Teses e Dissertações
Cultura de segurança do paciente na atenção primária à saúde, Londrina, Paraná
Lílian Lozada Macedo, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 27/02/2018
Atualmente vivencia-se uma sociedade de risco, em que tecnologias, novos hábitos
de vida e processos de trabalho podem gerar altos e danosos custos para os
indivíduos. A assistência à saúde não fica de fora desses problemas, submetendose a diversos riscos, perigos e danos à integridade do paciente. Estudos e iniciativas
com relação à segurança do paciente no nível hospitalar têm sido desenvolvidos de
forma mais expressiva quando comparados à atenção primária à saúde, apesar de
já se identificar a ocorrência de erros e eventos adversos na atenção primária. Desta
forma, identificou-se a importância de estudos que retratem aspectos relacionados à
cultura de segurança do paciente na atenção básica. O objetivo deste estudo foi
analisar a cultura de segurança do paciente entre trabalhadores da atenção primária
à saúde em município de grande porte do Paraná. Para tal, foi realizado um estudo
transversal com trabalhadores em saúde atuantes da atenção primária do município
de Londrina, Paraná. A obtenção de informações sobre cultura de segurança foi
realizada com o uso do instrumento autopreenchido Medical Office Survey on
Patient Safety Culture, traduzido e adaptado para a realidade brasileira, que avalia
as atitudes e percepções do profissional quanto à segurança do paciente. A análise
dos dados foi realizada com o uso do programa Statistical Package for the Social
Sciences, versão 19.0. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual de Londrina. Foram entrevistados 550 trabalhadores, maioria
do sexo feminino (83,5%) e com idade média de 42 anos. Detectou-se que as
seções “processo de tralbaho no serviço de saúde”, “comunicação e
acompanhamento dos pacientes” e “serviço de saúde de atuação” apresentaram
avaliações neutras quanto à segurança (51,0%, 65,0% e 73,2%, de respostas
positivas respectivamente). Sobre a avaliação global da qualidade do cuidado,
houve predominância de respostas positivas (79,0%). Destaca-se também que
35,7% dos profissionais avaliaram como muito bom ou excelente a segurança do
paciente. Já em relação ao apoio dos gestores na cultura de segurança, houve
apenas 38,4% de respostas positivas. Trabalhadores das unidades de saúde da
família da região sul avaliaram de forma menos positiva a segurança no que se
refere a comunicação e acompanhamento do paciente, apoio de gestores e aos
aspectos do serviço de saúde em que atuam. Técnicos de enfermagem
apresentaram avaliação menos positiva quanto ao processo de trabalho,
comunicação e acompanhamento do paciente, e aspectos do serviço de saúde.
Sugere-se a modificação das estratégias para melhoria da cultura de segurança do
paciente para estratégias que visem a construção de uma cultura com participação
multiprofissional, de caráter não punitivo e que seja fortificadora das relações
interprofissionais e com o paciente, o que certamente modificará valores, atitudes e
futuras percepções da equipe da atenção primária à saúde.
Fatores de risco para a incidência de diabetes mellitus e pré-diabetes em indivíduos de 40 anos ou mais: um estudo de coorte
Thiago Akira Aditahara, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 26/02/2018
INTRODUÇÃO: O diabetes mellitus representa um problema na saúde pública
mundial, pois estudos recentes revelam que há uma tendência de crescimento na
prevalência em países em desenvolvimento e desenvolvidos, principalmente devido
ao envelhecimento da população e aos hábitos de vida sedentários. OBJETIVO:
Determinar a incidência e os fatores de risco para a incidência do diabetes mellitus e
do pré-diabetes mellitus na população com idade igual, ou superior, a 40 anos em
um município de médio porte. CASUÍSTICA E MÉTODOS: Trata-se de um estudo
coorte de base populacional aplicado em 2011 e em 2015 no município de CambéPR, cuja população foi composta por adultos com idade igual, ou superior, a 40
anos. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com formulários.
