Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica e as Práticas Colaborativas para o cuidado integral
Daiene Aparecida Alves Mazza, Brígida Gimenez Carvalho, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 20/05/2020
Introdução: Os profissionais do NASF-AB se encontram diante de uma aposta que pressupõe uma relação de trabalho colaborativa, sendo que o grau de articulação esperado entre esses trabalhadores, e destes com a equipe de referência e com outros componentes da rede são essenciais para a produção da qualidade do cuidado. Buscando-se compreender as práticas colaborativas desenvolvidas pelos NASF-AB de forma mais ampliada, utilizou-se o referencial teórico das dimensões de colaboração, e as premissas da ergologia. Esta possibilitou uma análise para além do trabalho prescrito, considerando a perspectiva dos profissionais, a relação que eles estabelecem com o meio em que estão implicados, bem como as singularidades existentes na realização das atividades. Objetivo: O estudo teve como objetivo compreender os elementos estruturantes das práticas colaborativas desenvolvidas no processo de trabalho de equipes NASF-AB para o cuidado integral em municípios que integram a 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Método: Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, de caráter abrangente, realizado em três municípios da 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Os participantes da pesquisa foram profissionais que integram as equipes da NASF-AB em cada município analisado. O estudo foi realizado através de: revisão de literatura; definição de locais de pesquisa e participantes; observação do participante; e entrevista semiestruturada. Para análise dos dados, foi utilizado o método de análise de discurso proposto por Martins e Bicudo. Resultados: O estudo revelou que aspectos macro e micropolíticos estão presentes de modo conjunto e indissociável no cotidiano de atuação do NASF-AB, sendo que fatores referentes à infraestrutura, gestão do trabalho, formação para o SUS, relação entre as equipes e características dos profissionais influenciam a organização e o processo de trabalho do NASFAB. O espaço de apoio matricial possibilitou aos trabalhadores o desenvolvimento de elementos essenciais para a colaboração, como respeito mútuo, comunicação aberta e escuta de diversos pontos de vista, e o estabelecimento de consenso, tendo como essência o cuidado do usuário. A interpretação das práticas realizadas pelo NASF-AB demonstrou o desenvolvimento de práticas colaborativas na rotina desses profissionais expressas nos atendimentos individuais, nas visitas domiciliares, no planejamento e execução de atividades coletivas e na articulação com a rede. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho. Conclusão: Este estudo explorou a potência do trabalhador, de modo a desenvolver práticas colaborativas considerando suas singularidades e o contexto em que estão inseridos. A operacionalização do apoio matricial e o desenvolvimento de práticas colaborativas se mostraram favorecidos nos municípios de pequeno porte, que integram equipes NASF-AB modalidade 2 e 3. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho.
Insatisfação no trabalho e transtorno mental comum em agentes de segurança penitenciária do estado de São Paulo
Daiane Suele Bravo, Arthur Eumann Mesas, Renne Rodrigues
Data da defesa: 16/04/2021
Introdução: O trabalho do agente de segurança penitenciária (ASP) no interior do cárcere caracteriza-se pela exposição a situações de perigo, intimidações e distanciamento social durante a jornada laboral, além da condição de estar em contínuo alerta devido ao risco de rebeliões e de outras incidências. Objetivo: Analisar os fatores ocupacionais associados aos transtornos mentais comuns (TMC) e à insatisfação no trabalho (IT) em ASP. Métodos: Os estudos que compõem esta tese fazem parte do projeto de pesquisa “AGEPEN: Condições de Trabalho, Saúde Mental e Sono em Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo”. Para mensurar a presença de TMC, utilizou-se o instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), com ponto de corte ≥7 para indicativo de TMC. A IT foi mensurada por meio do instrumento Occupational Stress Indicator (OSI), empregando o percentil 75 para identificar insatisfação (≥78 pontos). As associações entre as variáveis ocupacionais com TMC e IT foram analisadas separadamente por meio de modelos de regressão logística binária para obtenção da odds ratio (OR) e respectivos intervalos de confiança (IC) a 95% ajustadas pelos principais fatores de