Condições de saúde bucal, estado nutricional e fatores associados em idosos de Londrina, Paraná
Arthur Eumann Mesas, Selma Maffei de Andrade , Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 16/12/2005
O aumento da proporção de idosos na população tem estimulado a realização de estudos que integrem as diferentes áreas da saúde e possam fundamentar o planejamento de ações de promoção de saúde. Este estudo teve por objetivo verificar condições de saúde bucal, estado nutricional e associações entre más condições de saúde bucal e desnutrição em indivíduos idosos. A população de estudo foi constituída por 267 idosos com idade entre 60 e 74 anos e residentes no conjunto habitacional Ruy Viermond Carnascialli, no município de Londrina, Paraná, excluindo-se os de alta dependência funcional. Os dados foram coletados em visitas domiciliares com entrevista e exame clínico, mediante consentimento livre e esclarecido. A média de idade encontrada foi de 66,5 anos, sendo que 59,9% eram mulheres, 60,2% tinham menos de 4 anos de escolaridade e 83,9% pertenciam às classes econômicas C ou D. Quanto às condições de saúde bucal, 43,1% eram edêntulos, 83,5% tinham menos de 20 dentes naturais presentes, 76,4% usavam e 49,4% necessitavam de algum tipo de prótese removível. A ausência de contatos oclusais posteriores entre dentes naturais ou de próteses foi observada em 27% da amostra. A maioria (60,7%) dos idosos, no entanto, considerou "boa" sua saúde bucal. O risco nutricional e desnutrição foram identificados pela Mini Avaliação Nutricional em 21,7% dos idosos. Na análise multivariada, gênero (feminino), escolaridade (< 4 anos) e idade (67 a 74) associaram-se de forma significativa ao edentulismo e à presença de menos de 20 dentes, ao qual se associou, também, o tabagismo. A autopercepção ruim da saúde bucal não foi associada a nenhuma das condições de má saúde bucal analisadas, porém, apresentou como fatores independentemente associados, o gênero (feminino) e a depressão. O risco nutricional demonstrou associação estatisticamente significativa com a ausência de oclusão posterior e com a autopercepção ruim, mesmo após o controle das variáveis gênero, idade, escolaridade, classe econômica, depressão e déficit cognitivo. Conclui-se que as elevadas freqüências das más condições clínicas de saúde bucal indicam a necessidade de uma maior atenção odontológica à população idosa. A associação independente observada entre a ausência de oclusão posterior e o risco nutricional aponta para a importância da manutenção ou reabilitação da condição mastigatória para o adequado estado nutricional do idoso. Os idosos com percepção ruim da sua saúde bucal, independentemente da presença de depressão, tiveram maior chance de apresentarem risco nutricional ou desnutrição, sugerindo que, além de observações clínicas, dados subjetivos como a autopercepção devam ser considerados na avaliação das condições de saúde bucal de idosos e na sua relação com o estado nutricional.
