Teses e Dissertações
Adesão ao tratamento anti-hipertensivo e fatores associados na área de abrangência de uma Unidade de Saúde da Família, Londrina, PR
Edmarlon Girotto, Selma Maffei de Andrade, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 17/06/2008
A hipertensão arterial é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares.
Para o seu controle são necessárias medidas farmacológicas e não-farmacológicas,
como alimentação e atividade física. Contudo, a adesão ao tratamento é o grande
desafio dos profissionais e serviços de saúde, especialmente na atenção básica.
Nesse sentido, este estudo teve por objetivo determinar a adesão ao tratamento
anti-hipertensivo e identificar fatores associados a esta condição. A população de
estudo foi composta por hipertensos de 20 a 79 anos, cadastrados na Unidade de
Saúde da Família Vila Ricardo, no município de Londrina, Paraná. A coleta de dados
ocorreu de janeiro a junho de 2007, com amostra sistemática e aleatória de
hipertensos. Foram colhidas informações auto-referidas, além das medidas de
pressão arterial e das circunferências abdominal e do quadril. Foram entrevistados
385 hipertensos, sendo 62,6% mulheres e 37,4% homens, com idade média de 58,9
anos. Cerca de 50,0% dos entrevistados tinham no máximo 3ª série do ensino
fundamental completa, 46,0% pertenciam à classificação econômica D ou E e 57,4%
referiram não possuir trabalho remunerado. Entre os entrevistados, 84,2% relataram
utilizar medicamentos para controle da hipertensão, 8,3% abandonaram o
tratamento e 7,5% alegaram que não houve prescrição de medicamentos. A adesão
ao tratamento farmacológico foi encontrada em 59,0% dos hipertensos. O
esquecimento (32,2%), a normalização da pressão arterial (21,2%) e os efeitos
adversos (13,7%) foram os principais motivos alegados para a não-adesão. Com
relação ao tratamento não-farmacológico, 17,7% e 69,1% dos hipertensos referiram
ser aderentes à atividade física regular e a mudanças na alimentação,
respectivamente. A adesão à atividade física regular associou-se ao sexo masculino,
à maior escolaridade, à presença de diabetes, à ausência de colesterol elevado, à
relação cintura-quadril e circunferência abdominal normais, ao índice de massa
corporal < 25 kg/m2
, ao mínimo de uma consulta ao ano e a uma medida da pressão
arterial ao mês. A adesão a modificações na alimentação esteve associada ao sexo
feminino, à menor escolaridade, ao acesso a plano de saúde, ao não-tabagismo ou
ex-tabagismo, ao não-consumo ou consumo irregular de bebidas alcoólicas, ao nãoabandono do tratamento medicamentoso, ao mínimo de uma consulta ao ano e a
uma medida da pressão arterial ao mês. Na análise multivariada, os fatores
independentemente associados à adesão ao tratamento farmacológico foram: a
faixa etária de 50 a 79 anos (Razão de Chances [OR]=4,673), o não-consumo ou
consumo irregular de bebidas alcoólicas (OR=4,608), a realização de consultas
médicas em intervalos máximos de um ano (OR=1,908) e a ausência de trabalho
remunerado (OR=1,792). Os resultados indicam uma baixa adesão ao tratamento
anti-hipertensivo, especialmente à atividade física regular, e sugerem a implantação
de estratégias que visem estimular a adesão às medidas de controle da hipertensão
arterial.
Pessoas vivendo com HIV/aids: vivências do tratamento anti-retroviral
Gisele dos Santos Carvalho, Regina Melchior
Data da defesa: 02/07/2008
O tratamento anti-retroviral atual tornou a aids uma doença crônica. Apesar desta
conquista, a adesão à terapia anti-retroviral ainda sofre influência de vários fatores,
que devem ser analisados para o desenvolvimento de novas estratégias de adesão
e para o aprimoramento daquelas já existentes. Este estudo teve por objetivo
compreender a vivência das pessoas infectadas pelo HIV com o tratamento antiretroviral. Foram realizadas entrevistas individuais semi-estruturadas com dez
usuários de um centro de doenças infecciosas em uma cidade de médio porte do
Paraná. Os discursos, após serem transcritos, foram analisados pela análise de
conteúdo proposta por Bardin. Os resultados foram apresentados em quatro
categorias: Descobrir-se HIV positivo, “E agora?” – Vivendo e convivendo com o
HIV, Interação com o tratamento anti-retroviral e Estratégias de adesão ao
tratamento. A primeira categoria descreve como se deu a descoberta do vírus e
quais sentimentos estiveram envolvidos com este momento. Na segunda categoria,
desvela-se a relação da pessoa infectada pelo HIV com o próprio vírus e com as
pessoas de seu cotidiano. A categoria Interação com o tratamento anti-retroviral
incorpora as experiências com as medicações, no início e no decorrer do tratamento,
e o papel do serviço de saúde diante as dificuldades vivenciadas pelas pessoas
infectadas pelo vírus e quanto à adesão à terapia. A última categoria traz as
estratégias desenvolvidas pelos entrevistados que ajudam a aderir ao tratamento.
