Teses e Dissertações
CONSÓRCIOS PÚBLICOS INTERMUNICIPAIS DE SAÚDE E CONTROLE EXTERNO: ANÁLISE DA ATUAÇÃO NO PARANÁ
ALESSANDRA DE OLIVEIRA LIPPERT, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 25/09/2025
A gestão do sistema de saúde descentralizado implica na transferência do poder decisório
das esferas federal e estadual para os municípios. As Leis Orgânicas da Saúde apontam
os Consórcios Públicos Intermunicipais de Saúde (CPIS) como estratégia frente aos
limites da municipalização. A Lei Federal nº 11.107/2005 instituiu um novo regime
jurídico aos consórcios públicos, configurando-os como instrumentos de cooperação
federativa dotados de personalidade jurídica, capazes de contrair obrigações e exercer a
gestão de serviços públicos de forma compartilhada. Esse novo paradigma institucional
no espaço interfederativo impõe desafios significativos aos órgãos de controle externo,
como o Ministério Público e os Tribunais de Contas, os quais precisam ajustar suas
práticas fiscalizatórias à complexidade da ação consorciada. Esta pesquisa inova ao
analisar as ações dos órgãos de fiscalização e controle externo e suas implicações na
gestão dos arranjos consorciados. O estudo adotou uma abordagem qualitativa, de
natureza exploratória, realizado entre 2022 e 2023. Foram utilizadas técnicas de análise
documental e entrevistas com sete atores estratégicos: dois dirigentes e dois controladores
internos de CPIS, dois promotores de justiça do Ministério Público do Paraná (MP-PR) e
um técnico do Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR). O estudo ocorreu no estado do
Paraná, que conta com 22 regiões de saúde nas quais atuam um ou mais CPIS. A análise
documental foi realizada sobre 52 documentos (40 do MP-PR e 12 do TCE-PR), que
incluiu a metodologia de análise preliminar conforme Cellard (2008), considerando
autoria, autenticidade, natureza, conceitos-chave, contexto e lógica interna, em seguida,
aplicou-se a análise de conteúdo segundo Bardin (2009). O conteúdo das entrevistas foi
analisado seguindo a abordagem de análise de discurso proposta por Martins e Bicudo
(2005), com identificação de unidades de significado e posterior articulação em categorias
analíticas. A combinação das categorias documentais e discursivas permitiu construir um
quadro comparativo, viabilizando o mapeamento da atuação dos órgãos de fiscalização e
controle externo sobre os CPIS. A análise documental evidenciou que o TCE-PR
concentrou sua atuação em temas relacionados à fiscalização e transparência, enquanto o
MP-PR demonstrou ênfase na tutela de direitos individuais. Os resultados da análise
combinada apontam que as ações dessas instituições vêm contribuindo para a
padronização de procedimentos e o aprimoramento da gestão consorciada, porém, em
alguns momentos essas ações ocorrem em um contexto de tensão entre autonomia local
e exigência de accountability, em que a governança dos CPIS é atravessada por interações
complexas entre gestores e os órgãos de controle. Verificou-se que essa atuação assume
caráter bidimensional, ora marcado por um eixo punitivo, centrado na responsabilização
e correção de irregularidades, ora por um eixo orientativo, voltado à indução de melhorias
na gestão e à consolidação de práticas mais transparentes. Identificou-se também um certo
confundimento institucional quanto ao papel e ao regime jurídico dos CPIS, o que
contribui para explicar a origem e a persistência das tensões nas relações entre consórcios
e órgãos de controle. Com base nessa análise, observa-se que a governança consorciada
demanda articulação institucional, clareza normativa e práticas de gestão compartilhada,
nas quais o diálogo, a corresponsabilidade e a transparência se tornam essenciais. Os
referenciais do federalismo cooperativo e do neo-institucionalismo histórico permitiram
compreender os condicionantes institucionais que moldam a ação dos CPIS e dos órgãos
de controle, evidenciando padrões de continuidade e mudança, bem como os efeitos da atuação fiscalizatória na configuração das regras e na condução da política pública em
saúde. Conclui-se que a tese alcançou seu objetivo ao demonstrar como a atuação dos
órgãos de controle externo tem implicado diretamente na reorganização da gestão
consorciada, influenciando seus aspectos operacionais, jurídicos e institucionais. A
pesquisa reforça o papel estratégico dos CPIS como instrumentos de cooperação
federativa e de fortalecimento da gestão regionalizada em saúde, ao mesmo tempo que
aponta a necessidade de aprimoramento das práticas institucionais dos órgãos de controle
e de sua maior aproximação com os consórcios, promovendo uma governança pública
mais integrada, responsável e eficiente.
