Cartografia de uma mãe órfã: uma vivência no consultório na rua
Luiz Gustavo Duarte, Maira Sayuri Sakay Bortoletto
Data da defesa: 19/03/2020
Este estudo foi produzido por uma vivência realizada em um Consultório na Rua (CnaR) em 2019, onde por uma diagramação cartográfica mapeou-se os afetos que atingiram o corpo do pesquisador neste período. Partindo do objetivo de realizar uma cartografia a partir da vivência em um Consultório na Rua num município de grande porte do sul do país, elaborou-se um manuscrito científico em forma de artigo. Na discussão do artigo, através do mapeamento dos afetos em cenas vividas no CnaR junto com a intercessão da obra Sandman de Neil Gaiman, utilizada como dispositivo cognitivo de discussão da fantasia-realidade, foram diagramados territórios que evidenciaram modos de viver que desafiam os métodos tradicionais de produzir cuidado, onde foi perceptível as capturas micropolíticas que levaram à produção de controle e enquadramento, através do sequestro de um bebê pelo Estado, produzindo uma mãe órfã em um processo de desmaternização. Aliado a isto também houve o contato com um fluxo eugênico dentro da própria produção de cuidado. Diante do que foi cartografado, percebeu-se no CnaR uma potência de produção de outros modos de cuidado ao mesmo tempo que as capturas micropolíticas para controle destes considerados anormais do desejo, agem agressivamente maquinando a produção das necessidades de esterilizações e desmaternizações junto com o sequestro de bebês pelo Estado dos viventes de rua.
Incidência de aumento e redução do Índice de Massa Corporal em homens e mulheres de meia-idade: seguimento de quatro anos em município de médio porte
Nathalia Assis Augusto, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 27/03/2020
Nas últimas décadas, o Brasil passou a apresentar prevalência de excesso de peso três vezes maior que a desnutrição, com um aumento importante a partir da fase da meia-idade. O objetivo deste estudo foi analisar a incidência de aumento e de redução do Índice de Massa Corporal (IMC) entre homens e mulheres segundo características sociodemográficas e classificação nutricional. Trata-se de uma coorte prospectiva de base populacional com 689 adultos com idade entre 40 e 64 anos acompanhados por quatro anos. Verificou-se a proporção de redução e de aumento do IMC (≥1 kg/m²) segundo variáveis sociodemográficas e classificação nutricional no baseline por meio da regressão de Poisson bruta e ajustada. Entre os homens, observou-se maior incidência de aumento do IMC (31,8%) do que de redução (18,2%), sendo esta diferença significativa. Mesma tendência entre as mulheres, porém não significativa (35,2% de aumento, contra 27,8% de diminuição). Em mesma análise, estratificada pela classificação nutricional do baseline, observou-se que nos eutróficos a proporção de aumento foi superior à de redução (em ambos os sexos), porém, entre aqueles classificados com sobrepeso e obesidade não houve diferença significativa (nem em homens, nem em mulheres), apesar de numericamente os valores serem superiores para aumento se comparados à redução de 1 kg/m2 , exceto para as mulheres obesas. Comparando-se a incidência de redução e aumento de 1 kg/m2 segundo variáveis demográficas e classificação nutricional do baseline, observou-se maior incidência de redução nos homens da faixa etária de 55 a 64 anos (RR:1,78; IC95%:1,06-3,00), naqueles sem companheira (RR:1,85; IC95%:1,09-3,14), nos classificados com sobrepeso (RR:2,06; IC95%:1,13-3,74) e obesidade (RR:2,33; IC95%:1,24-4,35), enquanto a incidência de aumento foi menor na faixa etária de 55 a 64 anos (RR:0,62; IC95%:0,41-0,95). Entre as mulheres, houve maior incidência de redução na faixa etária de 55 a 64 anos (RR:1,43; IC95%:1,02-2,00) e nas classificadas com obesidade (RR:2,10; IC95%:1,30-3,38), e a incidência de aumento foi menor na faixa etária de 55 a 64 anos (RR:0,68; IC95%:0,49-0,95). Estes dados são importantes para compreensão dos fatores relacionados às variações de peso e elaboração de políticas públicas que visem o cuidado à saúde do adulto de meia-idade.
