Teses e Dissertações
Saúde Bucal dos Homens Jovens: Ponta Grossa, Paraná-Brasil
Claudia Saveli, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 31/08/2006
O objetivo deste estudo foi conhecer o estado geral de saúde dos jovens de 18
anos do sexo masculino de Ponta Grossa, Paraná, Brasil e como se dá o acesso aos
serviços odontológicos. A metodologia utilizada foi de um estudo transversal em uma
amostra aleatória de alistandos (n= 421) do Exército Brasileiro. O instrumento de
coleta de dados foi o utilizado no levantamento nacional SBBRASIL, e para aferir o
motivo dos jovens que nunca foram ao dentista o instrumento utilizado e pré-testado
baseou-se na literatura. Associações entre prevalência de cárie, índice CPO-D e
seus componentes com as variáveis estudadas foram avaliadas por meio do teste de
Kruskall-Wallis. A prevalência de cárie foi de 75,54% e o índice CPO-D médio foi
igual a 6,02. Obteve-se o percentual de 21,5% de jovens que necessitavam de
tratamento odontológico. Diferenças estatisticamente significativas foram
encontradas entre prevalência de cárie dentária e nível sócio – econômico, sendo os
grupos de menor escolaridade e renda os com piores indicadores. Averiguou-se que
55,58% apresentavam doença periodontal, e em média 3,34 dos sextantes
apresentavam sangramento. Dentre os 5,5% de jovens que apresentavam alteração
de tecido mole, a presença de “piercing” foi a mais encontrada. Na amostra obtida
encontrou-se o percentual de 7,13% de entrevistados que nunca foram ao dentista,
e os dos que foram 52,43% utilizaram o serviço público, sendo o motivo de maior
procura por consulta de rotina e manutenção. Grande maioria dos jovens considerou
o atendimento de bom a ótimo. Observou-se que quanto melhor a autopercepção do
jovem em relação à sua saúde bucal menor o índice CPO-D (p =0,00). O estudo
considerou que o profissional da Odontologia vem a ser o ator principal no processo
saúde /doença bucal e o maior responsável para que a situação das condições
bucais venha a melhorar.
Evolução da Atenção Básica em Rolândia – Paraná: Uma Avaliação do Período de 1996 a 2004
Fernando César de Aguilera, Luiz Cordoni Júnior
Data da defesa: 22/09/2006
O estudo pretendeu avaliar a atenção básica no município de Rolândia, no período
entre os anos de 1996 e 2004, a evolução da estrutura do serviço municipal de
saúde, analisar os resultados dessa evolução e comparar os resultados obtidos
em três períodos distintos. O primeiro compreende os anos de 1996 a 1998 e
caracteriza-se por ainda não haver a implantação do PSF; O segundo vai de 1999
a 2001, onde o PSF é incipiente; E o terceiro, vai de 2002 a 2004 e se notabiliza
pela adoção do PSF como estratégia de reorganização da atenção básica no
município. Foram adotados indicadores de recursos financeiros e de recursos
humanos para a avaliação da estrutura. A avaliação de resultados foi realizada
utilizando-se dados secundários e contou com indicadores da evolução de
produção de consultas médicas, número de internamentos pelo SUS, além de
indicadores de mortalidade. A comparação dos resultados apurados nos períodos
estudados foi realizada utilizando a distribuição de Poisson, e também, foi
realizada a análise de tendência, pelo método da regressão linear. O estudo
demonstrou que houve avanços significativos, principalmente na estrutura do
serviço de saúde do município. Além disso, há resultados importantes na evolução
da oferta de consultas médicas, dos internamentos por AVC, dos internamentos
totais e da mortalidade geral. Esta dissertação representa um primeiro passo dado
rumo ao objetivo de avaliar a atenção básica no município de Rolândia, até
mesmo por ter analisado apenas o período de 1996 a 2004. No entanto, faz-se
necessário persistir na continuidade dos processos de avaliação, para que se
disponha de instrumentos efetivos e eficazes no auxílio ao planejamento da
política de saúde municipal.
Vacinação contra a gripe em idosos não institucionalizados: estudo de base populacional
Renata Dip, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 04/12/2007
A gripe apresenta um grande impacto na morbidade e na mortalidade dos idosos. A
medida mais efetiva para evitar as complicações dessa doença é a vacinação. Este
estudo, de base populacional, realizado por meio de inquérito domiciliar, teve por
objetivos estimar a cobertura vacinal contra a gripe em idosos não
institucionalizados, analisar os fatores associados à não adesão e identificar os
eventos adversos após a vacinação. A população de estudo foi constituída pelos
idosos residentes na área de abrangência do Programa Saúde da Família da
Unidade Básica de Saúde Vila Brasil, no município de Londrina, Paraná. A amostra
foi calculada em 425 idosos, divididos em quotas a serem preenchidas em cada
setor censitário da área de estudo. Houve 29 perdas (6,8%), por recusa à
participação ou pelo fato de o idoso não ter sido encontrado no domicílio após 4
tentativas de visita. Foram entrevistados 396 idosos, com idade entre 60 e 95 anos.