Intoxicações medicamentosas agudas notificadas em Maringá, Paraná
Fabiana Margonato, Zuleika Thomson, Mônica Maria Bastos Paoliello
Data da defesa: 20/12/2005
As intoxicações medicamentosas no Brasil resultam de fatores como a fragilidade da política nacional de medicamentos, marketing abusivo e utilização de embalagens inadequadas de acondicionamento. Tendo em vista a relevância do tema, o objetivo do presente estudo foi caracterizar as intoxicações medicamentosas agudas notificadas por um centro de controle de intoxicações. Trata-se de um estudo transversal, realizado em duas etapas, sendo utilizados dados secundários e primários. Os dados secundários, referentes a todos os casos de intoxicações medicamentosas agudas registradas em 2003 e 2004, foram coletados no Centro de Controle de Intoxicações do Hospital Universitário Regional de Maringá-PR. Dados primários foram obtidos durante visitas domiciliares, realizadas a pacientes com registro de intoxicação medicamentosa não intencional em 2004. Foram estudadas variáveis relacionadas ao intoxicado, à intoxicação, ao medicamento e armazenamento doméstico de medicamentos. Os dados foram processados no programa Epi Info para Windows e para análise dos resultados foram elaboradas figuras e tabelas. Foram realizadas análises estatísticas com aplicação do teste de qui-quadrado, considerando-se associações significativas quando p<0,05. Foram estudados 546 casos de intoxicações medicamentosas agudas. O coeficiente de incidência foi de 89 e 83 casos por 100.000 habitantes em 2003 e 2004. O sexo feminino foi o mais acometido (69,4%), sendo esta diferença mais expressiva entre casos intencionais. A faixa etária de 0 a 4 anos foi predominante entre as intoxicações não intencionais (51,9%) e as circunstâncias mais comuns foram as tentativas de suicídio (60,1%) e acidentes individuais (25,3%). Não foram observadas diferenças relacionadas à sazonalidade. Nos casos intencionais o dia da semana mais comum foi o domingo (19,2%) e nos não intencionais a quinta-feira (19,7%). Os medicamentos mais freqüentemente envolvidos foram os atuantes no sistema nervoso central (57,2%), com predomínio de fármacos que requerem retenção de receita na dispensação (52,2%). Na segunda etapa foram entrevistados 72 intoxicados, sendo a maioria menor de 10 anos (73,6%), do sexo masculino (54,2%), que sofreram acidentes individuais (69,4%), pertencentes aos estratos econômicos C e D (63,9%). A maioria dos entrevistados relatou cura (93,1%). A maioria dos medicamentos envolvidos foi adquirida em farmácias (72,2%), com diminuição deste percentual nos estratos econômicos C e D (63,0%). Grande parte dos entrevistados referiu não ter recebido informações sobre o medicamento (76,5%). Cerca de metade dos entrevistados guardavam medicamentos na cozinha (51,4%) e apenas 5,6% armazenam em local considerado seguro, sendo que houve associação significativa entre pessoas dos estratos econômicos C e D e armazenamento inadequado de medicamentos (p<0,05). Em metade dos domicílios havia quantidade exagerada de medicamentos (50,0%) e em 51,4% havia medicamento sem identificação. Entrevistados pertencentes aos estratos econômicos A e B apresentaram medicamentos vencidos com maior freqüência (p<0,05) e em 82,0% dos domicílios visitados não houve mudança do local de armazenamento de medicamentos após a intoxicação. Os resultados levantaram características importantes das intoxicações medicamentosas agudas, úteis para a elaboração de estratégias preventivas desses agravos na população.
A Fisioterapia no Programa Saúde da Família: percepções em relação à atuação profissional e formação universitária
Douglas Gallo, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 20/12/2005
