Teses e Dissertações
A violência e suas possibilidades de enfrentamento: o olhar de lideranças comunitárias
Márcia Caroline Portela Amaro, Selma Maffei de Andrade, Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 29/02/2008
Desde a década de 80 assistimos a uma escalada da violência urbana no Brasil. A
violência tornou-se hoje um dos mais sérios problemas da Saúde Coletiva,
chegando a ser, em alguns locais do país, juntamente com outras causas
externas, a segunda causa de mortes. A cidade de Londrina – PR vem assistindo
a um preocupante aumento dos índices de violência, que tem levado lideranças da
cidade a se mobilizarem. O objetivo desta pesquisa foi identificar qual o olhar que
lideranças comunitárias têm sobre a violência e quais estratégias de
enfrentamento visualizam nas suas realidades. Abordou-se também a visão das
lideranças sobre a atuação do setor saúde no problema. Foram entrevistadas 25
lideranças de duas regiões periféricas da cidade, diferentes sob o aspecto da
mobilização popular. Foi um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, com
entrevistas semi-estruturadas. As lideranças foram escolhidas a partir do processo
chamado de “bola de neve” ou amostragem em rede. Foram realizadas entrevistas
até que se atingiu a saturação das convergências entre as respostas. A técnica de
análise dos dados foi a de Bardin. Entre os resultados, levantou-se que a visão
das lideranças sobre a violência está permeada de contradições e mecanismos de
defesa, como a naturalização e a negação da violência. Entre as estratégias de
enfrentamento, na comunidade menos mobilizada predomina a reivindicação
dirigida às autoridades. Na mais mobilizada, o que se destaca é a prática de
parcerias com outros setores da sociedade, inclusive com o governo. A atuação
dos profissionais de saúde é vista como precária, porém com possibilidades de
melhora através da formação de parcerias com a comunidade. Este estudo
contribuiu para identificar as estratégias que a comunidade pode utilizar para
prevenir a violência, ajudando assim a reduzir as mazelas deixadas por esta na
sociedade.
Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde: experiências de ativadores do Paraná
Alberto Durán Gonzalez, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 14/03/2008
O curso de especialização em ativação de processos de mudança na formação
superior dos profissionais de saúde surge como estratégia de ampliação e
intensificação do movimento pró-mudança já existente no cenário do ensinoaprendizagem da área saúde no Brasil. Buscava-se a ampliação, por meio da
inserção de novos atores comprometidos com as novas propostas, e a
intensificação, por meio do próprio modelo metodológico apresentado pelo curso.
Modelo que priorizava a participação ativa, crítica e reflexiva, além da construção
coletiva do conhecimento. Analisou-se a percepção de participantes do curso de
ativadores quanto à participação no curso, implantação dos processos de mudança
e as perspectivas do movimento pró-mudança. Tratou-se de um estudo qualitativo
com período de coleta de dados entre março e abril de 2007. Foram sujeitos de
pesquisa egressos residentes no Paraná. Trabalhou-se inicialmente com dados de
fontes secundárias, os trabalhos de conclusão de curso (TCC) e, posteriormente,
com dados de fontes primárias, entrevistas semi-estruturadas realizadas com os
autores de TCC que se caracterizassem como planos de ação. Dos 57 egressos do
Paraná, 25 enviaram seus TCC para a primeira análise e 21 foram entrevistados.
Todos os participantes da pesquisa eram do sexo feminino. A análise dos manifestos
possibilitou evidenciar que o curso ajudou a identificar o desconforto vivenciado na
realidade das participantes, forneceu ferramentas para a mudança e propiciou sua
experiência de utilização. As entrevistadas confirmaram a importância da integração
entre as competências abordadas no curso, porém apontaram ser difícil a interação
na realidade. Algumas ativadoras encontraram facilidades humanas, administrativas
e/ou financeiras no início da implantação do plano de ação, entretanto não se
caracterizaram como suficientes para a mudança nos cenários locais. Barreiras
estruturais, metodológicas, administrativas, financeiras e principalmente humanas
também se mostraram presentes. A pouca disponibilidade de diversos atores e o
acréscimo de atividades no trabalho cotidiano limitaram diversas experiências.
