Hospitais gerais públicos de média complexidade na rede de atenção às urgências: influência da estrutura de gestão
Fabiane Gorni Borsato, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 06/03/2020
Este estudo teve o objetivo de compreender a dinâmica da estrutura de gestão da média complexidade hospitalar pública de uma Região de Saúde e sua influência para o desempenho destas instituições na Rede de Urgência e Emergência. Foi realizado em dois hospitais públicos de média complexidade de uma Região de Saúde, utilizando-se do método de natureza mista, a partir de dados quantitativos e qualitativos, em três momentos. No primeiro momento desenvolveu-se um estudo exploratório, com coleta de dados secundários, a partir de uma abordagem documental e; outro quantitativo, para permitir a pesquisadora aprofundar seus conhecimentos sobre o contexto estudado. Na abordagem documental buscou-se conhecer a tipologia e perfil dos hospitais, a capacidade instalada, a abrangência regional, aspectos organizacionais e sua estrutura de gestão. Utilizou-se de documentos institucionais (planos estratégicos, organogramas, contratos e convênios firmados, plano municipal e estadual de saúde, o Plano de Ação de Urgência e Emergência da Macrorregião Norte do estado e o Plano Diretor de Regionalização). Na abordagem quantitativa realizou-se a coleta de dados dos relatórios da Auditoria Operacional realizada pela Diretoria de Regulação da Atenção à Saúde do município onde os hospitais se localizam; dos relatórios do Protocolo de Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco das instituições; e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). Os dados quantitativos referiram-se ao período de janeiro de 2016 a junho de 2017, sendo os documentos analisados vigentes no mesmo período. No segundo momento foi utilizada abordagem qualitativa, com entrevistas realizadas com sete atores envolvidos na estrutura de gestão dos hospitais para atuação da Rede de Urgência e Emergência. Em um terceiro momento, foi realizada a Triangulação de Métodos, relacionando dados qualitativos aos elementos documentais e quantitativos, com posterior aplicação da análise hermenêutica de Paul Ricoeur. A média complexidade hospitalar estudada constitui-se de instituições estaduais localizadas em um município responsável pela gestão total do sistema de saúde e, desta maneira, possui relação estreita com as diretorias dos hospitais estudados. Esta relação é estabelecida por meio de um contrato firmado que envolve também o Consórcio Intermunicipal de Saúde e prevê transferências de recursos federais para o financiamento da produção hospitalar, recebido pelo ente municipal. A análise da estrutura de gestão permitiu identificar a existência de dois núcleos (Círculo Municipal e Círculo Estadual), revelando-se complexa e atomizada com poder centralizado no gestor municipal que detém a autoridade legal, domínio dos recursos financeiros e maior capacidade produtiva na região de saúde. Ao passo em que isto acontece, existe um distanciamento do Estado que delega às diretorias das instituições a autonomia para negociações e pactuações no âmbito regional. A autonomia dos hospitais visionada pelo ente estadual se revela como um fator de risco para os processos de gestão efetivos, devido à rotatividade da gestão hospitalar que no contexto, se origina de indicações político-partidárias, relacionadas ao poder político vigente. Apesar destes hospitais se constituírem em serviços de referência para RUE, constatou-se que os mesmos possuem uma demanda instalada para os serviços de urgência e emergência majoritariamente constituída por pessoas residentes no próprio município em que estão instalados (96,2% no hospital A e 97,4% no hospital B). Desta demanda, 70,8% e 61,9% evoluem para internação nos hospitais A e B, respectivamente. Das internações, observou-se que 36,3% e 42,3% consistem em Condições Sensíveis a Atenção Primária. Os atores do estudo reconhecem as dificuldades enfrentadas pela Atenção Primária em Saúde no município como um dos determinantes de impacto na atenção hospitalar de média complexidade. Concluiu-se que, mesmo que os planos de trabalho voltados à regionalização coloquem os hospitais deste estudo como componentes da Rede de Urgência e Emergência voltados a assistência de média complexidade à 21 municípios constituintes da região de saúde, existem dificuldades de regionalização do atendimento destes serviços que, em conjunto com a centralização do poder localmente, revela a atomização do sistema municipal. A dissociação apresentada pela estrutura de gestão analisada nesta pesquisa evidencia o aumento de poder centralizado no ente municipal enquanto o Estado se envolve na sustentação estrutural dos hospitais e nas diretrizes de gestão que, como exposto, pouco se relaciona com o ente municipal e ocorre diretamente com a gestão hospitalar, rotativa e política. Este distanciamento do Estado reflete na autonomia e poder dos atores hospitalares enquanto eleva o poder político do município nas pactuações e implementação de políticas, ficando instituições estaduais sob o comando dos interesses políticos municipais e de atendimento a demanda por atenção em saúde do território com consequentes dificuldades de regionalização dos serviços estudados. Este estudo demonstrou necessidades de revisão nos processos de gestão dos hospitais, com tentativas de resgatar o protagonismo do Estado e de seus representantes, especialmente os atores da gestão hospitalar; e inserir a problemática aqui apresentada em discussões nos espaços de governança regional.