confusão. Resultados: A análise dos fatores associados ao TMC incluiu 331 ASP, entre os quais 33,5% apresentaram TMC. A presença de TMC entre os ASP se associou com a pior percepção sobre as condições de trabalho (OR: 2,67; IC 95%: 1,19 - 6,05; p=0,018), ter sofrido insulto (OR: 4,07; IC95%: 1,76 - 9,41; p<0,001) e assédio moral (OR: 8,01; IC95%: 2,42 - 26,52; p<0,001), nos últimos 12 meses. Nas análises dos fatores associados à IT, 27,2% dos 301 ASP apresentaram IT. Verificou-se que a IT entre os ASP se associou com pior percepção sobre as condições de trabalho (OR: 3,19; IC95%: 1,64 - 6,20; p<0,001), ter sofrido insulto (OR: 2,38; IC95%: 1,27 - 4,47; p=0,007), assédio moral (OR: 4,18; IC95%: 1,61 - 10,86; p=0,003) nos últimos 12 meses, pensar em mudar de profissão (OR: 2,41; IC95%: 1,20 - 4,83; p=0,013) e TMC (OR: 2,22; IC 95%: 1,18 - 4,20; p=0,014). Conclusão: Os transtornos mentais comuns e a insatisfação no trabalho afetam um a cada quatro agentes de segurança penitenciária. Piores condições do ambiente de trabalho, sofrer insultos e assédio moral se associaram com as presenças de TMC e de IT. Adicionalmente, a IT se associou com pensar em mudar de profissão. Embora os ASP trabalhem em um ambiente periculoso e inseguro, foram variáveis relacionadas ao ambiente físico e às violências psicológicas que se associaram com TMC e com IT, e não variáveis relacionadas às violências físicas ou à maior proximidade com os apenados. Dado que tanto os TMC quanto a IT podem impactar a saúde mental desses trabalhadores, considera-se de fundamental importância o desenvolvimento de estratégias que visem reduzir a violência psicológica sofrida pelos ASP no interior do cárcere.
Análise dos fatores ocupacionais associados ao estresse e à qualidade do sono em agentes de segurança penitenciária
Soraya Geha Gonçalves, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 15/04/2021
Os Agentes de Segurança Penitenciária (ASP) são os trabalhadores responsáveis pela gestão e operação das penitenciárias, sofrendo com os problemas do sistema penitenciário, como superlotação e dificuldades de implementar políticas adequadas à ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Como consequência, esses trabalhadores são expostos a condições de trabalho inadequadas, que podem resultar em problemas como estresse ocupacional e má qualidade do sono. Em razão da importância desses profissionais para o sistema penitenciário e dos possíveis impactos das condições de trabalho sobre a saúde destes, a presente tese teve como objetivo analisar a associação entre as condições de trabalho com o estresse ocupacional e a qualidade do sono em ASP. Trata-se de um estudo de corte transversal realizado com ASP do sexo masculino atuantes em quatro penitenciárias do Estado de São Paulo, no período de janeiro a agosto de 2019. O estresse ocupacional, obtido por meio do Swedish Demand-Control-Support Questionnaire (DCSQ), e a pior qualidade do sono, obtida pelo Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) > 5 pontos, constituíram desfechos analisados em estudos independentes em relação às variáveis ocupacionais. O trabalho de alta exigência foi identificado em 24,3% dos 321 ASP incluídos no primeiro estudo. Análises ajustadas demonstraram maior chance para o trabalho de alta exigência: turno diarista (ORaj= 5,00; IC 95%: 1,65 – 15,13) e vontade de mudar de profissão (ORaj= 3,75; IC 95%: 1,56 – 9,03) e maior chance para o trabalho ativo: turno diarista (ORaj= 8,19; IC 95%: 2,93 – 22,90) e maiores exigências mentais (ORaj= 4,82; IC 95%: 1,60 – 14,47). A pior qualidade do sono foi observada em 57,8% dos 256 ASP incluídos no segundo estudo, associando-se, em análises ajustadas, a maiores exigências mentais (ORaj= 3,10; IC 95%: 1,40 – 6,85), à insatisfação profissional (ORaj= 4,52; IC 95%: 1,32 – 15,46), à dificuldade para deixar de pensar no trabalho durante o tempo livre (ORaj= 5,13; IC 95%: 1,26 – 20,78) e com a vontade de mudar de profissão (ORaj= 3,20; IC 95% 1,53 – 6,71). Com base nos resultados encontrados, é possível verificar que o ambiente laboral dos ASP, seja pelas condições ou pela organização do processo de trabalho, aumentam as chances da associação com estresse ocupacional e pior qualidade do sono. Desta forma, constata-se a necessidade de estratégias organizacionais e estruturais que possam contribuir para amenizar os principais fatores ocupacionais relacionadas a alta demanda do trabalho, assim como a implantação de programas para a promoção da qualidade do sono, visando saúde e bem-estar dos ASP e garantia de segurança para o processo de trabalho.