Para consolidação do Programa Saúde da Família (PSF) faz-se necessária uma adequação dos profissionais de saúde à nova estratégia, considerando-se a integralidade como eixo estrutural e a saúde vista em sua positividade. A Fisioterapia historicamente admitiu como objeto de trabalho o indivíduo doente, porém com sua inclusão gradual no PSF também torna-se co-responsável pela mudança na abordagem. Este estudo teve por objetivo analisar a inserção e a prática do fisioterapeuta no PSF do município de Londrina e as adequações da formação universitária a essa atuação. Tendo em vista a natureza do objeto de pesquisa adotou-se uma metodologia de pesquisa qualitativa, configurando-se como um estudo aplicado às ciências sociais. Como instrumento de coleta de dados foi utilizada a entrevista semi-estruturada e os informantes-chave foram oito fisioterapeutas que trabalhavam no PSF em Londrina e seis professores de três instituições de ensino superior com formação em Fisioterapia (três coordenadores de curso e três professores responsáveis pela disciplina de Saúde Pública) existentes no mesmo município. O corpus de pesquisa foi submetido à análise de conteúdo, sendo desenvolvidas três categorias: a) A fisioterapia no Programa Saúde da Família em Londrina; b) A fisioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS); c) A formação do fisioterapeuta. Na primeira categoria analisou-se a estruturação do serviço de fisioterapia no PSF em Londrina, como se dá a atuação do fisioterapeuta e qual o seu perfil para atuar no PSF. Na segunda categoria, as percepções dos fisioterapeutas e professores em relação à atuação da fisioterapia no SUS e suas visões do SUS. Na terceira e última categoria analisou-se como é o ensino em fisioterapia e sua adequação ao perfil profissional requerido para o fisioterapeuta no PSF. Concluiu-se que a inserção do fisioterapeuta se deu de maneira pouco organizada e objetivando uma demanda específica, a do acamado, porém os profissionais foram se adequando, passando a novas linhas de atuação. O perfil profissional requerido para atuação no PSF incluiu: formação generalista, flexibilidade e criatividade, empatia, autonomia e iniciativa, capacidade de trabalho em equipe e conhecimento sobre o SUS. A formação ainda não estaria adequada a estas exigências, embora algumas iniciativas tenham surgido decorrentes dessas necessidades, como é o caso de uma instituição que possui estágio em PSF aos seus alunos.
Não-HDL-Colesterol e LDL-Colesterol em escolares de 7 a 17 anos na cidade de Maracai, SP
Matiko Okabe Seki, Tiemi Matsuo
Data da defesa: 14/02/2006
Fundamentos. A prevenção das doenças cardiovasculares deve começar na infância e adolescência com determinação de colesterol contido nas lipoproteínas de baixa densidade (LDL-c) e de outros fatores de risco. Recentemente, alguns autores vêm propondo a substituição do LDL-c pelas lipoproteínas de não-alta-densidade (não-HDL-c), pois estas incluem todas as lipoproteínas consideradas aterogênicas. Objetivo. Avaliar a correlação entre o não-HDL-c e LDL-c, e estas com as variáveis: Colesterol Total (CT), Triglicérides (TG), lipoproteínas de alta densidade (HDL-c), VLDL-c, Índice de Massa Corporal (IMC) e cintura abdominal; e adicionalmente, calcular valores de não-HDL-c correspondente ao LDL-c que podem requerer intervenção individual. Casuística e Métodos. No período de março a outubro de 2002 foram avaliados 2029 escolares de ambos sexos de sete a 17 anos das escolas de Maracaí, SP. As dosagens bioquímicas foram realizadas com kits de química seca, aparelhos Vitros 750. O LDL-c foi calculado pela fórmula de Friedewald (LDL-c = Colesterol Total – HDL-colesterol – Triglicerídeo/5) e o não-HDL-c pelo cálculo da diferença entre o Colesterol Total e o HDL-c. Resultados. A correlação entre o não-HDL-c e LDL-c foi de 0,971 (p<0,001). O não-HDL-c apresentou melhor correlação em comparação ao LDL-c com todas as variáveis estudadas Conclusões. O não-HDL-c apresentou uma boa correlação com o LDL-c e mostrou-se superior a estas lipoproteínas nas variáveis consideradas como fatores de risco para doenças cardiovasculares. São apresentadas concentrações de não-HDL-c correspondentes aos LDL-c que estimam valores que podem requerer intervenção individual para dislipidemias em crianças e adolescentes.