Foram considerados indivíduos com pré-diabetes mellitus (glicemia de jejum entre
≥100mg/dL e <126mg/dL e sem o uso de antidiabéticos e/ou insulina) e diabetes
mellitus (glicemia de jejum ≥126mg/dL e/ou com o uso de antidiabéticos e/ou
insulina). Para a presença do desfecho, após quatro anos, foi considerada a
população que teve a incidência de diabetes mellitus ou de pré-diabetes mellitus, ou
seja, que em 2011 foi classificada como sem diabetes mellitus e em 2015 passou a
apresentar pré-diabetes mellitus ou diabetes mellitus, e a com pré-diabetes mellitus
que passou a apresentar diabetes mellitus em 2015. A análise do risco relativo foi
calculada por meio do método da regressão de Poisson. O projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual
de Londrina (CAAE 39595614.4.0000.5231). RESULTADOS E DISCUSSÃO: A
população de estudo foi definida em 575 indivíduos, dos quais 20,5% (n=118)
tiveram incidência de diabetes mellitus ou pré-diabetes mellitus. Associaram-se com
o risco de apresentar o desfecho as seguintes variáveis: ser hipertenso (RR: 1,502
IC95% [1,089; 2,071]); possuir excesso de peso (RR: 1,848 IC95% [1,259; 2,713]);
possuir circunferência da cintura (CC) acima do recomendado (RR: 2,012 IC95%
[1,426; 2,839]); e se referir ao seu estado de saúde como de regular a ruim (RR:
1,869 IC95% [1,344; 2,600]). Posteriormente, realizadas análises ajustadas para as
variáveis com p-Valor ≤ 0,200, sendo que tanto o excesso de peso (RRajustado:
1,747 IC95% [1,201; 2,539]) quanto a CC acima do recomendado (RRajustado:
1,761 IC95% [1,234; 2,513]) continuaram significativos após dois ajuste, e se referir
ao seu estado de saúde como de regular a ruim (RRajustado: 1,678 IC95% [1,197 ;
2,353]), após quatro ajustes. CONCLUSÃO: Observa-se elevada incidência para
pré-diabetes e diabetes mellitus associadas a ser hipertenso, possuir excesso de
peso, possuir CC acima do recomendado e referir estado de saúde como regular a
ruim, sendo que estes últimos três são fatores de risco para incidência de diabetes
mellitus ou pré-diabetes mellitus, independente das características
sociodemográficas e do estilo de vida aqui analisados.
Mudança na situação conjugal e associação com a incidência e manutenção de comportamentos positivos de saúde: Estudo Vigicardio (2011-2015)
André Ulian Dall Evedove, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 22/02/2018
trodução: Algumas evidências apontam que a situação conjugal está associada a
indicadores de saúde, em geral, indicando que pessoas com companheiros/as (casadas ou em
união estável) possuem menores taxas de morbimortalidade se comparadas às pessoas sem
companheiros/as (solteiras, divorciadas/separadas ou viúvas). Entretanto, existem poucos
estudos epidemiológicos e longitudinais que associam a transição conjugal com
comportamentos de saúde, principalmente na América Latina. Objetivo: Verificar a
associação entre mudança na situação conjugal com a incidência e a manutenção de
comportamentos positivos de saúde. Métodos: Estudo longitudinal prospectivo, que faz parte
do projeto: ―Incidência de mortalidade, morbidade, internações e modificações nos fatores de
risco para doenças cardiovasculares em amostra de residentes com 40 anos ou mais de idade
em um município de médio porte do Sul do Brasil: Estudo coorte Vigicardio 2011-2015‖
realizado com indivíduos de 40 anos (em 2011) ou mais residentes em Cambé/PR. Para este
estudo, participaram 883 pessoas nos dois momentos da pesquisa. As variáveis dependentes
foram: atividade física no tempo livre, consumo de frutas, consumo de verduras e legumes,
tabagismo e consumo abusivo de álcool. Foram ainda realizadas análises com a combinação
(análise de simultaneidade) dos comportamentos relacionados à saúde considerados. A
variável independente foi a situação conjugal, comparando-se a situação de cada sujeito nos
quatro anos do estudo. Assim, os sujeitos foram divididos em quatro grupos. Grupo 1: pessoas
que tinham companheiro(a) nos dois momentos (n=583); Grupo 2: pessoas que tinham
companheiro(a) em 2011, mas não em 2015 (n=72); Grupo 3: pessoas que não tinham
companheiro(a) nos dois momentos (n=204); Grupo 4 (n=24): pessoas que não tinham
companheiro(a) em 2011 mas tinham em 2015. Assim, o grupo 1 e 3 manteve a mesma
situação conjugal, enquanto os grupos 2 e 4 teve transição na sua situação conjugal. A análise
dos dados, foi feita aos pares (grupo 1 x grupo 3; e grupo 2 x grupo 4), de modo a melhor
