Adaptação transcultural e validação da ferramenta “Newest Vital Sign” para avaliação do letramento em saúde em professores.
Renne Rodrigues, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 07/03/2014
Letramento em saúde (LS) é uma habilidade cognitivo-intelectual para obtenção e processamento de informações em saúde. Constitui um fator que pode influenciar diferentes desfechos em saúde, uma vez que se baseia em capacidades cognitivas essenciais para o entendimento de informações sobre saúde. Por essa razão, estudos que investigam o LS têm sido realizados em diferentes populações, evidenciando-se associações com estilo de vida, comorbidades e mortalidade. Nesse contexto, os professores constituem um grupo populacional de especial interesse, pois avaliar o LS desses profissionais poderia ajudar a compreender certas relações entre saúde, estilo de vida e o trabalho docente e, além disso, a identificar hábitos e comportamentos modificáveis e subgrupos que necessitem de maior atenção à saúde. Até o presente momento, não se encontra no Brasil instrumento validado adequado para a avaliação do LS em professores. Assim, este trabalho visa à adaptação transcultural e validação, para aplicação em professores, da ferramenta de avaliação do LS Newest Vital Sign, composta por seis questões e de aplicação simples e rápida. Foram seguidas as etapas para adaptação transcultural: tradução, retradução e revisão por um Comitê de Especialistas. O teste de validação final foi realizado em 301 professores de educação básica da rede estadual de ensino de Londrina, Estado do Paraná, Brasil, avaliando-se consistência interna e validade de constructo. Como resultado, a ferramenta em validação apresentou boa adaptação transcultural, com alfa de Cronbach de 0,74. A validade de constructo foi evidenciada frente às características da população, de modo que o LS inadequado associou-se à maior idade, não observação de informações nutricionais e pior estado de saúde autorreferido. Com base nesses resultados, concluiu-se que a ferramenta Newest Vital Sign, na versão em Português do Brasil (NVS-BR), possui boa validade em professores da educação básica e pode ser utilizada para rastreamento de letramento em saúde inadequado.
Níveis de manganês e fatores associados em população urbana com 40 anos ou mais em município do Sul do Brasil
Ana Lívia Carvalho da Silva Fukushigue, Monica Maria Bastos Paoliello
Data da defesa: 13/03/2014
O manganês (Mn) é um elemento traço essencial. Porém, em determinadas concentrações pode ser tóxico à saúde humana. Os efeitos adversos ocasionados por altas exposições ao Mn, principalmente em ambientes ocupacionais, são bem conhecidos e documentados. Entretanto, os relacionados à exposição ambiental, apesar de epidemiologicamente evidentes, são poucos conhecidos. Nesse contexto, os estudos de biomonitorização humana podem ser usados para identificar e quantificar a exposição e o risco ao metal. Diante disso, esse estudo objetivou estabelecer os níveis basais de Mn em sangue e verificar a ocorrência de uma possível associação entre os níveis sanguíneos de Mn e fatores sociodemográficos, econômicos, relacionados ao estilo de vida e hipertensão. Trata-se de um estudo transversal de base populacional, com uma amostra representativa, integrante do projeto “Doenças Cardiovasculares no Estado do Paraná: mortalidade, perfil de risco, terapia medicamentosa e complicações”- VIGICARDIO. Investigou-se 958 indivíduos de 40 anos ou mais, residentes em uma área urbana de um município do sul do Brasil. As concentrações sanguíneas de Mn foram determinadas pela técnica de Espectrometria de Massas com Plasma de Argônio indutivamente Acoplado (ICP-MS). A pressão arterial sistólica e diastólica foi aferida por meio do equipamento digital Omron HEN 742 de acordo com as orientações da VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. A média e a mediana referente aos níveis sanguíneos de Mn foram 12,6 e 12,3 µg.L-1 , respectivamente. Verificou-se que os níveis de Mn tendem a diminuir com a idade (p< 0,05). No entanto, não houve correlações entre as concentrações do metal e as demais variáveis. O presente estudo contribui para a determinação dos valores basais de Mn em sangue na população urbana no Brasil, o que é fundamental para a identificação de grupos populacionais de risco, quando apresentarem desvios em relação à média da população. Este estudo reforça o caráter preventivo da Saúde Ambiental.
