Teses e Dissertações
Autopercepção da equipe gestora sobre o preparo para o desempenho da função de gestão em saúde em municípios de pequeno porte
Maria Carolina Bot Bonfim, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 17/03/2016
A necessidade de avanços na formação de gestores nos serviços públicos de saúde
é assunto de debates há anos. A produção dos serviços de saúde depende, dentre
outras questões, da existência de profissionais capacitados e motivados em
transformar as práticas em saúde. O objetivo deste estudo foi analisar a
autopercepção de preparo da equipe gestora para o exercício da gestão nos
municípios de pequeno porte da Macrorregião Norte do Paraná. Trata-se de um
estudo exploratório, descritivo e transversal. A população de estudo foi composta por
744 profissionais que integravam a equipe de gestão dos 82 municípios de pequeno
porte da 16ª, 17ª, 18ª, 19ª e 22ª Regionais de Saúde do Estado do Paraná. Este
estudo é um recorte do projeto denominado A gestão do trabalho do SUS em
municípios de pequeno porte do Paraná a partir do olhar da equipe gestora. Os
dados foram obtidos por meio de entrevistas presenciais, orientadas por um roteiro
estruturado, no período de setembro de 2013 a outubro de 2014. A análise dos
dados foi realizada pelo programa EPIINFO, versão 3.5.4, por meio de análise de
freqüência e fatores associados à autopercepção de preparo pelo teste quiquadrado. Os resultados revelaram que 40,9% dos gestores possuíam pósgraduação, e a especialização lato sensu específica na área de gestão em saúde foi
de 4,4%. A atividade de gestão mais referida foi a relacionada aos sistemas de
informações (66,9%). A maioria dos gestores não possuía experiência prévia em
gestão (74,9%), no entanto, 97,6% deles referiram sentir-se integralmente ou
parcialmente preparados para o exercício da função. Em relação ao preparo obtido,
do total de entrevistados, 37,2% atribuem aos cursos ofertados pelas regionais de
saúde a principal forma de obtenção de preparo para o cargo e 24,7% a experiência
do dia-a-dia. Ter nível superior, experiência anterior em gestão, idade abaixo da
média (37,8 anos) e ter realizado algum curso como forma de preparo para atuação
na gestão foram fatores associados à autopercepção de preparo. Conclui-se que
grande parte dos gestores se sente preparado para a atuação na função e isso pode
estar relacionado ao fato de a maioria ter formação na área da saúde. A falta de
experiência na função de gestão e a pouca formação específica nessa área propicia
que a autopercepção de preparo venha das experiências particulares de cada
pessoa. Outra possibilidade está no desconhecimento do quanto é complexa a
gestão do SUS, de modo que atuam apenas no sentido de reproduzir o modelo
hegemônico vigente. Diante disso, investimentos em qualificação e em estratégias
de valorização e reconhecimento das funções de gestão são de fundamental
importância, pois um dos desafios do SUS é possuir pessoas que tenham
qualificação, seja técnica, seja política, para os diversos cargos de gestão.
Depressão em professores da rede estadual de ensino de Londrina/PR: caracterização e fatores associados
Nathalia K. A. Guimarães de Faria, Alberto Durán González, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 29/02/2016
A depressão afeta 350 milhões de pessoas mundialmente e é uma doença
importante que reflete na família, no trabalho e nas relações pessoais do indivíduo
bem como, em casos extremos, pode levar ao suicídio. O desenvolvimento da
depressão é influenciado por fatores genéticos, características de personalidade e o
meio em que se vive. Condições adversas de trabalho podem contribuir para o
desenvolvimento da depressão, bem como por agravos relacionados a ele. A
profissão docente apresenta muitos desafios e condições adversas de trabalho. Em
diversos países, os transtornos mentais são o principal motivo causador de
absenteísmo entre docentes. Pensando na importância dos professores para a
sociedade, no ônus relacionado à depressão e na condição adversa de trabalho vivida
por muitos professores, o objetivo do estudo foi conhecer a prevalência de depressão
e de sintomas depressivos, de acordo com o Inventário de Beck-II (BDI-II), e os fatores
associados à depressão em professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina/PR.
