Arte da palhaçaria na pediatria: espetáculos e intervenções para a humanização do cuidado na ótica dos profissionais de saúde
Tatiane Angélica Phelipini Borges, Alberto Durán González
Data da defesa: 27/10/2021
Este estudo teve o objetivo de compreender o entrelaçamento da arte da palhaçaria para a composição do cuidado humanizado na pediatria, sob a ótica dos profissionais de saúde. Foi realizado no Hospital Universitário do Norte do Paraná onde é o palco do projeto de extensão chamado “SensibilizArte - a arte como instrumento para humanização na formação e no cuidado em saúde”, que desenvolve atividades lúdicas envolvendo a arte como estratégia de cuidado completar aos pacientes internados. Contou com 25 profissionais de saúde, sendo, seis médicos, quatro fisioterapeutas, oito enfermeiros e sete técnicos de enfermagem, atuantes na unidade de internação pediátrica e unidade de terapia intensiva pediátrica. Diante do cenário de pandemia da COVID-19 causada pelo novo coronavírus, as entrevistas ocorreram por meio de ligação telefônica, por meio de um questionário semiestruturado dividido em três grandes blocos (atuação e formação; o projeto SensibilizArte; Arte como intervenção terapêutica). Para análise dos dados foi empregada a Análise temática proposta por Bardin (2011). Foi possível abstrair resultados relacionados à construção do conhecimento, vivências e percepções dos profissionais de saúde sobre temas específicos como Arte da Palhaçaria, Cuidado Humanizado, estratégias e dimensões do cuidado, construção e formação do ser profissional, e sua relação entre os atores no âmbito da pediatria (crianças, pais e profissionais). Para apresentar os resultados deste espetáculo, optou-se pela apresentação no formato de duas cenas. Cena I: Arte da Palhaçaria e Humanização do Cuidado na Pediatria: Significâncias sob a Ótica Profissionais de Saúde, e teve como objetivo evidenciar como a arte da palhaçaria pode ressignificar a humanização do cuidado na pediatria, sob a ótica dos profissionais de saúde. O palhaço tem o poder de desfocar da realidade. A alegria e a interação são antídotos para aterrissar em outra dimensão, distantes do sofrimento, mesmo que momentâneo. Não deixando arraigado somente dor, doença, sofrimento e choro para o quarto e leito hospitalar, dando lugar a esperança. Cena II: Entrelaçamento da Arte da Palhaçaria com a Humanização do Cuidado em Saúde: Formação e Atuação Profissional, e teve o objetivo de compreender a concepção e a vivência dos profissionais de saúde em relação a arte da palhaçaria no cuidado na pediatria, em seu processo formativo e prática profissional. Existe grande potencialidade no entrelaçar da arte da palhaçaria com as práticas humanizadas e sensíveis em saúde para a formação do ser profissional, na atenção e no cuidado ao paciente. Assim, o cuidar em saúde deve ser contemplado no seu sentido mais amplo, de modo a considerar o ser humano cuidado em sua multiplicidade, e para além de suas disfunções orgânicas, ecoando o conceito ampliado de saúde. Desta forma, a alegria e a interação são antídotos para aterrissar em outra dimensão, distantes do sofrimento, mesmo que momentâneo.
