Dor em professores da educação básica: associação com atividade física e tempo vendo televisão
Mayara Cristina da Silva Santos, Arthur Eumann Mesas, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 04/02/2020
Introdução: Os sintomas dolorosos, quer sejam de caráter crônico ou agudo, têm consequências para a saúde individual e os serviços de saúde. Certos comportamentos, como a inatividade física e o tempo vendo televisão, estão potencialmente relacionados à etiologia e cronificação desses sintomas. No entanto, não está claro como as mudanças ou a manutenção desses comportamentos podem afetar a incidência, a persistência ou a frequência de dor geral ou da dor crônica musculoesquelética. Objetivo: Investigar a associação entre dor crônica musculoesquelética e percepção de dor, durante o dia ou antes de dormir, com a prática de atividade física e o tempo vendo televisão em professores da educação básica. Objetivos específicos: 1) Analisar a associação longitudinal da mudança na prática de atividade física no lazer e do tempo vendo televisão com a incidência e a persistência de dor crônica musculoesquelética; e 2) Analisar a relação entre a prática de atividade física no tempo livre, autorreferida em entrevista pessoal, e a sensação de dor durante o dia ou antes de dormir, registrada pelo próprio indivíduo ao longo de sete dias consecutivos. Métodos: Os objetivos específicos foram contemplados na forma de dois estudos, com resultados e discussões abordados separadamente. A população estudada fez parte do projeto PróMestre, que aborda questões de saúde, estilo de vida e trabalho de professores da rede pública. Professores das 20 escolas de maior porte do município de Londrina, PR, Brasil, que atuavam em sala de aula ao menos um período da semana e eram responsáveis por uma ou mais disciplinas foram incluídos no estudo e entrevistados em duas ocasiões: entre 2012 e 2013 (baseline) e após 24 meses (follow-up). No follow-up, uma subamostra de professores preencheu um diário de atividades durante sete dias consecutivos. Para o desfecho dor crônica musculoesquelética considerou-se a percepção de sintomas dolorosos há 6 meses ou mais nas seguintes regiões: ombros, braços, costas, joelhos, pernas e pés. Definiu-se como dor durante o dia e dor antes de dormir quando esse sintoma era reportado ao menos uma vez ao longo de sete dias. As variáveis independentes foram a atividade física no lazer (ou no tempo livre) e o tempo vendo televisão diariamente. Para as análises de associação, utilizouse a regressão logística. Resultados: Um total de 527 professores foram estudados para contemplar o primeiro objetivo. Aumentar o tempo de lazer dedicado à prática de atividade física (mudar ≤120 para >120 minutos de AFL semanalmente) associou-se com menor chance de dor crônica musculoesquelética persistente (odds ratio, OR=0,30; intervalo de confiança de 95%, IC95%=0,11-0,79) em comparação com manter-se fisicamente inativo. Um total de 141 professores foram estudados para contemplar o segundo objetivo. Entre esses, praticar mais de 240 minutos por semana de atividade física no tempo livre associou-se com uma chance menor de reportar dor durante o dia (OR=0,18; IC95%=0,06-0,54) e antes de dormir (OR=0,28; IC95%=0,10-0,79), entretanto, as associações perderam significância estatística após o ajuste pelo escore de sintomas depressivos. Conclusões: Em síntese, este estudo mostrou que, comparado com se manter inativo, passar a praticar mais de duas horas de atividade física no lazer semanalmente é um comportamento associado com menor chance de persistência de dor crônica musculoesquelética. Além disso, praticar mais de quatro horas semanais de atividade física no tempo livre está relacionado com menor frequência de dor durante o dia ou antes de dormir, independente dos principais confundidores, exceto sintomas depressivos.
