Teses e Dissertações
Monitoramento e articulação da Rede Mãe Paranaense na 17ª Regional de Saúde do Paraná
Jessika Adriana Bornia Dalanheze, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 10/03/2020
No intuito de melhorar o atendimento às gestantes e crianças e consequentemente
reduzir a mortalidade materna e infantil o Ministério da Saúde criou a Rede Cegonha
no ano de 2011 em âmbito nacional. No Paraná foi elaborado um programa
semelhante que recebeu a denominação de Rede Mãe Paranaense. Essa política
pública preconiza a estratificação de risco em cada consulta de pré-natal e
encaminhamento das gestantes de risco ao Centro Mãe Paranaense para
atendimento ambulatorial por equipe multidisciplinar. Também estabelece que o
parto seja vinculado ao hospital mais adequado de acordo com o risco gestacional.
Apesar das potencialidades desse programa, ocorreu pouco impacto na mortalidade
materna e infantil na 17ª Regional de Saúde do Paraná. Considerando que a
articulação entre os pontos de atenção é fundamental para o adequado
funcionamento da rede e que o monitoramento desta possibilita a identificação de
problemas em seu funcionamento realizou-se um estudo com o objetivo de
compreender como ocorre o monitoramento e a articulação entre os diferentes
pontos de atenção às gestantes na Rede Materno-Infantil da 17ª Regional de Saúde
do Estado do Paraná. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa em que foram
realizadas entrevistas semiestruturadas com 20 profissionais de saúde que prestam
atendimento às gestantes ou que atuam como gestores na 17ª Regional de Saúde
do Paraná. As entrevistas foram feitas entre janeiro e abril de 2019 e posteriormente
foram analisadas utilizando-se da técnica de análise de conteúdo de Bardin.
Emergiram três categorias de análise: Monitoramento da Rede Mãe Paranaense;
Fragilidades da Rede Mãe Paranaense; Iniciativas para Melhoria da Rede Mãe
Paranaense. O monitoramento da rede tem sido aprimorado com a criação de novos
sistemas de informação e com o monitoramento do “near miss” materno. Contudo,
ainda falta estabelecer um monitoramento formal em relação ao Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). O insuficiente número de médicos
ginecologistas na rede básica de saúde, sobretudo no município de Londrina, o
déficit de vagas de maternidade de alto risco, de UTI neonatal e de consultas nos
ambulatórios de alto risco foram apontados pelos profissionais como fragilidades da
rede. Para tentar driblar essa falta de vagas nos hospitais de alto risco o SAMU tem
encaminhado gestantes de alto risco para avaliação em hospitais de risco
intermediário num procedimento arriscado conhecido pelos profissionais da região
como “pit stop”. Outra dificuldade identificada foi comunicação incipiente entre os
pontos de atenção evidenciada pela falta de preenchimento dos impressos de
contrarreferência e do cartão de gestante. Para superar esses problemas alguns
profissionais têm desenvolvido estratégias informais de articulação da rede. Devido
à escassez de ginecologistas na rede pública de Londrina, a secretaria de saúde
desse município tem utilizado o matriciamento em ginecologia e obstetrícia para
capacitar os médicos da Estratégia Saúde da Família e ao mesmo tempo promover
o trabalho multidisciplinar. Além disso, o grupo condutor da Rede Materno Infantil da
região tem mobilizado esforços no sentido de unificar os protocolos de atendimento,
redefinir os critérios de encaminhamento aos ambulatórios de risco e aos hospitais
de risco. No entanto, ainda destaca-se a necessidade de um número maior de
profissionais da ginecologia na rede básica e da ampliação do número de vagas de
maternidade de alto risco e de UTI neonatal.
Associação entre qualidade do sono e características sociodemográficas, acadêmicas e uso de mídias sociais em universitários
Rafaela Sirtoli, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 16/03/2020
O sono exerce importante função restauradora, de conservação de energia e de proteção.
