Movimentos cartográficos na atenção domiciliar: visibilidades dos agires cuidadores
Silas Oda, Regina Melchior, Maira S. S. Bortoletto
Data da defesa: 31/08/2018
Interessou-nos nessa pesquisa olhar para a micropolítica do trabalho em saúde no âmbito da atenção domiciliar em um município do sul do Brasil, entre os anos de 2016 e 2017, com o objetivo de cartografar os agires cuidadores, produzindo visibilidades aos territórios do cuidado e a análise das intensidades que atravessavam esses territórios. Para tanto, constituímo-nos um coletivo cartográfico de pesquisa, trabalhadores de um serviço de atenção domiciliar e pesquisadores, com o desafio de juntos produzirmos conhecimento a partir de movimentos intercessores, num efeito pororoca poder olhar para si no agir cuidador, desenhando mapas dos territórios do cuidado. Enquanto intercessores, trabalhadores e usuários, com os quais encontramos, tornaram-se guias no caminhar cartográfico ao nos agenciar nos processos de afetação, produzindo outras visibilidades, diferentes da vista do olho retina. Foram também intercessores em nós Emerson Merhy, Suely Rolnik, Gilles Deleuze, dentre outros, pensadores cujos conceitos cunhados foram ferramentas-experiências no cartografar. O produto dessa pesquisa teve início já com o surgimento do pesquisador-cartógrafo, construtor de conhecimento a partir da análise dos afetos dos encontros e das suas próprias implicações. A partir de então as cartografias desenhadas ganharam formas, cores e texturas com os nomes: A Produção de Vida nas Reuniões de Equipe; Prática do Transver: Uma Despolarização da Bússola Cartográfica; Marcas no Corpo e a Produção do Cuidado; Decido Insistir, Insisto no Mesmo Olhar; Admissão e Alta: A Aposta na Vida é o Critério dos Anômalos; Linhas de Fuga nas Redes de Atenção: A Vida Pede Outros Caminhos; Carta à dona Rita.
Percepção de profissionais de Enfermagem frente à cultura de segurança do paciente
Desiree Zago Sanchis, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 28/06/2018
A cultura de segurança nas instituições de saúde é aquela em que cada profissional reconhece suas responsabilidades frente à segurança do paciente e procura contribuir para melhoria na qualidade do cuidado. As organizações necessitam de culturas únicas, com fusão de valores, crenças e comportamentos que determinem a forma de seu funcionamento. Objetivo: Analisar a percepção dos profissionais de enfermagem acerca das dimensões da cultura de segurança do paciente em instituições de alta complexidade. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, transversal e com abordagem quantitativa. A população de estudo foi constituída por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem que atuavam na assistência direta ao paciente, em três instituições de alta complexidade. A fim de avaliar a cultura de segurança do paciente, foi utilizado o questionário Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSPSC), de 2004. A coleta de dados ocorreu entre fevereiro e abril de 2017, por meio de abordagem individual. Foi realizada análise descritiva, com uso de frequências absolutas e relativas. A cultura de segurança foi avaliada utilizando o cálculo dos percentuais de respostas positivas para cada dimensão do instrumento, à partir do cálculo dos percentuais foram atribuídas categorias, com a seguinte classificação: áreas consideradas fortalecidas (≥ 75,0% de respostas positivas), áreas com potencial de melhoria (<75,0% a >50,0%), e áreas enfraquecidas/fragilizadas (≤ 50,0%). Além disto, foi utilizando a análise de associação, por meio da regressão de Poisson com cálculo da Razão de Prevalência (RP) e Intervalo de Confiança 95% (IC 95%). Para análise dos dados utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Resultados: Participaram do estudo 587 indivíduos, 42,8% eram enfermeiros e 57,2% técnicos ou auxiliares de enfermagem. A taxa de resposta atingiu 75,8% da população alvo. A maioria dos respondentes era do sexo feminino (88,4%), tinham entre 20 e 39 anos (60,8%), atuava na instituição