Concluiu-se que, apesar da diminuição do número de doses e comprimidos – em
comparação com os esquemas terapêuticos anteriores – ter minimizado em muito as
dificuldades relacionadas à tomada da medicação, a adesão aos anti-retrovirais
ainda representa a superação de obstáculos relacionados aos medicamentos e à
convivência com o HIV. As estratégias para aderir ao tratamento levantadas pelas
pessoas que fazem uso das medicações podem fornecer aos profissionais de saúde
meios para auxiliar outros pacientes a adaptarem o tratamento ao seu estilo de vida.
O investimento do poder público em estratégias de intervenção tem resultado em
melhoras na adesão. O fortalecimento da relação entre os profissionais de saúde e
as pessoas que vivem com o HIV constitui outro ponto decisivo na adesão ao
tratamento.
Asma em municípios do Paraná: Análise de internações hospitalares e avaliação de um programa de atenção à saúde
Tatiane Almeida do Carmo, Darli Antonio Soares
Data da defesa: 25/07/2008
A asma, considerada problema de saúde pública, tem estimulado a implantação de
programas de controle deste agravo por todo o país. Este estudo teve por objetivo
avaliar o impacto de programas de controle da asma em municípios paranaenses e a
efetividade do Programa de Controle da Asma no município de Londrina, Paraná.
Realizou-se um estudo dividido em duas fases. A primeira foi realizada com um
estudo de séries temporais desenvolvido com dados secundários do Sistema de
Informações Hospitalares de seis municípios do estado do Paraná. O material de
estudo foi constituído por internações por asma e crise asmática ocorridas entre
1998 e 2006. Na segunda fase realizou-se um estudo de coorte retrospectiva com a
seleção de Unidades de Saúde da Família (USF) de Londrina cujos programas
estavam em fases diferentes de consolidação. Foram selecionadas intencionalmente
três USF, uma com programa consolidado e duas com programa não-consolidado. A
coleta de dados foi realizada por meio de um formulário estruturado aplicado no
domicílio dos entrevistados. Os resultados encontrados na fase I mostraram uma
tendência de redução das internações em todos os municípios estudados.
Municípios com programa de asma apresentaram coeficientes de internação
inferiores em comparação aos municípios sem programa. A queda das internações
nos municípios com programa foi maior que a dos municípios sem programa no
período após a implantação dos programas de asma. Na fase II foram entrevistados
313 asmáticos, 168 inscritos na USF com programa consolidado e 145 cadastrados
nas USF com programa não-consolidado. Houve predominância, em ambos os tipos
de USF, de pacientes do sexo feminino, na faixa etária de 15 a 59 anos, com menos
de nove anos de estudo e pertencentes às classes econômicas C, D ou E. A USF
com programa considerado consolidado apresentou melhor organização do
Programa, com menor relato de taxa de abandono (20,8% em comparação a 36,6%
das outras), maior participação de pacientes em grupos (32,1% versus 2,1%) e
maior relato de recebimento de visitas domiciliares (48,2% versus 0%). Na amostra
estudada também houve diferença significativa (p<0,001) na utilização de
broncodilatadores e no número de atendimentos de urgência entre os asmáticos
cadastrados nas USF com programa consolidado e não-consolidado. Dos asmáticos
inscritos na USF com programa consolidado, 55,4% referiram uso de broncodilatador
em comparação a 74,5% dos inscritos na USF com programa não-consolidado. Em
relação aos atendimentos de urgência, os resultados encontrados foram 29,2% e
55,9% respectivamente para as USF com programa consolidado e não-consolidado.
