Teses e Dissertações
Atuação dos gestores de saúde no âmbito da relação federativa e da ação consorciada
Sílvia Karla Azevedo Vieira Andrade, Fernanda de Freitas Mendonça, Luiz Cordoni Júnior (in memorian)
Data da defesa: 20/02/2018
A relação federativa é essencialmente dialógica e carece ser compreendida, no intuito
de gerar desenvolvimento aos territórios regionais. Os principais atores deste cenário
são os gestores públicos de saúde, que enfrentam limitações nesta relação.
Considerando o federalismo brasileiro e o processo de redemocratização, que
culminou com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como o advento
da descentralização que ampliou as responsabilidades dos entes municipais e tendo
em vista o processo de regionalização ainda não consolidado, aponta-se como
prioritário o emprego de estratégias de fortalecimento da gestão municipal, sob risco
de seu engessamento e esgotamento potencial. Neste contexto, torna-se imperativo o
aprofundamento nas linhas de definição em que se baseiam as relações entre os
entes gestores e o entendimento de como atuam os consórcios públicos de saúde,
diante desse processo, tendo em vista sua existência, fruto da relação federativa.
Ademais, no contexto das relações, importa desvelar as nuances dos jogos sociais,
como se comportam seus atores e quais jogos predominam, considerando as
relações entre gestores municipais de diferentes portes e junto aos gestores do
âmbito estadual e federal. Trata-se de um estudo qualitativo, de delineamento
analítico, executado por meio da coleta de dados através de grupos focais e
entrevistas junto aos gestores de saúde e representantes das esferas municipal,
estadual e federal, bem como do consórcio de saúde do território. O local de estudo é
a região de Saúde do Médio Paranapanema no Norte do Paraná e a metodologia de
análise se deu por meio da análise do discurso, sendo que o instrumento de análise
teve como enfoque o entendimento acerca dos fenômenos e das construções
ideológicas inseridas nos elementos coletados. A estruturação dos resultados aponta
para duas categorias de análise. A primeira configura-se como a relação federativa no
contexto da saúde, com detalhamento acerca do papel do gestor, as instâncias de
relação federativa, além da relação entre pares e entre diferentes níveis de gestão. A
segunda categoria de análise trata dos arranjos organizativos e da ação consorciada,
cujo detalhamento percorreu a identidade, o papel e a potencialidade do consórcio
público. Os resultados mostraram fragilidade nas relações federativas, a exigência de
um conhecimento denso acerca dos cenários locais, dos avanços normativos e das
ferramentas da relação federativa. Ademais, há evidências de fragilização nas
relações gestoras internas dos municípios e descontinuidades na execução do
planejamento. Outro cenário desvelado foi a falta de participação e o não
protagonismo dos municípios de menor base populacional na tomada de decisões de
forma ativa, no que se refere ao território regional. Outro aspecto resultante do estudo
é o reconhecimento dos gestores acerca da representatividade dos consórcios
públicos vinculada aos municípios. Há evidências acerca da identidade conferida aos
consórcios como ferramentas de apoio à gestão municipal, ressaltando a necessidade
de ampliação de suas ações como instrumento da gestão e no planejamento regional,
por meio de um ambiente, que se possibilita construir, cooperativo e solidário. A partir
do estudo, apontam-se caminhos para o fortalecimento da gestão municipal e do
planejamento regional integrado.