DA ATENÇÃO BÁSICA A UMA REDE DE CUIDADOS PALIATIVOS
BEATRIZ ZAMPAR, Regina Melchior, Josiane Vivian Camargo de Lima
Data da defesa: 24/06/2025
Cuidados paliativos são compreendidos como uma modalidade de cuidado voltada
ao alívio do sofrimento e à promoção de conforto e qualidade de vida a pessoas que
convivem com doenças que ameaçam a continuidade da vida, bem como às suas
famílias, considerando todas as dimensões do sofrimento humano: física, emocional,
social-familiar e espiritual. Esta tese tem como objetivo mapear a construção de uma
rede de cuidados paliativos a partir da Atenção Básica (AB), no contexto do Sistema
Único de Saúde (SUS), situando-se em uma experiência no município de
Londrina/PR. A pesquisa está fundamentada nos referenciais da micropolítica do
cuidado e do trabalho em saúde, especialmente nas contribuições de Emerson
Merhy, Laura Feuerwerker, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari e Baruch
Espinosa. Esse percurso se fez por meio da cartografia, acompanhando processos
vivos de produção do cuidado, captando o vivido, o sensível e o singular que
atravessa os sujeitos implicados na construção de uma rede viva. O cuidado
paliativo é analisado como uma prática ética, coletiva e situada, que tensiona
regimes de verdade instituídos pela racionalidade biomédica e abre espaço para
novas formas de viver, cuidar e resistir. Nesse contexto, propõe-se o conceito de
cuidado total como prática que ultrapassa o atendimento das dimensões da dor total,
ao integrar uma postura radical de reconhecimento da vida em sua integralidade —
articulando escuta, vínculo, desejo, espiritualidade, política, território e redes vivas,
especialmente diante da finitude. A análise inclui registros de encontros com
usuários, trabalhadores, gestores e estudantes; os movimentos de construção de
coletivos; a articulação da rede por meio de um grupo de trabalho intersetorial; a
implementação de um programa municipal e as estratégias de educação
permanente. Evidenciam-se os desafios políticos, institucionais e subjetivos que
atravessam a consolidação de uma política pública de cuidados paliativos a partir da
Atenção Básica, bem como a potência dos encontros e das tecnologias leves como
disparadoras de novos modos de produzir cuidado. O foco está na cartografia dos
territórios produzidos, desfeitos e refeitos nos processos de adoecer e de morrer —
e na possibilidade de continuar existindo, resistindo e cuidando enquanto há vida, e
de ressignificar o que existe depois dela para quem fica.
A GESTÃO ORÇAMENTÁRIA DA SAÚDE E O PAPEL DOS MUNICÍPIOS: UMA PESQUISA-AÇÃO, A PARTIR DA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE, EM UMA MACRORREGIÃO DO ESTADO DO PARANÁ.