Atores, espaços e instrumentos de governança na rede de atenção à saúde bucal
Bárbara Viera Pimentel, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/02/2020
O estudo objetivou analisar o processo de governança na Rede de Atenção à Saúde Bucal (RASB) em uma região do estado do Paraná, por meio da compreensão sobre o termo governança, caracterização da rede, identificação de atores, espaços, fluxos e análise de instrumentos envolvidos no processo de governança. No primeiro momento, foi realizado pesquisa exploratória, por meio de revisão de literatura e análise documental a fim de analisar em que medida o termo governança tem sido abordado e conceituado na produção científica e nas normas oficiais brasileiras, subdivididas em: Identificação; Busca da literatura (palavraschave, bases de dados e aplicação de critérios definidos); Avaliação e Análise dos dados. O segundo momento tratou-se de um estudo descritivo e exploratório com obtenção de dados secundários por meio de base de dados, com o objetivo de compreender a organização dos serviços de saúde bucal existentes nos municípios da região, divididos e apresentados em: Identificação; Caracterização; Atividade; Atendimento e Informações gerais; analisados pelo programa Epi-Info. No terceiro momento, tratou-se de um estudo de abordagem qualitativa, realizada a identificação de atores, espaços, compreensão de fluxos e instrumentos de governança, por meio da realização de entrevistas semiestruturadas, com informante-chave, o qual identificou novos espaços e atores para sequenciamento de novas entrevistas. A análise dos dados foram segundo os pressupostos do método de análise de discurso e sob a perspectiva teórica da governança proposto por Marques (2013). Diversos conceitos de governança foram encontrados nas publicações científicas, no entanto, poucos foram utilizados para denominar processos referentes à regionalização para a estruturação das Redes de Atenção à Saúde. Percebeu-se a dificuldade de se operacionalizar a descentralização nos contextos locais e as normativas pouco conseguem fortalecer a cooperação e relações de solidariedade entre eles. A organização da RASB se deu por oito tipos de estabelecimentos, tais como: Unidade Básica; Centro de Especialidade; Consultório isolado; Hospital Geral e Especializado, Policlínica, Posto de Saúde e Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico. No que concerne à natureza jurídica, 90,5% são de administração pública, sendo 6,7%, entidades sem fins lucrativos e 2,7% entidades empresariais. Quanto ao modelo de gestão, a municipal foi a mais evidente (77,7%), sendo 19,5% gestão dupla e 2,7% estadual. Foi evidente a ausência dos atores não governamentais no processo de governança e a capacidade do ente municipal gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo dos atores sociais, econômicos e institucionais em sua dimensão regional. Foi verificada a predominância das relações informais como instrumento da governança, com o uso de tecnologias para sua comunicação, por meio de WhatsApp, E-mail e telefone. A inexistência de proximidade e conhecimento das realidades locais, a inexistência de discussões acerca de projetos que atendam a interesses comuns, dificulta a construção de uma relação no âmbito regional sob a perspectiva da governança. É necessária a participação de profissionais da saúde bucal em ações regionais, de forma mais cooperativa e integrada, com a presença de atores estratégicos com capacidade de influenciar o processo de governança e assim superar sua fragmentação e incipiência, com aspiração de promover uma atenção à saúde bucal de forma mais integral e equânime.