A relação público-privado para a atenção de média complexidade em uma região de saúde
João Felipe Marques da Silva, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/02/2018
O processo de municipalização dos serviços de saúde delegou ao ente municipal a
responsabilidade sobre o sistema de saúde de seu território, principalmente quanto à
coordenação da Atenção Básica. Ocorre que, para garantir a integralidade da
atenção à saúde, princípio e diretriz estruturante do SUS, este ente também assumiu
os serviços de Média Complexidade (MC), e por consequência, a relação com o
prestador privado complementar ao sistema, constituindo, portanto, a relação
público-privado deste nível de atenção. Neste contexto, especialmente em
municípios de pequeno porte (MPP), esta relação ocorre, sobretudo para a compra
de consultas especializadas, procedimentos hospitalares diagnósticos, clínicos e
cirúrgicos, por meio de relação contratual com o setor privado complementar, ainda
que o serviço esteja localizado em outro município ou sob gestão do Estado. A
relação entre os MPP e o serviço privado complementar se constrói em um cenário
de descentralização política-administrativa, sendo diretamente influenciada pelos
resultados da micro e macro organização das políticas de saúde; das matrizes
institucionais sobre o comportamento dos atores sociais e políticos; e pelas práticas
clientelistas vigentes nestes espaços. Nesta perspectiva, esta pesquisa propõe-se
compreender a relação entre gestores públicos e prestadores do sistema privado
complementar para a atenção de MC em uma região de saúde de municípios de
pequeno porte (MPP). Trata-se de um estudo de caso de natureza qualitativa,
realizada nos municípios da região de Ivaiporã (22ª Regional de Saúde do Paraná),
entre o período de dezembro de 2016 a fevereiro de 2017, utilizando entrevistas por
meio de roteiro semiestruturado. Os sujeitos da pesquisa foram os gestores
municipais, prestadores de serviços, membros gestores da regional de saúde,
consórcio intermunicipal de saúde, e apoiador do COSEMS. A análise dos
resultados se deu em duas etapas, a primeira por meio de análise documental, e na
segunda as entrevistas foram submetidas à técnica de análise do discurso proposta
por Martins e Bicudo (2003). A análise possibilitou a caracterização sócio
assistencial da região, e a construção de quatro categorias: demanda;
financiamento; contratos; gestão e planejamento de serviços. Os resultados apontam
que os fatores identificados nas categorias de análise referentes à demanda e ao
financiamento dos serviços de MC, permitem e favorecem a relação; enquanto as
características observadas nas categorias de contrato e gestão, as estabelecem e as
mantém. Estes fatores estão relacionados à organização das políticas de saúde e
das políticas institucionais. Destacam-se, entre outros aspectos, a influência da
formação médica na demanda de serviços de MC e o excesso de intervenções
diagnósticas, além de práticas de reservas de mercado para a assistência médica na
região. Quanto ao financiamento os municípios custeiam os serviços de MC com
recursos próprios, minimizando os investimentos na Atenção Básica. Observa-se,
também, que os contratos são executados em desencontro às normas operacionais
do sistema. A relação público-privado nesta região atravessa e afeta o processo de
regionalização desses municípios; é marcada por forte interdependência entre
gestores públicos e privados; assimetrias de poder; interesses ao acesso; e
benefícios à gestão municipal, a depender da tipificação de contrato entre o
município - exclusivo ou não exclusivo, com o prestador. Entre eles, vantagens,
práticas clientelistas, hierarquizadas, e de maximização de resultados de atores
envolvidos, são possibilitadas pela naturalização destas ações nos espaços em que
ocorrem. Conclui-se que a relação estabelecida fere o comando único do sistema,
possibilita práticas clientelistas, e é reforçada pelo incipiente processo de
planejamento e de medidas regulatórias pela gestão pública municipal e estadual;
além de apresentar a fragilidade do papel do Estado na região, bem como, das
instâncias colegiadas. Os resultados demonstram a necessidade de investir em
ações que favoreçam a governança e o processo de regionalização, a capacidade
regulatória de governos locais, e o controle social nesta região. Esta relação deve
ser aperfeiçoada por tecnologias de gestão, e modalidades de contratos que
possibilitem a integralidade das ações e a autonomia dos municípios perante os
prestadores.