Fisioterapia na atenção básica: reflexões sobre um processo em construção no município de Londrina-PR
Cíntia Raquel Bim, Alberto Durán González
Data da defesa: 14/10/2019
Introdução: A fisioterapia, marcada pelo seu histórico como profissão reabilitadora pautada no modelo biomédico, nos últimos anos vem aprimorando sua práxis profissional no contexto da atenção básica com ênfase no modelo biopsicossocial de produção do cuidado, a partir da inserção do fisioterapeuta no SUS, com a implantação do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB). Inquietação: Compreender as ações de fisioterapeutas na atenção básica no contexto da gestão, processo de trabalho e práticas profissionais. Métodos: Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, a entrevista semiestruturada e o diário de campo foram utilizados como instrumentos de pesquisa, e os dados foram interpretados por meio da análise do discurso. Foram realizadas entrevistas nos meses de setembro e outubro de 2017, com dezenove fisioterapeutas atuantes em Unidades Básicas de Saúde e três profissionais da gestão da atenção básica no município de Londrina-PR. Resultados e Discussão: Os resultados foram sistematizados em três categorias: gestão e processo de trabalho, ações fisioterapêuticas e promoção da saúde. Dentre as características para o processo de trabalho observou-se que a organização do serviço no município, o número de profissionais, as relações interprofissionais, estrutura física e recursos financeiros, perfil da população assistida são fatores que interferem na prática profissional. As influências para as ações fisioterapêuticas na atenção básica envolvem o perfil profissional, o uso de tecnologias relacionais, carga horária, tipo de unidade em que atua (urbana ou rural). Ainda é um desafio para fisioterapeuta realizar o monitoramento e avaliação de suas ações. As ações para a promoção da saúde ainda são incipientes, mas muitos profissionais já reconhecem essa prática como meio de produzir a integralidade do cuidado. A demanda por atendimentos individuais é uma grande dificuldade para o fisioterapeuta concretizar na prática as diretrizes do NASF-AB, e superar essa realidade depende da sensibilização da gestão, dos profissionais e dos usuários. Considerações Finais: Avanços e desafios compõem o processo de construção do serviço de fisioterapia no munícipio de Londrina, pioneiro na inserção desse profissional na atenção básica em âmbito nacional. Foi possível compreender, a partir das falas dos fisioterapeutas do serviço e alguns gestores, e análise da pesquisadora, as ações desenvolvidas pela fisioterapia na atenção básica, processo dinâmico e complexo, que sofre influência de diversos atores e de políticas púbicas de saúde. A fisioterapia precisa se consolidar na atenção básica, e a experiência do município de Londrina reforça que para isso fisioterapeutas têm que incorporar o conceito ampliado de saúde, empregando em sua prática os princípios do SUS, diretrizes e ferramentas do NASF-AB, e as tecnologias relacionais visando a integralidade na produção do cuidado em sua identidade profissional, considerando a funcionalidade humana e seus determinantes como objeto de trabalho.
