Teses e Dissertações
Fatores de risco para mortalidade infantil em Londrina (PR): análise hierarquizada em duas coortes de nascidos vivos
Hellen Geremias dos Santos, Selma Maffei de Andrade, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 16/02/2012
Nas últimas três décadas, a mortalidade infantil (MI) apresentou declínio importante
em todas as regiões brasileiras, sobretudo entre a parcela mais pobre da população,
com mudanças na composição da taxa de mortalidade infantil e nos fatores
determinantes do óbito infantil. Este estudo buscou identificar e comparar fatores de
risco para MI em Londrina, Paraná, nas coortes de nascidos vivos (NV) de
2000/2001 e de 2007/2008. Para a identificação dos NV, pesquisou-se o banco de
dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e, para a
identificação dos óbitos infantis, os registros do Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM) e os do Comitê Municipal de Prevenção da Mortalidade Materna e
Infantil (CMPMMI). Os óbitos foram relacionados ao banco de dados do SINASC por
linkage determinístico, por meio do número da Declaração de Nascido Vivo (DN).
Para a análise de regressão logística, foi construído modelo hierárquico conceitual
com fatores em níveis distal (sociodemográficos), intermediário (obstétricos e
assistenciais) e proximal (dos recém-nascidos). A população de estudo constituiu-se
de 15.385 e 13.208 NV em 2000/2001 e em 2007/2008, respectivamente. Foram
identificados, no SIM/CMPMMI, 185 óbitos de NV no primeiro biênio e 148, de NV no
segundo. Em 2000/2001, foi possível parear 97,30% dos óbitos à sua respectiva DN,
e, em 2007/2008, todos os óbitos tiveram sua DN localizada no banco de dados do
SINASC. Exceto para raça/cor da pele do recém-nascido, em 2000/2001, para
antecedentes obstétricos, em 2007/2008, e para presença de malformação
congênita, em ambos os biênios, todos os campos do SINASC apresentaram
completitude superior a 99%. Em relação aos dados sobre mortalidade, nos dois
períodos, observou-se melhor completitude para os registros do CMPMMI (superior
a 95% para as variáveis comuns ao SINASC). Em geral, a MI pouco se alterou nos
anos 2000, havendo redução apenas do componente pós-neonatal. Quanto aos
fatores estudados, no nível distal, foram de risco para MI, em 2000/2001, os fatores
maternos idade < 20 anos e escolaridades insuficiente e intermediária. Em
2007/2008, idades maternas < 20 e ≥ 35 anos foram fatores de risco, enquanto
escolaridades insuficiente e intermediária, protetores. No nível intermediário, em
2000/2001, foram de risco para MI: gestação múltipla, antecedente de filhos mortos
e número insuficiente de consultas de pré-natal, enquanto cesariana foi fator
protetor. Em 2007/2008, apenas gestação múltipla foi de risco. Todos os fatores
proximais (idade gestacional, peso ao nascer, índice de Apgar no quinto minuto e
sexo) associaram-se à maior MI em 2000/2001, e, em 2007/2008, apenas idade
gestacional e índice de Apgar no quinto minuto permaneceram no modelo. Em
síntese, a aplicação da técnica de linkage determinístico viabilizou a identificação de
fatores de risco para MI em ambos os períodos, pelo elevado percentual de
vinculação alcançado e pela excelente completitude das bases de dados
pesquisadas. Foram observadas mudanças nos fatores de risco para a MI nos
biênios analisados, que podem estar relacionadas à ampliação de políticas sociais e
de ações básicas de saúde e a modificações nos padrões reprodutivo e social das
mulheres.
Tendência e características da epidemia de AIDS em um município de grande porte do sul do Brasil: 1986 a 2008
Flaviane Mello Lazarini, Regina Melchior
Data da defesa: 27/02/2012
A AIDS é uma doença reconhecida mundialmente como problema de saúde pública.