Trezentos e oito professores foram entrevistados, dos quais 34,7% foram
considerados depressivos, de acordo com os preceitos previstos pelo BDI-II. A maioria
dos considerados depressivos era do sexo, tinham entre 25 e 39 anos de idade, eram
casados, possuiam especialização e renda familiar mensal entre R$ 3001,00 e R$
5000,00. Os principais sintomas assinalados pelos entrevistados foram falta de
energia, alterações no padrão do sono, cansaço ou fadiga e autocrítica. As seguintes
variáveis relacionadas ao trabalho se mostraram associadas à presença de
depressão: ter menos de dez anos de profissão, relatar relacionamento com
superiores ou alunos, motivação para chegar ao trabalho e equilíbrio entre vida
profissional e pessoal como ruim ou regular e relatar ter sofrido qualquer tipo de
violência.
Compreensão do sentido de ser professor readaptado por transtornos psíquicos à luz da fenomenologia heideggeriana
Ana Claudia Petryszyn Assis , Alberto Durán González
Data da defesa: 26/02/2016
Ao longo dos anos, o trabalho docente vem acumulando muitas mudanças as
quais tem repercutido negativamente na saúde psíquica e física dos mesmos.
Levando a um intenso sofrimento nesta categoria profissional,
consequentemente, tem se tornado frequente a readaptação funcional de
professores a qual afasta, temporário ou definitivo, o trabalhador de sua função,
realocando-o em outro cargo. Com base nisso, o objetivo dessa pesquisa foi
compreender o significado do retorno à escola após afastamento definitivo como
professor-readaptado por transtornos psíquicos. Trata-se de um estudo
qualitativo, realizado com professores readaptados definitivos de diferentes
escolas da rede pública de um munícipio de grande porte do sul do Brasil. A
coleta de dados foi realizada no período de dezembro de 2014 e finalizada em
junho de 2015. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e submetidos à análise de discurso proposta por Martins e Bicudo,
como forma de extração e organização dos dados. Em seguida, foram
analisados a luz do referencial filosófico de Martin Heidegger. Também, foram
utilizados outros autores, tendo em vista a convergência entre eles. Da análise
das entrevistas emergiram quatro categorias: Processo de ruptura do trabalho
docente em sala de aula; Retorno ao trabalho como professor readaptado; Serno-mundo como professor readaptado e Ser-com-o-outro no mundo da
readaptação. Os entrevistados revelaram que o trabalho antes da readaptação
estava sendo marcado pela intensificação do trabalho como docentes, refletido
por condições de trabalho ruins, excesso de burocracia e outros levando a um
período de afastamentos os quais foram tidos como momentos de quebra do
cotidiano dos professores. Após os afastamentos temporários de sala de aula, o
habitar o mundo da educação sob nova condição foi marcado por incertezas e
sentimentos como o medo frente a essa transição, já que não tinham referências
construídas sobre esse ser-no-mundo, pois foram lançados no mundo da
educação sob nova condição, se ocupando e preocupando de modos diferentes.
Dessa forma, aos que construíram uma nova identidade esta foi marcada por
uma utilidade para o coletivo, no qual assumem múltiplas funções para serem
reconhecidos. Passando a existir de modo impróprio, retirando, dessa forma, a
possibilidade de refletirem sobre esse agir para os outros. O ser-com dos
professores readaptados revelaram modos deficientes com-colegas; comoutros-funcionários, com-alunos e com-família, suscitando, portanto, um ser-com
inautêntico. Visto que estas relações se demostraram em atitudes
preconceituosas, com forte estigma e de exclusão. Também, esta pesquisa
permitiu tecer algumas reflexões sobre o processo de readaptação vivenciado
pelos professores na qual evidenciou-se a falta de políticas que visem este
profissional, tanto no processo quanto no acompanhamento do mesmo nesta
situação. Espera-se que os resultados desse estudo possam fornecer subsídios
para o conhecimento dessa realidade, buscando ampliar as discussões e
alternativas para o atual contexto que esses professores vivenciam.