Incidência de autopercepção negativa e positiva de saúde: estudo Vigicardio (2011-2015)
Giovana Frazon de Andrade, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 28/02/2018
Incorporada como medida epidemiológica desde a década de 1950, um dos
indicadores do estado geral de saúde mais utilizados na atualidade é a
autopercepção de saúde. Considerando que a forma como os indivíduos percebem
sua saúde é influenciada por diversos aspectos, investigar estes fatores auxilia a
compreensão das classificações positivas e negativas do estado de saúde. O
objetivo deste estudo foi analisar se alterações nos comportamentos relacionados à
saúde se associam a incidência de autopercepção positiva e negativa de saúde. Foi
realizado um estudo de coorte prospectivo, de base populacional no baseline (2011)
com seguimento realizado em 2015. Foram entrevistados 883 indivíduos de 40 anos
ou mais residentes no município de Cambé-PR. Ambas as coletas de dados foram
por meio de visitas domiciliares com aplicação de questionário semiestruturado. A
variável dependente foi a autopercepção de saúde, mensurada através da pergunta
“Como o(a) senhor(a) classifica seu estado de saúde? Aqueles que responderam
“muito bom” ou “bom” foram considerados com autopercepção positiva de saúde, os
que responderam “regular”, “ruim” ou “muito ruim” com autopercepção negativa. As
variáveis independentes foram mudanças de alguns comportamentos relacionados à
saúde: atividade física no tempo livre (AFTL), consumo de frutas e hortaliças (CFH),
consumo abusivo de álcool (CAA) e tabagismo. A análise de dados foi realizada no
programa Statistical Package for the Social Sciences – SPSS® , onde se calculou o
Risco Relativo (RR) pela regressão de Poisson bruta e ajustada por variáveis
sociodemográficas (modelo 1), sociodemográficas e de saúde (modelo 2) e
sociodemográficas, de saúde e comportamentais (modelo 3). A incidência de
autopercepção negativa de saúde foi de 27,2% e de autopercepção positiva de
saúde foi de 27, 7%. A incidência de autopercepção negativa de saúde associou-se
aos indivíduos que se tornaram inativos (RR=1,74; IC95%1,08–2,80), mantendo-se
no modelo 1 (RR=1,65; IC95%1,04-2,62), modelo 2 (RR=1,92; IC95%1,19-3,10) e
modelo 3 (RR=1,88; IC95%1,17-3,05), aos que deixaram de consumir regularmente
frutas e hortaliças (RR=1,84; IC95%1,16-2,92), mantendo-se no modelo 1 (RR=1,85;
IC95%1,14-3,01), modelo 2 (RR=2,03; IC95%1,25-3,30) e modelo 3 (RR=1,95;
IC95%1,15-3,28) e aos que deixaram de consumir álcool abusivamente (RR=2,29;
IC95%1,03-5,08), mantendo-se no modelo 2 (RR= 2,42; IC95% 1,12-5,25). A
incidência de autopercepção positiva de saúde associou-se aos indivíduos que se
tornaram ativos (RR= 1,48; IC95% 1,03-2,15), mantendo-se no modelo 2 (RR= 1,47;
IC95%1,02-2,13) e aos que deixaram de ser tabagistas no modelo 1 (RR=2,58;
IC95%1,16-5,71), modelo 2 (RR=5,78; 2,18-15,36) e modelo 3 (RR=8,37;
IC95%2,79-25,09). Os indivíduos que passaram a consumir irregularmente frutas e
hortaliças apresentaram menor incidência de autopercepção positiva de saúde no
modelo 1 (RR=0,52; IC95%0,29-0,94), modelo 2 (RR=0,54; IC95%0,31-0,97) e
modelo 3 (RR=0,29; IC95%0,29-0,90). Conclui-se que as mudanças nos
comportamentos relacionados à saúde se associam a mudança na autopercepção
de saúde, fato importante que reforça a orientação de possíveis soluções para
melhora da saúde e bem-estar dos indivíduos e populações.
Cultura de segurança do paciente na atenção primária à saúde, Londrina, Paraná
Lílian Lozada Macedo, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 27/02/2018
Atualmente vivencia-se uma sociedade de risco, em que tecnologias, novos hábitos
de vida e processos de trabalho podem gerar altos e danosos custos para os
indivíduos. A assistência à saúde não fica de fora desses problemas, submetendose a diversos riscos, perigos e danos à integridade do paciente. Estudos e iniciativas
com relação à segurança do paciente no nível hospitalar têm sido desenvolvidos de
forma mais expressiva quando comparados à atenção primária à saúde, apesar de
já se identificar a ocorrência de erros e eventos adversos na atenção primária. Desta
forma, identificou-se a importância de estudos que retratem aspectos relacionados à
cultura de segurança do paciente na atenção básica. O objetivo deste estudo foi
analisar a cultura de segurança do paciente entre trabalhadores da atenção primária
à saúde em município de grande porte do Paraná. Para tal, foi realizado um estudo
transversal com trabalhadores em saúde atuantes da atenção primária do município
de Londrina, Paraná. A obtenção de informações sobre cultura de segurança foi
realizada com o uso do instrumento autopreenchido Medical Office Survey on
Patient Safety Culture, traduzido e adaptado para a realidade brasileira, que avalia
as atitudes e percepções do profissional quanto à segurança do paciente. A análise
dos dados foi realizada com o uso do programa Statistical Package for the Social
Sciences, versão 19.0. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual de Londrina. Foram entrevistados 550 trabalhadores, maioria
do sexo feminino (83,5%) e com idade média de 42 anos. Detectou-se que as
seções “processo de tralbaho no serviço de saúde”, “comunicação e
acompanhamento dos pacientes” e “serviço de saúde de atuação” apresentaram
avaliações neutras quanto à segurança (51,0%, 65,0% e 73,2%, de respostas
positivas respectivamente). Sobre a avaliação global da qualidade do cuidado,
houve predominância de respostas positivas (79,0%). Destaca-se também que
35,7% dos profissionais avaliaram como muito bom ou excelente a segurança do
paciente. Já em relação ao apoio dos gestores na cultura de segurança, houve
apenas 38,4% de respostas positivas. Trabalhadores das unidades de saúde da
família da região sul avaliaram de forma menos positiva a segurança no que se
refere a comunicação e acompanhamento do paciente, apoio de gestores e aos
aspectos do serviço de saúde em que atuam. Técnicos de enfermagem
apresentaram avaliação menos positiva quanto ao processo de trabalho,
comunicação e acompanhamento do paciente, e aspectos do serviço de saúde.