O Acolhimento no Cotidiano dos Profissionais das Unidades de Saúde da Família em Londrina-Paraná
Sônia Nery, Regina Melchior, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 23/02/2006
Analisa-se o acolhimento no cotidiano do trabalho de profissionais que atuam em três unidades de saúde da família no município de Londrina, Paraná. Adotou-se a pesquisa qualitativa e os dados foram coletados utilizando-se a técnica de grupo focal. Os sujeitos que compõem o universo desta pesquisa foram 12 agentes comunitários de saúde, nove auxiliares de enfermagem, cinco enfermeiras e seis médicos, num total de 32 profissionais. A análise de conteúdo possibilitou a definição de duas categorias temáticas: o acolhimento e o modelo predominante de atenção em saúde e a organização e os métodos de trabalho. Na primeira categoria, analisou-se a escuta, a construção da autonomia do usuário, a responsabilização e a resolutividade pelo trabalhador dos problemas/necessidades de saúde do usuário e comunidade. Na segunda categoria, destacam-se as facilidades e dificuldades relacionadas à organização da demanda, à atenção domiciliar e ao trabalho em equipe. A escuta foi considerada um elemento importante na acolhida, mas não ocorre de forma plena. A promoção da autonomia do usuário encontra-se relacionada à transmissão de informações, não se concretizando a perspectiva de ampliar a compreensão das pessoas sobre o processo de adoecer e seu autocuidado. A resolutividade depende do acolhimento e responsabilização clínica e sanitária dos profissionais no desenvolvimento de ações envolvendo o coletivo da equipe de saúde da família e demais serviços de saúde. A estratégia saúde da família levou ao aumento da demanda espontânea nas unidades e não se conseguiu ainda compatibilizar esta demanda com as atividades programáticas. Quanto à atenção domiciliar, a visita propiciou maior conhecimento dos problemas de saúde do território/famílias, mas esta atividade não foi incorporada por todos os profissionais. O trabalho em equipe foi considerado como um processo que está em construção, demandando novas práticas em saúde, visando superar a fragmentação no cotidiano do trabalho. A educação permanente apresenta-se como possibilidade para que os diferentes atores sociais envolvidos no processo de atenção em saúde questionem sua própria maneira de agir na atenção individual e ou coletiva. Assim, o acolhimento constitui um importante elemento no atendimento às necessidades de saúde das pessoas, mas na realidade analisada ainda não ocorre de forma plena, tendo como referência o modelo de atenção voltado à integralidade das ações em saúde.
A Rede UNIDA e o Movimento de Mudança na Formação dos Profissionais de Saúde
Fernanda Barbieri, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 03/04/2006
Este estudo teve como objetivo principal fazer um resgate histórico da REDE UNIDA, identificando suas principais estratégias para a mudança na formação dos profissionais de saúde no Brasil, no período de 1985 a 2004. Esta é uma pesquisa qualitativa, utilizando dados primários e secundários de informação para análise. Foi feito um levantamento dos documentos oficiais da Rede UNIDA: boletins informativos, revistas e outras publicações da mesma e entrevistas com participantes deste movimento. Aborda a trajetória do movimento desde a sua constituição em 1985 em uma reunião de coordenadores de projetos de integração docente-assistencial, na cidade de Belo Horizonte. Registra as inovações trazidas pelos projetos UNI no início da década de 90 e suas principais diferenças com os projetos de integração docente-assistencial. A percepção dos entrevistados num momento marcante na história da Rede - a união entre a Rede IDA e os Projetos UNI. Após uma análise das conjunturas político-sanitárias e educacionais na formação de profissionais de saúde, é realizado uma abordagem crítica estabelecendo relação das contribuições da Rede UNIDA neste cenário de construção e princípios do SUS, destacando um dos maiores exemplos de mudança: a proposta de diretrizes curriculares para as profissões da saúde. Assim, pretendeu-se conhecer os principais marcos na história da Rede UNIDA, que teve início num período de grandes discussões e mudanças na saúde brasileira, e hoje reúne pessoas e instituições de vários lugares do país em torno do movimento de mudança na formação dos profissionais de saúde, numa trajetória que completa 20 anos.