O primeiro caso notificado no Brasil foi em 1980. Em Londrina o primeiro registro de
caso de aids residente no município ocorreu em 1986. O objetivo desse estudo foi
analisar as principais características dos casos de aids notificados de Londrina- PR e
a tendência da epidemia de aids no período de 1986 a 2008. Optou-se pela análise
descritiva para mostrar o perfil sociodemográfico, os tipos de critérios de definição de
caso de aids utilizados ao longo dos anos, e as características relacionadas às
categorias de exposição. Os coeficientes de incidência da aids foram calculados
anualmente por sexo e faixa etária e padronizados pela população do ultimo censo
demográfico do Brasil de 2010. Também foi realizada a análise de tendência da aids
por faixa etária e por sexo, dividida em dois períodos (1986-1995 e 1996-2008) para
melhor compreensão do comportamento da epidemia. Os modelos lineares
explicaram melhor a tendência da epidemia de aids nos dois períodos. Foram
calculadas as taxas de incidência com base na Pesquisa de Conhecimentos Atitudes
e Práticas na População Brasileira de 2004, no grupo etário de 14 a 49 anos, para
os subgrupos mais vulneráveis: HSH, UDI, homens heterossexuais e mulheres. Os
resultados mostraram que a escolaridade se concentrou entre quatro e sete anos de
estudo. Na ocupação, em média 70% dos indivíduos exerciam trabalho remunerado.
Desde 1998, mais de 50% dos casos de aids foram notificados utilizando os dois
critérios da ficha de notificação. A transmissão por uso de drogas injetáveis foi
predominante no sexo masculino até 2005. Ocorreu crescimento da epidemia de
aids entre mulheres em todos os anos independente da orientação sexual. No
período de 1986 a 1995 houve incremento das taxas de incidência em quase todas
as faixas etárias e crescimento da epidemia em ambos os sexos (p< 0,001), mais
acentuado no sexo masculino, nas faixas etárias que vão de 14 a 39 anos. No
segundo período na faixa etária de 14 a 29 anos ocorreu queda significativa no sexo
masculino, o incremento passou de 0,88 no primeiro período para -0,87 no segundo.
Destaque para a faixa etária de 50 anos e mais em mulheres que apresentou
aumento significativo (p=0,019). Todas as categorias de exposição apresentaram
queda a partir do período 2000-2002. Os subgrupos UDI e HSH predominaram como
categorias de exposição e no ultimo triênio do estudo HSH ultrapassou UDI. A partir
do ano 2000 a taxa de incidência, na faixa etária de 14 a 49 anos, do grupo de
mulheres superou a do grupo de homens heterossexuais, mostrando a crescente
vulnerabilidade à infecção pelo HIV nesse grupo. O estudo mostrou queda nas taxas
de incidência nas faixas etárias mais jovens e estabilização nas demais idades. O
aumento da proporção de mulheres, especialmente na faixa etária de 50 anos e
mais e de predomínio de HSH entre as categorias de exposição aponta para
necessidade de estratégias diferenciadas para atingir grupos com características
diversas.
Promoção da saúde e processo de trabalho dos profissionais de educação física do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF
Alisson Marques de Mendonça, Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 28/02/2012
A definição de promoção da saúde contemporânea tem seu marco na
Conferência de Ottawa no Canadá, em 1986, com o reconhecimento oficial
sobre a influência das questões sociais, políticas e econômicas na
determinação da saúde. O Brasil com o protagonismo do movimento sanitário
também construiu uma política a partir da década de 1980 que incorpora uma
concepção de saúde em sintonia com o movimento mundial. Os profissionais
de educação física apenas recentemente foram inseridos no Sistema Único de
Saúde (SUS) a partir da publicação da Política Nacional de Promoção da
Saúde (PNPS), em 2006, e da criação dos Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (NASF), em 2008, portanto, sua atuação nesse setor ainda é incipiente.
