Influência de um programa de bochecho semanal com fluoreto de sódio a 0,2% na prevalência da cárie dentária em escolares de 12 anos em região com água de abastecimento fluorada
Maria Luiza Hiromi Iwakura, Maria Celeste Morita
Data da defesa: 21/05/2002
A aplicação tópica de flúor na forma de bochechos de fluoreto de sódio a 0,2% tem sido um dos métodos mais empregados para a prevenção da cárie no Brasil, depois da fluoração da água de abastecimento público. O presente estudo teve como objetivo comparar a prevalência de cárie dentária em escolares de 12 anos, do Município de Londrina, que participaram do Programa Semanal de Bochecho com solução de fluoreto de sódio a 0,2%, com outros escolares não participantes. Foram examinados 367 escolares de 12 anos, sendo 190 participantes (51,8%) e 177 não participantes (48,2%) do Programa. Os Índices utilizados foram o de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados (CPOD) e o de Superfícies Cariadas, Perdidas e Obturadas (CPOS), com critérios de diagnóstico da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1999). Os exames foram conduzidos por 3 examinadores e a concordância no diagnóstico de cárie e fluorose dentária foi quase perfeita com K=0,90. O Índice CPOD aos 12 anos foi de 0,85 (DP±0,059), sendo 0,70 (DP±0,0605) para não participantes do Programa e 1,0 (DP±0,0583) para participantes. Para o Índice CPOS o valor total foi de 1,16 sendo os valores mínimo de 0,34 e máximo de 1,66. Na análise bivariada, estiveram estatisticamente associados (p<0,05) com a presença de cárie: natureza da escola ser pública, ter participado do Programa de Bochecho e a alta freqüência de ingestão de doces entre as refeições. Na análise de regressão logística multivariada, mantiveram-se associadas as mesmas variáveis da análise bivariada. Como variável dependente foi considerada a situação quanto a presença de cárie e, como variáveis independentes, o sexo, a natureza da escola pública ou privada, a participação ou não em Programa de Bochecho Semanal com flúor, a freqüência da escovação, a quantidade de pasta utilizada, a presença de fluorose dentária, freqüência de ingestão de doces e última consulta ao dentista. A participação no Programa de Bochecho com flúor não esteve associada às menores prevalências de cárie, tanto em escolas públicas como privadas. O resultado contraditório da participação no Programa de Bochecho sugere que outros fatores podem estar contribuindo para a diferença na prevalência de cárie observada.
Desenvolvimento gerencial em saúde: limites e possibilidades
Débora Cristina Bertussi, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 27/05/2002
Esta investigação objetivou analisar as dimensões política, administrativa e pedagógica do projeto GERUS/Desenvolvimento Gerencial de Unidades Básicas de Saúde no município de Curitiba/PR, face ao processo de descentralização na saúde. O referencial teórico compõe-se dos conceitos de gerência, gerência no setor público, gerência em serviço de saúde. A opção metodológica foi a investigação qualitativa de estudo de caso do tipo histórico organizacional. Foram realizadas coleta de documentos e entrevistas com roteiro semi-estruturado com atores sociais representantes dos grupos de condução, monitores e gerentes de UBSs, participantes do desenvolvimento do Projeto GERUS no município. Os dados das entrevistas foram preparados segundo o formato específico do software NVivo 1.2, para posterior análise através de recorte em torno de categorias analíticas que remeteu para os núcleos temáticos: desenvolvimento gerencial: limites, possibilidades e contradições e influência da proposta na realidade. Evidenciou-se que ocorreu desenvolvimento organizacional, através da incorporação de conceitos e instrumentos gerenciais na organização do processo de produção em saúde. A SMS passou a ter uma nova cultura organizacional, porque as condições favoráveis e desfavoráveis à mudança foram criadas e se tornaram propriedades do meio organizacional.