A gestão plena do sistema municipal: uma avaliação em Apucarana-PR
Leonardo Di Colli, Luiz Cordoni Júnior
Data da defesa: 03/05/2006
A Norma Operacional Básica do SUS 01/96 proporcionou aos municípios a habilitação na modalidade de gestão plena do sistema municipal ou da gestão da atenção básica. Foi considerada como a mais descentralizadora de todas as anteriores e possibilitou aos municípios gerir seus próprios recursos e implantar estratégias que contemplassem a saúde da população. O objetivo deste estudo foi analisar e comparar indicadores hospitalares e ambulatoriais nos períodos antes e após a implantação da gestão plena no Município de Apucarana. Baseou-se na análise de dados obtidos do sistema de informações hospitalares (S.I.H) e ambulatoriais (S.I.A.) do SUS, disponíveis em CD-ROM, tabulados pelo programa TABWIN do Ministério da Saúde. A construção dos indicadores foi baseada na seleção daqueles que poderiam demonstrar alterações em decorrência da intervenção. Foram examinados os indicadores que seguem. Desempenho: taxa de internação hospitalar, proporção de evasão e invasão das internações, proporção de internação por clínica, tempo de permanência e número de procedimentos ambulatoriais. Econômicos: gasto per capita, custo médio das autorizações de internação hospitalar, gastos com internações hospitalares da população residente no próprio município e de residentes em outras localidades, gastos com atendimento ambulatorial, relação entre gastos ambulatorial e hospitalar e proporção de gastos com atenção básica em relação aos gastos totais com saúde. A análise da evolução, considerando o período de 10 anos, realizou-se através da análise de variância para avaliar o modelo de regressão linear estimado em função do tempo, através do programa The SAS System. A comparação entre os períodos foi realizada utilizando-se a distribuição de Poisson. Os valores em reais foram atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC – do IBGE. Ficaram demonstradas as alterações ocorridas nos indicadores nos períodos de 1996-1997 e 2000- 2001, antes e após a implantação da gestão plena, e na série histórica, de 1995 a 2004. O aumento da resolutividade dos serviços, o melhor acesso da população aos serviços de saúde de nível primário e secundário, a garantia às pactuações intermunicipais, o melhor desempenho do sistema municipal de controle, avaliação e auditoria, a melhor confiabilidade da alimentação dos bancos de dados e a melhora da tecnologia médica foram os aspectos que demonstraram relação com a implantação da Gestão Plena do Sistema no Município de Apucarana.
Aleitamento materno até o quarto mês de vida entre mães adolescentes, zona urbana de Cascavel – Paraná: Fatores Associados
Claudia Regina Felicetti, Zuleika Thomson
Data da defesa: 06/06/2006
O Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde é uma fonte importante de informações, que pode ser utilizada para monitoramento da morbidade por acidentes e violências (causas externas de morbidade e mortalidade) no Brasil. No entanto, não foram identificadas pesquisas que avaliaram a cobertura e a qualidade das informações sobre causas externas constantes neste sistema de informações. O objetivo deste trabalho foi analisar a cobertura e a qualidade das informações sobre acidentes e violências (causas externas) disponíveis no SIH em Londrina, Paraná, os gastos e traçar um perfil epidemiológico destas internações. Foram revisados, manualmente, todos os laudos médicos de autorizações de internação hospitalar (AIH) de todos os hospitais gerais (cinco) e de um especializado em ortopedia cujas internações ocorreram no ano de 2004. Tais laudos foram transcritos e codificados por duas pessoas treinadas, que se revezavam na codificação e revisão do código atribuído à causa externa e à lesão (cada laudo era revisto por ambas e, em caso de dúvida ou discordância, discutia-se até haver acordo sobre o código a ser utilizado). Foram buscadas informações complementares, a fim de melhorar a qualidade dos registros (banco de dados pesquisa) em outros sistemas (Sistema de Informações de Mortalidade e Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma e às Emergências). O banco de dados do SIH foi obtido do sítio do DATASUS, sendo selecionados os casos cujos diagnósticos primário ou secundário estivessem classificados nas rubricas de S00 a Y98 da CID-10 e com data de internação no mesmo período (banco de dados SIH). Por meio do número da AIH, os dois bancos de dados foram comparados no Epi Info. Para análise do perfil epidemiológico, foram consideradas todas as novas internações, não sendo consideradas