Dependência de cafeína: fatores associados e sintomas psíquicos em professores da educação básica
Juliana Mariano Massuia Vizoto, Alberto Durán González
Data da defesa: 20/09/2019
OBJETIVO: Analisar a prevalência de dependência de cafeína e fatores associados, em especial, sintomas psíquicos, em professores da educacão básica. Para isso, consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Investigar a prevalência de dependência de cafeína e verificar sua associação com variáveis sóciodemográficas, hábitos de vida, condições de saúde e fatores ocupacionais em professores; 2) Examinar a relação da dependência de cafeína e de suas características-chave com sintomas psíquicos em professores. MÉTODOS: Para estruturação desta tese, cada objetivo específico foi apresentado em formato de um artigo científico. A população estudada faz parte do projeto “Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná” (Pró-Mestre), no qual professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina foram entrevistados em dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (anos 2014 e 2015), após 24 meses. Ambos os estudos apresentam análises utilizando os dados apenas do seguimento e tratam-se de estudos transversais. A dependência de cafeína foi avaliada seguindo os critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Saúde Mental (DSM-5) que define três características-chave: desejo persistente e/ou esforços fracassados, uso continuado da cafeína apesar de efeitos nocivos e abstinência. RESULTADOS: Estudo 1) A maioria dos 430 professores relatou consumo regular de cafeína e um quarto, aproximadamente, relatou consumo elevado. A prevalência de dependência de cafeína foi de 5,6% e não se mostrou associada a características sóciodemográficas ou a hábitos de vida. Os professores que relataram consumo elevado de cafeína apresentaram maiores chances de dependência. Quanto às condições de saúde, a auto avaliação de saúde regular/ruim, a qualidade de sono ruim e o uso de medicamentos para dormir mostraram-se associados à dependência de cafeína. Com relação aos fatores ocupacionais, percepções regulares/ruins quanto ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal, falta de tempo e frustração com o trabalho, esgotamento e o sentimento de estar no limite de possibilidades mostraram-se mais frequentes nos professores classificados como dependentes (p<0,05). Estudo 2) A dependência de cafeína mostrou-se associada com a presença de depressão, segundo o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II), nos 392 professores incluídos. O mesmo foi observado com suas características-chave. Os sintomas depressivos associados à dependência de cafeína foram: pessimismo, culpa, punição, baixa autoestima, choro, agitação, perda de interesse, desvalorização, irritabilidade, alterações no padrão de apetite e perda de interesse por sexo. A quantidade de sintomas presentes e a soma da pontuação obtida pela escala foi maior nos professores dependentes de cafeína. CONCLUSÕES: A prevalência de dependência de cafeína mostrou-se baixa, porém associada a fatores adversos relacionados ao sono, a aspectos ocupacionais e à saúde mental nos professores. Desse modo, sugerem-se pesquisas adicionais sobre dependência de cafeína e riscos relacionados, com vistas a subsidiar ações preventivas e de controle, individuais e coletivas, sobre o uso abusivo de cafeína. Os achados da presente tese podem embasar futuras classificações clínicas do Transtorno por Uso de Cafeína pelo DSM.
Manutenção e alteração dos estágios de mudança de comportamento para a prática de atividade física no tempo livre em população de 40 anos ou mais (2011-2015)
Valéria Cristina Zamataro Tessaro, Ana Maria Rigo Silva, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 03/09/2019
