Teses e Dissertações
Associação entre qualidade do sono, atividade física e sedentarismo em professores do ensino básico de Londrina, Paraná
Marcelly Barreto Correa, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 06/04/2021
Introdução: A qualidade do sono pode afetar o desempenho físico, ocupacional, os
processamentos cognitivo e social, e ter consequências negativas à saúde e à vida
pessoal e profissional dos professores. Objetivos: Analisar a relação entre a
qualidade do sono e a prática de atividade física no tempo livre (AFTL) e o tempo
assistindo televisão (TV) em professores da educação básica da rede pública de
Londrina, Paraná. Métodos: Trata-se de um estudo longitudinal prospectivo, de tipo
coorte, que incluiu professores que atuavam como docentes em sala de aula,
ministrando aulas para estudantes do nível fundamental (anos finais), e que
participaram das duas etapas do estudo PRÓMESTRE (baseline em 2012-2013 e
seguimento após 24 meses, em 2014-2015). A coleta de dados foi realizada em
entrevista pré-agendada, com duração de aproximadamente uma hora, constituída
por formulário e questionário, contendo questões sobre características
sociodemográficas, de estilo de vida, saúde, ocupacionais e qualidade do sono
avaliada por meio do índice Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI). As análises
estatísticas incluíram modelos de regressão logística ajustados por variáveis
sociodemográficas (sexo, faixa etária, estado civil e renda), antropométrica (índice de
massa corporal) e ocupacional (carga horária), de estilo de vida (AFTL, tempo
assistindo TV, consumo de tabaco, álcool e café) e de saúde (relato de ansiedade e
depressão diagnosticados por um médico). O presente estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Resultados:
Entre os 195 professores (66,2% mulheres, idade média de 42 anos) entrevistados
no baseline e classificados como referindo boa qualidade do sono (PSQI ≤5 pontos),
a incidência de pior qualidade do sono (PSQI>5) após 24 meses foi de 31,8% (n=62).
Nas análises ajustadas por todas as variáveis de confusão, os professores que eram
fisicamente inativos no tempo livre no início do estudo apresentaram quase três vezes
mais chance de desenvolver pior qualidade do sono ao longo do seguimento (odds
ratio [OR]=2,88; intervalo de confiança [IC] 95%=1,46-7,97). Esse risco foi
semelhante entre os professores que se mantiveram inativos com relação à AFTL
entre o baseline e o seguimento (OR=2,72; IC 95%=1,22-6,03). Ao estratificar o
tempo semanal de AFTL pelo ponto de corte de 150 minutos, manter-se inativo
(AFTL<150 minutos/semana) associou-se com maior chance de pior qualidade do
sono (OR=2,91; IC 95%=1,10-7,68). Com relação ao marcador de comportamento
sedentário tempo assistindo TV, observou-se que os professores que assistiam TV
mais 60 minutos diários tanto no baseline quanto no seguimento apresentaram maior
chance de pior qualidade do sono (OR=2,70; IC 95%=1,14-6,38), independentemente
dos fatores de confusão considerados. Conclusão: A manutenção da inatividade
física (<150 minutos semanais) e do tempo prolongado (>60 minutos diários)
assistindo TV por um período de 24 meses aumentou a chance de pior qualidade do
sono em professores.
