Teses e Dissertações
Uso de fármacos anticolinérgicos em adultos de 44 anos ou mais em município de médio porte
Eliz Cassieli Pereira Pinto, Edmarlon Girotto, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 15/04/2020
Introdução: Anticolinérgicos (AC) são fármacos que bloqueiam a ação da acetilcolina e,
por fazê-lo, podem deflagrar diversas disfunções orgânicas. O uso de fármacos dessa
natureza tem sido associado a diversos desfechos clínicos desfavoráveis, especialmente
na população idosa. Embora essa faixa etária possa estar mais suscetível às reações
adversas a medicamentos (RAM), demais indivíduos em uso de AC também estão
expostos. Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas ao redor do mundo, mas no Brasil,
pesquisas nesse campo são incipientes. Objetivos: Investigar o uso de fármacos
anticolinérgicos e fatores associados em adultos de 44 anos ou mais, de um município de
médio porte do sul do Brasil. Métodos: Trata-se de um estudo de delineamento
transversal e abordagem quantitativa, realizado a partir de dados primários do seguimento
de uma pesquisa matriz, de base populacional. Em 2015 (seguimento), participaram do
estudo 885 indivíduos, os quais foram caracterizados quanto as variáveis
sociodemográficas, de saúde e uso de medicamentos. A Carga Anticolinérgica (CAC) foi
determinada pela Anticholinergic Drug Scale (ADS). Cargas iguais ou superiores a três
foram consideradas significativas. Conduziu-se Regressão Logística de Poisson para
investigar a relação entre CAC e fatores associados, utilizando-se a Razão de Prevalência
(RP) como medida de associação. Resultados: Esta dissertação foi construída em formato
de dois artigos científicos. O primeiro descreve o uso de fármacos AC e investiga as
características sociodemográficas e de saúde relacionadas ao uso de CAC. No segundo
estudo explorou-se a relação entre CAC e a autopercepção de saúde. Encontrou-se uma
prevalência de 20,7% de CAC significativa entre os respondentes que utilizavam
medicamentos. No primeiro estudo, faixa etária não idosa (RP: 1,566; IC95%: 1,109-
2,211), polifarmácia (RP:1,519; IC95%: 1,099-2,100) e uso esporádico de dois ou mais
medicamentos (RP:2,941; IC95%: 2,102-4,111) estiveram associadas à maiores CAC.
Dentre os fármacos AC mais frequentemente utilizados estiveram os psicotrópicos e
cardiovasculares. No segundo estudo CAC significativa e autopercepção negativa de
saúde (APN) apresentaram associação positiva em todos os modelos estatísticos
realizados (<0,05). Conclusões: Os achados indicam alta prevalência de CAC na
população estudada, especialmente entre adultos de meia-idade, polimedicados e em uso
esporádico de medicamentos, o que sugere que a investigação de AC nessa faixa etária
demanda maior atenção. O uso de AC esteve associado a APN, um indicador de
mormibortalidade de fácil aplicação, que pode ser utilizado em diferentes contextos.