Relação indivíduo-corpo na obesidade: análise sob o olhar de Merleau-Ponty
Flávia Maria Araújo, Mara Lúcia Garanhanhi
Data da defesa: 25/02/2016
A obesidade é uma questão de saúde pública no mundo. É um fenômeno que
gera complicações, tanto em nível coletivo como individual. A vivência do
fenômeno “ser obeso” vem acompanhada de dificuldades nas atividades
cotidianas e sentimentos como ansiedade, culpa, tristeza etc. É considerada
fator de risco para diabetes mellitus, hipertensão, câncer, entre outras. Tem
uma complexa trama de fatores como etiologia, variando entre fatores:
genéticos, estilo de vida, questões psíquicas, sociais, culturais e econômicas,
além de impactar a forma corporal. A respeito da temática corpo, temos a
fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty que coloca o corpo em um papel
central. Para ele, por meio do corpo o indivíduo existe e se coloca no mundo,
com o corpo ele tem sensações e percepções acerca de si mesmo e do
mundo. Não é simplesmente o corpo biológico, tem mais de uma expressão,
carrega significados e valores individuais e culturais. Cada pessoa vive e sente
seu corpo a sua maneira, formando assim seu “corpo vivido”, também agrupa
valores e significados no corpo, constituindo assim seu “corpo próprio”.
Refletindo sobre a fenomenologia de Merleau-Ponty e obesidade,
interrogamos: Qual é o lugar que pessoas obesas dão a seu corpo? Como se
relacionam com ele? Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender como
indivíduos obesos se relacionam com o seu próprio corpo. Realizada pesquisa
qualitativa, analítica e reflexiva, de abordagem fenomenológica. Fizemos
entrevistas com cinco mulheres e sete homens, obesos de grau I e II,
provenientes do projeto VigiCardio, desenvolvido dentro do Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva da UEL. Realizamos análise de discurso,
individualmente e, depois, coletivamente. Construímos três categorias: 1-
Corpo obeso como algo não refletido: aborda o momento em que as pessoas
não refletem sobre o próprio corpo e não acompanham as mudanças que as
tornaram obesas. Foi perpassado por sentimentos como invulnerabilidade,
ansiedade e revolta. 2- Corpo obeso como corpo obeso: mostra o momento em
que a consciência se volta ao corpo, e as pessoas passam a viver como
obesas. Revelou sentimentos como vergonha, tristeza e desânimo. 3- Corpo
obeso como potencialidade de cuidados: evidencia as diferentes maneiras de
executar ações para a melhora das condições de seu corpo, e também a
possibilidade de não fazê-lo. Apesar de muito sofrimento, as pessoas obesas
tiveram experiências de superação no momento do cuidado, como controle de
doenças associadas, ou pelo simples fato de continuar vivendo com o corpo
que tem. Nossas reflexões finais apontam para: forma de vida atual
desfavorece o cuidado com o corpo, há dificuldade de várias ordens para o
cuidado, mesmo com dificuldades as pessoas continuam tentando cuidar-se e
perder peso. Alterar a forma do corpo interfere na identidade, pois a obesidade
está próxima a fatos marcantes que geram sofrimento. Para os profissionais de
saúde, o desafio é oferecer tratamento sem desprezar a subjetividade das
pessoas obesas.
A educação permanente em saúde como estratégia para reorganização da assistência sistematizada à tuberculose em pessoas privadas de liberdade: pesquisa-ação
Vanessa Cristina Neves Fabrini, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 26/01/2016
A tuberculose é um dos principais agravos a ser enfrentado no mundo e a incidência
na população privada de liberdade é 23 vezes superior à da população em geral.
Falhas na assistência prestada aos detentos contribuem para o problema e
suscitaram a necessidade de se realizar uma intervenção. O objetivo desse estudo
foi analisar o processo de educação permanente em saúde (EPS) desenvolvida pela
equipe de enfermagem para a implantação de assistência sistematizada à pessoa
com tuberculose (TB) em penitenciária estadual do norte do Paraná. Trata-se de um
estudo qualitativo que utilizou a metodologia da pesquisa-ação como estratégia de
pesquisa. A pesquisa foi realizada entre outubro de 2014 a fevereiro de 2015.