A média de idade encontrada foi de 72,1 anos, sendo que 56,1% eram mulheres,
58,6% tinham menos de 5 anos de escolaridade e 17,2% pertenciam às classes
econômicas D ou E. Embora 100% dos idosos referissem conhecer a vacina, apenas
5,3% referiram o médico como fonte da informação. A cobertura vacinal foi de
73,0%. Dentre os que não se vacinaram 83,2% (89 idosos) alegaram como motivo
da não adesão o desejo explícito de não ser vacinado. E as principais justificativas
para isso foram o medo de eventos adversos após a vacinação e a falta de
credibilidade na eficácia ou na necessidade da vacina. Apesar disso, neste estudo a
prevalência de eventos adversos foi baixa (6,6%). O único evento adverso referido
foram sintomas gripais até duas semanas após a vacinação. Na análise multivariada,
idade (< 70 anos), tabagismo (ser tabagista) e ter referido ausência de consulta
médica no último ano associaram-se de forma independente a menor adesão à
vacinação. Os resultados apresentados apontam a necessidade de esclarecimento
da população quanto aos baixos níveis de eventos adversos após a vacinação assim
como sobre sua necessidade e sua real eficácia. Evidenciou-se também a
necessidade de melhorias nas campanhas de vacinação especificamente para dois
grupos diferentes: idosos abaixo de 70 anos e idosos tabagistas. Nesse sentido, são
necessários estudos para o desenvolvimento de linguagem mais adequada para
cada grupo de menor adesão.
Representações do Trabalho Multiprofissional em um Serviço Público de Saúde Municipal
Cristiane Corsini Medeiros Otencio, Luiza Nakama , Ana Maria Cavalcanti Lefèvre
Data da defesa: 17/12/2007
Este estudo tem como objetivo conhecer as representações sociais dos profissionais
de saúde sobre o trabalho multiprofissional no Serviço Público de Saúde no
município de Bandeirantes – Paraná. Foram entrevistados 44 profissionais de saúde
de nível superior, com 4 questões abertas que abordaram aspectos de interesse
para o tema. Para análise e processamento dos dados, utilizou-se a técnica do
Discurso do Sujeito Coletivo, por meio do qual se construiram os discursos síntese
com auxílio do programa Qualiquantisoft. Nos discursos obtidos os profissionais de
saúde entrevistados consideram seu trabalho como uma rotina de atendimento
programado, determinado pela demanda, desgastante, porém vocacionado.
Destacam que o trabalho multiprofissional é a integração de vários campos da área
da saúde, entre profissionais de outras áreas e de outras especialidades para ter
uma equipe formada para solucionar os problemas. Relatam que para o
desenvolvimento do trabalho multiprofissional deveria acontecer maior interação
entre os gestores e os profissionais; recursos materiais e físicos para a melhoria do
atendimento; capacitação, conscientização, contratação de profissionais para o
serviço; remuneração salarial e organização do serviço de saúde. Os conteúdos
revelam barreiras para o desenvolvimento do trabalho multiprofissional, como a
ausência de novas formas de gestão, flexibilização das relações de trabalho e ainda
a necessidade de resolução de questões antigas, como remuneração salarial, planos
de cargos e carreiras, e organização do serviço com instalação de mecanismos que
possam evitar a intensa rotatividade de profissionais.
Consumo de medicamentos entre adultos residentes na área de abrangência de uma Unidade Saúde da Família
Milene Zanoni da Silva, Darli Antonio Soares
Data da defesa: 30/01/2008
Objetivo: Determinar a prevalência e os fatores associados ao consumo de medicamentos entre adultos de 20 e 59 anos. Método: Estudo transversal de base populacional. Foram entrevistados 374 indivíduos da área de abrangência de uma Unidade Saúde da Família de Ponta Grossa (PR), entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007. O período recordatório utilizado foi dos últimos 7 dias. Os medicamentos foram classificados segundo Anatomical Therapeutic Chemical Code. Os testes de qui-quadrado e de regressão logística foram utilizados para análise estatística. Resultados: A prevalência de consumo de medicamentos foi de 67,1%. A utilização variou entre 1 e 17 medicamentos. As classes terapêuticas mais consumidas foram analgésicos e a dipirona foi o princípio ativo mais usado. Após análise multivariada, as variáveis que permaneceram associadas significativamente foram: sexo, autopercepção de saúde, presença de doenças crônicas e filiação a plano de saúde. Conclusão: A prevalência de consumo de medicamentos foi semelhante ao encontrado em outros estudos. Os achados desta pesquisa poderão contribuir para nortear as ações das equipes saúde da família.
