Teses e Dissertações
O USO PROBLEMÁTICO DE INTERNET E A SUA RELAÇÃO COM TRANSTORNOS ALIMENTARES EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS
PATRÍCIA DE JESUS SOUZA , Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 13/08/2024
Introdução: A internet é necessária para vida cotidiana contemporânea. Porém a
literatura científica traz evidências de que o uso excessivo de internet pode trazer
prejuízos para a saúde. Entres os tipos de uso disfuncional de internet, o uso
problemático de internet é considerado um tipo de dependência digital que pode trazer
prejuízos para a saúde física e mental, e para o desempenho no trabalho e nos
estudos. O uso problemático de internet está associado ao desenvolvimento de
algumas enfermidades, como doenças psiquiátricas, tais como os transtornos
alimentares. Objetivo: Investigar a relação do uso problemático de internet e de
transtornos alimentares em estudantes universitários. Casuística e métodos: Foi
realizado um estudo transversal e descritivo a partir da aplicação de um questionário
online. A população de estudo foi composta pelos estudantes de graduação da
Universidade Estadual de Londrina que participaram da primeira fase do Projeto
GraduaUEL que foi um estudo transversal realizado no ano de 2019 com objetivo de
estudar as condições de vida e saúde desses estudantes. A coleta dos dados foi
realizada através de um questionário online enviado em 2023 para 2.565 alunos,
destes 214 responderam e após aplicação dos critérios de exclusão, 74 alunos
compuseram a amostra estudada. Para medir o uso problemático de internet foi
utilizado a versão brasileira do instrumento “Questionário de Uso Problemático de
Internet” ou “PIQUE-SF-9/UPI-9” e para a triagem da presença de transtornos
alimentares foi utilizada a versão brasileira para o questionário “SCOOF”. Foram
coletadas variáveis sociodemográficas e do estado de saúde dos estudantes além do
tempo de uso de rede social. Para classificação dos estudantes que apresentaram
uso problemático de internet foi realizado o cálculo de percentil. Os alunos que
obtiveram pontuação acima do percentil 75 (pontuações maiores que 24 pontos na
escala “PIQUE-SF-9/UPI-9”) foram considerados usuários problemáticos de internet.
Para verificar a associação entre o desfecho e as variáveis independentes foi feito o
cálculo da medida de razão de prevalência (RP), através da regressão de Poisson
com variância robusta. Resultados: O percentual de estudantes com o uso problemático de internet foi de 20,3%. Quanto a presença de transtorno alimentar,
33,8% alunos apresentaram triagem positiva. O uso problemático de internet
associou-se positivamente com a presença de transtornos alimentares na população
estudada (RP: 2,46; IC95%: 1,31 – 4,59; p = 0,005). Outra variável que apresentou
associação com transtornos alimentares foi ter sentido vergonha do corpo
frequentemente/muito frequentemente ou sempre (RP: 6,33; IC95%: 1,63 – 24,51; p
= 0,008). Conclusão: Os resultados encontrados apontam para o uso problemático
de internet como um fator importante que pode influenciar na construção de hábitos
alimentares, e consequentemente, prejudicar o desenvolvimento de uma relação mais
saudável com o corpo e com a comida na população jovem adulta.
QUESTÕES DE GÊNERO QUE ATRAVESSAM AS HISTÓRIAS DE MULHERES COM DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE MAMA
JULIANA CAMILLA DOS SANTOS TOMIOTTO GIULIANI, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 31/07/2024
O câncer de mama é indiscutivelmente um problema de saúde pública no Brasil,
pois possui alta taxa de incidência e é a segunda causa de morte entre as mulheres.
Trata-se de um agravo que traz um prejuízo por morte evitável e produz mutilações,
deturpação de identidade, acometimento biopsicossocial e impacto econômico.