Condições de trabalho, cargas de trabalho e absenteísmo em professores da rede pública do Paraná
Natália Paludeto Guerreiro, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes, Alberto Durán González
Data da defesa: 28/03/2014
Cada vez mais é necessário aprofundamento e compreensão da dinâmica entre trabalho e saúde, e na profissão docente não é diferente. Apesar de ser considerado trabalho intelectual, ele demanda uma série de exigências físicas e psíquicas que somadas às condições de trabalho desfavoráveis, podem desencadear o adoecimento e ter como consequência o absenteísmo. Este estudo teve como objetivo analisar condições de trabalho, cargas de trabalho e absenteísmo em professores. Trata-se de um estudo observacional do tipo transversal quantitativo e integrou um projeto chamado “Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná” PRÓ-MESTRE. A população de estudo foi constituída por 1061 professores do ensino fundamental e/ou ensino médio das 20 maiores escolas da rede estadual de ensino da cidade de Londrina - PR, sendo entrevistados 978 professores. A coleta de dados foi realizada entre agosto de 2012 e julho de 2013 por estudantes de graduação, mestrado e doutorado envolvidos no projeto, utilizando um formulário de entrevista e um questionário. A maioria dos professores entrevistados era do sexo feminino (68,5%), viviam com companheiros (60%), com média de idade de 41,5 anos (DP 10) e possuíam pós-graduação nível especialização (73,1%). Quanto às características profissionais, 68,7% eram estatutários e 31,3% não estatutários, 42,9% trabalhavam em até dois locais de trabalho, 64,2% lecionavam em pelo menos dois turnos e 41,7% atuavam tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. Mais de 80% dos professores relataram bom relacionamento com os superiores, professores e alunos. Aspectos como remuneração (62,8%), quantidade de alunos por sala (68,4%), manutenção e conservação de equipamentos (50,8%), infraestrutura para preparo de atividades (52,5%) e infraestrutura predial (51,5%) foram relatados como negativos (ruim/regular). Em relação às cargas de trabalho, a exposição ao ruído dentro da sala de aula (61,5%), o tempo que permanece em pé (52,7%), as condições para escrever no quadro de giz (42,6%), o ritmo e a intensidade do trabalho (50,3%), o número de tarefas realizadas e a atenção e responsabilidades exigidas (51,4%), assim como o tempo disponível para preparar as atividades (60,9%), afeta muito sua saúde e condições de trabalho. O absenteísmo foi referido por 51,9% dos entrevistados, e os principais motivos de afastamento foram: problemas respiratórios (20,7%), problemas osteomusculares (13,8%) e transtornos mentais (10,8%). Estes fatores sinalizaram sobre as condições de trabalho e saúde dos professores da rede Estadual do Paraná, podendo servir como subsídio para o desenvolvimento de políticas públicas que visem melhorias, modificando não só o cenário em que estão inseridos, como também, valorizando seu papel e sua importância perante a sociedade.
Prevalência, reconhecimento, tratamento medicamentoso e controle da hipertensão arterial e do diabetes mellitus no município de Cambé – PR.
Camila Rocha Machado, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 25/04/2014
Introdução: As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Entre os fatores de risco modificáveis destacam-se o diabetes mellitus e a hipertensão arterial. Conhecer as taxas de reconhecimento dessas condições na população, bem como de seu controle por meio da terapia medicamentosa pode aprimorar as medidas de detecção e acompanhamento na atenção básica. Objetivo: Analisar a prevalência, o reconhecimento, o tratamento, e o controle da hipertensão arterial e do diabetes mellitus na população de 40 anos ou mais residente no município de Cambé-PR. Método: Estudo transversal de base populacional, com 1.180 participantes com 40 anos ou mais, residentes na área urbana do município de Cambé, Paraná. O diabetes mellitus foi determinado por meio do autorrelato, uso de hipoglicemiantes ou glicemia em jejum alterada e a hipertensão arterial pelo autorrelato e uso de medicamentos não específicos, uso de medicamentos específicos ou aferição da pressão arterial. Resultados: A prevalência de hipertensão foi de 56,4%, desses 70,7% reconheciam, entre os que reconheciam 83,8% tratavam e dos que tratavam 38,4% estavam com os níveis pressóricos normais. Quanto ao diabetes, a prevalência encontrada foi de 13,7%, dos quais 65,2% conheciam a condição, destes 88,4% tratavam e entre os que tratavam 34,2% estavam com os valores da glicemia em jejum abaixo de 126mg/dl. Os fatores associados ao reconhecimento da hipertensão foram não exercer atividade ocupacional (p=0,003), não consumir álcool de maneira excessiva (p=0,047), utilizar a Unidade Básica de Saúde (p=0,005), consultar o médico (p<0,001), ser obeso (p=0,005) e ter diabetes (P<0,001). Considerações finais: Os resultados indicam alta prevalência de hipertensão arterial e elevada frequência de tratamento medicamentoso entre os que reconhecem. Porém, apontam a necessidade de estratégias voltadas para melhorar o reconhecimento da hipertensão e do diabetes e principalmente do controle entre os que tratam, no sentido de aumentar o impacto das ações de saúde na qualidade de vida e na ocorrência de eventos cardiovasculares na população.