Os cursos de fisioterapia no Paraná frente aos conceitos contemporâneos de saúde
Luciana Alves Tapia Schmidt, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 14/06/2002
O século XXI teve início com um grande desafio para os profissionais de saúde: consolidar o Sistema Único de Saúde (SUS), baseando-se nos princípios de integralidade, eqüidade e universalidade, num sistema regionalizado e descentralizado. Além da preocupação quanto à reforma nos serviços, surge a necessidade de mudanças na formação dos profissionais de saúde para que se tornem efetivamente sujeitos desse processo, com as competências necessárias para atuar no setor saúde e comprometidos com a realidade social. Por essa razão, entram em cena atores sociais e institucionais na busca de estratégias que impulsionem as mudanças necessárias na formação dos profissionais de saúde. A Fisioterapia, enquanto profissão da área da saúde e que vem experimentando um crescimento vertiginoso na última década, também deve estar apta a contribuir para a construção e consolidação do SUS. Desde a sua origem, ela esteve fortemente vinculada às áreas de cura e reabilitação. Porém, diante do conceito ampliado de saúde e de todo o contexto de reformas ocorridas no setor, como está ocorrendo a formação do fisioterapeuta? A partir disso, surge o interesse em verificar a adequação da formação desse profissional nos cursos existentes no Estado do Paraná, no que tange aos conceitos contemporâneos de saúde, e a sua inserção no SUS, sob a ótica dos atores responsáveis por essa formação. Para isso, com um enfoque de pesquisa qualitativa, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os coordenadores dos cursos de fisioterapia que fizeram parte da população desta pesquisa, e foi procedida a análise documental dos projetos pedagógicos e dos planos de ensino das disciplinas de Saúde Pública e Fisioterapia Preventiva. O material coletado foi analisado a partir da construção das categorias de análise, possibilitando verificar que a verdadeira incorporação dos conceitos de saúde estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 e a reorientação do modelo de atenção parece não ocorrer de fato na formação acadêmica desses profissionais, apesar de existirem avanços e, em parte, a consciência de que mudanças são necessárias para garantir a formação de um profissional competente e que contribua para a construção do SUS e do setor saúde no Brasil, proporcionando melhores condições de vida e possibilitando o direito à saúde constitucionalmente garantido a todos os cidadãos.
Profissionais de saúde: o que a AIDS revela?
Vera Lucia Martins, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 14/06/2002
Esta investigação objetiva analisar, tendo a epidemia de aids como cenário, a atuação do profissional de saúde junto às pessoas que vivem com HIV/aids, nos serviços de saúde credenciados pelo MS/SUS, no município de Londrina, em 2001. O referencial teórico compõem-se de recursos humanos em saúde, a construção social da aids, o profissional de saúde no contexto da aids. A opção metodológica adotada neste estudo foi a análise temática. Foram realizadas onze entrevistas com roteiro semi-estruturado, com médicos e enfermeiros que atuam diretamente junto às pessoas com HIV/aids. A análise do material foi feita através dos recortes em torno de categorias de análise, que deram origem aos núcleos temáticos: a atuação do profissional de saúde, motivações para o trabalho, dificuldades e facilidades, sentimentos, formação acadêmica, capacitação em serviço, organização de serviços e atitudes. Evidenciou-se que a atuação profissional junto às pessoas que vivem com HIV/aids é vista como desgastante, traz desconfortos e conflitos frente aos temas inerentes a aids, como a sexualidade, a morte, o abuso de drogas, para os quais os profissionais não se sentem preparados. Esta situação gera sentimentos de angústia, impotência e frustração.
O trabalho da enfermeira no Serviço Municipal de Saúde de Londrina
Mara Lúcia Rocha Ramos, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 17/06/2002
A reorganização do Sistema de Saúde clama por uma reorientação de seus trabalhadores em direção à novas práticas de saúde. No âmbito da enfermagem, há que se pensar a prática desenvolvida por seus agentes como constitutiva da sociedade, apreendendo-a como trabalho, sendo seu desenvolvimento influenciado pelas transformações da sociedade ao longo do tempo. Essa investigação focalizou-se no trabalho da enfermeira do Serviço Municipal de Saúde de Londrina e teve, como interesse principal, conhecer a visão que essas profissionais têm sobre sua inserção e sua prática no processo de construção e expansão desse Serviço, no período de 1977 a 2000. Desta forma, optou-se por uma pesquisa de natureza qualitativa, com informações obtidas por meio de entrevistas abertas, organizadas sob a forma de história de vida tópica. Para a análise e discussão dos resultados foi utilizada a análise temática, com a construção das seguintes categorias: o fazer cotidiano, o trabalho em equipe, a participação no Sistema Único de Saúde (SUS) e os sentimentos em relação à profissão. Os resultados revelaram que as enfermeiras consideram seu trabalho como estratégico e fundamental para a construção do SUS. Indicaram, ainda, uma prática inicialmente norteada pela concepção de trabalho em equipe, e que tinha o coletivo como objeto de intervenção do processo de trabalho. O trabalho da enfermeira passa por transformações no decorrer da trajetória do Serviço, resultando em uma prática orientada pelo modelo clínico de saúde na década de 1990. Os depoimentos revelaram satisfação com a profissão, principalmente pela participação no processo de construção do Serviço, mas, também, descontentamento, relacionado principalmente à falta de valorização social da profissão. Algumas possibilidades se apresentaram na perspectiva de uma transformação qualitativa da situação.
