Teses e Dissertações
REPERCUSSÕES DAS POLÍTICAS FEDERAIS NO TRABALHO DA GESTÃO DA APS EM MUNICÍPIOS DA MACRORREGIÃO NORTE DO PARANÁ
VIVIANE GRANADO BARREIRA DA SILVA, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 19/04/2024
A Constituição Federal e as normativas do Ministério da Saúde instituíram mecanismos para
descentralizar as políticas públicas de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), atribuindo
responsabilidades para cada esfera de governo. Nos últimos anos ocorreram mudanças
importantes Atenção Primária à Saúde (APS), porta de entrada preferencial para a atenção à
saúde do SUS, com a publicação da Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) 2017 e do
Programa Previne Brasil (PPB). Este estudo teve como objetivo analisar as alterações no
trabalho das equipes gestoras da saúde decorrentes da implantação das políticas públicas para
a APS, a partir de 2017, em nove municípios da macrorregião norte do Paraná. Trata-se de um
estudo de natureza qualitativa, e integra uma pesquisa maior denominada “Mudanças nas regras
de transferência de recursos federais do Sistema Único de Saúde: implicações e desafios para o
financiamento e a organização da Atenção Primária à Saúde no Brasil”. A seleção de nove
municípios se deu pela análise de indicadores de financiamento da saúde, visando contemplar
na seleção a diversidade de municípios da macrorregião norte do Paraná. As entrevistas,
ocorridas entre junho a setembro de 2022, foram realizadas presencialmente, nas secretarias de
saúde dos municípios, a partir de um roteiro semiestruturado, tendo como participantes os nove
gestores municipais de saúde e nove coordenadores da APS. A análise das entrevistas seguiu a
metodologia de análise de discurso. Os resultados foram organizados nas seguintes categorias:
características das equipes gestoras; apropriação e posicionamento dos gestores sobre as
políticas da APS; mudanças ocorridas no processo de trabalho e desafios encontrados frente à
essas mudanças. A maior parte dos municípios da pesquisa são de pequeno porte e as equipes
gestoras compostas pelos secretários de saúde e coordenadores da atenção básica, tendo o
predomínio de mulheres, na faixa etária de 36 a 51 anos. Verificou-se que sete gestores tinham
ensino superior completo, cinco deles com formação na área da saúde e seis possuíam até três
anos de atuação na área de gestão como secretário de saúde, apenas um gestor referiu não ter
experiência anterior na saúde. A coordenação da APS é composta por profissionais com ensino
superior em saúde, a maioria enfermeiras, sendo oito pós-graduadas, a maioria em saúde
coletiva, sete possuíam mais de quatro anos de atuação na coordenação da APS. Foram
identificados diferentes níveis de apropriação dos entrevistados a respeito das políticas da APS
a partir de 2017, evidenciando distintos entendimentos e a maioria demonstrou posicionamento
favorável às novas políticas. Foram relatadas mudanças nos processos de trabalho em saúde,
para o cadastramento da população no sistema e-SUS e para o monitoramento dos indicadores
do Previne Brasil. A implantação do prontuário eletrônico foi à mudança mais impactante, e
menos da metade dos municípios pesquisados optaram por adotar o sistema público (e-SUS),
principalmente devido à falta de suporte técnico do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual
de Saúde. Também se constituem em desafios: funcionários mais antigos com dificuldades em
lidar com sistemas eletrônicos e municípios com áreas rurais muito extensas e sem acesso à
internet. O referencial teórico utilizado possibilitou a análise das repercussões da implantação
de políticas públicas, como a PNAB e o PPB, no trabalho das equipes gestoras, considerando
como as responsabilidades estão sendo compartilhadas, como a cooperação entre os entes está
sendo promovida ou desafiada, bem como a falta de suporte técnico pode criar obstáculos
institucionais.
A ESTRATÉGIA APOIADOR COSEMS E A REDE COLABORATIVA NO SUS
MARINA SIDINEIA RICARDO MARTINS, João Felipe Marques Silva, Brigida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 03/04/2024
O Projeto Apoiadores/Rede Colaborativa, é uma iniciativa que contribui para o
fortalecimento da gestão municipal e regionalização no SUS. Apesar de possuir
diretrizes de uma rede nacional, a organização e funcionamento do Projeto
Apoiadores/Rede Colaborativa é diferente em cada um dos estados da federação.