há menos de cinco anos (57,8%) e não possuía outro vínculo de trabalho (79,2%). As dimensões caracterizadas como enfraquecidas nas instituições, foram: ‘’Apoio da gestão hospitalar para segurança do paciente’’ (48,5%), ‘’Percepções generalizadas sobre a segurança do paciente’’ (45,5%), ‘’Transferências internas e passagens de plantão’’(40,9%), ‘’Adequação de profissionais’’ (37,8%), ‘’Trabalho em equipe entre as unidades hospitalares’’ (37,0%), ‘’Abertura para as comunicações’’ (29,5%) e ‘’Respostas não punitivas aos erros’’ (18,8%). Sobre os indicadores de segurança do paciente, 52,5% dos profissionais consideraram a segurança do paciente como excelente ou muito boa, e 58,5% dos enfermeiros não notificaram ao menos um evento adverso em doze meses. Quanto aos fatores associados à percepção negativa, os profissionais que atuavam em unidades semicríticas do hospital 1 avaliaram negativamente com maior frequência a dimensão ‘’abertura para as comunicações’’ – RP: 1,246 (IC 95%: 1,007-1,540, p=0,042). Para a dimensão ‘’respostas não punitivas aos erros’’, os participantes do hospital 1 com mais de seis anos de atuação avaliaram negativamente com maior frequência quando comparados aos participantes com menos de seis anos – RP: 1,076 (IC 95%: 1,002-1,155, p=0,043). Ainda sobre a dimensão ‘’respostas não punitivas aos erros’’, os profissionais que atuavam em unidades semicríticas avaliaram negativamente com maior frequência quando comparados aos que atuavam em unidades críticas – RP: 1,639 (IC 95%: 1,282- 2,096, p <0,001) no hospital 2. Assim como os profissionais do gênero masculino no hospital 2 – RP: 1,538 (IC 95%: 1,198-1,975, p=0,001) e 3 – RP: 1,194 (IC 95%: 1,043-1,365, p=0,010). Conclusão: Conclui-se que há necessidade do apoio da alta gestão hospitalar frente à disseminação da cultura segurança do paciente, por meio de programas de sensibilização aos profissionais nas instituições, com incentivo a criação de uma cultura justa e não punitiva. Com isto os profissionais terão incentivo para notificarem os incidentes, e assim a alta gestão poderá trabalhar os incidentes de forma educativa.
A produção do cuidado no contexto familiar da atenção básica: uma cartografia
Thalita da Rocha Marandola, Regina Melchior, Josiane Vivian de Camargo Lima
Data da defesa: 28/05/2018
O cuidado é uma temática inerente a todo trabalhador em saúde, sua prática está presente nos hospitais, nas clínicas, ambulatórios, nas unidades básicas de saúde, nos domicílios, entre outros. E é no campo da atenção domiciliar, mais especificamente o cuidado domiciliar na atenção básica à saúde, que nos aproximamos para experimentar a produção do cuidado. O objetivo deste estudo foi compreender como ocorre a produção do cuidado em saúde na atenção domiciliar, na prática da Estratégia Saúde da Família, em uma Unidade Básica de Saúde de um município de grande porte, na região sul do Brasil. A pesquisa ocorreu no período de agosto/2016 a agosto/2017. Para tanto, utilizei a perspectiva cartográfica, que por meio do uso do dispositivo de pesquisa da família-guia possibilitou encontros e experimentações da produção do cuidado conforme estes foram sendo produzidos. O ponto de partida do campo de pesquisa foi o serviço da atenção domiciliar e posteriormente o território de uma unidade básica de saúde; neste último, a partir da escolha da família-guia extrapolamos os limites do território geográfico da unidade, produzindo e percorrendo a rede viva produzida pela própria família. A partir dos encontros com os outros pontos da rede e com os trabalhadores surgiram pistas que indicaram o processo de produção do cuidado da família selecionada. As pistas identificadas foram: O que trazemos e o que opera nos encontros? A disputa do cuidado; As redes; A reflexão sobre o processo de trabalho. A partir delas pude inferir que no processo do cuidado tanto trabalhadores quanto usuários levam para o encontro marcas que pulsam de acordo com a intensidade do encontro e que vão interferir no cuidado prestado e ainda, que o cuidar