OBJETIVO: Analisar a manutenção e a alteração dos estágios de mudança de comportamento para atividade física no tempo livre (AFTL) e fatores associados em indivíduos de 40 anos e mais de idade, residentes em Cambé – PR, no período entre 2011 e 2015. MÉTODOS: Para a estruturação desta tese, elaboraram-se dois artigos científicos com métodos, resultados e conclusões próprias, com dados obtidos do projeto de pesquisa de base populacional VIGICARDIO, para o qual se entrevistou uma amostra representativa de indivíduos de 40 anos e mais do município de Cambé, Paraná, em dois momentos: linha de base (2011) e seguimento (2015). Ambos os artigos são estudos epidemiológicos observacionais, o primeiro do tipo longitudinal e o segundo do tipo tranversal e coorte prospectiva que utilizaram dados dos dois períodos do VIGICARDIO. O primeiro verificou a manutenção e a alteração dos estágios de mudança de comportamento para a AFTL e a associação com características sociodemográficas e o segundo manuscrito analisou a prevalência e incidência de não intenção de prática de atividade física no tempo livre (NIPAFTL) e fatores associados. RESULTADOS: Artigo 1 – Observaram-se frequências elevadas de indivíduos que se mantiveram nos estágios de pré-contemplação (n=172; 57,0%) e de manutenção (n=119; 51,3%). Entre os que se mantiveram no estágio de pré-contemplação, verificou-se maior proporção de homens (RR=1,59; IC95%: 1,21-2,11), com idade ≥ 60 anos (RR=1,35; IC95%: 1,03- 1,78), com menor escolaridade (RR=1,24; IC95%: 1,04-2,33) e das classes C (RR=1,71; IC95%: 1,17-2,49) e D/E (RR=1,88; IC95%: 1,12-3,18). Quanto aos que permaneceram no estágio de manutenção houve menor proporção entre os indivíduos das classes D/E (RR=0,35; IC95%: 0,14-0,87) em relação às classes A/B. Artigo 2 - A prevalência de NIPAFTL foi de 34,4%, e após ajuste dos modelos foi superior em homens, nos indivíduos de menor escolaridade, nas classes econômicas C e D/E, naqueles com algum tipo de dependência funcional, em tabagistas, nos que consumiam irregularmente frutas, verduras e/ou legumes e naqueles que não consultaram médico nos últimos 12 meses. Indivíduos com diabetes, sobrepeso ou obesidade apresentaram menor prevalência. A incidência de NIPAFTL foi de 26,2%, e nas análises ajustadas foi maior entre os sujeitos das classes econômicas D/E, que tinham autopercepção ruim/muito ruim de saúde, tabagistas e com consumo irregular de frutas, verduras e/ou legumes. CONCLUSÕES: Na amostra populacional estudada, tanto a prevalência em 2011 quanto a manutenção e a incidência de NIPAFTL (indivíduos no estágio de précontemplação) após quatro anos, foram elevadas. Verificaram-se associações com variáveis sociodemográficas, de condições de saúde, de estilo de vida e de utilização de serviços de saúde. Os achados também salientaram iniquidades dos subgrupos mais vulneráveis (indivíduos das classes econômicas D/E, tabagistas e com consumo irregular de frutas, verduras e/ou legumes) que tiveram tanto prevalências maiores no estudo da linha de base, quanto incidências maiores após quatro anos. Dessa forma, reforça-se a importância de identificar os estágios de mudança de comportamento e fatores associados, a fim de delinear e direcionar ações públicas intersetoriais para a promoção de um estilo de vida ativo.
Hábitos de vida e utilização de serviços de saúde entre indivíduos com hipertensão arterial no Cambé-PR, quatro anos de acompanhamento
Mara Cristina Nishikawa Yagi, Ana Maria Rigo Silva, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 26/08/2019
Este estudo objetivou analisar os hábitos de vida e a utilização dos serviços de saúde em indivíduos com hipertensão arterial (HA) e, especificamente verificar as mudanças nas prevalências dos hábitos de vida após quatro anos, verificando a associação entre utilização de serviços de saúde e hábitos de vida no seguimento. Para tal, realizou-se um estudo de coorte e outro de delineamento transversal de base populacional. A população de estudo constituiu-se de adultos de 40 anos e mais, residentes na área urbana do município de Cambé, Paraná. A coleta de dados da primeira fase, ocorreu entre fevereiro e maio de 2011, com 1.180 indivíduos entrevistados, destes, 660 classificados com HA (amostra da presente pesquisa). A segunda fase, aconteceu de março a outubro de 2015 e foram reentrevistados 487 indivíduos com HA. A HA foi estabelecida pelo uso de anti-hipertensivo ou a média das duas últimas medidas de pressão arterial alterada, considerando-se limítrofes os valores maiores ou iguais