Um indivíduo pode se adaptar a um padrão de privação do sono, porém há o
comprometimento de funções cognitivas e do bom funcionamento do organismo. Devido
às particularidades do ambiente acadêmico, os estudantes de graduação constituem uma
população de risco para transtornos mentais – inclusive os transtornos do sono. Nesse
sentido, o objetivo desta dissertação foi analisar a qualidade do sono dos estudantes
universitários e sua associação com variáveis sociodemográficas, acadêmicas e o uso de
mídias sociais. Trata-se de um estudo transversal e analítico, realizado por meio de um
questionário online. A população consistiu em estudantes de graduação da Universidade
Estadual de Londrina com matrícula ativa no primeiro semestre de 2019. Dos 13.339
estudantes matriculados na universidade em 2019, 12.536 foram considerados elegíveis
para a pesquisa. A coleta de dados ocorreu no período de 29 de abril a 28 de junho de
2019. Realizou-se intensa atividade de divulgação por meios de comunicação diversos,
além de divulgação presencial para todas as 259 turmas de graduação. Utilizou-se o
Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI) para a avaliação da qualidade do sono. Foram
analisadas variáveis acadêmicas, sociodemográficas e relacionadas à dependência
autorreferida de mídias sociais. Constatou-se que 71,1% dos 2.736 respondentes
atingiram escore global > 5 pontos no PSQI, caracterizando uma má qualidade do sono.
A má qualidade do sono se associou ao sexo feminino (Razão de Prevalência, RP: 1,171;
Intervalo de Confiança, IC95%: 1,106-1,239), a estar entre o 4º a 6º ano do curso (RP:
1,114; IC95%: 1,041-1,192), a estudar no turno integral (RP: 1,159; IC95%: 1,007-1,334)
ou matutino (RP: 1,195; IC95%: 1,035-1,380), a sentir-se insatisfeito com o seu
desempenho acadêmico (RP: 1,366; IC95%: 1,292-1,445), ao maior tempo de
deslocamento até a universidade (RP: 1,214; IC95%: 1,088-1,354), e à dependência
autorreferida de mídias sociais (RP: 1,073; IC95%: 1,010-1,140). Os resultados
encontrados indicam alta prevalência de má qualidade do sono, relacionada a diversos
fatores inerentes ao ambiente universitário. Espera-se que os resultados desse estudo
possam embasar ações a nível local, além de chamar atenção para discussões mais amplas
e intersetoriais.
SUS para todos, para pobres ou para ninguém? A visão de estudantes de Educação Física de três universidades públicas do Paraná
Joamara de Oliveira Pimentel, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 16/03/2020
Introdução: O sistema de saúde brasileiro sofreu diversas mudanças desde o início do século
XX, conforme se alteravam as condições econômicas, políticas e sociais no Brasil. O sistema
Único de Saúde (SUS) tem entre seus princípios a universalidade, a integralidade e a
equidade. No SUS atuam diferentes profissionais de saúde e, a partir da criação dos Núcleos
Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica a Educação Física, entre outras profissões,
passou a ter a oportunidade de se inserir nas equipes de saúde pública. Esse é um dos fatores
que faz com que a formação em Educação Física precise ter uma aproximação mais estreita
com o SUS. Objetivo: Verificar a visão de estudantes de Educação Física (EEF) sobre como
deveria ser o acesso ao SUS de maneira geral e em ações/serviços específicos. Métodos:
Estudo de delineamento transversal, descritivo e quantitativo com estudantes ingressantes e
concluintes em 2019, nos cursos de bacharelado em Educação Física de três universidades
públicas do Paraná. Responderam a um questionário semiestruturado 349 EEF (216
ingressantes e 133 concluintes). As questões principais avaliaram a visão dos EEF sobre o
princípio da universalidade, de um modo genérico (a partir de uma pergunta geral sobre como
deveria ser o acesso) e para 11 serviços/ações específicas: acompanhamento de pessoas com
doenças crônicas, acompanhamento psicológico, acompanhamento de gestantes (pré-natal),
atendimento domiciliar para pessoas com dificuldade de locomoção, atendimento
odontológico, atendimento de urgência e emergência, fisioterapia, fornecimento de
medicamentos, programas de atividades físicas, vacinação para crianças e adolescentes e
vacinação para adultos. Resultados: A maioria (85,4%) dos EEF considerou que o acesso
deveria ser “para todos” (sem diferença entre ingressantes e concluintes, p=0,090), 12,9%
“para pobres” e 1,7% “para ninguém”. Porém, menos da metade dos que responderam que o