Organização do processo de trabalha vivenciado durante um programa de qualificação da Atenção Primária à Saúde
Mariana Lectícia Beraldi, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 06/03/2020
A Educação Permanente em Saúde (EPS) constitui-se em uma estratégia que busca transformar as práticas profissionais e a organização do processo de trabalho a partir das demandas do próprio trabalho. Ela atua como componente do Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (APSUS), ocorrido no ano de 2011 a 2018, que corresponde a um programa do governo do Estado do Paraná que propõe a melhoria da Atenção Primária à Saúde (APS) em todo o Estado para que ela possa exercer seu papel de coordenadora do cuidado. Como segunda etapa do programa, ocorre a tutoria, que busca contribuir com as equipes de saúde a incorporar mudanças e adequações do processo de trabalho e para isso utiliza-se de um instrumento norteador que impulsiona a prática dos profissionais, o Selo da Qualidade. O selo da qualidade em sua segunda etapa, etapa prata, visa aferir o gerenciamento dos processos. O objetivo deste estudo foi analisar a organização do processo de trabalho vivenciada durante um programa de qualificação da APS. A pesquisa ocorreu com profissionais de uma Unidade de Saúde da Família (USF), localizada no município de Londrina, Paraná, participante do processo de tutoria, buscando a certificação da qualidade do nível prata. O estudo foi feito com todos os trabalhadores da unidade, incluindo profissionais residentes que atuavam juntamente a equipe e tutores do programa. A pesquisa tem caráter qualitativo, descritivo e exploratório, do tipo estudo de caso. Utilizou-se como ferramenta de coleta de dados observação-participante, realizada no período de julho a outubro de 2018, e entrevistas semiestruturadas com os profissionais da USF, feitas em dezembro de 2018 até abril de 2019. Os dados foram analisados de acordo com a proposta de Martins e Bicudo. Da análise dos resultados emergiram três manuscritos: Reflexos de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde na rotina e no cuidado produzido pelos trabalhadores; Estratégias de gestão do trabalho durante um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde; Resultados de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde. Os resultados apontaram para organização do processo de trabalho, oportunidade de refletir sobre a prática, sobrecarga física e mental dos profissionais, ênfase em questões burocráticas em detrimento do cuidado e dificuldade do programa em contemplar as singularidades do território e possibilitou. Diversas estratégias foram desenvolvidas pela equipe: reuniões de equipe e gerais, mutirões de estratificação de risco e criação atendimentos coletivos em formato de grupo, que possibilitaram a organização do processo e melhoria da qualidade da atenção. A participação no selo permitiu melhor conscientização do processo de trabalho, organização do fluxo e sistematização de atividades, resgate de populações negligenciadas e monitoramento da população com condições crônicas. A EPS mostrou-se como eixo transversal que percorreu todo o processo de trabalho, permitindo problematizações, trabalho em equipe e reflexão sobre a prática profissional. A EPS desenvolvida pelos próprios profissionais possibilitou sair da lógica da captura impositiva do processo e dar qualidade a gestão do trabalho.
Monitoramento e articulação da Rede Mãe Paranaense na 17ª Regional de Saúde do Paraná
Jessika Adriana Bornia Dalanheze, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 10/03/2020
No intuito de melhorar o atendimento às gestantes e crianças e consequentemente reduzir a mortalidade materna e infantil o Ministério da Saúde criou a Rede Cegonha no ano de 2011 em âmbito nacional. No Paraná foi elaborado um programa semelhante que recebeu a denominação de Rede Mãe Paranaense. Essa política pública preconiza a estratificação de risco em cada consulta de pré-natal e encaminhamento das gestantes de risco ao Centro Mãe Paranaense para atendimento ambulatorial por equipe multidisciplinar. Também estabelece que o parto seja vinculado ao hospital mais adequado de acordo com o risco gestacional. Apesar das potencialidades desse programa, ocorreu pouco impacto na mortalidade materna e infantil na 17ª Regional de Saúde do Paraná. Considerando que a articulação entre os pontos de atenção é fundamental para o adequado funcionamento da rede e que o monitoramento desta possibilita a identificação de problemas em seu funcionamento realizou-se um estudo com o objetivo de compreender como ocorre o monitoramento e a articulação entre os diferentes pontos de atenção às gestantes na Rede Materno-Infantil da 17ª Regional de Saúde do Estado do Paraná. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa em que foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 20 profissionais de saúde que prestam atendimento às gestantes ou que atuam como gestores na 17ª Regional de Saúde do Paraná. As entrevistas foram feitas entre janeiro e abril de 2019 e posteriormente foram analisadas utilizando-se da técnica de análise de conteúdo de Bardin. Emergiram três categorias de análise: Monitoramento da Rede Mãe Paranaense; Fragilidades da Rede Mãe Paranaense; Iniciativas para Melhoria da Rede Mãe Paranaense. O monitoramento da rede tem sido aprimorado com a criação de novos sistemas de informação e com o monitoramento do “near miss” materno. Contudo, ainda falta estabelecer um monitoramento formal em relação ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). O insuficiente número de médicos ginecologistas na rede básica de saúde, sobretudo no município de Londrina, o déficit de vagas de maternidade de alto risco, de UTI neonatal e de consultas nos ambulatórios de alto risco foram apontados pelos profissionais como fragilidades da rede. Para tentar driblar essa falta de vagas nos hospitais de alto risco o SAMU tem encaminhado gestantes de alto risco para avaliação em hospitais de risco intermediário num procedimento arriscado conhecido pelos profissionais da região como “pit stop”. Outra dificuldade identificada foi comunicação incipiente entre os pontos de atenção evidenciada pela falta de preenchimento dos impressos de contrarreferência e do cartão de gestante. Para superar esses problemas alguns profissionais têm desenvolvido estratégias informais de articulação da rede. Devido à escassez de ginecologistas na rede pública de Londrina, a secretaria de saúde desse município tem utilizado o matriciamento em ginecologia e obstetrícia para capacitar os médicos da Estratégia Saúde da Família e ao mesmo tempo promover o trabalho multidisciplinar. Além disso, o grupo condutor da Rede Materno Infantil da região tem mobilizado esforços no sentido de unificar os protocolos de atendimento, redefinir os critérios de encaminhamento aos ambulatórios de risco e aos hospitais de risco. No entanto, ainda destaca-se a necessidade de um número maior de profissionais da ginecologia na rede básica e da ampliação do número de vagas de maternidade de alto risco e de UTI neonatal.
Associação entre qualidade do sono e características sociodemográficas, acadêmicas e uso de mídias sociais em universitários
Rafaela Sirtoli, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 16/03/2020
O sono exerce importante função restauradora, de conservação de energia e de proteção. Um indivíduo pode se adaptar a um padrão de privação do sono, porém há o comprometimento de funções cognitivas e do bom funcionamento do organismo. Devido às particularidades do ambiente acadêmico, os estudantes de graduação constituem uma população de risco para transtornos mentais – inclusive os transtornos do sono. Nesse sentido, o objetivo desta dissertação foi analisar a qualidade do sono dos estudantes universitários e sua associação com variáveis sociodemográficas, acadêmicas e o uso de mídias sociais. Trata-se de um estudo transversal e analítico, realizado por meio de um questionário online. A população consistiu em estudantes de graduação da Universidade Estadual de Londrina com matrícula ativa no primeiro semestre de 2019. Dos 13.339 estudantes matriculados na universidade em 2019, 12.536 foram considerados elegíveis para a pesquisa. A coleta de dados ocorreu no período de 29 de abril a 28 de junho de 2019. Realizou-se intensa atividade de divulgação por meios de comunicação diversos, além de divulgação presencial para todas as 259 turmas de graduação. Utilizou-se o Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI) para a avaliação da qualidade do sono. Foram analisadas variáveis acadêmicas, sociodemográficas e relacionadas à dependência autorreferida de mídias sociais. Constatou-se que 71,1% dos 2.736 respondentes atingiram escore global > 5 pontos no PSQI, caracterizando uma má qualidade do sono. A má qualidade do sono se associou ao sexo feminino (Razão de Prevalência, RP: 1,171; Intervalo de Confiança, IC95%: 1,106-1,239), a estar entre o 4º a 6º ano do curso (RP: 1,114; IC95%: 1,041-1,192), a estudar no turno integral (RP: 1,159; IC95%: 1,007-1,334) ou matutino (RP: 1,195; IC95%: 1,035-1,380), a sentir-se insatisfeito com o seu desempenho acadêmico (RP: 1,366; IC95%: 1,292-1,445), ao maior tempo de deslocamento até a universidade (RP: 1,214; IC95%: 1,088-1,354), e à dependência autorreferida de mídias sociais (RP: 1,073; IC95%: 1,010-1,140). Os resultados encontrados indicam alta prevalência de má qualidade do sono, relacionada a diversos fatores inerentes ao ambiente universitário. Espera-se que os resultados desse estudo possam embasar ações a nível local, além de chamar atenção para discussões mais amplas e intersetoriais.