a 140/90 mmHg. Em ambas as fases, além da aferição da pressão arterial, foram realizadas medidas antropométricas e coleta de exames laboratoriais. As análises de dados foram realizadas pelo programa SPSS, versão 21.0. A diferença nas prevalências entre os sexos foi verificada pelo teste qui-quadrado e as mudanças dos hábitos de vida entre os dois períodos pelo teste de Mc Nemar. Para a associação entre utilização de serviços de saúde e hábitos de vida, utilizou-se o Modelo de Regressão Log-Linear de Poisson com estimação robusta, análise multivariada e cálculo de razão de prevalência (RP), com intervalo de confiança (IC) de 95%. As mudanças nas prevalências no seguimento referem-se à redução do consumo abusivo de álcool (p<0,001) e aumento do consumo regular de frutas e de verduras e/ou legumes (p<0,001) entre pessoas com quatro anos e mais de estudo. Em 2015, no estrato de maior escolaridade entre os que utilizaram serviços privados de saúde houve maior prevalência de prática de atividade física (RP Ajustada 1,416; IC 95% 1,014-1,978), menor consumo regular de frutas e de verduras e/ou legumes (RP Ajustada 0,889; IC 95% 0,825-0,958) e maior consumo de carnes com excesso de gordura (RP Ajustada 1,090; IC 95% 1,013-1,173). No estrato de menor escolaridade, entre os que receberam visitas da ESF, a prevalência do hábito de fumar foi menor (RP Ajustada 0,159; IC 95% 0,043-0,588). Conclui-se que, houve mudanças positivas nos hábitos de vida após quatro anos, entretanto, na utilização de serviços de saúde, os usuários de serviços privados de saúde apresentaram hábitos menos saudáveis. Dessa forma, esses resultados reforçam a importância da prevenção dos fatores de risco e do vínculo dessa população com os serviços de saúde.
O usuário-guia e as redes de cuidados: movimentos cartográficos de produção da vida
Kátia Santos de Oliveira, Regina Melchior, Rossana Staevie Baduy
Data da defesa: 27/06/2019
Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. É tema da produção do humano e não é exclusivo da saúde. Tem a ver com solidariedade, com suporte, com apoio e com produção de vida. Mesmo com diferentes arranjos, ao longo do tempo e segundo os diferentes modos de viver, está relacionado com a construção da teia de relações e encontros que conformam a vida. No que diz respeito à saúde, o cuidado pode ser produzido nos serviços que compõem a rede de atenção à saúde, por meio de encontros entre trabalhadores e usuários, ou de forma autônoma pelo próprio usuário que constrói redes vivas, na busca de atender as suas necessidades. Os objetivos deste estudo foram: Analisar o cuidado produzido e compartilhado no sentido de atender às necessidades de saúde do usuário, buscando assim dar visibilidade aos movimentos produzidos, nos diferentes espaços/equipes cuidadoras e pelo próprio usuário e seus familiares, para articular redes e produzir cuidado. Para isso, tomouse como ponto de partida um usuário do Serviço de Atenção Domiciliar que guiou a pesquisadora por caminhos e processos percorridos por ele, na construção de um mapa cartográfico de cuidado, durante os meses de setembro de 2016 a julho de 2018. A aposta foram os encontros, inicialmente com trabalhadores do Serviço de Atenção Domiciliar e, posteriormente, encontros guiados pelo usuário, percorrendo com ele e sua família os pontos das redes de cuidado formais e as redes vivas que vinham sendo produzidas. Ao iniciar o trabalho de campo, iniciou-se também o processo de produção da pesquisadora-cartógrafa, que precisou desconstruir o olhar armado do olho-retina e trazer para cena a vibratilidade do corpo e do olhar que passou a dar visibilidade e dizibilidade aos afetos dos encontros, e com isso colocar em análise suas próprias implicações. Desse modo a cartografia foi sendo construída, e alguns analisadores foram elencados como produtos desta construção cartográfica: Vida Pulsante e Redes Vivas em Acontecimento; Cuidado para além do Protocolar: a tensão e a disputa entre as tecnologias do trabalho em saúde; A Dinamicidade nos Modos de Produção do Cuidado: qual projeto terapêutico? e As Redes de Atenção: idas e vindas do protocolo à singularização do cuidado.