Epidemiologia dos Acidentes e Violências em Menores de 15 anos em Londrina, Paraná
Christine Baccarat de Godoy Martins, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 31/01/2004
O estudo teve como objetivo analisar as características dos acidentes e violências ocorridos entre menores de 15 (quinze) anos residentes no município de Londrina, estado do Paraná, cujas vítimas demandaram atendimento em serviços hospitalares ou que morreram por essas causas. A população de estudo foi composta pela população menor de 15 anos residente no Município, que foi atendida em serviços hospitalares gerais de urgência ou de internação da cidade durante o ano de 2001, ou que morreram em um prazo de até um ano após o acidente ou ato violento ocorrido naquele ano. Os casos de acidentes ou violências foram definidos como os eventos classificáveis no capítulo XX da Classificação Internacional de Doenças, décima revisão (causas externas de morbidade e de mortalidade). Os dados de morbidade foram obtidos através de investigação em prontuários nas cinco unidades hospitalares da cidade que prestam atendimento geral a crianças, preenchendo um formulário previamente testado. Os dados de mortalidade foram coletados no Núcleo de Informação em Mortalidade da Prefeitura de Londrina, sendo posteriormente comparados aos dados de morbidade, com vistas a formar um único banco de dados. O programa computacional Epi Info foi utilizado para processamento eletrônico, tabulação e conferência dos dados, a fim de evitar duplicação e inconsistências. Foram estudados 8854 menores de 15 anos vítimas de acidentes ou violências, o que representa uma taxa de incidência de 7,5% em 2001. Observou-se uma taxa de internação hospitalar de 4,2% e de letalidade de 0,2%. Maiores taxas de incidência foram observadas entre crianças de um e dois anos de idade (10,9%) e o sexo masculino prevaleceu, exceto entre menores de um ano. Para o conjunto das vítimas, as quedas (33,8%) predominaram, seguidas pelos eventos de intenção indeterminada (30,6%), pelas forças mecânicas inanimadas (15,5%) – causadas especialmente pela penetração de corpo estranho em orifício natural ou através da pele – e pelos acidentes de transporte (7,5%), principalmente os que envolveram ciclistas. Entre os internados que sobreviveram, as quedas também foram as principais causas (32,4%), seguidas pelos acidentes de transporte (19,5%), sendo ciclistas e pedestres as vítimas mais freqüentes. Os acidentes de transporte foram os principais responsáveis pelos 18 óbitos (44,4%), especialmente de pedestres, seguidos pelos afogamentos (16,7%) e pela aspiração de conteúdo gástrico (11,1%). Apesar de não ter sido objeto de análise, foram evidenciadas algumas seqüelas permanentes entre as vítimas atendidas, tais como tetraplegia e amputação traumática de dedos. Também observaram-se casos de crianças que tiveram dois ou três diferentes acidentes durante o ano. A análise de cada tipo de causa externa permitiu verificar diferenciais nos tipos de acidentes ou violência e nas características das vítimas. Estes resultados contribuem para ampliar o conhecimento sobre as características epidemiológicas dos acidentes ou violências que ocorrem na infância, conhecimento este necessário para um planejamento mais adequado de ações preventivas que visem a redução deste importante agravo em nossa sociedade.
O Uso de Medicamentos na Atenção Básica em Londrina-PR
Poliana Vieira da Silva, Adriana Mitsue Ivama
Data da defesa: 10/02/2004
De acordo com a Constituição Brasileira, a saúde é direito do cidadão, incluída a assistência farmacêutica, de forma universal, integral e equânime. A implementação da Assistência Farmacêutica no SUS tem como um dos seus principais referenciais a Política Nacional de Medicamentos (PNM), que tem como propósito precípuo garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles medicamentos considerados essenciais. Uma de suas prioridades é o acompanhamento e a avaliação contínua das ações em saúde orientadas pela assistência farmacêutica, mediante metodologias e indicadores a serem definidos. O objetivo desta pesquisa foi conhecer as características do uso de medicamentos na atenção básica do Sistema Único de Saúde em Londrina, Pr. Foram usados como principal referência os indicadores do uso de medicamentos propostos pela Organização Mundial da Saúde, de prescrição, de assistência ao paciente e do serviço de saúde. As unidades básicas de saúde (UBS) foram caracterizadas por porte e localização e foi feita uma amostra aleatória para coleta em 13 das 54 UBS de Londrina e entrevista com 390 usuários.No município existe uma Central de Abastecimento Farmacêutico, uma farmácia para dispensação de medicamentos de controle especial e dispensários nas UBS. Não há presença de farmacêuticos nas unidades básicas de saúde. São prescritos 2,2 medicamentos por consulta. Destes, 28,6% são antibióticos, 10,9% são injetáveis, 66,5% são prescritos por seus nomes genéricos e 73,3% pertencem a Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME). O tempo médio de consulta foi de 8,6 minutos e dos medicamentos prescritos 71,8% foram dispensados. Quanto aos pacientes 46,6% possuíam as informações mínimas para usar corretamente os medicamentos prescritos. A REMUME estava presente em 69,2% das UBS estudadas e apenas 46,1% das UBS possuíam todos os medicamentos chaves da lista pactuada para a assistência farmacêutica básica. Embora os usuários do Sistema Único de Saúde em Londrina tenham acesso aos medicamentos constantes da REMUME nas UBS onde foi realizada a pesquisa, não se pode afirmar que este acesso seja regular e tenha uma racionalidade de prescrição ou que os usuários usem racionalmente tais medicamentos, uma vez que relatam um nível baixo de conhecimentos sobre como utilizá-los. Estes indicadores podem contribuir para a formulação de políticas voltadas para a reorientação da assistência farmacêutica, promovendo a melhoria do acesso e uso racional dos medicamentos.