SUS para todos, para pobres ou para ninguém? A visão de estudantes de Educação Física de três universidades públicas do Paraná
Joamara de Oliveira Pimentel, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 16/03/2020
Introdução: O sistema de saúde brasileiro sofreu diversas mudanças desde o início do século XX, conforme se alteravam as condições econômicas, políticas e sociais no Brasil. O sistema Único de Saúde (SUS) tem entre seus princípios a universalidade, a integralidade e a equidade. No SUS atuam diferentes profissionais de saúde e, a partir da criação dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica a Educação Física, entre outras profissões, passou a ter a oportunidade de se inserir nas equipes de saúde pública. Esse é um dos fatores que faz com que a formação em Educação Física precise ter uma aproximação mais estreita com o SUS. Objetivo: Verificar a visão de estudantes de Educação Física (EEF) sobre como deveria ser o acesso ao SUS de maneira geral e em ações/serviços específicos. Métodos: Estudo de delineamento transversal, descritivo e quantitativo com estudantes ingressantes e concluintes em 2019, nos cursos de bacharelado em Educação Física de três universidades públicas do Paraná. Responderam a um questionário semiestruturado 349 EEF (216 ingressantes e 133 concluintes). As questões principais avaliaram a visão dos EEF sobre o princípio da universalidade, de um modo genérico (a partir de uma pergunta geral sobre como deveria ser o acesso) e para 11 serviços/ações específicas: acompanhamento de pessoas com doenças crônicas, acompanhamento psicológico, acompanhamento de gestantes (pré-natal), atendimento domiciliar para pessoas com dificuldade de locomoção, atendimento odontológico, atendimento de urgência e emergência, fisioterapia, fornecimento de medicamentos, programas de atividades físicas, vacinação para crianças e adolescentes e vacinação para adultos. Resultados: A maioria (85,4%) dos EEF considerou que o acesso deveria ser “para todos” (sem diferença entre ingressantes e concluintes, p=0,090), 12,9% “para pobres” e 1,7% “para ninguém”. Porém, menos da metade dos que responderam que o acesso deveria ser “para todos” (na questão geral) respondeu desta maneira em todos os 11 serviços/ações investigados. Os concluintes apresentaram uma visão mais ampla sobre a integralidade que os ingressantes, sendo maior a proporção de resposta “para todos” entre os concluintes em três ações/serviços: atendimento psicológico, atendimento de pessoas com dificuldade de locomoção e programas de práticas corporais/atividade física (PCAF). Além disso, algumas destas ações/serviços apresentaram mais de 90% de resposta “para todos” tanto para ingressantes como para concluintes: atendimento a pessoas com doenças crônicas, serviços de urgência e emergência e vacinação para crianças e adolescentes, enquanto outras ações tiveram menos de 70% de resposta entre os ingressantes: atendimento odontológico, fisioterapia e fornecimento de medicamentos, sendo que entre os concluintes, o serviço/ação que teve menos de 70% de resposta “para todos” foi fisioterapia. Conclusão: Um percentual elevado de EEF, tanto em ingressantes quanto em concluintes, considera que o acesso ao SUS deve ser universal, mas parece prevalecer uma visão limitada sobre os serviços/ações que devem ser “para todos”, indicando assim a necessidade de um maior foco na questão da integralidade na formação profissional.
