Hábitos alimentares de estudantes concluintes de uma instituição de ensino superior privada de Londrina/PR
Lucievelyn Marrone, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 30/05/2014
Introdução: O número de estudantes universitários aumentou nos últimos anos, tanto nas instituições públicas como privadas. Mas o setor privado é o que concentra o maior número destes estudantes. Portanto, conhecer os hábitos alimentares e os fatores associados nesta população é importante para o desenvolvimento de políticas, programas e intervenções relevantes que ajudem na promoção, prevenção e controle das doenças crônicas. Objetivo: Analisar os hábitos alimentares de estudantes concluintes de uma instituição de ensino superior privada do município de Londrina – PR. Material e método: Estudo transversal com 666 estudantes universitários concluintes. Foi aplicado um questionário do tipo autorrespondido sobre características demográficas e socioeconômicas, do curso e trabalho, saúde, hábitos de vida e alimentares. O consumo inadequado de verdura/legume; frutas; feijão; substituição de refeições por lanches; refrigerante/suco artificial e frituras foram consideradas variáveis dependentes. Foram feitos ajustes do modelo de Poisson para análise estatística das associações, considerando como variável dependente de cada modelo as variáveis do consumo inadequado, e como variáveis independentes as características: demográficas e socioeconômicas; do curso e trabalho; saúde; hábitos de vida e alimentares. Permaneceram no modelo final as variáveis com p-valor <0,05. Resultados: Os estudantes, em sua maioria, eram do sexo feminino, com 20 a 24 anos de idade, solteiros, pertencentes à classe econômica B, 40,9% cursavam a área da saúde, 67,1% estudam no período noturno e 66,3% trabalhavam ou faziam estágio. Quanto aos hábitos de vida 3/4 não faziam atividade física regular, 83,5% foram considerados inativos e 62,8% utilizavam o computador e a televisão mais de 3 horas/dia. Das refeições, a maioria realizava as três principais <5 dias/semana e no próprio domicílio. Quanto aos fatores associados ao consumo inadequado, após regressão de Poisson, a substituição de refeições por lanches foi associada ao hábito de realizar as três principais refeições <5 dias/semana, ao consumo de frituras ≥3 dias/semana e ao consumo de feijão <5 dias/semana. O consumo de frituras ≥3 dias/semana foi associado ao hábito de substituir refeições por lanches e ao consumo de refrigerante/suco artificial ≥3 dias/semana e também ao consumo inadequado de verdura/legume. A ingestão de refrigerante/suco artificial ≥3 dias/semana associou-se à idade de 20 a 29 anos, ao sobrepeso/obesidade, a não fazer atividade física e ao consumo de frutas <5 dias/semana. O consumo de frutas <5 dias/semana foi associado aos homens, aos inativos, ao fato de destinar ≥3 horas ou mais/dia para televisão ou computador, ao hábito de fazer as três principais refeições e o consumo de verduras/legumes <5 dias/semana, ao consumo de refrigerante/suco artificial ≥3 dias/semana e ao consumo de bebida alcoólica. Os fatores associados ao consumo inadequado de verdura/legume foram a idade de 20 a 29 anos, classe econômica B e C/D e o consumo inadequado de frituras, feijão e frutas. O consumo inadequado de feijão foi associado negativamente ao fato de fazer as três principais refeições <5 dias/semana, substituir refeições por lanches ≥3 dias/semana, consumo inadequado de verdura/legume, sobrepeso/obesidade e o tabagismo. As associações positivas do consumo inadequado de feijão foram a idade de 20 a 29 anos, a classe econômica C/D e ainda o horário noturno de estudo. Conclusão: O hábito de substituir refeições por lanches e o consumo inadequado de frituras não foi associado a nenhuma característica demográfica ou sócio econômica, apenas a outros hábitos alimentares inadequados. Já quanto ao refrigerante o estudo indica que os mais jovens possuem este hábito, assim como os classificados em sobrepeso e obesidade. Quanto às frutas o estudo mostra que os homens consomem menos este alimento, assim como quem é considerado inativo. Os mais jovens e os de classe econômica mais baixa consomem menos verdura ou legume. No caso do feijão, os estudantes mais jovens, do sexo masculino, de classe econômica mais baixa, e os que estudam no período noturno tem uma ingestão mais frequente deste alimento.
