Dor em professores da educação básica: associação com atividade física e tempo vendo televisão

Dissertação de mestrado

Visualizar PDF

Resumo

Introdução: Os sintomas dolorosos, quer sejam de caráter crônico ou agudo, têm consequências para a saúde individual e os serviços de saúde. Certos comportamentos, como a inatividade física e o tempo vendo televisão, estão potencialmente relacionados à etiologia e cronificação desses sintomas. No entanto, não está claro como as mudanças ou a manutenção desses comportamentos podem afetar a incidência, a persistência ou a frequência de dor geral ou da dor crônica musculoesquelética. Objetivo: Investigar a associação entre dor crônica musculoesquelética e percepção de dor, durante o dia ou antes de dormir, com a prática de atividade física e o tempo vendo televisão em professores da educação básica. Objetivos específicos: 1) Analisar a associação longitudinal da mudança na prática de atividade física no lazer e do tempo vendo televisão com a incidência e a persistência de dor crônica musculoesquelética; e 2) Analisar a relação entre a prática de atividade física no tempo livre, autorreferida em entrevista pessoal, e a sensação de dor durante o dia ou antes de dormir, registrada pelo próprio indivíduo ao longo de sete dias consecutivos. Métodos: Os objetivos específicos foram contemplados na forma de dois estudos, com resultados e discussões abordados separadamente. A população estudada fez parte do projeto PróMestre, que aborda questões de saúde, estilo de vida e trabalho de professores da rede pública. Professores das 20 escolas de maior porte do município de Londrina, PR, Brasil, que atuavam em sala de aula ao menos um período da semana e eram responsáveis por uma ou mais disciplinas foram incluídos no estudo e entrevistados em duas ocasiões: entre 2012 e 2013 (baseline) e após 24 meses (follow-up). No follow-up, uma subamostra de professores preencheu um diário de atividades durante sete dias consecutivos. Para o desfecho dor crônica musculoesquelética considerou-se a percepção de sintomas dolorosos há 6 meses ou mais nas seguintes regiões: ombros, braços, costas, joelhos, pernas e pés. Definiu-se como dor durante o dia e dor antes de dormir quando esse sintoma era reportado ao menos uma vez ao longo de sete dias. As variáveis independentes foram a atividade física no lazer (ou no tempo livre) e o tempo vendo televisão diariamente. Para as análises de associação, utilizouse a regressão logística. Resultados: Um total de 527 professores foram estudados para contemplar o primeiro objetivo. Aumentar o tempo de lazer dedicado à prática de atividade física (mudar ≤120 para >120 minutos de AFL semanalmente) associou-se com menor chance de dor crônica musculoesquelética persistente (odds ratio, OR=0,30; intervalo de confiança de 95%, IC95%=0,11-0,79) em comparação com manter-se fisicamente inativo. Um total de 141 professores foram estudados para contemplar o segundo objetivo. Entre esses, praticar mais de 240 minutos por semana de atividade física no tempo livre associou-se com uma chance menor de reportar dor durante o dia (OR=0,18; IC95%=0,06-0,54) e antes de dormir (OR=0,28; IC95%=0,10-0,79), entretanto, as associações perderam significância estatística após o ajuste pelo escore de sintomas depressivos. Conclusões: Em síntese, este estudo mostrou que, comparado com se manter inativo, passar a praticar mais de duas horas de atividade física no lazer semanalmente é um comportamento associado com menor chance de persistência de dor crônica musculoesquelética. Além disso, praticar mais de quatro horas semanais de atividade física no tempo livre está relacionado com menor frequência de dor durante o dia ou antes de dormir, independente dos principais confundidores, exceto sintomas depressivos.