acesso deveria ser “para todos” (na questão geral) respondeu desta maneira em todos os 11
serviços/ações investigados. Os concluintes apresentaram uma visão mais ampla sobre a
integralidade que os ingressantes, sendo maior a proporção de resposta “para todos” entre os
concluintes em três ações/serviços: atendimento psicológico, atendimento de pessoas com
dificuldade de locomoção e programas de práticas corporais/atividade física (PCAF). Além
disso, algumas destas ações/serviços apresentaram mais de 90% de resposta “para todos”
tanto para ingressantes como para concluintes: atendimento a pessoas com doenças crônicas,
serviços de urgência e emergência e vacinação para crianças e adolescentes, enquanto outras
ações tiveram menos de 70% de resposta entre os ingressantes: atendimento odontológico,
fisioterapia e fornecimento de medicamentos, sendo que entre os concluintes, o serviço/ação
que teve menos de 70% de resposta “para todos” foi fisioterapia. Conclusão: Um percentual
elevado de EEF, tanto em ingressantes quanto em concluintes, considera que o acesso ao SUS
deve ser universal, mas parece prevalecer uma visão limitada sobre os serviços/ações que
devem ser “para todos”, indicando assim a necessidade de um maior foco na questão da
integralidade na formação profissional.
Cartografia de uma mãe órfã: uma vivência no consultório na rua
Luiz Gustavo Duarte, Maira Sayuri Sakay Bortoletto
Data da defesa: 19/03/2020
Este estudo foi produzido por uma vivência realizada em um Consultório na Rua (CnaR) em
2019, onde por uma diagramação cartográfica mapeou-se os afetos que atingiram o corpo do
pesquisador neste período. Partindo do objetivo de realizar uma cartografia a partir da vivência
em um Consultório na Rua num município de grande porte do sul do país, elaborou-se um
manuscrito científico em forma de artigo. Na discussão do artigo, através do mapeamento dos
afetos em cenas vividas no CnaR junto com a intercessão da obra Sandman de Neil Gaiman,
utilizada como dispositivo cognitivo de discussão da fantasia-realidade, foram diagramados
territórios que evidenciaram modos de viver que desafiam os métodos tradicionais de produzir
cuidado, onde foi perceptível as capturas micropolíticas que levaram à produção de controle e
enquadramento, através do sequestro de um bebê pelo Estado, produzindo uma mãe órfã em
um processo de desmaternização. Aliado a isto também houve o contato com um fluxo eugênico
dentro da própria produção de cuidado. Diante do que foi cartografado, percebeu-se no CnaR
uma potência de produção de outros modos de cuidado ao mesmo tempo que as capturas
micropolíticas para controle destes considerados anormais do desejo, agem agressivamente
maquinando a produção das necessidades de esterilizações e desmaternizações junto com o
sequestro de bebês pelo Estado dos viventes de rua.
Incidência de aumento e redução do Índice de Massa Corporal em homens e mulheres de meia-idade: seguimento de quatro anos em município de médio porte
Nathalia Assis Augusto, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 27/03/2020
Nas últimas décadas, o Brasil passou a apresentar prevalência de excesso de peso
três vezes maior que a desnutrição, com um aumento importante a partir da fase da
meia-idade. O objetivo deste estudo foi analisar a incidência de aumento e de redução
do Índice de Massa Corporal (IMC) entre homens e mulheres segundo características
sociodemográficas e classificação nutricional. Trata-se de uma coorte prospectiva de
base populacional com 689 adultos com idade entre 40 e 64 anos acompanhados por
quatro anos. Verificou-se a proporção de redução e de aumento do IMC (≥1 kg/m²)
segundo variáveis sociodemográficas e classificação nutricional no baseline por meio
da regressão de Poisson bruta e ajustada. Entre os homens, observou-se maior
incidência de aumento do IMC (31,8%) do que de redução (18,2%), sendo esta
diferença significativa. Mesma tendência entre as mulheres, porém não significativa
(35,2% de aumento, contra 27,8% de diminuição). Em mesma análise, estratificada
pela classificação nutricional do baseline, observou-se que nos eutróficos a proporção
de aumento foi superior à de redução (em ambos os sexos), porém, entre aqueles
classificados com sobrepeso e obesidade não houve diferença significativa (nem em
homens, nem em mulheres), apesar de numericamente os valores serem superiores
para aumento se comparados à redução de 1 kg/m2
, exceto para as mulheres obesas.