Violência escolar contra professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina: caracterização e fatores associados
Francine Nesello, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 30/04/2014
O objetivo deste estudo foi caracterizar manifestações de violência escolar contra professores e verificar fatores associados a esses eventos. Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo transversal. A população de estudo foi composta por 789 professores das 20 maiores escolas da Rede Estadual de Ensino do município de Londrina, que atuavam no ensino fundamental ou médio por pelo menos um ano. Foram obtidas informações por entrevistas e por um questionário autorrespondido, no período de agosto de 2012 a junho de 2013. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi Info versão 3.5.4 e tabulados usando o programa Statistical Package for the Social Sciences, versão 19.0. A análise descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e de dispersão. Realizou-se regressão de Poisson pelo método forward, com cálculos de razão de prevalência e intervalo de confiança de 95% para cada um dos grupos de violência relatada (psicológica, física e sexual), tendo como variáveis independentes características sociodemográficas e do trabalho. Dos professores entrevistados, 71,1% relataram ter sofrido algum tipo de violência na escola nos 12 meses anteriores à pesquisa. A forma de violência mais relatada foram insultos e gozações de alunos (55,4%), seguidos de ameaças (21,4%) e exposição a situações humilhantes ou constrangedoras por colegas ou superiores (17,5%). As formas menos mencionadas foram agressões (ocorridas ou tentativas) físicas (7,9%), com armas brancas (0,8%) ou de fogo (0,5%). Entre os grupos de violência, a psicológica foi a mais frequentemente reportada (64,1%) e associou-se, após ajustes, à total ou parcial falta de realização profissional e ao relacionamento ruim ou regular com superiores e alunos. O grupo de violência física (8,4%) apresentou associação com as variáveis: lecionar para o nível fundamental, ter contrato do tipo não estatutário com o Estado e já ter sofrido violência fora da escola. Por fim, a violência sexual (14,1%) associou-se às características ser do sexo masculino, mais jovem (< 35 anos), não ter companheiro e ter carga horária elevada com alunos (≥ 32 horas). Os fatores associados à violência psicológica e física estão mais relacionados às características do trabalho, enquanto que aqueles associados à violência sexual, mais às características sociodemográficas. Essas características podem ser expressão das condições concretas de trabalho e de vida dos professores estudados e revelam um perfil de docentes mais vulneráveis à violência, que muitas vezes extrapola o ambiente escolar.
Prevalência e Fatores Associados à Dor Crônica em Professores da Rede Estadual de Londrina-PR
Alessandra Domingos Silva, Arthur Eumann Mesas, Mara Solange Gomes Dellaroza
Data da defesa: 16/05/2014
A sobrecarga do trabalho docente, marcada por longas jornadas de permanência em pé, muitas vezes em posturas inadequadas, somada a aspectos psicossociais desfavoráveis da atividade, podem predispor os professores à dor crônica, condição que interfere na qualidade de vida e do trabalho. Diante disso, o objetivo deste estudo foi caracterizar os professores da rede estadual de Londrina em relação à ocorrência de dor crônica, ou seja, que ocorre há 6 meses ou mais, e analisar sua associação com fatores sociodemográficos, de estilo de vida e de saúde, além de características profissionais. Os dados utilizados foram obtidos no estudo transversal PRÓ-MESTRE, cuja população constituiu-se por professores do ensino fundamental e médio das 20 escolas com maior número de professores da rede estadual de ensino da cidade de Londrina, entrevistados no período de agosto de 2012 a junho de 2013. Entre os 964 professores incluídos, 42,6% referiram dor crônica. A prevalência foi maior entre as mulheres, professores viúvos/divorciados/separados, que assistiam televisão por mais tempo durante a semana, inativos no tempo livre, com relato de maior esforço físico em casa e no trabalho, com pior qualidade do sono, obesos, e que referiram ter diagnóstico de depressão, ansiedade ou de alguma doença musculoesquelética. Quanto aos fatores relacionados ao trabalho, associaram-se à dor crônica o maior tempo de atuação na profissão, tipo de contrato estatutário, absenteísmo por problemas de saúde nos últimos 12 meses, e a menor capacidade referida para o trabalho. Quando comparadas as associações segundo o gênero, apenas entre as mulheres observou-se associação entre dor crônica e situação conjugal, maior tempo assistindo televisão, inatividade física, maior esforço físico no trabalho, obesidade, maior tempo de profissão, tipo de contrato estatutário, maior carga horária semanal de trabalho docente e menor capacidade geral e física para o trabalho. A prevalência de dor crônica foi considerada elevada entre professores. Ainda que o desenho transversal não permita estabelecer relação causal entre a dor crônica e os fatores associados, tais características podem subsidiar a elaboração de estratégias para a redução da incidência e do impacto da dor crônica em professores, seja mediante orientações de estilo de vida ou adequações nas condições de trabalho.