Cartografia do cuidado ao cuidador: encontros, resistências e produção de linhas de fuga
Ana Lúcia De Grandi, Regina Melchior, Josiane Vivian Camargo de Lima
Data da defesa: 31/03/2021
A partir do referencial da micropolítica do trabalho e cuidado em saúde, desejamos
cartografar, neste trabalho, o cuidado do cuidador, vivenciar as experiências do
cuidador na produção do seu cuidado e na produção do cuidado do outro, pensando
o cuidado do cuidador como processo singular e necessário para o estabelecimento
de relações com o outro e da afetividade. Para isso, acompanhamos um Serviço de
Atenção Domiciliar (SAD) e, durante os encontros junto à cuidadora, nos
impregnamos de sua existência e de sua trajetória para acompanhar como o
cuidador vivencia seu cuidado. Assim, nos construímos enquanto cartógrafa e,
analisando nossas próprias implicações com o tema do cuidado do cuidador,
surgiram dois analisadores: o SAD como local de produção de vínculo e cuidado
integral e a dificuldade da continuidade do cuidado na rede de atenção; a solidão da
cuidadora e seus movimentos de resistência. Os encontros com a cuidadora-guia
permitiram perceber sua multiplicidade, a nossa e a dos trabalhadores da saúde. As
relações de conflito, vivenciadas pela cuidadora com as equipes de trabalhadores
em diferentes serviços, demonstram a necessidade de construir projetos
terapêuticos compartilhados, além de encontros afetados pela falta de tecnologias
leves. O rompimento do vínculo e a descontinuidade do cuidado em saúde são
fatores agravantes para o não alcance da integralidade e potencializador da solidão
do cuidador. A solidão da cuidadora está relacionada ao isolamento social vivido em
decorrência de não ter com quem dividir as tarefas de cuidar. Outra questão é a
invisibilidade do cuidador para os trabalhadores e para os serviços de saúde que
focam seu cuidado ao usuário em um recorte biológico, sem percepção das
singularidades e da vida do cuidador. Para isso, existe a necessidade de criação de
espaços efetivos em que os trabalhadores possam colocar em análise o trabalho
realizado, dando visibilidade às forças que estão influenciando o seu fazer,
buscando conhecer a vida do usuário, do cuidador e da família. Nosso desafio é dar
visibilidade a essa complexidade do cuidador, produzindo redes efetivas e a
continuidade do cuidado para esses casos.
Arte e Cuidado em Saúde: experienciação do cuidado nos encontros vividos no Projeto Sensibilizarte
Flávia Maria Araújo, Maira Sayuri Sakay Bortoletto
Data da defesa: 29/03/2021
Aguardando publicação em periódico científico.
A utilização de tratamentos não farmacológicos por idosos com dor crônica musculoesquelética
Flávia Guilherme Gonçalves Ziegler, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 23/11/2020
Com o envelhecimento populacional, é esperado o aumento da prevalência de dores crônicas,
o que pode interferir na qualidade de vida dos idosos. As dores musculoesqueléticas estão
entre as causas mais frequentes de procura médica; sua abordagem deve ser multidisciplinar,
envolvendo tratamentos farmacológicos e não farmacológicos. Objetivo: Caracterizar a
utilização de tratamentos não farmacológicos para o alívio das dores crônicas de idosos da
comunidade e sua autoeficácia frente à essa condição. Métodos: Trata-se de um estudo de
corte transversal com amostra não probabilística de sujeitos acima de 60 anos, com dor crônica
musculoesquelética, residentes na área urbana do município de Londrina, PR, atendidos pelo
serviço de Atenção Primária à Saúde e encaminhados para a avaliação especializada com
ortopedista entre abril 2016 e abril 2017. Foi realizado inquérito domiciliar, por meio de
questionário composto de informações para caracterização sociodemográfica, caracterização
da dor – por meio do instrumento Inventário Breve de Dor e da Escala de LANSS, foi medida
a autoeficácia pela Escala de Autoeficácia para dor crônica e, por fim, foram elaboradas
questões simples para caracterizar o tratamento não farmacológico utilizado e a crença no
exercício físico como tratamento para o alívio da dor. Para a análise descritiva, usou-se a
frequência absoluta e relativa, enquanto que, para a análise bivariada, foi utilizado o teste Quiquadrado. As variáveis sexo, escolaridade e renda familiar foram predefinidas como variáveis
de ajuste dos modelos. As Razões de Prevalência (RP) brutas e ajustadas foram obtidas
mediante regressão de Poisson com ajuste por variância robusta. Para análise de dados não
paramétricos, foi utilizado o teste de Mann-Whitney-U, apresentando a distribuição por meio
das medianas e dos intervalos interquartílicos. O nível de significância adotado foi de p< 0,05.
Resultados: Foram entrevistados 193 idosos, dos quais 70,5% eram do sexo feminino, 60,6%
possuíam o ensino fundamental incompleto e 82,4% tinham renda familiar de até 2 salários
mínimos. O tratamento não farmacológico foi solicitado para 172 idosos e as abordagens mais
utilizadas para as dores crônicas musculoesqueléticas foram fisioterapia (72,5%), seguida por
nutrição (19,7%), práticas integrativas e complementares (20%), educação física (6,2%) e
psicologia (5,2%). A autoeficácia foi mais bem avaliada por idosos que moravam sós, por
aqueles com a faixa etária acima de 70 anos e por aqueles com dor exclusivamente
nociceptiva. Consideração final: Foi evidenciado que, entre os tratamentos não
farmacológicos, o mais utilizado foi a fisioterapia. Além disso, a dor com predomínio
nociceptivo esteve associada com a melhor tolerância do exercício físico e melhor
autoeficácia. Apesar de muitos idosos não terem realizado alguma modalidade de tratamento
não farmacológico para o alívio de suas dores, para o adequado manejo da dor crônica, faz-se
necessária uma avaliação adequada, além de uma abordagem multidisciplinar que seja capaz
de possibilitar a autonomia e a independência do idoso, ainda que na presença de limitações
devido ao quadro álgico.