Estratégias de convencimento, motivação e de informação se mostraram eficientes
na superação de algumas dificuldades. As ativadoras passaram por um momento de
desarticulação interpessoal que bloqueou processos mais profundos de
transformação. Isoladas em suas aldeias, acreditam que o movimento pró-mudança
foi impulsionado, mas não na velocidade esperada ou desejada. Políticas públicas
de estímulo a mudança na formação devem articular e apoiar este novo ator,
fortalecendo os inúmeros processos iniciados pelos ativadores qualificados pelo
curso.
Adequação da demanda atendida em serviço de urgência de média complexidade em Londrina, Paraná, Brasil
Ricardo de Oliveira, Regina Kazue Tanno de Souza, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 30/04/2008
A hierarquização da atenção à saúde estabelece fluxos assistenciais ascendentes
iniciando-se por serviços de menor complexidade. Entretanto, estudos demonstram a
existência de um funcionamento desordenado e desvios dos fluxos nesse sistema. Assim,
os serviços de urgência são excessivamente utilizados, acarretando filas e atendimento
de alto percentual de casos inadequados. Dada a escassez de pesquisas abordando o
tema da urgência no país, este estudo teve por objetivo caracterizar e classificar a
demanda atendida no Pronto Atendimento Municipal em Londrina-PR (PAM), segundo a
adequação dos casos ao papel assistencial do serviço. A população de estudo foi
constituída por 394 pessoas, selecionadas por meio de amostragem sistemática, que
procuraram o PAM em duas semanas do mês de julho de 2007. Os dados foram
coletados após as consultas médicas por entrevistadores devidamente treinados, e as
informações foram registradas em banco de dados do aplicativo Epi Info versão 3.4 para
Windows. Para a classificação dos casos quanto à sua adequação foram utilizados
critérios explícitos (situações objetivamente definidas) e implícitos (a critério do médico
consultante). A análise de associação entre as variáveis independentes e a adequação ao
serviço foi realizada a partir da classificação por critérios explícitos utilizando-se o teste de
qui-quadrado (χ2
). Verificou-se, entre os principais resultados, discreto predomínio de
pessoas do sexo feminino (55,6%), na faixa etária entre 20 e 39 anos (45,9%) com
apenas o nível fundamental de ensino (51,7%), inseridas no mercado de trabalho, não
beneficiárias de plano de saúde. A maioria das pessoas procurou o PAM
espontaneamente (77,1%) e, entre os casos referenciados, as UBS foram os serviços que
mais encaminharam (76,0%). O transporte coletivo foi o mais utilizado (46,7%) e 79% das
pessoas tiveram alta após a consulta no PAM. Dos casos analisados, 54,3% foram
considerados adequados segundo os critérios classificatórios explícitos. Os fatores
associados significativamente (p<0,05) à adequação ao serviço foram: idade igual ou
superior a 60 anos, inserção no mercado de trabalho, ser usuário de unidades básicas de
saúde e procura por outros serviços previamente ao atendimento no PAM para o mesmo
problema. Quando comparados os diferentes critérios de classificação da demanda,
verificou-se concordância de 81,4% (estatística Kappa = 0,62), considerada
substancialmente concordante. Apesar da demanda espontânea ter sido predominante
(77,1%), a realidade observada no PAM de Londrina revelou que há uma adequação
razoável da demanda à natureza do serviço, fato pouco observado em estudos
semelhantes.
Níveis de chumbo em leite e sangue de doadoras de banco de leite em município do sul do Brasil
Gina Ayumi Kobayashy Koyashiki, Monica Maria Bastos Paoliello
Data da defesa: 29/05/2008
A produção científica brasileira sobre efeitos adversos do chumbo na população em geral é
escassa. O chumbo, substância potencialmente tóxica, tornou-se um problema de saúde
pública em função de seus efeitos, principalmente envolvendo o sistema nervoso central e
efeitos sobre a síntese da heme. O objetivo deste estudo foi avaliar o grau de exposição ao
chumbo de doadoras de Banco de Leite do município de Londrina, Paraná, estimando-se os
níveis do metal em amostras de leite e sangue. Trata-se de um estudo transversal conduzido
no período de janeiro a julho de 2007. Foram recrutadas todas as mães que estavam
cadastradas como doadoras no referido banco de leite e incluídas no estudo 92 voluntárias que
atendiam aos seguintes critérios de inclusão: sadias sem doença crônica, com bebês nascidos a
termo, em período de amamentação entre 15 e 210 dias e moradoras no município estudado.