Cartografia de uma mãe órfã: uma vivência no consultório na rua
Luiz Gustavo Duarte, Maira Sayuri Sakay Bortoletto
Data da defesa: 19/03/2020
Este estudo foi produzido por uma vivência realizada em um Consultório na Rua (CnaR) em 2019, onde por uma diagramação cartográfica mapeou-se os afetos que atingiram o corpo do pesquisador neste período. Partindo do objetivo de realizar uma cartografia a partir da vivência em um Consultório na Rua num município de grande porte do sul do país, elaborou-se um manuscrito científico em forma de artigo. Na discussão do artigo, através do mapeamento dos afetos em cenas vividas no CnaR junto com a intercessão da obra Sandman de Neil Gaiman, utilizada como dispositivo cognitivo de discussão da fantasia-realidade, foram diagramados territórios que evidenciaram modos de viver que desafiam os métodos tradicionais de produzir cuidado, onde foi perceptível as capturas micropolíticas que levaram à produção de controle e enquadramento, através do sequestro de um bebê pelo Estado, produzindo uma mãe órfã em um processo de desmaternização. Aliado a isto também houve o contato com um fluxo eugênico dentro da própria produção de cuidado. Diante do que foi cartografado, percebeu-se no CnaR uma potência de produção de outros modos de cuidado ao mesmo tempo que as capturas micropolíticas para controle destes considerados anormais do desejo, agem agressivamente maquinando a produção das necessidades de esterilizações e desmaternizações junto com o sequestro de bebês pelo Estado dos viventes de rua.
Incidência de aumento e redução do Índice de Massa Corporal em homens e mulheres de meia-idade: seguimento de quatro anos em município de médio porte
Nathalia Assis Augusto, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 27/03/2020
Nas últimas décadas, o Brasil passou a apresentar prevalência de excesso de peso três vezes maior que a desnutrição, com um aumento importante a partir da fase da meia-idade. O objetivo deste estudo foi analisar a incidência de aumento e de redução do Índice de Massa Corporal (IMC) entre homens e mulheres segundo características sociodemográficas e classificação nutricional. Trata-se de uma coorte prospectiva de base populacional com 689 adultos com idade entre 40 e 64 anos acompanhados por quatro anos. Verificou-se a proporção de redução e de aumento do IMC (≥1 kg/m²) segundo variáveis sociodemográficas e classificação nutricional no baseline por meio da regressão de Poisson bruta e ajustada. Entre os homens, observou-se maior incidência de aumento do IMC (31,8%) do que de redução (18,2%), sendo esta diferença significativa. Mesma tendência entre as mulheres, porém não significativa (35,2% de aumento, contra 27,8% de diminuição). Em mesma análise, estratificada pela classificação nutricional do baseline, observou-se que nos eutróficos a proporção de aumento foi superior à de redução (em ambos os sexos), porém, entre aqueles classificados com sobrepeso e obesidade não houve diferença significativa (nem em homens, nem em mulheres), apesar de numericamente os valores serem superiores para aumento se comparados à redução de 1 kg/m2 , exceto para as mulheres obesas. Comparando-se a incidência de redução e aumento de 1 kg/m2 segundo variáveis demográficas e classificação nutricional do baseline, observou-se maior incidência de redução nos homens da faixa etária de 55 a 64 anos (RR:1,78; IC95%:1,06-3,00), naqueles sem companheira (RR:1,85; IC95%:1,09-3,14), nos classificados com sobrepeso (RR:2,06; IC95%:1,13-3,74) e obesidade (RR:2,33; IC95%:1,24-4,35), enquanto a incidência de aumento foi menor na faixa etária de 55 a 64 anos (RR:0,62; IC95%:0,41-0,95). Entre as mulheres, houve maior incidência de redução na faixa etária de 55 a 64 anos (RR:1,43; IC95%:1,02-2,00) e nas classificadas com obesidade (RR:2,10; IC95%:1,30-3,38), e a incidência de aumento foi menor na faixa etária de 55 a 64 anos (RR:0,68; IC95%:0,49-0,95). Estes dados são importantes para compreensão dos fatores relacionados às variações de peso e elaboração de políticas públicas que visem o cuidado à saúde do adulto de meia-idade.