Hospitais gerais públicos de média complexidade na rede de atenção às urgências: influência da estrutura de gestão
Fabiane Gorni Borsato, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 06/03/2020
Este estudo teve o objetivo de compreender a dinâmica da estrutura de gestão da média complexidade
hospitalar pública de uma Região de Saúde e sua influência para o desempenho destas instituições na Rede
de Urgência e Emergência. Foi realizado em dois hospitais públicos de média complexidade de uma Região
de Saúde, utilizando-se do método de natureza mista, a partir de dados quantitativos e qualitativos, em três
momentos. No primeiro momento desenvolveu-se um estudo exploratório, com coleta de dados secundários,
a partir de uma abordagem documental e; outro quantitativo, para permitir a pesquisadora aprofundar seus
conhecimentos sobre o contexto estudado. Na abordagem documental buscou-se conhecer a tipologia e perfil
dos hospitais, a capacidade instalada, a abrangência regional, aspectos organizacionais e sua estrutura de
gestão. Utilizou-se de documentos institucionais (planos estratégicos, organogramas, contratos e convênios
firmados, plano municipal e estadual de saúde, o Plano de Ação de Urgência e Emergência da Macrorregião
Norte do estado e o Plano Diretor de Regionalização). Na abordagem quantitativa realizou-se a coleta de
dados dos relatórios da Auditoria Operacional realizada pela Diretoria de Regulação da Atenção à Saúde do
município onde os hospitais se localizam; dos relatórios do Protocolo de Acolhimento com Avaliação e
Classificação de Risco das instituições; e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). Os dados
quantitativos referiram-se ao período de janeiro de 2016 a junho de 2017, sendo os documentos analisados
vigentes no mesmo período. No segundo momento foi utilizada abordagem qualitativa, com entrevistas
realizadas com sete atores envolvidos na estrutura de gestão dos hospitais para atuação da Rede de
Urgência e Emergência. Em um terceiro momento, foi realizada a Triangulação de Métodos, relacionando
dados qualitativos aos elementos documentais e quantitativos, com posterior aplicação da análise
hermenêutica de Paul Ricoeur. A média complexidade hospitalar estudada constitui-se de instituições
estaduais localizadas em um município responsável pela gestão total do sistema de saúde e, desta maneira,
possui relação estreita com as diretorias dos hospitais estudados. Esta relação é estabelecida por meio de um
contrato firmado que envolve também o Consórcio Intermunicipal de Saúde e prevê transferências de
recursos federais para o financiamento da produção hospitalar, recebido pelo ente municipal. A análise da
estrutura de gestão permitiu identificar a existência de dois núcleos (Círculo Municipal e Círculo Estadual),
revelando-se complexa e atomizada com poder centralizado no gestor municipal que detém a autoridade
legal, domínio dos recursos financeiros e maior capacidade produtiva na região de saúde. Ao passo em que
isto acontece, existe um distanciamento do Estado que delega às diretorias das instituições a autonomia para
negociações e pactuações no âmbito regional. A autonomia dos hospitais visionada pelo ente estadual se
revela como um fator de risco para os processos de gestão efetivos, devido à rotatividade da gestão hospitalar
que no contexto, se origina de indicações político-partidárias, relacionadas ao poder político vigente. Apesar
destes hospitais se constituírem em serviços de referência para RUE, constatou-se que os mesmos possuem
uma demanda instalada para os serviços de urgência e emergência majoritariamente constituída por pessoas
residentes no próprio município em que estão instalados (96,2% no hospital A e 97,4% no hospital B). Desta
demanda, 70,8% e 61,9% evoluem para internação nos hospitais A e B, respectivamente. Das internações,
observou-se que 36,3% e 42,3% consistem em Condições Sensíveis a Atenção Primária. Os atores do estudo
reconhecem as dificuldades enfrentadas pela Atenção Primária em Saúde no município como um dos
determinantes de impacto na atenção hospitalar de média complexidade. Concluiu-se que, mesmo que os
planos de trabalho voltados à regionalização coloquem os hospitais deste estudo como componentes da Rede
de Urgência e Emergência voltados a assistência de média complexidade à 21 municípios constituintes da