Apoio matricial na atenção primária à saúde na perspectiva dos profissionais da estratégia saúde da família
Melissa Aparecida Vernini Yamaguchi, Regina Melchior, Rossana Staevie Baduy
Data da defesa: 30/05/2014
O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), criado em 2008, é constituído por equipes com profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que devem atuar em conjunto com as equipes de Saúde da Família (eSF), utilizando ferramentas como o apoio matricial, para oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnico-pedagógico às eSF. Contudo, o matriciamento na atenção primária à saúde é um processo ainda em construção, demanda mudanças de práticas e apresenta obstáculos em sua implementação. Sendo assim, este estudo teve como objetivo compreender o apoio matricial desenvolvido pelo NASF sob a perspectiva dos profissionais das equipes Saúde da Família (eSF). Esta foi uma pesquisa exploratória, descritiva, do tipo qualitativa, realizada em quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Londrina – PR, vinculadas a um NASF. Os sujeitos foram integrantes das eSF de cada UBS, totalizando 15 participantes, sendo que em cada UBS foi entrevistado um de cada categoria profissional. Os instrumentos utilizados no trabalho de campo foram a observação, a entrevista e a análise documental, e para análise dos resultados foi realizada análise de conteúdo, segundo Bardin. Da análise das entrevistas emergiram as seguintes categorias: 1.Compreendendo a organização do NASF; 2.Concepção de apoio matricial; 3.Encontro NASF e equipes SF e 4.Aspectos facilitadores e dificultadores do trabalho do NASF. Os discursos evidenciaram que a organização do trabalho do NASF era reconhecida pelos profissionais da eSF, pelas agendas e visitas domiciliares individuais, responsabilização prioritária do NASF pelos grupos com a comunidade, raros momentos de encontros e interação entre os profissionais do NASF e eSF. Porém há certa tentativa de articulação de ações e interação entre esses profissionais. Na relação NASF e eSF ainda predomina a fragmentação do cuidado e a lógica do encaminhamento. Com relação ao matriciamento, houve avanço nessa prática, porém os participantes compreendem essa metodologia de trabalho como sinônimo de uma reunião mensal para discussão de casos somente, e havia pouca valorização desse espaço pelos profissionais das eSF. Havia dificuldade no processo de trabalho matricial, devido ao pouco tempo, dos integrantes do NASF, em cada unidade. A fragmentação do cuidado ainda se mostra como obstáculo estrutural a ser vencido pelas novas práticas. Há necessidade de produção de espaços de reflexão e análise do processo de trabalho para os trabalhadores das equipes de saúde da família e NASF para que possam produzir e disseminar inovações na prática do apoio matricial.