Insegurança alimentar de beneficiários de programas de transferência de renda
Francielle Richetti Anschau, Tiemi Matsuo
Data da defesa: 30/01/2008
O quadro de insegurança alimentar do Brasil é um dos mais preocupantes do mundo
e sua superação deve-se pautar na elaboração de políticas públicas intersetoriais.
Este estudo teve por objetivo determinar a prevalência de insegurança alimentar de
famílias beneficiárias de programas de transferência de renda e estabelecer
associações entre a insegurança alimentar e as características sócio-demográficas
das famílias. A população de estudo foi constituída por 421 famílias beneficiárias de
programas de transferência de renda, residentes no município de Toledo-PR. Os
dados foram coletados entre dezembro de 2006 e fevereiro de 2007, em visitas
domiciliares com entrevista, mediante consentimento livre e esclarecido. Os
instrumentos de coleta de dados foram a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar
(EBIA), Questionário de Classificação Econômica (ABEP) e um questionário
complementar. A presença de 4 a 6 moradores no domicílio foi observada em 69,1%
dos casos e 94,3% apresentaram 1 ou mais moradores com idade inferior a 18 anos.
Em 29,4% dos domicílios a renda per capita foi de R$ 150,01 ou mais e 88,6% dos
entrevistados se disseram cadastrados em algum programa de transferência de
renda; destes, 86,9% são beneficiários do Bolsa Família. Segundo a classificação
econômica, 67,9% se enquadraram nas Classes D ou E. Em relação aos chefes de
domicílio, 75,1% são do sexo masculino. A 4ª série não foi concluída por 45,6% dos
chefes e cerca de 50% trabalhavam de maneira informal ou estavam
desempregados. A insegurança alimentar esteve presente em 74,6% das famílias,
das quais 5,9% apresentaram insegurança severa e 23,8% moderada. Quanto maior
a renda média per capita, mais distante a família se apresenta da insegurança
alimentar (p<0,0001). Conforme análise bivariada, as demais variáveis relacionadas
à insegurança alimentar moderada ou severa foram: classe econômica D ou E
(p<0,0001), presença de moradores menores de 18 anos no domicílio (p=0,0017),
famílias que se dizem beneficiárias de programas de transferência de renda
(p=0029), baixa escolaridade (p=0,0176) e o trabalho informal ou o desemprego
(p=0,0003) do chefe do domicílio. Após o controle das variáveis na análise
multivariada, mantiveram a associação a classificação econômica D ou E (OR=2,74
– I.C.1,57 a 4,80), a presença 5 ou mais moradores no domicílio (OR=1,83 - I.C.
1,15 a 2,89) e o trabalho informal ou desemprego do responsável pelo domicílio
(OR=1,81 – I.C. 1,14 a 2,86). A elevada prevalência de insegurança alimentar
moderada ou severa indica a necessidade de maior atenção às políticas públicas, de
forma a auxiliar na melhoria da geração de emprego e renda, na inclusão de bens de
consumo e serviços para as famílias e, no acesso a alimentos em quantidade e
qualidade adequadas, de forma a garantir a segurança alimentar.