Nesse sentido, apoiado às contribuições dos referenciais do federalismo brasileiro e
do apoio institucional, essa pesquisa tem como objetivo analisar o processo de
implementação do Projeto Apoiadores – Rede Colaborativa para Fortalecimento da
Gestão Municipal do SUS, no Brasil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
desenvolvida nos vinte e seis estados da federação. A coleta de dados deu-se em
duas etapas: a primeira baseou-se em análise documental e a segunda se deu por
meio de formulário eletrônico (google forms®) com questões fechadas e abertas
aplicados aos coordenadores de apoio dos Conselhos de Secretarias Municipais de
Saúde (Cosems), sujeitos da pesquisa. Utilizou-se da técnica de análise do conteúdo
para a etapa de investigação documental e, o software Office Excel®, para o
tratamento dos dados obtidos pelo questionário eletrônico. Os resultados apresentam
o percurso histórico da implantação do projeto apoiadores no Brasil – Estratégia
Apoiador Cosems (EAC), nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de
Janeiro; e análise das principais peculiaridades do apoio institucional no Brasil. Entre
elas destacam-se: a implementação da EAC nos estados como um fator relevante
para o fortalecimento dos Cosems; a precarização nas relações de vínculo trabalhista
dos apoiadores; a importância da EPS para a atuação prática do apoio e sua
formação; e, a necessidade do monitoramento e avaliação da EAC nos estados.
DOR MUSCULOESQUELÉTICA CRÔNICA EM USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DE SEIS MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE DO ESTADO DO PARANÁ: CARACTERIZAÇÃO, FATORES ASSOCIADOS E TRATAMENTO
LETÍCIA TAYNARA TSUZUKI, Mathias Roberto Loch, Paulo Henrique Araújo Guerra
Data da defesa: 28/02/2024
A dor musculoesquelética crônica é caracterizada como uma dor persistente que afeta diretamente o(s) osso(s), articulação(ões), músculo(s) ou tecido(s) mole(s) relacionado(s). O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de dor musculoesquelética crônica em usuários da Atenção Primária à Saúde (APS) em municípios de pequeno porte do estado do Paraná e seus fatores associados. Foi realizado um estudo transversal, de amostragem intencional, no qual foram realizadas 1878 entrevistas com usuários com ≥ 18 anos, da APS de seis municípios com menos de 20 mil habitantes no Paraná. Para identificar os usuários com dor musculoesquelética crônica, foi realizada a pergunta: “Você sente algum tipo de dor muscular há seis meses ou mais?”, caso a resposta fosse positiva, havia questões para caracterização da dor. Variáveis sociodemográficas e de saúde foram consideradas variáveis independentes. Para a análise descritiva, usou-se a frequência absoluta e relativa, razões de prevalência (RP) brutas e ajustadas foram obtidas mediante regressão de Poisson com variância robusta. A prevalência de dor musculoesquelética crônica foi de 55,8%. Considerando as análises ajustadas, observou-se maior prevalência entre as mulheres (RP=1,30; IC=1,17-1,43), entre os sujeitos com 25 a 39 anos (RP=1,25; IC=1,01-1,55), com 40 a 59 anos (RP=1,80; IC=1,46-2,21) e com mais de 60 anos (RP=2,12; IC=1,69-2,66) em comparação aos de 18 e 24 anos, em usuários com ensino superior e especialização (RP=0,72; IC=0,61-0,84) a razão de prevalência foi menor, em comparação aos usuários com até o nível fundamental incompleto. Ademais, observou-se associação com autopercepção negativa de saúde (RP=1,51; IC=1,38-1,64), diagnóstico de hipertensão (RP=1,16; IC=1,06-1,26), diabetes (RP=1,19; IC=1,08-1,30), hipercolesterolemia (RP=1,10; IC=1,01-1,21), doenças reumáticas (RP=1,41; IC=1,31-1,53) e depressão (RP=1,28; IC=1,18-1,39). Apresentam alta prevalência de dor moderada ou intensa (84,9%) e a dor interferia de maneira moderada ou extrema nas atividades diárias de 72,7%. A região lombar foi a apontada como sendo o local mais frequente de dor com maior prevalência (22,5%). Os resultados indicam alta prevalência de dor crônica nos usuários da APS dos municípios de pequeno porte investigados, portanto, é necessário a promoção de ações e políticas públicas voltadas as especificidades desses municípios
DESIGUALDADES NO CONSUMO DE FRUTAS E HORTALIÇAS SEGUNDO CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS E ESPACIAIS: ESTUDOS COM AMOSTRAS REPRESENTATIVAS DA POPULAÇÃO ADULTA BRASILEIRA
NATHALIA ASSIS AUGUSTO, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 23/02/2024
Objetivo: Verificar fatores socioeconômicos e espaciais relacionados ao consumo de
frutas e hortaliças (CFH) na população adulta brasileira, mediante dois objetivos
específicos: 1. Analisar a relação entre o espaço geográfico urbano (capital, região
metropolitana (RM) e interior) e o consumo regular de frutas e hortaliças no Brasil. 2.