O chumbo no leite e no sangue foi quantificado utilizando-se a técnica de ICP-MS
(espectrometria de massa com plasma de argônio indutivamente acoplado). Todas as mães
assinaram um termo de consentimento aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual de Londrina. A mediana das concentrações de chumbo nas amostras de
leite foi igual a 3,0 µg/L, variando de 1,0 a 8,0 µg/L, enquanto que para o chumbo em sangue
foi igual a 2,7 µg/dL, variando de 1,0 a 5,5 µg/dL. Na análise de correlação de Spearman
foram observadas correlações significativas, embora modestas, entre concentração de chumbo
no sangue e no leite (rs=0,207, p=0,048), hemoglobina e atividade da ALAD (rs=-0,264,
p=0,011 ), nível de chumbo no sangue e idade materna (rs=0,227, p=0,029) e, para
hematócrito e hemoglobina, a correlação foi mais alta (rs=0,837, p<0,001). Não foram
encontradas associações estatisticamente significativas entre as concentrações de chumbo em
leite e sangue e variáveis demográficas estudadas, obtidas por meio entrevistas e formulário
testado. A relação chumbo no leite/sangue observada foi igual a 0,11. Em geral, os valores
encontrados no presente estudo são semelhantes aos obtidos em população não exposta em
outros países, e estão dentro da faixa considerada de normalidade.
Avaliação de serviço público de odontologia no município de Cambé, Paraná
Vera Lúcia Ribeiro de Carvalho Bueno, Luiz Cordoni Júnior
Data da defesa: 06/06/2008
Em Cambé, Paraná, equipes Saúde Bucal foram incluídas no Programa Saúde da Família com
a finalidade de reorientar práticas em saúde. O objetivo desta dissertação é elaborar e aplicar
estratégia de avaliação em serviço público de odontologia neste município. A metodologia
usada foi o estudo de caso histórico-organizacional. Para o planejamento da avaliação foram
desenvolvidos o modelo-lógico do serviço e uma matriz que apresenta dimensões de análise,
critérios, indicadores, pontuações, parâmetros e fontes de informação. Para tal, foram
coletadas informações partindo da triangulação de métodos (observação, entrevista e análise
documental) e realizadas três oficinas de trabalho no decorrer do processo. A matriz subsidiou
o desenvolvimento de um instrumento de coleta de dados que foi aplicado em uma Unidade
Saúde da Família. O período de estudo foi de novembro de 2006 a julho de 2007. Como
resultado se obteve um fluxograma que retrata demanda espontânea, oferta organizada
assistencial da atenção básica e especializada, demanda de programas pré-existentes,
atividades coletivas, e uma matriz com duas dimensões de análise, doze critérios e vinte e
quatro indicadores. A pontuação geral obtida para a unidade avaliada foi classificada como
“aceitável”, em escala de parâmetros de quatro classes (crítico, regular, aceitável e
satisfatório). A Equipe Saúde Bucal participa de oficinas de Educação Permanente em Saúde
e reuniões semanais com a equipe Saúde da Família, mas não realiza atividades
multidisciplinares com freqüência. Conclui-se que o desenvolvimento dos indicadores
proporcionou o planejamento de uma avaliação adequada à realidade estudada. O
comprometimento dos sujeitos com o novo modo de se praticar a odontologia está sendo
conquistado à medida que o processo de trabalho vai sendo discutido, avaliado e aprimorado.
Aleitamento materno: prevalência e fatores associados em áreas de atuação de Equipes de Saúde da Família
Maria Fernanda Tenório Campana, Zuleika Thomson, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 06/06/2008
O Programa de Saúde da Família (PSF), considerado estratégia incremental do
SUS, nas suas bases prioriza as ações de proteção e promoção à saúde de forma
integral e contínua. Em relação à amamentação, as equipes do PSF podem
desenvolver atividades educativas, desde a gestação até o estabelecimento e da
amamentação, bem como em sua manutenção. O padrão de amamentação varia
com o local e com as características da população e dos serviços de saúde. Desta
forma, esta pesquisa teve por objetivo estimar a prevalência do aleitamento materno
(AM) e do aleitamento materno exclusivo (AME) e investigar os fatores associados à
prática da amamentação no sexto mês da criança em áreas de atuação de Equipes
de Saúde da Família (ESF). Trata-se de um estudo transversal, realizado por meio
de inquérito domiciliar. As principais variáveis de estudo foram as relacionadas às
características demográficas e socioeconômicas dos binôminos mãe-filho, à
alimentação da criança, e à assistência à saúde durante o período pré e pós-natal.