TALITA MARIA BENGOZI GOZI, Brigida Gimenez Carvalho, João Felipe Marques da Silva
Data da defesa: 03/07/2025
O financiamento do SUS sempre foi um desafio e gerir este complexo sistema requer conhecimento técnico e ousadia por parte dos gestores. Operacionalizar um dos maiores orçamentos públicos de um governo traz grandes preocupações e reponsabilidades. Isso demonstra a necessidade de processos educativos sobre gestão orçamentária para gestores e equipes gestoras municipais da saúde. O objetivo da pesquisa foi analisar o processo de planejamento orçamentário da saúde de municípios da macrorregião norte do Paraná e contribuir para sua qualificação. Trata-se de uma pesquisa-ação, envolvendo dois momentos. O momento 1 compreendeu a fase exploratória e fase da pesquisa aprofundada da pesquisa-ação. A fase Exploratória foi realizada por meio de entrevistas com roteiro semiestruturado, com gestores e contadores de nove municípios da macrorregião norte do Paraná com questões relacionadas ao processo de planejamento e orçamento da saúde. As entrevistas foram gravadas e transcritas e aconteceram de forma presencial nos municípios, no período de junho a setembro de 2022. A fase de pesquisa Aprofundada foi desenvolvida a partir da análise dos resultados da fase exploratória e a partir da análise foram identificadas as necessidades de aprofundamento dos temas emergidos nas entrevistas e definidos os conteúdos/temáticas das oficinas. O momento 2 contemplou as etapas das fases de Ação e de Avaliação da pesquisa-ação. Na fase de Ação foram realizadas oficinas de Educação Permanente em Saúde (EPS). Quatro oficinas foram realizadas com a participação de equipes gestoras de cinco municípios da macrorregião norte. Os sujeitos das oficinas foram 13 participantes, destes, três ocupavam cargo de gestores e quatro deles cargo de diretores, dois administrativos, um enfermeiro, um coordenador, um contador e um tecnólogo. As oficinas aconteceram de forma presencial, com duração de seis horas cada, no período de novembro de 2023 a abril de 2024. A fase de Avaliação aconteceu de três formas. A primeira, por meio da atividade de dispersão, na qual ao final de cada oficina os participantes recebiam uma atividade para realizarem em seus municípios e trazerem no próximo encontro. A segunda, consistia em uma ficha de avaliação aplicada ao final de cada oficina. E a terceira aconteceu por meio de visita aos municípios, onde foram realizadas entrevistas com roteiro temático. O referencial teórico utilizado para análise dos dados foi a hermenêutica crítica, proposta por Paul Ricouer e interpretados com apoio do referencial do federalismo e da Educação Permanente em Saúde. Os resultados da fase Exploratória demonstraram a necessidade de melhor qualificação das equipes técnicas da saúde para execução orçamentária nos municípios. Esse cenário justificou a intervenção junto aos municípios por meio das oficinas de EPS com foco em temas relacionados ao financiamento da saúde, nas regras dos repasses e execução dos recursos federais; planejamento e instrumentos de gestão; na nova lei de licitações, que impacta diretamente no planejamento das compras e contratações dos municípios e nos fundamentos essenciais para construção e execução do orçamento. Os resultados revelaram que participantes de modo geral avaliaram de forma positiva as oficinas, alguns enfatizaram a necessidade desses processos serem permanentes, e por serem municípios pequenos, com equipes enxutas, muitas vezes não conseguem acompanhar as atualizações que a gestão pública exige. Durante o processo de formação foi possível verificar que as oficinas provocaram mudanças nos processos de trabalho. Na percepção dos participantes, as oficinas que tiveram conteúdos mais práticos foram as melhores avaliadas, pois trouxeram concretude e aplicação imediata junto às suas equipes. Reconheceram que precisam se apropriar mais de assuntos relacionados ao financiamento e gestão do orçamento. As complexas relações com os demais departamentos da prefeitura e a prática da alternância de cargos que acontece a cada novo governo que instala, interferem diretamente para que os conhecimentos adquiridos em processos de formação em EPS sejam aplicados no serviço. A gestão orçamentária, por mais complexa que seja, se mostrou como uma atividade possível de as equipes gestoras se apropriarem. Faz-se necessário que mais intervenções pela metodologia de EPS sejam ofertadas para gestores de saúde e também para as equipes de contabilidade e financeira das prefeituras.