ou ser cuidado requer a identificação e reflexão dos nossos valores universais e regimes de verdades, que podem influenciar a forma como operamos o cuidado no encontro. Além disso, a disputa do cuidado entre trabalhadores e trabalhadores/usuários aparece como elemento que pode potencializar ou fragilizar este processo, o que frequentemente surge quando a rede de cuidados é acionada. Sobre a rede de cuidados foi observado que a rede formal é a mais reconhecida e a rede viva produzida pelo usuário ainda é pouco valorizada pelos trabalhadores apesar de suas potencialidades. Durante esta jornada, notou-se o quão importante foi a análise do processo de trabalho em saúde para a melhor construção do cuidado, dando vasão as afetações e espaço para as experimentações o que resulta no cuidado dos cuidadores/trabalhadores da saúde.
Percepção de peso corporal e condutas alimentares em professores da rede estadual de ensino de Londrina-PR
Vanessa Francisquini Gonçalves, Alberto Durán González
Data da defesa: 26/04/2018
Conhece-se a situação epidemiológica enfrentada mundialmente com relação ao aumento significativo do sobrepeso e obesidade em todas as camadas populacionais. Além disso, diversas complicações de saúde têm sido evidenciadas entre professores e há pouca informação sobre as condutas alimentares e a influência da percepção de peso corporal especificamente nesse público. Vista a importância social e escassez de trabalhos que estudem as características sociodemográficas, de saúde, de trabalho e principalmente, o perfil da percepção de peso corporal e condutas alimentares adotadas por essa população, objetivou-se analisar a relação entre percepção de peso corporal e condutas alimentares entre professores da rede estadual de ensino de Londrina-PR. Realizou-se estudo transversal com todos os professores atuantes nas 20 escolas estaduais com maior número de professores de Londrina. Informações foram coletadas por meio de entrevista individual através de questões sobre alimentação, aspectos sociodemográficos, condições de trabalho, perfil antropométrico e percepção de peso corporal. Os dados foram analisados de forma descritiva e as associações estudadas mediante regressão de Poisson para estimação da Razão de Prevalência (RP). Foram incluídos nesta pesquisa um total de 920 professores sendo predominante: os de sexo feminino (67,8%); >41 anos (52,4%); casados (58,7%); brancos (74,6%) e com grau de instrução especialização (87,5%). No que se refere as características de trabalho e de saúde, observou-se que mais de 70% dos professores tem 2 vínculos ou mais, e mais de 80% trabalha 40 horas ou mais por semana. Aproximadamente 30% dos professores apresentam diagnóstico médico de pelo menos uma DCNT e mais de 80% percebe sua saúde como boa, muito bou ou excelente. Com relação a percepção de peso corporal, metade dos professores eutróficos (49,9%) se perceberam adequadamente. Diferente dos com excesso de peso, onde a maioria (91,6%) apresentou uma percepção adequada do seu peso corporal. Dos 441 professores classificados como eutróficos, mais de 40% superestimaram o peso corporal. No que se refere as condutas alimentares, observou-se que o sexo, idade, renda, tempo como professor e número de vínculos foram os fatores que mais estiveram associados. Por fim, não houve associação entre a percepção de peso corporal e condutas alimentares recomendadas ou não. Concluiu-se que professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina apresentam em sua maioria, condutas alimentares recomendadas. E que embora seja um fator determinante para adoção de condutas adequadas em indivíduos com excesso de peso, a percepção de peso corporal não se mostrou associada a nenhuma conduta alimentar investigada. Este achado fortalece a importância de que mais estudos continuem explorando a percepção de peso corporal nesse público, extrapolando a fim de se conhecer a satisfação e a autoestima com o corpo, de modo a conhecer até que ponto a imagem corporal pode influenciar os hábitos de vida dos docentes.