Centro de Especialidades Odontológicas como ponto de atenção na Rede de Saúde Bucal
Alessandra de Oliveira Lippert, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 06/04/2020
A Odontologia no Brasil, por um longo período destacou-se pela prática iatrogênica e
mutiladora, com caráter elitista e voltado para os interesses do setor privado, inclusive
reproduzindo estas características no âmbito público. No ano 2000, o Ministério da Saúde (MS)
elaborou um projeto identificado como Saúde Bucal Brasil, e este embasou do ponto de vista
epidemiológico a elaboração de diretrizes para a implantação da Política Nacional de Saúde
Bucal (PNSB), lançada em 2004. A PNSB surge como uma alternativa para a melhoria da
atenção à saúde de todos os brasileiros, visa garantir as ações de promoção, prevenção,
recuperação e manutenção da saúde bucal, e aponta para uma reorganização da atenção em
saúde bucal em todos os níveis de atenção. Para fazer frente a esse desafio, uma estratégia
adotada foi a implantação de Centros de Especialidades Odontológicas (CEO). E em
contraponto, aos modelos de saúde fragmentados, em 2014, o estado do Paraná propõe o
atendimento por meio da Rede de Atenção à Saúde Bucal (RASB). O atendimento em rede
propõe garantir a mudança do paradigma entre o modelo cirúrgico-restaurador para um modelo
que atue na promoção de saúde, favorecendo o acolhimento universal, garantindo o acesso, e
fortalecendo as unidades de saúde com cuidado integral às pessoas. Desta maneira,
considerando que os pontos de atenção à saúde são os nós da rede de atenção, compreender
como estes se articulam dentro da RASB, é de extrema importância para a consolidação do
modelo. Com base nisso, o objetivo desta pesquisa foi compreender o papel do CEO para a
organização de uma rede regionalizada de atenção à saúde bucal. Quanto ao procedimento
metodológico, o estudo caracterizou-se por ser um estudo qualitativo de caráter exploratório e
descritivo, realizado na 20ª Regional de Saúde (RS) do Paraná, a qual é composta por 18
municípios. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas no
período de março e abril de 2019, e foram submetidos à análise de discurso proposta por Martins
e Bicudo (2005). Foram entrevistados 14 profissionais cirurgiões-dentistas, nove da atenção
básica (AB) e cinco da média complexidade, sendo considerados informantes chaves deste
estudo. Da análise das entrevistas emergiram três categorias: (1) a organização da RASB; (2) o
cuidado em saúde bucal; e (3) o papel do CEO na RASB. Os resultados foram apresentados no
formato de três manuscritos científicos, correspondentes a cada categoria de análise. Os dados
do primeiro manuscrito identificam os serviços de Odontologia, bem como descreve a
organização da RASB nesta região de saúde. De maneira que se percebe pelos profissionais o
conhecimento da rede, tanto dos pontos de atenção, quanto das suas responsabilidades. Porém,
ainda são frágeis os mecanismos que articulam a AB e o CEO com os serviços de alta
complexidade, configurando um cenário muitas vezes dissonante daquele desenhado pela Linha
Guia. O segundo manuscrito refere-se ao cuidado integral em saúde bucal, cuja a oferta limitada
e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde são frequentemente relatadas como maiores
comprometedores da integralidade. Um dos principais motivos reside na fragilidade do
cumprimento das atribuições relativas ao nível da AB, que gera demanda inapropriada aos
níveis especializados, contribuindo para a demanda reprimida. O terceiro manuscrito permitiu
identificar a posição ativa do CEO regional na região de saúde, o qual se mostrou importante
para fortalecer a rede, bem como para a integralidade do cuidado. Por fim, os dados sugerem
que há oferta de serviços de Odontologia presentes na 20ª RS, e a RASB no Paraná se apresenta
organizada, porém ainda apresenta limitações. Quanto ao CEO, este tem um papel ativo na rede
sendo um importante instrumento no processo de regionalização, porém ressalta-se a
importância de ampliar e garantir o acesso equânime e de qualidade às necessidades de saúde
bucal da população, com a garantia de continuidade do cuidado iniciado na AB.
Violência contra estudantes universitários no ambiente acadêmico: uma análise por sexo
Elidiane Mattos Rickli, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 26/05/2020
A violência acarreta grandes prejuízos para a sociedade, acometendo principalmente
os mais jovens. Alguns grupos são mais vulneráveis a sofrer violência. Pessoas de
raça/cor preta, parda ou indígena, com baixo poder socioeconômico, mulheres,
jovens, não heterossexuais e com sobrepeso ou obesidade estão sob maior risco.
Contudo, é possível que as causas da violência sejam diferentes conforme o sexo.
