Organização do trabalho em uma Unidade de Urgência: percepção dos enfermeiros a partir da implantação do acolhimento com avaliação e classificação de risco
Fernanda da Silva Floter Godoy, Mara Lucia Garanhani
Data da defesa: 12/07/2010
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve por objetivos conhecer o trabalho de uma unidade de urgência após a implantação do Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco (AACR), as repercussões sobre o processo de trabalho do enfermeiro, os sentimentos vivenciados e as estratégias defensivas utilizadas por estes profissionais. Participaram da pesquisa dez enfermeiros de um hospital universitário localizado no interior do Estado do Paraná. A coleta de dados ocorreu nos meses de julho e agosto de 2009. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, que continham questões norteadoras fundamentadas no referencial teórico. Optou-se pela gravação em fita cassete e, em seguida, as falas foram transcritas na íntegra. Para a análise dos discursos e construção das categorias, utilizou-se a técnica fundamentada na estrutura do fenômeno situado, e a discussão foi realizada utilizando algumas contribuições da Psicodinâmica do Trabalho. A análise das dez entrevistas desvelou quatro categorias, sendo três analíticas e uma empírica. As categorias versam sobre os temas: processo de trabalho e as repercussões do AACR em uma unidade de urgência, os sentimentos vivenciados por estes profissionais, as estratégias defensivas utilizadas pelos enfermeiros e as atitudes necessárias para o trabalho em uma unidade de urgência com AACR. O ambiente da unidade de urgência mostrou-se similar às outras realidades vivenciadas e descritas em literatura. O AACR trouxe modificações significativas para o processo de trabalho dos enfermeiros, permitindo organizar a fila de espera e priorizando os casos mais graves. Os sentimentos de prazer foram identificados como contribuição para o diagnóstico precoce, alívio da dor e na recuperação do paciente e no relacionamento com a equipe de enfermagem. As vivências de sentimentos de sofrimento estão relacionadas com a intensificação do trabalho, o relacionamento com a equipe médica, o medo e a insegurança em fazer a contra-referência dos usuários. As estratégias defensivas utilizadas pelos enfermeiros evidenciaram essencialmente ações individuais: buscar apoio na prática religiosa, o convívio com familiares e amigos e a prática de esportes. Observou-se, nesta pesquisa, a presença de ambiguidade de sentimentos de prazer e sofrimento na vivência do AACR. Os resultados deste estudo mostram as repercussões que o AACR proporciona em unidades de urgência, no que diz respeito à organização da demanda e à priorização dos casos com critérios baseados na gravidade, ou seja, no risco de vida. O conhecimento dos fatores que levam aos sentimentos de prazer e sofrimento neste trabalho pode abrir novas possibilidades para refletir sobre esta prática, contribuindo para a realização de um processo mais participativo e inovador.
Gestão hospitalar: análise de desempenho de um hospital universitário e de ensino antes e após a contratualização com o Sistema Único de Saúde
Jeremias Bequer Brizola, Luiz Cordoni Junior, Célia Regina Rodrigues Gil
Data da defesa: 13/07/2010
A forma predominante de remuneração utilizada pelo Sistema Único de Saúde ainda é o pagamento por produção com base em tabelas. Desde 2004 a Reforma do Sistema Atenção Hospitalar Brasileira e a política de hospitais de ensino prevê a contratualização destes hospitais com os gestores loco-regionais em nova lógica de financiamento, visando melhorar a eficiência e efetividade dos mesmos, com foco em resultados. O estudo avalia a performance de um hospital universitário e de ensino antes e após a contratualização. Trata-se de uma pesquisa avaliativa, descritiva e exploratória, de abordagem quantitativa. Foram definidas as dimensões de estrutura e resultado e oito categorias analíticas: instalações e equipamentos, recursos humanos, receita, produção, produtividade, custos, qualidade e ensino/pesquisa, e respectivos indicadores com base nos propostos por Bittar, nas diretrizes para a contratualização, nos critérios para avaliação institucional, na padronização de censo hospitalar e nos parâmetros assistenciais estabelecidos pelo Ministério da Saúde. O protótipo do instrumento foi apreciado por seis gerentes e assessores envolvidos com o processo no Hospital em estudo. Foi realizada análise comparativa do desempenho nos três anos antes (2002-2004) e três anos após (2006-2008) a contratualização. Os resultados mostram algumas mudanças: na dimensão estrutura, houve melhora nas categorias instalações e equipamentos e receita, e piora na categoria recursos humanos; na dimensão resultado, houve melhora nas categorias produção e ensino e pesquisa, e piora nas categorias custo e qualidade; e não houve alteração de desempenho na categoria produtividade. Os principais resultados atribuíveis à contratualização foram: aumento dos equipamentos cadastráveis no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde, aumento dos procedimentos ambulatoriais e hospitalares de alta complexidade, ampliação da oferta de consultas especializadas na central de regulação e aumento da receita.