Um programa de controle da asma bem organizado pode resultar na redução dos
atendimentos de urgência decorrentes de crises asmáticas, contribuindo na melhoria
dos indicadores de saúde, bem como para a elevação da qualidade de vida dos
asmáticos.
Aspectos demográficos e mortalidade de populações indígenas do Estado do Mato Grosso do Sul
Maria Evanir Vicente Ferreira, Tiemi Matsuo, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 30/04/2010
causas, verificou-se diferença na importância das causas de morte
entre as populações, caracterizada pela maior importância das doenças infecciosas
e parasitárias na estrutura de óbitos da população indígena. Na comparação dos
coeficientes, os homens indígenas apresentaram taxas mais elevadas para as
causas externas, doenças do aparelho respiratório e doenças infecciosas e
parasitárias. Porém, entre as mulheres, as taxas só foram significativamente mais
elevadas para as causas externas e doenças infecciosas e parasitárias. A
população indígena também apresentou especificidade na mortalidade por causas
externas, representado pela grande importância de lesões autoprovocadas
intencionalmente (suicídios) na juventude. Os resultados obtidos permitem
evidenciar que as condições de saúde da população indígena são piores que a da
população total do Estado. Tais constatações sugerem desigualdade nas condições
de vida entre as populações estudadas.
Risco de ulceração em pés de portadores de Diabetes Mellitus em Londrina, Paraná: caracterização do cuidado na atenção básica, prevalência e fatores associados
Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Selma Maffei de Andrade , Maria do Carmo Lourenço Haddad
Data da defesa: 30/04/2010
O portador de diabetes mellitus (DM) tem, aproximadamente, 15% de possibilidade
de desenvolver ulcerações nos pés durante sua vida. Aproximadamente 40 a 60%
das amputações não traumáticas de membros inferiores são realizadas em
portadores de diabetes. A prevenção desse agravo constitui-se um grande desafio
para os profissionais de saúde. Esta pesquisa objetivou analisar ações de prevenção
de úlceras em pés de portadores de diabetes desenvolvidas na atenção básica de
Londrina (PR), a prevalência e fatores associados ao maior risco de ulceração em
pés de portadores de DM. O estudo foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira,
realizada em dezembro de 2008, entrevistaram-se as coordenadoras das 39
Unidades de Saúde da Família (USFs) da zona urbana de Londrina. Na segunda
etapa, foram entrevistados e examinados, entre dezembro de 2008 e março de
2009, portadores de DM acompanhados em duas USFs, uma com ações de
prevenção de complicações nos pés e outra sem essas ações instituídas. Os
prontuários desses portadores de DM também foram consultados. Observou-se que
48,7% das USFs desenvolviam ações de prevenção, sendo a mais frequente a
consulta de orientação, seguida da avaliação de enfermagem. Em 84,2% destas
USFs, as ações preventivas foram instituídas havia menos de um ano. As ações
estavam totalmente sistematizadas em somente 15,8% das USFs. Foram avaliados
337 portadores de diabetes, sendo 60,0% mulheres. A idade média foi de 64,6 anos,
37,1% tinham menos de quatro anos de escolaridade e 68,2% classificavam-se na
classe econômica C. A prevalência de pé em risco de ulceração foi de 27,9%, sendo
maior na USF sem ações de prevenção (29,7%) do que na USF com estas ações
(26,1%). A ausência de ações de prevenção de complicações nos pés associou-se à
escolaridade menor que quatro anos (p=0,024), cor da pele autorreferida como
preta/parda (p=0,002), hipertensão arterial (p=0,026), corte de unhas inadequado
(p=0,019), uso de calçados inadequados no momento da entrevista (p=0,005), uso
diário autorreferido de calçados inadequados (p=0,046), micose interdigital (p=0,003)
e micose de unha (p=0,001). Na análise multivariada, os fatores independentemente
associados à prevalência de maior risco de ulceração foram: diagnóstico de diabetes
há mais de 10 anos (OR=1,88), histórico de infarto agudo do miocárdio (OR=3,46)
ou de acidente vascular encefálico (OR=2,47), presença de calosidades (OR=1,87) e
de micose de unha (OR=1,79). Os resultados indicam que apenas metade das USFs
do município realiza ações de prevenção de complicações nos pés de portadores de
DM e uma parcela ainda menor as executa de forma sistematizada. A comparação
entre os portadores de DM cadastrados nas duas USF estudadas revelou diferenças
significativas quanto ao autocuidado com os pés e à presença de doenças
dermatológicas, indicando possível efeito dessas ações no maior autocuidado e na
redução desses agravos. A alta prevalência de maior risco de ulceração em pés de
portadores de DM acompanhados na atenção primária e os fatores associados a
essa condição indicam que políticas e ações na atenção básica devem ser
instituídas, buscando o melhor controle da doença e o estímulo de hábitos de
autocuidado com os pés entre os portadores de DM.