as reinternações (emissão de duas ou mais AIHs numa mesma internação). Foram identificadas 4088 internações no período de estudo por ambos os bancos de dados, havendo concordância sobre o diagnóstico de causa externa em 2932 internações (concordância geral de 71,7%). Na pesquisa, foram identificadas 4018 internações por causas externas e, no banco do SIH, foram informadas 3002, o que representou uma cobertura de 74,7%. Considerando o banco de dados da pesquisa como referência, a sensibilidade e o valor preditivo positivo do SIH foram de 73% e 97,7%, respectivamente. Em três hospitais foram registradas as maiores discordâncias, o que sugere problemas na codificação dos dados. O gasto total identificado pela pesquisa foi de R$ 4.339.804,69, sendo observados maiores gastos médios e medianos com as internações por complicações de atos médicos. Quanto ao perfil epidemiológico, os acidentes de transportes foram as principais causas externas de internações, sendo mais freqüentes no sexo masculino e na faixa etária de 20 a 29 anos. Os resultados apontam alguns problemas na cobertura e qualidade da informação do SIH no município, o que poderia ser reduzido com treinamento do pessoal que realiza codificação nos hospitais e nos setores de controle e avaliação do município.
Internações por acidentes e violências financiadas pelo setor público em Londrina, Paraná: análise dos registros, gastos e causas
Maria de Fátima Akemi Iwakura Tomimatsu, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 28/07/2006
O Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde é uma fonte importante de informações, que pode ser utilizada para monitoramento da morbidade por acidentes e violências (causas externas de morbidade e mortalidade) no Brasil. No entanto, não foram identificadas pesquisas que avaliaram a cobertura e a qualidade das informações sobre causas externas constantes neste sistema de informações. O objetivo deste trabalho foi analisar a cobertura e a qualidade das informações sobre acidentes e violências (causas externas) disponíveis no SIH em Londrina, Paraná, os gastos e traçar um perfil epidemiológico destas internações. Foram revisados, manualmente, todos os laudos médicos de autorizações de internação hospitalar (AIH) de todos os hospitais gerais (cinco) e de um especializado em ortopedia cujas internações ocorreram no ano de 2004. Tais laudos foram transcritos e codificados por duas pessoas treinadas, que se revezavam na codificação e revisão do código atribuído à causa externa e à lesão (cada laudo era revisto por ambas e, em caso de dúvida ou discordância, discutia-se até haver acordo sobre o código a ser utilizado). Foram buscadas informações complementares, a fim de melhorar a qualidade dos registros (banco de dados pesquisa) em outros sistemas (Sistema de Informações de Mortalidade e Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma e às Emergências). O banco de dados do SIH foi obtido do sítio do DATASUS, sendo selecionados os casos cujos diagnósticos primário ou secundário estivessem classificados nas rubricas de S00 a Y98 da CID-10 e com data de internação no mesmo período (banco de dados SIH). Por meio do número da AIH, os dois bancos de dados foram comparados no Epi Info. Para análise do perfil epidemiológico, foram consideradas todas as novas internações, não sendo consideradas as reinternações (emissão de duas ou mais AIHs numa mesma internação). Foram identificadas 4088 internações no período de estudo por ambos os bancos de dados, havendo concordância sobre o diagnóstico de causa externa em 2932 internações (concordância geral de 71,7%). Na pesquisa, foram identificadas 4018 internações por causas externas e, no banco do SIH, foram informadas 3002, o que representou uma cobertura de 74,7%. Considerando o banco de dados da pesquisa como referência, a sensibilidade e o valor preditivo positivo do SIH foram de 73% e 97,7%, respectivamente. Em três hospitais foram registradas as maiores discordâncias, o que sugere problemas na codificação dos dados. O gasto total identificado pela pesquisa foi de R$ 4.339.804,69, sendo observados maiores gastos médios e medianos com as internações por complicações de atos médicos. Quanto ao perfil epidemiológico, os acidentes de transportes foram as principais causas externas de internações, sendo mais freqüentes no sexo masculino e na faixa etária de 20 a 29 anos. Os resultados apontam alguns problemas na cobertura e qualidade da informação do SIH no município, o que poderia ser reduzido com treinamento do pessoal que realiza codificação nos hospitais e nos setores de controle e avaliação do município.