Diante disso, o presente estudo teve como objetivo analisar a violência ocorrida no
ambiente acadêmico de acordo com o sexo de estudantes de graduação da
Universidade Estadual de Londrina. Foram analisadas as violências psicológica, física
e sexual, ocorridas no ambiente acadêmico, incluindo eventos acadêmicos e festivos,
nos 12 meses anteriores à pesquisa. Para análise de associações, focou-se na
violência psicológica (VP), por sexo. Na investigação sobre VP foram consideradas
situações como humilhação, sentir-se excluído, ameaças, discriminação por raça/cor
ou orientação sexual. A análise foi feita segundo variáveis sociodemográficas,
acadêmicas e de saúde, além do local da agressão e agressor. A coleta de dados
ocorreu entre abril e junho de 2019 por meio de questionário online. Os dados foram
armazenados diariamente em arquivo Excel. A análise descritiva foi realizada por meio
de frequências absolutas e relativas. Para verificar as associações, para cada sexo,
utilizou-se teste qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 0,05. A
regressão de Poisson com variância robusta foi usada para análises ajustadas,
incluindo nos modelos as variáveis com p-valor < 0,20 nas análises bivariadas. A
maior parte dos estudantes tinha idade entre 18 a 21 anos (60,5%), era do sexo
feminino (68,6%) e de raça/cor branca (69,8%). As prevalências de violência
psicológica, física e sexual foram, respectivamente, de 43,8%, 1,0% e 9,4%. A
violência física foi proporcionalmente mais relatada por estudantes do sexo masculino,
enquanto as violências psicológica e sexual pelo sexo feminino. O local mais frequente
de ocorrência de VP foi a sala de aula, e, no caso das violências física e sexual, os
eventos festivos. O principal agressor foi outro estudante da universidade,
independente da natureza da violência. Após ajustes, observou-se maior frequência
de VP contra estudantes de ambos os sexos que se declararam não heterossexuais.
Entre as do sexo feminino, a frequência de VP foi maior entre as mais jovens (RP na
faixa de 18 a 21 anos=1,25; IC95% 1,01-1,54 e RP de 22 a 25 anos=1,32; IC95%
1,06-1,64) em comparação à faixa de 26 anos ou mais, e entre as que consumiam
álcool semanalmente/diariamente (RP= 1,29; IC95% 1,01-1,66). Entre os do sexo
masculino, o ingresso na Universidade pelo sistema de cotas (RP=1,27; IC95% 1,01-
1,60) e ser da raça/cor preta/parda/indígena (RP=1,19; IC95% 1,01-1,39) associaramse à VP. Este estudo confirma que alguns estudantes são mais vulneráveis à violência,
com destaque para a orientação sexual, em ambos os sexos, e condições
socioeconômicas, no sexo masculino. Medidas de combate ao preconceito e
discriminação precisam ser ampliadas no ambiente acadêmico a fim de reduzir a
violência e suas consequências.
Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica e as Práticas Colaborativas para o cuidado integral
Daiene Aparecida Alves Mazza, Brígida Gimenez Carvalho, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 20/05/2020
Introdução: Os profissionais do NASF-AB se encontram diante de uma aposta que pressupõe
uma relação de trabalho colaborativa, sendo que o grau de articulação esperado entre esses
trabalhadores, e destes com a equipe de referência e com outros componentes da rede são
essenciais para a produção da qualidade do cuidado. Buscando-se compreender as práticas
colaborativas desenvolvidas pelos NASF-AB de forma mais ampliada, utilizou-se o
referencial teórico das dimensões de colaboração, e as premissas da ergologia. Esta
possibilitou uma análise para além do trabalho prescrito, considerando a perspectiva dos
profissionais, a relação que eles estabelecem com o meio em que estão implicados, bem como
as singularidades existentes na realização das atividades. Objetivo: O estudo teve como
objetivo compreender os elementos estruturantes das práticas colaborativas desenvolvidas no
processo de trabalho de equipes NASF-AB para o cuidado integral em municípios que
integram a 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Método: Trata-se de um estudo
exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, de caráter abrangente, realizado em três
municípios da 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Os participantes da pesquisa
foram profissionais que integram as equipes da NASF-AB em cada município analisado. O
estudo foi realizado através de: revisão de literatura; definição de locais de pesquisa e
participantes; observação do participante; e entrevista semiestruturada. Para análise dos
dados, foi utilizado o método de análise de discurso proposto por Martins e Bicudo.