Sugere-se a modificação das estratégias para melhoria da cultura de segurança do
paciente para estratégias que visem a construção de uma cultura com participação
multiprofissional, de caráter não punitivo e que seja fortificadora das relações
interprofissionais e com o paciente, o que certamente modificará valores, atitudes e
futuras percepções da equipe da atenção primária à saúde.
Fatores de risco para a incidência de diabetes mellitus e pré-diabetes em indivíduos de 40 anos ou mais: um estudo de coorte
Thiago Akira Aditahara, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 26/02/2018
INTRODUÇÃO: O diabetes mellitus representa um problema na saúde pública
mundial, pois estudos recentes revelam que há uma tendência de crescimento na
prevalência em países em desenvolvimento e desenvolvidos, principalmente devido
ao envelhecimento da população e aos hábitos de vida sedentários. OBJETIVO:
Determinar a incidência e os fatores de risco para a incidência do diabetes mellitus e
do pré-diabetes mellitus na população com idade igual, ou superior, a 40 anos em
um município de médio porte. CASUÍSTICA E MÉTODOS: Trata-se de um estudo
coorte de base populacional aplicado em 2011 e em 2015 no município de CambéPR, cuja população foi composta por adultos com idade igual, ou superior, a 40
anos. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com formulários.
Foram considerados indivíduos com pré-diabetes mellitus (glicemia de jejum entre
≥100mg/dL e <126mg/dL e sem o uso de antidiabéticos e/ou insulina) e diabetes
mellitus (glicemia de jejum ≥126mg/dL e/ou com o uso de antidiabéticos e/ou
insulina). Para a presença do desfecho, após quatro anos, foi considerada a
população que teve a incidência de diabetes mellitus ou de pré-diabetes mellitus, ou
seja, que em 2011 foi classificada como sem diabetes mellitus e em 2015 passou a
apresentar pré-diabetes mellitus ou diabetes mellitus, e a com pré-diabetes mellitus
que passou a apresentar diabetes mellitus em 2015. A análise do risco relativo foi
calculada por meio do método da regressão de Poisson. O projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual
de Londrina (CAAE 39595614.4.0000.5231). RESULTADOS E DISCUSSÃO: A
população de estudo foi definida em 575 indivíduos, dos quais 20,5% (n=118)
tiveram incidência de diabetes mellitus ou pré-diabetes mellitus. Associaram-se com
o risco de apresentar o desfecho as seguintes variáveis: ser hipertenso (RR: 1,502
IC95% [1,089; 2,071]); possuir excesso de peso (RR: 1,848 IC95% [1,259; 2,713]);
possuir circunferência da cintura (CC) acima do recomendado (RR: 2,012 IC95%
[1,426; 2,839]); e se referir ao seu estado de saúde como de regular a ruim (RR:
1,869 IC95% [1,344; 2,600]). Posteriormente, realizadas análises ajustadas para as
variáveis com p-Valor ≤ 0,200, sendo que tanto o excesso de peso (RRajustado:
1,747 IC95% [1,201; 2,539]) quanto a CC acima do recomendado (RRajustado:
1,761 IC95% [1,234; 2,513]) continuaram significativos após dois ajuste, e se referir
ao seu estado de saúde como de regular a ruim (RRajustado: 1,678 IC95% [1,197 ;
2,353]), após quatro ajustes. CONCLUSÃO: Observa-se elevada incidência para
pré-diabetes e diabetes mellitus associadas a ser hipertenso, possuir excesso de
peso, possuir CC acima do recomendado e referir estado de saúde como regular a
ruim, sendo que estes últimos três são fatores de risco para incidência de diabetes
mellitus ou pré-diabetes mellitus, independente das características
sociodemográficas e do estilo de vida aqui analisados.