Internações por doenças do aparelho circulatório sensíveis à atenção primária: tendência das taxas no estado do Paraná
Flavia Guilherme Gonçalves, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 18/06/2014
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são consideradas globalmente uma ameaça ao desenvolvimento humano. Algumas doenças do aparelho circulatório como a hipertensão arterial (HA) e insuficiência cardíaca (IC), além de serem classificadas como DCNT, também são consideradas como condições sensíveis à atenção primária (CSAP), ou seja, internações e óbitos podem ser evitados se a doença for diagnosticada e tratada oportunamente. As taxas de internação por CSAP podem ser utilizadas para avaliar indiretamente o funcionamento e a efetividade do primeiro nível de atenção. O objetivo deste estudo foi analisar a tendência das taxas de internação por agravos do aparelho circulatório, classificados como CSAP, em adultos de 40 a 74 anos, residentes no Estado do Paraná entre 2000 e 2012. Realizou-se um estudo de tendência tanto para o Paraná quanto para as suas macrorregionais de saúde. Os dados das internações foram obtidos no Sistema de Internação Hospitalar (SIH-SUS) e os de população foram estimados por interpolação intercensitária dos censos de 2000 e 2010 para o período de 2001 a 2009, e por projeção demográfica para os anos de 2011 e 2013. Foram calculadas taxas anuais de internação por sexo para as faixas etárias de 40 a 59 anos e de 60 a 74, bem como para grupos específicos de agravos cardiovasculares. Para a análise da tendência, foi realizada a regressão polinomial utilizando-se o programa estatístico R. Ocorreram no Paraná, de 2000 a 2012, 3.754.214 internações pelo SUS, destas, 14,2% foram classificadas como doenças do aparelho circulatório sensíveis à atenção primária. Quanto à distribuição proporcional destas internações no Estado e em suas macrorregionais, a IC foi a causa mais frequente, seguida pela angina, doenças cerebrovasculares e hipertensão arterial. As taxas médias de internação por angina, doença cerebrovascular e insuficiência cardíaca para o sexo masculino foram maiores que as do sexo feminino para o Paraná e macrorregionais de saúde. Já o sexo feminino apresentou maior taxa média de internação por HA. A faixa etária de 60 a 74 anos foi a que apresentou as maiores taxas de internação para doenças do aparelho circulatório, com média no Estado de 300,46/104 . Quanto à tendência das taxas por causas específicas, a angina apresentou tendência crescente, estabilização e novo período de crescimento para o Paraná e macrorregionais. As doenças cerebrovasculares e a IC tiveram tendência decrescente seguida de estabilização para o Estado e macrorregionais. Já a tendência das taxas de internação por HA apresentou comportamentos variados entre as macrorregionais de saúde e o Estado, como por exemplo: decrescente para a macro CentroLeste-Sul e ascendente, decrescente e estável para as macro Norte e Noroeste. Neste estudo verificou-se redução das taxas de internação por hipertensão, doença cerebrovascular e IC e aumento das taxas de internação por angina. Tais constatações indicam que houve melhorias, porém, ainda há necessidade de ampliar o acesso e a qualidade da atenção prestada pela atenção primária, bem como fortalecer o trabalho em redes de atenção, especialmente nos cuidados das doenças cardiovasculares consideradas CSAP.
Acidentes de trabalho com material biológico em equipe de enfermagem de Unidades de Pronto Atendimento: ocorrência, subnotificação e medidas preventivas
Cinthia Marina do Nascimento Domingos, Selma Maffei de Andrade, Alberto Durán González
Data da defesa: 23/07/2014
Os riscos ambientais a que o trabalhador de saúde se expõe são diversos, tais como: riscos químicos, físicos, ergonômicos e biológicos. O risco biológico é um dos que mais contribuem para a insalubridade. Após acidente com material biológico, o trabalhador pode desenvolver várias doenças, como aids e hepatites B (HBV) e C. Esta pesquisa objetivou analisar a ocorrência de acidentes com material biológico e sua notificação entre membros da equipe de enfermagem de Unidades de Pronto Atendimento da rede pública de Londrina, Paraná. Trata-se de um estudo transversal. Os dados foram coletados entre abril e junho de 2013 por meio de um formulário com questões relacionadas às características sociodemográficas, do trabalho e do acidente com material biológico. Para o processamento e tabulação dos dados foram utilizados os programas Excel, Epi Info versão 3.5.4 e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 19.0. Foram entrevistados 224 trabalhadores. Em relação ao esquema vacinal contra hepatite B, 1,3% (n=3) responderam que não eram vacinados e 1,8% (n=4) declararam ter tomado somente uma ou duas doses. A realização do exame Anti-Hbs, que avalia a imunidade contra HBV, foi referida por 149 (67,4%) dos entrevistados. A prevalência de acidentes com material biológico nos últimos 12 meses foi de 9,4% (n=21). Os procedimentos invasivos (retirada de acesso venoso, manipulação de instrumentais cirúrgicos, medicação intramuscular e subcutânea e HGT) foram os mais referidos como procedimento executado durante o acidente pelos entrevistados (61,9%), seguidos pelo descarte de materiais (19%). Acidentes percutâneos causados por agulhas de injeção e cateteres periféricos/centrais foram os mais frequentes (76,1%). A prevalência de subnotificação de acidente de trabalho com material biológico entre a equipe de enfermagem foi de 9,5%. Os resultados fornecem informações importantes para a implementação de ações preventivas, como revisão dos processos de trabalho, vigilância em relação à imunização contra hepatite B e capacitação sobre normas de biossegurança.