Durante este período foram realizadas sete oficinas de EPS por meio de estratégias
variadas de aprendizado. Em três foram tematizadas o trabalho em equipe,
acolhimento e corresponsabilidade. Em outras duas se discutiu aspectos atuais da
doença, a prática assistencial desenvolvida e uma nova proposta de atenção
sistematizada foram construídas pela equipe. As duas últimas monitoraram a
proposta implantada e corrigiram falhas. As oficinas foram filmadas, transcritas e
analisadas. Também foi alvo de análise, registros em prontuários e formulários
institucionais. Os dados revelaram, no início do processo, um grupo de
trabalhadores conformados com o modelo de assistência, responsabilizando o preso
pelo seu próprio processo de cura. Porém, à medida que as oficinas avançaram, a
corresponsabilização foi internalizada pelos sujeitos, e a transformação prevista pela
EPS e pela pesquisa-ação ocorreu e culminou na implantação efetiva da assistência
de TB ao detento da unidade prisional estudada e ao desejo de um programa de
EPS institucional. A pesquisa-ação articulada à EPS mostrou-se apropriada no
desenvolvimento da intervenção, pois gerou mudança de práticas e transformou a
realidade.
A Governança do Componente Pré-hospitalar Móvel da Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) em uma Região de Saúde
Ana Carolina Petryszyn Assis, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 20/12/2018
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU -192) é o componente móvel préhospitalar da urgência, da Política Nacional de Atenção às Urgências e o ordenador da
Rede de Urgência e Emergência (RUE), por meio da sua Central de Regulação (CR) das
Urgências. Funciona como um observatório privilegiado da rede que possibilita a
articulação e integração com os diversos serviços de saúde. Esta pesquisa tem a CR
componente do SAMU-192 como objeto de estudo e objetiva avaliar a governança do
componente pré-hospitalar móvel da RUE. Trata-se de um estudo avaliativo, realizado
por meio de análise documental (de manuais, portarias ministeriais, deliberações
estaduais) para descrever a organização na RUE na região estudada e de entrevistas
(com sete informantes chave) e observação estruturada, para avaliar a governança do
SAMU. A observação utilizou como instrumento uma Matriz de Análise e Julgamento
(MAJ) já validada em outro estudo e comtempla a avaliação da dimensão Gestão da
Urgência do SAMU nas subdimensões: Articulação, Financiamento, Regulação e
Infraestrutura, por meio de 12 indicadores e 12 parâmetros. Na análise dos resultados,
constatou-se que a normatização do SAMU atende ao que está estabelecido na Portaria
nº GM/MS 2048/2002, no entanto, sua operacionalização nem sempre ocorre conforme
o estabelecido, apresentando dificuldades. Na avaliação da MAJ, a gestão da urgência
obteve um desempenho regular, com os respectivos resultados das subdimensões:
articulação (ruim); financiamento (bom); regulação (regular); infraestrutura (regular). A
análise por meio da triangulação dos resultados permitiu identificar fragilidades e
potencialidades do sistema de governança deste serviço. Dentre as fragilidades
destacam-se: a inefetividade dos comitês gestores locais e regionais o que dificulta a
articulação dos componentes da RUE; ausência de sistema informatizado para
localização de leitos disponíveis e veículos de transporte e também de ferramentas de
regulações essenciais para exercício da função dos médicos reguladores, entre elas as
grades de pactuações de referências e contrarreferências hospitalares que são
desatualizadas e fragmentadas; ordenação interinstitucional inexistente entre os serviços
de urgência como a Polícia Militar e o Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em
Emergência (SIATE). Destaca-se ainda o déficit de profissionais, especialmente médicos,
gerando gastos com pagamento de hora extraordinária, que onera o custo operacional
do SAMU. Como potencialidades apontam-se o vínculo empregatício por meio de regime
jurídico único, com baixa rotatividade dos profissionais reguladores e autonomia, com
designação de Autoridade Sanitária Local ao médico regulador. O financiamento do
SAMU, apesar de ter sido avaliado como bom nos parâmetros definidos pela MAJ,
apenas indica que houve recebimento de repasses dos demais entes federados, de
acordo com o estabelecido em portarias. Destaca-se, na análise deste indicador, a
ausência de repasse de muitos municípios da região e a insuficiência dos valores
recebidos para manutenção do serviço, tendo o município sede que arcar com cerca de
50% dos valores necessários. Desta forma recomenda-se que o componente
financiamento seja melhor elucidado e aprofundado em estudos futuros. Portanto na
prática o sistema de governança do SAMU é fragilizado por fatores apontados no estudo,
o que dificulta o cumprimento da função de ordenar adequadamente a RUE.