Atuação do Ministério Público Estadual de Londrina na área da saúde pública: análise das demandas e atividades
Paulo César Vieira Tavares, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 22/07/2010
O tema do presente trabalho versa sobre a atuação do Ministério Público Estadual de Londrina na área da saúde pública, mais precisamente acerca das atividades desenvolvidas pela 24ª. Promotoria de Justiça da Comarca de Londrina, no Estado do Paraná, durante o período de 1º de fevereiro de 2008 a 31 de julho de 2008. Almejou-se elucidar quais são as principais atribuições e características do Ministério Público, qual é a demanda que chega ao Ministério Público e como essa instituição desempenha as suas funções nessa área. Trata-se de uma pesquisa documental exploratória, que restringiu-se às demandas, vinculadas ao Sistema Único de Saúde, que provocaram a instauração de procedimentos administrativos no âmbito da instituição. Nessa análise foram consideradas as demandas segundo sua origem, tipo, desfechos e encaminhamentos realizados. Verificou-se, nesse estudo, que as demandas que chegaram ao Ministério Público têm natureza predominantemente individual e não coletiva, e que dizem respeito a deficiências nas ações de saúde, particularmente no campo de atuação da vigilância sanitária; a dificuldades de acesso à atenção especializada e à obtenção de medicamentos de alto custo e até mesmo daqueles inseridos na relação de medicamentos essenciais, relativos à atenção básica; e a relações interpessoais conflituosas entre o profissional médico e os pacientes/familiares. No que se refere ao desfecho dos procedimentos administrativos instaurados – objeto desse estudo -, oitenta e um por cento (81%) foram arquivados com resolução dos problemas ou com o recebimento de esclarecimentos satisfatórios. Depreendendo-se, assim, que a maioria dos casos acaba sendo resolvida ou esclarecida no âmbito do Ministério Público, sendo, nesse caso, desnecessária a intervenção do Poder Judiciário para a resolução do problema de saúde.
Perfil epidemiológico dos usuários de substâncias psicoativas atendidos no CAPS AD, Londrina, PR
Sérgio Ricardo Belon da Rocha Velho, Regina Kazue Tanno de Souza, Dinarte Ballester
Data da defesa: 29/07/2010
Introdução: o tratamento para usuários de álcool e drogas no Sistema Único de Saúde tem uma história recente no Brasil. Há escassez de estudos que avaliem o atendimento a usuários de substâncias psicoativas no SUS. Objetivo: analisar as características dos usuários de substâncias psicoativas no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de Londrina, PR. Método: trata-se de um estudo transversal com 486 indivíduos atendidos no CAPS AD do município de Londrina, PR no segundo semestre de 2008. A coleta de dados foi realizada pela análise de relatório dos casos, ficha de acolhimento, caderno de registro diário e relatório de internação hospitalar. Foram levantados dados sobre variáveis sociodemográficas, padrão de uso de substâncias psicoativas e variáveis sobre o processo de atendimento. Para o processamento e a análise dos dados foi utilizado o aplicativo Epi Info 3.4.3. Resultados: entre os usuários que procuraram tratamento no CAPS AD observou-se maior proporção de pessoas do sexo masculino (85,4%), na faixa etária entre 30 e 49 anos (51,0%), que não concluíram o ensino fundamental (66,8%), referiram como substância manifesta, no momento da triagem, principalmente o álcool (46,1%) e o crack (44,4%). A proporção de usuários de álcool mostrou-se maior (89,6%) na faixa etária de 45 a 54 anos. Entre as pessoas de menor idade ocorreu predomínio de substâncias ilícitas (crack e maconha). A maioria dos casos veio encaminhada por outros serviços (60,0%) e os serviços de saúde de média e alta complexidade apresentaram maior proporção de encaminhamentos (27,7%). Após a triagem, 81,7% permaneceram em tratamento no CAPS AD. Desses, 49,6% não permaneceram em atendimento por mais de um mês e 29,7% permaneceram em atendimento por mais de 150 dias. Quanto ao número de comparecimentos, 32,0% compareceram apenas na triagem e 16,6%, mais de trinta vezes durante seis meses. Conclusão: os resultados apresentados apontam a necessidade de aprimorar a atenção ao usuário, melhorando a vinculação desses ao tratamento.