Cárie Dentária em Homens Jovens: Prevalência, Severidade e Fatores Associados
Marcelo Augusto do Amaral, Luiza Nakama
Data da defesa: 02/04/2004
O objetivo do presente trabalho foi identificar a prevalência e severidade da cárie dentária, bem como necessidades de tratamento odontológico, além de testar sua associação com variáveis socioeconômicas em jovens de 18 anos de idade do sexo masculino em Maringá, Paraná, Brasil. Foi realizado um estudo transversal em uma amostra aleatória de alistandos (n=241) do Exército Brasileiro. Foram utilizados os critérios de diagnóstico da Organização Mundial de Saúde. Utilizou-se um questionário socioeconômico para aferir a escolaridade do alistando e de seus pais e a renda familiar, e o Critério de Classificação Econômica Brasil da Associação Nacional de Empresas de Pesquisa. Associações entre a prevalência de cárie, o índice CPO-D e seus componentes, a necessidade de tratamento e as variáveis socioeconômicas foram avaliadas por meio dos testes Qui-quadrado, Mann-Whitney e Kruskal-Wallis, respectivamente. A prevalência de cárie foi de 82,6% e o índice CPO-D médio foi igual a 4,6. Apenas 0,8 dente por indivíduo, em média, apresentou-se com necessidade de tratamento. Diferenças estatisticamente significantes foram encontradas na prevalência e severidade de cárie (CPO-D), sendo os piores indicadores verificados nos grupos de baixa renda e poder aquisitivo, indicando a necessidade de implantação de políticas sociais que contemplem aquelas populações, com o intuito de diminuir o diferencial nos indicadores do processo saúde-doença. Por outro lado, as necessidades de tratamento associaram-se somente à variável Critério de Classificação Econômica Brasil (p<0,05).
Sistema Único de Saúde: Paradigma Válido para a Odontologia? Representações dos Cirugiões Dentistas sobre o SUS
Sérgio Xavier de Carvalho, Luiza Nakama
Data da defesa: 16/04/2004
O Estado Brasileiro, enquanto promotor de justiça social tem, na atenção à Saúde, um de seus maiores desafios. Conta para tanto com um instrumento privilegiado e legítimo, fruto do esforço coletivo de atores sociais variados, constitucionalmente instituído: o Sistema Único de Saúde (SUS). O presente estudo partiu da necessidade de compreensão do processo histórico de construção do SUS, ontem e hoje, notadamente em sua relação com a atenção odontológica, diante dos seguintes fatores: a) mais de uma década e meia de instituição jurídica do SUS; b) Dificuldades na implantação do SUS como Modelo Assistencial de Saúde; c) Dificuldades específicas relativas à atenção odontológica no SUS; d) Possibilidade de os significados das representações sociais dos profissionais serem fatores explicativos desta realidade. Este estudo teve por objetivo verificar se o SUS é reconhecido como paradigma válido pelo cirurgião-dentista para a prática profissional odontológica. A presente pesquisa configura-se como um Estudo Comparativo de Casos, ou Estudo Multicaso (TRIVIÑOS,1987), ou ainda, um Estudo de Caso Coletivo (BERG, 1998), utilizando-se a metodologia de pesquisa qualitativa, podendo ser tipificado como uma pesquisa aplicada em Ciências Sociais. O grupo de estudo foi constituído de 26 profissionais cirurgiões-dentistas com atuação profissional vinculada ao Sistema Único de Saúde: profissionais dos serviços públicos de saúde e docentes; O grupo de estudo foi constituído de três Casos, aqui denominados subgrupos de estudo: a) Profissionais do serviço público tradicional, de Londrina (PR); b) Profissionais do Programa Saúde da Família (PSF), de Curitiba (PR); c) Docentes de escolas de Odontologia, de Londrina (PR). As representações dos profissionais entrevistados evidenciaram três possibilidades: a) Desconhecimento do SUS; b) Conhecimento e ceticismo; c) Conhecimento e Utopia. Conclui-se deste estudo que o SUS ainda é parcialmente reconhecido como referencial cognitivo e político-ideológico para a atenção odontológica pelos cirurgiões-dentistas.