Nesse sentido, a perspectiva hegemônica e patriarcal da mama como um símbolo
de constituição da feminilidade e de construção social da mulher (subordinada ao
homem) pode influenciar a maneira como as questões de gênero são consideradas
no rastreamento e no diagnóstico precoce de câncer de mama. Isso posto, valendo
se do método qualitativo do tipo história oral de vida, o objetivo geral desta
dissertação é investigar as questões de gênero que atravessam a trajetória, o
acesso e o cuidado das mulheres com câncer de mama. O estudo foi realizado a
partir dos diagnósticos de câncer de mama da Unidade da mama, ambulatório do
Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema (CISMEPAR) situado
em Londrina, que atende os municípios das 17ª e 18ª Regionais de Saúde do
Paraná. Desse modo, foram conduzidas sete entrevistas com apoio de um roteiro
semiestruturado entre os meses de agosto e novembro de 2023, organizado em
forma de contação de história a fim de trazer as narrativas das mulheres sobre as
suas vivências em relação ao diagnóstico de câncer de mama. Convém mencionar
que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição
na qual a pesquisadora está vinculada. Para as discussões, utilizaram-se três eixos
de análise: a) o acesso e a assistência à saúde, destacando o papel da Atenção
Primária à Saúde (APS) no auxílio das mulheres ao longo de seus percursos; b) a
divisão sexual do trabalho e o papel social de gênero, abordando o cuidado com a
casa e com os filhos somado aos trabalhos remunerados externos ao lar (por
exemplo, cozinha, serviço doméstico, educação infantil, artesanato e costura) e a
consequente sobrecarga feminina em atividades diárias e; c) os sentimentos frente
ao diagnóstico, verificando como os medos e as angústias associados ao câncer de
mama afetam a vida social das mulheres e sua busca pela identificação clínica da
doença. Tais pilares se revelam aspectos dificultadores no que se refere ao cuidado
da saúde da mulher e ao diagnóstico precoce de câncer de mama. Em vista disso, a
elaboração e a implementação de políticas públicas voltadas para essa população,
com metas e financiamentos, representam uma das propostas para melhoria desse
cenário. Entre as medidas necessárias estão as garantias de: acesso à creche e à
escola em horários alternativos; direitos para mães trabalhadoras; igualdade salarial
entre gênero e raça; e direitos sexuais e reprodutivos. E também investimentos no
setor saúde como financiamentos, qualificação da APS e educação permanente em
saúde para detecção e rastreamento das condições de saúde, com foco no câncer
de mama a fim de proporcionar identificação e agilidade no diagnóstico e tratamento.
RELAÇÃO ENTRE BURNOUT E IDEAÇÃO SUICIDA EM ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO
CAMILA CRISTINA LUNARDELLI ZANFRILLI, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 25/07/2024
Introdução: Os estudantes universitários vivem situações estressantes com
especificidades desta população, que muitas vezes inclui mudanças abruptas em sua
rotina, de locall de moradia, frustraçao ou desempenho insuficiente com o curso
escolhido, o que pode contribuir para o desenvolvimento de inúmeros problemas de
saúde, como o burnout. Este, por sua vez, tem se mostrado um importante fator ao
desenvolvimento de pensamentos e ideações suicidas (IS), além de constituir um
fator de risco para o suicídio propriamente dito. O aumento da prevalência de
burnout e IS na população universitária reforça a importância de entender a possível
relação entre estas duas variávies. Objetivo: analisar a associação entre burnout e
IS em estudantes de graduação de uma universidade pública. Métodos: Trata-se de
um estudo transversal com estudantes de todos os cursos de graduação de uma
universidade pública paranaense. A variável independente, burnout, foi aferida por
meio da escala Copenhagen burnout Inventory adaptada para estudantes brasileiros.
A variável dependente foi a IS, obtida da última questão do Patient Health
Questionnaire-9 (PHQ-9). As variáveis de caracterização e de ajuste foram: sexo,
idade, orientação sexual, raça/cor, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas,
prática de atividade física, uso de substâncias ilícitas, diagnóstico médico de
depressão e de ansiedade, índice de massa corporal, violência ou assédio sexual no
ambiente acadêmico, violência verbal no ambiente acadêmico e violência sexual na
infância ou adolescência. A associação entre IS e o burnout - total e seus domínios
(contínua) – foi medida pela regressão logística multinomial. Para delinear os fatores
fortemente associados com a IS, foi realizada regressão logística binária. Para
avaliar a contribuição das variáveis sociodemográficas na escala de burnout
(pontuação total), a análise de regressão linear utilizou o método de ajuste pelo
AICC. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados:
Dos 3.058 estudantes avaliados, 32,4% (n=992) apresentaram IS, sendo que destes,
7,9% (n=242) relataram IS quase todos os dias. A média da escala de burnout nos
estudantes que relataram ausência de IS foi de 75,55 (EP = 0,73), estatisticamente
superior ao dos estudantes que relataram IS, média de 85,79 (EP = 0,70).