Atuação profissional de motoboys e fatores associados à ocorrência de acidentes de trânsito em Londrina-PR
Daniela Wosiack da Silva, Darli Antonio Soares, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 28/07/2006
Nos últimos anos, no Brasil, tem sido observada utilização crescente dos serviços de entrega de mercadorias por motoboys, os quais são susceptíveis à ocorrência de acidentes de trânsito devido à sua grande exposição nas vias públicas e à necessidade de realizarem o maior número possível de entregas em curto intervalo de tempo. Há poucos estudos que abordam os riscos de acidentes a que está exposta esta categoria profissional. Este estudo teve por objetivo analisar o perfil de motoboys, sua atuação profissional e fatores associados com a ocorrência de acidentes de trânsito durante o trabalho no município de Londrina. Trata-se de um estudo transversal, tendo como unidade de análise motoboys que atuam em Londrina. A delimitação da amostra deu-se após a realização de um estudo exploratório, por consultas telefônicas buscando-se definir o número de motoboys atuantes nos sete principais tipos de empresas que os empregam (restaurantes, farmácias, papelarias/copiadoras, empresas de tintas, gás, água e entregas). A partir desse levantamento, visando garantir a proporcionalidade, as empresas foram ordenadas por tipo e número de motoboys, sendo realizada amostragem sistemática de aproximadamente 50%. A coleta de dados ocorreu de setembro a novembro de 2005, utilizando um questionário auto-aplicável, desenvolvido após diversas etapas visando seu aprimoramento. Com a finalidade de reduzir perdas, foram realizadas até cinco visitas à mesma empresa nos três períodos do dia. A análise dos dados foi feita por meio de análises descritivas, bivariadas e regressão logística. Foram entrevistados 377 motoboys (perda de 4% em relação aos amostrados). Cerca de 75% dos motoboys apresentava tempo de atuação profissional superior a dois anos. A maioria (68%) atuava em apenas um tipo de empresa, havendo predomínio de restaurantes (48%). Em cerca de 65% dos casos, a remuneração estava relacionada à quantidade de entregas feitas. Constatou-se que 36% dos motoboys alternavam turnos de trabalho e que 42% referiram ter trabalhado mais do que dez horas por dia na última semana. Cento e quarenta e sete motoboys (39%; intervalo de confiança de 95% [IC95%]: 34,1-44,1%) relataram ter sofrido acidentes de trânsito nos doze meses anteriores à realização da pesquisa, e 121 (32,1%; IC95%: 27,5-37,1%) durante o exercício profissional. Foram relatados, no total, 257 episódios de acidentes de trânsito, o que equivale a uma taxa de 68,17 acidentes por 100 motoboys. Na análise multivariada, os fatores independentemente associados, de forma direta, ao relato de ocorrência de acidentes de trânsito durante o trabalho foram: a idade dos motoboys, sendo maior a taxa de acidentes na faixa etária de 18 a 24 anos (Razão de Chances [OR]=1,74), a adoção de velocidades acima de 80 Km/h nas avenidas do município (OR=1,64) e a alternância de turnos de trabalho (OR=1,77). Os resultados indicam alta incidência de acidentes de trânsito no período analisado. A maior parte dos acidentes ocorreu durante o trabalho, comprovando a maior exposição dos motoboys aos acidentes de trânsito devido a características inerentes à profissão, sendo necessárias estratégias e políticas específicas para a redução de acidentes envolvendo estes profissionais.