Mudança na situação conjugal e associação com a incidência e manutenção de comportamentos positivos de saúde: Estudo Vigicardio (2011-2015)
André Ulian Dall Evedove, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 22/02/2018
trodução: Algumas evidências apontam que a situação conjugal está associada a
indicadores de saúde, em geral, indicando que pessoas com companheiros/as (casadas ou em
união estável) possuem menores taxas de morbimortalidade se comparadas às pessoas sem
companheiros/as (solteiras, divorciadas/separadas ou viúvas). Entretanto, existem poucos
estudos epidemiológicos e longitudinais que associam a transição conjugal com
comportamentos de saúde, principalmente na América Latina. Objetivo: Verificar a
associação entre mudança na situação conjugal com a incidência e a manutenção de
comportamentos positivos de saúde. Métodos: Estudo longitudinal prospectivo, que faz parte
do projeto: ―Incidência de mortalidade, morbidade, internações e modificações nos fatores de
risco para doenças cardiovasculares em amostra de residentes com 40 anos ou mais de idade
em um município de médio porte do Sul do Brasil: Estudo coorte Vigicardio 2011-2015‖
realizado com indivíduos de 40 anos (em 2011) ou mais residentes em Cambé/PR. Para este
estudo, participaram 883 pessoas nos dois momentos da pesquisa. As variáveis dependentes
foram: atividade física no tempo livre, consumo de frutas, consumo de verduras e legumes,
tabagismo e consumo abusivo de álcool. Foram ainda realizadas análises com a combinação
(análise de simultaneidade) dos comportamentos relacionados à saúde considerados. A
variável independente foi a situação conjugal, comparando-se a situação de cada sujeito nos
quatro anos do estudo. Assim, os sujeitos foram divididos em quatro grupos. Grupo 1: pessoas
que tinham companheiro(a) nos dois momentos (n=583); Grupo 2: pessoas que tinham
companheiro(a) em 2011, mas não em 2015 (n=72); Grupo 3: pessoas que não tinham
companheiro(a) nos dois momentos (n=204); Grupo 4 (n=24): pessoas que não tinham
companheiro(a) em 2011 mas tinham em 2015. Assim, o grupo 1 e 3 manteve a mesma
situação conjugal, enquanto os grupos 2 e 4 teve transição na sua situação conjugal. A análise
dos dados, foi feita aos pares (grupo 1 x grupo 3; e grupo 2 x grupo 4), de modo a melhor
explorar a possível associação da manutenção ou incidência de comportamentos positivos
com a mudança na situação conjugal. Além das variáveis dependentes e a independente,
foram consideradas as seguintes variáveis de confusão: sexo, faixa etária, classe econômica e
escolaridade. Os dados foram analisados no Programa SPSS vs. 19, através da regressão de
Poisson bruta e ajustada. Resultados: Os participantes que deixaram de ter companheiro(a)
apresentaram menor incidência de abandono ao tabaco (RR:0,29,IC95%:0,12-0,68), de
consumo regular de frutas (RR:0,43,IC95%:0,20-0,90) e de manutenção de pelo menos dois
comportamentos positivos de saúde (RR:0,80,IC95%:0,70-0,92) do que os sujeitos que
tinham companheiro(a) nas duas coletas. Já os participantes que passaram a ter
companheiro(a) tiveram maior incidência de pelo menos um comportamento positivo de
saúde (RR:1,76,IC95%:1,07-2,88) e maior incidência de consumo regular de frutas
(RR:2,42,IC95%:1,40-4,18) comparados com aqueles que não tinham companheiro(a) em
2011 e 2015. Por outro lado, vale mencionar que algumas variáveis dependentes,
especificamente: atividade física no tempo livre e consumo de verduras e legumes não se
mostraram associadas à mudança na situação conjugal. Conclusão: Tais resultados são
importantes para um melhor planejamento do cuidado à saúde.