Observou-se que o burnout total e suas dimensões (pessoal, acadêmico,
relacionados a colegas e aos professores) apresentaram associação
estatisticamente significativa com IS em todos os modelos de análise. As variáveis
associadas à IS foram ser não heterossexual, autorrelato de diagnóstico médico de
depressão, tabagismo, ausência de atividade física, cor da pele não-branca e
maiores pontuações na escala de burnout. Foram associadas ao burnout a violência
verbal, ser do sexo feminino, autorrelato de diagnóstico médico de ansiedade,
ausência de atividade física, violência sexual na universidade, ser não-heterossexual
e autorrelato de diagnóstico médico de depressão. Conclusão: Ainda há
necessidade de aprofundamento no estudo da associação entre burnout e IS em
estudantes de graduação, porém, ainda é necessário compreender mais
profundamente os efeitos que as variáveis exercem umas sobre as outras através de
estudos com diferentes delineamentos e populações.
QUASE MORTE MATERNA: Significados e caminhos em Londrina – PR.
PRISCILA ALEXANDRA COLMIRAN, Marselle Nobre de Carvalho, Mariana Haddad Rodrigues
Data da defesa: 29/05/2024
O presente estudo traz a abordagem de um tema de grande relevância social, a
mortalidade materna e como a avaliação dos casos de quase morte materna/near
miss materno, podem subsidiar as políticas de saúde materno infantis para evitar
esse desfecho. Este trabalho foi desenvolvido por meio de estudo qualitativo, na
perspectiva das narrativas e escuta de quatro mulheres que vivenciaram a quase
morte materna através de entrevistas de profundidade e análise de conteúdo. Dentre
os objetivos do trabalho estão a caracterização das mulheres que sofreram este
agravo, a abordagem das demoras assistenciais em saúde, a compreensão destas
mulheres sobre o evento de quase morte ocorrido com elas e a reconstrução por
meio de figuras dos caminhos percorridos em busca de assistência. Os resultados
obtidos evidenciaram pontos frágeis em comum tanto na saúde pública, quanto nos
serviços de saúde suplementar, envolvendo questões relacionadas a informações
insuficientes ou falta delas, qualificação profissional, acolhimento, questões de
gênero e violação de direitos. Para as usuárias do serviço público o diferencial
acrescentado foi a dificuldade de acesso aos serviços especializados para
realização do pré-natal de alto risco. Este trabalho revelou como fundamental o
papel da atenção primária à saúde, principalmente pela possibilidade de
interferência direta nas demoras assistenciais I e II. As ações de avaliação e
monitoramento sistemáticos dos indicadores de morbimortalidade materna e infantil,
bem como o reconhecimento dos territórios e de outros determinantes sociais
envolvidos no processo saúde-doença são imprescindíveis para direcionamento das
políticas públicas de saúde, bem como para e reorganização dos processos de
trabalho nos serviços públicos e privados. Utilizar os casos de quase morte materna
como evento sentinela, demonstra-se uma ferramenta importante para elaborar
propostas de vigilância, a fim de evitar a morte materna como desfecho final.
O TRABALHO MULTIPROFISSIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E A GESTÃO MUNICIPAL
Larissa Cristina Caruzo, Brigida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 03/07/2024
A produção sobre o trabalho multiprofissional na saúde teve início nas décadas de 1950 e 1960, e apontou a necessidade de uma remodelação dos processos de trabalho, a redefinição da finalidade e a busca por novas tecnologias de atuação. No Brasil, é possível reconhecer essa proposta nos ideais da Reforma Sanitária, na década de 1970, com vistas a um sistema de saúde universal e igualitário, que foi conquistado em 1988, com promulgação da Constituição Federal (CF) e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). A CF orientou também os moldes do atual federalismo brasileiro, com autonomia, principalmente política e administrativa, e em certa medida, financeira dos três entes: União, Estados e Municípios. A descentralização da gestão, também chamada de municipalização, incumbiu os municípios da organização e prestação de serviços de saúde local, mas manteve o poder indutor das políticas do ente federal. As gestões municipais ordenam o cuidado da Atenção Primária à Saúde (APS) por meio das equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), e em 2008 ganharam reforço das equipes dos Núcleos de Apoio a Saúde da Família (NASF), para aumento das estratégias de cuidado e trabalho colaborativo multiprofissional. O trabalho colaborativo pode ser executado dentro de um espectro contingencial com variações das atividades multiprofissionais. Este estudo buscou analisar os aspectos da gestão municipal que influenciam a atuação e limitações do trabalho multiprofissional na APS. Realizou-se um estudo qualitativo em nove municípios da macrorregião norte do Paraná. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas, a partir de um roteiro semiestruturado, aos gestores municipais de saúde e coordenadores de APS, no período de julho a agosto de 2022, associado ao levantamento de dados secundários extraídos por meio do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS), sobre: equipes multiprofissionais, cadastro de profissionais na APS, tipo de vínculo, categorias profissionais e financiamento da APS. Os resultados caracterizaram administrativamente os municípios e os gestores, a atuação das equipes multiprofissionais e as limitações do trabalho multiprofissional. Predomínio de municípios de pequeno porte, e de municípios com equipes multiprofissionais cadastradas, modalidades de contratação mais robustas em municípios de grande porte, bem como maior quantitativo de profissionais associada a presença de profissionais da residência multiprofissional. Elevados gastos em APS nos municípios de pequeno porte, com ausência de equipes multiprofissionais. Evidenciou-se que os municípios de maior porte são os que apresentam maiores características do trabalho multiprofissional. Os altos gastos em APS, não se mostrou fator determinante para a multiprofissionalidade. A formação acadêmica dos atores, na área da saúde e com cursos de pós-graduação também contribui para a presença de organizações do trabalho na lógica multiprofissional. Os entrevistados apontam como fatores limitantes: a formação acadêmica, o baixo comprometimento dos profissionais com o trabalho, a dificuldade de compreensão do modelo matricial, por parte de todos os envolvidos (gestores, coordenadores profissionais da APS e população) e a visão hegemônica do cuidado. Observou-se que, esses atores podem não se reconhecer como parte essencial para concretização do trabalho multiprofissional, considerando que suas percepções sobre os impasses da multiprofissionalidade são direcionadas de forma mais frequente para outros indivíduos e aspectos, sem qualquer menção a possíveis fragilidades de gerência e pouco citaram estratégias de melhoria para efetivação do trabalho multiprofissional.
ASSOCIAÇÃO ENTRE PARÂMETROS DO SONO E ATIVIDADE FÍSICA, DOR CRÔNICA MUSCULOESQUELÉTICA E TRATAMENTOS NÃO FARMACOLÓGICOS DA FIBROMIALGIA
Mayara Cristina da Silva Santos, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 29/04/2024
Introdução: Os problemas relacionados ao sono têm consequências para a
saúde individual e para os serviços de saúde. Estão potencialmente
relacionados com a etiologia e a cronificação da dor musculoesquelética e da
fibromialgia. A manutenção ou mudanças de certos comportamentos e
tratamentos não farmacológicos podem auxiliar na prevenção e controle
desses desfechos. No entanto, não está clara a direção da associação entre os
problemas relacionados com o sono e a dor crônica, assim como a influência
de tratamentos não farmacológicos da dor e as consequências na qualidade do
sono. Objetivo: Investigar a associação entre os parâmetros do sono e a
atividade física, a dor crônica musculoesquelética e os tratamentos não
farmacológicos para fibromialgia em adultos. Objetivos específicos: 1) Analisar
a associação entre a prática de atividade física no tempo livre (AFTL) e a
qualidade do sono em estudantes universitários; 2) Sintetizar a evidência
científica sobre as associações bidirecionais prospectivas entre problemas
relacionados com o sono e dor crônica musculoesquelética; e 3) Sistematizar a
evidência científica acerca dos efeitos de tratamentos não farmacológicos da
fibromialgia sobre parâmetros do sono. Métodos: Os objetivos específicos
foram contemplados na forma de três estudos, com resultados e discussões
abordados separadamente. O objetivo 1 foi contemplado na forma de um
estudo transversal da relação entre atividade física no tempo livre e qualidade
do sono. Um questionário online foi aplicado em estudantes de uma
universidade pública do sul do Brasil em 2019. Modelos estatísticos de
regressão logística e análise de covariância foram desenvolvidos e ajustados
por fatores de confusão. Para contemplar o objetivo 2, foi realizada uma
revisão sistemática com meta-análise de estudos de coorte disponíveis nas
bases PubMed, Scopus, Web of Science, PsycINFO e Cochrane Library desde
seu início até 19 de julho de 2022. As diretrizes da guia Meta-analysis Of
Observational Studies in Epidemiology foram rigorosamente seguidas. Por fim,
o objetivo 3 foi contemplado na forma de uma revisão sistemática de estudos
experimentais e quase-experimentais disponíveis nas bases PubMed, Scopus,
Web of Science, PsycINFO e Cochrane Library, desde seu início até 05 de
novembro de 2023. As recomendações do Preferred Reporting Items for
Systematic reviews and Meta-Analyses for Protocols foram fielmente
observadas. Resultados: Objetivo 1) Foram analisados 2.626 estudantes
universitários. Nas análises ajustadas, praticar AFTL de 4 a 7 vezes/semana
associou-se com menor probabilidade de má qualidade do sono (odds ratio, OR=0,71; intervalo de confiança, IC 95%=0,52–0,97) em comparação com não
praticar AFTL. Ademais, aqueles que praticavam AFTL tiveram médias
significativamente menores nas pontuações do Pittsburgh Sleep Quality Index
global, duração e qualidade subjetiva do sono, e pontuações de disfunção
diurna comparado com os que não praticavam AFTL. Objetivo 2) Dezesseis estudos, com um total de 153.187 indivíduos, foram incluídos na meta-análise.
