Teses e Dissertações
Relação indivíduo-corpo na obesidade: análise sob o olhar de Merleau-Ponty
Flávia Maria Araújo, Mara Lúcia Garanhanhi
Data da defesa: 25/02/2016
A obesidade é uma questão de saúde pública no mundo. É um fenômeno que
gera complicações, tanto em nível coletivo como individual. A vivência do
fenômeno “ser obeso” vem acompanhada de dificuldades nas atividades
cotidianas e sentimentos como ansiedade, culpa, tristeza etc. É considerada
fator de risco para diabetes mellitus, hipertensão, câncer, entre outras. Tem
uma complexa trama de fatores como etiologia, variando entre fatores:
genéticos, estilo de vida, questões psíquicas, sociais, culturais e econômicas,
além de impactar a forma corporal. A respeito da temática corpo, temos a
fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty que coloca o corpo em um papel
central. Para ele, por meio do corpo o indivíduo existe e se coloca no mundo,
com o corpo ele tem sensações e percepções acerca de si mesmo e do
mundo. Não é simplesmente o corpo biológico, tem mais de uma expressão,
carrega significados e valores individuais e culturais. Cada pessoa vive e sente
seu corpo a sua maneira, formando assim seu “corpo vivido”, também agrupa
valores e significados no corpo, constituindo assim seu “corpo próprio”.
Refletindo sobre a fenomenologia de Merleau-Ponty e obesidade,
interrogamos: Qual é o lugar que pessoas obesas dão a seu corpo? Como se
relacionam com ele? Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender como
indivíduos obesos se relacionam com o seu próprio corpo. Realizada pesquisa
qualitativa, analítica e reflexiva, de abordagem fenomenológica. Fizemos
entrevistas com cinco mulheres e sete homens, obesos de grau I e II,
provenientes do projeto VigiCardio, desenvolvido dentro do Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva da UEL. Realizamos análise de discurso,
individualmente e, depois, coletivamente. Construímos três categorias: 1-
Corpo obeso como algo não refletido: aborda o momento em que as pessoas
não refletem sobre o próprio corpo e não acompanham as mudanças que as
tornaram obesas. Foi perpassado por sentimentos como invulnerabilidade,
ansiedade e revolta. 2- Corpo obeso como corpo obeso: mostra o momento em
que a consciência se volta ao corpo, e as pessoas passam a viver como
obesas. Revelou sentimentos como vergonha, tristeza e desânimo. 3- Corpo
obeso como potencialidade de cuidados: evidencia as diferentes maneiras de
executar ações para a melhora das condições de seu corpo, e também a
possibilidade de não fazê-lo. Apesar de muito sofrimento, as pessoas obesas
tiveram experiências de superação no momento do cuidado, como controle de
doenças associadas, ou pelo simples fato de continuar vivendo com o corpo
que tem. Nossas reflexões finais apontam para: forma de vida atual
desfavorece o cuidado com o corpo, há dificuldade de várias ordens para o
cuidado, mesmo com dificuldades as pessoas continuam tentando cuidar-se e
perder peso. Alterar a forma do corpo interfere na identidade, pois a obesidade
está próxima a fatos marcantes que geram sofrimento. Para os profissionais de
saúde, o desafio é oferecer tratamento sem desprezar a subjetividade das
pessoas obesas.
A educação permanente em saúde como estratégia para reorganização da assistência sistematizada à tuberculose em pessoas privadas de liberdade: pesquisa-ação
Vanessa Cristina Neves Fabrini, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 26/01/2016
A tuberculose é um dos principais agravos a ser enfrentado no mundo e a incidência
na população privada de liberdade é 23 vezes superior à da população em geral.
Falhas na assistência prestada aos detentos contribuem para o problema e
suscitaram a necessidade de se realizar uma intervenção. O objetivo desse estudo
foi analisar o processo de educação permanente em saúde (EPS) desenvolvida pela
equipe de enfermagem para a implantação de assistência sistematizada à pessoa
com tuberculose (TB) em penitenciária estadual do norte do Paraná. Trata-se de um
estudo qualitativo que utilizou a metodologia da pesquisa-ação como estratégia de
pesquisa. A pesquisa foi realizada entre outubro de 2014 a fevereiro de 2015.