Estudo do conhecimento sobre donças sexualmente transmissíveis e comportamento sexual dos adolescentes no ensino médio de escolas públicas de Londrina/PR
Regina Lúcia César de Oliveira, Zuleika Thomson
Data da defesa: 21/06/2002
Os adolescentes constituem população vulnerável às DST/Aids. O presente trabalho teve como principal objetivo investigar o conhecimento de adolescentes sobre DST/Aids e seu comportamento sexual, identificando possíveis diferenças entre gênero e turno cursado. Realizou-se um “survey”, no ano de 2001, a partir de uma amostra aleatória de 1642 alunos de 15 a 19 anos, em 13 escolas públicas do ensino médio, na cidade de Londrina. Para a obtenção dos dados, os adolescentes responderam um questionário autoaplicável, anônimo, elaborado a partir de estudo exploratório com grupos focais. A amostra constituiu-se de 51,2% de adolescentes do sexo feminino e 48,8% do sexo masculino, a maior parte solteira. Dessa população, 51% cursavam o período noturno e 49% o matutino. A média de idade foi de 16,2 anos. Entre os alunos, 50% identificaram pelo menos quatro DST (aids, herpes simples, gonorréia, e sífilis), sendo a aids a mais referida (97%). A infecção por clamídia foi a DST menos citada, 12,9% e 14,4% respectivamente para o sexo masculino e feminino. A maioria dos adolescentes identificou os principais sinais e sintomas das DST. A relação sexual com o uso de preservativo foi citada por 99% da amostra como forma de evitar as DST/Aids. A principal fonte de informação sobre DST/Aids referida pelos adolescentes foi revistas/jornais, seguidos de TV/rádio e escola. Em relação ao comportamento sexual houve diferenças significativas. Entre os adolescentes, 55,1% dos rapazes e 36% das moças relataram iniciação sexual. A média de idade dessa iniciação foi de 14,2 anos para os alunos e de 15,1 anos para as alunas. O sexo masculino apresentou maior número de parceiros sexuais e a primeira relação sexual foi com amiga ou conhecida em 61% dos casos. Para 85,3% das adolescentes, a iniciação sexual foi com o namorado. O uso do preservativo foi maior entre os rapazes (60,5%) quando comparados às moças (44,3%). Houve diferença significativa em relação ao uso do álcool antes das relações sexuais, mais referido pelos adolescentes masculinos e por alunos do período noturno. Em relação ao uso de drogas ilícitas, 94,6% dos adolescentes declararam nunca ter experimentado. A maioria dos que admitiram o uso constituiu-se de adolescentes masculinos e de alunos do período noturno. Entre os adolescentes, 1,7% referiram experiência anterior de DST, mais citada pelo sexo feminino e entre os estudantes do período noturno.