O trabalho coletivo na construção do cuidado: uma cartografia
Beatriz Zampar, Regina Melchior, Josiane Vivian Camargo de Lima
Data da defesa: 27/03/2020
A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e comunitárias envolvendo promoção, prevenção, tratamento, reabilitação, redução de danos e vigilância, por meio de práticas de cuidado integral em equipe, dirigida à população em território definido. Profissionais de diferentes áreas são convidados a se unir e trabalhar em prol de uma comunidade. A produção subjetiva do cuidado, é marcada por constante desconstrução e construção de territórios existenciais, numa lógica de fluxos-conectivos em benefício de um determinado projeto de cuidado que se preocupa em diferentes graus com a integralidade do usuário. O objetivo deste trabalho é analisar como uma equipe de Saúde da Família se organiza para produzir cuidado a partir do trabalho coletivo. Trata-se de um estudo qualitativo realizado com abordagem cartográfica, a qual busca mapear processos de produção de subjetividade, que são reconstituídas em cada encontro. Permite investigar as práticas na saúde, investigando a nós mesmos e nos colocando em análise, repensando práticas e a implicação com o todo. O campo da pesquisa foi uma Unidade de Saúde da Família de uma cidade de grande porte do Paraná, que conta com quatro equipes, Residência de Medicina de família e comunidade e Residência multiprofissional em Saúde da Família, por um período de 18 meses, de 2018 a 2019. Os resultados foram organizados em quatro eixos: de onde cada profissional parte (particularidades de cada formação, importância da comunicação e dos espaços que a possibilitem), construção do trabalho coletivo (processo que demanda tempo, habilidades e planejamento), disputas de projetos em saúde (entender que os atores estão fazendo gestão todo o tempo e não seguem os mesmos projetos), produção do cuidado (singularidade dos encontros, potencialidade do trabalho interprofissional, complexidade das necessidades em saúde). Esta cartografia possibilitou mapear o processo de formação do trabalho coletivo, suas potências e fragilidades. Apontou experiências exitosas e conflituosas, mas que geraram reflexão e possibilidades de novos arranjos. Para produção de coletivo em saúde, o cuidado deve ser o principal norteador, e o trabalho coletivo é fundamental nesse processo.
Produção do cuidado à gestante: narrativas de uma mulher em período perinatal
Célia Maria da Rocha Marandola, Regina Melchior
Data da defesa: 27/03/2020
O ato de cuidar em saúde é formado por um leque de ações, procedimentos, fluxos, rotinas e saberes que se complementam ao mesmo tempo em que se disputam. Embora inerente ao processo de trabalho dos profissionais da saúde o cuidado é de responsabilidade, também, de familiares, de amigos, e do próprio usuário. Sendo a Atenção Básica um terreno fértil para experimentar essa produção do cuidado. O estudo buscou dar luz às narrativas de uma gestante acompanhada no pré-natal numa Unidade Básica de Saúde de um município de grande porte, na região sul do Brasil. A pesquisa ocorreu no período de abril/2018 a dezembro/2019. Dentro da perspectiva cartográfica utilizamos como dispositivo de pesquisa a gestante-guia que nos conduziu em sua trajetória pela busca do cuidado e em suas narrativas foram emergindo cenas do vivido, como: a disputa de projeto de cuidado; a produção de máscaras como dispositivos de enfrentamento das perdas e o cuidado nos interstícios dos protocolos (seringas, receitas, agendas e afins). As narrativas da gestante-guia revelaram sua enorme expectativa de um parto seguro, pois ela confiava na equipe, principalmente, a equipe do alto risco que seria responsável pelo seu parto. Porém, a mesma não se sentia cuidada em nenhuma das complexidades (baixo ou alto risco) apesar de toda a estrutura montada para o cuidado em saúde à gestante. Faz-se necessário, portanto, que as equipes reflitam sobre o seu processo de trabalho, se colocando em análise no intuito de evitar prejuízos para o cuidado em saúde produzido nos encontros entre usuários e trabalhadores de saúde, buscando respeitar a necessidade e singularidade de cada indivíduo. Neste sentido, a construção de projetos terapêuticos e a implantação da estratégia de educação permanente em saúde (EPS) poderiam se configurar como apostas potentes às equipes, independente, da complexidade em que as ações de saúde são desenvolvidas visando à garantia dos direitos das usuárias em período gravídico-puerperal e propiciando o fortalecimento do SUS enquanto sistema de saúde que valoriza e cuida de vida, acreditando que toda a vida vale a pena.