Acolhimento com avaliação e classificação de risco: análise da demanda atendida no pronto socorro de um hospital escola
Vivian Biazon El Reda Feijó, Luiz Cordoni Junior, Célia Regina Rodrigues Gil
Data da defesa: 20/08/2010
A área de urgência e emergência constitui-se em importante componente da assistência à saúde. A crescente demanda nos últimos anos e a insuficiente estruturação da rede de atenção são fatores que têm contribuído para a sobrecarga dos serviços de urgência e emergência, transformando-os em uma das áreas de maior problemática do SUS. Diante disso, o Ministério da Saúde instituiu em 2004 o Programa Nacional de Humanização (PNH), trazendo como proposta ferramentas e dispositivos que podem efetivamente potencializar a garantia de atenção integral. Destaca-se como diretriz o acolhimento com avaliação e classificação de risco (AACR). Considerando a escassez de estudos relacionados ao uso do protocolo de AACR em serviços de emergência de alta complexidade e sua implantação no Pronto Socorro do Hospital Universitário de Londrina-PR, este estudo teve como objetivo geral analisar a demanda que procurou atendimento neste serviço mediante os critérios do protocolo de AACR e, como objetivos específicos, identificar características e fatores associados à adequação da demanda quanto à finalidade assistencial do serviço. A população de estudo foi constituída por 976 pessoas que procuraram atendimento no período de junho de 2008 a maio de 2009, selecionadas por amostragem sistemática. Os dados foram coletados das fichas do protocolo de AACR e das fichas de atendimento médico nos casos em que o desfecho tenha sido atendimento nesse serviço. Foram digitados e armazenados no programa Epi Info versão 3.5.1 para Windows e analisados no programa SAS. A associação entre as variáveis independentes e as variáveis respostas classificação de risco foi avaliada com o teste de qui-quadrado ou teste exato de Fisher. Foram considerados adequados à demanda para atendimento no hospital terciário os pacientes classificados como vermelho, amarelo, e verde; os classificados como azul foram considerados inadequados. Verifica-se nos resultados que 82% dos pacientes foram classificados como adequados ao serviço segundo critérios do protocolo. O sexo predominante foi masculino na faixa etária de 20-59 anos. A procura por atendimento foi maior nos dias úteis em horário comercial, coincidindo com o turno de maior procura dos casos menos graves. Na análise estatística verifica-se associação significativa da variável procedência da demanda, horário de procura para atendimento com a adequação da demanda. As variáveis clínica responsável pelo atendimento, destino após atendimento médico, ser acompanhado neste serviço, SSVV, tempo da queixa, procedimentos realizados e comorbidades apresentam associação significativa com a classificação de risco atribuída por cores. Conclui-se com os achados deste estudo que a implantação do AACR contribui na identificação dos casos mais graves e na organização da demanda. Entretanto, a adequação da demanda depende também da organização do sistema de saúde local como um todo. Com base nestas informações, outros serviços de emergência podem ser motivados a incorporar esta tecnologia de trabalho e de gestão.