Incidência de hipertensão arterial na população de 40 anos ou mais em Cambé – PR: estudo VIGICARDIO 2011 – 2015
Dannyele Cristina da Silva, Ana Maria Rigo SIlva
Data da defesa: 25/04/2018
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial e complexa, sendo um dos fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Este estudo tem como objetivo analisar a incidência e fatores preditores da Hipertensão Arterial em adultos com 44 anos ou mais residentes em Cambé (PR). Trata-se de estudo com delineamento longitudinal prospectivo, com quatro anos de seguimento. A população foi composta por moradores de 40 ou mais anos, do município de Cambé – PR. A primeira coleta de dados foi realizada em 2011, contou com 1180 participantes e o seguimento ocorreu no ano de 2015 com 885 participantes. Para este estudo foram investigados 402 indivíduos que fizeram parte das duas coletas e que eram livres de HAS na linha de base (2011). Em ambas as etapas foram realizadas aferições da pressão arterial, medidas antropométricas e exames laboratoriais. A HAS foi definida como a média (três medidas) da pressão arterial elevada (PAS ≥140 mmHg; PAD ≥90 mmHg) e/ou uso de medicamento antihipertensivo. As análises foram processadas no programa SPSS versão 19.0, utilizou-se a Regressão de Poisson, com variância robusta para o cálculo do risco relativo. A incidência de hipertensão arterial foi de 38,8%, 155 casos incidentes. Após ajustes com as variáveis demográficas, socioeconômicas, hábitos de vida e condições de saúde, entre as mulheres, ser idoso (acima dos 60 anos) (RR1,50; IC95% 1,06 – 2,11), a inatividade física no lazer (RR1,73; IC95% 1,16 – 2,56), ter sobrepeso ou obesidade (RR1,60; IC95% 1,12 – 2,28), níveis elevados de triglicérides (RR1,70; IC95% 1,20 – 2,39) e níveis elevados de glicose (RR2,14; IC95% 1,45 – 3,17), estiveram associados à incidência de hipertensão arterial. Entre os homens após os ajustes apenas os níveis elevados de LDL (RR 1,53; IC95% 0,99 – 2,39) mantiveram a associação com significância estatística. A compreensão das causas de uma patologia crônica revela a necessidade de ampliar as politicas públicas, favorecendo a adoção de hábitos saudáveis. A diferença nos preditores entre os sexos, reflete a necessidade de conhecer melhor os determinantes dessa distribuição.