Comparando-se a incidência de redução e aumento de 1 kg/m2 segundo variáveis
demográficas e classificação nutricional do baseline, observou-se maior incidência de
redução nos homens da faixa etária de 55 a 64 anos (RR:1,78; IC95%:1,06-3,00),
naqueles sem companheira (RR:1,85; IC95%:1,09-3,14), nos classificados com
sobrepeso (RR:2,06; IC95%:1,13-3,74) e obesidade (RR:2,33; IC95%:1,24-4,35),
enquanto a incidência de aumento foi menor na faixa etária de 55 a 64 anos (RR:0,62;
IC95%:0,41-0,95). Entre as mulheres, houve maior incidência de redução na faixa
etária de 55 a 64 anos (RR:1,43; IC95%:1,02-2,00) e nas classificadas com obesidade
(RR:2,10; IC95%:1,30-3,38), e a incidência de aumento foi menor na faixa etária de
55 a 64 anos (RR:0,68; IC95%:0,49-0,95). Estes dados são importantes para
compreensão dos fatores relacionados às variações de peso e elaboração de políticas
públicas que visem o cuidado à saúde do adulto de meia-idade.
O trabalho coletivo na construção do cuidado: uma cartografia
Beatriz Zampar, Regina Melchior, Josiane Vivian Camargo de Lima
Data da defesa: 27/03/2020
A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e
comunitárias envolvendo promoção, prevenção, tratamento, reabilitação, redução de
danos e vigilância, por meio de práticas de cuidado integral em equipe, dirigida à
população em território definido. Profissionais de diferentes áreas são convidados a
se unir e trabalhar em prol de uma comunidade. A produção subjetiva do cuidado, é
marcada por constante desconstrução e construção de territórios existenciais, numa
lógica de fluxos-conectivos em benefício de um determinado projeto de cuidado que
se preocupa em diferentes graus com a integralidade do usuário. O objetivo deste
trabalho é analisar como uma equipe de Saúde da Família se organiza para produzir
cuidado a partir do trabalho coletivo. Trata-se de um estudo qualitativo realizado com
abordagem cartográfica, a qual busca mapear processos de produção de
subjetividade, que são reconstituídas em cada encontro. Permite investigar as
práticas na saúde, investigando a nós mesmos e nos colocando em análise,
repensando práticas e a implicação com o todo. O campo da pesquisa foi uma
Unidade de Saúde da Família de uma cidade de grande porte do Paraná, que conta
com quatro equipes, Residência de Medicina de família e comunidade e Residência
multiprofissional em Saúde da Família, por um período de 18 meses, de 2018 a
2019. Os resultados foram organizados em quatro eixos: de onde cada profissional
parte (particularidades de cada formação, importância da comunicação e dos
espaços que a possibilitem), construção do trabalho coletivo (processo que
demanda tempo, habilidades e planejamento), disputas de projetos em saúde
(entender que os atores estão fazendo gestão todo o tempo e não seguem os
mesmos projetos), produção do cuidado (singularidade dos encontros,
potencialidade do trabalho interprofissional, complexidade das necessidades em
saúde). Esta cartografia possibilitou mapear o processo de formação do trabalho
coletivo, suas potências e fragilidades. Apontou experiências exitosas e conflituosas,
mas que geraram reflexão e possibilidades de novos arranjos. Para produção de
coletivo em saúde, o cuidado deve ser o principal norteador, e o trabalho coletivo é
fundamental nesse processo.
Produção do cuidado à gestante: narrativas de uma mulher em período perinatal
Célia Maria da Rocha Marandola, Regina Melchior
Data da defesa: 27/03/2020
O ato de cuidar em saúde é formado por um leque de ações, procedimentos, fluxos,
rotinas e saberes que se complementam ao mesmo tempo em que se disputam.