Hemovigilância: Eventos transfusionais adversos antes e após implantação de um Comitê Transfusional Hospitalar
Mariza Saito, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 30/08/2010
Os eventos adversos associados ao uso do sangue podem ocorrer mesmo que o sangue e seus hemocomponentes sejam adequadamente coletados, processados, indicados e preparados. A hemovigilância é uma ferramenta da segurança transfusional que visa reduzir os riscos relacionados à transfusão sanguínea e o monitoramento do uso racional do sangue, que no ambiente hospitalar cabe ao Comitê Transfusional Hospitalar (CTH). Tratase de um estudo avaliativo, tipo antes e após, realizado com o objetivo de analisar as reações transfusionais notificadas antes e após implantação do CTH no Hemocentro Regional / Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina, Paraná. Foram utilizados como fontes de dados os relatórios mensais de transfusões sanguíneas, gerados pelo Sistema Automatizado de Informações do Hospital Universitário (SADIHU) no Hemocentro e as fichas de notificação das reações transfusionais ao Sistema de Notificações da Vigilância Sanitária (NOTIVISA). Foram caracterizadas as transfusões sanguíneas e seus eventos adversos. Posteriormente, as diferenças nas taxas de incidência das reações transfusionais (18 meses antes e 18 meses após implantação do CTH) foram comparadas. Verificou-se que o número de transfusões reduziu em 9,0% e o de reações transfusionais em 47,1%, no período após implantação do CTH. Não foram registradas transfusões autólogas. O concentrado de hemácias (CH) e seus produtos (CH Filtrado e CH Lavado) foram os mais utilizados (63%), com incremento no uso de CH Filtrado (8,7% para 17,9%) e decréscimo do uso de plasma (22,7% para 17,6%) no período pós-CTH. Os setores onde mais ocorreram transfusões sanguíneas foram aqueles que receberam pacientes de maior complexidade e a maioria dos receptores foi do sexo masculino (57,3%). Quanto às reações, entre os hemocomponentes envolvidos, o CH foi responsável pela grande maioria das reações (74,4%), sendo as reações febris não hemolíticas e as reações alérgicas as mais frequentes (97%). As reações predominaram em receptores do sexo feminino (55,6%) e mulheres na faixa etária acima de 60 anos. Quanto à classificação pela tipagem sanguínea, de acordo com o fenótipo ABO/Rh(D), as reações transfusionais se distribuíram de acordo com a frequência fenotípica da população geral. 68,4% dos pacientes que apresentaram reação tinham histórico de transfusão anterior e 91,7% das reações foram caracterizadas como leve. Apenas um evento foi considerado grave, a reação hemolítica aguda por incompatibilidade ABO (0,8%). Nenhum óbito por transfusão foi registrado. A taxa de incidência dos eventos transfusionais adversos foi significativamente menor no período pós-implantação do CTH (RR: 0,58 IC 95%: 0,41-0,83). Com relação ao tipo de reação, a taxa de incidência de reação febril não hemolítica foi significativamente menor no período pós-CTH (RR: 0,55 IC 95%: 0,35-0,86). Embora as taxas de incidência tenham sido menores, para as reações alérgicas e outros tipos de reações, as diferenças não foram significativas. Observou-se redução significativa da taxa de incidência das reações no sexo masculino, porém o risco de ocorrência de reação foi mais elevado entre as mulheres, quando comparado entre os sexos. Os resultados obtidos reforçam a importância do CTH, no contexto da hemovigilância, na implementação de estratégias que busquem o uso racional do sangue, com o decréscimo das reações, como também o estímulo às notificações de todas as reações transfusionais, preservando o caráter sigiloso, voluntário e não punitivo do sistema de hemovigilância brasileiro.