Movimentos cartográficos na atenção domiciliar: visibilidades dos agires cuidadores
Silas Oda, Regina Melchior, Maira S. S. Bortoletto
Data da defesa: 31/08/2018
Interessou-nos nessa pesquisa olhar para a micropolítica do trabalho em saúde no
âmbito da atenção domiciliar em um município do sul do Brasil, entre os anos de
2016 e 2017, com o objetivo de cartografar os agires cuidadores, produzindo
visibilidades aos territórios do cuidado e a análise das intensidades que
atravessavam esses territórios. Para tanto, constituímo-nos um coletivo cartográfico
de pesquisa, trabalhadores de um serviço de atenção domiciliar e pesquisadores,
com o desafio de juntos produzirmos conhecimento a partir de movimentos
intercessores, num efeito pororoca poder olhar para si no agir cuidador, desenhando
mapas dos territórios do cuidado. Enquanto intercessores, trabalhadores e usuários,
com os quais encontramos, tornaram-se guias no caminhar cartográfico ao nos
agenciar nos processos de afetação, produzindo outras visibilidades, diferentes da
vista do olho retina. Foram também intercessores em nós Emerson Merhy, Suely
Rolnik, Gilles Deleuze, dentre outros, pensadores cujos conceitos cunhados foram
ferramentas-experiências no cartografar. O produto dessa pesquisa teve início já
com o surgimento do pesquisador-cartógrafo, construtor de conhecimento a partir da
análise dos afetos dos encontros e das suas próprias implicações. A partir de então
as cartografias desenhadas ganharam formas, cores e texturas com os nomes: A
Produção de Vida nas Reuniões de Equipe; Prática do Transver: Uma
Despolarização da Bússola Cartográfica; Marcas no Corpo e a Produção do
Cuidado; Decido Insistir, Insisto no Mesmo Olhar; Admissão e Alta: A Aposta na Vida
é o Critério dos Anômalos; Linhas de Fuga nas Redes de Atenção: A Vida Pede
Outros Caminhos; Carta à dona Rita.
Percepção de profissionais de Enfermagem frente à cultura de segurança do paciente
Desiree Zago Sanchis, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 28/06/2018
A cultura de segurança nas instituições de saúde é aquela em que cada profissional
reconhece suas responsabilidades frente à segurança do paciente e procura
contribuir para melhoria na qualidade do cuidado. As organizações necessitam de
culturas únicas, com fusão de valores, crenças e comportamentos que determinem a
forma de seu funcionamento. Objetivo: Analisar a percepção dos profissionais de
enfermagem acerca das dimensões da cultura de segurança do paciente em
instituições de alta complexidade. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo,
transversal e com abordagem quantitativa. A população de estudo foi constituída por
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem que atuavam na assistência direta
ao paciente, em três instituições de alta complexidade. A fim de avaliar a cultura de
segurança do paciente, foi utilizado o questionário Hospital Survey on Patient Safety
Culture (HSPSC), de 2004. A coleta de dados ocorreu entre fevereiro e abril de
2017, por meio de abordagem individual. Foi realizada análise descritiva, com uso
de frequências absolutas e relativas. A cultura de segurança foi avaliada utilizando o
cálculo dos percentuais de respostas positivas para cada dimensão do instrumento,
à partir do cálculo dos percentuais foram atribuídas categorias, com a seguinte
classificação: áreas consideradas fortalecidas (≥ 75,0% de respostas positivas),
áreas com potencial de melhoria (<75,0% a >50,0%), e áreas
enfraquecidas/fragilizadas (≤ 50,0%). Além disto, foi utilizando a análise de
associação, por meio da regressão de Poisson com cálculo da Razão de
Prevalência (RP) e Intervalo de Confiança 95% (IC 95%). Para análise dos dados
utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).