Indivíduos com problemas relacionados ao sono (PRS) no baseline
apresentaram incidência 1,79 vezes maior (OR=1,79; IC 95%=1,55–2,08;
I
2=84,7%; p<0,001) e persistência 2,04 vezes maior (OR=2,04; IC 95%=1,42–
2,94; I2=88,5%; p<0,005) de dor crônica musculoesquelética (DCME) do que
aqueles sem PRS. Por outro lado, indivíduos com DCME no baseline
apresentaram incidência 1,83 vezes maior de PRS (OR=1,83; IC 95%=1,49–
2,26; I2=89,4%; p<0,001) do que aqueles sem DCME. Objetivo 3) Noventa e
cinco estudos experimentais e quase-experimentais com um total de 6.137
adultos com idade média de 48,7 anos foram incluídos. Os parâmetros do sono
foram avaliados em 45,3% dos estudos com o Pittsburgh Sleep Quality Index.
O tempo médio de acompanhamento da intervenção foi de 8,7 semanas. Entre
os 91 artigos com indivíduos subdivididos por grupos, 11,1% foram alocados na
intervenção ou terapia cognitiva comportamental, 10,9% eletroestimulação
craniana ou transcraniana ou transcutânea, 5,4% exercícios aeróbicos, 4,3%
Tai Chi e 4,3% mindfulness. Entre os 35 artigos que contemplam as
intervenções predominantes, 65,7% apresentaram melhora significativa nos
parâmetros do sono comparado com os alocados nos grupos controle (p<0,05).
Conclusões: Em síntese, em grupos populacionais específicos, como o de
estudantes universitários, a prática de AFTL pode contribuir para a melhor
qualidade do sono. Evidências robustas reforçam a associação longitudinal
entre PRS e incidência e persistência de DCME em adultos, assim como
estudos prospectivos suportam a existência de uma relação bidirecional entre
DCME e PRS. Por fim, a evidência disponível sugere que tratamentos não
farmacológicos para a fibromialgia podem resultar em uma melhora do sono
em adultos.
CONSTRUINDO INTERDISCIPLINARIDADE OU A DIFÍCIL ARTE DE DERRUBAR MUROS E CONSTRUIR PONTES: UMA EXPERIÊNCIA PSICODRAMÁTICA COM RESIDENTES DO NÚCLEO AMPLIADO DA SAÚDE DA FAMÍLIA.
PAULO CESAR DE OLIVEIRA, Alberto Durán González
Data da defesa: 25/03/2024
Este trabalho estuda a possibilidade de, através do método
psicodramático,desenvolver práticas interdisciplinares e interprofissionais com dois
grupos de residentes que atuam em Unidades Básicas de Saúde da cidade de
Londrina e que fazem parte da Residência Multiprofissional de Saúde da Família
ofertada pelo Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Estadual de
Londrina. Apresenta a evolução brasileira do sistema do cuidado em saúde desde o
início do século XX até chegar ao surgimento das equipes do Núcleo Ampliado da
Saúde da Família (NASF). Justifica-se esse trabalho pelo entendimento das
diretrizes que criam o NASF de que suas equipes devem ter na interdisciplinaridade
a principal força transformadora. Descrevem como se dá a formação de grupos, as
principais forças que agem facilitando essa formação. Retrata o Psicodrama e seus
ramos como a ciência que estuda e trata esses fenômenos relacionais. Aponta
caminhos que ajudam a encontrar formas de se estabelecer grupos com mais
disponibilidade para percepção de alteridades, inclusive nos papéis profissionais. O
grande desafio do trabalho é dar resposta à necessidade de amparar-se os grupos
mesmo depois de construídos como tal.