Caracterização dos usuários de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos em uma Unidade Básica de Saúde: análise do uso irregular de medicamentos e das condições de saúde bucal
Ana Carolina Bertin de Almeida Lopes, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/05/2010
A Organização Mundial da Saúde considera que as doenças crônicas, como as
doenças cardiovasculares e o diabetes mellitus assumiram caráter epidêmico,
acompanhado pelo aumento no consumo de medicamentos para sua prevenção e
tratamento. As doenças periodontais, especialmente a periodontite, têm sido
relacionadas à presença e à evolução do diabetes mellitus e das doenças
cardiovasculares. Este estudo teve como objetivos caracterizar os usuários de
medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos de uma Unidade Básica de Saúde
(UBS) e avaliar as condições de saúde bucal desses usuários. Realizou-se um
estudo transversal com 397 indivíduos maiores de 18 anos que retiraram
medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos na UBS Centro Social Urbano
(CSU), no município de Londrina, PR. As informações foram obtidas através de
formulário com questões estruturadas, semi-estruturadas e abertas com dados autoreferidos. A média de idade encontrada foi de 63,9 anos, a maioria do sexo feminino
(65,5%), com escolaridade de um a quatro anos (44,6%), e classes
socioeconômicas (ABEP) predominantes C1, C2 e D (78,4%). Os anti-hipertensivos
mais utilizados foram os inibidores da enzima de conversão de angiotensina (IECA)
(63,5%), os diuréticos tiazídicos (54,9%) e os betabloqueadores (27,7%). Entre os
antidiabéticos o mais consumido foi o cloridrato de metformina (23,2%). A
prevalência de uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos foi
de 35,8% e teve como principal motivo relatado o esquecimento. Os diabéticos
consumiram em média 3,9 medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos e os
hipertensos 1,6. Na análise multivariada o trabalho remunerado (não exercer) e a
coexistência da hipertensão arterial e do diabetes mellitus apresentaram associação
independente ao uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos.
Em relação às condições de saúde bucal identificou-se 35% de prevalência de
edentulismo e associação das variáveis faixa etária (ser idoso) e ter hipertensão
arterial e diabetes mellitus com o risco periodontal (sangramento gengival e/ou
mobilidade dentária). Apesar da amostra estudada representar uma população
específica que utiliza medicamentos e que recebeu diagnóstico de hipertensão
arterial e/ou de diabetes mellitus, os resultados apresentados evidenciaram que uma
proporção significativa dos usuários fazia uso irregular de medicamentos
cardiovasculares e antidiabéticos e que as condições de saúde bucal analisadas
foram insatisfatórias. Dessa forma, a promoção do uso racional de medicamentos,
das medidas não medicamentosas e a atenção à saúde bucal devem ser priorizadas
em portadores de doenças crônicas.
Educação em saúde: o cotidiano da equipe de Saúde da Família
Elisangela Pinafo, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 28/05/2010
A educação em saúde se faz presente no cotidiano da Atenção Básica, sendo uma
prática fundamental no contexto da Estratégia Saúde da Família. Nela, o
conhecimento no campo da saúde atinge o cotidiano da vida das pessoas, sendo
intermediado pela ação do profissional de saúde. Por constituir-se instrumento de
trabalho da equipe de saúde da família, esta pesquisa teve como objetivo analisar
a prática da educação em saúde no cotidiano da equipe de saúde da família,
identificando suas concepções, facilidades e dificuldades. Trata-se de um estudo
de caso qualitativo, realizado com duas equipes de saúde da família de um
município de pequeno porte, no Paraná. Os dados foram coletados nos meses de
abril a junho de 2009, por meio de observação e entrevistas semi-estruturadas. Da
análise dos discursos e das observações emergiram três categorias: Concepção
de educação em saúde; A prática cotidiana da educação em saúde e Expectativas
quanto às práticas de educação em saúde na Atenção Básica. Os entrevistados
demonstraram compreender a importância da prática da educação em saúde em
seu cotidiano e mostraram reconhecer a importância do seu papel enquanto
educador. O modelo de transmissão do conhecimento e o modelo curativo de
assistência à saúde encontram-se fortemente arraigados na concepção e nas
práticas de educação em saúde apresentada pelos profissionais da equipe de
saúde da família. A prática educativa ocorre tanto de maneira informal quanto
formal, sendo identificadas estratégias, potencialidades e fragilidades em sua
condução. Percebeu-se um movimento de mudança na concepção de educação
em saúde por parte de alguns profissionais, que apresentaram uma concepção
que vai em direção ao aprendizado mútuo e o respeito aos conhecimentos prévios
da população, porém esta ocorre de forma incipiente. Verificou-se a necessidade
de maior valorização do papel do trabalhador enquanto sujeito propulsor de
mudanças, ampliar a educação em saúde para o fortalecimento da participação
social e da autonomia dos usuários em direção a uma transformação no modelo
de atenção em saúde vigente.
