do burnout na saúde de professores da rede pública do Paraná
Denise Albieri Jodas Salvagioni, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 04/12/2017
Burnout é um fenômeno complexo e multidimensional resultante da interação entre
aspectos individuais e ambiente de trabalho. É a resposta ao estresse crônico do
trabalho definida por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e
reduzida realização profissional. Objetivo: Analisar se professores com maior nível de
burnout estão submetidos a maior risco de acidentes de trânsito, depressão e
afastamento da função docente por problemas de saúde. Método: Trata-se de estudo
de coorte prospectiva com dois anos de seguimento. Foram investigados 509
professores do ensino básico estadual do Paraná. Utilizou-se o Maslach Burnout
Inventory. Altos níveis de exaustão emocional e despersonalização (valores acima do
percentil 75) e baixos níveis de realização profissional (valores abaixo do percentil 25)
foram estabelecidos. Os acidentes de trânsito e os motivos de afastamento da função
docente foram autorreferidos pelos entrevistados. Considerou-se depressão o relato de
diagnóstico médico pelo professor. Usou-se Regressão de Poisson com variância
robusta para cálculo do risco relativo. Resultados: A incidência de acidentes de trânsito
entre professores foi de 11%. Após ajustes, a exaustão emocional e a reduzida
realização profissional não influenciaram na incidência de acidente de trânsito. No
entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho – RR=1,73 (IC 95%: 1,05-2,86,
p=0,03). A incidência de depressão foi de 38 casos (9%). Exaustão emocional e
despersonalização influenciaram novos casos de depressão, após ajustes por sexo e
idade, mas perderam significância estatística quando variáveis relacionadas ao
ambiente de trabalho e às condições de saúde foram adicionadas ao modelo. A
incidência de afastamento da função docente por problemas de saúde foi de 31 casos
(6%). Desses, 13 estavam de licença médica (41,9%), 11 foram readaptados (35,5%),
um foi aposentado compulsoriamente (3,2%) e seis abandonaram definitivamente a
docência (19,4%). Após ajustes, a exaustão emocional não influenciou no afastamento
da função docente. No entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho –
RR=2,62 (IC95%: 1,30-5,25, p<0,01). Baixos níveis de realização profissional
apresentaram relação com o afastamento da função docente por problemas de saúde,
porém sem significância estatística – RR=1,90 (IC95%: 0,93-3,87, p=0,08).
Conclusões: Este estudo encontrou que (1) despersonalização é fator de risco para
acidentes de trânsito, com risco 73% maior de professores em burnout sofrerem o
desfecho, independente de sexo, idade e maior exposição ao trânsito; (2) nenhuma
dimensão de burnout foi associada à incidência de depressão, após ajustes e, (3)
despersonalização e reduzida realização profissional mostraram-se indicadoras de
maior risco de afastamento da função docente por problemas de saúde.
Momentos e movimentos da implantação de um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em uma cidade do Sul do Brasil
Sarah Beatriz Coceiro Meirelles Félix, Regina Melchior
Data da defesa: 30/10/2017
O mundo do trabalho é vivo e se constrói em ato a cada encontro. A incorporação de
trabalhadores dos núcleos de apoio à saúde da família para atuar em conjunto com
equipes de saúde da família na atenção básica é exemplo de como os arranjos são
permanentemente atualizados. A entrada de um trabalhador de saúde em um novo
campo é envolta por uma série de acontecimentos, afetações e deslocamentos, e a
sua subjetividade interage com os processos existentes nos locais que ele agora
passa a frequentar e com os sujeitos que ali atuam. Esta tese teve como objetivo
mapear como se deu a entrada dos trabalhadores do NASF em um novo campo de
atuação e como estes gestores e profissionais interagiram com processos de trabalho
já instituídos na Atenção Básica. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa,
na linha da análise micropolítica dos processos de trabalho. Foi acompanhado o
primeiro ano de trabalho de uma equipe de seis profissionais das áreas de educação
física, farmácia, fisioterapia, nutrição e psicologia que atuavam em um Núcleo de
Apoio à Saúde da Família de um município do Sul do Brasil e o grupo de gestores
diretamente envolvido com esta equipe. Os encontros do grupo e as rotinas de
trabalho nas Unidades Básicas de Saúde e fora dela formaram o corpus desta
pesquisa, utilizando-se diálogos, acompanhamento direto e diário de campo como
instrumentos de coleta e registro. O início do trabalho no campo produziu
deslocamentos nos trabalhadores, agenciando-os a buscar novas conexões de
pensamentos, a produzir novas subjetividades e construir processos de trabalho
próprios. A gestão do NASF propiciou dispositivos potentes para a entrada dos novos