Resultados: Participaram do estudo 587 indivíduos, 42,8% eram enfermeiros e
57,2% técnicos ou auxiliares de enfermagem. A taxa de resposta atingiu 75,8% da
população alvo. A maioria dos respondentes era do sexo feminino (88,4%), tinham
entre 20 e 39 anos (60,8%), atuava na instituição há menos de cinco anos (57,8%) e
não possuía outro vínculo de trabalho (79,2%). As dimensões caracterizadas como
enfraquecidas nas instituições, foram: ‘’Apoio da gestão hospitalar para segurança
do paciente’’ (48,5%), ‘’Percepções generalizadas sobre a segurança do paciente’’
(45,5%), ‘’Transferências internas e passagens de plantão’’(40,9%), ‘’Adequação de
profissionais’’ (37,8%), ‘’Trabalho em equipe entre as unidades hospitalares’’
(37,0%), ‘’Abertura para as comunicações’’ (29,5%) e ‘’Respostas não punitivas aos
erros’’ (18,8%). Sobre os indicadores de segurança do paciente, 52,5% dos
profissionais consideraram a segurança do paciente como excelente ou muito boa, e
58,5% dos enfermeiros não notificaram ao menos um evento adverso em doze
meses. Quanto aos fatores associados à percepção negativa, os profissionais que
atuavam em unidades semicríticas do hospital 1 avaliaram negativamente com maior
frequência a dimensão ‘’abertura para as comunicações’’ – RP: 1,246 (IC 95%:
1,007-1,540, p=0,042). Para a dimensão ‘’respostas não punitivas aos erros’’, os
participantes do hospital 1 com mais de seis anos de atuação avaliaram
negativamente com maior frequência quando comparados aos participantes com
menos de seis anos – RP: 1,076 (IC 95%: 1,002-1,155, p=0,043). Ainda sobre a
dimensão ‘’respostas não punitivas aos erros’’, os profissionais que atuavam em
unidades semicríticas avaliaram negativamente com maior frequência quando
comparados aos que atuavam em unidades críticas – RP: 1,639 (IC 95%: 1,282-
2,096, p <0,001) no hospital 2. Assim como os profissionais do gênero masculino no
hospital 2 – RP: 1,538 (IC 95%: 1,198-1,975, p=0,001) e 3 – RP: 1,194 (IC 95%:
1,043-1,365, p=0,010). Conclusão: Conclui-se que há necessidade do apoio da alta
gestão hospitalar frente à disseminação da cultura segurança do paciente, por meio
de programas de sensibilização aos profissionais nas instituições, com incentivo a
criação de uma cultura justa e não punitiva. Com isto os profissionais terão incentivo
para notificarem os incidentes, e assim a alta gestão poderá trabalhar os incidentes
de forma educativa.
A produção do cuidado no contexto familiar da atenção básica: uma cartografia
Thalita da Rocha Marandola, Regina Melchior, Josiane Vivian de Camargo Lima
Data da defesa: 28/05/2018
O cuidado é uma temática inerente a todo trabalhador em saúde, sua prática está
presente nos hospitais, nas clínicas, ambulatórios, nas unidades básicas de saúde,
nos domicílios, entre outros. E é no campo da atenção domiciliar, mais
especificamente o cuidado domiciliar na atenção básica à saúde, que nos
aproximamos para experimentar a produção do cuidado. O objetivo deste estudo foi
compreender como ocorre a produção do cuidado em saúde na atenção domiciliar,
na prática da Estratégia Saúde da Família, em uma Unidade Básica de Saúde de um
município de grande porte, na região sul do Brasil. A pesquisa ocorreu no período de
agosto/2016 a agosto/2017. Para tanto, utilizei a perspectiva cartográfica, que por
meio do uso do dispositivo de pesquisa da família-guia possibilitou encontros e
experimentações da produção do cuidado conforme estes foram sendo produzidos.