Prevalência e Fatores Associados à Doença Periodontal em Puérperas, Londrina – PR
Carolina de Alcântara Lopes dos Santos, Zuleika Thomson, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 16/06/2010
A doença periodontal é considerada um problema de saúde pública em todo o
mundo devido à alta incidência e prevalência, e afeta grande parte da população.
Nos estágios mais avançados, se não tratada, leva a perda dentária interferindo
diretamente na qualidade de vida das pessoas. Tendo em vista que as alterações
hormonais da gestação podem interferir no início e progressão da doença
periodontal, a pesquisa teve como objetivos: estimar a prevalência da doença
periodontal em puérperas e determinar a gravidade; verificar os fatores associados à
doença periodontal. Trata-se de um estudo transversal, cuja população foram todas
as puérperas, residentes em Londrina, Paraná, que tiveram seus partos em
maternidade pública, que atende parturientes de baixo e médio risco, nos meses de
maio e junho de 2009. Os dados foram obtidos por meio de entrevista e exame
clínico odontológico. A classificação da doença periodontal foi realizada pelo Índice
Periodontal Comunitário (IPC). A variável dependente foi a presença da doença
periodontal (gengivite e periodontite) e as variáveis independentes envolveram
características sociodemográficas, cuidados com a saúde bucal e condições de
saúde e hábitos maternos antes e durante a gestação. Na análise estatística foi
utilizada a regressão de Poisson. Houve 41 exclusões e 15 (3,1%) perdas,
totalizando uma amostra final de 472 entrevistas realizadas. A maioria das
puérperas (66,3%) tinha entre 20 e 34 anos, idade média de 24,3 anos; 64,6%
estudaram, no mínimo, até o fundamental completo; 72,7% eram brancas; quanto à
classificação econômica (ABEP), a maioria pertencia à classe C (71,4%), 65,3% não
trabalhavam fora e somente 25,6% viviam com mais que um salário mínimo. A
prevalência da doença periodontal observada foi de 41,1%, entre estas, 42,8%
apresentavam bolsa periodontal de 4-5 mm. Na análise multivariada, a idade de 20
anos ou mais, a baixa escolaridade (até quatro anos de estudo), o sangramento
gengival anterior à gestação (auto-referido) e o hábito de fumar há mais de 10 anos
foram significativamente associadas à doença periodontal (p<0,05). Os resultados
apresentados sugerem a necessidade de melhoria no acesso ao atendimento
odontológico às gestantes, tanto na atenção básica, como nos serviços
odontológicos especializados, garantindo ações de promoção, prevenção e
tratamento odontológico resolutivo e de qualidade.