Durante este período foram realizadas sete oficinas de EPS por meio de estratégias
variadas de aprendizado. Em três foram tematizadas o trabalho em equipe,
acolhimento e corresponsabilidade. Em outras duas se discutiu aspectos atuais da
doença, a prática assistencial desenvolvida e uma nova proposta de atenção
sistematizada foram construídas pela equipe. As duas últimas monitoraram a
proposta implantada e corrigiram falhas. As oficinas foram filmadas, transcritas e
analisadas. Também foi alvo de análise, registros em prontuários e formulários
institucionais. Os dados revelaram, no início do processo, um grupo de
trabalhadores conformados com o modelo de assistência, responsabilizando o preso
pelo seu próprio processo de cura. Porém, à medida que as oficinas avançaram, a
corresponsabilização foi internalizada pelos sujeitos, e a transformação prevista pela
EPS e pela pesquisa-ação ocorreu e culminou na implantação efetiva da assistência
de TB ao detento da unidade prisional estudada e ao desejo de um programa de
EPS institucional. A pesquisa-ação articulada à EPS mostrou-se apropriada no
desenvolvimento da intervenção, pois gerou mudança de práticas e transformou a
realidade.
A Governança do Componente Pré-hospitalar Móvel da Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) em uma Região de Saúde
Ana Carolina Petryszyn Assis, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 20/12/2018
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU -192) é o componente móvel préhospitalar da urgência, da Política Nacional de Atenção às Urgências e o ordenador da
Rede de Urgência e Emergência (RUE), por meio da sua Central de Regulação (CR) das
Urgências. Funciona como um observatório privilegiado da rede que possibilita a
articulação e integração com os diversos serviços de saúde. Esta pesquisa tem a CR
componente do SAMU-192 como objeto de estudo e objetiva avaliar a governança do
componente pré-hospitalar móvel da RUE. Trata-se de um estudo avaliativo, realizado
por meio de análise documental (de manuais, portarias ministeriais, deliberações
estaduais) para descrever a organização na RUE na região estudada e de entrevistas
(com sete informantes chave) e observação estruturada, para avaliar a governança do
SAMU. A observação utilizou como instrumento uma Matriz de Análise e Julgamento
(MAJ) já validada em outro estudo e comtempla a avaliação da dimensão Gestão da
Urgência do SAMU nas subdimensões: Articulação, Financiamento, Regulação e
Infraestrutura, por meio de 12 indicadores e 12 parâmetros. Na análise dos resultados,
constatou-se que a normatização do SAMU atende ao que está estabelecido na Portaria
nº GM/MS 2048/2002, no entanto, sua operacionalização nem sempre ocorre conforme
o estabelecido, apresentando dificuldades. Na avaliação da MAJ, a gestão da urgência
obteve um desempenho regular, com os respectivos resultados das subdimensões:
articulação (ruim); financiamento (bom); regulação (regular); infraestrutura (regular). A
análise por meio da triangulação dos resultados permitiu identificar fragilidades e
potencialidades do sistema de governança deste serviço. Dentre as fragilidades
destacam-se: a inefetividade dos comitês gestores locais e regionais o que dificulta a
articulação dos componentes da RUE; ausência de sistema informatizado para
localização de leitos disponíveis e veículos de transporte e também de ferramentas de
regulações essenciais para exercício da função dos médicos reguladores, entre elas as
grades de pactuações de referências e contrarreferências hospitalares que são
desatualizadas e fragmentadas; ordenação interinstitucional inexistente entre os serviços
de urgência como a Polícia Militar e o Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em
Emergência (SIATE). Destaca-se ainda o déficit de profissionais, especialmente médicos,
gerando gastos com pagamento de hora extraordinária, que onera o custo operacional
do SAMU. Como potencialidades apontam-se o vínculo empregatício por meio de regime
jurídico único, com baixa rotatividade dos profissionais reguladores e autonomia, com
designação de Autoridade Sanitária Local ao médico regulador. O financiamento do
SAMU, apesar de ter sido avaliado como bom nos parâmetros definidos pela MAJ,
apenas indica que houve recebimento de repasses dos demais entes federados, de
acordo com o estabelecido em portarias. Destaca-se, na análise deste indicador, a
ausência de repasse de muitos municípios da região e a insuficiência dos valores
recebidos para manutenção do serviço, tendo o município sede que arcar com cerca de
50% dos valores necessários. Desta forma recomenda-se que o componente
financiamento seja melhor elucidado e aprofundado em estudos futuros. Portanto na
prática o sistema de governança do SAMU é fragilizado por fatores apontados no estudo,
o que dificulta o cumprimento da função de ordenar adequadamente a RUE.