Governança das Ações e Serviços de Média Complexidade em uma Região de Saúde
Edinalva de Moura Ferraz, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/03/2018
Na governança das redes de atenção à saúde em uma região participam múltiplos atores, com diferentes graus de poder. Na constituição dessa rede, as ações e serviços de média complexidade (ASMC) têm representado um problema de grande relevância, seja no campo da gestão ou no campo da assistência, para os diferentes entes governamentais, constituindose em um desafio para a organização da atenção em saúde. Desse modo, esse estudo teve como objetivo compreender a governança da atenção de média complexidade em uma região de saúde. Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório, desenvolvido na área de abrangência de uma regional de saúde do norte do Paraná - PR, composta por 17 municípios. Os dados foram obtidos por meio de oito entrevistas semiestruturadas, sendo cinco com gestores públicos de saúde, um representante do Gestor Estadual do SUS, o apoiador regional do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Paraná (COSEMS- PR) e o diretor do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS) da região, realizadas no período de novembro de 2016 a maio de 2017. Os dados foram organizados e analisados por meio da análise de discurso. Os atores que participam do processo de governança das ASMC foram classificados em atores governamentais e atores de mercado. As reuniões da Comissão Intergestores Regional (CIR) foram ressaltadas como espaços potentes para a governança das ASMC, porém são subutilizadas para esse fim. A maior parte das ASMC na região é ofertada por prestadores privados, porém, a insuficiência de oferta ao SUS, a demanda expressiva para esta fração da assistência atrelada à baixa resolutividade da atenção básica e a um sistema de comunicação ineficaz entre os diferentes pontos de atenção, se constituem em fragilidades para a organização desse nível de atenção e potencializam os desafios envolvidos na governança dessas ações na região. Dentre esses desafios estão: a falta de solidariedade e de compartilhamento de responsabilidades entre os entes federativos; a fragilidade do ente municipal em relação aos demais atores envolvidos na governança; assimetrias de poder, o frágil planejamento integrado e regionalizado, a não efetivação do Contrato Organizativo da Ação Pública (COAP) na região; o subfinanciamento do SUS; o incipiente sistema regulatório e a interferência político partidária. O processo de governança das ações e serviços de média complexidade se constitui num grande jogo, complexo, permeado por relações sociais de competição e conflitos entre os atores participantes e que sofre forte influência do jogo econômico. Para superar esses obstáculos se faz necessário fortalecer a região de saúde e a cooperação entre os entes, viabilizando políticas de saúde coerentes com a necessidade coletiva.
Acesso aos serviços de atenção primária à saúde pelos imigrantes bengaleses sob a ótica dos trabalhadores de saúde
Karly Garcia Delamuta, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 28/03/2018
Em meio ao cenário de intenso movimento migratório mundial, foi observada no município de Rolândia no Paraná, presença constante de imigrantes de Bangladesh nos serviços de saúde. Bangladesh é um país ao sul da Ásia, populoso, com baixo índice de desenvolvimento humano e que 90% de sua população é formada por muçulmanos. Em 2017, o Brasil se manteve como maior produtor e exportador mundial de frango halal, ou seja, produzido conforme os princípios do Islã. Neste contexto, o estado do Paraná destaca-se como o maior produtor de carne de frango do Brasil. Assim, Rolândia conta com dois grandes frigoríficos de frango, portanto, uma região atraente para este imigrante ao configurar potencial campo de trabalho. Com uma população estimada de 700 pessoas, os imigrantes bengaleses em Rolândia demandam direitos sociais. Assim, o objetivo deste trabalho é compreender como acontece o acesso desta população à atenção primária à saúde em Rolândia. Esta pesquisa utiliza uma abordagem qualitativa de caráter exploratório e descritivo e foi realizada com trabalhadores da unidade básica de saúde localizada na região com maior concentração de bengaleses. Para a coleta de dados, a princípio, foi realizada observação participante da rotina de trabalho desta unidade durante 1 mês, entre março e abril de 2017. Em seguida, entre abril e julho de 2017, foram entrevistados 13 trabalhadores que estão vinculados a este serviço há mais de dois anos. Os entrevistados revelaram que a diferença cultural interfere nos encontros que envolvem trabalhador de saúde e imigrantes bengaleses e evidenciaram, dentre as barreiras culturais, o idioma como principal fator dificultador desta relação. Esta condição desperta nos trabalhadores sentimentos e posturas diversos, alguns se sentem preparados e outros despreparados para o atendimento desta população. Desta forma, situações de discriminação se evidenciaram, ainda que alguns trabalhadores não tenham essa clareza e afirmaram que os imigrantes são bem atendidos. De modo geral, os participantes relatam que no início da migração era mais difícil a troca de informações, mas que vivenciaram, com o passar do tempo, melhora na relação dos bengaleses com a atenção primária à saúde, principalmente porque os imigrantes passaram a compreender melhor o funcionamento do serviço. Assim, pode-se concluir que esta relação entre trabalhador e imigrante, bem como a forma de organização do serviço de saúde interferem diretamente no caminho percorrido pelo imigrante dentro da atenção primária. Espera-se que este trabalho possa auxiliar na compreensão da complexidade dos diversos aspectos que envolvem a relação entre os imigrantes bengaleses e os trabalhadores da atenção primária, bem como ampliar o acesso desta população.