Uso de fármacos anticolinérgicos em adultos de 44 anos ou mais em município de médio porte
Eliz Cassieli Pereira Pinto, Edmarlon Girotto, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 15/04/2020
Introdução: Anticolinérgicos (AC) são fármacos que bloqueiam a ação da acetilcolina e, por fazê-lo, podem deflagrar diversas disfunções orgânicas. O uso de fármacos dessa natureza tem sido associado a diversos desfechos clínicos desfavoráveis, especialmente na população idosa. Embora essa faixa etária possa estar mais suscetível às reações adversas a medicamentos (RAM), demais indivíduos em uso de AC também estão expostos. Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas ao redor do mundo, mas no Brasil, pesquisas nesse campo são incipientes. Objetivos: Investigar o uso de fármacos anticolinérgicos e fatores associados em adultos de 44 anos ou mais, de um município de médio porte do sul do Brasil. Métodos: Trata-se de um estudo de delineamento transversal e abordagem quantitativa, realizado a partir de dados primários do seguimento de uma pesquisa matriz, de base populacional. Em 2015 (seguimento), participaram do estudo 885 indivíduos, os quais foram caracterizados quanto as variáveis sociodemográficas, de saúde e uso de medicamentos. A Carga Anticolinérgica (CAC) foi determinada pela Anticholinergic Drug Scale (ADS). Cargas iguais ou superiores a três foram consideradas significativas. Conduziu-se Regressão Logística de Poisson para investigar a relação entre CAC e fatores associados, utilizando-se a Razão de Prevalência (RP) como medida de associação. Resultados: Esta dissertação foi construída em formato de dois artigos científicos. O primeiro descreve o uso de fármacos AC e investiga as características sociodemográficas e de saúde relacionadas ao uso de CAC. No segundo estudo explorou-se a relação entre CAC e a autopercepção de saúde. Encontrou-se uma prevalência de 20,7% de CAC significativa entre os respondentes que utilizavam medicamentos. No primeiro estudo, faixa etária não idosa (RP: 1,566; IC95%: 1,109- 2,211), polifarmácia (RP:1,519; IC95%: 1,099-2,100) e uso esporádico de dois ou mais medicamentos (RP:2,941; IC95%: 2,102-4,111) estiveram associadas à maiores CAC. Dentre os fármacos AC mais frequentemente utilizados estiveram os psicotrópicos e cardiovasculares. No segundo estudo CAC significativa e autopercepção negativa de saúde (APN) apresentaram associação positiva em todos os modelos estatísticos realizados (<0,05). Conclusões: Os achados indicam alta prevalência de CAC na população estudada, especialmente entre adultos de meia-idade, polimedicados e em uso esporádico de medicamentos, o que sugere que a investigação de AC nessa faixa etária demanda maior atenção. O uso de AC esteve associado a APN, um indicador de mormibortalidade de fácil aplicação, que pode ser utilizado em diferentes contextos.