Associação entre qualidade do sono, atividade física e sedentarismo em professores do ensino básico de Londrina, Paraná
Marcelly Barreto Correa, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 06/04/2021
Introdução: A qualidade do sono pode afetar o desempenho físico, ocupacional, os processamentos cognitivo e social, e ter consequências negativas à saúde e à vida pessoal e profissional dos professores. Objetivos: Analisar a relação entre a qualidade do sono e a prática de atividade física no tempo livre (AFTL) e o tempo assistindo televisão (TV) em professores da educação básica da rede pública de Londrina, Paraná. Métodos: Trata-se de um estudo longitudinal prospectivo, de tipo coorte, que incluiu professores que atuavam como docentes em sala de aula, ministrando aulas para estudantes do nível fundamental (anos finais), e que participaram das duas etapas do estudo PRÓMESTRE (baseline em 2012-2013 e seguimento após 24 meses, em 2014-2015). A coleta de dados foi realizada em entrevista pré-agendada, com duração de aproximadamente uma hora, constituída por formulário e questionário, contendo questões sobre características sociodemográficas, de estilo de vida, saúde, ocupacionais e qualidade do sono avaliada por meio do índice Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI). As análises estatísticas incluíram modelos de regressão logística ajustados por variáveis sociodemográficas (sexo, faixa etária, estado civil e renda), antropométrica (índice de massa corporal) e ocupacional (carga horária), de estilo de vida (AFTL, tempo assistindo TV, consumo de tabaco, álcool e café) e de saúde (relato de ansiedade e depressão diagnosticados por um médico). O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Resultados: Entre os 195 professores (66,2% mulheres, idade média de 42 anos) entrevistados no baseline e classificados como referindo boa qualidade do sono (PSQI ≤5 pontos), a incidência de pior qualidade do sono (PSQI>5) após 24 meses foi de 31,8% (n=62). Nas análises ajustadas por todas as variáveis de confusão, os professores que eram fisicamente inativos no tempo livre no início do estudo apresentaram quase três vezes mais chance de desenvolver pior qualidade do sono ao longo do seguimento (odds ratio [OR]=2,88; intervalo de confiança [IC] 95%=1,46-7,97). Esse risco foi semelhante entre os professores que se mantiveram inativos com relação à AFTL entre o baseline e o seguimento (OR=2,72; IC 95%=1,22-6,03). Ao estratificar o tempo semanal de AFTL pelo ponto de corte de 150 minutos, manter-se inativo (AFTL<150 minutos/semana) associou-se com maior chance de pior qualidade do sono (OR=2,91; IC 95%=1,10-7,68). Com relação ao marcador de comportamento sedentário tempo assistindo TV, observou-se que os professores que assistiam TV mais 60 minutos diários tanto no baseline quanto no seguimento apresentaram maior chance de pior qualidade do sono (OR=2,70; IC 95%=1,14-6,38), independentemente dos fatores de confusão considerados. Conclusão: A manutenção da inatividade física (<150 minutos semanais) e do tempo prolongado (>60 minutos diários) assistindo TV por um período de 24 meses aumentou a chance de pior qualidade do sono em professores.