Atuação dos gestores de saúde no âmbito da relação federativa e da ação consorciada
Sílvia Karla Azevedo Vieira Andrade, Fernanda de Freitas Mendonça, Luiz Cordoni Júnior (in memorian)
Data da defesa: 20/02/2018
A relação federativa é essencialmente dialógica e carece ser compreendida, no intuito de gerar desenvolvimento aos territórios regionais. Os principais atores deste cenário são os gestores públicos de saúde, que enfrentam limitações nesta relação. Considerando o federalismo brasileiro e o processo de redemocratização, que culminou com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como o advento da descentralização que ampliou as responsabilidades dos entes municipais e tendo em vista o processo de regionalização ainda não consolidado, aponta-se como prioritário o emprego de estratégias de fortalecimento da gestão municipal, sob risco de seu engessamento e esgotamento potencial. Neste contexto, torna-se imperativo o aprofundamento nas linhas de definição em que se baseiam as relações entre os entes gestores e o entendimento de como atuam os consórcios públicos de saúde, diante desse processo, tendo em vista sua existência, fruto da relação federativa. Ademais, no contexto das relações, importa desvelar as nuances dos jogos sociais, como se comportam seus atores e quais jogos predominam, considerando as relações entre gestores municipais de diferentes portes e junto aos gestores do âmbito estadual e federal. Trata-se de um estudo qualitativo, de delineamento analítico, executado por meio da coleta de dados através de grupos focais e entrevistas junto aos gestores de saúde e representantes das esferas municipal, estadual e federal, bem como do consórcio de saúde do território. O local de estudo é a região de Saúde do Médio Paranapanema no Norte do Paraná e a metodologia de análise se deu por meio da análise do discurso, sendo que o instrumento de análise teve como enfoque o entendimento acerca dos fenômenos e das construções ideológicas inseridas nos elementos coletados. A estruturação dos resultados aponta para duas categorias de análise. A primeira configura-se como a relação federativa no contexto da saúde, com detalhamento acerca do papel do gestor, as instâncias de relação federativa, além da relação entre pares e entre diferentes níveis de gestão. A segunda categoria de análise trata dos arranjos organizativos e da ação consorciada, cujo detalhamento percorreu a identidade, o papel e a potencialidade do consórcio público. Os resultados mostraram fragilidade nas relações federativas, a exigência de um conhecimento denso acerca dos cenários locais, dos avanços normativos e das ferramentas da relação federativa. Ademais, há evidências de fragilização nas relações gestoras internas dos municípios e descontinuidades na execução do planejamento. Outro cenário desvelado foi a falta de participação e o não protagonismo dos municípios de menor base populacional na tomada de decisões de forma ativa, no que se refere ao território regional. Outro aspecto resultante do estudo é o reconhecimento dos gestores acerca da representatividade dos consórcios públicos vinculada aos municípios. Há evidências acerca da identidade conferida aos consórcios como ferramentas de apoio à gestão municipal, ressaltando a necessidade de ampliação de suas ações como instrumento da gestão e no planejamento regional, por meio de um ambiente, que se possibilita construir, cooperativo e solidário. A partir do estudo, apontam-se caminhos para o fortalecimento da gestão municipal e do planejamento regional integrado.