explorar a possível associação da manutenção ou incidência de comportamentos positivos
com a mudança na situação conjugal. Além das variáveis dependentes e a independente,
foram consideradas as seguintes variáveis de confusão: sexo, faixa etária, classe econômica e
escolaridade. Os dados foram analisados no Programa SPSS vs. 19, através da regressão de
Poisson bruta e ajustada. Resultados: Os participantes que deixaram de ter companheiro(a)
apresentaram menor incidência de abandono ao tabaco (RR:0,29,IC95%:0,12-0,68), de
consumo regular de frutas (RR:0,43,IC95%:0,20-0,90) e de manutenção de pelo menos dois
comportamentos positivos de saúde (RR:0,80,IC95%:0,70-0,92) do que os sujeitos que
tinham companheiro(a) nas duas coletas. Já os participantes que passaram a ter
companheiro(a) tiveram maior incidência de pelo menos um comportamento positivo de
saúde (RR:1,76,IC95%:1,07-2,88) e maior incidência de consumo regular de frutas
(RR:2,42,IC95%:1,40-4,18) comparados com aqueles que não tinham companheiro(a) em
2011 e 2015. Por outro lado, vale mencionar que algumas variáveis dependentes,
especificamente: atividade física no tempo livre e consumo de verduras e legumes não se
mostraram associadas à mudança na situação conjugal. Conclusão: Tais resultados são
importantes para um melhor planejamento do cuidado à saúde.
Alimentação em pacientes com diabetes com 45 anos ou mais atendidos em atenção primária
Daniele Cristina Fernandes Niehues, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 18/12/2020
Introdução: No Brasil, a prevalência de diabetes é de 8,9% ocupando o 4º lugar na
lista dos países com o maior número de diabéticos no mundo. Mais da metade das
pessoas com a doença têm dificuldades para seguir as recomendações,
principalmente no que se refere à alimentação, tornando-se necessário compreender
as barreiras que dificultam as mudanças no hábito alimentar. Objetivo: Analisar o
perfil da alimentação de pacientes diabéticos atendidos na atenção primária.
Método: Estudo transversal realizado em duas Unidades Básicas de Saúde em
Londrina-PR. A amostra foi composta por 200 adultos com idade igual ou superior a
45 anos, com diabetes e em uso medicamentos antidiabéticos (hipoglicemiantes
orais ou insulina). Os dados foram coletados entre Abril e Julho de 2019 por meio de
entrevista. As barreiras relatadas que dificultam manter os hábitos alimentares para
controle da doença foram levantadas através de pergunta aberta e a partir da
resposta espontânea do entrevistado, a resposta era classificada dentro das opções
previamente definidas baseadas na literatura. Para aqueles indivíduos que não
conseguiam relatar nenhuma dificuldade, foram apresentadas as opções para que o
paciente pudesse elencar qual ou quais dificuldades apresentava em manter os
hábitos alimentares para controle glicêmico. Foram também levantadas informações
sobre características sociodemográficas, utilização de serviço de saúde, padrão
alimentar, tempo de diagnóstico do diabetes e presença de comorbidades. Para a
análise de associação entre as barreiras percebidas e as variáveis sociais e
demográficas foi utilizada a regressão logística binária, com análises brutas e
ajustadas. Resultados: Dos entrevistados, a maioria era do sexo feminino (54,5%),
com idade mínima de 45 anos e máxima de 96 anos, 53,0% se declararam brancos,
59,5% eram casados e 37,0% tinham até quatro anos de estudo. Quanto à
frequência de consumo semanal dos alimentos, viu-se que verduras e legumes são
consumidos de duas a quatro vezes semana; mais da metade dos entrevistados não
consomem doces diariamente, porém o consumo de açúcar diário foi relatado em
42,0% no chá ou café; o pão, biscoito salgado e/ou doce são consumidos pela
maioria dos entrevistados diariamente. Cerca de 55,0% dos entrevistados utiliza
adoçante todos os dias e a maioria não consome produtos diet. As principais
barreiras relatadas para a manutenção da dieta adequada foram o sabor
desagradável ao paladar, falta de hábito individual para ingestão de alimentos
integrais e diet e o alto custo dos alimentos. Foi possível verificar que quem recebeu
visita domiciliar do agente comunitário de saúde e a orientação nutricional tiveram
menos chance de apresentar a barreira e/ou dificuldade de adesão à dieta em
relação a quem não recebeu. Conclusão: Há uma alta prevalência do consumo
inadequado de alimentos pelos pacientes e as principais barreiras e/ou dificuldades
estavam relacionadas às características pessoais, como sexo, faixa etária e
escolaridade.