Movimentos cartográficos na atenção domiciliar: visibilidades dos agires cuidadores
Silas Oda, Regina Melchior, Maira S. S. Bortoletto
Data da defesa: 31/08/2018
Interessou-nos nessa pesquisa olhar para a micropolítica do trabalho em saúde no
âmbito da atenção domiciliar em um município do sul do Brasil, entre os anos de
2016 e 2017, com o objetivo de cartografar os agires cuidadores, produzindo
visibilidades aos territórios do cuidado e a análise das intensidades que
atravessavam esses territórios. Para tanto, constituímo-nos um coletivo cartográfico
de pesquisa, trabalhadores de um serviço de atenção domiciliar e pesquisadores,
com o desafio de juntos produzirmos conhecimento a partir de movimentos
intercessores, num efeito pororoca poder olhar para si no agir cuidador, desenhando
mapas dos territórios do cuidado. Enquanto intercessores, trabalhadores e usuários,
com os quais encontramos, tornaram-se guias no caminhar cartográfico ao nos
agenciar nos processos de afetação, produzindo outras visibilidades, diferentes da
vista do olho retina. Foram também intercessores em nós Emerson Merhy, Suely
Rolnik, Gilles Deleuze, dentre outros, pensadores cujos conceitos cunhados foram
ferramentas-experiências no cartografar. O produto dessa pesquisa teve início já
com o surgimento do pesquisador-cartógrafo, construtor de conhecimento a partir da
análise dos afetos dos encontros e das suas próprias implicações. A partir de então
as cartografias desenhadas ganharam formas, cores e texturas com os nomes: A
Produção de Vida nas Reuniões de Equipe; Prática do Transver: Uma
Despolarização da Bússola Cartográfica; Marcas no Corpo e a Produção do
Cuidado; Decido Insistir, Insisto no Mesmo Olhar; Admissão e Alta: A Aposta na Vida
é o Critério dos Anômalos; Linhas de Fuga nas Redes de Atenção: A Vida Pede
Outros Caminhos; Carta à dona Rita.
Percepção de profissionais de Enfermagem frente à cultura de segurança do paciente
Desiree Zago Sanchis, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 28/06/2018
A cultura de segurança nas instituições de saúde é aquela em que cada profissional
reconhece suas responsabilidades frente à segurança do paciente e procura
contribuir para melhoria na qualidade do cuidado. As organizações necessitam de
culturas únicas, com fusão de valores, crenças e comportamentos que determinem a
forma de seu funcionamento. Objetivo: Analisar a percepção dos profissionais de
enfermagem acerca das dimensões da cultura de segurança do paciente em
instituições de alta complexidade. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo,
transversal e com abordagem quantitativa. A população de estudo foi constituída por
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem que atuavam na assistência direta
ao paciente, em três instituições de alta complexidade. A fim de avaliar a cultura de
segurança do paciente, foi utilizado o questionário Hospital Survey on Patient Safety
Culture (HSPSC), de 2004. A coleta de dados ocorreu entre fevereiro e abril de
2017, por meio de abordagem individual. Foi realizada análise descritiva, com uso
de frequências absolutas e relativas. A cultura de segurança foi avaliada utilizando o
cálculo dos percentuais de respostas positivas para cada dimensão do instrumento,
à partir do cálculo dos percentuais foram atribuídas categorias, com a seguinte
classificação: áreas consideradas fortalecidas (≥ 75,0% de respostas positivas),
áreas com potencial de melhoria (<75,0% a >50,0%), e áreas
enfraquecidas/fragilizadas (≤ 50,0%). Além disto, foi utilizando a análise de
associação, por meio da regressão de Poisson com cálculo da Razão de
Prevalência (RP) e Intervalo de Confiança 95% (IC 95%). Para análise dos dados
utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).