Foram entrevistadas 241 mães de crianças nascidas entre setembro de 2006 e
fevereiro de 2007, residentes em uma das cinco regionais de saúde do município de
Maringá-PR, selecionadas a partir do Sistema de Informações de Nascidos Vivos e
registros dos Agentes Comunitários de Saúde. As entrevistas foram realizadas aos
180 dias de vida da criança (± 7 dias). A análise da associação entre as variáveis
independentes e a prática da amamentação (AM + AME) no sexto mês foi realizada
a partir do teste de Qui-quadrado com correção de Yates ou pelo teste exato de
Fisher (p<0,05). Os resultados revelaram prevalência elevada de AM (66,8%) e
baixíssima de AME (2,9%). O abandono do AME foi expressivo apenas a partir do
quarto mês. Associaram-se negativamente à prática da amamentação, o baixo peso
ao nascer (p= 0,004), a idade gestacional inferior a 37 semanas (p=0,02) e o tempo
de internação hospitalar após o nascimento superior a sete dias (p=0,003).
Nenhuma variável relacionada às características da assistência a saúde associou-se
significativamente. A orientação sobre AM foi positivamente referida por 55% das
mães durante o pré-natal, 74,4% durante a internação, 56,9% no momento da alta e
por apenas 28,2% durante as visitas domiciliares por profissionais das ESF. A visita
domiciliar no puerpério foi baixa (42,5%). Concluiu-se que a situação privilegiada da
amamentação no sexto mês na área estudada sugere maior influência de fatores
sócio-culturais. Porém, acredita-se que a atuação efetiva dos profissionais das ESF
priorizando a captação das necessidades das mães, por meio da escuta qualificada,
possa elevar a duração do AM, especialmente de sua forma exclusiva.
A Formação Superior e as Conferências Nacionais de Recursos Humanos em Saúde
Daniel Carlos da Silva e Almeida, Márcio José de Almeida , Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 13/06/2008
Esta pesquisa buscou resgatar e aprofundar a discussão sobre a formação profissional em saúde a
fim de contribuir para a compreensão da realidade e das políticas instituídas. O objetivo foi
analisar as propostas e os problemas relacionados à formação superior em saúde, no âmbito da
graduação, nas Conferências Nacionais de Recursos Humanos em Saúde (CNRHS). Para isso,
foram utilizados como objetos de análise os relatórios finais dessas Conferências. A abordagem
utilizada foi qualitativa e para a análise dos dados optou-se pelo método da análise de conteúdo
preconizado por Bardin, no qual as informações analisadas foram codificadas em categorias por
meio da análise temática. Essas categorias versaram sobre o perfil profissional, as práticas de
ensino-aprendizagem e a articulação ensino-serviço-comunidade. As CNRHS foram fóruns de
manifestação do controle social sobre as políticas relacionadas ao tema que contaram com a
participação de diversos atores. Suas propostas acompanharam o processo de reorientação da
atenção e da formação em saúde ditado por esses atores ao longo de vinte anos. Apesar dos
problemas apontados na análise documental, pode-se inferir que a questão da formação dos
profissionais de saúde se encontra em evolução, tanto no campo político e teórico como no
prático, e hoje se constitui uma política legitimada. Assim, esse trabalho contribui demonstrando
a evolução da formação dos profissionais de saúde, mesmo aquém das necessidades de mudança,
e evidencia a complexidade da gestão do trabalho no SUS, a sua relação com as instituições de
ensino, que não são homogêneas entre si; com os serviços, representados por gestores e
profissionais; e com as políticas intergovernamentais articuladas entre Ministério da Saúde e
Ministério da Educação.
Adesão ao tratamento anti-hipertensivo e fatores associados na área de abrangência de uma Unidade de Saúde da Família, Londrina, PR
Edmarlon Girotto, Selma Maffei de Andrade, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 17/06/2008
A hipertensão arterial é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares.