Alimentação em pacientes com diabetes com 45 anos ou mais atendidos em atenção primária
Daniele Cristina Fernandes Niehues, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 18/12/2020
Introdução: No Brasil, a prevalência de diabetes é de 8,9% ocupando o 4º lugar na
lista dos países com o maior número de diabéticos no mundo. Mais da metade das
pessoas com a doença têm dificuldades para seguir as recomendações,
principalmente no que se refere à alimentação, tornando-se necessário compreender
as barreiras que dificultam as mudanças no hábito alimentar. Objetivo: Analisar o
perfil da alimentação de pacientes diabéticos atendidos na atenção primária.
Método: Estudo transversal realizado em duas Unidades Básicas de Saúde em
Londrina-PR. A amostra foi composta por 200 adultos com idade igual ou superior a
45 anos, com diabetes e em uso medicamentos antidiabéticos (hipoglicemiantes
orais ou insulina). Os dados foram coletados entre Abril e Julho de 2019 por meio de
entrevista. As barreiras relatadas que dificultam manter os hábitos alimentares para
controle da doença foram levantadas através de pergunta aberta e a partir da
resposta espontânea do entrevistado, a resposta era classificada dentro das opções
previamente definidas baseadas na literatura. Para aqueles indivíduos que não
conseguiam relatar nenhuma dificuldade, foram apresentadas as opções para que o
paciente pudesse elencar qual ou quais dificuldades apresentava em manter os
hábitos alimentares para controle glicêmico. Foram também levantadas informações
sobre características sociodemográficas, utilização de serviço de saúde, padrão
alimentar, tempo de diagnóstico do diabetes e presença de comorbidades. Para a
análise de associação entre as barreiras percebidas e as variáveis sociais e
demográficas foi utilizada a regressão logística binária, com análises brutas e
ajustadas. Resultados: Dos entrevistados, a maioria era do sexo feminino (54,5%),
com idade mínima de 45 anos e máxima de 96 anos, 53,0% se declararam brancos,
59,5% eram casados e 37,0% tinham até quatro anos de estudo. Quanto à
frequência de consumo semanal dos alimentos, viu-se que verduras e legumes são
consumidos de duas a quatro vezes semana; mais da metade dos entrevistados não
consomem doces diariamente, porém o consumo de açúcar diário foi relatado em
42,0% no chá ou café; o pão, biscoito salgado e/ou doce são consumidos pela
maioria dos entrevistados diariamente. Cerca de 55,0% dos entrevistados utiliza
adoçante todos os dias e a maioria não consome produtos diet. As principais
barreiras relatadas para a manutenção da dieta adequada foram o sabor
desagradável ao paladar, falta de hábito individual para ingestão de alimentos
integrais e diet e o alto custo dos alimentos. Foi possível verificar que quem recebeu
visita domiciliar do agente comunitário de saúde e a orientação nutricional tiveram
menos chance de apresentar a barreira e/ou dificuldade de adesão à dieta em
relação a quem não recebeu. Conclusão: Há uma alta prevalência do consumo
inadequado de alimentos pelos pacientes e as principais barreiras e/ou dificuldades
estavam relacionadas às características pessoais, como sexo, faixa etária e
escolaridade.
Dor em professores da educação básica: associação com atividade física e tempo vendo televisão
Mayara Cristina da Silva Santos, Arthur Eumann Mesas, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 04/02/2020
Introdução: Os sintomas dolorosos, quer sejam de caráter crônico ou agudo,
têm consequências para a saúde individual e os serviços de saúde. Certos
comportamentos, como a inatividade física e o tempo vendo televisão, estão
potencialmente relacionados à etiologia e cronificação desses sintomas. No
entanto, não está claro como as mudanças ou a manutenção desses
comportamentos podem afetar a incidência, a persistência ou a frequência de
dor geral ou da dor crônica musculoesquelética. Objetivo: Investigar a
associação entre dor crônica musculoesquelética e percepção de dor, durante
o dia ou antes de dormir, com a prática de atividade física e o tempo vendo
televisão em professores da educação básica. Objetivos específicos: 1)
Analisar a associação longitudinal da mudança na prática de atividade física no
lazer e do tempo vendo televisão com a incidência e a persistência de dor
crônica musculoesquelética; e 2) Analisar a relação entre a prática de atividade
física no tempo livre, autorreferida em entrevista pessoal, e a sensação de dor
durante o dia ou antes de dormir, registrada pelo próprio indivíduo ao longo de
sete dias consecutivos. Métodos: Os objetivos específicos foram
contemplados na forma de dois estudos, com resultados e discussões
abordados separadamente. A população estudada fez parte do projeto PróMestre, que aborda questões de saúde, estilo de vida e trabalho de professores
da rede pública. Professores das 20 escolas de maior porte do município de
Londrina, PR, Brasil, que atuavam em sala de aula ao menos um período da
semana e eram responsáveis por uma ou mais disciplinas foram incluídos no
estudo e entrevistados em duas ocasiões: entre 2012 e 2013 (baseline) e após
24 meses (follow-up). No follow-up, uma subamostra de professores preencheu
um diário de atividades durante sete dias consecutivos. Para o desfecho dor
crônica musculoesquelética considerou-se a percepção de sintomas dolorosos