Sendo assim o objetivo do presente estudo foi identificar a concepção de
promoção da saúde dos profissionais de educação física que trabalham no
NASF no município de Londrina, Paraná. Para tanto realizamos uma pesquisa
qualitativa e como técnica de análise dos dados optamos pela análise do tipo
categorial – temática, conforme proposta por Bardin. Todos os profissionais de
educação física do município de Londrina que trabalhavam no NASF, no
momento da investigação foram entrevistados, totalizando 10 profissionais e
destes, três foram observardos. A partir da análise dos dados coletados foram
definidas três categorias: A concepção de promoção da saúde sob o olhar do
profissional de educação física; O processo de trabalho do profissional de
educação física; e A formação do Profissional de Educação Física e a
Promoção da Saúde. Apenas um dos profissionais definiu promoção da saúde
de maneira ampliada, considerando-se o marco representado pela Carta de
Ottawa. Houve confusão conceitual entre prevenção e promoção. O discurso
que coloca ênfase na responsabilização individual, em que a visão
comportamental e o viés biológico predominam, permearam muitas das falas.
O processo de trabalho do profissional de educação física reflete as
dificuldades inerentes à formação voltada predominatemente à dimensão
biológica em detrimento das discussões filósóficas, históricas e sociais na
relação atividade física e saúde. A articulação dos conhecimentos da saúde
coletiva com as teorias pedagógicas progressistas, estas pensadas
originalmente para o setor educacional, podem ensejar novos horizontes para a
prática profissional em educação física junto às Unidades Saúde da Família na
perspectiva da promoção da saúde.
Uso de Substâncias Psicoativas e Condição de Saúde Bucal de Adolescentes em Conflito com a Lei
Marcela Aparecida Tasso Pereira, Dinarte Ballester
Data da defesa: 02/03/2012
O despertar para a adolescência e as mudanças de hábito implicam em riscos para a
saúde bucal. O objetivo deste estudo foi de verificar as condições de saúde dos
adolescentes do CENSE (Centro de Socioeducação) - Foz do Iguaçu com ênfase no uso
de substâncias psicoativas e sua influência na saúde bucal. O estudo transversal foi
realizado com participantes de 12 a 18 anos de idade (n=114), em internação provisória
entre os meses de outubro de 2010 e março de 2011. Foram realizadas entrevistas e
exames por um cirurgião dentista calibrado, buscando avaliar as condições
socioeconômicas, o uso de substâncias psicoativas e aspectos de saúde bucal através dos
índices CPOD (conforme recomendações da OMS) e o instrumento utilizado para
mensurar o impacto das condições bucais na qualidade de vida dos adolescentes no
último ano foi o Oral Health Impact Profile (OHIP-14). Foi feita análise descritiva dos
dados e aplicação do teste qui-quadrado. A maioria dos entrevistados (62,3%) era de
pardos ou negros, com renda familiar até um salário mínimo (50,9%) e não freqüentava
a escola (63,2%). Entre os entrevistados, 78,1% fez uso de substâncias psicoativas no
mês anterior à apreensão. As substâncias consumidas por mais dias no mês foram o
tabaco (12 dias) e a maconha (11 dias), e a idade média de início de uso foi de 13,5 anos
(DP±1,18). Com relação à saúde bucal 31,2% nunca foram ao dentista, o índice CPOD
médio encontrado foi 5,16 (DP±3,34), 12,3% eram livres de cárie e 29,9% apresentaram
índice CPOD maior que 6,0. Entre os adolescentes entrevistados 90% apresentou algum
tipo de impacto da saúde bucal na qualidade de vida referida, medido pelo OHIP-14 ,
60% relatou já ter sentido dor nos dentes ou boca e 62% já se preocupou com os
problemas bucais. A variável renda familiar baixa (p=0,01) e a presença de conflitos
familiares (p=0,01) apresentaram significância com relação ao uso de substâncias
psicoativas. Nesta pesquisa os indivíduos que faziam uso de substâncias psicoativas
apresentaram proporcionalmente um maior impacto referido da saúde bucal na
qualidade de vida, e ainda quanto maior o consumo durante o mês maior foi o impacto
na saúde bucal entre os adolescentes do CENSE-FI. Clinicamente os indivíduos que
não fizeram uso de substância apresentaram maior proporção de elementos dentais
livres de cárie, enquanto os que fizeram uso apresentaram número maior de problemas
dentais. Conclui-se que os adolescentes em internação provisória no CENSE-FI
apresentaram uma condição de saúde bucal pouco satisfatória, com alta prevalência
de impacto na qualidade de vida em decorrência de problemas bucais. O uso de
substâncias psicoativas entre os adolescentes avaliados pode ter influenciar
negativamente a saúde bucal.