Resultados: Participaram do estudo 587 indivíduos, 42,8% eram enfermeiros e
57,2% técnicos ou auxiliares de enfermagem. A taxa de resposta atingiu 75,8% da
população alvo. A maioria dos respondentes era do sexo feminino (88,4%), tinham
entre 20 e 39 anos (60,8%), atuava na instituição há menos de cinco anos (57,8%) e
não possuía outro vínculo de trabalho (79,2%). As dimensões caracterizadas como
enfraquecidas nas instituições, foram: ‘’Apoio da gestão hospitalar para segurança
do paciente’’ (48,5%), ‘’Percepções generalizadas sobre a segurança do paciente’’
(45,5%), ‘’Transferências internas e passagens de plantão’’(40,9%), ‘’Adequação de
profissionais’’ (37,8%), ‘’Trabalho em equipe entre as unidades hospitalares’’
(37,0%), ‘’Abertura para as comunicações’’ (29,5%) e ‘’Respostas não punitivas aos
erros’’ (18,8%). Sobre os indicadores de segurança do paciente, 52,5% dos
profissionais consideraram a segurança do paciente como excelente ou muito boa, e
58,5% dos enfermeiros não notificaram ao menos um evento adverso em doze
meses. Quanto aos fatores associados à percepção negativa, os profissionais que
atuavam em unidades semicríticas do hospital 1 avaliaram negativamente com maior
frequência a dimensão ‘’abertura para as comunicações’’ – RP: 1,246 (IC 95%:
1,007-1,540, p=0,042). Para a dimensão ‘’respostas não punitivas aos erros’’, os
participantes do hospital 1 com mais de seis anos de atuação avaliaram
negativamente com maior frequência quando comparados aos participantes com
menos de seis anos – RP: 1,076 (IC 95%: 1,002-1,155, p=0,043). Ainda sobre a
dimensão ‘’respostas não punitivas aos erros’’, os profissionais que atuavam em
unidades semicríticas avaliaram negativamente com maior frequência quando
comparados aos que atuavam em unidades críticas – RP: 1,639 (IC 95%: 1,282-
2,096, p <0,001) no hospital 2. Assim como os profissionais do gênero masculino no
hospital 2 – RP: 1,538 (IC 95%: 1,198-1,975, p=0,001) e 3 – RP: 1,194 (IC 95%:
1,043-1,365, p=0,010). Conclusão: Conclui-se que há necessidade do apoio da alta
gestão hospitalar frente à disseminação da cultura segurança do paciente, por meio
de programas de sensibilização aos profissionais nas instituições, com incentivo a
criação de uma cultura justa e não punitiva. Com isto os profissionais terão incentivo
para notificarem os incidentes, e assim a alta gestão poderá trabalhar os incidentes
de forma educativa.
A produção do cuidado no contexto familiar da atenção básica: uma cartografia
Thalita da Rocha Marandola, Regina Melchior, Josiane Vivian de Camargo Lima
Data da defesa: 28/05/2018
O cuidado é uma temática inerente a todo trabalhador em saúde, sua prática está
presente nos hospitais, nas clínicas, ambulatórios, nas unidades básicas de saúde,
nos domicílios, entre outros. E é no campo da atenção domiciliar, mais
especificamente o cuidado domiciliar na atenção básica à saúde, que nos
aproximamos para experimentar a produção do cuidado. O objetivo deste estudo foi
compreender como ocorre a produção do cuidado em saúde na atenção domiciliar,
na prática da Estratégia Saúde da Família, em uma Unidade Básica de Saúde de um
município de grande porte, na região sul do Brasil. A pesquisa ocorreu no período de
agosto/2016 a agosto/2017. Para tanto, utilizei a perspectiva cartográfica, que por
meio do uso do dispositivo de pesquisa da família-guia possibilitou encontros e
experimentações da produção do cuidado conforme estes foram sendo produzidos.