Analisar as desigualdades no CFH em adultos brasileiros a partir da intersecção de
diferentes exposições a marcadores sociais relativos à gênero, raça/cor, renda e
escolaridade. Métodos: Foram produzidos dois artigos científicos observacionais e
em delineamento transversal, com dados de adultos (≥18 anos) da Pesquisa Nacional
de Saúde de 2013 (n=60.202) e de 2019 (n=88.531), para o primeiro e segundo artigo,
respectivamente. 1. No primeiro artigo o desfecho foi o consumo regular de fruas
(CRF) e o consumo regular de hortaliças (CRH), considerando como variável
independente o espaço geográfico urbano dividido em três categorias: capital, RM e
interior. Para verificar a associação entre as variáveis foi realizada regressão logística
com cálculo do Odds Ratio (OR) e Intervalo de Confiança 95% (IC95%) bruto e
ajustado. 2. No segundo artigo o desfecho foi o CFH irregular, considerando como
variável independente a intersecção dos marcadores sociais da diferença: sexo,
raça/cor, renda e escolaridade. Para verificar a associação entre as variáveis foi
realizada regressão logística com cálculo do OR e IC95% bruto e ajustado.
Resultados: 1. O CRF foi menor na RM e no interior quando comparados à capital,
tanto entre as mulheres (RM: OR= 0,83; IC95%: 0,73-0,94; interior: OR= 0,68; IC95%:
0,61-0,76), quanto entre os homens (RM: OR= 0,84; IC95%: 0,75-0,93; Interior: OR=
0,78; IC95%: 0,71-0,85), o mesmo ocorreu na maioria dos subgrupos de
características socioeconômicas. Não houve associação do CRH com o espaço
geográfico urbano de maneira geral, e nos subgrupos os resultados foram
divergentes. 2. A prevalência do CFH irregular foi 38,1% no grupo de menor risco
(mulheres brancas com maior renda e maior escolaridade), seguido por 47,5% no
grupo com uma categoria de risco, 57,9% com duas categorias de risco, 67,6% com
três categorias de risco e 74,4% no grupo de maior risco (homens negros com menor
renda e menor escolaridade). O grupo de maior risco apresentou 4,36 (3,86-4,92)
vezes maior chance de CFH irregular. Conclusão: Os resultados mostram que, no
geral, foram encontradas associações significativas entre o espaço geográfico urbano
e o CRF, porém não para o CRH; e associações significativas entre a intersecção de
marcadores sociais da diferença e o CFH irregular. É possível perceber o caminho
complexo a ser enfrentado para a promoção do CRFH na população brasileira, com a
necessidade de políticas intersetoriais voltadas para redução de iniquidades.