Motociclistas atendidos por serviços de atenção préhospitalar em Londrina (PR): características dos acidentes e das vítimas em 1998 e 2010
Flávia Lopes Gabani, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 02/12/2011
Os acidentes com motociclistas crescem concomitantemente ao aumento da frota no Brasil, tornando suas vítimas representativas na morbimortalidade por acidentes de trânsito. Desde 1998, com a implantação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), iniciativas foram tomadas na tentativa de modificar essa realidade, sendo oportunos estudos que verifiquem mudanças nos perfis dos acidentes e das vítimas. Dessa forma, o presente estudo teve por objetivo comparar características dos acidentes e dos ocupantes de motocicletas atendidos por todos os serviços de atenção préhospitalar de Londrina (PR) em 1998 e 2010. Trata-se de estudo transversal, cujos resultados foram comparados com pesquisa de 1998. Em ambos os estudos, a fonte de dados constituiu-se do Registro de Atendimento do Socorrista (RAS). A população foi composta por 1.576 e 3.968 vítimas em 1998 e 2010, respectivamente. Houve incremento na frota de motocicletas no município, passando de 69,9 para 128,1 por mil habitantes. Também aumentou o número de vítimas para cada mil motos, de 53,1 para 61,1. Quanto às características dos acidentes, observaram-se maiores proporções de quedas isoladas de moto e de acidentes entre motocicletas em 2010. Houve maior frequência de vítimas nos dias úteis em ambos os anos, com leve aumento percentual em 2010 (de 65,1% para 69,4%), e reduziram-se as proporções de vítimas nos finais de semana (de 34,9% para 30,6%). Em relação ao período de ocorrência do acidente, prevaleceu o da noite nos dois anos. Porém, houve incremento percentual de vítimas no período diurno (de 51,5% para 56,8%), refletindo maior frequência de acidentes no período da manhã. O número de vítimas cresceu ao longo dos meses em ambos os anos. Em relação às regiões de ocorrência, constatou-se leve descentralização pela diminuição da frequência no Centro, contudo as regiões Norte e Centro abrangeram mais da metade dos acidentes nos dois anos (de 53,2% para 51,0%). Quanto às características das vítimas, houve pequeno aumento na proporção de motociclistas mulheres (de 21,6% para 24,6%), as quais deixaram de predominar como passageiras, tornando-se principalmente condutoras (de 42,8% para 54,6%). A faixa etária mais acometida continuou sendo a de 20 a 34 anos. Aumentou a frequência de informações ignoradas em relação ao uso do capacete (de 1,0% para 24,6%). Houve redução da proporção na percepção de hálito etílico de 1998 (13,9%) para 2010 (7,1%). Entretanto, a proporção de detecção desse hálito ainda é mais frequente entre homens, nos meses de janeiro e fevereiro, durante finais de semana e no período noturno, destacando-se a madrugada. Quanto às lesões, aumentou a proporção de traumatismos superficiais (de 66,4% para 71,1%) e fraturas (de 11,7% para 13,5%), e diminuíram as frequências de ferimentos, traumatismos intracranianos e intratorácicos. Houve redução na proporção de lesões na cabeça, porém aumentaram as dos membros e múltiplas regiões. Apesar do elevado número de vítimas em 2010, os acidentes foram, proporcionalmente, de menor gravidade, evidenciada pelos melhores escores nas escalas de coma e de trauma, além de menor necessidade de atendimento médico no local da ocorrência. Diminuiu o coeficiente de letalidade imediato e aumentou a frequência de recusas de atendimento e/ou encaminhamento. Os resultados apontam mudanças nas características dos acidentes e das vítimas nos anos, servindo como possível subsídio para direcionamento de novas ações e estratégias de intensificação das fiscalizações no trânsito, principalmente em relação aos motociclistas.