Prevalência de obesidade e fatores associados em adultos de 40 anos e mais: estudo de base populacional
Daniele Gonzales Bronzatti Siqueira, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 26/05/2014
Introdução: O excesso de peso, especialmente a obesidade, é um problema de saúde pública, pelo aumento crescente da prevalência na população e sua associação com outros agravos como as doenças cardiovasculares e metabólicas que diminuem a qualidade e a expectativa de vida das pessoas. Certas características relacionadas ao estilo de vida e às condições sociodemográficas relacionam-se ao ganho excessivo de peso em todas as fases do curso de vida. Objetivos: Verificar a prevalência de excesso de peso global e abdominal e os fatores associados à obesidade abdominal (OA) em adultos a partir de 40 anos de idade. Métodos: Estudo transversal de base populacional parte de um projeto mais abrangente (VIGICARDIO), realizado no município de Cambé (PR), com indivíduos de 40 anos ou mais de idade, residentes em todos os setores censitários urbanos. O peso (kg), a altura (m) e a circunferência da cintura - CC (cm) foram aferidos no momento da entrevista no domicílio. O excesso de peso global foi definido pelo índice de massa corporal (IMC) ≥ 25 kg/m² e a obesidade global (OG) como IMC ≥30 kg/m². O excesso de peso abdominal foi definido como CC ≥80 cm para mulheres e CC ≥ 94 cm para homens e a OA definida como CC ≥88 cm para mulheres e CC ≥102 cm para homens. Na análise dos fatores associados o desfecho foi a obesidade abdominal. A análise foi realizada para cada sexo, por meio da regressão de Poisson hierarquizada baseada em modelo teórico conceitual, com seleção de variáveis distais (sociodemográficas), intermediárias (hábitos de vida) e proximais (condições de saúde). Resultados: A prevalência de excesso de peso global na população foi de 68,3%, sendo 30,0% de OG. Para o excesso de peso abdominal observou-se prevalência de 73,3% sendo 49,7% de OA. Maiores prevalências de excesso de peso, tanto global quanto abdominal, foram observadas nas mulheres e a de OA foi mais que o dobro da verificada entre os homens (RP = 2,29 – IC 95% 1,98-2,65). A prevalência de OA aumentou com a idade para ambos os sexos. As variáveis que permaneceram associadas à OA, após ajuste, foram a inatividade física no lazer, idade e hipertensão arterial em ambos os sexos. Classe econômica, tabagismo e diabetes associaram-se à OA apenas entre as mulheres. Conclusão: As altas prevalências de excesso de peso global e abdominal para ambos os sexos, mais elevadas entre as mulheres, assim como a presença de alguns fatores associados distintos entre os sexos, evidenciam a necessidade de ações diferenciadas de enfrentamento. Reitera-se a importância do acompanhamento do estado nutricional na rotina do serviço de saúde por meio de avaliação das medidas antropométricas, contribuindo para a identificação precoce e suspeição de outros agravos, o que permite ao profissional de saúde intervir adequadamente.