PREVALÊNCIA DO USO DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES POR USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DE SEIS MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE DO ESTADO DO PARANÁ
GRASIELE SASTRE GRÉGIO PREVALÊNCIA, Mathias Roberto Loch, Milena Zanoni da Silva
Data da defesa: 28/02/2024
Introdução: As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) contemplam uma
variedade de recursos terapêuticos e racionalidades médicas não convencionais. Essas práticas
integram os serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e têm na atenção primária
à saúde o local preferencial para sua inserção. Objetivo: Investigar a prevalência e identificar
os fatores associados ao uso das PICS entre usuários da atenção primária à saúde de municípios
de pequeno porte do estado do Paraná. Métodos: Estudo transversal descritivo e quantitativo,
com dados coletados por entrevistadores previamente treinados. Foram convidados a responder
o questionário pessoas que aguardavam por atendimento em unidades de atenção primária à
saúde dos municípios selecionados. Consideraram-se três variáveis dependentes: uso geral das
PICS, uso de plantas medicinais/fitoterapia e uso de PICS exceto plantas medicinais/fitoterapia.
Fatores sociodemográficos, comportamentais e de saúde foram as variáveis independentes.
Realizou-se a análise descritiva dos dados, e verificaram-se as associações por meio do teste
Qui-quadrado de Pearson, com significância estatística 5% (p-valor < 0,05) e regressão de
Poisson com variância robusta, IC 95% e p-valor < 0,05. Resultados: A amostra foi composta
por 1.878 pessoas. A prevalência de uso geral das PICS foi de 51,2%; de plantas
medicinais/fitoterapia, 45,7%; e de PICS exceto plantas medicinais/fitoterapia, 14,7%. Destas,
as mais prevalentes foram meditação (6,2%) e auriculoterapia (2,9%). A análise ajustada para
o uso geral das PICS demonstrou maior prevalência entre pessoas do sexo feminino (RPa= 1,20,
IC95%: 1,07-1,34), com 40 anos ou mais (40 a 59 anos, RPa= 1,35, IC95%: 1,11-1,65; ≥ 60
anos, RPa= 1,50, IC95%: 1,20-1,88), brancas ou amarelas (RPa= 1,20, IC95%: 1,08-1,33), com
ensino superior completo (Rpa= 1,17, IC95%: 1,02-1,35), que praticavam atividade física no
tempo livre (Rpa= 1,27, IC95%: 1,17-1,38), que realizaram consulta com profissional de saúde
(não médico) (Rpa= 1,26, IC95%: 1,12-1,41), que receberam visita domiciliar (Rpa= 1,18,
IC95%: 1,07-1,29), com diagnóstico de neoplasia (Rpa= 1,21, IC95%: 1,02-1,44) e presença
de dor crônica musculoesquelética (Rpa= 1,25, IC95%: 1,13-1,38). Em relação ao uso de
plantas medicinais/fitoterapia, observaram-se as mesmas associações, exceto para escolaridade.
Quanto ao uso de PICS exceto plantas medicinais, houve maior prevalência nas pessoas com
25 anos ou mais (25 a 39 anos RPa= 1,78, IC95%: 1,13-2,81; 40 a 59 anos, RPa= 1,84, IC95%:
1,15-2,96; ≥ 60 anos, RPa= 1,83, IC95%: 1,03-3,25), maiores níveis de escolaridade (médio
completo, RPa= 2,03, IC95% 1,45-2,85; superior completo, RPa= 3,70, IC95%: 2,59-5,27), que
praticavam atividade física no tempo livre (RPa= 1,44, IC95%: 1,16-1,80) e que realizaram
consulta com profissional de saúde (não médico) (RPa= 1,40, IC95%: 1,02-1,91). Conclusão:
Os resultados demonstraram que cerca de metade dos usuários investigados referiram uso de
pelo menos uma PICS, sendo plantas medicinais/fitoterapia a prática com prevalência bastante
superior às demais. O uso das PICS foi maior entre pessoas do sexo feminino, com 40 anos ou
mais, com ensino superior completo, que praticavam atividade física no tempo livre, que
realizaram consulta com profissional da saúde, que receberam visita domiciliar, que referiram
diagnóstico de neoplasia e com dor crônica musculoesquelética.
CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇÃO BÁSICA: PRODUÇÃO DE UM CORPO CARTOGRÁFICO
EMILLY PENNAS MARCIANO MARQUES, Regina Melchior
Data da defesa: 21/02/2024
Os cuidados paliativos podem ser definidos como um cuidado integral aos indivíduos frente a uma doença grave com ameaça da continuidade da vida, objetivando o alívio do sofrimento biopsicossocial e espiritual para melhora da qualidade de vida do indivíduo e seus familiares. Não estamos falando sobre a possibilidade de cura ou não, mas do cuidado na finitude, considerando a morte como parte da vida. Trata-se da conexão entre a ciência e a humanidade, da integralidade do cuidado sob todas as suas dimensões, centrado no usuário e respeitando sua autonomia. O trabalho em saúde é em fundamento coletivo e os cuidados paliativos colocam em evidência essa característica e apresenta inúmeros desafios. É uma situação delicada, de nossa finitude, que é um tema sensível tanto para os trabalhadores como para os usuários, para que se alcance e promova o apoio e conforto necessário, decompondo o ordinário e compondo-se do singular. Por se tratar de um processo eminentemente longitudinal, os CP guardam estreita relação com a Atenção Básica (AB), que tem como uma de suas características acompanhar seus usuários na horizontalidade de seus cuidados, No entanto, o CP muitas vezes é compreendido como uma especialidade ou uma assistência restrita ao âmbito hospitalar, o que o coloca de certa forma distante da AB ou apenas alvo de ações pontuais. Assim, os usuários em cuidado paliativo frequentemente enfrentam um vazio assistencial, com dificuldades de acesso e de um cuidado realizado em rede. Desta maneira, o objetivo desta pesquisa foi cartografar a produção dos cuidados paliativos na AB e dar visibilidade às possibilidades e barreiras para sua produção. Para isso, recorremos a cartografia como intercessor metodológico, que possibilitou o tracejo de mapas da produção viva do trabalho e do cuidado em seu espaço micropolítico, por meio da estratégia do usuário-guia, que é como um fio condutor nos guiando pela rede de cuidado. A pesquisa aconteceu de dezembro de 2022 à maio de 2023, em uma unidade básica de saúde do município de Londrina. Durante essa cartografia, foi possível observar que o cuidado paliativo está presente, mesmo que não intencionalmente no território e de alguma forma alguns usuários entraram na linha de produção do cuidado da AB. Outros tiveram suporte familiar, especialmente no luto e apesar de algumas ofertas de suporte da Unidade Básica de Saúde, alguns usuários não foram alcançados pelo cuidado da equipe. Nos encontros com os usuários, foi possível observar o quão reconfortante é, a segurança que traz para a família e para o usuário, ter sua rede de cuidados organizada, saber quando e para onde vai se algo acontecer. Sobre o Processo de Trabalho, os trabalhadores enfrentam diversos atravessamentos que endurecem a produção do cuidado enquanto trabalho vivo. Conversas com os trabalhadores nos deram pistas dessa captura e algumas repercussões das forças biopolíticas e mercadológicas que operam em uma lógica de linha de produção no processo de trabalho dos serviços de saúde, que frequentemente resultam em sobrecarga aos trabalhadores que desejam ofertar uma boa assistência, mas não conseguem pois são interceptados pelo modelo hegemônico compartimentalizado do cuidado. Diante disso, nossas conclusões tornam-se provisórias, uma vez que o trabalho em saúde é um processo intensamente relacional e orgânico, mas marcado por apostas e disputas de projetos mais ou menos produtores de vida. Os trabalhadores podem ser dispositivos potentes para disputar outras agendas e modos de cuidado, que problematizam e dão visibilidade às múltiplas possibilidades de arranjos, no entanto, enfrentam diariamente um grande desafio com a falta de recursos, perda de integrantes da equipe por diversos motivos, dificuldade do cuidado compartilhado com outros serviços e pontos da rede e a grande demanda gerencial e territorial, gerando sobrecarga e adoecimento da equipe. É de extremamente importante e urgente que haja espaços que possibilitem a reflexão da prática e das apostas feitas no espaço micropolítico que ocupamos, que sejam investidas forças e recursos financeiros, institucionais, políticos, processuais ou não, sejam eles governamentais ou instituído pelas próprias equipes na disputa de uma AB mais forte.