A inserção da saúde bucal no PSF, perspectivas e desafios: a visão de odontólogos do Paraná
Adriana Prestes do Nascimento Palú, Adriana Mitsue Ivama
Data da defesa: 26/04/2004
O Programa Saúde da Família (PSF) surge como uma estratégia de reorientação das práticas sanitárias no Brasil. A inclusão da saúde bucal no PSF constituiu um avanço na reorganização das ações de saúde bucal na atenção básica. Representou a incorporação do conceito de saúde bucal como um componente da saúde em seu sentido mais amplo. O presente estudo teve como objetivo central a análise da inserção do odontólogo no PSF, no Paraná. Trata-se de uma pesquisa social com abordagem qualitativa. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com dezessete odontólogos que atuam no PSF. No tratamento do material coletado foi utilizado o programa N-Vivo e foi realizada análise de conteúdo. Os resultados obtidos demonstraram que esses profissionais se inseriram no PSF de maneira não homogênea, com formação acadêmica distanciada da atuação de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde e de forma geral insuficiente para atuar neste modelo, com necessidades de (re)capacitação, na perspectiva da educação permanente. Na sua atuação cotidiana, estes profissionais cumprem as atribuições preconizadas referentes às ações clínicas, nem sempre sob um novo enfoque da saúde-doença, encontram deficiência na assistência secundária e não exercem plenamente as ações coletivas. Foram evidenciadas diferenças na atuação em equipe, e no estabelecimento de vínculos com a comunidade, sendo que estes eram facilitados quando havia melhor domínio conceitual e compreensão do modelo de atenção. Embora a maioria deles esteja consciente das mudanças em suas práticas, há dificuldades em lidar com tais mudanças. A precarização da forma de contratação parece ter grande influência no envolvimento do profissional com o serviço, principalmente em estratégias de longo prazo, à medida que explicitam dúvidas acerca do seu futuro e da própria estratégia do saúde da família. Concluímos que a inclusão da saúde bucal aponta para a mudança das práticas na atenção básica, embora haja muitas deficiências. Os principais desafios evidenciados no trabalho, tanto para a formulação de políticas como para a gestão dos serviços, foram a descontinuidade da atenção em outros níveis de atenção, o distanciamento entre a formação e o modelo de atenção vigente e a precarização das formas de contratação. A educação permanente dos profissionais, bem como a inserção de profissionais comprometidos com o processo, podem contribuir para a efetiva reorientação das práticas, voltadas para a promoção, prevenção, tratamento e reabilitação da saúde bucal, de modo universal, equânime e integral.
Cobertura e fatores associados à realização do teste para HIV/aids durante a assistência pré-natal na 15ª Regional de Saúde de Maringá-PR
Norico Miyagui Misuta, Darli Antonio Soares
Data da defesa: 28/04/2004
Desde a publicação dos resultados da pesquisa realizada pela equipe Pediatric AIDS Clinical Trials Group (Protocolo ACTG 076) demonstrando que a administração do zidovudina na gestante infectada pelo HIV pode reduzir a transmissão em aproximadamente 70%, o diagnóstico do HIV tornou-se fundamental para a redução da transmissão perinatal. Contudo, vários estudos demonstram que a sorologia da aids não tem sido realizada em todas as gestantes. Desta forma, a presente pesquisa analisa a cobertura da testagem para HIV e os fatores associados com a sua não-realização durante a assistência pré-natal. Foram entrevistadas mulheres cujos partos foram realizados entre 01 de janeiro e 31 de março de 2003, residentes em cinco municípios da 15ª Regional de Saúde de Maringá-PR (15ª RS), localizadas pelos sistemas de informação sobre nascidos vivos (SINASC) e mortalidade (SIM). O cálculo do tamanho da amostra resultou em 450 mulheres, para estimar uma prevalência de 50,0% de cobertura da testagem para HIV, com um erro de 5,0% na estimativa e nível de confiança de 95,0%. Das 435 mulheres entrevistadas, quando indagadas se realizaram a sorologia da aids durante o pré-natal, a maioria (86,4%) disse que sim, 9,0% disseram que não e 4,6% não sabiam. Observou-se alto grau de concordância entre a informação oral e aquela obtida nos registros e a cobertura do teste, estimada a partir da comprovação em registro, foi de 89,6% durante o pré­natal e somente 13,6% receberam aconselhamento pré-teste.Não houve diferença na cobertura da testagem e aconselhamento entre as mulheres atendidas no SUS e não-SUS. Entre as que não receberam aconselhamento e realizaram o exame, 54,9% foram informadas da solicitação; 29,7% souberam pela requisição do exame, 9,8% após o resultado e 5,7% durante a coleta de sangue; ou seja, 45,1% não foram informadas sequer da solicitação do sorodiagnóstico para HIV. A maioria (94,1%) realizou o exame porque o médico pediu, e os principais motivos da não-realização do teste foram: para 66,7%, o fato de o médico não o ter pedido; para 20,5%, o fato de haverem sido testadas há pouco tempo ou na gestação anterior, e 7,7% não o fizeram por dificuldade na coleta do exame. Não houve diferença entre mulheres testadas e não testadas, quanto às características sociais e demográficas, fonte de financiamento do pré-natal e comportamento de risco. A cobertura da testagem para HIV foi elevada (89,6%), porém, grande parte das gestantes não recebeu aconselhamento, o que não contribui para redução da transmissão do HIV entre os parceiros sexuais. Além disso, o fato de, entre as não testadas, a maioria não ter realizado o exame porque o médico não o solicitou indica a necessidade de capacitar melhor os profissionais de saúde que realizam o pré-natal.