Cartografia do cuidado ao cuidador: encontros, resistências e produção de linhas de fuga
Ana Lúcia De Grandi, Regina Melchior, Josiane Vivian Camargo de Lima
Data da defesa: 31/03/2021
A partir do referencial da micropolítica do trabalho e cuidado em saúde, desejamos cartografar, neste trabalho, o cuidado do cuidador, vivenciar as experiências do cuidador na produção do seu cuidado e na produção do cuidado do outro, pensando o cuidado do cuidador como processo singular e necessário para o estabelecimento de relações com o outro e da afetividade. Para isso, acompanhamos um Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) e, durante os encontros junto à cuidadora, nos impregnamos de sua existência e de sua trajetória para acompanhar como o cuidador vivencia seu cuidado. Assim, nos construímos enquanto cartógrafa e, analisando nossas próprias implicações com o tema do cuidado do cuidador, surgiram dois analisadores: o SAD como local de produção de vínculo e cuidado integral e a dificuldade da continuidade do cuidado na rede de atenção; a solidão da cuidadora e seus movimentos de resistência. Os encontros com a cuidadora-guia permitiram perceber sua multiplicidade, a nossa e a dos trabalhadores da saúde. As relações de conflito, vivenciadas pela cuidadora com as equipes de trabalhadores em diferentes serviços, demonstram a necessidade de construir projetos terapêuticos compartilhados, além de encontros afetados pela falta de tecnologias leves. O rompimento do vínculo e a descontinuidade do cuidado em saúde são fatores agravantes para o não alcance da integralidade e potencializador da solidão do cuidador. A solidão da cuidadora está relacionada ao isolamento social vivido em decorrência de não ter com quem dividir as tarefas de cuidar. Outra questão é a invisibilidade do cuidador para os trabalhadores e para os serviços de saúde que focam seu cuidado ao usuário em um recorte biológico, sem percepção das singularidades e da vida do cuidador. Para isso, existe a necessidade de criação de espaços efetivos em que os trabalhadores possam colocar em análise o trabalho realizado, dando visibilidade às forças que estão influenciando o seu fazer, buscando conhecer a vida do usuário, do cuidador e da família. Nosso desafio é dar visibilidade a essa complexidade do cuidador, produzindo redes efetivas e a continuidade do cuidado para esses casos.
Arte e Cuidado em Saúde: experienciação do cuidado nos encontros vividos no Projeto Sensibilizarte
Flávia Maria Araújo, Maira Sayuri Sakay Bortoletto
Data da defesa: 29/03/2021
Aguardando publicação em periódico científico.
A utilização de tratamentos não farmacológicos por idosos com dor crônica musculoesquelética
Flávia Guilherme Gonçalves Ziegler, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 23/11/2020
Com o envelhecimento populacional, é esperado o aumento da prevalência de dores crônicas, o que pode interferir na qualidade de vida dos idosos. As dores musculoesqueléticas estão entre as causas mais frequentes de procura médica; sua abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo tratamentos farmacológicos e não farmacológicos. Objetivo: Caracterizar a utilização de tratamentos não farmacológicos para o alívio das dores crônicas de idosos da comunidade e sua autoeficácia frente à essa condição. Métodos: Trata-se de um estudo de corte transversal com amostra não probabilística de sujeitos acima de 60 anos, com dor crônica musculoesquelética, residentes na área urbana do município de Londrina, PR, atendidos pelo serviço de Atenção Primária à Saúde e encaminhados para a avaliação especializada com ortopedista entre abril 2016 e abril 2017. Foi realizado inquérito domiciliar, por meio de questionário composto de informações para caracterização sociodemográfica, caracterização da dor – por meio do instrumento Inventário Breve de Dor e da Escala de LANSS, foi medida a autoeficácia pela Escala de Autoeficácia para dor crônica e, por fim, foram elaboradas questões simples para caracterizar o tratamento não farmacológico utilizado e a crença no exercício físico como tratamento para o alívio da dor. Para a análise descritiva, usou-se a frequência absoluta e relativa, enquanto que, para a análise bivariada, foi utilizado o teste Quiquadrado. As variáveis sexo, escolaridade e renda familiar foram predefinidas como variáveis de ajuste dos modelos. As Razões de Prevalência (RP) brutas e ajustadas foram obtidas mediante regressão de Poisson com ajuste por variância robusta. Para análise de dados não paramétricos, foi utilizado o teste de Mann-Whitney-U, apresentando a distribuição por meio das medianas e dos intervalos interquartílicos. O nível de significância adotado foi de p< 0,05. Resultados: Foram entrevistados 193 idosos, dos quais 70,5% eram do sexo feminino, 60,6% possuíam o ensino fundamental incompleto e 82,4% tinham renda familiar de até 2 salários mínimos. O tratamento não farmacológico