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM UNIVERSITÁRIOS: ANÁLISE DIMENSIONAL DO PATIENT HEALTH QUESTIONNAIRE-9 (PHQ-9) E ESTUDO DE MEDIADORES NA ASSOCIAÇÃO COM O TEMPO DE USO DE MÍDIAS SOCIAIS
JESSICA VERTUAN RUFINO, Camilo Molino Guidoni , Renne Rodrigues
Data da defesa: 27/02/2024
A depressão é considerada um importante problema de saúde pública e está frequentemente associada ao uso de mídias sociais. Devido às particularidades do ambiente acadêmico e ao crescente uso das mídias sociais, principalmente nessa população, os universitários constituem um grupo de risco para esse transtorno. Dessa forma, é importante aprofundar o conhecimento acerca de ferramentas para o rastreamento de sintomas depressivos, tais como o Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9), assim como, estudar possíveis mediadores dessa associação. Nesse sentido, o presente estudo objetivou identificar a estrutura dimensional mais adequada do PHQ-9 para identificação dos sintomas depressivos e estudar possíveis mediadores na associação entre o tempo de uso de mídias sociais e sintomas depressivos em universitários. Trata-se de um estudo epidemiológico de abordagem quantitativa. A população foi composta por estudantes de graduação regularmente matriculados no primeiro semestre de 2019 da Universidade Estadual de Londrina e a coleta de dados ocorreu no período de abril a junho de 2019, por meio de um questionário online. Para identificar a estrutura dimensional mais adequada do PHQ-9 foram realizadas análise fatorial exploratória (AFE) e análise fatorial confirmatória (AFC). A qualidade do ajuste dos modelos foi avaliada por meio do erro quadrático médio de aproximação (Root Mean Square Error of Approximation – RMSEA), do índice de ajuste comparativo (Comparative Fit Index – CFI) e do índice de Tucker-Lewis (Tucker-Lewis Index – TLI). Para o estudo de mediação, foram avaliados como possíveis mediadores, a dependência de mídias sociais (DMS) e a qualidade do sono (Pittsburgh Sleep Quality Index), na associação entre o tempo de uso de mídias sociais (TUMS) e os sintomas depressivos (Patient Health Questionnaire-9). A análise de mediação, ajustada por fatores de confusão, foi realizada por meio do software PROCESS, para SPSS, para obtenção do efeito total (c), direto (c’) e indiretos (EI1, EI2 e EI3). Os resultados da AFE evidenciaram dois modelos (unidimensional e bidimensional) com melhores índices para o modelo bidimensional. Na AFC, tanto o modelo unidimensional quanto o bidimensional apresentaram índices de ajuste satisfatórios, maiores para o modelo unidimensional. Na análise de mediação, os resultados identificaram associação entre o TUMS e os sintomas depressivos, mediada pela DMS (EI1 = 20,0%) e pela qualidade do sono (EI1 = 40,0%). O presente estudo evidenciou que o PHQ-9 apresenta boas propriedades psicométricas, sugerindo-se o uso de sua estrutura unidimensional para avaliação dos sintomas depressivos em universitários. Ainda, observou-se nessa população uma associação entre o TUMS e os sintomas depressivos, mediada pela DMS e pela qualidade do sono.
O AFETO PRESENTE NAS PRÁTICAS DE AUTOATENÇÃO E SEUS EFEITOS NA FORMAÇÃO DE UMA SAÚDE INTEGRATIVA
Milena Registro, Alberto Durán González
Data da defesa: 08/03/2024
Os processos de saúde e doença no Ocidente são sobretudo determinados pelo
modelo biomédico cartesiano de caráter hegemônico, responsável por induzir o que
se entende por atenção em saúde, atuando assim, como uma ferramenta de controle
social mediante à imposição de uma norma de bem-estar. A crítica a esse modelo
médico é necessária para não apenas expor as relações de poder que influenciaram
o curso histórico dos processos de saúde e doença, mas também para que
avancemos na discussão de saúde como um conceito ampliado e plural. Os processos
de saúde e doença são reflexos de sistemas culturais que contribuem para o
conhecimento da existência de outros modelos de atenção qualificados, e de outras
formas não institucionais de se produzir saúde. A existência de redes informais em
saúde apresenta-se nesta pesquisa enquanto práticas de autoatenção no
protagonismo de sujeitos e coletivos que buscam encontrar e criar soluções para suas
demandas de saúde, mediante sua própria realidade e subjetividade, guiando-se pelo
afeto que permite articular de maneira fluída diferentes dimensões epistemológicas e
práticas em prol dos seus desejos. O objetivo da pesquisa, portanto, é de
compreender e demonstrar como a autoatenção articula afetivamente distintas formas
de cuidado para a formação de uma saúde mais integrativa, tendo como local empírico
de estudo a associação comunitária Ciranda da Cultura em Londrina, Paraná. Tratase de um espaço autogestionado, sobretudo por mulheres e adolescentes, que
fornece e fomenta atividades cooperativas gratuitas à comunidade por meio do