Centro de Especialidades Odontológicas como ponto de atenção na Rede de Saúde Bucal
Alessandra de Oliveira Lippert, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 06/04/2020
A Odontologia no Brasil, por um longo período destacou-se pela prática iatrogênica e mutiladora, com caráter elitista e voltado para os interesses do setor privado, inclusive reproduzindo estas características no âmbito público. No ano 2000, o Ministério da Saúde (MS) elaborou um projeto identificado como Saúde Bucal Brasil, e este embasou do ponto de vista epidemiológico a elaboração de diretrizes para a implantação da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), lançada em 2004. A PNSB surge como uma alternativa para a melhoria da atenção à saúde de todos os brasileiros, visa garantir as ações de promoção, prevenção, recuperação e manutenção da saúde bucal, e aponta para uma reorganização da atenção em saúde bucal em todos os níveis de atenção. Para fazer frente a esse desafio, uma estratégia adotada foi a implantação de Centros de Especialidades Odontológicas (CEO). E em contraponto, aos modelos de saúde fragmentados, em 2014, o estado do Paraná propõe o atendimento por meio da Rede de Atenção à Saúde Bucal (RASB). O atendimento em rede propõe garantir a mudança do paradigma entre o modelo cirúrgico-restaurador para um modelo que atue na promoção de saúde, favorecendo o acolhimento universal, garantindo o acesso, e fortalecendo as unidades de saúde com cuidado integral às pessoas. Desta maneira, considerando que os pontos de atenção à saúde são os nós da rede de atenção, compreender como estes se articulam dentro da RASB, é de extrema importância para a consolidação do modelo. Com base nisso, o objetivo desta pesquisa foi compreender o papel do CEO para a organização de uma rede regionalizada de atenção à saúde bucal. Quanto ao procedimento metodológico, o estudo caracterizou-se por ser um estudo qualitativo de caráter exploratório e descritivo, realizado na 20ª Regional de Saúde (RS) do Paraná, a qual é composta por 18 municípios. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas no período de março e abril de 2019, e foram submetidos à análise de discurso proposta por Martins e Bicudo (2005). Foram entrevistados 14 profissionais cirurgiões-dentistas, nove da atenção básica (AB) e cinco da média complexidade, sendo considerados informantes chaves deste estudo. Da análise das entrevistas emergiram três categorias: (1) a organização da RASB; (2) o cuidado em saúde bucal; e (3) o papel do CEO na RASB. Os resultados foram apresentados no formato de três manuscritos científicos, correspondentes a cada categoria de análise. Os dados do primeiro manuscrito identificam os serviços de Odontologia, bem como descreve a organização da RASB nesta região de saúde. De maneira que se percebe pelos profissionais o conhecimento da rede, tanto dos pontos de atenção, quanto das suas responsabilidades. Porém, ainda são frágeis os mecanismos que articulam a AB e o CEO com os serviços de alta complexidade, configurando um cenário muitas vezes dissonante daquele desenhado pela Linha Guia. O segundo manuscrito refere-se ao cuidado integral em saúde bucal, cuja a oferta limitada e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde são frequentemente relatadas como maiores comprometedores da integralidade. Um dos principais motivos reside na fragilidade do cumprimento das atribuições relativas ao nível da AB, que gera demanda inapropriada aos níveis especializados, contribuindo para a demanda reprimida. O terceiro manuscrito permitiu identificar a posição ativa do CEO regional na região de saúde, o qual se mostrou importante para fortalecer a rede, bem como para a integralidade do cuidado. Por fim, os dados sugerem que há oferta de serviços de Odontologia presentes na 20ª RS, e a RASB no Paraná se apresenta organizada, porém ainda apresenta limitações. Quanto ao CEO, este tem um papel ativo na rede sendo um importante instrumento no processo de regionalização, porém ressalta-se a importância de ampliar e garantir o acesso equânime e de qualidade às necessidades de saúde bucal da população, com a garantia de continuidade do cuidado iniciado na AB.