Avaliação nutricional e hábito alimentar de escolares de 14 a 19 anos do oeste do Paraná/Brasil
Marcia Cristina Dalla Costa, Luiz Cordoni Júnior
Data da defesa: 27/05/2004
O sobrepeso representa uma ameaça à saúde pública, sendo a adolescência um período de grande vulnerabilidade. Este estudo objetivou identificar a freqüência de sobrepeso e obesidade e os fatores a ela associados, em 2562 escolares de 14 a 19 anos, das escolas urbanas, públicas e particulares de Toledo/PR. Adotou-se o Índice de Massa Corporal/Idade e este associado às Pregas Cutâneas Triciptal e Subescapular para diagnosticar exposição ao risco de sobrepeso e obesidade, respectivamente. Dos escolares, 3,8% apresentaram baixo peso e 10,2% exposição ao risco de sobrepeso. Destes, 50,8% apresentaram obesidade, representando 5,2% da população estudada. Encontrou-se associação significativa entre o estado nutricional e o número de refeições/dia, sendo que dos escolares em sobrepeso, 71,5% realizam até 3 refeições/dia. Para identificar o excesso de gordura subcutânea, coletou-se as pregas cutâneas de 482 alunos, aleatoriamente, e o resultado mostrou que apenas 1,7% dos escolares com peso normal estavam nesta condição, contra 50% dos que apresentavam sobrepeso. Conclui-se que a prevalência de sobrepeso encontra-se abaixo dos índices encontrados em outros municípios brasileiros, porém a obesidade apresenta resultado similar aos das pesquisas nacionais. Estes achados ainda sugerem que quanto maior o número de refeições realizadas pelo adolescente, menor é o risco de desenvolver sobrepeso; e que o Índice de Massa Corporal/Idade é adequado para detectar na população os grupos expostos aos riscos de sobrepeso, aplicando as pregas cutâneas apenas nos sobrepesos, tornando a vigilância nutricional dos adolescentes uma prática factível.
Aleitamento materno de prematuros em hospital escola de Londrina – PR
Márcia M. Benevenutto Oliveira, Zuleika Thomson
Data da defesa: 02/06/2004
Esta pesquisa avaliou a prática do aleitamento materno entre prematuros, durante o período de internação e nos primeiros seis meses de vida. Realizou-se um estudo longitudinal com 278 prematuros nascidos no Hospital Universitário de Londrina – PR, no período de maio de 2002 a abril de 2003. A metodologia constou da análise de prontuários de mães e de prematuros, além de entrevistas com as mães dessas crianças aos seis meses de vida, por meio de visita domiciliar ou telefone. Os procedimentos analíticos utilizados foram a técnica de sobrevida pelo método de Kaplan-Meier e pelo modelo de regressão de Cox multivariado. A prevalência do aleitamento materno dos prematuros durante o tempo de internação foi de 100% e 31% para o aleitamento materno exclusivo. A mediana do aleitamento materno exclusivo e do aleitamento materno foi 63,5 dias e superior a 180 dias, respectivamente. A prevalência do aleitamento materno no sexto mês foi 54,7%, embora apenas 6,8% permanecessem em aleitamento materno exclusivo. Até o sexto mês de vida, 78,4% dos prematuros receberam outro tipo de leite que não o humano e, deste total, 56,4% receberam fórmula infantil. O uso de chupeta pelos prematuros foi a variável que apresentou associação significativa com a duração do AME, revelando uma chance 1,67 vezes maior para a interrupção do aleitamento materno exclusivo quando comparado àqueles que não usaram chupeta. Os fatores que mais contribuíram para o sucesso do aleitamento materno alegados pelas mães foram: o conhecimento das vantagens do aleitamento materno, o desejo pessoal de amamentar e os incentivos recebidos por outras pessoas. As dificuldades para amamentar mais citadas pelas mães foram os problemas relativos à mama e à pega e, entre estes, a fissura. Quando comparada com anos anteriores, a duração do aleitamento materno exclusivo entre os prematuros estudados aumentou, estando de acordo com a tendência mundial. Constatou-se que nenhum prematuro fez uso de fórmula infantil exclusiva durante a internação. As mães continuam introduzindo alimentos aquém dos seis meses de vida, tempo esse recomendado para as crianças permanecerem em aleitamento materno exclusivo.