Embora inerente ao processo de trabalho dos profissionais da saúde o cuidado é de
responsabilidade, também, de familiares, de amigos, e do próprio usuário. Sendo a
Atenção Básica um terreno fértil para experimentar essa produção do cuidado. O
estudo buscou dar luz às narrativas de uma gestante acompanhada no pré-natal numa
Unidade Básica de Saúde de um município de grande porte, na região sul do Brasil.
A pesquisa ocorreu no período de abril/2018 a dezembro/2019. Dentro da perspectiva
cartográfica utilizamos como dispositivo de pesquisa a gestante-guia que nos
conduziu em sua trajetória pela busca do cuidado e em suas narrativas foram
emergindo cenas do vivido, como: a disputa de projeto de cuidado; a produção de
máscaras como dispositivos de enfrentamento das perdas e o cuidado nos interstícios
dos protocolos (seringas, receitas, agendas e afins). As narrativas da gestante-guia
revelaram sua enorme expectativa de um parto seguro, pois ela confiava na equipe,
principalmente, a equipe do alto risco que seria responsável pelo seu parto. Porém, a
mesma não se sentia cuidada em nenhuma das complexidades (baixo ou alto risco)
apesar de toda a estrutura montada para o cuidado em saúde à gestante. Faz-se
necessário, portanto, que as equipes reflitam sobre o seu processo de trabalho, se
colocando em análise no intuito de evitar prejuízos para o cuidado em saúde produzido
nos encontros entre usuários e trabalhadores de saúde, buscando respeitar a
necessidade e singularidade de cada indivíduo. Neste sentido, a construção de
projetos terapêuticos e a implantação da estratégia de educação permanente em
saúde (EPS) poderiam se configurar como apostas potentes às equipes,
independente, da complexidade em que as ações de saúde são desenvolvidas
visando à garantia dos direitos das usuárias em período gravídico-puerperal e
propiciando o fortalecimento do SUS enquanto sistema de saúde que valoriza e cuida
de vida, acreditando que toda a vida vale a pena.
Uso de fármacos anticolinérgicos em adultos de 44 anos ou mais em município de médio porte
Eliz Cassieli Pereira Pinto, Edmarlon Girotto, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 15/04/2020
Introdução: Anticolinérgicos (AC) são fármacos que bloqueiam a ação da acetilcolina e,
por fazê-lo, podem deflagrar diversas disfunções orgânicas. O uso de fármacos dessa
natureza tem sido associado a diversos desfechos clínicos desfavoráveis, especialmente
na população idosa. Embora essa faixa etária possa estar mais suscetível às reações
adversas a medicamentos (RAM), demais indivíduos em uso de AC também estão
expostos. Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas ao redor do mundo, mas no Brasil,
pesquisas nesse campo são incipientes. Objetivos: Investigar o uso de fármacos
anticolinérgicos e fatores associados em adultos de 44 anos ou mais, de um município de
médio porte do sul do Brasil. Métodos: Trata-se de um estudo de delineamento
transversal e abordagem quantitativa, realizado a partir de dados primários do seguimento
de uma pesquisa matriz, de base populacional. Em 2015 (seguimento), participaram do
estudo 885 indivíduos, os quais foram caracterizados quanto as variáveis
sociodemográficas, de saúde e uso de medicamentos. A Carga Anticolinérgica (CAC) foi
determinada pela Anticholinergic Drug Scale (ADS). Cargas iguais ou superiores a três
foram consideradas significativas. Conduziu-se Regressão Logística de Poisson para
investigar a relação entre CAC e fatores associados, utilizando-se a Razão de Prevalência
(RP) como medida de associação. Resultados: Esta dissertação foi construída em formato
de dois artigos científicos. O primeiro descreve o uso de fármacos AC e investiga as
características sociodemográficas e de saúde relacionadas ao uso de CAC. No segundo
estudo explorou-se a relação entre CAC e a autopercepção de saúde. Encontrou-se uma
prevalência de 20,7% de CAC significativa entre os respondentes que utilizavam
medicamentos. No primeiro estudo, faixa etária não idosa (RP: 1,566; IC95%: 1,109-
2,211), polifarmácia (RP:1,519; IC95%: 1,099-2,100) e uso esporádico de dois ou mais
medicamentos (RP:2,941; IC95%: 2,102-4,111) estiveram associadas à maiores CAC.