Formação de facilitadores de educação permanente em saúde: Percepções de tutores e facilitadores
Fernanda de Freitas Mendonça, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 20/02/2008
O Ministério da Saúde (MS) instituiu a política de Educação Permanente em Saúde
(EPS) como estratégia de transformação das práticas de saúde e de formação dos
profissionais. Para tanto, houve a criação dos pólos de EPS, como instância
locoregionais. Apesar de toda essa estruturação surgiram dificuldades para trabalhar
a educação permanente. Dessa forma, como estratégia de fortalecimento da
implementação da EPS iniciou-se a formação de tutores e facilitadores de EPS em
todo o país. A formação de tutores e facilitadores de EPS é uma iniciativa recente,
logo não se conhece como esses atores estão lidando com a responsabilidade de
produzir mudanças no processo de trabalho. Com base nisso, o objetivo dessa
pesquisa é analisar a percepção de tutores e facilitadores sobre a Educação
Permanente em Saúde e sobre suas atuações no processo de implementação dessa
política. Trata-se de um estudo qualitativo, realizado com tutores e facilitadores de
EPS, em Londrina – PR, no período de dezembro de 2006 a janeiro de 2007. Os
dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e submetidos à
análise de discurso proposta por Martins e Bicudo. Da análise das entrevistas
emergiram quatro categorias: Percebendo o processo de formação de facilitadores
de EPS; Compreensão da EPS; Ser Tutor e Facilitador de EPS e Vivenciando o
processo de mudança. Os entrevistados revelaram que o processo de formação de
facilitadores de EPS teve diversas limitações, dentre elas, a greve dos profissionais
de saúde, o sentimento de falta de apoio da gestão e a persistência de práticas
hegemônicas. Por conta disso, os participantes enfatizaram em seus discursos as
dificuldades e necessidades que têm vivenciado para implementar a EPS. Essas
necessidades e dificuldades influenciaram a percepção de tutores e facilitadores
acerca de seu papel. Para os sujeitos, só haverá mudanças significativas no
processo de trabalho quando a EPS for institucionalizadal. Apesar dos percalços, os
sujeitos conseguiram compreender e reconhecer a importância da política de EPS e
da formação de facilitadores. Os participantes deram destaque para: ampliação do
olhar sobre o processo de trabalho em saúde, reflexão, autocrítica e crescimento
pessoal e profissional. Espera-se que os resultados desse estudo possam fornecer
subsídios para o enfrentamento dos desafios que se colocam no desenvolvimento
EPS e fortalecer esse processo, sobretudo, no atual contexto, em que as discussões
em torno da EPS voltam a ocupar um espaço na agenda da gestão, devido à
publicação da nova portaria 1996 GM/MS.
A violência e suas possibilidades de enfrentamento: o olhar de lideranças comunitárias
Márcia Caroline Portela Amaro, Selma Maffei de Andrade, Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 29/02/2008
Desde a década de 80 assistimos a uma escalada da violência urbana no Brasil. A
violência tornou-se hoje um dos mais sérios problemas da Saúde Coletiva,
chegando a ser, em alguns locais do país, juntamente com outras causas
externas, a segunda causa de mortes. A cidade de Londrina – PR vem assistindo
a um preocupante aumento dos índices de violência, que tem levado lideranças da
cidade a se mobilizarem. O objetivo desta pesquisa foi identificar qual o olhar que
lideranças comunitárias têm sobre a violência e quais estratégias de
enfrentamento visualizam nas suas realidades. Abordou-se também a visão das
lideranças sobre a atuação do setor saúde no problema. Foram entrevistadas 25
lideranças de duas regiões periféricas da cidade, diferentes sob o aspecto da
mobilização popular. Foi um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, com
entrevistas semi-estruturadas. As lideranças foram escolhidas a partir do processo
chamado de “bola de neve” ou amostragem em rede. Foram realizadas entrevistas
até que se atingiu a saturação das convergências entre as respostas. A técnica de
análise dos dados foi a de Bardin. Entre os resultados, levantou-se que a visão
das lideranças sobre a violência está permeada de contradições e mecanismos de
defesa, como a naturalização e a negação da violência. Entre as estratégias de
enfrentamento, na comunidade menos mobilizada predomina a reivindicação
dirigida às autoridades. Na mais mobilizada, o que se destaca é a prática de
parcerias com outros setores da sociedade, inclusive com o governo. A atuação
dos profissionais de saúde é vista como precária, porém com possibilidades de
melhora através da formação de parcerias com a comunidade. Este estudo
contribuiu para identificar as estratégias que a comunidade pode utilizar para
prevenir a violência, ajudando assim a reduzir as mazelas deixadas por esta na
sociedade.
Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde: experiências de ativadores do Paraná
Alberto Durán Gonzalez, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 14/03/2008
O curso de especialização em ativação de processos de mudança na formação
superior dos profissionais de saúde surge como estratégia de ampliação e
intensificação do movimento pró-mudança já existente no cenário do ensinoaprendizagem da área saúde no Brasil. Buscava-se a ampliação, por meio da
inserção de novos atores comprometidos com as novas propostas, e a
intensificação, por meio do próprio modelo metodológico apresentado pelo curso.
Modelo que priorizava a participação ativa, crítica e reflexiva, além da construção
coletiva do conhecimento. Analisou-se a percepção de participantes do curso de
ativadores quanto à participação no curso, implantação dos processos de mudança
e as perspectivas do movimento pró-mudança. Tratou-se de um estudo qualitativo
com período de coleta de dados entre março e abril de 2007. Foram sujeitos de
pesquisa egressos residentes no Paraná. Trabalhou-se inicialmente com dados de
fontes secundárias, os trabalhos de conclusão de curso (TCC) e, posteriormente,
com dados de fontes primárias, entrevistas semi-estruturadas realizadas com os
autores de TCC que se caracterizassem como planos de ação. Dos 57 egressos do
Paraná, 25 enviaram seus TCC para a primeira análise e 21 foram entrevistados.