A relação público-privado para a atenção de média complexidade em uma região de saúde
João Felipe Marques da Silva, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/02/2018
O processo de municipalização dos serviços de saúde delegou ao ente municipal a responsabilidade sobre o sistema de saúde de seu território, principalmente quanto à coordenação da Atenção Básica. Ocorre que, para garantir a integralidade da atenção à saúde, princípio e diretriz estruturante do SUS, este ente também assumiu os serviços de Média Complexidade (MC), e por consequência, a relação com o prestador privado complementar ao sistema, constituindo, portanto, a relação público-privado deste nível de atenção. Neste contexto, especialmente em municípios de pequeno porte (MPP), esta relação ocorre, sobretudo para a compra de consultas especializadas, procedimentos hospitalares diagnósticos, clínicos e cirúrgicos, por meio de relação contratual com o setor privado complementar, ainda que o serviço esteja localizado em outro município ou sob gestão do Estado. A relação entre os MPP e o serviço privado complementar se constrói em um cenário de descentralização política-administrativa, sendo diretamente influenciada pelos resultados da micro e macro organização das políticas de saúde; das matrizes institucionais sobre o comportamento dos atores sociais e políticos; e pelas práticas clientelistas vigentes nestes espaços. Nesta perspectiva, esta pesquisa propõe-se compreender a relação entre gestores públicos e prestadores do sistema privado complementar para a atenção de MC em uma região de saúde de municípios de pequeno porte (MPP). Trata-se de um estudo de caso de natureza qualitativa, realizada nos municípios da região de Ivaiporã (22ª Regional de Saúde do Paraná), entre o período de dezembro de 2016 a fevereiro de 2017, utilizando entrevistas por meio de roteiro semiestruturado. Os sujeitos da pesquisa foram os gestores municipais, prestadores de serviços, membros gestores da regional de saúde, consórcio intermunicipal de saúde, e apoiador do COSEMS. A análise dos resultados se deu em duas etapas, a primeira por meio de análise documental, e na segunda as entrevistas foram submetidas à técnica de análise do discurso proposta por Martins e Bicudo (2003). A análise possibilitou a caracterização sócio assistencial da região, e a construção de quatro categorias: demanda; financiamento; contratos; gestão e planejamento de serviços. Os resultados apontam que os fatores identificados nas categorias de análise referentes à demanda e ao financiamento dos serviços de MC, permitem e favorecem a relação; enquanto as características observadas nas categorias de contrato e gestão, as estabelecem e as mantém. Estes fatores estão relacionados à organização das políticas de saúde e das políticas institucionais. Destacam-se, entre outros aspectos, a influência da formação médica na demanda de serviços de MC e o excesso de intervenções diagnósticas, além de práticas de reservas de mercado para a assistência médica na região. Quanto ao financiamento os municípios custeiam os serviços de MC com recursos próprios, minimizando os investimentos na Atenção Básica. Observa-se, também, que os contratos são executados em desencontro às normas operacionais do sistema. A relação público-privado nesta região atravessa e afeta o processo de regionalização desses municípios; é marcada por forte interdependência entre gestores públicos e privados; assimetrias de poder; interesses ao acesso; e benefícios à gestão municipal, a depender da tipificação de contrato entre o município - exclusivo ou não exclusivo, com o prestador. Entre eles, vantagens, práticas clientelistas, hierarquizadas, e de maximização de resultados de atores envolvidos, são possibilitadas pela naturalização destas ações nos espaços em que ocorrem. Conclui-se que a relação estabelecida fere o comando único do sistema, possibilita práticas clientelistas, e é reforçada pelo incipiente processo de planejamento e de medidas regulatórias pela gestão pública municipal e estadual; além de apresentar a fragilidade do papel do Estado na região, bem como, das instâncias colegiadas. Os resultados demonstram a necessidade de investir em ações que favoreçam a governança e o processo de regionalização, a capacidade regulatória de governos locais, e o controle social nesta região. Esta relação deve ser aperfeiçoada por tecnologias de gestão, e modalidades de contratos que possibilitem a integralidade das ações e a autonomia dos municípios perante os prestadores.