Dor em professores da educação básica: associação com atividade física e tempo vendo televisão
Mayara Cristina da Silva Santos, Arthur Eumann Mesas, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 04/02/2020
Introdução: Os sintomas dolorosos, quer sejam de caráter crônico ou agudo,
têm consequências para a saúde individual e os serviços de saúde. Certos
comportamentos, como a inatividade física e o tempo vendo televisão, estão
potencialmente relacionados à etiologia e cronificação desses sintomas. No
entanto, não está claro como as mudanças ou a manutenção desses
comportamentos podem afetar a incidência, a persistência ou a frequência de
dor geral ou da dor crônica musculoesquelética. Objetivo: Investigar a
associação entre dor crônica musculoesquelética e percepção de dor, durante
o dia ou antes de dormir, com a prática de atividade física e o tempo vendo
televisão em professores da educação básica. Objetivos específicos: 1)
Analisar a associação longitudinal da mudança na prática de atividade física no
lazer e do tempo vendo televisão com a incidência e a persistência de dor
crônica musculoesquelética; e 2) Analisar a relação entre a prática de atividade
física no tempo livre, autorreferida em entrevista pessoal, e a sensação de dor
durante o dia ou antes de dormir, registrada pelo próprio indivíduo ao longo de
sete dias consecutivos. Métodos: Os objetivos específicos foram
contemplados na forma de dois estudos, com resultados e discussões
abordados separadamente. A população estudada fez parte do projeto PróMestre, que aborda questões de saúde, estilo de vida e trabalho de professores
da rede pública. Professores das 20 escolas de maior porte do município de
Londrina, PR, Brasil, que atuavam em sala de aula ao menos um período da
semana e eram responsáveis por uma ou mais disciplinas foram incluídos no
estudo e entrevistados em duas ocasiões: entre 2012 e 2013 (baseline) e após
24 meses (follow-up). No follow-up, uma subamostra de professores preencheu
um diário de atividades durante sete dias consecutivos. Para o desfecho dor
crônica musculoesquelética considerou-se a percepção de sintomas dolorosos
há 6 meses ou mais nas seguintes regiões: ombros, braços, costas, joelhos,
pernas e pés. Definiu-se como dor durante o dia e dor antes de dormir quando
esse sintoma era reportado ao menos uma vez ao longo de sete dias. As
variáveis independentes foram a atividade física no lazer (ou no tempo livre) e
o tempo vendo televisão diariamente. Para as análises de associação, utilizouse a regressão logística. Resultados: Um total de 527 professores foram
estudados para contemplar o primeiro objetivo. Aumentar o tempo de lazer
dedicado à prática de atividade física (mudar ≤120 para >120 minutos de AFL
semanalmente) associou-se com menor chance de dor crônica
musculoesquelética persistente (odds ratio, OR=0,30; intervalo de confiança de
95%, IC95%=0,11-0,79) em comparação com manter-se fisicamente inativo.