Resultados: O estudo revelou que aspectos macro e micropolíticos estão presentes de modo
conjunto e indissociável no cotidiano de atuação do NASF-AB, sendo que fatores referentes à
infraestrutura, gestão do trabalho, formação para o SUS, relação entre as equipes e
características dos profissionais influenciam a organização e o processo de trabalho do NASFAB. O espaço de apoio matricial possibilitou aos trabalhadores o desenvolvimento de
elementos essenciais para a colaboração, como respeito mútuo, comunicação aberta e escuta
de diversos pontos de vista, e o estabelecimento de consenso, tendo como essência o cuidado
do usuário. A interpretação das práticas realizadas pelo NASF-AB demonstrou o
desenvolvimento de práticas colaborativas na rotina desses profissionais expressas nos
atendimentos individuais, nas visitas domiciliares, no planejamento e execução de atividades
coletivas e na articulação com a rede. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos
profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito,
sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho. Conclusão: Este estudo
explorou a potência do trabalhador, de modo a desenvolver práticas colaborativas
considerando suas singularidades e o contexto em que estão inseridos. A operacionalização do
apoio matricial e o desenvolvimento de práticas colaborativas se mostraram favorecidos nos
municípios de pequeno porte, que integram equipes NASF-AB modalidade 2 e 3. As práticas
colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das
renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo
de trabalho.
Insatisfação no trabalho e transtorno mental comum em agentes de segurança penitenciária do estado de São Paulo
Daiane Suele Bravo, Arthur Eumann Mesas, Renne Rodrigues
Data da defesa: 16/04/2021
Introdução: O trabalho do agente de segurança penitenciária (ASP) no interior do
cárcere caracteriza-se pela exposição a situações de perigo, intimidações e
distanciamento social durante a jornada laboral, além da condição de estar em
contínuo alerta devido ao risco de rebeliões e de outras incidências. Objetivo:
Analisar os fatores ocupacionais associados aos transtornos mentais comuns (TMC)
e à insatisfação no trabalho (IT) em ASP. Métodos: Os estudos que compõem esta
tese fazem parte do projeto de pesquisa “AGEPEN: Condições de Trabalho, Saúde
Mental e Sono em Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo”. Para mensurar a
presença de TMC, utilizou-se o instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20),
com ponto de corte ≥7 para indicativo de TMC. A IT foi mensurada por meio do
instrumento Occupational Stress Indicator (OSI), empregando o percentil 75 para
identificar insatisfação (≥78 pontos). As associações entre as variáveis ocupacionais
com TMC e IT foram analisadas separadamente por meio de modelos de regressão
logística binária para obtenção da odds ratio (OR) e respectivos intervalos de
confiança (IC) a 95% ajustadas pelos principais fatores de confusão. Resultados: A
análise dos fatores associados ao TMC incluiu 331 ASP, entre os quais 33,5%
apresentaram TMC. A presença de TMC entre os ASP se associou com a pior
percepção sobre as condições de trabalho (OR: 2,67; IC 95%: 1,19 - 6,05; p=0,018),
ter sofrido insulto (OR: 4,07; IC95%: 1,76 - 9,41; p<0,001) e assédio moral (OR: 8,01;
IC95%: 2,42 - 26,52; p<0,001), nos últimos 12 meses. Nas análises dos fatores
associados à IT, 27,2% dos 301 ASP apresentaram IT. Verificou-se que a IT entre os
ASP se associou com pior percepção sobre as condições de trabalho (OR: 3,19;
IC95%: 1,64 - 6,20; p<0,001), ter sofrido insulto (OR: 2,38; IC95%: 1,27 - 4,47;
p=0,007), assédio moral (OR: 4,18; IC95%: 1,61 - 10,86; p=0,003) nos últimos 12
meses, pensar em mudar de profissão (OR: 2,41; IC95%: 1,20 - 4,83; p=0,013) e TMC
(OR: 2,22; IC 95%: 1,18 - 4,20; p=0,014). Conclusão: Os transtornos mentais comuns
e a insatisfação no trabalho afetam um a cada quatro agentes de segurança
penitenciária. Piores condições do ambiente de trabalho, sofrer insultos e assédio
moral se associaram com as presenças de TMC e de IT. Adicionalmente, a IT se
associou com pensar em mudar de profissão. Embora os ASP trabalhem em um
ambiente periculoso e inseguro, foram variáveis relacionadas ao ambiente físico e às
violências psicológicas que se associaram com TMC e com IT, e não variáveis
relacionadas às violências físicas ou à maior proximidade com os apenados. Dado
que tanto os TMC quanto a IT podem impactar a saúde mental desses trabalhadores,
considera-se de fundamental importância o desenvolvimento de estratégias que visem
reduzir a violência psicológica sofrida pelos ASP no interior do cárcere.