O ponto de partida do campo de pesquisa foi o serviço da atenção domiciliar e
posteriormente o território de uma unidade básica de saúde; neste último, a partir da
escolha da família-guia extrapolamos os limites do território geográfico da unidade,
produzindo e percorrendo a rede viva produzida pela própria família. A partir dos
encontros com os outros pontos da rede e com os trabalhadores surgiram pistas que
indicaram o processo de produção do cuidado da família selecionada. As pistas
identificadas foram: O que trazemos e o que opera nos encontros? A disputa do
cuidado; As redes; A reflexão sobre o processo de trabalho. A partir delas pude
inferir que no processo do cuidado tanto trabalhadores quanto usuários levam para o
encontro marcas que pulsam de acordo com a intensidade do encontro e que vão
interferir no cuidado prestado e ainda, que o cuidar ou ser cuidado requer a
identificação e reflexão dos nossos valores universais e regimes de verdades, que
podem influenciar a forma como operamos o cuidado no encontro. Além disso, a
disputa do cuidado entre trabalhadores e trabalhadores/usuários aparece como
elemento que pode potencializar ou fragilizar este processo, o que frequentemente
surge quando a rede de cuidados é acionada. Sobre a rede de cuidados foi
observado que a rede formal é a mais reconhecida e a rede viva produzida pelo
usuário ainda é pouco valorizada pelos trabalhadores apesar de suas
potencialidades. Durante esta jornada, notou-se o quão importante foi a análise do
processo de trabalho em saúde para a melhor construção do cuidado, dando vasão
as afetações e espaço para as experimentações o que resulta no cuidado dos
cuidadores/trabalhadores da saúde.
Percepção de peso corporal e condutas alimentares em professores da rede estadual de ensino de Londrina-PR
Vanessa Francisquini Gonçalves, Alberto Durán González
Data da defesa: 26/04/2018
Conhece-se a situação epidemiológica enfrentada mundialmente com relação ao
aumento significativo do sobrepeso e obesidade em todas as camadas
populacionais. Além disso, diversas complicações de saúde têm sido evidenciadas
entre professores e há pouca informação sobre as condutas alimentares e a
influência da percepção de peso corporal especificamente nesse público. Vista a
importância social e escassez de trabalhos que estudem as características
sociodemográficas, de saúde, de trabalho e principalmente, o perfil da percepção de
peso corporal e condutas alimentares adotadas por essa população, objetivou-se
analisar a relação entre percepção de peso corporal e condutas alimentares entre
professores da rede estadual de ensino de Londrina-PR. Realizou-se estudo
transversal com todos os professores atuantes nas 20 escolas estaduais com maior
número de professores de Londrina. Informações foram coletadas por meio de
entrevista individual através de questões sobre alimentação, aspectos
sociodemográficos, condições de trabalho, perfil antropométrico e percepção de
peso corporal. Os dados foram analisados de forma descritiva e as associações
estudadas mediante regressão de Poisson para estimação da Razão de Prevalência
(RP). Foram incluídos nesta pesquisa um total de 920 professores sendo
predominante: os de sexo feminino (67,8%); >41 anos (52,4%); casados (58,7%);
brancos (74,6%) e com grau de instrução especialização (87,5%). No que se refere
as características de trabalho e de saúde, observou-se que mais de 70% dos
professores tem 2 vínculos ou mais, e mais de 80% trabalha 40 horas ou mais por
semana. Aproximadamente 30% dos professores apresentam diagnóstico médico de
pelo menos uma DCNT e mais de 80% percebe sua saúde como boa, muito bou ou
excelente. Com relação a percepção de peso corporal, metade dos professores
eutróficos (49,9%) se perceberam adequadamente. Diferente dos com excesso de
peso, onde a maioria (91,6%) apresentou uma percepção adequada do seu peso
corporal. Dos 441 professores classificados como eutróficos, mais de 40%
superestimaram o peso corporal. No que se refere as condutas alimentares,
observou-se que o sexo, idade, renda, tempo como professor e número de vínculos
foram os fatores que mais estiveram associados. Por fim, não houve associação
entre a percepção de peso corporal e condutas alimentares recomendadas ou não.