Fatores de risco para mortalidade infantil em Londrina (PR): análise hierarquizada em duas coortes de nascidos vivos
Hellen Geremias dos Santos, Selma Maffei de Andrade, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 16/02/2012
Nas últimas três décadas, a mortalidade infantil (MI) apresentou declínio importante em todas as regiões brasileiras, sobretudo entre a parcela mais pobre da população, com mudanças na composição da taxa de mortalidade infantil e nos fatores determinantes do óbito infantil. Este estudo buscou identificar e comparar fatores de risco para MI em Londrina, Paraná, nas coortes de nascidos vivos (NV) de 2000/2001 e de 2007/2008. Para a identificação dos NV, pesquisou-se o banco de dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e, para a identificação dos óbitos infantis, os registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e os do Comitê Municipal de Prevenção da Mortalidade Materna e Infantil (CMPMMI). Os óbitos foram relacionados ao banco de dados do SINASC por linkage determinístico, por meio do número da Declaração de Nascido Vivo (DN). Para a análise de regressão logística, foi construído modelo hierárquico conceitual com fatores em níveis distal (sociodemográficos), intermediário (obstétricos e assistenciais) e proximal (dos recém-nascidos). A população de estudo constituiu-se de 15.385 e 13.208 NV em 2000/2001 e em 2007/2008, respectivamente. Foram identificados, no SIM/CMPMMI, 185 óbitos de NV no primeiro biênio e 148, de NV no segundo. Em 2000/2001, foi possível parear 97,30% dos óbitos à sua respectiva DN, e, em 2007/2008, todos os óbitos tiveram sua DN localizada no banco de dados do SINASC. Exceto para raça/cor da pele do recém-nascido, em 2000/2001, para antecedentes obstétricos, em 2007/2008, e para presença de malformação congênita, em ambos os biênios, todos os campos do SINASC apresentaram completitude superior a 99%. Em relação aos dados sobre mortalidade, nos dois períodos, observou-se melhor completitude para os registros do CMPMMI (superior a 95% para as variáveis comuns ao SINASC). Em geral, a MI pouco se alterou nos anos 2000, havendo redução apenas do componente pós-neonatal. Quanto aos fatores estudados, no nível distal, foram de risco para MI, em 2000/2001, os fatores maternos idade < 20 anos e escolaridades insuficiente e intermediária. Em 2007/2008, idades maternas < 20 e ≥ 35 anos foram fatores de risco, enquanto escolaridades insuficiente e intermediária, protetores. No nível intermediário, em 2000/2001, foram de risco para MI: gestação múltipla, antecedente de filhos mortos e número insuficiente de consultas de pré-natal, enquanto cesariana foi fator protetor. Em 2007/2008, apenas gestação múltipla foi de risco. Todos os fatores proximais (idade gestacional, peso ao nascer, índice de Apgar no quinto minuto e sexo) associaram-se à maior MI em 2000/2001, e, em 2007/2008, apenas idade gestacional e índice de Apgar no quinto minuto permaneceram no modelo. Em síntese, a aplicação da técnica de linkage determinístico viabilizou a identificação de fatores de risco para MI em ambos os períodos, pelo elevado percentual de vinculação alcançado e pela excelente completitude das bases de dados pesquisadas. Foram observadas mudanças nos fatores de risco para a MI nos biênios analisados, que podem estar relacionadas à ampliação de políticas sociais e de ações básicas de saúde e a modificações nos padrões reprodutivo e social das mulheres.
Tendência e características da epidemia de AIDS em um município de grande porte do sul do Brasil: 1986 a 2008
Flaviane Mello Lazarini, Regina Melchior
Data da defesa: 27/02/2012
A AIDS é uma doença reconhecida mundialmente como problema de saúde pública. O primeiro caso notificado no Brasil foi em 1980. Em Londrina o primeiro registro de caso de aids residente no município ocorreu em 1986. O objetivo desse estudo foi analisar as principais características dos casos de aids notificados de Londrina- PR e a tendência da epidemia de aids no período de 1986 a 2008. Optou-se pela análise descritiva para mostrar o perfil sociodemográfico, os tipos de critérios de definição de caso de aids utilizados ao longo dos anos, e as características relacionadas às categorias de exposição. Os coeficientes de incidência da aids foram calculados anualmente por sexo e faixa etária e padronizados pela população do ultimo censo demográfico do Brasil de 2010. Também foi realizada a análise de tendência da aids por faixa etária e por sexo, dividida em dois períodos (1986-1995 e 1996-2008) para melhor compreensão do comportamento da epidemia. Os modelos lineares explicaram melhor a tendência da epidemia de aids nos dois períodos. Foram