Os cenários de prática da saúde coletiva na formação do profissional farmacêutico na graduação: interfaces com o pensamento complexo
Fabiane Yamacita Borin, Alberto Durán González
Data da defesa: 10/05/2019
O profissional farmacêutico está em busca de ressignificar seu papel como profissional de saúde, um profissional que atenda aos princípios norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, é importante compreender o processo de formação do farmacêutico para atuar na Assistência Farmacêutica na Atenção básica no SUS e analisar as percepções dos coordenadores de curso, docentes supervisores, profissionais preceptores e alunos sobre a integração ensino-serviço-comunidade nos cenários de prática da saúde coletiva para formação do aluno de farmácia. Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada em um município de grande porte do sul do Brasil em uma Instituição de Ensino Superior pública e uma privada, e em quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) que são campos de estágios dos alunos de farmácia. Foram realizadas vinte e duas entrevistas semiestruturadas no período de fevereiro de 2016 a setembro de 2017, com três coordenadoras, cinco docentes supervisores, dez alunos e quatro profissionais preceptores. Foi adotado também para a coleta de dados um diário de campo. Para a análise dos dados obtidos foi utilizado como referencial metodológico a Análise do Discurso e como referencial teórico o filósofo Edgar Morin a partir de alguns pressupostos da Teoria da Complexidade e dos argumentos para a Reforma do Pensamento, com ênfase nos conceitos do conhecimento pertinente e da compreensão humana. Os principais resultados abordam a matriz curricular do curso de farmácia que não favorece a integração dos conteúdos e o conhecimento pertinente para a formação do aluno; importância da supervisão docente no direcionamento dos alunos e na intencionalidade de alcançar os objetivos propostos pelo estágio; falta de acolhimento dos profissionais da UBS e dificuldade em compreender seu papel formador; farmacêutico com carga horária insuficiente para desenvolver suas atividades profissionais de gestão técnica administrativa e clínicoassistencial; estrutura física inadequada da UBS e as percepções dos participantes da pesquisa sobre a integração ensino-serviço-comunidade que consideram como fator importante a inserção dos alunos nos cenários de prática para compreensão do contexto de sua atuação como profissional de saúde.
Tratamento de dislipidemias em usuários de alto risco pelo SUS: não adesão e efetividade em coorte populacional de pacientes
Felipe Assan Remondi, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/03/2019
O objetivo do trabalho foi analisar a não adesão e a efetividade da terapêutica com hipolipemiantes fornecidos pelo Sistema Único de Saúde para usuários de alto risco do estado do Paraná, entre 2008 e 2013. Para tanto, foi realizada uma coorte retrospectiva com o universo de pacientes assistidos no período de 2008 a 2012, acompanhados até 2013 para avaliação da adesão e do controle laboratorial. As informações foram obtidas no sistema eletrônico da Secretaria de Estado para o gerenciamento do fornecimento destes medicamentos. O cálculo da não adesão foi realizado a partir da combinação da taxa de posse, proporção de dias cobertos e média de dias entre as dispensações, sendo caracterizados como não aderentes os indivíduos que tiveram resultados insatisfatórios em ao menos duas das três medidas realizadas. O controle laboratorial foi avaliado pelos resultados categorizados da lipoproteína de baixa densidade (LDL), liproproteína de alta densidade (HDL) colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG). As análises de associação foram realizadas por meio da comparação de médias, correlação e regressão multivariada com distribuição de Poisson ou de Cox. Foram analisados 6751 usuários, sendo que a caracterização da não adesão restringiu-se a 5697 que tiveram quatro ou mais dispensações no período e, paralelamente, a de controle laboratorial para 5596 usuários que possuíam informações deste desfecho passível de avaliação. A população de análise foi composta principalmente por mulheres, indivíduos entre 50 e 59 anos de idade e com predominância de uso da atorvastatina. Observou-se que as regionais de saúde com maior porte populacional apresentaram maior número de usuários vinculados ao programa e, ao mesmo tempo, maior taxa de descontinuidade. A não adesão foi registrada em 37,0% dos usuários, com maior risco no caso do sexo feminino, idade entre 40 e 70 anos residência em regionais de saúde de 300 a 500 mil habitantes. A taxa de desistência na obtenção dos medicamentos em até um ano foi de 29,3%, sendo a persistência inicial (até três dispensações) preponderante (15,6%) em comparação a persistência tardia (até 12 meses; 13,7%). O controle laboratorial inadequado, por sua vez, foi de LDL (>100mg/dL): 45,9%; HDL (<40mg/dL para homens ou <50mg/dL para mulheres): 31,1%; CT (>190mg/dL): 28,0%; e TG (>150mg/dL): 32,3%. Tanto na comparação de médias entre aderentes e não aderentes, quanto na análise multivariada com o controle por fatores de confusão (sexo, idade, medicamento, dose, densidade populacional do local de residência), a não adesão esteve associada a piores taxas de controle para LDL (HR=2,34; IC95% 2,14-2,54), HDL (HR=3,28; IC95% 2,97-3,63), CT (HR=2,99, IC95% 2,69-3,32) e TG (HR=2,34; IC95% 2,13-2,59). As diferenças nos padrões de obtenção, elevada taxa de desistência em um ano, não adesão superior a um terço dos usuários e sua correlação com a falta de controle laboratorial apontam para a necessidade de reconhecer a problemática no sistema de saúde brasileiro e adoção de medidas de aprimoramento das políticas instituídas visando melhor controle das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil.