Violência contra estudantes universitários no ambiente acadêmico: uma análise por sexo
Elidiane Mattos Rickli, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 26/05/2020
A violência acarreta grandes prejuízos para a sociedade, acometendo principalmente os mais jovens. Alguns grupos são mais vulneráveis a sofrer violência. Pessoas de raça/cor preta, parda ou indígena, com baixo poder socioeconômico, mulheres, jovens, não heterossexuais e com sobrepeso ou obesidade estão sob maior risco. Contudo, é possível que as causas da violência sejam diferentes conforme o sexo. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo analisar a violência ocorrida no ambiente acadêmico de acordo com o sexo de estudantes de graduação da Universidade Estadual de Londrina. Foram analisadas as violências psicológica, física e sexual, ocorridas no ambiente acadêmico, incluindo eventos acadêmicos e festivos, nos 12 meses anteriores à pesquisa. Para análise de associações, focou-se na violência psicológica (VP), por sexo. Na investigação sobre VP foram consideradas situações como humilhação, sentir-se excluído, ameaças, discriminação por raça/cor ou orientação sexual. A análise foi feita segundo variáveis sociodemográficas, acadêmicas e de saúde, além do local da agressão e agressor. A coleta de dados ocorreu entre abril e junho de 2019 por meio de questionário online. Os dados foram armazenados diariamente em arquivo Excel. A análise descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas. Para verificar as associações, para cada sexo, utilizou-se teste qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 0,05. A regressão de Poisson com variância robusta foi usada para análises ajustadas, incluindo nos modelos as variáveis com p-valor < 0,20 nas análises bivariadas. A maior parte dos estudantes tinha idade entre 18 a 21 anos (60,5%), era do sexo feminino (68,6%) e de raça/cor branca (69,8%). As prevalências de violência psicológica, física e sexual foram, respectivamente, de 43,8%, 1,0% e 9,4%. A violência física foi proporcionalmente mais relatada por estudantes do sexo masculino, enquanto as violências psicológica e sexual pelo sexo feminino. O local mais frequente de ocorrência de VP foi a sala de aula, e, no caso das violências física e sexual, os eventos festivos. O principal agressor foi outro estudante da universidade, independente da natureza da violência. Após ajustes, observou-se maior frequência de VP contra estudantes de ambos os sexos que se declararam não heterossexuais. Entre as do sexo feminino, a frequência de VP foi maior entre as mais jovens (RP na faixa de 18 a 21 anos=1,25; IC95% 1,01-1,54 e RP de 22 a 25 anos=1,32; IC95% 1,06-1,64) em comparação à faixa de 26 anos ou mais, e entre as que consumiam álcool semanalmente/diariamente (RP= 1,29; IC95% 1,01-1,66). Entre os do sexo masculino, o ingresso na Universidade pelo sistema de cotas (RP=1,27; IC95% 1,01- 1,60) e ser da raça/cor preta/parda/indígena (RP=1,19; IC95% 1,01-1,39) associaramse à VP. Este estudo confirma que alguns estudantes são mais vulneráveis à violência, com destaque para a orientação sexual, em ambos os sexos, e condições socioeconômicas, no sexo masculino. Medidas de combate ao preconceito e discriminação precisam ser ampliadas no ambiente acadêmico a fim de reduzir a violência e suas consequências.
Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica e as Práticas Colaborativas para o cuidado integral
Daiene Aparecida Alves Mazza, Brígida Gimenez Carvalho, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 20/05/2020
Introdução: Os profissionais do NASF-AB se encontram diante de uma aposta que pressupõe uma relação de trabalho colaborativa, sendo que o grau de articulação esperado entre esses trabalhadores, e destes com a equipe de referência e com outros componentes da rede são essenciais para a produção da qualidade do cuidado. Buscando-se compreender as práticas colaborativas desenvolvidas pelos NASF-AB de forma mais ampliada, utilizou-se o referencial teórico das dimensões de colaboração, e as premissas da ergologia. Esta possibilitou uma análise para além do trabalho prescrito, considerando a perspectiva dos profissionais, a relação que eles estabelecem com o meio em que estão implicados, bem como as singularidades existentes na realização das atividades. Objetivo: O estudo teve como objetivo compreender os elementos estruturantes das práticas colaborativas desenvolvidas no processo de trabalho de equipes NASF-AB para o cuidado integral em municípios que integram a 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Método: Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, de caráter abrangente, realizado em três municípios da 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Os participantes da pesquisa foram profissionais que integram as equipes da NASF-AB em cada município analisado. O estudo foi realizado através de: revisão de literatura; definição de locais de pesquisa e participantes; observação do participante; e entrevista semiestruturada. Para análise dos dados, foi utilizado o método de análise de discurso proposto por Martins e Bicudo. Resultados: O estudo revelou que aspectos macro e micropolíticos estão presentes de modo conjunto e indissociável no cotidiano de atuação do NASF-AB, sendo que fatores referentes à infraestrutura, gestão do trabalho, formação para o SUS, relação entre as equipes e características dos profissionais influenciam a organização e o processo de trabalho do NASFAB. O espaço de apoio matricial possibilitou aos trabalhadores o desenvolvimento de elementos essenciais para a colaboração, como respeito mútuo, comunicação aberta e escuta de diversos pontos de vista, e o estabelecimento de consenso, tendo como essência o cuidado do usuário. A interpretação das práticas realizadas pelo NASF-AB demonstrou o desenvolvimento de práticas colaborativas na rotina desses profissionais expressas nos atendimentos individuais, nas visitas domiciliares, no planejamento e execução de atividades coletivas e na articulação com a rede. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho. Conclusão: Este estudo explorou a potência do trabalhador, de modo a desenvolver práticas colaborativas considerando suas singularidades e o contexto em que estão inseridos. A operacionalização do apoio matricial e o desenvolvimento de práticas colaborativas se mostraram favorecidos nos municípios de pequeno porte, que integram equipes NASF-AB modalidade 2 e 3. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho.
Insatisfação no trabalho e transtorno mental comum em agentes de segurança penitenciária do estado de São Paulo
Daiane Suele Bravo, Arthur Eumann Mesas, Renne Rodrigues
Data da defesa: 16/04/2021
Introdução: O trabalho do agente de segurança penitenciária (ASP) no interior do cárcere caracteriza-se pela exposição a situações de perigo, intimidações e distanciamento social durante a jornada laboral, além da condição de estar em contínuo alerta devido ao risco de rebeliões e de outras incidências. Objetivo: Analisar os fatores ocupacionais associados aos transtornos mentais comuns (TMC) e à insatisfação no trabalho (IT) em ASP. Métodos: Os estudos que compõem esta tese fazem parte do projeto de pesquisa “AGEPEN: Condições de Trabalho, Saúde Mental e Sono em Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo”. Para mensurar a presença de TMC, utilizou-se o instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), com ponto de corte ≥7 para indicativo de TMC. A IT foi mensurada por meio do instrumento Occupational Stress Indicator (OSI), empregando o percentil 75 para identificar insatisfação (≥78 pontos). As associações entre as variáveis ocupacionais com TMC e IT foram analisadas separadamente por meio de modelos de regressão logística binária para obtenção da odds ratio (OR) e respectivos intervalos de confiança (IC) a 95% ajustadas pelos principais fatores de confusão. Resultados: A análise dos fatores associados ao TMC incluiu 331 ASP, entre os quais 33,5% apresentaram TMC. A presença de TMC entre os ASP se associou com a pior percepção sobre as condições de trabalho (OR: 2,67; IC 95%: 1,19 - 6,05; p=0,018), ter sofrido insulto (OR: 4,07; IC95%: 1,76 - 9,41; p<0,001) e assédio moral (OR: 8,01; IC95%: 2,42 - 26,52; p<0,001), nos últimos 12 meses. Nas análises dos fatores associados à IT, 27,2% dos 301 ASP apresentaram IT. Verificou-se que a IT entre os ASP se associou com pior percepção sobre as condições de trabalho (OR: 3,19; IC95%: 1,64 - 6,20; p<0,001), ter sofrido insulto (OR: 2,38; IC95%: 1,27 - 4,47; p=0,007), assédio moral (OR: 4,18; IC95%: 1,61 - 10,86; p=0,003) nos últimos 12 meses, pensar em mudar de profissão (OR: 2,41; IC95%: 1,20 - 4,83; p=0,013) e TMC (OR: 2,22; IC 95%: 1,18 - 4,20; p=0,014). Conclusão: Os transtornos mentais comuns e a insatisfação no trabalho afetam um a cada quatro agentes de segurança penitenciária. Piores condições do ambiente de trabalho, sofrer insultos e assédio moral se associaram com as presenças de TMC e de IT. Adicionalmente, a IT se associou com pensar em mudar de profissão. Embora os ASP trabalhem em um ambiente periculoso e inseguro, foram variáveis relacionadas ao ambiente físico e às violências psicológicas que se associaram com TMC e com IT, e não variáveis relacionadas às violências físicas ou à maior proximidade com os apenados. Dado que tanto os TMC quanto a IT podem impactar a saúde mental desses trabalhadores, considera-se de fundamental importância o desenvolvimento de estratégias que visem reduzir a violência psicológica sofrida pelos ASP no interior do cárcere.