profissionais, porém, também gerou separações que ocorreram de diferentes
maneiras. Estas divisões foram estratégias utilizadas pela gestão para organizar os
processos de trabalho das novas equipes NASF, porém, isto influenciou a potência do
trabalho multiprofissional. Percebeu-se a disputa entre trabalhadores e
coordenadoras das UBS na defesa de diferentes projetos de cuidado, esta disputa
também apareceu nas intencionalidades de cada categoria. Nos encontros de
planejamento, a organização dos processos de trabalho e as ofertas de serviços
prevaleciam sobre as discussões do cuidado em si, e isto pode interferir nos processos
de subjetivação em andamento destes trabalhadores. Havia uma busca e uma
cobrança para determinar os papéis de cada um: do NASF na UBS, do gestor e de
cada um dentro da equipe NASF. Porém a cada dia, a cada encontro, a cada projeto
que entra na roda, este papel é atualizado e modificado. Os trabalhadores sofreram
várias influências e foram atravessados por diferentes fluxos de intensidade e a
micropolítica das relações se fez presente. Seguiram linhas de fuga, e num caminho
rizomático produziram territórios coletivos. Os encontros, e como a micropolítica agia
nesses momentos, influenciaram diretamente os movimentos deste primeiro ano de
trabalho e os processos de subjetivação que se constituíram individual e
coletivamente.
Prevalência, incidência e fatores predisponentes à síndrome metabólica na população de 40 anos e mais: Vigicardio 2011-2015
Kécia Costa, Ana Maria Rigo Silva, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 13/09/2017
A Síndrome Metabólica (SM) é definida como um conjunto de alterações
metabólicas que conferem aumento do risco cardiovascular. Sua prevalência
na população adulta tem aumentado no mundo e diversos fatores estão
relacionados à sua ocorrência. Este estudo tem como objetivo analisar o perfil
da SM em uma coorte de adultos de 40 anos e mais, comparando-se a
prevalência da SM e seus componentes entre dois períodos e identificando sua
incidência e fatores preditores após seguimento. Trata-se de um estudo com
dois delineamentos distintos, um comparativo entre dois períodos, 2011 e
2015, e o segundo uma coorte prospectiva. A população de estudo foi
constituída por adultos de 40 anos e mais residentes em Cambé, Paraná. A
coleta de dados da primeira etapa ocorreu entre os meses de fevereiro e maio
de 2011 e foram entrevistados 1180 indivíduos. A segunda etapa iniciou-se em
março e terminou em outubro de 2015 e 885 adultos foram entrevistados. Em
ambas as etapas realizou-se aferição da pressão arterial, medidas
antropométricas e exames laboratoriais. A SM foi identificada segundo a
definição harmonizada, que preconiza a presença de três ou mais dos
componentes: circunferência abdominal ≥102 cm homens e ≥ 88 cm mulheres;
triglicérides: ≥ 150mg/dl e/ou tratamento medicamentoso com hipolipemiantes;
PAS ≥ 130 e/ou PAD ≥ 85 mmHg e/ou tratamento com medicamentos antihipertensivos; HDL: <40 mg/dl em homens e <50 mg/dl em mulheres e/ou
tratamento medicamentos com hipolipemiantes; glicemia jejum: ≥100 mg/dl
e/ou medicamento para tratamento do diabetes. Todas as análises foram
realizadas no programa SPSS 19.0. Para a comparação das prevalências da
SM e de seus componentes entre os períodos foi utilizado o teste de Mc Nemar
e para a comparação entre os sexos o teste Qui-quadrado, adotando-se o nível
de significância de p<0,05. A análise de regressão logística múltipla foi utilizada
para identificar os fatores preditivos para a incidência acumulada da SM em
2015. Houve aumento estatisticamente significativo entre 2011 e 2015 da
prevalência da SM e de todos os seus componentes exceto da glicemia de
jejum alterada. O componente mais prevalente em ambos os períodos foi
alteração dos níveis pressóricos, 68,3% e 71,3% respectivamente. A obesidade
abdominal elevada foi o componente mais frequente entre as mulheres e, entre
os homens foi a alteração dos níveis pressóricos. Após o seguimento, a
incidência acumulada da SM foi de 32,4%. Entre as mulheres foi de 40,1% e,
entre os homens, de 20,0%. Após ajustes, as variáveis que permaneceram
associadas à incidência da SM no sexo feminino foram o hábito de fumar como
fator de proteção, a autopercepção negativa do estado de saúde e a presença
de componentes pré-SM, com aumento da chance de incidência da SM quanto
maior o número de pré-componentes. No sexo masculino apenas o índice da
massa corpórea (IMC) classificado como sobrepeso e/ou obbesidade foi
associado significativamente. Entre as principais conclusões destaca-se a
frequência elevada da SM, a piora do perfil de risco metabólico e
cardiovascular e a obesidade abdominal como um importante fator preditivo. A
condição de SM reconhecida permite classificar os grupos segundo a condição
de risco e planejar intervenções a fim de minimizar as consequências aos
indivíduos e serviços de saúde.