Todos os participantes da pesquisa eram do sexo feminino. A análise dos manifestos
possibilitou evidenciar que o curso ajudou a identificar o desconforto vivenciado na
realidade das participantes, forneceu ferramentas para a mudança e propiciou sua
experiência de utilização. As entrevistadas confirmaram a importância da integração
entre as competências abordadas no curso, porém apontaram ser difícil a interação
na realidade. Algumas ativadoras encontraram facilidades humanas, administrativas
e/ou financeiras no início da implantação do plano de ação, entretanto não se
caracterizaram como suficientes para a mudança nos cenários locais. Barreiras
estruturais, metodológicas, administrativas, financeiras e principalmente humanas
também se mostraram presentes. A pouca disponibilidade de diversos atores e o
acréscimo de atividades no trabalho cotidiano limitaram diversas experiências.
Estratégias de convencimento, motivação e de informação se mostraram eficientes
na superação de algumas dificuldades. As ativadoras passaram por um momento de
desarticulação interpessoal que bloqueou processos mais profundos de
transformação. Isoladas em suas aldeias, acreditam que o movimento pró-mudança
foi impulsionado, mas não na velocidade esperada ou desejada. Políticas públicas
de estímulo a mudança na formação devem articular e apoiar este novo ator,
fortalecendo os inúmeros processos iniciados pelos ativadores qualificados pelo
curso.
Adequação da demanda atendida em serviço de urgência de média complexidade em Londrina, Paraná, Brasil
Ricardo de Oliveira, Regina Kazue Tanno de Souza, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 30/04/2008
A hierarquização da atenção à saúde estabelece fluxos assistenciais ascendentes
iniciando-se por serviços de menor complexidade. Entretanto, estudos demonstram a
existência de um funcionamento desordenado e desvios dos fluxos nesse sistema. Assim,
os serviços de urgência são excessivamente utilizados, acarretando filas e atendimento
de alto percentual de casos inadequados. Dada a escassez de pesquisas abordando o
tema da urgência no país, este estudo teve por objetivo caracterizar e classificar a
demanda atendida no Pronto Atendimento Municipal em Londrina-PR (PAM), segundo a
adequação dos casos ao papel assistencial do serviço. A população de estudo foi
constituída por 394 pessoas, selecionadas por meio de amostragem sistemática, que
procuraram o PAM em duas semanas do mês de julho de 2007. Os dados foram
coletados após as consultas médicas por entrevistadores devidamente treinados, e as
informações foram registradas em banco de dados do aplicativo Epi Info versão 3.4 para
Windows. Para a classificação dos casos quanto à sua adequação foram utilizados
critérios explícitos (situações objetivamente definidas) e implícitos (a critério do médico
consultante). A análise de associação entre as variáveis independentes e a adequação ao
serviço foi realizada a partir da classificação por critérios explícitos utilizando-se o teste de
qui-quadrado (χ2
). Verificou-se, entre os principais resultados, discreto predomínio de
pessoas do sexo feminino (55,6%), na faixa etária entre 20 e 39 anos (45,9%) com
apenas o nível fundamental de ensino (51,7%), inseridas no mercado de trabalho, não
beneficiárias de plano de saúde. A maioria das pessoas procurou o PAM
espontaneamente (77,1%) e, entre os casos referenciados, as UBS foram os serviços que
mais encaminharam (76,0%). O transporte coletivo foi o mais utilizado (46,7%) e 79% das
pessoas tiveram alta após a consulta no PAM. Dos casos analisados, 54,3% foram
considerados adequados segundo os critérios classificatórios explícitos. Os fatores
associados significativamente (p<0,05) à adequação ao serviço foram: idade igual ou
superior a 60 anos, inserção no mercado de trabalho, ser usuário de unidades básicas de
saúde e procura por outros serviços previamente ao atendimento no PAM para o mesmo
problema. Quando comparados os diferentes critérios de classificação da demanda,
verificou-se concordância de 81,4% (estatística Kappa = 0,62), considerada
substancialmente concordante. Apesar da demanda espontânea ter sido predominante
(77,1%), a realidade observada no PAM de Londrina revelou que há uma adequação
razoável da demanda à natureza do serviço, fato pouco observado em estudos
semelhantes.