Para o seu controle são necessárias medidas farmacológicas e não-farmacológicas,
como alimentação e atividade física. Contudo, a adesão ao tratamento é o grande
desafio dos profissionais e serviços de saúde, especialmente na atenção básica.
Nesse sentido, este estudo teve por objetivo determinar a adesão ao tratamento
anti-hipertensivo e identificar fatores associados a esta condição. A população de
estudo foi composta por hipertensos de 20 a 79 anos, cadastrados na Unidade de
Saúde da Família Vila Ricardo, no município de Londrina, Paraná. A coleta de dados
ocorreu de janeiro a junho de 2007, com amostra sistemática e aleatória de
hipertensos. Foram colhidas informações auto-referidas, além das medidas de
pressão arterial e das circunferências abdominal e do quadril. Foram entrevistados
385 hipertensos, sendo 62,6% mulheres e 37,4% homens, com idade média de 58,9
anos. Cerca de 50,0% dos entrevistados tinham no máximo 3ª série do ensino
fundamental completa, 46,0% pertenciam à classificação econômica D ou E e 57,4%
referiram não possuir trabalho remunerado. Entre os entrevistados, 84,2% relataram
utilizar medicamentos para controle da hipertensão, 8,3% abandonaram o
tratamento e 7,5% alegaram que não houve prescrição de medicamentos. A adesão
ao tratamento farmacológico foi encontrada em 59,0% dos hipertensos. O
esquecimento (32,2%), a normalização da pressão arterial (21,2%) e os efeitos
adversos (13,7%) foram os principais motivos alegados para a não-adesão. Com
relação ao tratamento não-farmacológico, 17,7% e 69,1% dos hipertensos referiram
ser aderentes à atividade física regular e a mudanças na alimentação,
respectivamente. A adesão à atividade física regular associou-se ao sexo masculino,
à maior escolaridade, à presença de diabetes, à ausência de colesterol elevado, à
relação cintura-quadril e circunferência abdominal normais, ao índice de massa
corporal < 25 kg/m2
, ao mínimo de uma consulta ao ano e a uma medida da pressão
arterial ao mês. A adesão a modificações na alimentação esteve associada ao sexo
feminino, à menor escolaridade, ao acesso a plano de saúde, ao não-tabagismo ou
ex-tabagismo, ao não-consumo ou consumo irregular de bebidas alcoólicas, ao nãoabandono do tratamento medicamentoso, ao mínimo de uma consulta ao ano e a
uma medida da pressão arterial ao mês. Na análise multivariada, os fatores
independentemente associados à adesão ao tratamento farmacológico foram: a
faixa etária de 50 a 79 anos (Razão de Chances [OR]=4,673), o não-consumo ou
consumo irregular de bebidas alcoólicas (OR=4,608), a realização de consultas
médicas em intervalos máximos de um ano (OR=1,908) e a ausência de trabalho
remunerado (OR=1,792). Os resultados indicam uma baixa adesão ao tratamento
anti-hipertensivo, especialmente à atividade física regular, e sugerem a implantação
de estratégias que visem estimular a adesão às medidas de controle da hipertensão
arterial.
Pessoas vivendo com HIV/aids: vivências do tratamento anti-retroviral
Gisele dos Santos Carvalho, Regina Melchior
Data da defesa: 02/07/2008
O tratamento anti-retroviral atual tornou a aids uma doença crônica. Apesar desta
conquista, a adesão à terapia anti-retroviral ainda sofre influência de vários fatores,
que devem ser analisados para o desenvolvimento de novas estratégias de adesão
e para o aprimoramento daquelas já existentes. Este estudo teve por objetivo
compreender a vivência das pessoas infectadas pelo HIV com o tratamento antiretroviral. Foram realizadas entrevistas individuais semi-estruturadas com dez
usuários de um centro de doenças infecciosas em uma cidade de médio porte do
Paraná. Os discursos, após serem transcritos, foram analisados pela análise de
conteúdo proposta por Bardin. Os resultados foram apresentados em quatro
categorias: Descobrir-se HIV positivo, “E agora?” – Vivendo e convivendo com o
HIV, Interação com o tratamento anti-retroviral e Estratégias de adesão ao
tratamento. A primeira categoria descreve como se deu a descoberta do vírus e
quais sentimentos estiveram envolvidos com este momento. Na segunda categoria,
desvela-se a relação da pessoa infectada pelo HIV com o próprio vírus e com as
pessoas de seu cotidiano. A categoria Interação com o tratamento anti-retroviral
incorpora as experiências com as medicações, no início e no decorrer do tratamento,
e o papel do serviço de saúde diante as dificuldades vivenciadas pelas pessoas
infectadas pelo vírus e quanto à adesão à terapia. A última categoria traz as
estratégias desenvolvidas pelos entrevistados que ajudam a aderir ao tratamento.