A Territorialização e o Planejamento em uma Unidade Saúde da Família
Ana Paula Correa Pardal Morgado, Regina Melchior
Data da defesa: 31/01/2017
A territorialização é o processo no qual se identificam grupos, famílias e indivíduos de um território adscrito, e os fatores condicionantes e determinantes de sua saúde; é uma ação fundamental para o planejamento, e para a implantação de ações estratégicas para intervir nos problemas encontrados, a fim de garantir a resolubilidade ao sistema. O planejamento pode utilizar as informações obtidas no processo de territorialização para promover a organização da oferta dos serviços. A relevância da territorialização e do planejamento estão relacionados à organização do cuidado pelos serviços de saúde da Atenção Básica (AB) às necessidades de uma população e podem ser dispositivos para o fortalecimento da AB no Brasil. Assim essa pesquisa teve por objetivo compreender como se deu o processo de territorialização e de planejamento das equipes Saúde da Família (eSF) e equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em uma Unidade Saúde da Família do município de Londrina, PR. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida por meio de um Grupo Focal com 5 integrantes da eSF e 2 integrantes da equipe NASF, em meados de agosto de 2015. As discussões ocorridas no Grupo Focal foram gravadas, transcritas e organizadas por meio da Análise de Conteúdo. Após a exploração do material e a interpretação dos resultados emergiram três Categorias de Análise: Arranjos e Dispositivos para Interagir, Organizar e Planejar; O Reconhecimento do Território; e Cuidado Planejado. Os resultados revelaram uma equipe comprometida com o trabalho, e que utilizou a Educação Permanente em Saúde como estratégia para o enfrentamento das dificuldades no início de suas atividades. A equipe compreendeu o conceito de territorialização, e usou vários dispositivos e momentos para o reconhecimento do seu território, tais como: o cadastramento das famílias, as visitas domiciliares, a busca ativa, a procura espontânea das pessoas pelos serviços da Unidade de Saúde, a abordagem das pessoas pelos agentes comunitários de saúde e vice-versa, e o Facebook. Muitas barreiras foram encontradas para e realização da territorialização, entre outras foram citadas: a falta de profissionais e a dificuldade no cadastramento das famílias. A equipe reconheceu que as informações obtidas no processo de territorialização podem ser úteis para o planejamento de suas ações, e que o planejamento é um processo dinâmico e flexível, também exemplificou a territorialização e o planejamento como etapas que fazem parte do cuidado compartilhado e em rede, considerou seu trabalho gratificante e apontou como um aspecto muito favorável para o exercício das funções, a inserção de todos os profissionais da unidade na Estratégia Saúde da Família (ESF).