Acolhimento da população negra em sofrimento psicossocial pelo candomblé de Londrina-PR
Jackeline Lourenço Aristides, Regina Melchior, Dinarte Ballester
Data da defesa: 07/03/2012
Os negros vivem uma relação de desigualdade socioeconômica em comparação aos
brancos, e isto está diretamente relacionado ao processo saúde doença também
desigual para aquelas pessoas. Como forma de enfrentamento à às mazelas da
escravidão as comunidades de terreiro ficaram conhecidos lócus de produção
cultural e política, bem como espaço de produção de saúde. O candomblé, assim
como outras religiões de matriz africana utilizam o acolhimento em seu cotidiano, e
esse termo é utilizado na atenção e escuta aos sujeitos em sofrimento psicossocial
nesses espaços. Para compreender esse acolhimento foram entrevistadas seis
líderes do candomblé do município de Londrina- PR. Para a interpretação das falas
foi utilizada a análise de discurso que segundo Pêcheux (1998) compreende
considerar a interdiscursividade, ou seja, uma fala individual é carregada de vários
sujeitos e de um contexto histórico e ideológico.O acolhimento nos remete à
iniciação orixá, conforto espiritual, prática de banhos com ervas medicinais, cuidado
aos grupos sociais específicos, abordagem em doenças sexualmente transmissíveis,
encaminhamento aos serviços especializados. As formas de sofrimento psicossocial
mais referidas pelas pessoas acolhidas segundo o relato das líderes, ora possuíam
classificação médica como o etilismo e a depressão, ora eram subjetivações do
sofrimento como “perturbação” e estresse. O acolhimento do sofrimento psicossocial
traz significados como a dialética do material e do espiritual, visita domiciliar,
fragilidade da continuidade na linha do cuidado e racismo e preconceito racial como
causadores de sofrimento. Este trabalho avança na perspectiva de apontar a
necessidade de trabalho em rede, de desconstrução da hospitalização psiquiátrica e
da medicalização, e do enfrentamento do preconceito frente ao candomblé.
Possibilita também compreender como a população negra busca apoio frente ao
sofrimento psicossocial.
Tendência das taxas de internação em menores de cinco anos no período de 1999 a 2010 em Londrina – PR
Kécia Costa, Ana Maria Rigo Silva, Wladithe Organ de Carvalho
Data da defesa: 26/03/2012
A atenção integral à criança constitui uma prioridade entre as políticas de saúde e
um desafio para os gestores. A internação pediátrica gera custos para o sistema de
saúde além de consequências físicas e emocionais para a criança e sua família.
Conhecer a tendência da morbidade hospitalar infantil permite identificar os
principais agravos e possíveis fatores de prevenção, assim subsidia o planejamento
e priorização das ações de saúde e intersetoriais. Esta pesquisa teve como objetivo
analisar a tendência das taxas de internação em menores de cinco anos, residentes
no município de Londrina, no período de 1999 a 2010. Os dados foram obtidos no
sítio eletrônico do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde –
DATASUS. As variáveis selecionadas foram: faixa etária, sexo, natureza e regime do
hospital, tempo de permanência, causa da internação e ocorrência do óbito. Para a
caracterização das internações, os anos do período de estudo foram agrupados em
triênios e utilizada estatística descritiva. As taxas de internação foram calculadas por
todas as causas segundo capítulos da CID-10, por sexo e diagnósticos da lista de
condições sensíveis à atenção primária (CSAP). Em cada faixa etária calcularam-se
as taxas segundo capítulos da CID-10 e lista de CSAP. Para a análise de tendência
das taxas, aplicou-se o modelo linear através do programa SPSS 19.0. Durante o
período de estudo, ocorreram 45.195 internações financiadas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) em crianças menores de cinco anos, o que representou 11,56% do
total de internações SUS no município. As hospitalizações foram mais frequentes na
faixa etária de 1 a 2 anos (cerca de 32%) e sexo masculino (55%). Mais de 80% das
internações tiveram duração máxima de 7 dias, e o óbito ocorreu em
aproximadamente 2%. A análise de tendência mostrou declínio das taxas de
internação em crianças menores de cinco anos, redução de 4,87 internações por
1000 crianças/ano. O mesmo ocorreu em todas as faixas etárias, exceto para o