Um total de 141 professores foram estudados para contemplar o segundo
objetivo. Entre esses, praticar mais de 240 minutos por semana de atividade
física no tempo livre associou-se com uma chance menor de reportar dor
durante o dia (OR=0,18; IC95%=0,06-0,54) e antes de dormir (OR=0,28;
IC95%=0,10-0,79), entretanto, as associações perderam significância
estatística após o ajuste pelo escore de sintomas depressivos. Conclusões:
Em síntese, este estudo mostrou que, comparado com se manter inativo,
passar a praticar mais de duas horas de atividade física no lazer semanalmente
é um comportamento associado com menor chance de persistência de dor
crônica musculoesquelética. Além disso, praticar mais de quatro horas
semanais de atividade física no tempo livre está relacionado com menor
frequência de dor durante o dia ou antes de dormir, independente dos
principais confundidores, exceto sintomas depressivos.
Atores, espaços e instrumentos de governança na rede de atenção à saúde bucal
Bárbara Viera Pimentel, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/02/2020
O estudo objetivou analisar o processo de governança na Rede de Atenção à Saúde Bucal
(RASB) em uma região do estado do Paraná, por meio da compreensão sobre o termo
governança, caracterização da rede, identificação de atores, espaços, fluxos e análise de
instrumentos envolvidos no processo de governança. No primeiro momento, foi realizado
pesquisa exploratória, por meio de revisão de literatura e análise documental a fim de analisar
em que medida o termo governança tem sido abordado e conceituado na produção científica e
nas normas oficiais brasileiras, subdivididas em: Identificação; Busca da literatura (palavraschave, bases de dados e aplicação de critérios definidos); Avaliação e Análise dos dados. O
segundo momento tratou-se de um estudo descritivo e exploratório com obtenção de dados
secundários por meio de base de dados, com o objetivo de compreender a organização dos
serviços de saúde bucal existentes nos municípios da região, divididos e apresentados em:
Identificação; Caracterização; Atividade; Atendimento e Informações gerais; analisados pelo
programa Epi-Info. No terceiro momento, tratou-se de um estudo de abordagem qualitativa,
realizada a identificação de atores, espaços, compreensão de fluxos e instrumentos de
governança, por meio da realização de entrevistas semiestruturadas, com informante-chave, o
qual identificou novos espaços e atores para sequenciamento de novas entrevistas. A análise
dos dados foram segundo os pressupostos do método de análise de discurso e sob a
perspectiva teórica da governança proposto por Marques (2013). Diversos conceitos de
governança foram encontrados nas publicações científicas, no entanto, poucos foram
utilizados para denominar processos referentes à regionalização para a estruturação das Redes
de Atenção à Saúde. Percebeu-se a dificuldade de se operacionalizar a descentralização nos
contextos locais e as normativas pouco conseguem fortalecer a cooperação e relações de
solidariedade entre eles. A organização da RASB se deu por oito tipos de estabelecimentos,
tais como: Unidade Básica; Centro de Especialidade; Consultório isolado; Hospital Geral e
Especializado, Policlínica, Posto de Saúde e Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico. No
que concerne à natureza jurídica, 90,5% são de administração pública, sendo 6,7%, entidades
sem fins lucrativos e 2,7% entidades empresariais. Quanto ao modelo de gestão, a municipal
foi a mais evidente (77,7%), sendo 19,5% gestão dupla e 2,7% estadual. Foi evidente a
ausência dos atores não governamentais no processo de governança e a capacidade do ente
municipal gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo dos
atores sociais, econômicos e institucionais em sua dimensão regional. Foi verificada a
predominância das relações informais como instrumento da governança, com o uso de
tecnologias para sua comunicação, por meio de WhatsApp, E-mail e telefone. A inexistência
de proximidade e conhecimento das realidades locais, a inexistência de discussões acerca de
projetos que atendam a interesses comuns, dificulta a construção de uma relação no âmbito
regional sob a perspectiva da governança. É necessária a participação de profissionais da
saúde bucal em ações regionais, de forma mais cooperativa e integrada, com a presença de
atores estratégicos com capacidade de influenciar o processo de governança e assim superar
sua fragmentação e incipiência, com aspiração de promover uma atenção à saúde bucal de
forma mais integral e equânime.