Dengue em Londrina, Paraná: conhecimento sobre a doença, opiniões e adesão a medidas preventivas
Nadia Souza Takemura, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 09/06/2004
No Brasil, o dengue tem se apresentado sob a forma de epidemias explosivas. Sua incidência está relacionada, principalmente, à densidade do mosquito vetor (Aedes aegypti), constituindo-se em importante problema de saúde pública não só no Brasil, mas nas Américas e no mundo. Para o seu controle, além de medidas relacionadas ao ambiente, o conhecimento da população sobre a doença e a adesão a medidas preventivas são fundamentais. O presente trabalho teve como objetivos descrever o conhecimento sobre a doença, opiniões e a adesão a medidas preventivas em relação ao agravo, no primeiro semestre de 2003, entre residentes da Região Norte de Londrina que tiveram a doença confirmada no ano anterior. O conhecimento sobre a doença e seu vetor foi avaliado por meio de entrevistas, realizadas por agentes de controle do dengue previamente treinados, com as pessoas que haviam adquirido dengue em 2002, ou com familiares próximos. A adesão a medidas preventivas foi avaliada por meio de inspeção nos domicílios, para verificar possíveis criadouros do Aedes aegypti. As visitas domiciliárias ocorreram de fevereiro a maio de 2003 e os dados foram obtidos com utilização de formulário pré-testado. Em 2002, foram confirmados casos de dengue em 165 domicílios da Região Norte de Londrina e em 152 (92,1%) foram realizadas as visitas domiciliárias. A maioria dos entrevistados foi o próprio caso (53,3%) e dona-de-casa (76,3%). Grande parte (62,5%) tinha o primeiro grau incompleto ou nenhuma escolaridade. Foram relatadas boas coberturas de abastecimento de água e de coleta de esgoto e de lixo pela rede pública (96,7%, 71,7% e 98,0% respectivamente). A maioria dos entrevistados afirmou que dengue era uma doença (77,6%), transmitida por mosquito (94,0%) e referiu o papel da água no nascimento desse inseto (90,8%). No entanto, somente 44,1% identificaram os dois exemplares do Aedes aegypti em um mostruário de dois Aedes e quatro pernilongos comuns e parcela expressiva não soube informar a quantidade do vetor em seu bairro (44,7%). A maioria acreditava que existia risco de ocorrer dengue hemorrágico em Londrina (90,1%), mas 33,6% não sabiam explicar ou erraram o que era dengue hemorrágico. A televisão (78,9%) e os agentes de controle de dengue (63,8%) foram as principais fontes de informações citadas. Estes últimos também foram os mais referidos quanto à atuação em trabalhos de prevenção na comunidade (96,1%), em comparação a uma pequena participação do conselho de saúde local (3,3%) e dos técnicos do Programa Saúde da Família (18,4%). Apesar de 94,1% considerarem que a melhor forma de prevenção era manter o quintal limpo e sem água parada, e de afirmarem que não mudaram de comportamento após a doença, pois já tomavam os devidos cuidados (57,2%), foram encontrados recipientes que representavam risco para a criação do vetor do dengue (passíveis de acumular água, com água ou com larvas) em 82,2% dos domicílios, denotando baixa adesão a medidas preventivas na população pesquisada. Estes resultados indicam que os entrevistados possuem informações sobre alguns aspectos do dengue, mas não construíram conhecimento suficiente acerca da doença que resulte em adoção de um comportamento preventivo efetivo, apesar de já terem vivenciado a experiência da doença. Há necessidade, portanto, de uma reflexão sobre o processo de trabalho e de mudanças no processo educativo dos profissionais de saúde, que contribuam para uma conseqüente transformação na relação dos serviços com a população.