região de saúde, existem dificuldades de regionalização do atendimento destes serviços que, em conjunto
com a centralização do poder localmente, revela a atomização do sistema municipal. A dissociação
apresentada pela estrutura de gestão analisada nesta pesquisa evidencia o aumento de poder centralizado no
ente municipal enquanto o Estado se envolve na sustentação estrutural dos hospitais e nas diretrizes de
gestão que, como exposto, pouco se relaciona com o ente municipal e ocorre diretamente com a gestão
hospitalar, rotativa e política. Este distanciamento do Estado reflete na autonomia e poder dos atores
hospitalares enquanto eleva o poder político do município nas pactuações e implementação de políticas,
ficando instituições estaduais sob o comando dos interesses políticos municipais e de atendimento a
demanda por atenção em saúde do território com consequentes dificuldades de regionalização dos serviços
estudados. Este estudo demonstrou necessidades de revisão nos processos de gestão dos hospitais, com
tentativas de resgatar o protagonismo do Estado e de seus representantes, especialmente os atores da
gestão hospitalar; e inserir a problemática aqui apresentada em discussões nos espaços de governança
regional.
Fisioterapia na atenção básica: reflexões sobre um processo em construção no município de Londrina-PR
Cíntia Raquel Bim, Alberto Durán González
Data da defesa: 14/10/2019
Introdução: A fisioterapia, marcada pelo seu histórico como profissão reabilitadora
pautada no modelo biomédico, nos últimos anos vem aprimorando sua práxis
profissional no contexto da atenção básica com ênfase no modelo biopsicossocial de
produção do cuidado, a partir da inserção do fisioterapeuta no SUS, com a
implantação do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB).
Inquietação: Compreender as ações de fisioterapeutas na atenção básica no contexto
da gestão, processo de trabalho e práticas profissionais. Métodos: Desenvolveu-se
uma pesquisa qualitativa, a entrevista semiestruturada e o diário de campo foram
utilizados como instrumentos de pesquisa, e os dados foram interpretados por meio
da análise do discurso. Foram realizadas entrevistas nos meses de setembro e
outubro de 2017, com dezenove fisioterapeutas atuantes em Unidades Básicas de
Saúde e três profissionais da gestão da atenção básica no município de Londrina-PR.
Resultados e Discussão: Os resultados foram sistematizados em três categorias:
gestão e processo de trabalho, ações fisioterapêuticas e promoção da saúde. Dentre
as características para o processo de trabalho observou-se que a organização do
serviço no município, o número de profissionais, as relações interprofissionais,
estrutura física e recursos financeiros, perfil da população assistida são fatores que
interferem na prática profissional. As influências para as ações fisioterapêuticas na
atenção básica envolvem o perfil profissional, o uso de tecnologias relacionais, carga
horária, tipo de unidade em que atua (urbana ou rural). Ainda é um desafio para
fisioterapeuta realizar o monitoramento e avaliação de suas ações. As ações para a
promoção da saúde ainda são incipientes, mas muitos profissionais já reconhecem
essa prática como meio de produzir a integralidade do cuidado. A demanda por
atendimentos individuais é uma grande dificuldade para o fisioterapeuta concretizar
na prática as diretrizes do NASF-AB, e superar essa realidade depende da
sensibilização da gestão, dos profissionais e dos usuários. Considerações Finais:
Avanços e desafios compõem o processo de construção do serviço de fisioterapia no
munícipio de Londrina, pioneiro na inserção desse profissional na atenção básica em
âmbito nacional. Foi possível compreender, a partir das falas dos fisioterapeutas do
serviço e alguns gestores, e análise da pesquisadora, as ações desenvolvidas pela
fisioterapia na atenção básica, processo dinâmico e complexo, que sofre influência de
diversos atores e de políticas púbicas de saúde. A fisioterapia precisa se consolidar
na atenção básica, e a experiência do município de Londrina reforça que para isso
fisioterapeutas têm que incorporar o conceito ampliado de saúde, empregando em sua
prática os princípios do SUS, diretrizes e ferramentas do NASF-AB, e as tecnologias
relacionais visando a integralidade na produção do cuidado em sua identidade
profissional, considerando a funcionalidade humana e seus determinantes como
objeto de trabalho.