Organização do processo de trabalha vivenciado durante um programa de qualificação da Atenção Primária à Saúde
Mariana Lectícia Beraldi, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 06/03/2020
A Educação Permanente em Saúde (EPS) constitui-se em uma estratégia que busca
transformar as práticas profissionais e a organização do processo de trabalho a
partir das demandas do próprio trabalho. Ela atua como componente do Programa
de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (APSUS), ocorrido no ano de 2011 a
2018, que corresponde a um programa do governo do Estado do Paraná que propõe
a melhoria da Atenção Primária à Saúde (APS) em todo o Estado para que ela
possa exercer seu papel de coordenadora do cuidado. Como segunda etapa do
programa, ocorre a tutoria, que busca contribuir com as equipes de saúde a
incorporar mudanças e adequações do processo de trabalho e para isso utiliza-se de
um instrumento norteador que impulsiona a prática dos profissionais, o Selo da
Qualidade. O selo da qualidade em sua segunda etapa, etapa prata, visa aferir o
gerenciamento dos processos. O objetivo deste estudo foi analisar a organização do
processo de trabalho vivenciada durante um programa de qualificação da APS. A
pesquisa ocorreu com profissionais de uma Unidade de Saúde da Família (USF),
localizada no município de Londrina, Paraná, participante do processo de tutoria,
buscando a certificação da qualidade do nível prata. O estudo foi feito com todos os
trabalhadores da unidade, incluindo profissionais residentes que atuavam
juntamente a equipe e tutores do programa. A pesquisa tem caráter qualitativo,
descritivo e exploratório, do tipo estudo de caso. Utilizou-se como ferramenta de
coleta de dados observação-participante, realizada no período de julho a outubro de
2018, e entrevistas semiestruturadas com os profissionais da USF, feitas em
dezembro de 2018 até abril de 2019. Os dados foram analisados de acordo com a
proposta de Martins e Bicudo. Da análise dos resultados emergiram três
manuscritos: Reflexos de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde
na rotina e no cuidado produzido pelos trabalhadores; Estratégias de gestão do
trabalho durante um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde;
Resultados de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde. Os
resultados apontaram para organização do processo de trabalho, oportunidade de
refletir sobre a prática, sobrecarga física e mental dos profissionais, ênfase em
questões burocráticas em detrimento do cuidado e dificuldade do programa em
contemplar as singularidades do território e possibilitou. Diversas estratégias foram
desenvolvidas pela equipe: reuniões de equipe e gerais, mutirões de estratificação
de risco e criação atendimentos coletivos em formato de grupo, que possibilitaram a
organização do processo e melhoria da qualidade da atenção. A participação no selo
permitiu melhor conscientização do processo de trabalho, organização do fluxo e
sistematização de atividades, resgate de populações negligenciadas e
monitoramento da população com condições crônicas. A EPS mostrou-se como eixo
transversal que percorreu todo o processo de trabalho, permitindo problematizações,
trabalho em equipe e reflexão sobre a prática profissional. A EPS desenvolvida pelos
próprios profissionais possibilitou sair da lógica da captura impositiva do processo e
dar qualidade a gestão do trabalho.
Monitoramento e articulação da Rede Mãe Paranaense na 17ª Regional de Saúde do Paraná
Jessika Adriana Bornia Dalanheze, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 10/03/2020
No intuito de melhorar o atendimento às gestantes e crianças e consequentemente
reduzir a mortalidade materna e infantil o Ministério da Saúde criou a Rede Cegonha
no ano de 2011 em âmbito nacional. No Paraná foi elaborado um programa
semelhante que recebeu a denominação de Rede Mãe Paranaense. Essa política
pública preconiza a estratificação de risco em cada consulta de pré-natal e
encaminhamento das gestantes de risco ao Centro Mãe Paranaense para
atendimento ambulatorial por equipe multidisciplinar. Também estabelece que o
parto seja vinculado ao hospital mais adequado de acordo com o risco gestacional.
Apesar das potencialidades desse programa, ocorreu pouco impacto na mortalidade
materna e infantil na 17ª Regional de Saúde do Paraná. Considerando que a
articulação entre os pontos de atenção é fundamental para o adequado
funcionamento da rede e que o monitoramento desta possibilita a identificação de
problemas em seu funcionamento realizou-se um estudo com o objetivo de
compreender como ocorre o monitoramento e a articulação entre os diferentes
pontos de atenção às gestantes na Rede Materno-Infantil da 17ª Regional de Saúde
do Estado do Paraná. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa em que foram
realizadas entrevistas semiestruturadas com 20 profissionais de saúde que prestam
atendimento às gestantes ou que atuam como gestores na 17ª Regional de Saúde
do Paraná. As entrevistas foram feitas entre janeiro e abril de 2019 e posteriormente
foram analisadas utilizando-se da técnica de análise de conteúdo de Bardin.