Hospitais em municípios de pequeno porte: sua inserção no SUS
Francisco Eugênio Alves de Souza, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 02/02/2019
INTRODUÇÃO: Apesar da grande maioria dos municipios brasileiros serem de pequeno porte, poucos estudos tem se debruçado sobre o Sistema Único de Saúde –(SUS) e sobre o papel dos hospitias existentes nessas localidades, principamente estudos acerca do uso político destes, bem como sobre o poder simbólico que eles exercem. OBJETIVOS: Este estudo buscou refletir sobre o papel dos hospitais de pequeno porte (HPP) em municípios de pequeno porte (MPP) da região de Londrina, bem como, aprofundar a compreensão sobre a relação destes com as normativas do Sistema Único de Saúde (SUS) no que diz respeito aos programas de atendimento em redes de atenção à saúde (RAS), tais como a Rede de Urgência e Emergência (RUE) e da Rede Mãe Paranaense e também analisar os desafios dos gestores, os fatores que interferem na gestão e o poder simbólico dos hospitais em MPP. MÉTODOS: Estudo exploratório, de natureza compreensiva e interpretativa, desenvolvido por meio de métodos mistos, do tipo sequencial exploratório, utilizando-se de dados quantitativos e qualitativos. A coleta de dados e as entrevistas foram realizadas no período de março a dezembro de 2016, em 14 municípios de pequeno porte, que possuem hospitais, localizados na macrorregião norte do Paraná, na abrangência da 17ª Regional de Saúde. Os sujeitos foram os secretários de saúde e os diretores dos hospitais estudados, entrevistados utilizando roteiro semiestruturado. O foco teórico para a análise deste trabalho foi o conjunto de conceitos formulados para entender a sociedade moderna do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930- 2002), especialmente os conceitos de poder simbólico, campo, habitus e capital. RESULTADOS: Apresentados por meio de três manuscritos científicos. Os dados do primeiro revelaram extrema ociosidade da capacidade instalada, centros cirúrgicos inativos e baixíssima ocupação dos leitos hospitalares, não estando adequados à Política Nacional para Hospitais de Pequeno Porte (PNPHPP). O segundo manuscrito indicou que para os gestores entrevistados é fundamental a construção de um discurso pela manutenção desses hospitais ainda que faltem recursos para um atendimento integral, eficiente e que responda de forma resolutiva às demandas da população, pois o seu fechamento causaria um impacto negativo para a legitimação do gestor em exercício. Constatou-se que os HPP participam da RUE, embora não possuam condições de resolver muitos dos problemas dos pacientes atendidos, mas, como estão incluídos nas centrais reguladoras, os usuários podem ser encaminhados para hospitais de maior porte, conforme o desejo da população. Quanto a participarem da Rede Mãe Paranaense, verificou-se que a maioria dos HPP não tem condições de integração, tornando-se meros encaminhadores de gestantes para hospitais/maternidades de referência, embora o desejo dos gestores e da população local fosse que a atenção às parturientes ocorresse nos municípios de residência. O terceiro manuscrito, por fim, revelou que o capital político mobilizado pelo Poder Executivo local, representado por prefeitos e secretários de saúde, é determinante na seleção e escolha dos agentes que ocupam os cargos de direção e de outras funções nos hospitais. Logo, a autonomia da gestão técnica dos hospitais é limitada pelas condições estabelecidas mediante jogos de poder pertencentes ao campo político. TECENDO CONSIDERAÇÕES: Os HPP apresentaram desempenho abaixo do preconizado na assistência à saúde para a população à qual se destinam, bem como inserção incipiente na RAS. Os capitais simbólico e político investidos na ideia do Hospital ajudam a compreender por que, mesmo com baixa produtividade e custos elevados, os agentes políticos não abrem mão de custeá-los, ampliá-los ou mantê-los com os meios que dispõem.