trabalho em rede. Por meio de uma análise qualitativa etnográfica em colaboração à
metodologia cartográfica, realizaram-se encontros participativos com a intenção de
produzir mapas afetivos que ilustrassem as linhas de força e os movimentos de desejo
que dão forma ao que nomeio como Cirandas da Autoatenção. Como resultado
preliminar teve-se a concepção de que o afeto atua como potência dessas práticas
que, ao não evitar as subjetividades, extrapolam os limites protocolares dos modelos
de atenção formalizados, contribuindo para o rompimento de ciclos de dependência
diagnóstico terapêutica, assim devolvendo e produzindo autonomia às pessoas em
campos de força micropolítica. As considerações da pesquisa são de que a prática de
autoatenção encaminha a saúde para um cuidado não genérico, que se aproxima dos
fluxos de vida das pessoas como uma prática integrativa no reflexo de suas
necessidades e desejos.
ORGANIZAÇÃO DA GESTÃO DO TRABALHO NOS MUNICIPIOS E REPERCUSSÕES NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Pricila Felisbino, Brigida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 23/02/2024
Com a criação do SUS, o trabalho em saúde ganhou novos desafios e a Gestão do Trabalho
maior visibilidade. Visando analisar como está organizada a Gestão do Trabalho nos
municípios, quais as estratégias são desenvolvidas na APS, os tipos de vínculos e como isso
repercute na atuação dos profissionais, na percepção dos entrevistados e os desafios
enfrentados nessa área, realizou-se um estudo qualitativo, por meio de entrevistas com
equipes gestoras, em nove municípios da macrorregião norte do Estado do Paraná. Foram
entrevistados secretários municipais de saúde e coordenadores da Atenção Primária à Saúde
(APS), utilizando-se um roteiro semiestruturado, no período de julho a agosto de 2022. Os
resultados foram analisados por meio da análise de discurso, e apresentados em quatro
categorias: caracterização dos entrevistados; organização da Gestão do Trabalho, as
estratégias desenvolvidas pelos municípios; as modalidades de vínculos trabalhistas adotadas
na APS e sua influência na atuação dos profissionais e os desafios da Gestão do Trabalho. Os
resultados apontam que quase metade dos gestores (44%) não possuem formação superior ou
formação específica na área da saúde. A maioria deles (56%) possui carreira pública
municipal e dos nove municípios estudados, apenas dois possuem departamento de gestão do
trabalho, sendo eles os de grande porte. A maioria dos municípios utiliza uma ou mais
ferramentas de gestão do trabalho como: avaliação de desempenho, Educação Permanente em
Saúde (EPS) e Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS). Sobre as formas de admissão dos
profissionais, apesar da maioria ser contratado com vínculos estáveis, estatutário e
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), nota-se uma tendência de aumento de vínculos
precários, condição esta presente em todos os municípios, por meio de contratações
terceirizadas, por pessoa jurídica ou pessoa física e contratos temporários e, a categoria
médica é a mais apresenta vínculos precários. Apesar de não ser consenso, o contrato
temporário e terceirizado foram citados como vantajosos por diversos motivos como o fato do
profissional ser substituído com facilidade pela empresa e não entrar como índice na folha de
pagamento. Para os entrevistados há diferença na atuação do profissional dependendo do tipo
de vínculo que ele possui. Entre as vantagens estão, os concursados porque criam vínculo e
têm motivação profissional e podem assumir cargos de coordenação nos serviços. Entre as
desvantagens, após concluir estágio probatório, o profissional altera sua forma de atuação no
trabalho. Os contratos temporários foram considerados um problema e os entrevistados
reconhecem esta modalidade como de contratação precária uma vez que os profissionais se
sentem inseguros pela instabilidade no trabalho. Entre os desafios relacionados à Gestão do
Trabalho está a grande rotatividade dos profissionais e o não preenchimento de vagas por
concurso público, majoritariamente pelo profissional médico, a Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF) que dificulta para que os municípios realizem concursos públicos, além da
formação profissional e perfil dos profissionais inadequados para atuarem na APS. Os
achados da pesquisa reforçam que muitos são os desafios da Gestão do Trabalho na APS,
mesmo que o gestor seja comprometido e que tenha um setor especifico para de Gestão do
Trabalho, isso não é suficiente para mudar a situação da gestão dos trabalhadores. O maior
desafio se atribui adequar a força de trabalho às exigências do Sistema Único de Saúde (SUS)
e a necessidade de superar as barreiras econômicas, políticas, éticas e burocráticas para
garantir acesso integral à população usuária do SUS.
ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ÁLCOOL E ASPECTOS RELACIONADOS AO SONO
Rafaela Sirtoli, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 26/02/2024
O consumo de álcool permeia toda a história da humanidade, mas o uso nocivo desta
substância tem se associado a diversas alterações fisiológicas, como transtornos
relacionados ao sono. Embora muito tenha se investigado a respeito do tema, ainda
existem lacunas a respeito da influência de características biológicas e sociais em relação
a essa associação. Objetivo: Investigar a associação entre o consumo de álcool e o sono
em adultos. Métodos: tese de doutorado elaborada em modelo escandinavo, originando
dois artigos científicos como resultados. O primeiro artigo é uma revisão sistemática da
literatura com metanálise a respeito da associação entre cronotipo e consumo de álcool.
Realizou-se uma busca sistemática de estudos observacionais em cinco bases de dados:
PubMed, Scopus, Web of Science, Cochrane Library e PsycINFO. Modelos de efeitos
aleatórios foram utilizados para estimar a odds ratio conjunta (OR) e IC95% de consumo
de álcool de acordo com o cronotipo. A revisão foi elaborada de acordo com as
recomendações do Meta-analysis of Observational Studies in Epidemiology (MOOSE) e
do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). O
segundo artigo é um estudo quantitativo, com dados primários de três bancos de dados de
grupos de pesquisa do Brasil, Chile e Espanha. Modelos de regressão logística foram
elaborados para analisar de forma independente a associação entre risk of alcohol-related
problems (RARP) e qualidade e duração de sono nos bancos de dados dos três países.
Com base nos resultados dos modelos ajustados de cada país, os valores de cada OR e
seus respectivos IC95% foram transformados em escala logarítmica, para possibilitar o
cálculo da OR conjunta (p-OR) e IC95%. Resultados: No primeiro artigo, um total de 33
estudos envolvendo 28.207 indivíduos foram incluídos na revisão sistemática. De forma
geral, os indivíduos vespertinos apresentaram maior frequência e volume de consumo de
álcool, quando comparados aos indivíduos de outros cronotipos. Ainda, uma metanálise
de 13 estudos evidenciou que indivíduos com cronotipo vespertino apresentam uma
chance 41% maior de consumir álcool do que aqueles com outros cronotipos (OR: 1.41;
IC95%: 1.16–1.66). No segundo artigo, 1.830 estudantes foram incluídos na análise
(31,2% brasileiros, 42,2% chilenos e 26,6% espanhois). De forma geral, 25,0% dos
estudantes foram classificados com RARP intermediário, enquanto que 9,9%
apresentaram RARP alto. Na análise conjunta dos três países, RARP intermediário a alto
se mostrou associado a qualidade de sono subótima (p-OR: 1.24; IC95%: 1.00-1.52).
Frequência de consumo de álcool não se mostrou associada à qualidade ou duração do
sono. Conclusão: O cronotipo vespertino e uma qualidade subótima do sono estão
associados ao consumo de álcool. Acredita-se que, devido ao fato de pessoas com
cronotipo vespertino apresentarem uma menor quantidade e qualidade do sono, há um
aumento da impulsividade e da propensão ao risco, resultando na adoção de
comportamentos não saudáveis, e, dentre eles, o consumo de álcool. Em contrapartida,
indivíduos com risco de problemas relacionados ao álcool também apresentam uma
menor qualidade subjetiva de sono.