Análise dos fatores ocupacionais associados ao estresse e à qualidade do sono em agentes de segurança penitenciária
Soraya Geha Gonçalves, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 15/04/2021
Os Agentes de Segurança Penitenciária (ASP) são os trabalhadores responsáveis pela gestão e operação das penitenciárias, sofrendo com os problemas do sistema penitenciário, como superlotação e dificuldades de implementar políticas adequadas à ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Como consequência, esses trabalhadores são expostos a condições de trabalho inadequadas, que podem resultar em problemas como estresse ocupacional e má qualidade do sono. Em razão da importância desses profissionais para o sistema penitenciário e dos possíveis impactos das condições de trabalho sobre a saúde destes, a presente tese teve como objetivo analisar a associação entre as condições de trabalho com o estresse ocupacional e a qualidade do sono em ASP. Trata-se de um estudo de corte transversal realizado com ASP do sexo masculino atuantes em quatro penitenciárias do Estado de São Paulo, no período de janeiro a agosto de 2019. O estresse ocupacional, obtido por meio do Swedish Demand-Control-Support Questionnaire (DCSQ), e a pior qualidade do sono, obtida pelo Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) > 5 pontos, constituíram desfechos analisados em estudos independentes em relação às variáveis ocupacionais. O trabalho de alta exigência foi identificado em 24,3% dos 321 ASP incluídos no primeiro estudo. Análises ajustadas demonstraram maior chance para o trabalho de alta exigência: turno diarista (ORaj= 5,00; IC 95%: 1,65 – 15,13) e vontade de mudar de profissão (ORaj= 3,75; IC 95%: 1,56 – 9,03) e maior chance para o trabalho ativo: turno diarista (ORaj= 8,19; IC 95%: 2,93 – 22,90) e maiores exigências mentais (ORaj= 4,82; IC 95%: 1,60 – 14,47). A pior qualidade do sono foi observada em 57,8% dos 256 ASP incluídos no segundo estudo, associando-se, em análises ajustadas, a maiores exigências mentais (ORaj= 3,10; IC 95%: 1,40 – 6,85), à insatisfação profissional (ORaj= 4,52; IC 95%: 1,32 – 15,46), à dificuldade para deixar de pensar no trabalho durante o tempo livre (ORaj= 5,13; IC 95%: 1,26 – 20,78) e com a vontade de mudar de profissão (ORaj= 3,20; IC 95% 1,53 – 6,71). Com base nos resultados encontrados, é possível verificar que o ambiente laboral dos ASP, seja pelas condições ou pela organização do processo de trabalho, aumentam as chances da associação com estresse ocupacional e pior qualidade do sono. Desta forma, constata-se a necessidade de estratégias organizacionais e estruturais que possam contribuir para amenizar os principais fatores ocupacionais relacionadas a alta demanda do trabalho, assim como a implantação de programas para a promoção da qualidade do sono, visando saúde e bem-estar dos ASP e garantia de segurança para o processo de trabalho.