Dependência de cafeína: fatores associados e sintomas psíquicos em professores da educação básica
Juliana Mariano Massuia Vizoto, Alberto Durán González
Data da defesa: 20/09/2019
OBJETIVO: Analisar a prevalência de dependência de cafeína e fatores associados,
em especial, sintomas psíquicos, em professores da educacão básica. Para isso,
consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Investigar a prevalência de
dependência de cafeína e verificar sua associação com variáveis sóciodemográficas,
hábitos de vida, condições de saúde e fatores ocupacionais em professores; 2)
Examinar a relação da dependência de cafeína e de suas características-chave com
sintomas psíquicos em professores. MÉTODOS: Para estruturação desta tese, cada
objetivo específico foi apresentado em formato de um artigo científico. A população
estudada faz parte do projeto “Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da
Rede Pública do Paraná” (Pró-Mestre), no qual professores das 20 maiores escolas
estaduais de Londrina foram entrevistados em dois momentos: baseline (nos anos de
2012 e 2013) e seguimento (anos 2014 e 2015), após 24 meses. Ambos os estudos
apresentam análises utilizando os dados apenas do seguimento e tratam-se de
estudos transversais. A dependência de cafeína foi avaliada seguindo os critérios
estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Saúde Mental (DSM-5) que
define três características-chave: desejo persistente e/ou esforços fracassados, uso
continuado da cafeína apesar de efeitos nocivos e abstinência. RESULTADOS:
Estudo 1) A maioria dos 430 professores relatou consumo regular de cafeína e um
quarto, aproximadamente, relatou consumo elevado. A prevalência de dependência
de cafeína foi de 5,6% e não se mostrou associada a características
sóciodemográficas ou a hábitos de vida. Os professores que relataram consumo
elevado de cafeína apresentaram maiores chances de dependência. Quanto às
condições de saúde, a auto avaliação de saúde regular/ruim, a qualidade de sono ruim
e o uso de medicamentos para dormir mostraram-se associados à dependência de
cafeína. Com relação aos fatores ocupacionais, percepções regulares/ruins quanto ao
equilíbrio entre vida profissional e pessoal, falta de tempo e frustração com o trabalho,
esgotamento e o sentimento de estar no limite de possibilidades mostraram-se mais
frequentes nos professores classificados como dependentes (p<0,05). Estudo 2) A
dependência de cafeína mostrou-se associada com a presença de depressão,
segundo o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II), nos 392 professores incluídos.
O mesmo foi observado com suas características-chave. Os sintomas depressivos
associados à dependência de cafeína foram: pessimismo, culpa, punição, baixa
autoestima, choro, agitação, perda de interesse, desvalorização, irritabilidade,
alterações no padrão de apetite e perda de interesse por sexo. A quantidade de
sintomas presentes e a soma da pontuação obtida pela escala foi maior nos
professores dependentes de cafeína. CONCLUSÕES: A prevalência de dependência
de cafeína mostrou-se baixa, porém associada a fatores adversos relacionados ao
sono, a aspectos ocupacionais e à saúde mental nos professores. Desse modo,
sugerem-se pesquisas adicionais sobre dependência de cafeína e riscos
relacionados, com vistas a subsidiar ações preventivas e de controle, individuais e
coletivas, sobre o uso abusivo de cafeína. Os achados da presente tese podem
embasar futuras classificações clínicas do Transtorno por Uso de Cafeína pelo DSM.