Concluiu-se que, apesar da diminuição do número de doses e comprimidos – em
comparação com os esquemas terapêuticos anteriores – ter minimizado em muito as
dificuldades relacionadas à tomada da medicação, a adesão aos anti-retrovirais
ainda representa a superação de obstáculos relacionados aos medicamentos e à
convivência com o HIV. As estratégias para aderir ao tratamento levantadas pelas
pessoas que fazem uso das medicações podem fornecer aos profissionais de saúde
meios para auxiliar outros pacientes a adaptarem o tratamento ao seu estilo de vida.
O investimento do poder público em estratégias de intervenção tem resultado em
melhoras na adesão. O fortalecimento da relação entre os profissionais de saúde e
as pessoas que vivem com o HIV constitui outro ponto decisivo na adesão ao
tratamento.
Asma em municípios do Paraná: Análise de internações hospitalares e avaliação de um programa de atenção à saúde
Tatiane Almeida do Carmo, Darli Antonio Soares
Data da defesa: 25/07/2008
A asma, considerada problema de saúde pública, tem estimulado a implantação de
programas de controle deste agravo por todo o país. Este estudo teve por objetivo
avaliar o impacto de programas de controle da asma em municípios paranaenses e a
efetividade do Programa de Controle da Asma no município de Londrina, Paraná.
Realizou-se um estudo dividido em duas fases. A primeira foi realizada com um
estudo de séries temporais desenvolvido com dados secundários do Sistema de
Informações Hospitalares de seis municípios do estado do Paraná. O material de
estudo foi constituído por internações por asma e crise asmática ocorridas entre
1998 e 2006. Na segunda fase realizou-se um estudo de coorte retrospectiva com a
seleção de Unidades de Saúde da Família (USF) de Londrina cujos programas
estavam em fases diferentes de consolidação. Foram selecionadas intencionalmente
três USF, uma com programa consolidado e duas com programa não-consolidado. A
coleta de dados foi realizada por meio de um formulário estruturado aplicado no
domicílio dos entrevistados. Os resultados encontrados na fase I mostraram uma
tendência de redução das internações em todos os municípios estudados.
Municípios com programa de asma apresentaram coeficientes de internação
inferiores em comparação aos municípios sem programa. A queda das internações
nos municípios com programa foi maior que a dos municípios sem programa no
período após a implantação dos programas de asma. Na fase II foram entrevistados
313 asmáticos, 168 inscritos na USF com programa consolidado e 145 cadastrados
nas USF com programa não-consolidado. Houve predominância, em ambos os tipos
de USF, de pacientes do sexo feminino, na faixa etária de 15 a 59 anos, com menos
de nove anos de estudo e pertencentes às classes econômicas C, D ou E. A USF
com programa considerado consolidado apresentou melhor organização do
Programa, com menor relato de taxa de abandono (20,8% em comparação a 36,6%
das outras), maior participação de pacientes em grupos (32,1% versus 2,1%) e
maior relato de recebimento de visitas domiciliares (48,2% versus 0%). Na amostra
estudada também houve diferença significativa (p<0,001) na utilização de
broncodilatadores e no número de atendimentos de urgência entre os asmáticos
cadastrados nas USF com programa consolidado e não-consolidado. Dos asmáticos
inscritos na USF com programa consolidado, 55,4% referiram uso de broncodilatador
em comparação a 74,5% dos inscritos na USF com programa não-consolidado. Em
relação aos atendimentos de urgência, os resultados encontrados foram 29,2% e
55,9% respectivamente para as USF com programa consolidado e não-consolidado.
Um programa de controle da asma bem organizado pode resultar na redução dos
atendimentos de urgência decorrentes de crises asmáticas, contribuindo na melhoria
dos indicadores de saúde, bem como para a elevação da qualidade de vida dos
asmáticos.