há 6 meses ou mais nas seguintes regiões: ombros, braços, costas, joelhos,
pernas e pés. Definiu-se como dor durante o dia e dor antes de dormir quando
esse sintoma era reportado ao menos uma vez ao longo de sete dias. As
variáveis independentes foram a atividade física no lazer (ou no tempo livre) e
o tempo vendo televisão diariamente. Para as análises de associação, utilizouse a regressão logística. Resultados: Um total de 527 professores foram
estudados para contemplar o primeiro objetivo. Aumentar o tempo de lazer
dedicado à prática de atividade física (mudar ≤120 para >120 minutos de AFL
semanalmente) associou-se com menor chance de dor crônica
musculoesquelética persistente (odds ratio, OR=0,30; intervalo de confiança de
95%, IC95%=0,11-0,79) em comparação com manter-se fisicamente inativo.
Um total de 141 professores foram estudados para contemplar o segundo
objetivo. Entre esses, praticar mais de 240 minutos por semana de atividade
física no tempo livre associou-se com uma chance menor de reportar dor
durante o dia (OR=0,18; IC95%=0,06-0,54) e antes de dormir (OR=0,28;
IC95%=0,10-0,79), entretanto, as associações perderam significância
estatística após o ajuste pelo escore de sintomas depressivos. Conclusões:
Em síntese, este estudo mostrou que, comparado com se manter inativo,
passar a praticar mais de duas horas de atividade física no lazer semanalmente
é um comportamento associado com menor chance de persistência de dor
crônica musculoesquelética. Além disso, praticar mais de quatro horas
semanais de atividade física no tempo livre está relacionado com menor
frequência de dor durante o dia ou antes de dormir, independente dos
principais confundidores, exceto sintomas depressivos.
Atores, espaços e instrumentos de governança na rede de atenção à saúde bucal
Bárbara Viera Pimentel, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/02/2020
O estudo objetivou analisar o processo de governança na Rede de Atenção à Saúde Bucal
(RASB) em uma região do estado do Paraná, por meio da compreensão sobre o termo
governança, caracterização da rede, identificação de atores, espaços, fluxos e análise de
instrumentos envolvidos no processo de governança. No primeiro momento, foi realizado
pesquisa exploratória, por meio de revisão de literatura e análise documental a fim de analisar
em que medida o termo governança tem sido abordado e conceituado na produção científica e
nas normas oficiais brasileiras, subdivididas em: Identificação; Busca da literatura (palavraschave, bases de dados e aplicação de critérios definidos); Avaliação e Análise dos dados. O
segundo momento tratou-se de um estudo descritivo e exploratório com obtenção de dados
secundários por meio de base de dados, com o objetivo de compreender a organização dos
serviços de saúde bucal existentes nos municípios da região, divididos e apresentados em:
Identificação; Caracterização; Atividade; Atendimento e Informações gerais; analisados pelo
programa Epi-Info. No terceiro momento, tratou-se de um estudo de abordagem qualitativa,
realizada a identificação de atores, espaços, compreensão de fluxos e instrumentos de
governança, por meio da realização de entrevistas semiestruturadas, com informante-chave, o
qual identificou novos espaços e atores para sequenciamento de novas entrevistas. A análise
dos dados foram segundo os pressupostos do método de análise de discurso e sob a
perspectiva teórica da governança proposto por Marques (2013). Diversos conceitos de
governança foram encontrados nas publicações científicas, no entanto, poucos foram
utilizados para denominar processos referentes à regionalização para a estruturação das Redes
de Atenção à Saúde. Percebeu-se a dificuldade de se operacionalizar a descentralização nos
contextos locais e as normativas pouco conseguem fortalecer a cooperação e relações de
solidariedade entre eles. A organização da RASB se deu por oito tipos de estabelecimentos,
tais como: Unidade Básica; Centro de Especialidade; Consultório isolado; Hospital Geral e
Especializado, Policlínica, Posto de Saúde e Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico. No
que concerne à natureza jurídica, 90,5% são de administração pública, sendo 6,7%, entidades
sem fins lucrativos e 2,7% entidades empresariais. Quanto ao modelo de gestão, a municipal
foi a mais evidente (77,7%), sendo 19,5% gestão dupla e 2,7% estadual. Foi evidente a
ausência dos atores não governamentais no processo de governança e a capacidade do ente
municipal gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo dos
atores sociais, econômicos e institucionais em sua dimensão regional. Foi verificada a
predominância das relações informais como instrumento da governança, com o uso de
tecnologias para sua comunicação, por meio de WhatsApp, E-mail e telefone. A inexistência
de proximidade e conhecimento das realidades locais, a inexistência de discussões acerca de
projetos que atendam a interesses comuns, dificulta a construção de uma relação no âmbito
regional sob a perspectiva da governança. É necessária a participação de profissionais da
saúde bucal em ações regionais, de forma mais cooperativa e integrada, com a presença de
atores estratégicos com capacidade de influenciar o processo de governança e assim superar
sua fragmentação e incipiência, com aspiração de promover uma atenção à saúde bucal de
forma mais integral e equânime.