Análise dos fatores ocupacionais associados ao estresse e à qualidade do sono em agentes de segurança penitenciária
Soraya Geha Gonçalves, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 15/04/2021
Os Agentes de Segurança Penitenciária (ASP) são os trabalhadores responsáveis
pela gestão e operação das penitenciárias, sofrendo com os problemas do sistema
penitenciário, como superlotação e dificuldades de implementar políticas adequadas
à ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Como consequência, esses
trabalhadores são expostos a condições de trabalho inadequadas, que podem resultar
em problemas como estresse ocupacional e má qualidade do sono. Em razão da
importância desses profissionais para o sistema penitenciário e dos possíveis
impactos das condições de trabalho sobre a saúde destes, a presente tese teve como
objetivo analisar a associação entre as condições de trabalho com o estresse
ocupacional e a qualidade do sono em ASP. Trata-se de um estudo de corte
transversal realizado com ASP do sexo masculino atuantes em quatro penitenciárias
do Estado de São Paulo, no período de janeiro a agosto de 2019. O estresse
ocupacional, obtido por meio do Swedish Demand-Control-Support Questionnaire
(DCSQ), e a pior qualidade do sono, obtida pelo Índice de Qualidade do Sono de
Pittsburgh (PSQI) > 5 pontos, constituíram desfechos analisados em estudos
independentes em relação às variáveis ocupacionais. O trabalho de alta exigência foi
identificado em 24,3% dos 321 ASP incluídos no primeiro estudo. Análises ajustadas
demonstraram maior chance para o trabalho de alta exigência: turno diarista (ORaj=
5,00; IC 95%: 1,65 – 15,13) e vontade de mudar de profissão (ORaj= 3,75; IC 95%:
1,56 – 9,03) e maior chance para o trabalho ativo: turno diarista (ORaj= 8,19; IC 95%:
2,93 – 22,90) e maiores exigências mentais (ORaj= 4,82; IC 95%: 1,60 – 14,47). A pior
qualidade do sono foi observada em 57,8% dos 256 ASP incluídos no segundo estudo,
associando-se, em análises ajustadas, a maiores exigências mentais (ORaj= 3,10; IC
95%: 1,40 – 6,85), à insatisfação profissional (ORaj= 4,52; IC 95%: 1,32 – 15,46), à
dificuldade para deixar de pensar no trabalho durante o tempo livre (ORaj= 5,13; IC
95%: 1,26 – 20,78) e com a vontade de mudar de profissão (ORaj= 3,20; IC 95% 1,53
– 6,71). Com base nos resultados encontrados, é possível verificar que o ambiente
laboral dos ASP, seja pelas condições ou pela organização do processo de trabalho,
aumentam as chances da associação com estresse ocupacional e pior qualidade do
sono. Desta forma, constata-se a necessidade de estratégias organizacionais e
estruturais que possam contribuir para amenizar os principais fatores ocupacionais
relacionadas a alta demanda do trabalho, assim como a implantação de programas
para a promoção da qualidade do sono, visando saúde e bem-estar dos ASP e
garantia de segurança para o processo de trabalho.