Alteração de peso e circunferência abdominal em população de 40 anos e mais, após 4 anos de seguimento
Agnes Carolina Ribeiro Pinto, Ana Maria Rigo SIlva
Data da defesa: 21/09/2016
Introdução: As mudanças demográficas e epidemiológicas ocorridas nos últimos anos propiciaram o aumento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) mundialmente, com o sobrepeso e a obesidade sendo considerados importantes fatores de risco. Objetivos: Analisar mudanças de peso, das categorias do IMC e circunferência abdominal, em adultos de 40 anos e mais, entre 2011 e 2015. Métodos: Estudo longitudinal prospectivo, que faz parte do projeto: “Estudo de coorte Vigicardio 2011-2015”, realizado em Cambé (PR), com indivíduos de 40 anos e mais, residentes em todos os setores censitários urbanos. O índice de massa corporal (IMC) foi classificado conforme as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), com pontos de corte distintos para cada faixa etária. A circunferência abdominal (CA) foi classificada em baixo risco (<80 cm em mulheres e <94 cm em homens), risco moderado (≥80 cm em mulheres e ≥94 cm em homens) e alto risco (≥88 cm em mulheres e ≥102 cm em homens). A alteração percentual de peso foi definida em perda ≥10%, perda >5 a <10%, manutenção ≤5 a ≥5%, ganho >5 e <10% e ganho ≥10%. As análises estatísticas foram realizadas ao nível de confiança de 95% (pvalor significativo <0,05), para as características sexo, faixa etária e tercis de classificação econômica. Utilizou-se cálculo de frequências absolutas e percentuais, intervalos de confiança de 95% com correção de Bonferroni e o testes de ShapiroWilk para verificar normalidade dos dados. Para avaliar as diferenças nas medidas de peso e CA foi feito o teste de Wilcoxon para dados pareados. Para verificar diferenças entre sexo, faixa etária e tercis da classificação econômica em cada uma das categorias de IMC e classificações da CA foi feito o teste Qui-quadrado ou o teste Exato de Fisher, seguido do teste z para comparação das porcentagens entre as colunas. A pesquisa foi autorizada pelo CEP-UEL (CAEE nº 39595614.4.0000.5231) e realizada após assinatura do termo de consentimento pelo participante. Resultados: Participaram do estudo 863 indivíduos, com média de idade de 54,18 anos (±9,68) e que apresentaram características sociodemográficas semelhantes à amostra original. Não houve diferença estatisticamente significativa nas classificações de IMC e CA entre 2011 e 2015. Após 4 anos, a maioria dos indivíduos manteve o peso inicial, em ambos os sexos, faixas etárias e tercis econômicos. Os percentuais de manutenção do peso foram maiores em homens (63,2%), idosos (60,2 a 64,2%), e semelhantes em todos os tercis econômicos (aproximadamente 58%), entretanto não foram estatisticamente significativas. A alteração das classificações do IMC e da CA também foram marcadas pela manutenção das classificações de 2011, com importantes diferenças entre os sexos, faixas etárias e tercis econômicos. Conclusão: Os indivíduos avaliados apresentaram elevados percentuais de manutenção das classificações de IMC e CA para todas as características analisadas (sexo, faixa etária e tercis econômicos). A alteração percentual de peso também foi caracterizada pela manutenção de peso entre os sexos, faixas etárias e tercis econômicos.
A produção do cuidado na rede maternoinfantil: um olhar para a atenção básica
Clariana Fernandes Muniz Rocha, Regina Melchior
Data da defesa: 30/08/2016
As Redes de Atenção à Saúde são estratégias para organizar as ações e os serviços, e procuram garantir um cuidado integral às condições de saúde da população. Considerando que o cuidar é central nos serviços de saúde, e que a produção do cuidado implica no modo de construção dos encontros entre profissionais e usuários, este trabalho teve como objetivo compreender o processo de produção de cuidado a partir dos olhares de usuários e de trabalhadores da saúde na Rede de Atenção Maternoinfantil. Para tanto se desenvolveu uma pesquisa exploratória qualitativa. Em relação à escolha dos sujeitos da pesquisa, foi adotado um dispositivo metodológico denominado caso traçador. Neste estudo foi investigada a produção do cuidado a partir da trajetória de uma usuária gestante, durante o pré-natal ao parto. Foi realizado um total de oito entrevistas semiestruturadas, no período de agosto a setembro de 2015, com sete participantes, entre eles: a usuária, dois familiares, médico, enfermeira, auxiliar de enfermagem e agente comunitário de saúde. O trabalho de campo foi realizado no município de Londrina, em território de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Para a análise do material, produtos das transcrições das entrevistas, complementados com percepções descritas no diário de campo e nos documentos do caso traçador, foi utilizada a análise de conteúdo, resultando em três categorias. Na primeira categoria, O Cuidado na Percepção dos Usuários e Profissionais da Saúde, foram observadas as diferentes percepções do cuidado, tanto para quem cuida como quem é cuidado, e que para ambos o cuidado passa por conceitos como acolhimento e vínculo, mas também por acesso às tecnologias e insumos disponíveis para a assistência à saúde. A segunda categoria, A Compreensão dos Profissionais da Saúde e dos Usuários sobre a Rede Mãe Paranaense, em que a compreensão por parte dos profissionais da rede estudada mostrou que há diferentes apreensões, dependendo das inserções dos profissionais na equipe e do tempo de contratação, e por parte dos usuários nota-se o desconhecimento do tema. A última categoria, Experiência de Aurora na Rede Maternoinfantil, foi encontrado que se seguiu todo o protocolo estabelecido para essa Rede, de consultas e exames. Porém, isso não foi suficiente para aliviar a angústia e o medo relacionados ao parto que a usuária sentia, recolocando os aspectos subjetivos das necessidades individuais e do cuidado. Também foi encontrado, que embora haja uma rede formal estabelecida, também existe uma rede viva, desenhada pelo usuário, na busca da resolução das suas necessidades. Por fim, olhar a necessidade do usuário, no interior dos protocolos e fluxos estabelecidos para as redes de atenção, permite a singularização da atenção e uma ampliação das possibilidades de cuidado.