Manutenção e alteração dos estágios de mudança de comportamento para a prática de atividade física no tempo livre em população de 40 anos ou mais (2011-2015)
Valéria Cristina Zamataro Tessaro, Ana Maria Rigo Silva, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 03/09/2019
OBJETIVO: Analisar a manutenção e a alteração dos estágios de mudança de
comportamento para atividade física no tempo livre (AFTL) e fatores associados em
indivíduos de 40 anos e mais de idade, residentes em Cambé – PR, no período
entre 2011 e 2015. MÉTODOS: Para a estruturação desta tese, elaboraram-se dois
artigos científicos com métodos, resultados e conclusões próprias, com dados
obtidos do projeto de pesquisa de base populacional VIGICARDIO, para o qual se
entrevistou uma amostra representativa de indivíduos de 40 anos e mais do
município de Cambé, Paraná, em dois momentos: linha de base (2011) e
seguimento (2015). Ambos os artigos são estudos epidemiológicos observacionais, o
primeiro do tipo longitudinal e o segundo do tipo tranversal e coorte prospectiva que
utilizaram dados dos dois períodos do VIGICARDIO. O primeiro verificou a
manutenção e a alteração dos estágios de mudança de comportamento para a AFTL
e a associação com características sociodemográficas e o segundo manuscrito
analisou a prevalência e incidência de não intenção de prática de atividade física no
tempo livre (NIPAFTL) e fatores associados. RESULTADOS: Artigo 1 –
Observaram-se frequências elevadas de indivíduos que se mantiveram nos estágios
de pré-contemplação (n=172; 57,0%) e de manutenção (n=119; 51,3%). Entre os
que se mantiveram no estágio de pré-contemplação, verificou-se maior proporção de
homens (RR=1,59; IC95%: 1,21-2,11), com idade ≥ 60 anos (RR=1,35; IC95%: 1,03-
1,78), com menor escolaridade (RR=1,24; IC95%: 1,04-2,33) e das classes C
(RR=1,71; IC95%: 1,17-2,49) e D/E (RR=1,88; IC95%: 1,12-3,18). Quanto aos que
permaneceram no estágio de manutenção houve menor proporção entre os
indivíduos das classes D/E (RR=0,35; IC95%: 0,14-0,87) em relação às classes A/B.
Artigo 2 - A prevalência de NIPAFTL foi de 34,4%, e após ajuste dos modelos foi
superior em homens, nos indivíduos de menor escolaridade, nas classes
econômicas C e D/E, naqueles com algum tipo de dependência funcional, em
tabagistas, nos que consumiam irregularmente frutas, verduras e/ou legumes e
naqueles que não consultaram médico nos últimos 12 meses. Indivíduos com
diabetes, sobrepeso ou obesidade apresentaram menor prevalência. A incidência de
NIPAFTL foi de 26,2%, e nas análises ajustadas foi maior entre os sujeitos das
classes econômicas D/E, que tinham autopercepção ruim/muito ruim de saúde,
tabagistas e com consumo irregular de frutas, verduras e/ou legumes.
CONCLUSÕES: Na amostra populacional estudada, tanto a prevalência em 2011
quanto a manutenção e a incidência de NIPAFTL (indivíduos no estágio de précontemplação) após quatro anos, foram elevadas. Verificaram-se associações com
variáveis sociodemográficas, de condições de saúde, de estilo de vida e de
utilização de serviços de saúde. Os achados também salientaram iniquidades dos
subgrupos mais vulneráveis (indivíduos das classes econômicas D/E, tabagistas e
com consumo irregular de frutas, verduras e/ou legumes) que tiveram tanto
prevalências maiores no estudo da linha de base, quanto incidências maiores após
quatro anos. Dessa forma, reforça-se a importância de identificar os estágios de
mudança de comportamento e fatores associados, a fim de delinear e direcionar
ações públicas intersetoriais para a promoção de um estilo de vida ativo.