Emergiram três categorias de análise: Monitoramento da Rede Mãe Paranaense;
Fragilidades da Rede Mãe Paranaense; Iniciativas para Melhoria da Rede Mãe
Paranaense. O monitoramento da rede tem sido aprimorado com a criação de novos
sistemas de informação e com o monitoramento do “near miss” materno. Contudo,
ainda falta estabelecer um monitoramento formal em relação ao Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). O insuficiente número de médicos
ginecologistas na rede básica de saúde, sobretudo no município de Londrina, o
déficit de vagas de maternidade de alto risco, de UTI neonatal e de consultas nos
ambulatórios de alto risco foram apontados pelos profissionais como fragilidades da
rede. Para tentar driblar essa falta de vagas nos hospitais de alto risco o SAMU tem
encaminhado gestantes de alto risco para avaliação em hospitais de risco
intermediário num procedimento arriscado conhecido pelos profissionais da região
como “pit stop”. Outra dificuldade identificada foi comunicação incipiente entre os
pontos de atenção evidenciada pela falta de preenchimento dos impressos de
contrarreferência e do cartão de gestante. Para superar esses problemas alguns
profissionais têm desenvolvido estratégias informais de articulação da rede. Devido
à escassez de ginecologistas na rede pública de Londrina, a secretaria de saúde
desse município tem utilizado o matriciamento em ginecologia e obstetrícia para
capacitar os médicos da Estratégia Saúde da Família e ao mesmo tempo promover
o trabalho multidisciplinar. Além disso, o grupo condutor da Rede Materno Infantil da
região tem mobilizado esforços no sentido de unificar os protocolos de atendimento,
redefinir os critérios de encaminhamento aos ambulatórios de risco e aos hospitais
de risco. No entanto, ainda destaca-se a necessidade de um número maior de
profissionais da ginecologia na rede básica e da ampliação do número de vagas de
maternidade de alto risco e de UTI neonatal.
Associação entre qualidade do sono e características sociodemográficas, acadêmicas e uso de mídias sociais em universitários
Rafaela Sirtoli, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 16/03/2020
O sono exerce importante função restauradora, de conservação de energia e de proteção.
Um indivíduo pode se adaptar a um padrão de privação do sono, porém há o
comprometimento de funções cognitivas e do bom funcionamento do organismo. Devido
às particularidades do ambiente acadêmico, os estudantes de graduação constituem uma
população de risco para transtornos mentais – inclusive os transtornos do sono. Nesse
sentido, o objetivo desta dissertação foi analisar a qualidade do sono dos estudantes
universitários e sua associação com variáveis sociodemográficas, acadêmicas e o uso de
mídias sociais. Trata-se de um estudo transversal e analítico, realizado por meio de um
questionário online. A população consistiu em estudantes de graduação da Universidade
Estadual de Londrina com matrícula ativa no primeiro semestre de 2019. Dos 13.339
estudantes matriculados na universidade em 2019, 12.536 foram considerados elegíveis
para a pesquisa. A coleta de dados ocorreu no período de 29 de abril a 28 de junho de
2019. Realizou-se intensa atividade de divulgação por meios de comunicação diversos,
além de divulgação presencial para todas as 259 turmas de graduação. Utilizou-se o
Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI) para a avaliação da qualidade do sono. Foram
analisadas variáveis acadêmicas, sociodemográficas e relacionadas à dependência
autorreferida de mídias sociais. Constatou-se que 71,1% dos 2.736 respondentes
atingiram escore global > 5 pontos no PSQI, caracterizando uma má qualidade do sono.