Concluiu-se que professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina apresentam
em sua maioria, condutas alimentares recomendadas. E que embora seja um fator
determinante para adoção de condutas adequadas em indivíduos com excesso de
peso, a percepção de peso corporal não se mostrou associada a nenhuma conduta
alimentar investigada. Este achado fortalece a importância de que mais estudos
continuem explorando a percepção de peso corporal nesse público, extrapolando a
fim de se conhecer a satisfação e a autoestima com o corpo, de modo a conhecer
até que ponto a imagem corporal pode influenciar os hábitos de vida dos docentes.
Incidência de hipertensão arterial na população de 40 anos ou mais em Cambé – PR: estudo VIGICARDIO 2011 – 2015
Dannyele Cristina da Silva, Ana Maria Rigo SIlva
Data da defesa: 25/04/2018
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial e
complexa, sendo um dos fatores de risco mais importantes para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Este estudo tem como objetivo
analisar a incidência e fatores preditores da Hipertensão Arterial em adultos com
44 anos ou mais residentes em Cambé (PR). Trata-se de estudo com
delineamento longitudinal prospectivo, com quatro anos de seguimento. A
população foi composta por moradores de 40 ou mais anos, do município de
Cambé – PR. A primeira coleta de dados foi realizada em 2011, contou com 1180
participantes e o seguimento ocorreu no ano de 2015 com 885 participantes. Para
este estudo foram investigados 402 indivíduos que fizeram parte das duas coletas
e que eram livres de HAS na linha de base (2011). Em ambas as etapas foram
realizadas aferições da pressão arterial, medidas antropométricas e exames
laboratoriais. A HAS foi definida como a média (três medidas) da pressão arterial
elevada (PAS ≥140 mmHg; PAD ≥90 mmHg) e/ou uso de medicamento antihipertensivo. As análises foram processadas no programa SPSS versão 19.0,
utilizou-se a Regressão de Poisson, com variância robusta para o cálculo do risco
relativo. A incidência de hipertensão arterial foi de 38,8%, 155 casos incidentes.
Após ajustes com as variáveis demográficas, socioeconômicas, hábitos de vida e
condições de saúde, entre as mulheres, ser idoso (acima dos 60 anos) (RR1,50;
IC95% 1,06 – 2,11), a inatividade física no lazer (RR1,73; IC95% 1,16 – 2,56), ter
sobrepeso ou obesidade (RR1,60; IC95% 1,12 – 2,28), níveis elevados de
triglicérides (RR1,70; IC95% 1,20 – 2,39) e níveis elevados de glicose (RR2,14;
IC95% 1,45 – 3,17), estiveram associados à incidência de hipertensão arterial.
Entre os homens após os ajustes apenas os níveis elevados de LDL (RR 1,53;
IC95% 0,99 – 2,39) mantiveram a associação com significância estatística. A
compreensão das causas de uma patologia crônica revela a necessidade de
ampliar as politicas públicas, favorecendo a adoção de hábitos saudáveis. A
diferença nos preditores entre os sexos, reflete a necessidade de conhecer
melhor os determinantes dessa distribuição.
Governança das Ações e Serviços de Média Complexidade em uma Região de Saúde
Edinalva de Moura Ferraz, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/03/2018
Na governança das redes de atenção à saúde em uma região participam múltiplos atores, com
diferentes graus de poder. Na constituição dessa rede, as ações e serviços de média
complexidade (ASMC) têm representado um problema de grande relevância, seja no campo
da gestão ou no campo da assistência, para os diferentes entes governamentais, constituindose em um desafio para a organização da atenção em saúde. Desse modo, esse estudo teve
como objetivo compreender a governança da atenção de média complexidade em uma região
de saúde. Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório, desenvolvido na área de
abrangência de uma regional de saúde do norte do Paraná - PR, composta por 17 municípios.