Dentre os fármacos AC mais frequentemente utilizados estiveram os psicotrópicos e
cardiovasculares. No segundo estudo CAC significativa e autopercepção negativa de
saúde (APN) apresentaram associação positiva em todos os modelos estatísticos
realizados (<0,05). Conclusões: Os achados indicam alta prevalência de CAC na
população estudada, especialmente entre adultos de meia-idade, polimedicados e em uso
esporádico de medicamentos, o que sugere que a investigação de AC nessa faixa etária
demanda maior atenção. O uso de AC esteve associado a APN, um indicador de
mormibortalidade de fácil aplicação, que pode ser utilizado em diferentes contextos.
Centro de Especialidades Odontológicas como ponto de atenção na Rede de Saúde Bucal
Alessandra de Oliveira Lippert, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 06/04/2020
A Odontologia no Brasil, por um longo período destacou-se pela prática iatrogênica e
mutiladora, com caráter elitista e voltado para os interesses do setor privado, inclusive
reproduzindo estas características no âmbito público. No ano 2000, o Ministério da Saúde (MS)
elaborou um projeto identificado como Saúde Bucal Brasil, e este embasou do ponto de vista
epidemiológico a elaboração de diretrizes para a implantação da Política Nacional de Saúde
Bucal (PNSB), lançada em 2004. A PNSB surge como uma alternativa para a melhoria da
atenção à saúde de todos os brasileiros, visa garantir as ações de promoção, prevenção,
recuperação e manutenção da saúde bucal, e aponta para uma reorganização da atenção em
saúde bucal em todos os níveis de atenção. Para fazer frente a esse desafio, uma estratégia
adotada foi a implantação de Centros de Especialidades Odontológicas (CEO). E em
contraponto, aos modelos de saúde fragmentados, em 2014, o estado do Paraná propõe o
atendimento por meio da Rede de Atenção à Saúde Bucal (RASB). O atendimento em rede
propõe garantir a mudança do paradigma entre o modelo cirúrgico-restaurador para um modelo
que atue na promoção de saúde, favorecendo o acolhimento universal, garantindo o acesso, e
fortalecendo as unidades de saúde com cuidado integral às pessoas. Desta maneira,
considerando que os pontos de atenção à saúde são os nós da rede de atenção, compreender
como estes se articulam dentro da RASB, é de extrema importância para a consolidação do
modelo. Com base nisso, o objetivo desta pesquisa foi compreender o papel do CEO para a
organização de uma rede regionalizada de atenção à saúde bucal. Quanto ao procedimento
metodológico, o estudo caracterizou-se por ser um estudo qualitativo de caráter exploratório e
descritivo, realizado na 20ª Regional de Saúde (RS) do Paraná, a qual é composta por 18
municípios. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas no
período de março e abril de 2019, e foram submetidos à análise de discurso proposta por Martins
e Bicudo (2005). Foram entrevistados 14 profissionais cirurgiões-dentistas, nove da atenção
básica (AB) e cinco da média complexidade, sendo considerados informantes chaves deste
estudo. Da análise das entrevistas emergiram três categorias: (1) a organização da RASB; (2) o
cuidado em saúde bucal; e (3) o papel do CEO na RASB. Os resultados foram apresentados no
formato de três manuscritos científicos, correspondentes a cada categoria de análise. Os dados
do primeiro manuscrito identificam os serviços de Odontologia, bem como descreve a
organização da RASB nesta região de saúde. De maneira que se percebe pelos profissionais o
conhecimento da rede, tanto dos pontos de atenção, quanto das suas responsabilidades. Porém,
ainda são frágeis os mecanismos que articulam a AB e o CEO com os serviços de alta
complexidade, configurando um cenário muitas vezes dissonante daquele desenhado pela Linha
Guia. O segundo manuscrito refere-se ao cuidado integral em saúde bucal, cuja a oferta limitada
e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde são frequentemente relatadas como maiores
comprometedores da integralidade. Um dos principais motivos reside na fragilidade do
cumprimento das atribuições relativas ao nível da AB, que gera demanda inapropriada aos
níveis especializados, contribuindo para a demanda reprimida. O terceiro manuscrito permitiu
identificar a posição ativa do CEO regional na região de saúde, o qual se mostrou importante
para fortalecer a rede, bem como para a integralidade do cuidado. Por fim, os dados sugerem
que há oferta de serviços de Odontologia presentes na 20ª RS, e a RASB no Paraná se apresenta
organizada, porém ainda apresenta limitações. Quanto ao CEO, este tem um papel ativo na rede
sendo um importante instrumento no processo de regionalização, porém ressalta-se a
importância de ampliar e garantir o acesso equânime e de qualidade às necessidades de saúde
bucal da população, com a garantia de continuidade do cuidado iniciado na AB.