A má qualidade do sono se associou ao sexo feminino (Razão de Prevalência, RP: 1,171;
Intervalo de Confiança, IC95%: 1,106-1,239), a estar entre o 4º a 6º ano do curso (RP:
1,114; IC95%: 1,041-1,192), a estudar no turno integral (RP: 1,159; IC95%: 1,007-1,334)
ou matutino (RP: 1,195; IC95%: 1,035-1,380), a sentir-se insatisfeito com o seu
desempenho acadêmico (RP: 1,366; IC95%: 1,292-1,445), ao maior tempo de
deslocamento até a universidade (RP: 1,214; IC95%: 1,088-1,354), e à dependência
autorreferida de mídias sociais (RP: 1,073; IC95%: 1,010-1,140). Os resultados
encontrados indicam alta prevalência de má qualidade do sono, relacionada a diversos
fatores inerentes ao ambiente universitário. Espera-se que os resultados desse estudo
possam embasar ações a nível local, além de chamar atenção para discussões mais amplas
e intersetoriais.
SUS para todos, para pobres ou para ninguém? A visão de estudantes de Educação Física de três universidades públicas do Paraná
Joamara de Oliveira Pimentel, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 16/03/2020
Introdução: O sistema de saúde brasileiro sofreu diversas mudanças desde o início do século
XX, conforme se alteravam as condições econômicas, políticas e sociais no Brasil. O sistema
Único de Saúde (SUS) tem entre seus princípios a universalidade, a integralidade e a
equidade. No SUS atuam diferentes profissionais de saúde e, a partir da criação dos Núcleos
Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica a Educação Física, entre outras profissões,
passou a ter a oportunidade de se inserir nas equipes de saúde pública. Esse é um dos fatores
que faz com que a formação em Educação Física precise ter uma aproximação mais estreita
com o SUS. Objetivo: Verificar a visão de estudantes de Educação Física (EEF) sobre como
deveria ser o acesso ao SUS de maneira geral e em ações/serviços específicos. Métodos:
Estudo de delineamento transversal, descritivo e quantitativo com estudantes ingressantes e
concluintes em 2019, nos cursos de bacharelado em Educação Física de três universidades
públicas do Paraná. Responderam a um questionário semiestruturado 349 EEF (216
ingressantes e 133 concluintes). As questões principais avaliaram a visão dos EEF sobre o
princípio da universalidade, de um modo genérico (a partir de uma pergunta geral sobre como
deveria ser o acesso) e para 11 serviços/ações específicas: acompanhamento de pessoas com
doenças crônicas, acompanhamento psicológico, acompanhamento de gestantes (pré-natal),
atendimento domiciliar para pessoas com dificuldade de locomoção, atendimento
odontológico, atendimento de urgência e emergência, fisioterapia, fornecimento de
medicamentos, programas de atividades físicas, vacinação para crianças e adolescentes e
vacinação para adultos. Resultados: A maioria (85,4%) dos EEF considerou que o acesso
deveria ser “para todos” (sem diferença entre ingressantes e concluintes, p=0,090), 12,9%
“para pobres” e 1,7% “para ninguém”. Porém, menos da metade dos que responderam que o
acesso deveria ser “para todos” (na questão geral) respondeu desta maneira em todos os 11
serviços/ações investigados. Os concluintes apresentaram uma visão mais ampla sobre a
integralidade que os ingressantes, sendo maior a proporção de resposta “para todos” entre os
concluintes em três ações/serviços: atendimento psicológico, atendimento de pessoas com
dificuldade de locomoção e programas de práticas corporais/atividade física (PCAF). Além
disso, algumas destas ações/serviços apresentaram mais de 90% de resposta “para todos”
tanto para ingressantes como para concluintes: atendimento a pessoas com doenças crônicas,
serviços de urgência e emergência e vacinação para crianças e adolescentes, enquanto outras
ações tiveram menos de 70% de resposta entre os ingressantes: atendimento odontológico,
fisioterapia e fornecimento de medicamentos, sendo que entre os concluintes, o serviço/ação
que teve menos de 70% de resposta “para todos” foi fisioterapia. Conclusão: Um percentual
elevado de EEF, tanto em ingressantes quanto em concluintes, considera que o acesso ao SUS
deve ser universal, mas parece prevalecer uma visão limitada sobre os serviços/ações que
devem ser “para todos”, indicando assim a necessidade de um maior foco na questão da
integralidade na formação profissional.