Os dados foram obtidos por meio de oito entrevistas semiestruturadas, sendo cinco com
gestores públicos de saúde, um representante do Gestor Estadual do SUS, o apoiador regional
do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Paraná (COSEMS- PR) e o diretor do
Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS) da região, realizadas no período de novembro de
2016 a maio de 2017. Os dados foram organizados e analisados por meio da análise de
discurso. Os atores que participam do processo de governança das ASMC foram classificados
em atores governamentais e atores de mercado. As reuniões da Comissão Intergestores
Regional (CIR) foram ressaltadas como espaços potentes para a governança das ASMC,
porém são subutilizadas para esse fim. A maior parte das ASMC na região é ofertada por
prestadores privados, porém, a insuficiência de oferta ao SUS, a demanda expressiva para esta
fração da assistência atrelada à baixa resolutividade da atenção básica e a um sistema de
comunicação ineficaz entre os diferentes pontos de atenção, se constituem em fragilidades
para a organização desse nível de atenção e potencializam os desafios envolvidos na
governança dessas ações na região. Dentre esses desafios estão: a falta de solidariedade e de
compartilhamento de responsabilidades entre os entes federativos; a fragilidade do ente
municipal em relação aos demais atores envolvidos na governança; assimetrias de poder, o
frágil planejamento integrado e regionalizado, a não efetivação do Contrato Organizativo da
Ação Pública (COAP) na região; o subfinanciamento do SUS; o incipiente sistema regulatório
e a interferência político partidária. O processo de governança das ações e serviços de média
complexidade se constitui num grande jogo, complexo, permeado por relações sociais de
competição e conflitos entre os atores participantes e que sofre forte influência do jogo
econômico. Para superar esses obstáculos se faz necessário fortalecer a região de saúde e a
cooperação entre os entes, viabilizando políticas de saúde coerentes com a necessidade
coletiva.
Acesso aos serviços de atenção primária à saúde pelos imigrantes bengaleses sob a ótica dos trabalhadores de saúde
Karly Garcia Delamuta, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 28/03/2018
Em meio ao cenário de intenso movimento migratório mundial, foi observada no
município de Rolândia no Paraná, presença constante de imigrantes de Bangladesh
nos serviços de saúde. Bangladesh é um país ao sul da Ásia, populoso, com baixo
índice de desenvolvimento humano e que 90% de sua população é formada por
muçulmanos. Em 2017, o Brasil se manteve como maior produtor e exportador
mundial de frango halal, ou seja, produzido conforme os princípios do Islã. Neste
contexto, o estado do Paraná destaca-se como o maior produtor de carne de frango
do Brasil. Assim, Rolândia conta com dois grandes frigoríficos de frango, portanto,
uma região atraente para este imigrante ao configurar potencial campo de trabalho.
Com uma população estimada de 700 pessoas, os imigrantes bengaleses em
Rolândia demandam direitos sociais. Assim, o objetivo deste trabalho é compreender
como acontece o acesso desta população à atenção primária à saúde em Rolândia.
Esta pesquisa utiliza uma abordagem qualitativa de caráter exploratório e descritivo e
foi realizada com trabalhadores da unidade básica de saúde localizada na região com
maior concentração de bengaleses. Para a coleta de dados, a princípio, foi realizada
observação participante da rotina de trabalho desta unidade durante 1 mês, entre
março e abril de 2017. Em seguida, entre abril e julho de 2017, foram entrevistados
13 trabalhadores que estão vinculados a este serviço há mais de dois anos. Os
entrevistados revelaram que a diferença cultural interfere nos encontros que envolvem
trabalhador de saúde e imigrantes bengaleses e evidenciaram, dentre as barreiras
culturais, o idioma como principal fator dificultador desta relação. Esta condição
desperta nos trabalhadores sentimentos e posturas diversos, alguns se sentem
preparados e outros despreparados para o atendimento desta população. Desta
forma, situações de discriminação se evidenciaram, ainda que alguns trabalhadores
não tenham essa clareza e afirmaram que os imigrantes são bem atendidos. De modo
geral, os participantes relatam que no início da migração era mais difícil a troca de
informações, mas que vivenciaram, com o passar do tempo, melhora na relação dos
bengaleses com a atenção primária à saúde, principalmente porque os imigrantes
passaram a compreender melhor o funcionamento do serviço. Assim, pode-se concluir
que esta relação entre trabalhador e imigrante, bem como a forma de organização do
serviço de saúde interferem diretamente no caminho percorrido pelo imigrante dentro
da atenção primária. Espera-se que este trabalho possa auxiliar na compreensão da
complexidade dos diversos aspectos que envolvem a relação entre os imigrantes
bengaleses e os trabalhadores da atenção primária, bem como ampliar o acesso desta
população.