Hábitos de vida e utilização de serviços de saúde entre indivíduos com hipertensão arterial no Cambé-PR, quatro anos de acompanhamento
Mara Cristina Nishikawa Yagi, Ana Maria Rigo Silva, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 26/08/2019
Este estudo objetivou analisar os hábitos de vida e a utilização dos serviços de saúde
em indivíduos com hipertensão arterial (HA) e, especificamente verificar as mudanças
nas prevalências dos hábitos de vida após quatro anos, verificando a associação entre
utilização de serviços de saúde e hábitos de vida no seguimento. Para tal, realizou-se
um estudo de coorte e outro de delineamento transversal de base populacional. A
população de estudo constituiu-se de adultos de 40 anos e mais, residentes na área
urbana do município de Cambé, Paraná. A coleta de dados da primeira fase, ocorreu
entre fevereiro e maio de 2011, com 1.180 indivíduos entrevistados, destes, 660
classificados com HA (amostra da presente pesquisa). A segunda fase, aconteceu de
março a outubro de 2015 e foram reentrevistados 487 indivíduos com HA. A HA foi
estabelecida pelo uso de anti-hipertensivo ou a média das duas últimas medidas de
pressão arterial alterada, considerando-se limítrofes os valores maiores ou iguais a
140/90 mmHg. Em ambas as fases, além da aferição da pressão arterial, foram
realizadas medidas antropométricas e coleta de exames laboratoriais. As análises de
dados foram realizadas pelo programa SPSS, versão 21.0. A diferença nas
prevalências entre os sexos foi verificada pelo teste qui-quadrado e as mudanças dos
hábitos de vida entre os dois períodos pelo teste de Mc Nemar. Para a associação
entre utilização de serviços de saúde e hábitos de vida, utilizou-se o Modelo de
Regressão Log-Linear de Poisson com estimação robusta, análise multivariada e
cálculo de razão de prevalência (RP), com intervalo de confiança (IC) de 95%. As
mudanças nas prevalências no seguimento referem-se à redução do consumo
abusivo de álcool (p<0,001) e aumento do consumo regular de frutas e de verduras
e/ou legumes (p<0,001) entre pessoas com quatro anos e mais de estudo. Em 2015,
no estrato de maior escolaridade entre os que utilizaram serviços privados de saúde
houve maior prevalência de prática de atividade física (RP Ajustada 1,416; IC 95%
1,014-1,978), menor consumo regular de frutas e de verduras e/ou legumes (RP
Ajustada 0,889; IC 95% 0,825-0,958) e maior consumo de carnes com excesso de
gordura (RP Ajustada 1,090; IC 95% 1,013-1,173). No estrato de menor escolaridade,
entre os que receberam visitas da ESF, a prevalência do hábito de fumar foi menor
(RP Ajustada 0,159; IC 95% 0,043-0,588). Conclui-se que, houve mudanças positivas
nos hábitos de vida após quatro anos, entretanto, na utilização de serviços de saúde,
os usuários de serviços privados de saúde apresentaram hábitos menos saudáveis.
Dessa forma, esses resultados reforçam a importância da prevenção dos fatores de
risco e do vínculo dessa população com os serviços de saúde.
O usuário-guia e as redes de cuidados: movimentos cartográficos de produção da vida
Kátia Santos de Oliveira, Regina Melchior, Rossana Staevie Baduy
Data da defesa: 27/06/2019
Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. É tema da produção do humano e não é
exclusivo da saúde. Tem a ver com solidariedade, com suporte, com apoio e com
produção de vida. Mesmo com diferentes arranjos, ao longo do tempo e segundo os
diferentes modos de viver, está relacionado com a construção da teia de relações e
encontros que conformam a vida. No que diz respeito à saúde, o cuidado pode ser
produzido nos serviços que compõem a rede de atenção à saúde, por meio de
encontros entre trabalhadores e usuários, ou de forma autônoma pelo próprio usuário
que constrói redes vivas, na busca de atender as suas necessidades. Os objetivos
deste estudo foram: Analisar o cuidado produzido e compartilhado no sentido de
atender às necessidades de saúde do usuário, buscando assim dar visibilidade aos
movimentos produzidos, nos diferentes espaços/equipes cuidadoras e pelo próprio
usuário e seus familiares, para articular redes e produzir cuidado. Para isso, tomouse como ponto de partida um usuário do Serviço de Atenção Domiciliar que guiou a
pesquisadora por caminhos e processos percorridos por ele, na construção de um
mapa cartográfico de cuidado, durante os meses de setembro de 2016 a julho de
2018. A aposta foram os encontros, inicialmente com trabalhadores do Serviço de
Atenção Domiciliar e, posteriormente, encontros guiados pelo usuário, percorrendo
com ele e sua família os pontos das redes de cuidado formais e as redes vivas que
vinham sendo produzidas. Ao iniciar o trabalho de campo, iniciou-se também o
processo de produção da pesquisadora-cartógrafa, que precisou desconstruir o olhar
armado do olho-retina e trazer para cena a vibratilidade do corpo e do olhar que
passou a dar visibilidade e dizibilidade aos afetos dos encontros, e com isso colocar
em análise suas próprias implicações. Desse modo a cartografia foi sendo construída,
e alguns analisadores foram elencados como produtos desta construção cartográfica:
Vida Pulsante e Redes Vivas em Acontecimento; Cuidado para além do Protocolar: a
tensão e a disputa entre as tecnologias do trabalho em saúde; A Dinamicidade nos
Modos de Produção do Cuidado: qual projeto terapêutico? e As Redes de Atenção:
idas e vindas do protocolo à singularização do cuidado.