Associação entre qualidade do sono, atividade física e sedentarismo em professores do ensino básico de Londrina, Paraná
Marcelly Barreto Correa, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 06/04/2021
Introdução: A qualidade do sono pode afetar o desempenho físico, ocupacional, os
processamentos cognitivo e social, e ter consequências negativas à saúde e à vida
pessoal e profissional dos professores. Objetivos: Analisar a relação entre a
qualidade do sono e a prática de atividade física no tempo livre (AFTL) e o tempo
assistindo televisão (TV) em professores da educação básica da rede pública de
Londrina, Paraná. Métodos: Trata-se de um estudo longitudinal prospectivo, de tipo
coorte, que incluiu professores que atuavam como docentes em sala de aula,
ministrando aulas para estudantes do nível fundamental (anos finais), e que
participaram das duas etapas do estudo PRÓMESTRE (baseline em 2012-2013 e
seguimento após 24 meses, em 2014-2015). A coleta de dados foi realizada em
entrevista pré-agendada, com duração de aproximadamente uma hora, constituída
por formulário e questionário, contendo questões sobre características
sociodemográficas, de estilo de vida, saúde, ocupacionais e qualidade do sono
avaliada por meio do índice Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI). As análises
estatísticas incluíram modelos de regressão logística ajustados por variáveis
sociodemográficas (sexo, faixa etária, estado civil e renda), antropométrica (índice de
massa corporal) e ocupacional (carga horária), de estilo de vida (AFTL, tempo
assistindo TV, consumo de tabaco, álcool e café) e de saúde (relato de ansiedade e
depressão diagnosticados por um médico). O presente estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Resultados:
Entre os 195 professores (66,2% mulheres, idade média de 42 anos) entrevistados
no baseline e classificados como referindo boa qualidade do sono (PSQI ≤5 pontos),
a incidência de pior qualidade do sono (PSQI>5) após 24 meses foi de 31,8% (n=62).
Nas análises ajustadas por todas as variáveis de confusão, os professores que eram
fisicamente inativos no tempo livre no início do estudo apresentaram quase três vezes
mais chance de desenvolver pior qualidade do sono ao longo do seguimento (odds
ratio [OR]=2,88; intervalo de confiança [IC] 95%=1,46-7,97). Esse risco foi
semelhante entre os professores que se mantiveram inativos com relação à AFTL
entre o baseline e o seguimento (OR=2,72; IC 95%=1,22-6,03). Ao estratificar o
tempo semanal de AFTL pelo ponto de corte de 150 minutos, manter-se inativo
(AFTL<150 minutos/semana) associou-se com maior chance de pior qualidade do
sono (OR=2,91; IC 95%=1,10-7,68). Com relação ao marcador de comportamento
sedentário tempo assistindo TV, observou-se que os professores que assistiam TV
mais 60 minutos diários tanto no baseline quanto no seguimento apresentaram maior
chance de pior qualidade do sono (OR=2,70; IC 95%=1,14-6,38), independentemente
dos fatores de confusão considerados. Conclusão: A manutenção da inatividade
física (<150 minutos semanais) e do tempo prolongado (>60 minutos diários)
assistindo TV por um período de 24 meses aumentou a chance de pior qualidade do
sono em professores.
Cartografia do cuidado ao cuidador: encontros, resistências e produção de linhas de fuga
Ana Lúcia De Grandi, Regina Melchior, Josiane Vivian Camargo de Lima
Data da defesa: 31/03/2021
A partir do referencial da micropolítica do trabalho e cuidado em saúde, desejamos
cartografar, neste trabalho, o cuidado do cuidador, vivenciar as experiências do
cuidador na produção do seu cuidado e na produção do cuidado do outro, pensando
o cuidado do cuidador como processo singular e necessário para o estabelecimento
de relações com o outro e da afetividade. Para isso, acompanhamos um Serviço de
Atenção Domiciliar (SAD) e, durante os encontros junto à cuidadora, nos
impregnamos de sua existência e de sua trajetória para acompanhar como o
cuidador vivencia seu cuidado. Assim, nos construímos enquanto cartógrafa e,
analisando nossas próprias implicações com o tema do cuidado do cuidador,
surgiram dois analisadores: o SAD como local de produção de vínculo e cuidado
integral e a dificuldade da continuidade do cuidado na rede de atenção; a solidão da
cuidadora e seus movimentos de resistência. Os encontros com a cuidadora-guia
permitiram perceber sua multiplicidade, a nossa e a dos trabalhadores da saúde. As
relações de conflito, vivenciadas pela cuidadora com as equipes de trabalhadores
em diferentes serviços, demonstram a necessidade de construir projetos
terapêuticos compartilhados, além de encontros afetados pela falta de tecnologias
leves. O rompimento do vínculo e a descontinuidade do cuidado em saúde são
fatores agravantes para o não alcance da integralidade e potencializador da solidão
do cuidador. A solidão da cuidadora está relacionada ao isolamento social vivido em
decorrência de não ter com quem dividir as tarefas de cuidar. Outra questão é a
invisibilidade do cuidador para os trabalhadores e para os serviços de saúde que
focam seu cuidado ao usuário em um recorte biológico, sem percepção das
singularidades e da vida do cuidador. Para isso, existe a necessidade de criação de
espaços efetivos em que os trabalhadores possam colocar em análise o trabalho
realizado, dando visibilidade às forças que estão influenciando o seu fazer,
buscando conhecer a vida do usuário, do cuidador e da família. Nosso desafio é dar
visibilidade a essa complexidade do cuidador, produzindo redes efetivas e a
continuidade do cuidado para esses casos.