O ponto de partida do campo de pesquisa foi o serviço da atenção domiciliar e
posteriormente o território de uma unidade básica de saúde; neste último, a partir da
escolha da família-guia extrapolamos os limites do território geográfico da unidade,
produzindo e percorrendo a rede viva produzida pela própria família. A partir dos
encontros com os outros pontos da rede e com os trabalhadores surgiram pistas que
indicaram o processo de produção do cuidado da família selecionada. As pistas
identificadas foram: O que trazemos e o que opera nos encontros? A disputa do
cuidado; As redes; A reflexão sobre o processo de trabalho. A partir delas pude
inferir que no processo do cuidado tanto trabalhadores quanto usuários levam para o
encontro marcas que pulsam de acordo com a intensidade do encontro e que vão
interferir no cuidado prestado e ainda, que o cuidar ou ser cuidado requer a
identificação e reflexão dos nossos valores universais e regimes de verdades, que
podem influenciar a forma como operamos o cuidado no encontro. Além disso, a
disputa do cuidado entre trabalhadores e trabalhadores/usuários aparece como
elemento que pode potencializar ou fragilizar este processo, o que frequentemente
surge quando a rede de cuidados é acionada. Sobre a rede de cuidados foi
observado que a rede formal é a mais reconhecida e a rede viva produzida pelo
usuário ainda é pouco valorizada pelos trabalhadores apesar de suas
potencialidades. Durante esta jornada, notou-se o quão importante foi a análise do
processo de trabalho em saúde para a melhor construção do cuidado, dando vasão
as afetações e espaço para as experimentações o que resulta no cuidado dos
cuidadores/trabalhadores da saúde.
Percepção de peso corporal e condutas alimentares em professores da rede estadual de ensino de Londrina-PR
Vanessa Francisquini Gonçalves, Alberto Durán González
Data da defesa: 26/04/2018
Conhece-se a situação epidemiológica enfrentada mundialmente com relação ao
aumento significativo do sobrepeso e obesidade em todas as camadas
populacionais. Além disso, diversas complicações de saúde têm sido evidenciadas
entre professores e há pouca informação sobre as condutas alimentares e a
influência da percepção de peso corporal especificamente nesse público. Vista a
importância social e escassez de trabalhos que estudem as características
sociodemográficas, de saúde, de trabalho e principalmente, o perfil da percepção de
peso corporal e condutas alimentares adotadas por essa população, objetivou-se
analisar a relação entre percepção de peso corporal e condutas alimentares entre
professores da rede estadual de ensino de Londrina-PR. Realizou-se estudo
transversal com todos os professores atuantes nas 20 escolas estaduais com maior
número de professores de Londrina. Informações foram coletadas por meio de
entrevista individual através de questões sobre alimentação, aspectos
sociodemográficos, condições de trabalho, perfil antropométrico e percepção de
peso corporal. Os dados foram analisados de forma descritiva e as associações
estudadas mediante regressão de Poisson para estimação da Razão de Prevalência
(RP). Foram incluídos nesta pesquisa um total de 920 professores sendo
predominante: os de sexo feminino (67,8%); >41 anos (52,4%); casados (58,7%);
brancos (74,6%) e com grau de instrução especialização (87,5%). No que se refere
as características de trabalho e de saúde, observou-se que mais de 70% dos
professores tem 2 vínculos ou mais, e mais de 80% trabalha 40 horas ou mais por
semana. Aproximadamente 30% dos professores apresentam diagnóstico médico de
pelo menos uma DCNT e mais de 80% percebe sua saúde como boa, muito bou ou
excelente. Com relação a percepção de peso corporal, metade dos professores
eutróficos (49,9%) se perceberam adequadamente. Diferente dos com excesso de
peso, onde a maioria (91,6%) apresentou uma percepção adequada do seu peso
corporal. Dos 441 professores classificados como eutróficos, mais de 40%
superestimaram o peso corporal. No que se refere as condutas alimentares,
observou-se que o sexo, idade, renda, tempo como professor e número de vínculos
foram os fatores que mais estiveram associados. Por fim, não houve associação
entre a percepção de peso corporal e condutas alimentares recomendadas ou não.
Concluiu-se que professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina apresentam
em sua maioria, condutas alimentares recomendadas. E que embora seja um fator
determinante para adoção de condutas adequadas em indivíduos com excesso de
peso, a percepção de peso corporal não se mostrou associada a nenhuma conduta
alimentar investigada. Este achado fortalece a importância de que mais estudos
continuem explorando a percepção de peso corporal nesse público, extrapolando a
fim de se conhecer a satisfação e a autoestima com o corpo, de modo a conhecer
até que ponto a imagem corporal pode influenciar os hábitos de vida dos docentes.