Implantação dos Núcleos de Apoio a Saúde da Família: atuação da equipe gestora da atenção básica
Paula Roberta Rozada Volponi, Mara Lúcia Garanhani, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 29/05/2014
Os desafios a serem superados pela Atenção Básica (AB) exigem mudanças substantivas nas práticas de cuidado e nos modos de gerir em saúde, que sejam capazes de dialogar com as perspectivas democráticas e participativas da reforma sanitária brasileira e com a integralidade do cuidado. Assim, o presente estudo tem como objetivo compreender o processo de implantação do Núcleo de Apoio a Saúde da Família - NASF relacionado às ações dos gestores da AB e sua potencialidade em constituir-se como um processo de mudança. Trata-se de um estudo com uma abordagem qualitativa, de caráter compreensivo. Foi realizado junto aos gestores alocados em cargos oficiais na Diretoria de Atenção Primária a Saúde de um município de grande porte, sede de uma das Regionais de Saúde do Paraná. Os instrumentos metodológicos escolhidos para a coleta das informações foram a observação participante e a entrevista, realizados em um período entre outubro de 2012 a abril de 2013. Utilizou-se um roteiro aberto para a observação, as quais foram registradas em um diário de campo. Realizou-se 15 entrevistas do tipo semi-estruturada, analisadas por meio da análise de conteúdo. Os resultados revelaram uma equipe gestora atuando em um cenário político conturbado, com impactos na estruturação das equipes de ESF e NASF, e na sua forma de gerir, fazendo com que esforços fossem centrados na reorganização das estruturas organizacionais, na manutenção e ampliação do número de equipes, na diminuição da rotatividade profissional, nas capacitações profissionais e na construção/implementação de protocolos. Diversas características individuais foram apresentadas, e se relacionaram aos modos de gerir destes gestores. Modos estes, que ora se aproximavam de práticas gerenciais hegemônicas, ora relacionavam-se a práticas gerenciais contra-hegemônicas, com iniciativas em uma perspectiva de gestão contemporânea participativa. Evidenciou-se que prevalece o desejo pelo apoio matricial (AM) na dimensão assistencial. O NASF se constituiu em um dispositivo com potencialidade de instituir mudanças nos processos de trabalho e na produção do cuidado. Juntamente com os arranjos instituídos a partir dele, foram, em alguns momentos, capazes de cumprir seu papel, por interrogar os processos de trabalho e as produções do cotidiano e por trazer novas disputas para o cenário. Nesse sentido, acreditamos que a gestão deva investir esforços nos espaços relacionais, com capacidade de abrir-se para uma escuta ativa, de desvelar o que se está oculto, de reconhecer o conflito, a tensão e a subjetividade. As efetivações necessárias ao processo de mudança não se darão sem a aproximação e diálogo nas diversas esferas políticas, sem o distensionamento das disputas de poder e a criação de dispositivos capazes de construir novas práticas, a fim de alcançar a integralidade do cuidado.
Processo de trabalho do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e o desenvolvimento matricial para a produção do cuidado
Kátia Santos de Oliveira, Regina Melchior, Rossana Staevie Baduy
Data da defesa: 29/05/2014
A Atenção Básica (AB) tem a Saúde da Família como estratégia prioritária para a expansão e a consolidação da atenção à saúde no Brasil. Embora considerada de baixa complexidade tecnológica, as necessidades de saúde trazidas pelos usuários são extremamente complexas. Diante dessa complexidade e a fim de alcançar a integralidade da atenção e a interdisciplinaridade das ações, foi proposta pelo Ministério da Saúde a implantação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), para atuar junto às equipes de saúde da família (eSF), com o intuito de transpor a lógica hegemônica e fragmentada do cuidado à saúde. O NASF é constituído por equipes, com profissionais de diferentes áreas, que devem utilizar ferramentas, como o apoio matricial, para oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnicopedagógico às eSF. No entanto, esse é um processo em construção, que demanda mudanças de práticas de todos os profissionais envolvidos em sua implementação. Este estudo teve o objetivo de compreender como vem se estruturando o processo de trabalho do NASF no município de Londrina e, em especial, como vem se dando o desenvolvimento do apoio matricial para a produção do cuidado em saúde. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, com uma equipe NASF do referido município, integrada por profissional de educação física, farmacêutico, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo. Os instrumentos de investigação foram a observação, o grupo focal e a análise documental, colocados em prática de setembro de 2012 a fevereiro de 2013. Para análise do material, foram utilizados referenciais teóricos de textos oficiais, relacionados ao trabalho do NASF, abrangendo apoio matricial, cuidado em saúde, trabalho em equipe e outros temas que surgiram durante a análise. Os resultados foram organizados em três principais categorias: 1. Organização do trabalho da equipe NASF; 2. Apoio Matricial: concepções, modos de produção, ferramentas e estratégias utilizadas pela equipe NASF; e 3. Atividades desenvolvidas pelo NASF. Na primeira categoria, foi descrito o processo vivenciado pelos profissionais do NASF para se inserir na rotina de trabalho da Unidade Básica de Saúde (UBS); as tensões existentes no cotidiano do trabalho do NASF na AB e as possibilidade de intercessão entre NASF e eSF, para o desenvolvimento do trabalho em equipe. Na segunda categoria, foram descritas as ferramentas utilizadas pelos profissionais do NASF para desenvolver o apoio matricial, destacando-se a necessidade de encontro entre os profissionais, propiciado pela criação da reunião de matriciamento, realizada uma vez por mês em cada unidade de atuação dessa equipe. Na reunião de matriciamento, baseada na discussão de casos, planos terapêuticos eram elaborados e assumidos como responsabilidade dos profissionais do NASF, havendo pouca apropriação desse espaço pelos profissionais da eSF. A terceira categoria descreve a organização do trabalho do NASF. Baseada em atividades centradas nos núcleos profissionais, a partir da realização de atendimentos individuais, e mesmo de atividades coletivas, eram determinadas pelas categorias profissionais que se responsabilizavam por sua condução. Na relação NASF e eSF predomina a lógica do encaminhamento, não havendo, na maioria das vezes, desenvolvimento conjunto das atividades. Com isso, a produção do cuidado mostrou-se fragmentada, representando um obstáculo a ser vencido pelas novas práticas. Há necessidade de apropriação da ferramenta do apoio matricial por parte dos trabalhadores, para ensejar um movimento em que profissionais das UBS e da equipe NASF atuem com corresponsabilidade, a fim de atingir a integralidade do cuidado em saúde, a partir de ações interdisciplinares voltadas, principalmente, às demandas e necessidades trazidas pelos usuários.
Condutas alimentares e fatores associados em professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina-PR
Ana Luísa Dias, Arthur Eumann Mesas, Alberto Duran González
Data da defesa: 30/05/2014
A profissão docente é reconhecida por sua importância na formação da sociedade, porém vem sofrendo grande desvalorização, caracterizando-se como profissão de ritmo acelerado e estressante e, em alguns casos, de pluriemprego, resultando em menos tempo para questões relacionadas à saúde como alimentação, atividade física, sono e lazer. Nesse contexto, evitar certas condutas alimentares não recomendadas e adotar outras condutas tidas como recomendadas pode ser difícil tarefa no cotidiano de professores. Vista a importância social e escassez de trabalhos que estudem as características do perfil das condutas alimentares adotadas por essa população, objetivou-se caracterizar as condutas alimentares de professores de Escolas Estaduais de Londrina, Paraná, e os fatores associados. Realizou-se estudo transversal com todos os professores atuantes nas 20 escolas estaduais com maior número de professores de Londrina. Informações foram coletadas por meio de entrevista individual que incluiu questões sobre alimentação, atividade física, hábitos de vida, aspectos sociodemográficos e condições de trabalho. Os dados foram analisados de forma descritiva e as associações estudadas mediante regressão logística multinomial não ajustada para estimação das odds ratio. Foram incluídos 978 professores, com 68,5% do sexo feminino e média de idade (± desvio padrão) de 41,5 ± 10 anos, variando de 19 a 68 anos. Quatro em cada dez professores atuavam em dois vínculos empregatícios, a média de carga horária semanal total de trabalho foi de 37 horas e 54 minutos, e a maior parte (42,0%) atuava de 40 a 49 horas semanais. Em relação às condutas alimentares, verificou-se que grande parte dos professores adotava condutas não recomendadas com média frequência, variando de 40,6% (comer assistindo televisão ou em frente ao computador) a 58,0% (comer salgadinhos ou doces entre as refeições principais). Quanto às condutas alimentares recomendadas, uma considerável parcela dos entrevistados as adotava com alta frequência (sempre ou diariamente), variando de 44,9% (consumir frutas) a 60,0% (retirar a pele da carne de frango). Com relação aos fatores associados, observou-se que, de maneira geral, professores com até 50 anos de idade e que referiram consumo de álcool apresentaram menor chance de adotar condutas alimentares recomendadas e maior chance de seguir condutas não recomendadas quando comparado com professores com idade acima de 50 anos e com os que não consumiam álcool, respectivamente. Concluiu-se que professores da Rede Estadual que atuam na educação básica referiram adotar com maiores frequências condutas alimentares que influenciem positivamente em sua saúde. Além disso, características sociodemográficas e de estilo de vida parecem ser fatores mais importantes para compreender o comportamento alimentar desses professores que as condições de trabalho.