calculadas as taxas de incidência com base na Pesquisa de Conhecimentos Atitudes e Práticas na População Brasileira de 2004, no grupo etário de 14 a 49 anos, para os subgrupos mais vulneráveis: HSH, UDI, homens heterossexuais e mulheres. Os resultados mostraram que a escolaridade se concentrou entre quatro e sete anos de estudo. Na ocupação, em média 70% dos indivíduos exerciam trabalho remunerado. Desde 1998, mais de 50% dos casos de aids foram notificados utilizando os dois critérios da ficha de notificação. A transmissão por uso de drogas injetáveis foi predominante no sexo masculino até 2005. Ocorreu crescimento da epidemia de aids entre mulheres em todos os anos independente da orientação sexual. No período de 1986 a 1995 houve incremento das taxas de incidência em quase todas as faixas etárias e crescimento da epidemia em ambos os sexos (p< 0,001), mais acentuado no sexo masculino, nas faixas etárias que vão de 14 a 39 anos. No segundo período na faixa etária de 14 a 29 anos ocorreu queda significativa no sexo masculino, o incremento passou de 0,88 no primeiro período para -0,87 no segundo. Destaque para a faixa etária de 50 anos e mais em mulheres que apresentou aumento significativo (p=0,019). Todas as categorias de exposição apresentaram queda a partir do período 2000-2002. Os subgrupos UDI e HSH predominaram como categorias de exposição e no ultimo triênio do estudo HSH ultrapassou UDI. A partir do ano 2000 a taxa de incidência, na faixa etária de 14 a 49 anos, do grupo de mulheres superou a do grupo de homens heterossexuais, mostrando a crescente vulnerabilidade à infecção pelo HIV nesse grupo. O estudo mostrou queda nas taxas de incidência nas faixas etárias mais jovens e estabilização nas demais idades. O aumento da proporção de mulheres, especialmente na faixa etária de 50 anos e mais e de predomínio de HSH entre as categorias de exposição aponta para necessidade de estratégias diferenciadas para atingir grupos com características diversas.
Promoção da saúde e processo de trabalho dos profissionais de educação física do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF
Alisson Marques de Mendonça, Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 28/02/2012
A definição de promoção da saúde contemporânea tem seu marco na Conferência de Ottawa no Canadá, em 1986, com o reconhecimento oficial sobre a influência das questões sociais, políticas e econômicas na determinação da saúde. O Brasil com o protagonismo do movimento sanitário também construiu uma política a partir da década de 1980 que incorpora uma concepção de saúde em sintonia com o movimento mundial. Os profissionais de educação física apenas recentemente foram inseridos no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir da publicação da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), em 2006, e da criação dos Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), em 2008, portanto, sua atuação nesse setor ainda é incipiente. Sendo assim o objetivo do presente estudo foi identificar a concepção de promoção da saúde dos profissionais de educação física que trabalham no NASF no município de Londrina, Paraná. Para tanto realizamos uma pesquisa qualitativa e como técnica de análise dos dados optamos pela análise do tipo categorial – temática, conforme proposta por Bardin. Todos os profissionais de educação física do município de Londrina que trabalhavam no NASF, no momento da investigação foram entrevistados, totalizando 10 profissionais e destes, três foram observardos. A partir da análise dos dados coletados foram definidas três categorias: A concepção de promoção da saúde sob o olhar do profissional de educação física; O processo de trabalho do profissional de educação física; e A formação do Profissional de Educação Física e a Promoção da Saúde. Apenas um dos profissionais definiu promoção da saúde de maneira ampliada, considerando-se o marco representado pela Carta de Ottawa. Houve confusão conceitual entre prevenção e promoção. O discurso que coloca ênfase na responsabilização individual, em que a visão comportamental e o viés biológico predominam, permearam muitas das falas. O processo de trabalho do profissional de educação física reflete as dificuldades inerentes à formação voltada predominatemente à dimensão biológica em detrimento das discussões filósóficas, históricas e sociais na relação atividade física e saúde. A articulação dos conhecimentos da saúde coletiva com as teorias pedagógicas progressistas, estas pensadas originalmente para o setor educacional, podem ensejar novos horizontes para a prática profissional em educação física junto às Unidades Saúde da Família na perspectiva da promoção da saúde.