período neonatal. As doenças do aparelho respiratório apresentaram as maiores
taxas, exceto no período neonatal e manteve-se estável no período neonatal e pósneonatal. As doenças infecciosas e parasitárias destacaram-se pela redução,
principalmente no período pós-neonatal, com decréscimo de 1,19 internações por
1000 crianças/ano, porém apresentou estabilidade na faixa etária de 3 a 4 anos. A
evolução das internações por CSAP nos menores de cinco anos também apresentou
tendência decrescente exceto para o período neonatal. O principal grupo de CSAP
foram as pneumonias. O decréscimo das taxas apontam para a melhoria das
condições de saúde infantil devido possivelmente à implantação de estratégias de
atenção direcionadas à saúde da criança neste período. Outros estudos serão
necessários para relacionar as hipóteses levantadas com a efetiva diminuição das
internações, além de outros que busquem avaliar a qualidade dos serviços de
atenção primária à criança, que tem como objetivo a prevenção de agravos e
hospitalização.
A Residência Multiprofissional em Saúde da Família: o olhar do trabalhador de saúde
Carolina Milena Domingues, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 02/04/2012
A Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) surge como uma das
possibilidades de integração ensino-serviço com vistas a formação dos profissionais
de saúde para atuar na Estratégia Saúde da Família (ESF). Para a consolidação da
proposta da RMSF, uma vez que ela forma os profissionais no ambiente de trabalho
real, torna – se imprescindível a participação do trabalhador de saúde na produção
de serviços integrada ao ensino. Nesse sentido, este estudo buscou revelar a
percepção dos trabalhadores das Unidades de Saúde da Família (USF) sobre a
RMSF e sobre a atuação destes profissionais na formação dos residentes. Trata-se
de um estudo qualitativo, realizado com trabalhadores de saúde atuantes em
Unidades de Saúde da Família (USF) contempladas com a inserção dos residentes
da RMSF, em Londrina-PR. Os dados foram coletados entre janeiro e fevereiro de
2011 por meio de entrevistas semi-estruturadas e submetidos a análise de discurso
proposta por Martins e Bicudo. Da análise das entrevistas emergiram três categorias:
concepções e contribuições da RMSF para mudança do processo de trabalho do
trabalhador de saúde da USF; dificuldades percebidas no processo de inserção da
RMSF nas USF e participação do trabalhador de saúde no processo de formação do
residente. Os discursos revelaram que o significado da RMSF para o trabalhador de
saúde permeou o âmbito das concepções sobre o curso, como o fortalecimento das
ações pautadas na integralidade, na realização do trabalho em equipe
multiprofissional, na potencialização da escuta qualificada, do vínculo, da prevenção,
com junção da teoria com a prática. Estas concepções desencadearam a percepção
sobre o projeto como uma contribuição que transcende a formação do residente
para também mudar as práticas do trabalhador de saúde, consolidando a ESF de
acordo com os ideários do SUS. Apesar do significado da residência para os
trabalhadores, houve dificuldades no processo de inserção dos residentes nas
unidades. Os participantes do estudo enfatizam dentre os percalços sentidos
durante o primeiro ano do curso, as formas de inserção dos residentes de
Enfermagem e Odontologia nas USF, que aconteceu mediante a saída de
profissionais do serviço já atuantes nas equipes para dar lugar aos alunos, e a
indefinição do papel dos residentes das categorias profissionais que não atuavam na
unidade anteriormente. A principal dificuldade percebida no decorrer dos anos foi o
fato do residente assumir a responsabilidade pela assistência e pela USF como um
profissional com vínculo empregatício. Ficou evidente na fala dos participantes, a
sua grande participação na formação do residente, constituindo-se em um dos
atores do curso com maior envolvimento nas atividades cotidianas dos alunos,
principalmente por sua experiência e vivência na prática do processo de trabalho de
uma unidade. Espera-se que os resultados deste estudo colabore para o
conhecimento do cenário de atuação do projeto da RMSF em Londrina, além de
enriquecer as produções científicas sobre o tema para manutenção do curso como
estratégia na formação do trabalhador para atuar na ESF.