A construção e governança da rede de atenção às urgências na região oeste do Paraná: um estudo de caso
Rubens Griep, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 20/09/2018
OBJETIVO: Analisar o papel das Comissões Intergestores Regionais da 10ª e 20ª Regionais de Saúde do Paraná (CIR 10ª e 20ª RS-PR) na construção e governança da Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) para o território, considerando-se os objetivos específicos: a) Descrever e caracterizar a Macrorregião Oeste, as RUE existentes e o processo de implantação desta na 10ª e 20ª RS-PR; b) Caracterizar as normas jurídicas da Política de Atenção às Urgências no SUS e o modo como estas influenciaram a agenda de discussões para a implantação da RUE na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e nas CIR 10ª e 20ª RS-PR; c) Identificar os desafios evidenciados nas Comissões Intergestores para a gestão interfederativa e a governança das Redes de Atenção à Saúde (RAS), e d) Discutir a participação da CIR 10ª e 20ª RS-PR na construção, implantação e governança da RUE para o território. MÉTODOS: Trata-se de um estudo de caso realizado entre os anos de 2015 e 2016 junto as CIR 10ª e 20ª RS-PR, compostas por 25 municípios na 10ª RS-PR e 18 municípios na 20ª RS-PR. Para a estruturação desta tese, o objetivo específico “a” foi alcançado por meio da triangulação de dados obtidos por pesquisa documental e entrevista semiestruturada. Os demais objetivos foram apresentados no formato de artigos científicos com metodologia, resultados e conclusões próprias, conforme descrito: Objetivo b) Estudo descritivo, de natureza documental; Objetivo c) Revisão integrativa da literatura, e Objetivo d) Estudo de caso por meio de pesquisa documental, aplicação de questionário, entrevista semiestruturada e observação direta. RESULTADOS: A Macrorregião Oeste é composta por cinco Regionais de Saúde integrando 94 municípios com uma população estimada de 1.962.698 habitantes. Cascavel, sede da 10ª RS é também sede macrorregional para a média e alta complexidade. Observou-se a existência de três RUE interdependentes sendo que a conformação da RUE na 10ª e 20ª RS-PR envolveu múltiplos atores com diferentes interfaces hierárquicas no processo decisório, sob a regência do Estado, cabendo a CIR a validação do processo; identificou-se na Atenção às Urgências no SUS, predominância de planejamento normativo com forte indução central, desencadeado a partir da edição de normas jurídicas instituidoras de políticas que promovem reação em ondas junto a CIB e as CIR 10ª e 20ª RS-PR; destacam-se como desafios à gestão interfederativa e à governança das RAS a rotatividade e baixa capacidade de gestão, a ausência e/ou fragilidade dos sistemas de informação, as relações de poder existentes entre municípios e entre municípios e Estado, a insegurança jurídica para as decisões emanadas e a deficiência na proposição do financiamento de ações e serviços; identificou-se nas regiões estudadas uma estrutura formalista e burocrática com pouca autonomia no processo decisório, atrelada a insuficiente qualificação para gestão; as CIR 10ª e 20ª RS-PR apresentaram papel coadjuvante na definição da RUE, cabendo-lhes a formalização do desenho e dos critérios de financiamento interfederativo, com processos de comunicação verticais e pouco solidários. CONCLUSÕES: A despeito dos avanços observados, a participação da CIR 10ª e 20ª RS-PR se deu na fase de implantação e implementação da RUE, sendo ainda limitada sua participação na identificação dos problemas e na definição das prioridades em saúde. As CIR apresentaram-se com institucionalidade intermediária na implantação e governança da RUE, sendo fundamental que os atores envolvidos construam, a partir de suas realidades e expectativas, um horizonte comum por meio da negociação e do consenso.