Violência contra estudantes universitários no ambiente acadêmico: uma análise por sexo
Elidiane Mattos Rickli, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 26/05/2020
A violência acarreta grandes prejuízos para a sociedade, acometendo principalmente
os mais jovens. Alguns grupos são mais vulneráveis a sofrer violência. Pessoas de
raça/cor preta, parda ou indígena, com baixo poder socioeconômico, mulheres,
jovens, não heterossexuais e com sobrepeso ou obesidade estão sob maior risco.
Contudo, é possível que as causas da violência sejam diferentes conforme o sexo.
Diante disso, o presente estudo teve como objetivo analisar a violência ocorrida no
ambiente acadêmico de acordo com o sexo de estudantes de graduação da
Universidade Estadual de Londrina. Foram analisadas as violências psicológica, física
e sexual, ocorridas no ambiente acadêmico, incluindo eventos acadêmicos e festivos,
nos 12 meses anteriores à pesquisa. Para análise de associações, focou-se na
violência psicológica (VP), por sexo. Na investigação sobre VP foram consideradas
situações como humilhação, sentir-se excluído, ameaças, discriminação por raça/cor
ou orientação sexual. A análise foi feita segundo variáveis sociodemográficas,
acadêmicas e de saúde, além do local da agressão e agressor. A coleta de dados
ocorreu entre abril e junho de 2019 por meio de questionário online. Os dados foram
armazenados diariamente em arquivo Excel. A análise descritiva foi realizada por meio
de frequências absolutas e relativas. Para verificar as associações, para cada sexo,
utilizou-se teste qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 0,05. A
regressão de Poisson com variância robusta foi usada para análises ajustadas,
incluindo nos modelos as variáveis com p-valor < 0,20 nas análises bivariadas. A
maior parte dos estudantes tinha idade entre 18 a 21 anos (60,5%), era do sexo
feminino (68,6%) e de raça/cor branca (69,8%). As prevalências de violência
psicológica, física e sexual foram, respectivamente, de 43,8%, 1,0% e 9,4%. A
violência física foi proporcionalmente mais relatada por estudantes do sexo masculino,
enquanto as violências psicológica e sexual pelo sexo feminino. O local mais frequente
de ocorrência de VP foi a sala de aula, e, no caso das violências física e sexual, os
eventos festivos. O principal agressor foi outro estudante da universidade,
independente da natureza da violência. Após ajustes, observou-se maior frequência
de VP contra estudantes de ambos os sexos que se declararam não heterossexuais.
Entre as do sexo feminino, a frequência de VP foi maior entre as mais jovens (RP na
faixa de 18 a 21 anos=1,25; IC95% 1,01-1,54 e RP de 22 a 25 anos=1,32; IC95%
1,06-1,64) em comparação à faixa de 26 anos ou mais, e entre as que consumiam
álcool semanalmente/diariamente (RP= 1,29; IC95% 1,01-1,66). Entre os do sexo
masculino, o ingresso na Universidade pelo sistema de cotas (RP=1,27; IC95% 1,01-
1,60) e ser da raça/cor preta/parda/indígena (RP=1,19; IC95% 1,01-1,39) associaramse à VP. Este estudo confirma que alguns estudantes são mais vulneráveis à violência,
com destaque para a orientação sexual, em ambos os sexos, e condições
socioeconômicas, no sexo masculino. Medidas de combate ao preconceito e
discriminação precisam ser ampliadas no ambiente acadêmico a fim de reduzir a
violência e suas consequências.