Não adesão ao tratamento medicamentoso contínuo e fatores associados: estudo de base populacional
Fellipe Assan Remondi, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/04/2012
Este trabalho investiga os fatores associados a não adesão à terapia
medicamentosa contínua, entre eles a complexidade da farmacoterapia, em
indivíduos de 40 anos e mais de idade. Foi realizado um inquérito transversal de
base populacional em Cambé/PR. A adesão à terapia foi avaliada pela escala de 4
itens de Morisky, Green e Levine e a complexidade pelo Índice de Complexidade da
Farmacoterapia. Analisaram-se também variáveis sociodemográficas, de condições
de saúde, de utilização dos serviços de saúde e do uso de medicamentos. Após
análise bruta, foram construídos modelos multivariados de regressão linear
generalizada de Poisson com estimação robusta da variância para descrever a
associação entre as variáveis e a não adesão. Foram entrevistados 1180 indivíduos,
dos quais 78% utilizaram medicamentos nos 15 dias anteriores a entrevista e em
55% registrou-se o uso contínuo. Foram analisados 639 indivíduos, com
predominância do sexo feminino, idade entre 40 e 59 anos, baixa escolaridade. A
cobertura da Estratégia de Saúde da Família foi de 57,6% e 14,5% dos
entrevistados relataram ter tido descontinuidade no acesso aos medicamentos. A
resposta mais frequente dentre as perguntas realizadas para mensurar a não
adesão foi a referente aos esquecimentos (45,9%). A prevalência de não adesão foi
de 63,5%. A complexidade terapêutica teve valor médio de 8,1 pontos, e adotou-se o
percentil 80 para definição dos casos de maior complexidade. Após análise ajustada,
permaneceram associados a não adesão (p<0,05): não ser acompanhado pelo
agente comunitário de saúde, ter tido descontinuidade no acesso aos medicamentos
e a elevada frequência de utilização dos medicamentos ao longo do dia. Os
resultados indicam uma alta prevalência da não adesão com possíveis impactos
negativos para os indivíduos e para a sociedade. A partir destes dados, se fazem
necessárias estratégias que visem potencializar o trabalho das equipes de saúde da
família, a garantia do acesso gratuito e contínuo aos medicamentos e a simplificação
do número de doses diárias para minimização deste problema de saúde pública.
Características antropométricas de crianças de 6 a 23 meses de idade e fatores associados a desvios nutricionais
Cybele Renata Trevisan e Silva, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 27/04/2012
O crescimento infantil é um dos melhores indicadores de saúde e seu
acompanhamento constitui uma das prioridades na atenção a esse grupo
populacional. O objetivo geral desse trabalho foi realizar uma avaliação
antropométrica de crianças de seis a vinte e três meses de idade residentes na área
de abrangência de uma unidade básica de saúde (UBS) de Londrina-PR e identificar
fatores associados aos desvios nutricionais. Como objetivo complementar,
comparou-se a avaliação do estado nutricional utilizando-se os referenciais NCHS
de 1977 e OMS de 2006. Estudo transversal, com amostra de 268 crianças
identificadas no SINASC, Ficha A e outros registros do serviço. Os desfechos
estudados foram excesso de peso e baixa estatura, definidos por meio de percentil e
escore z, segundo referencial proposto pela OMS em 2006. As variáveis
independentes foram as relacionadas às crianças, às mães, às condições
sociossanitárias, ao acesso ao serviço e a algumas características alimentares.