POLÍTICA DE FINANCIAMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUAS IMPLICAÇÕES NOS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Ana Paula Bazzo Romagnolli, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 17/05/2024
O Sistema Único de Saúde (SUS) representa o sistema público de saúde brasileiro com a missão de proporcionar acesso universal, integral e com equidade à saúde para todos os cidadãos, estabelecida através de seus princípios doutrinários. No entanto, o financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS) tem enfrentado obstáculos. A introdução do Programa Previne Brasil (PPB) em 2019, juntamente a alterações políticas como a Emenda Constitucional 95 e a revisão do Programa Nacional da Atenção Básica (PNAB) em 2017, levanta questões sobre o impacto dessas medidas nos princípios do SUS. Diante disso, questiona-se o quanto a nova política de financiamento da APS tenciona para fortalecer ou não os princípios do SUS. A pesquisa teve como objetivo analisar a evolução normativa do PPB na gestão da Atenção Primária e suas implicações nos princípios doutrinários do SUS. Trata-se de um estudo qualitativo que utilizou a análise das portarias publicadas entre 2019 e 2022 como fonte de dados. Os documentos foram obtidos por meio do Sistema Saúde Legis com o assunto Previne Brasil. Outra estratégia de busca foi conduzida através da análise das próprias portarias, identificando aquelas que faziam referência ao PPB em seu conteúdo, mesmo que não tivessem sido inicialmente capturadas pelo Saúde Legis. Os resultados apontaram que o PPB passou por ajustes desde sua implementação, evidenciados por 30 portarias entre 2019 e 2022. O eixo da capitação ponderada concentrou o maior número de portarias, assim como o ano de 2020. No que se refere ao conteúdo das portarias, estas abordam desde a definição de alguns regramentos, instituição de incentivos e definições de metas, porém ganham destaque o volume de atos que estabelecem a prorrogação das normas sobre o cadastramento e o atingimento dos indicadores de desempenho. Posto isso, verificou-se que as alterações produzidas por essa nova política de financiamento apresentam aspectos que podem tanto fortalecer quanto fragilizar os princípios do SUS. Por mais que algumas das medidas do PPB tenham coerência com os princípios do SUS, não se pode negar que a densidade dos elementos que prejudicam a implementação dos princípios do SUS são muito maiores e, portanto, no conjunto da obra seria arriscado afirmar que esse programa iria ofertar benefícios para APS.
CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS: UMA CARTOGRAFIA
LAUANE RAFAELA DE BRITO CAMPOS, Regina Melchior
Data da defesa: 05/04/2024
O panorama que temos hoje no que se refere à política pública e ao entendimento -
mais ou menos coletivo - do campo da Saúde Mental é fruto de um processo cujas
raízes históricas e políticas podem ser encontradas em uma série de
acontecimentos que, articulados e entrelaçados com a efervescência do período de
redemocratização e principalmente com a Reforma Sanitária, fundaram a Reforma
Psiquiátrica no Brasil. De toda uma série de acontecimentos históricos para o
cenário da Luta Antimanicomial, a criação do primeiro CAPS do país, chamado de
Professor Luís da Rocha Cerqueira, inaugurado em 1987 na cidade de São Paulo,
foi o grande marco da concretização da nova proposta de atendimento à saúde
mental. A partir de então, o CAPS passou a figurar como elemento central na
organização do novo modelo de atenção à saúde mental, até os dias atuais. Esta
pesquisa qualitativa, de abordagem cartográfica, teve por objetivo mapear a relação
entre a oferta de serviços do CAPS e a necessidade dos usuários, trazendo para a
análise a afetação do sujeito-pesquisador quando do encontro com seu objeto-
pesquisado. Os resultados, a começar pela análise da dificuldade de acesso ao
campo para realizar da pesquisa, passando pela observação das relações entre os
atores desta cena e chegando, finalmente, à observação e escuta dos usuários,
apontaram uma multiplicidade de fatores que, na constituição do serviço, podem
constituir barreiras em vez de instituir cuidado em saúde: a insuficiência numérica do
serviço diante da demanda; o arranjo escolhido pela gestão para a organização do
serviço; o esvaziamento da proposta terapêutica do CAPS. Apesar, destas
barreiras, no entanto, foi possível perceber que o encontro é o verdadeiro locus de
produção de cuidado, pois neste espaço, a despeito dos entraves da macropolítica,
é possível estabelecer vínculo, reconhecer e recolher os afetos que se organizam
sob a forma de discurso e de demanda e organizar uma oferta, qualquer que seja
ela, pensada e dirigida para aquela necessidade de saúde que se apresenta.