O trabalho coletivo na construção do cuidado: uma cartografia
Beatriz Zampar, Regina Melchior, Josiane Vivian Camargo de Lima
Data da defesa: 27/03/2020
A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e comunitárias envolvendo promoção, prevenção, tratamento, reabilitação, redução de danos e vigilância, por meio de práticas de cuidado integral em equipe, dirigida à população em território definido. Profissionais de diferentes áreas são convidados a se unir e trabalhar em prol de uma comunidade. A produção subjetiva do cuidado, é marcada por constante desconstrução e construção de territórios existenciais, numa lógica de fluxos-conectivos em benefício de um determinado projeto de cuidado que se preocupa em diferentes graus com a integralidade do usuário. O objetivo deste trabalho é analisar como uma equipe de Saúde da Família se organiza para produzir cuidado a partir do trabalho coletivo. Trata-se de um estudo qualitativo realizado com abordagem cartográfica, a qual busca mapear processos de produção de subjetividade, que são reconstituídas em cada encontro. Permite investigar as práticas na saúde, investigando a nós mesmos e nos colocando em análise, repensando práticas e a implicação com o todo. O campo da pesquisa foi uma Unidade de Saúde da Família de uma cidade de grande porte do Paraná, que conta com quatro equipes, Residência de Medicina de família e comunidade e Residência multiprofissional em Saúde da Família, por um período de 18 meses, de 2018 a 2019. Os resultados foram organizados em quatro eixos: de onde cada profissional parte (particularidades de cada formação, importância da comunicação e dos espaços que a possibilitem), construção do trabalho coletivo (processo que demanda tempo, habilidades e planejamento), disputas de projetos em saúde (entender que os atores estão fazendo gestão todo o tempo e não seguem os mesmos projetos), produção do cuidado (singularidade dos encontros, potencialidade do trabalho interprofissional, complexidade das necessidades em saúde). Esta cartografia possibilitou mapear o processo de formação do trabalho coletivo, suas potências e fragilidades. Apontou experiências exitosas e conflituosas, mas que geraram reflexão e possibilidades de novos arranjos. Para produção de coletivo em saúde, o cuidado deve ser o principal norteador, e o trabalho coletivo é fundamental nesse processo.
Produção do cuidado à gestante: narrativas de uma mulher em período perinatal
Célia Maria da Rocha Marandola, Regina Melchior
Data da defesa: 27/03/2020
O ato de cuidar em saúde é formado por um leque de ações, procedimentos, fluxos, rotinas e saberes que se complementam ao mesmo tempo em que se disputam. Embora inerente ao processo de trabalho dos profissionais da saúde o cuidado é de responsabilidade, também, de familiares, de amigos, e do próprio usuário. Sendo a Atenção Básica um terreno fértil para experimentar essa produção do cuidado. O estudo buscou dar luz às narrativas de uma gestante acompanhada no pré-natal numa Unidade Básica de Saúde de um município de grande porte, na região sul do Brasil. A pesquisa ocorreu no período de abril/2018 a dezembro/2019. Dentro da perspectiva cartográfica utilizamos como dispositivo de pesquisa a gestante-guia que nos conduziu em sua trajetória pela busca do cuidado e em suas narrativas foram emergindo cenas do vivido, como: a disputa de projeto de cuidado; a produção de máscaras como dispositivos de enfrentamento das perdas e o cuidado nos interstícios dos protocolos (seringas, receitas, agendas e afins). As narrativas da gestante-guia revelaram sua enorme expectativa de um parto seguro, pois ela confiava na equipe, principalmente, a equipe do alto risco que seria responsável pelo seu parto. Porém, a mesma não se sentia cuidada em nenhuma das complexidades (baixo ou alto risco) apesar de toda a estrutura montada para o cuidado em saúde à gestante. Faz-se necessário, portanto, que as equipes reflitam sobre o seu processo de trabalho, se colocando em análise no intuito de evitar prejuízos para o cuidado em saúde produzido nos encontros entre usuários e trabalhadores de saúde, buscando respeitar a necessidade e singularidade de cada indivíduo. Neste sentido, a construção de projetos terapêuticos e a implantação da estratégia de educação permanente em saúde (EPS) poderiam se configurar como apostas potentes às equipes, independente, da complexidade em que as ações de saúde são desenvolvidas visando à garantia dos direitos das usuárias em período gravídico-puerperal e propiciando o fortalecimento do SUS enquanto sistema de saúde que valoriza e cuida de vida, acreditando que toda a vida vale a pena.