foi solicitado para 172 idosos e as abordagens mais utilizadas para as dores crônicas musculoesqueléticas foram fisioterapia (72,5%), seguida por nutrição (19,7%), práticas integrativas e complementares (20%), educação física (6,2%) e psicologia (5,2%). A autoeficácia foi mais bem avaliada por idosos que moravam sós, por aqueles com a faixa etária acima de 70 anos e por aqueles com dor exclusivamente nociceptiva. Consideração final: Foi evidenciado que, entre os tratamentos não farmacológicos, o mais utilizado foi a fisioterapia. Além disso, a dor com predomínio nociceptivo esteve associada com a melhor tolerância do exercício físico e melhor autoeficácia. Apesar de muitos idosos não terem realizado alguma modalidade de tratamento não farmacológico para o alívio de suas dores, para o adequado manejo da dor crônica, faz-se necessária uma avaliação adequada, além de uma abordagem multidisciplinar que seja capaz de possibilitar a autonomia e a independência do idoso, ainda que na presença de limitações devido ao quadro álgico.
Hospitais gerais públicos de média complexidade na rede de atenção às urgências: influência da estrutura de gestão
Fabiane Gorni Borsato, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 06/03/2020
Este estudo teve o objetivo de compreender a dinâmica da estrutura de gestão da média complexidade hospitalar pública de uma Região de Saúde e sua influência para o desempenho destas instituições na Rede de Urgência e Emergência. Foi realizado em dois hospitais públicos de média complexidade de uma Região de Saúde, utilizando-se do método de natureza mista, a partir de dados quantitativos e qualitativos, em três momentos. No primeiro momento desenvolveu-se um estudo exploratório, com coleta de dados secundários, a partir de uma abordagem documental e; outro quantitativo, para permitir a pesquisadora aprofundar seus conhecimentos sobre o contexto estudado. Na abordagem documental buscou-se conhecer a tipologia e perfil dos hospitais, a capacidade instalada, a abrangência regional, aspectos organizacionais e sua estrutura de gestão. Utilizou-se de documentos institucionais (planos estratégicos, organogramas, contratos e convênios firmados, plano municipal e estadual de saúde, o Plano de Ação de Urgência e Emergência da Macrorregião Norte do estado e o Plano Diretor de Regionalização). Na abordagem quantitativa realizou-se a coleta de dados dos relatórios da Auditoria Operacional realizada pela Diretoria de Regulação da Atenção à Saúde do município onde os hospitais se localizam; dos relatórios do Protocolo de Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco das instituições; e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). Os dados quantitativos referiram-se ao período de janeiro de 2016 a junho de 2017, sendo os documentos analisados vigentes no mesmo período. No segundo momento foi utilizada abordagem qualitativa, com entrevistas realizadas com sete atores envolvidos na estrutura de gestão dos hospitais para atuação da Rede de Urgência e Emergência. Em um terceiro momento, foi realizada a Triangulação de Métodos, relacionando dados qualitativos aos elementos documentais e quantitativos, com posterior aplicação da análise hermenêutica de Paul Ricoeur. A média complexidade hospitalar estudada constitui-se de instituições estaduais localizadas em um município responsável pela gestão total do sistema de saúde e, desta maneira, possui relação estreita com as diretorias dos hospitais estudados. Esta relação é estabelecida por meio de um contrato firmado que envolve também o Consórcio Intermunicipal de Saúde e prevê transferências de recursos federais para o financiamento da produção hospitalar, recebido pelo ente municipal. A análise da estrutura de gestão permitiu identificar a existência de dois núcleos (Círculo Municipal e Círculo Estadual), revelando-se complexa e atomizada com poder centralizado no gestor municipal que detém a autoridade legal, domínio dos recursos financeiros e maior capacidade produtiva na região de saúde. Ao passo em que isto acontece, existe um distanciamento do Estado que delega às diretorias das instituições a autonomia para negociações e pactuações no âmbito regional. A autonomia dos hospitais visionada pelo ente estadual se revela como um fator de risco para os processos de gestão efetivos, devido à rotatividade da gestão hospitalar que no contexto, se origina de indicações político-partidárias, relacionadas ao poder político vigente. Apesar destes hospitais se constituírem em serviços de referência para RUE, constatou-se que os mesmos possuem uma demanda instalada para os serviços de urgência e emergência majoritariamente constituída por pessoas residentes no próprio município em que estão instalados (96,2% no hospital A e 97,4% no hospital B). Desta demanda, 70,8% e 61,9% evoluem para internação nos hospitais A e B, respectivamente. Das internações, observou-se que 36,3% e 