REPERCUSSÕES DAS POLÍTICAS FEDERAIS NO TRABALHO DA GESTÃO DA APS EM MUNICÍPIOS DA MACRORREGIÃO NORTE DO PARANÁ
VIVIANE GRANADO BARREIRA DA SILVA, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 19/04/2024
A Constituição Federal e as normativas do Ministério da Saúde instituíram mecanismos para
descentralizar as políticas públicas de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), atribuindo
responsabilidades para cada esfera de governo. Nos últimos anos ocorreram mudanças
importantes Atenção Primária à Saúde (APS), porta de entrada preferencial para a atenção à
saúde do SUS, com a publicação da Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) 2017 e do
Programa Previne Brasil (PPB). Este estudo teve como objetivo analisar as alterações no
trabalho das equipes gestoras da saúde decorrentes da implantação das políticas públicas para
a APS, a partir de 2017, em nove municípios da macrorregião norte do Paraná. Trata-se de um
estudo de natureza qualitativa, e integra uma pesquisa maior denominada “Mudanças nas regras
de transferência de recursos federais do Sistema Único de Saúde: implicações e desafios para o
financiamento e a organização da Atenção Primária à Saúde no Brasil”. A seleção de nove
municípios se deu pela análise de indicadores de financiamento da saúde, visando contemplar
na seleção a diversidade de municípios da macrorregião norte do Paraná. As entrevistas,
ocorridas entre junho a setembro de 2022, foram realizadas presencialmente, nas secretarias de
saúde dos municípios, a partir de um roteiro semiestruturado, tendo como participantes os nove
gestores municipais de saúde e nove coordenadores da APS. A análise das entrevistas seguiu a
metodologia de análise de discurso. Os resultados foram organizados nas seguintes categorias:
características das equipes gestoras; apropriação e posicionamento dos gestores sobre as
políticas da APS; mudanças ocorridas no processo de trabalho e desafios encontrados frente à
essas mudanças. A maior parte dos municípios da pesquisa são de pequeno porte e as equipes
gestoras compostas pelos secretários de saúde e coordenadores da atenção básica, tendo o
predomínio de mulheres, na faixa etária de 36 a 51 anos. Verificou-se que sete gestores tinham
ensino superior completo, cinco deles com formação na área da saúde e seis possuíam até três
anos de atuação na área de gestão como secretário de saúde, apenas um gestor referiu não ter
experiência anterior na saúde. A coordenação da APS é composta por profissionais com ensino
superior em saúde, a maioria enfermeiras, sendo oito pós-graduadas, a maioria em saúde
coletiva, sete possuíam mais de quatro anos de atuação na coordenação da APS. Foram
identificados diferentes níveis de apropriação dos entrevistados a respeito das políticas da APS
a partir de 2017, evidenciando distintos entendimentos e a maioria demonstrou posicionamento
favorável às novas políticas. Foram relatadas mudanças nos processos de trabalho em saúde,
para o cadastramento da população no sistema e-SUS e para o monitoramento dos indicadores
do Previne Brasil. A implantação do prontuário eletrônico foi à mudança mais impactante, e
menos da metade dos municípios pesquisados optaram por adotar o sistema público (e-SUS),
principalmente devido à falta de suporte técnico do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual
de Saúde. Também se constituem em desafios: funcionários mais antigos com dificuldades em
lidar com sistemas eletrônicos e municípios com áreas rurais muito extensas e sem acesso à
internet. O referencial teórico utilizado possibilitou a análise das repercussões da implantação
de políticas públicas, como a PNAB e o PPB, no trabalho das equipes gestoras, considerando
como as responsabilidades estão sendo compartilhadas, como a cooperação entre os entes está
sendo promovida ou desafiada, bem como a falta de suporte técnico pode criar obstáculos
institucionais.