Acidentes de trabalho com material biológico na equipe de enfermagem de Hospital Escola Público
Iara Aparecida de Oliveira Sêcco, Paulo Roberto Gutierrez
Data da defesa: 05/07/2002
Notificações de acidentes de trabalho (AT) são instrumentos de vigilância epidemiológica e avaliação da situação de saúde do trabalhador, dos riscos ocupacionais e dos processos de trabalho em que esses estão inseridos, possibilitando implementação de estratégias de promoção à sua saúde. Este estudo descritivo, sob o referencial teórico da Epidemiologia, objetivou analisar os acidentes de trabalho com material biológico (ATMB) notificados entre trabalhadores de enfermagem do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná, no período de 1995 a 2000, segundo as variáveis ligadas à pessoa, tempo e espaço, caracterizar esses acidentes em relação aos AT de outra natureza ocorridos no mesmo período do estudo, estimar indicadores de risco (coeficiente de risco – CR e risco relativo - RR) para as variáveis estudadas, estudar relações entre as cargas de trabalho presentes nos processos de trabalho e a ocorrência dos acidentes; também, avaliar o impacto das estratégias educativas desenvolvidas na Instituição e a implantação do Programa de ATMB ocorridos no segundo triênio do estudo. A coleta de dados foi realizada através das Comunicações de Acidentes de Trabalho do ano de 1995 a 2000, Notificações de Acidentes de Trabalho com Material Biológico de 1998 a 2000, documentos estes obtidos no Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho, Unidade de Pronto Socorro e 17º. Regional de Saúde. Para a tabulação e análise estatística foi utilizado o Programa Epi-Info e a Planilha Eletrônica Excel. Constatou-se que, dos 421 acidentes notificados, 53,4% (225) referiram-se a ATMB; os acidentes envolvendo materiais biológicos apresentaram o maior risco para os profissionais de enfermagem em todos os anos do estudo, com CR médio anual de 5,9 acidentes para cada 100 trabalhadores, e RR médio anual de 1,2 em relação aos AT de outra natureza. Embora a freqüência de ATMB entre as mulheres tenha sido de 85,8% (193), superior às ocorrências entre os homens em todos os anos, o CR para o ano 2000 mostrou valores semelhantes para ambos os sexos, sendo de 8,1 para o feminino e 8,8 para o masculino. A faixa etária com maior número de ocorrências foi a de 30 a 40 anos incompletos, com 47,1% (106) dos casos; entretanto, para o ano 2000, o risco esteve inversamente proporcional à idade dos trabalhadores, com maior valor entre aqueles de 20 a menos de 30 anos, igual a 15,1. Os auxiliares de enfermagem foram acometidos por 90,2% (203) dos ATMB notificados e o maior CR médio anual, igual a 6,8. A parte do corpo mais atingida e com maior risco para os acidentes foram as mãos, apresentando freqüência de 82,8% dos casos e CR médio anual de 4,9. As perfurações representaram o total de 70,7% (159) dos ATMB e mostraram CR médio anual de 4,2. Os acidentes estiveram associadas, principalmente, às tarefas de punções venosas, manuseio de materiais contaminados e administração de medicamentos. Em 11,6% (26) dos ATMB houve exposição ocupacional a pacientes soropositivos para HIV. O setor com maior número de ocorrências foi o Pronto Socorro (23,1%), apresentando CR médio anual de 13,8. Ainda, 73,3% (165) dos ATMB deram-se no período diurno, especialmente nas segundas e quintas-feiras. Verificou-se aumento do número de notificações após a implantação do PATMB, que passou de 4,3 para 7 notificações ao mês, sinalizando o seu impacto positivo para a equipe, estando esse resultado, possivelmente, associado às demais estratégias educativas desenvolvidas. Constatou-se a necessidade de manutenção de ações de educação para os profissionais de enfermagem, bem como revisão dos processos de trabalho a que esses estão expostos, a partir dos riscos e cargas de trabalho identificadas, promovendo a prevenção de doenças ocupacionais graves como a AIDS e Hepatite B. Também, da necessidade de orientação à equipe quanto à legislação vigente, com vistas a melhorar o fluxo das notificações para a maior segurança do trabalhador, conferindo-lhe o amparo legal necessário.