Incidência de autopercepção negativa e positiva de saúde: estudo Vigicardio (2011-2015)
Giovana Frazon de Andrade, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 28/02/2018
Incorporada como medida epidemiológica desde a década de 1950, um dos indicadores do estado geral de saúde mais utilizados na atualidade é a autopercepção de saúde. Considerando que a forma como os indivíduos percebem sua saúde é influenciada por diversos aspectos, investigar estes fatores auxilia a compreensão das classificações positivas e negativas do estado de saúde. O objetivo deste estudo foi analisar se alterações nos comportamentos relacionados à saúde se associam a incidência de autopercepção positiva e negativa de saúde. Foi realizado um estudo de coorte prospectivo, de base populacional no baseline (2011) com seguimento realizado em 2015. Foram entrevistados 883 indivíduos de 40 anos ou mais residentes no município de Cambé-PR. Ambas as coletas de dados foram por meio de visitas domiciliares com aplicação de questionário semiestruturado. A variável dependente foi a autopercepção de saúde, mensurada através da pergunta “Como o(a) senhor(a) classifica seu estado de saúde? Aqueles que responderam “muito bom” ou “bom” foram considerados com autopercepção positiva de saúde, os que responderam “regular”, “ruim” ou “muito ruim” com autopercepção negativa. As variáveis independentes foram mudanças de alguns comportamentos relacionados à saúde: atividade física no tempo livre (AFTL), consumo de frutas e hortaliças (CFH), consumo abusivo de álcool (CAA) e tabagismo. A análise de dados foi realizada no programa Statistical Package for the Social Sciences – SPSS® , onde se calculou o Risco Relativo (RR) pela regressão de Poisson bruta e ajustada por variáveis sociodemográficas (modelo 1), sociodemográficas e de saúde (modelo 2) e sociodemográficas, de saúde e comportamentais (modelo 3). A incidência de autopercepção negativa de saúde foi de 27,2% e de autopercepção positiva de saúde foi de 27, 7%. A incidência de autopercepção negativa de saúde associou-se aos indivíduos que se tornaram inativos (RR=1,74; IC95%1,08–2,80), mantendo-se no modelo 1 (RR=1,65; IC95%1,04-2,62), modelo 2 (RR=1,92; IC95%1,19-3,10) e modelo 3 (RR=1,88; IC95%1,17-3,05), aos que deixaram de consumir regularmente frutas e hortaliças (RR=1,84; IC95%1,16-2,92), mantendo-se no modelo 1 (RR=1,85; IC95%1,14-3,01), modelo 2 (RR=2,03; IC95%1,25-3,30) e modelo 3 (RR=1,95; IC95%1,15-3,28) e aos que deixaram de consumir álcool abusivamente (RR=2,29; IC95%1,03-5,08), mantendo-se no modelo 2 (RR= 2,42; IC95% 1,12-5,25). A incidência de autopercepção positiva de saúde associou-se aos indivíduos que se tornaram ativos (RR= 1,48; IC95% 1,03-2,15), mantendo-se no modelo 2 (RR= 1,47; IC95%1,02-2,13) e aos que deixaram de ser tabagistas no modelo 1 (RR=2,58; IC95%1,16-5,71), modelo 2 (RR=5,78; 2,18-15,36) e modelo 3 (RR=8,37; IC95%2,79-25,09). Os indivíduos que passaram a consumir irregularmente frutas e hortaliças apresentaram menor incidência de autopercepção positiva de saúde no modelo 1 (RR=0,52; IC95%0,29-0,94), modelo 2 (RR=0,54; IC95%0,31-0,97) e modelo 3 (RR=0,29; IC95%0,29-0,90). Conclui-se que as mudanças nos comportamentos relacionados à saúde se associam a mudança na autopercepção de saúde, fato importante que reforça a orientação de possíveis soluções para melhora da saúde e bem-estar dos indivíduos e populações.