Arte e Cuidado em Saúde: experienciação do cuidado nos encontros vividos no Projeto Sensibilizarte
Flávia Maria Araújo, Maira Sayuri Sakay Bortoletto
Data da defesa: 29/03/2021
Aguardando publicação em periódico científico.
A utilização de tratamentos não farmacológicos por idosos com dor crônica musculoesquelética
Flávia Guilherme Gonçalves Ziegler, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 23/11/2020
Com o envelhecimento populacional, é esperado o aumento da prevalência de dores crônicas,
o que pode interferir na qualidade de vida dos idosos. As dores musculoesqueléticas estão
entre as causas mais frequentes de procura médica; sua abordagem deve ser multidisciplinar,
envolvendo tratamentos farmacológicos e não farmacológicos. Objetivo: Caracterizar a
utilização de tratamentos não farmacológicos para o alívio das dores crônicas de idosos da
comunidade e sua autoeficácia frente à essa condição. Métodos: Trata-se de um estudo de
corte transversal com amostra não probabilística de sujeitos acima de 60 anos, com dor crônica
musculoesquelética, residentes na área urbana do município de Londrina, PR, atendidos pelo
serviço de Atenção Primária à Saúde e encaminhados para a avaliação especializada com
ortopedista entre abril 2016 e abril 2017. Foi realizado inquérito domiciliar, por meio de
questionário composto de informações para caracterização sociodemográfica, caracterização
da dor – por meio do instrumento Inventário Breve de Dor e da Escala de LANSS, foi medida
a autoeficácia pela Escala de Autoeficácia para dor crônica e, por fim, foram elaboradas
questões simples para caracterizar o tratamento não farmacológico utilizado e a crença no
exercício físico como tratamento para o alívio da dor. Para a análise descritiva, usou-se a
frequência absoluta e relativa, enquanto que, para a análise bivariada, foi utilizado o teste Quiquadrado. As variáveis sexo, escolaridade e renda familiar foram predefinidas como variáveis
de ajuste dos modelos. As Razões de Prevalência (RP) brutas e ajustadas foram obtidas
mediante regressão de Poisson com ajuste por variância robusta. Para análise de dados não
paramétricos, foi utilizado o teste de Mann-Whitney-U, apresentando a distribuição por meio
das medianas e dos intervalos interquartílicos. O nível de significância adotado foi de p< 0,05.
Resultados: Foram entrevistados 193 idosos, dos quais 70,5% eram do sexo feminino, 60,6%
possuíam o ensino fundamental incompleto e 82,4% tinham renda familiar de até 2 salários
mínimos. O tratamento não farmacológico foi solicitado para 172 idosos e as abordagens mais
utilizadas para as dores crônicas musculoesqueléticas foram fisioterapia (72,5%), seguida por
nutrição (19,7%), práticas integrativas e complementares (20%), educação física (6,2%) e
psicologia (5,2%). A autoeficácia foi mais bem avaliada por idosos que moravam sós, por
aqueles com a faixa etária acima de 70 anos e por aqueles com dor exclusivamente
nociceptiva. Consideração final: Foi evidenciado que, entre os tratamentos não
farmacológicos, o mais utilizado foi a fisioterapia. Além disso, a dor com predomínio
nociceptivo esteve associada com a melhor tolerância do exercício físico e melhor
autoeficácia. Apesar de muitos idosos não terem realizado alguma modalidade de tratamento
não farmacológico para o alívio de suas dores, para o adequado manejo da dor crônica, faz-se
necessária uma avaliação adequada, além de uma abordagem multidisciplinar que seja capaz
de possibilitar a autonomia e a independência do idoso, ainda que na presença de limitações
devido ao quadro álgico.