Realizou-se análise descritiva, e, para a associação entre as variáveis, foi utilizado o
teste de qui-quadrado, com correção de Yates e teste exato de Fisher. Entre as
crianças avaliadas, observou-se maior proporção de sexo masculino (53,7%), de
peso adequado de nascimento (94,8%) e de crianças que são cuidadas pela mãe
(63,1%). A maioria das crianças faz acompanhamento na UBS (75,4%), e 91,7%
iniciaram a puericultura antes de 30 dias de vida. Encontrou-se também uma
frequência alta de ingestão de biscoitos salgados industrializados (59,3%),
refrigerante (59,7%) e doces (69,4%). Na avaliação antropométrica verificou-se
prevalência de 14,9% de risco de sobrepeso, 7,1% de sobrepeso e obesidade, 2,6%
de déficit de peso e 4,1% de baixa estatura. Na comparação entre os dois
referenciais, verificou-se maior sensibilidade do referencial OMS de 2006 tanto no
diagnóstico de excesso de peso na relação peso para estatura, quanto no de baixa
estatura. Os fatores que se associaram significativamente na análise bivariada ao
excesso de peso no índice peso para estatura foram: quem cuida a maior parte do
tempo da criança não é a mãe, trabalho materno e a não convivência da mãe com o
companheiro. Em relação ao déficit de estatura, a prevalência do desfecho foi
significativamente mais elevada entre as crianças cujo cuidador não é a mãe. A
maior importância do excesso de peso em relação ao déficit sugere transição
nutricional em curso, e o seu envolvimento com doenças crônicas não transmissíveis
aponta a necessidade de ações efetivas em faixas etárias de vida cada vez mais
precoces.
Incapacidade funcional entre adultos de 40 anos ou manis idade: Estudo de base populacional
Cristhiane Yumi Yonamine, Tiemi Matsuo, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 30/05/2012
O envelhecimento populacional é um fenômeno que concorre para um aumento da
prevalência das doenças crônicas e da incapacidade funcional. Envelhecer mantendo
todas as funções não significa problema para o indivíduo ou para a comunidade,
entretanto, quando a autonomia funcional começa a deteriorar, os problemas começam a
surgir. A incapacidade funcional é um importante indicador de saúde, uma vez que
reflete a piora da qualidade de vida e os graves impactos sociais, tais como a
institucionalização e o aumento do uso de serviços de saúde. O presente estudo teve por
objetivo analisar a prevalência e os fatores associados à incapacidade funcional entre
adultos residentes na região urbana do município de Cambé, Paraná. Trata-se de um
estudo transversal, de base populacional, realizado com adultos de 40 anos ou mais de
idade, no período de fevereiro a junho de 2011. As variáveis dependentes pesquisadas
foram os fatores associados à dificuldade de subir e descer escadas e os fatores
associados à autonomia funcional em dois grupos etários. A população foi composta de
1336 sujeitos elegíveis, dos quais 1180 foram entrevistados. A prevalência da
incapacidade funcional encontrada nas atividades básicas de vida diária apresentou-se
baixa e aumentou progressivamente com a idade. As dificuldades mais frequentes
referem-se às atividades de urinar (5%), subir e descer escada (24%), ler ou enxergar
(78,3%), memorizar (28,9%) e lavar roupa (23,4%). Os fatores associados à dificuldade
de subir e descer escada foram: ser do sexo feminino, não ter trabalho remunerado,
pertencer à classe econômica C, D ou E, não praticar atividade física no lazer, ter
histórico de doenças crônicas, ter histórico de quedas nos últimos 12 meses e ser obeso.
Observou-se que 46,5% das pessoas estudadas apresentavam a autonomia funcional
preservada e alguns fatores associados à autonomia funcional foram distintos entre
idosos e não idosos. Ter trabalho remunerado, praticar atividade física no lazer e não ter
histórico de artrite/artrose foram comuns a ambos os grupos, mas a escolaridade e a
ausência de histórico de diabetes associaram-se apenas na faixa etária de 40 a 59 anos,
enquanto que histórico de problemas na coluna relacionou-se apenas às pessoas de 60
ou mais anos de idade. Os resultados apontam a necessidade de ampliar as ações e as
estratégias assistenciais, principalmente na atenção básica, visto a magnitude de
algumas dificuldades que interferem na autonomia funcional e os fatores associados à
incapacidade e à autonomia funcional.