Os consórcios intermunicipais de saúde do Paraná e a assistência médica especializada
Sônia Cristina Stefano Nicoletto, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 31/07/2002
Os Consórcios Intermunicipais de Saúde (CIS) surgiram no âmbito do Sistema Único de Saúde do Brasil no final da década de 80 e tomaram vulto na década de 90. Os gestores municipais aderiram a essa estratégia inovadora de gestão de serviços de saúde para unir esforços, visando potencializar e otimizar a oferta, principalmente, de assistência médica especializada. No entanto, os Consórcios Intermunicipais de Saúde, ao serem implantados, precisam estar dentro de um contexto planejado – adequada atenção à saúde básica e eficiente sistema de referência e contra-referência – para não permitir que a oferta de consultas médicas especializadas e de exames de apoio diagnóstico e terapêutico cresça desordenadamente e fora do perfil de necessidade da população. Partindo dessa concepção, esta pesquisa objetiva analisar os Consórcios Intermunicipais de Saúde do Paraná, focalizando a assistência médica especializada. Foram pesquisados os vinte Consórcios que estavam implantados no Paraná em 2000, dos quais um foi analisado de forma mais detalhada. Os dados foram coletados em três etapas: dos relatórios sobre os Consórcios do Paraná, realizados pelo Conselho Estadual de Saúde; através de questionários enviados para os vinte Consórcios; e, ainda, do Consórcio focalizado, diretamente dos documentos do próprio Consórcio. Os dados foram transcritos em bancos de dados do Epi Info 6.04b e em planilhas do Microsoft Excel. A análise foi realizada em duas etapas. Primeiramente, são apresentados e discutidos os dados referentes aos 20 CIS do Paraná. Depois, são apresentados e discutidos os dados referentes ao CIS focalizado especificamente. Dos 399 municípios paranaenses, 81,5% pertencem a CIS e totalizam uma população de 5.378.636 habitantes. Essa população corresponde a 56,3% da população do estado. Os especialistas são cedidos pelos municípios, estado e união e contratados pelos consórcios. Essa última categoria concentra 69,2% dos especialistas. Conseqüentemente, há ampliação da oferta de consultas especializadas, embora também se tenha criado uma polêmica sobre a relação público/privado. No consórcio focalizado, detectou-se falha no mecanismo de referência e contra-referência, além de se observar uma dificuldade de ajuste entre a programação da oferta de consultas e exames realizada pelo CIS, os municípios consorciados e a necessidade da população. Do total de pacientes em fila de espera, 35,7% aguardavam consulta de oftalmologia e 30,9% de neurologia. Há necessidade de se implantarem ações visando efetivar o mecanismo de referência e contra-referência. O Consórcio Intermunicipal de Saúde é uma estratégia em construção que, provavelmente, sofrerá mudanças com a implantação da Norma Operacional da Assistência à Saúde, mas que tende a se efetivar no SUS. A implantação de CIS é um dos caminhos viáveis para potencializar e organizar a assistência médica especializada, mas ele necessita ser utilizado com critérios e planejamento.
Política de medicamentos na atenção básica e a assistência farmacêutica no Paraná
Alide Marina Biehl Ferraes, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 14/08/2002
Este estudo partiu do questionamento: Como está organizada a assistência farmacêutica no Paraná, especificamente em relação ao ciclo logístico do medicamento na atenção básica? Nesta expectativa, objetivou-se: 1) descrever o processo de implantação e de implementação do Consórcio Intergestores Paraná Saúde (aquisição de medicamentos) identificando problemas relativos à cobertura e custos e 2) investigar as etapas da assistência farmacêutica relacionadas ao ciclo logístico do medicamento na atenção básica nos municípios do Paraná colocando em perspectiva crítica as emergentes problemáticas, desafios e possibilidades da assistência farmacêutica no Estado. Utilizou-se técnicas e instrumentos das pesquisas quali e quantitativas considerando-as complementares. Valeu-se de fontes de dados secundárias e primárias. Foram coletados dados sobre as diversas etapas da assistência farmacêutica na atenção básica (seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição e dispensação de medicamentos) e suas interfaces com os recursos humanos. Para análise utilizou-se estatística descritiva com auxílio do Epi Info 6.04b e Excel. O Consórcio Paraná Saúde atinge 88,2% dos municípios paranaenses com cobertura de 55,6% da população (5.209.467 habitantes). A aquisição de medicamentos básicos pelo consórcio custou 29,7% a menos do que custaria com preços referenciados pelo Banco de Preços do Ministério da Saúde. Gestores de municípios consorciados demonstraram tendência à satisfação total com a validade (50,0%), preços (45,6%) e qualidade dos medicamentos (42,6%) adquiridos pelo consórcio, enquanto que 17,6% demonstraram insatisfação com prazos de entrega. 47,4% dos gestores de municípios não consorciados estão totalmente insatisfeitos com o prazo de entrega dos medicamentos da contrapartida estadual. A comissão de farmácia e terapêutica praticamente inexiste na maioria dos municípios. A RENAME e as Boas Práticas de Estocagem são pouco mencionadas (respectivamente 22,5% e 10,4%). Distribuidoras (91,3%) e farmácias locais (63,0%) são citadas como principais fornecedores. A maioria dos municípios desconhece a terminologia correta das modalidades de aquisição e 63,0% confundem os termos distribuição e dispensação. A orientação ao paciente sobre uso do medicamento ocorre em 38,4% dos municípios. Embora 80,3% dos municípios possuam uma relação municipal de medicamentos sendo divulgada aos prescritores, a Denominação Comum Brasileira aparece em apenas 16,1% das prescrições na faixa de 76% a 100%. Em aproximadamente 50% dos municípios, o farmacêutico foi contratado como responsável técnico (45,1% foram contratados entre 2000 e 2001). Auxiliares de enfermagem (70,9%) foram os profissionais mais citados para dispensação. A análise aponta o Consórcio Paraná Saúde como estratégia de gerenciamento que propicia economia de escala com preços competitivos, revela dificuldades em todas as etapas da assistência farmacêutica municipal com repercussão direta na utilização de medicamentos e reforça a importância da atuação do farmacêutico como gerente neste processo. Esta pesquisa identificou diversos problemas no ciclo logístico do medicamento destinado à atenção básica que merecem análises mais detalhadas em alguns municípios.