Barreiras para o consumo de frutas e de verduras ou legumes em indivíduos de 44 anos ou mais do município de Cambé, Paraná
Graziela M. Campiolo dos Santos, Ana Maria Rigo Silva, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 29/07/2016
Introdução: O consumo insuficiente de frutas, legumes e verduras encontram-se entre os dez principais fatores de risco para a carga global de doenças em todo o mundo. Objetivo: Analisar barreiras percebidas para o consumo de frutas e de verduras ou legumes em uma amostra com 44 anos ou mais do município de Cambé, Paraná. Método: Estudo transversal que faz parte de um projeto mais abrangente denominado “Doenças Cardiovasculares no Estado do Paraná: Mortalidade, Perfil de Risco, Terapia Medicamentosa e Complicações” (VIGICARDIO). Em 2011 foi realizado um estudo de base populacional no município de Cambé (PR), em que foram entrevistados 1180 sujeitos de 40 anos ou mais de idade. Em 2015, os mesmos sujeitos foram novamente procurados e 884 aceitaram participar novamente do estudo. O presente estudo considerou apenas os dados coletados em 2015. Após algumas exclusões por falta de informações a respeito das principais variáveis deste estudo, a amostra foi composta por 877 adultos de 44 anos ou mais de idade. Os dados foram coletados entre março e outubro de 2015 por meio de entrevistas domiciliares. As barreiras para o consumo de frutas e de verduras ou legumes foram levantadas em perguntas sobre cinco possíveis barreiras: não gostar do sabor; família não tem o hábito/costume; custo pesa no orçamento da família; necessidade do preparo e falta de tempo para ir ao mercado/feira com frequência para comprar estes alimentos frescos. Foram também levantadas informações sobre características sociodemográficas e frequência semanal de consumo de frutas, verduras ou legumes. Para a análise de associação entre as barreiras percebidas e as variáveis sociais e demográficas foi utilizada a regressão logística binária, com análises brutas e ajustadas. Resultados: Dos entrevistados, a maioria era do sexo feminino (55,9%), pertenciam à faixa etária de 50 a 59 anos (38,1%), 60,2% se declararam brancos, 44,7% tinham até quatro anos completos de estudo, 64,4% foram classificados no nível econômico C ou inferior e 65,4% referiram ser casados (as). Quanto ao consumo irregular de frutas (menor que cinco dias por semana) a prevalência observada foi de 42,5% sendo superior nos homens, entre os com idade entre 44 e 49 anos, entre os que referiram cor da pele parda/preta/indígena, com 5 a 8 anos de estudo e entre os com menor nível econômico. Em relação ao consumo irregular de verduras ou legumes (menor que cinco dias por semana), a prevalência foi de 30,2% e foi superior entre os homens, entre os que referiram cor da pele parda/preta/indígena, com menor escolaridade e entre os indivíduos com menor nível econômico. Em relação às barreiras para o consumo de frutas, a mais mencionada foi o “custo pesa no orçamento da família", com prevalência de 57,7%. A chance de apresentar esta barreira foi significativamente maior entre as mulheres (OR=1,93; IC95%=1,45-2,57) e nos que tinham escolaridade entre 0 e 4 anos (OR=1,57; IC95%=1,07-2,31). A barreira a "família não tem hábito/costume de consumir frutas" foi citada por 16,4% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre os indivíduos com idade entre 50 a 59 anos (OR=2,01; IC95%=1,30-3,10). A barreira "falta de tempo para ir ao mercado/feira com frequência para comprar frutas frescas" foi citada por 8,0% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre as mulheres (OR=1,79; IC95%=1,03-3,12) e entre os que não tinham companheiro (OR=1,92; IC95%=1,14-3,24). A barreira "necessidade de preparo" foi citada por 7,6% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre os indivíduos da faixa etária de 44 a 49 anos (OR=2,37; IC95%=1,10-5,12) e 50 a 59 anos (OR=2,35; IC95%=1,22-4,51). A barreira “não gostar do sabor das frutas” foi citada por 6,2% da amostra e não foi associada a nenhuma variável sociodemográfica. Quanto às barreiras para o consumo de verduras ou legumes a mais mencionada foi o “custo pesa no orçamento da família", com prevalência de 49,9%. A chance de apresentar esta barreira foi maior entre as mulheres (OR=1,63; IC95%=1,23-2,16), indivíduos com até 4 anos de estudo (OR=1,79; IC95%=1,22-2,63) e com nível econômico B e C (OR=2,01; IC95%=1,01-3,99). A barreira a "família não tem hábito/costume de consumir verduras ou legumes" foi citada por 10,9% da amostra e não foi observada associação com as variáveis sociodemográficas. A barreira "necessidade de preparo" foi citada por 9,7% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre as mulheres (OR=1,69; IC95%=1,03-2,76). A barreira "falta de tempo para ir ao mercado/feira com frequência para comprar verduras ou legumes frescos" foi citada por 7,6% da amostra e não foi observada associação com as variáveis sociodemográficas. A barreira “não gostar do sabor das verduras ou legumes” foi citada por 6,6% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre os indivíduos com cor da pele parda/preta/indígena (OR=2,43; IC95%=1,38-4,26). Conclusão: Mais de 40% dos indivíduos apresentava consumo irregular de frutas e 30% o de verduras ou legumes. A principal barreira percebida para o consumo de frutas e de verduras ou legumes foi relacionada ao custo destes alimentos, seguida pela falta de hábito da família. Estes achados podem ajudar na orientação de políticas públicas que objetivem o aumento do consumo de frutas, legumes e verduras.
Satisfação no trabalho e absenteísmo entre professores da rede estadual de ensino básico de Londrina
Adrieli de Fátima Massaro Levorato, Selma Maffei de Andrade, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 29/06/2016
Devido às reformas educacionais e intensificação do trabalho, professores têm enfrentado inúmeros obstáculos na profissão docente. Assim, muitos experimentam insatisfação no trabalho, com prejuízo à sua saúde física e mental, o que pode contribuir para o absenteísmo. Nesse sentido, este estudo objetivou analisar a relação entre satisfação no trabalho e absenteísmo em professores da educação básica. Trata-se de estudo epidemiológico do tipo transversal, com população de estudo composta por professores das 20 escolas da Rede Estadual de Ensino de Londrina-PR com maior número de docentes. A coleta de dados ocorreu entre agosto de 2012 a junho de 2013, por entrevista e preenchimento de um questionário pelos professores. A satisfação no trabalho foi avaliada por meio da escala Occupational Stress Indicator, utilizando o percentil 25 como ponto de corte para definição de menor satisfação. O absenteísmo foi considerado presente quando o professor referiu ter faltado ao trabalho por problema de saúde nos 12 meses anteriores à entrevista. Foram realizadas análises descritivas e por regressão de Poisson, com cálculo de razão de prevalência (RP) e intervalo de confiança (IC) de 95%. Participaram deste estudo 899 professores, com idade média de 42 anos e a maior parte composta por mulheres (68,3%). Os componentes com menores níveis de satisfação foram salário (46,9%), volume de trabalho (29,6%) e oportunidades para atingir aspirações e ambições (21,5%). Os componentes da escala de satisfação no trabalho mais bem avaliados foram: conteúdo do trabalho (58,4%) e relacionamentos (58,1%). Metade dos professores (50,4%) referiu absenteísmo por problema de saúde, com duração principalmente entre 1 e 3 dias (37,5%). Os principais motivos de falta ao trabalho foram doenças respiratórias (22,3%), problemas osteomusculares (14,1%) e transtornos mentais (11,0%). Após análise ajustada, o absenteísmo associou-se com a menor satisfação no trabalho (RP=1,21; IC=1,05-1,39), independentemente das variáveis sexo, idade, tempo de profissão, carga horária de trabalho, percepção quanto ao equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, dor crônica, doença crônica, capacidade física e mental para o trabalho e qualidade do sono. Também se apresentaram associadas ao absenteísmo a idade superior a 40 anos (RP=1,19; IC=1,01-1,39) e presença de doença crônica (RP=1,65; IC=1,27-2,15). Os resultados mostram associação entre absenteísmo e menor satisfação no trabalho no exercício da profissão docente, independentemente de outras variáveis. Desta forma, tornam-se necessárias medidas para melhorar a satisfação no trabalho docente, como a melhoria das condições e redução da carga de trabalho.
Apego psicológico ao trabalho, sono e outros fatores associados em professores da educação básica
Juliana Moura de Melo, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 28/06/2016
A melhoria da educação pública tem sido tema constante nas agendas do governo e nas exigências da população. Entretanto, apesar de sua relevância social, a profissão docente continua cercada por condições de trabalho desgastantes, que implicam no adoecimento desses profissionais. O apego psicológico ao trabalho (APT), mediante o comprometimento de processos de recuperação do estresse, como o sono, pode ser um elemento importante na relação entre estresse ocupacional e a saúde. Considerando a complexidade desse contexto, o objetivo do presente estudo foi identificar a frequência do apego psicológico ao trabalho e fatores a ele associados, com enfoque para o sono. A população de estudo compreendeu 151 professores atuantes na Educação Básica em Londrina-PR, participantes do estudo PróMestre. Os dados sobre o apego psicológico ao trabalho e avaliação subjetiva do sono foram obtidos por meio do preenchimento de um diário ao longo de 7 dias, realizado pelos professores, e por entrevista, para o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI-BR). A análise objetiva do sono baseou-se no uso de actígrafo, de forma contínua, durante o mesmo período de preenchimento do diário. O APT apresentou elevada frequência na população estudada, sendo que 30,5% dos professores apresentaram APT hoje (questões vivenciadas no dia corrente, antes de dormir), 47% APT amanhã (questões a serem vivenciadas no dia seguinte) e 28,5 % apresentaram APT hoje e amanhã (ambas as situações). As seguintes variáveis se mostraram associadas ao APT hoje: sexo feminino (p=0,013), sintomas depressivos (p=0,000), maior pressão de tempo (p=0,003), maior latência do sono registrada no diário (p=0,013) e pior qualidade do sono (PSQI-BR) (p=0,007). O APT amanhã, por sua vez, associou-se ao sexo feminino (p=0,003), a sintomas depressivos (p=0,000), à ansiedade diagnosticada (p=0,001) e respectivo tratamento (p=0,000), a trabalhar em até dois períodos do dia (p=0,005), à maior pressão de tempo (p=0,002) e pior qualidade do sono (PSQI-BR) (p=0,002). Por fim, foi encontrada associação significativa entre o APT hoje e amanhã e as variáveis: sexo feminino (p=0,004), depressão (p=0,000), ansiedade diagnosticada (p=0,028), trabalhar em até dois períodos do dia (p=0,026), maior pressão de tempo (p=0,002) e pior qualidade do sono (PSQI-BR) (p=0,020). Além de identificar características individuais de professores que apresentam apego psicológico ao trabalho com maior frequência, este estudo permite concluir que pensar em situações do trabalho momentos antes de dormir tem potencial para comprometer a qualidade do sono, o que deve ser considerado na prevenção e no tratamento de distúrbios do sono nessa população.