42,3% consistem em Condições Sensíveis a Atenção Primária. Os atores do estudo reconhecem as dificuldades enfrentadas pela Atenção Primária em Saúde no município como um dos determinantes de impacto na atenção hospitalar de média complexidade. Concluiu-se que, mesmo que os planos de trabalho voltados à regionalização coloquem os hospitais deste estudo como componentes da Rede de Urgência e Emergência voltados a assistência de média complexidade à 21 municípios constituintes da região de saúde, existem dificuldades de regionalização do atendimento destes serviços que, em conjunto com a centralização do poder localmente, revela a atomização do sistema municipal. A dissociação apresentada pela estrutura de gestão analisada nesta pesquisa evidencia o aumento de poder centralizado no ente municipal enquanto o Estado se envolve na sustentação estrutural dos hospitais e nas diretrizes de gestão que, como exposto, pouco se relaciona com o ente municipal e ocorre diretamente com a gestão hospitalar, rotativa e política. Este distanciamento do Estado reflete na autonomia e poder dos atores hospitalares enquanto eleva o poder político do município nas pactuações e implementação de políticas, ficando instituições estaduais sob o comando dos interesses políticos municipais e de atendimento a demanda por atenção em saúde do território com consequentes dificuldades de regionalização dos serviços estudados. Este estudo demonstrou necessidades de revisão nos processos de gestão dos hospitais, com tentativas de resgatar o protagonismo do Estado e de seus representantes, especialmente os atores da gestão hospitalar; e inserir a problemática aqui apresentada em discussões nos espaços de governança regional.
Fisioterapia na atenção básica: reflexões sobre um processo em construção no município de Londrina-PR
Cíntia Raquel Bim, Alberto Durán González
Data da defesa: 14/10/2019
Introdução: A fisioterapia, marcada pelo seu histórico como profissão reabilitadora pautada no modelo biomédico, nos últimos anos vem aprimorando sua práxis profissional no contexto da atenção básica com ênfase no modelo biopsicossocial de produção do cuidado, a partir da inserção do fisioterapeuta no SUS, com a implantação do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB). Inquietação: Compreender as ações de fisioterapeutas na atenção básica no contexto da gestão, processo de trabalho e práticas profissionais. Métodos: Desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, a entrevista semiestruturada e o diário de campo foram utilizados como instrumentos de pesquisa, e os dados foram interpretados por meio da análise do discurso. Foram realizadas entrevistas nos meses de setembro e outubro de 2017, com dezenove fisioterapeutas atuantes em Unidades Básicas de Saúde e três profissionais da gestão da atenção básica no município de Londrina-PR. Resultados e Discussão: Os resultados foram sistematizados em três categorias: gestão e processo de trabalho, ações fisioterapêuticas e promoção da saúde. Dentre as características para o processo de trabalho observou-se que a organização do serviço no município, o número de profissionais, as relações interprofissionais, estrutura física e recursos financeiros, perfil da população assistida são fatores que interferem na prática profissional. As influências para as ações fisioterapêuticas na atenção básica envolvem o perfil profissional, o uso de tecnologias relacionais, carga horária, tipo de unidade em que atua (urbana ou rural). Ainda é um desafio para fisioterapeuta realizar o monitoramento e avaliação de suas ações. As ações para a promoção da saúde ainda são incipientes, mas muitos profissionais já reconhecem essa prática como meio de produzir a integralidade do cuidado. A demanda por atendimentos individuais é uma grande dificuldade para o fisioterapeuta concretizar na prática as diretrizes do NASF-AB, e superar essa realidade depende da sensibilização da gestão, dos profissionais e dos usuários. Considerações Finais: Avanços e desafios compõem o processo de construção do serviço de fisioterapia no munícipio de Londrina, pioneiro na inserção desse profissional na atenção básica em âmbito nacional. Foi possível compreender, a partir das falas dos fisioterapeutas do serviço e alguns gestores, e análise da pesquisadora, as ações desenvolvidas pela fisioterapia na atenção básica, processo dinâmico e complexo, que sofre influência de diversos atores e de políticas púbicas de saúde. A fisioterapia precisa se consolidar na atenção básica, e a experiência do município de Londrina reforça que para isso fisioterapeutas têm que incorporar o conceito ampliado de saúde, empregando em sua prática os princípios do SUS, diretrizes e ferramentas do NASF-AB, e as tecnologias relacionais visando a integralidade na produção do cuidado em sua identidade profissional, considerando a funcionalidade humana e seus determinantes como objeto de trabalho.