As repercussões do envelhecimento populacional na morbimortalidade e no sistema de saúde de Londrina
Gilberto Berguio Martin, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 25/10/2002
A OMS considera uma dada população como velha quando a proporção de maiores de 60 anos ultrapassa 7% do total de habitantes.Hoje esta é uma realidade também de países em desenvolvimento como o Brasil e de cidades como Londrina. A população residente em Londrina é analisada quanto à evolução demográfica (1970 a 2000), dados de mortalidade (faixas etárias e causas, de 1980, 1990, 1995 e 2000) e de morbidade hospitalar (faixas etárias idosas, causas de internação por número, dias de permanência e valores pagos pelo SUS, no ano 2000), através de pesquisas em fontes secundárias via internet (SIM-SUS e SIH-SUS) e relatórios consolidados (NIM/AMS/PML). Constatou-se que de 1970 a 2000 a população de Londrina envelheceu (maiores de 60 anos evoluíram de 4,03% para 9,34% da população total), enquanto cresceu drasticamente a periferia urbana, diminuiu o tamanho das famílias, subiu o percentual de mulheres em sua chefia, caíram as mortalidades infantil e por doenças infecto-parasitárias e a taxa de natalidade, assim como o Índice de Dependência (pela queda do Índice de Dependência Jovem), triplicando Razão de Envelhecimento no período (de 0,10 a 0,35). Na população geral cresceu a proporção de óbitos acima dos 60 e mais anos (de 43,02% em 1980, para 61,52% em 2000), com a maior variação para 80 e mais anos (de 11,24% para 23,26%). Doenças do Aparelho Circulatório, Neoplasmas e Causas Externas mantiveram-se neste período como as três primeiras causas de óbitos dos londrinenses, com cerca de 60% do total. Na população de 60 e mais anos, cruzando-se os dados de mortalidade e de morbidade hospitalar, por enfermidade específica, constatou-se que a Doença Cérebrovascular é a primeira causa de óbito, com 13,24% (e a quinta com maior utilização de dias de permanência, 3,83%, e de valores pagos pelo SUS, 2,73%); a Pneumonia é a primeira em número de internações, 10,85%, e em dias de permanência em internação, 9,22%(e a quarta em valores pagos pelo SUS, 4,75%); o Infarto Agudo do Miocárdio e outras Doenças Isquêmicas do Coração como primeira em valores pagos pelo SUS,21,07%, (segunda causa de óbitos,9,58%, e terceira em número de internações,5,52%, e em dias de permanência,5,55%). Constataram-se ainda, com forte repercussão na mortalidade e morbidade hospitalar dos idosos, as enfermidades: Doenças de Vias Aéreas Inferiores, Diabetes Mellitus, Doenças Hipertensivas, Insuficiência Cardíaca, Arritmias Cardíacas e Esquizofrenia. Que acabam sendo os principais agravos à saúde do idoso. Isto demanda intervenções de proteção e promoção à saúde da população geral, no sentido do envelhecimento saudável e da implantação de programas específicos para a população idosa, também na rede básica de atenção primária à saúde.