Avaliação de acessibilidade aos serviços de atenção primária e longitudinal do cuidado entre adultos
Bárbara Radigonda, Luiz Cordoni Junior, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 17/07/2017
A atenção primária em saúde (APS) deve ser o contato preferencial dos usuários, a
principal porta de entrada e o centro de comunicação com toda a rede de atenção. A
acessibilidade e a longitudinalidade estão entre os atributos essenciais da APS e
influenciam na efetividade do cuidado e satisfação do usuário. Avaliações produzidas a
partir de análises do cotidiano detectam carências e contribuem para o aperfeiçoamento
da APS. O presente estudo tem como objetivo analisar e avaliar a acessibilidade aos
serviços de atenção primária e a longitudinalidade do cuidado em grupo populacional de
adultos. Trata-se de um estudo transversal composto por adultos de 40 anos ou mais,
participantes de estudo de base populacional – VIGICARDIO - realizado no município
de Cambé – Paraná, em 2011. Em 2015, foi realizado o segundo contato com a
população entrevistada no baseline para verificar as alterações ocorridas no perfil de
risco cardiovascular. Para avaliação do presente estudo, utilizaram-se questões
propostas no PCATooL-Brasil para usuários adultos sendo construída uma matriz de
indicadores e calculado o escore individual, escore do indicador e índice composto das
dimensões de análise – acessibilidade organizacional e longitudinalidade. Os resultados
foram julgados de acordo com os valores obtidos: 2,0-1,80 (Excelente); 1,79-1,40
(Satisfatório); 1,39-1,00 (Regular); <1,00 (Crítico). Na análise descritiva e de
associação foram incluídas variáveis sociodemográficas, econômica, uso de
medicamento, hipertensão arterial e diabetes autorreferidas. As análises foram
realizadas por meio da regressão de Poisson com ajuste de variância robusta e nível de
significância de 5%. Foram entrevistados 885 adultos, entre os 1180 participantes do
baseline. Entre os 92,5% dos indivíduos que mencionaram ter um serviço de referência,
a Unidade Básica de Saúde (UBS) foi o serviço mais citado para o primeiro contato para
um problema de saúde não urgente. A acessibilidade organizacional à UBS mostrou-se
inferior à dos demais serviços analisados – especializados do SUS e
convênio/particular. A maioria dos indicadores de acessibilidade à UBS apresentou
resultados considerados críticos e a obtenção de aconselhamento pelo telefone foi o pior
indicador da dimensão. A proporção dos que conseguem atendimento pelo telefone foi
significativamente mais elevada entre as mulheres (p=0,001) e a facilidade para marcar
consulta de revisão mais elevada entre os homens (p=0,03). Ter vínculo com um médico
e considerá-lo referência para o acompanhamento da saúde, foi citado por 55,2% dos
entrevistados, sendo o médico da UBS o mais referido. A maioria dos indicadores de
relação interpessoal apresentou resultados satisfatórios ou excelentes. Telefonar e falar
com o médico foi o pior indicador dessa dimensão com resultado crítico nos serviços
públicos. Após análise ajustada, nenhum fator permaneceu associado à
longitudinalidade do cuidado. A pesquisa revelou vínculo entre a população atendida e
o profissional médico, no entanto há problemas na acessibilidade organizacional que
apontam para necessidade de estratégias que aprimorem esses atributos visando a
acessibilidade e longitudinalidade do cuidado e, consequentemente, a orientação dos
serviços para o fortalecimento da APS.