Organização do processo de trabalha vivenciado durante um programa de qualificação da Atenção Primária à Saúde
Mariana Lectícia Beraldi, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 06/03/2020
A Educação Permanente em Saúde (EPS) constitui-se em uma estratégia que busca
transformar as práticas profissionais e a organização do processo de trabalho a
partir das demandas do próprio trabalho. Ela atua como componente do Programa
de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (APSUS), ocorrido no ano de 2011 a
2018, que corresponde a um programa do governo do Estado do Paraná que propõe
a melhoria da Atenção Primária à Saúde (APS) em todo o Estado para que ela
possa exercer seu papel de coordenadora do cuidado. Como segunda etapa do
programa, ocorre a tutoria, que busca contribuir com as equipes de saúde a
incorporar mudanças e adequações do processo de trabalho e para isso utiliza-se de
um instrumento norteador que impulsiona a prática dos profissionais, o Selo da
Qualidade. O selo da qualidade em sua segunda etapa, etapa prata, visa aferir o
gerenciamento dos processos. O objetivo deste estudo foi analisar a organização do
processo de trabalho vivenciada durante um programa de qualificação da APS. A
pesquisa ocorreu com profissionais de uma Unidade de Saúde da Família (USF),
localizada no município de Londrina, Paraná, participante do processo de tutoria,
buscando a certificação da qualidade do nível prata. O estudo foi feito com todos os
trabalhadores da unidade, incluindo profissionais residentes que atuavam
juntamente a equipe e tutores do programa. A pesquisa tem caráter qualitativo,
descritivo e exploratório, do tipo estudo de caso. Utilizou-se como ferramenta de
coleta de dados observação-participante, realizada no período de julho a outubro de
2018, e entrevistas semiestruturadas com os profissionais da USF, feitas em
dezembro de 2018 até abril de 2019. Os dados foram analisados de acordo com a
proposta de Martins e Bicudo. Da análise dos resultados emergiram três
manuscritos: Reflexos de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde
na rotina e no cuidado produzido pelos trabalhadores; Estratégias de gestão do
trabalho durante um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde;
Resultados de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde. Os
resultados apontaram para organização do processo de trabalho, oportunidade de
refletir sobre a prática, sobrecarga física e mental dos profissionais, ênfase em
questões burocráticas em detrimento do cuidado e dificuldade do programa em
contemplar as singularidades do território e possibilitou. Diversas estratégias foram
desenvolvidas pela equipe: reuniões de equipe e gerais, mutirões de estratificação
de risco e criação atendimentos coletivos em formato de grupo, que possibilitaram a
organização do processo e melhoria da qualidade da atenção. A participação no selo
permitiu melhor conscientização do processo de trabalho, organização do fluxo e
sistematização de atividades, resgate de populações negligenciadas e
monitoramento da população com condições crônicas. A EPS mostrou-se como eixo
transversal que percorreu todo o processo de trabalho, permitindo problematizações,
trabalho em equipe e reflexão sobre a prática profissional. A EPS desenvolvida pelos
próprios profissionais possibilitou sair da lógica da captura impositiva do processo e
dar qualidade a gestão do trabalho.