Dependência de cafeína: fatores associados e sintomas psíquicos em professores da educação básica
Juliana Mariano Massuia Vizoto, Alberto Durán González
Data da defesa: 20/09/2019
OBJETIVO: Analisar a prevalência de dependência de cafeína e fatores associados, em especial, sintomas psíquicos, em professores da educacão básica. Para isso, consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Investigar a prevalência de dependência de cafeína e verificar sua associação com variáveis sóciodemográficas, hábitos de vida, condições de saúde e fatores ocupacionais em professores; 2) Examinar a relação da dependência de cafeína e de suas características-chave com sintomas psíquicos em professores. MÉTODOS: Para estruturação desta tese, cada objetivo específico foi apresentado em formato de um artigo científico. A população estudada faz parte do projeto “Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná” (Pró-Mestre), no qual professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina foram entrevistados em dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (anos 2014 e 2015), após 24 meses. Ambos os estudos apresentam análises utilizando os dados apenas do seguimento e tratam-se de estudos transversais. A dependência de cafeína foi avaliada seguindo os critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Saúde Mental (DSM-5) que define três características-chave: desejo persistente e/ou esforços fracassados, uso continuado da cafeína apesar de efeitos nocivos e abstinência. RESULTADOS: Estudo 1) A maioria dos 430 professores relatou consumo regular de cafeína e um quarto, aproximadamente, relatou consumo elevado. A prevalência de dependência de cafeína foi de 5,6% e não se mostrou associada a características sóciodemográficas ou a hábitos de vida. Os professores que relataram consumo elevado de cafeína apresentaram maiores chances de dependência. Quanto às condições de saúde, a auto avaliação de saúde regular/ruim, a qualidade de sono ruim e o uso de medicamentos para dormir mostraram-se associados à dependência de cafeína. Com relação aos fatores ocupacionais, percepções regulares/ruins quanto ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal, falta de tempo e frustração com o trabalho, esgotamento e o sentimento de estar no limite de possibilidades mostraram-se mais frequentes nos professores classificados como dependentes (p<0,05). Estudo 2) A dependência de cafeína mostrou-se associada com a presença de depressão, segundo o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II), nos 392 professores incluídos. O mesmo foi observado com suas características-chave. Os sintomas depressivos associados à dependência de cafeína foram: pessimismo, culpa, punição, baixa autoestima, choro, agitação, perda de interesse, desvalorização, irritabilidade, alterações no padrão de apetite e perda de interesse por sexo. A quantidade de sintomas presentes e a soma da pontuação obtida pela escala foi maior nos professores dependentes de cafeína. CONCLUSÕES: A prevalência de dependência de cafeína mostrou-se baixa, porém associada a fatores adversos relacionados ao sono, a aspectos ocupacionais e à saúde mental nos professores. Desse modo, sugerem-se pesquisas adicionais sobre dependência de cafeína e riscos relacionados, com vistas a subsidiar ações preventivas e de controle, individuais e coletivas, sobre o uso abusivo de cafeína. Os achados da presente tese podem embasar futuras classificações clínicas do Transtorno por Uso de Cafeína pelo DSM.