Prevalência e fatores associados à má oclusão na dentição decídua em crianças de Pedra Preta, MT
Juliana Mariano Massuia, Wladithe Organ Carvalho
Data da defesa: 17/06/2010
A elevada prevalência de má oclusão na população alcança posição de destaque na
escala de prioridades e problemas de saúde bucal no Brasil, e, por isso deve ser
considerada dentro da área de atenção dos serviços de Saúde Pública, em
decorrência das implicações fisiológicas e sociais integradas da boca. Este estudo
teve por objetivo estimar a prevalência de má oclusão na dentição decídua e
examinar fatores a ela associados. Realizou-se um estudo transversal do tipo
inquérito epidemiológico, no município de Pedra Preta, Mato Grosso. A coleta de
dados foi composta por duas etapas: entrevista com a mãe e/ou responsável e
exame clínico odontológico da criança. As entrevistas foram realizadas por duas
auxiliares previamente treinadas e pela pesquisadora principal e o exame clínico por
um cirurgião dentista previamente treinado e calibrado (Kappa intraexaminador:
0,96). Foram incluídas todas as crianças residentes nas áreas de abrangência das
Unidades de Saúde da Família (USF) do município, na faixa etária de três a cinco
anos e meio de idade. A coleta de dados ocorreu entre os meses de abril e junho de
2009 e a população de estudo foi constituída por 374 crianças. O desfecho do
estudo foi a presença de má oclusão, e, os critérios de classificação das oclusões
normais e das más oclusões foram: relação terminal dos segundos molares
decíduos, relação de caninos, relação transversal, trespasses e presença/ausência
de apinhamento. A oclusão foi classificada como normal quando: a relação terminal
dos segundos molares decíduos se encontrava em plano reto e/ou mesial com o
canino em classe I; havia ausência de apinhamento, de mordida cruzada e/ou
aberta; com sobremordida e sobressaliência normais; com medidas positivas de até
2 mm. Para análise estatística, utilizou-se a regressão de Poisson. A prevalência de
má oclusão foi de 53,2% (IC 95%:48,3; 58,6), os tipos mais frequentes foram o
apinhamento, a sobressaliência e a mordida aberta anterior; e o hábito bucal mais
prevalente foi a mamadeira. Verificou-se associação negativa de má oclusão com as
seguintes variáveis: perfil facial do tipo côncavo/convexo, arco maxilar em forma de
V, presença de hábitos bucais e aleitamento materno exclusivo ≤ 3 meses. A
prevalência de má oclusão na dentição decídua foi elevada, entretanto alguns
fatores associados são evitáveis: o diagnóstico precoce e medidas preventivas
podem impedir e/ou interceptar o estabelecimento destas alterações, ainda, na
dentição decídua.
Formação dos Trabalhadores da Saúde na Residência Multiprofissional em Saúde da Família: uma cartografia da dimensão política
Carolina Pereira Lobato, Regina Melchior
Data da defesa: 28/06/2010
No intuito de colaborar com o debate das Residências Multiprofissionais em Saúde,
o presente estudo buscou compreender, através do olhar cartográfico, de que forma
a residência contempla a dimensão política na formação dos trabalhadores. Fala-se
da dimensão política como reconhecimento das relações de poder existentes na
formação dos trabalhadores e lugar em que as intencionalidades da formação se
explicitam. É nesta dimensão que a função social do trabalhador e das instituições
formadoras pode ser debatida, sendo lugar de disputa dos projetos de saúde e
sociedade colocados em pauta pelos sujeitos em formação. Para tanto, vivenciou-se
o processo educativo de um programa de residência no interior de São Paulo. A
experiência ocorreu em janeiro e fevereiro de 2009. Além dos diários de bordo,
foram realizadas entrevistas a 14 sujeitos envolvidos no processo educativo, bem
como análise de alguns documentos oficiais relacionados ao Programa e às
Residências Multiprofissionais em Saúde. A análise foi dividida em três cartografias:
cartografia da dimensão política nas relações nas práticas pedagógicas, nas
relações nas práticas de gestão e nas relações no cuidado. Para a compreensão de
como a Residência contempla a politicidade na formação, analisaram-se alguns
acontecimentos de um território vivo reconhecendo as linhas de força presentes nos
encontros entre os sujeitos envolvidos na produção do cuidado e na produção
pedagógica na formação dos trabalhadores da saúde. Seja na micropolítica dos
serviços, da relação entre educadores e educandos nos espaços pedagógicos, ou
na macropolítica, nos rumos da Política de Educação Permanente no Brasil,
reconhecer os interesses em disputa e as relações de poder existentes se faz
necessário. Para tanto, os processos educativos devem considerar as linhas de
força que disputam os diversos projetos de saúde e de sociedade que permeiam os
discursos e práticas. Ressalta-se, assim, a necessidade de formar agentes
micropolíticos para o fortalecimento do SUS, tanto para disputar a qualificação das
práticas no mundo do cuidado como para tensionar o fortalecimento do SUS como
política pública. Neste sentido, as residências podem ser potentes dispositivos para
a formação do trabalhador da saúde em defesa do SUS.