A RELAÇÃO ENTRE BURNOUT, APOIO SOCIAL, RESILIÊNCIA E O CONSUMO DE PSICOFÁRMACOS ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS
TELMA REGINA FARES GIANJACOMO A, Edmarlon Girotto, Renne Rodrigues
Data da defesa: 26/06/2025
Introdução: A saúde mental entre estudantes universitários é uma preocupação crescente, especialmente com o aumento das pressões acadêmicas que favorece a problemas como burnout, e pode afetar negativamente seu bem-estar e rendimento. Na tentativa de atenuar o sentimento de esgotamento emocional, estudantes podem fazer uso de psicofármacos como uma forma de lidar com o estresse da jornada acadêmica. Fatores como o apoio social e a resiliência são fundamentais para ajudar os estudantes a lidarem com esses desafios. Objetivo: O presente estudo objetivou analisar a relação do consumo de psicofármacos com o burnout acadêmico, resiliência e apoio social e verificar o papel mediador da resiliência no efeito do suporte social e a relação com o burnout acadêmico entre estudantes da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Método: Trata-se de um estudo epidemiológico de abordagem quantitativa. A população foi composta por 2.817 estudantes de graduação regularmente matriculados no primeiro semestre de 2019 da Universidade Estadual de Londrina. A coleta de dados ocorreu no período de abril a junho de 2019, por meio de um questionário online, que resultou em uma tese em modelo escandinavo contendo dois artigos. O primeiro artigo foi desenvolvido por meio de uma análise de mediação entre a apoio social, resiliência e o burnout. A variável dependente deste estudo foi a exaustão acadêmica, a independente foi o apoio social, e a mediadora foi a resiliência. Foram realizadas análise fatorial exploratória (AFE) e confirmatória (AFC) para obter o modelo com melhores resultados através do software Mplus®, com intervalo de confiança de 95% (IC95%). O segundo artigo foi desenvolvido por meio de uma análise da associação entre a consumo de psicofármacos, burnout, apoio social e resiliência, no qual a variável desfecho foi o uso de psicofármacos, baseado na classificação Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) e as independentes foram o burnout, o apoio social, resiliência. A análise dos dados foi realizada utilizando o programa SPSS® versão 25.0, com a aplicação de testes estatísticos, incluindo o teste de Qui-quadrado de Pearson, o teste de Mann-Whitney e a regressão logística de Poisson com variância robusta para a obtenção do beta como medida de associação e intervalo de confiança de 95% (IC95%) e o nível de significância adotado foi de 5% (p-valor <0,05). Análises brutas e ajustadas foram realizadas, os modelos ajustes foram definidos a partir de um Diagrama Acíclico Dirigido (DAG), elaborado no DAGitty com base em pressupostos teóricos. A inclusão de variáveis nos modelos foi avaliada por meio do teste de razão de verossimilhança (LRT), e testou-se também a presença de interações multiplicativas. A multicolinearidade foi verificada pelo índice de variância inflacionada (VIF). Modelos específicos foram construídos para burnout, apoio social (dimensões) e resiliência, ajustando-se por covariáveis sociodemográficas, acadêmicas, comportamentais e de saúde, conforme evidências da literatura Resultados: Artigo 1 - O apoio social total afetou significativamente e positivamente a resiliência, enquanto a resiliência teve um efeito negativo significativo no burnout. Observou-se que tanto o efeito direto do suporte social no burnout quanto o efeito indireto do suporte social no burnout por meio da resiliência foram significativos, a resiliência medeia essa relação em aproximadamente 54,9%. Artigo 2- Observou-se que maiores níveis de burnout pessoal, burnout relacionado aos estudos e burnout relacionado aos professores estiveram significativamente associados ao maior uso de psicofármacos. Por outro lado, o burnout relacionado aos colegas não manteve associação significativa após o ajuste. Nenhuma das dimensões do apoio social apresentou associação estatisticamente significativa com o uso de psicofármacos. Da mesma forma, a resiliência, não mostrou associação significativa com o desfecho. Ainda que esses fatores não tenham se associado estatisticamente ao uso de psicofármacos neste estudo, a literatura destaca que tanto o apoio social quanto a resiliência são elementos fundamentais de proteção frente ao burnout acadêmico. Conclusão: O estudo revelou que o apoio social e a resiliência influenciam o burnout acadêmico, com a resiliência mediando essa relação. A pesquisa também mostrou que estudantes com maiores níveis mais elevados de burnout pessoal, burnout relacionado aos estudos e burnout relacionado aos professores apresentaram maior uso de psicofármacos. As dimensões do apoio social e a resiliência, apesar de reconhecidas na literatura como fatores protetores, não apresentaram associação estatisticamente significativa com o uso de psicofármacos. Os achados sugerem que o sofrimento psicológico relacionado ao esgotamento acadêmico pode estar diretamente associado ao uso de medicamentos psicotrópicos como forma de enfrentamento. Nesse contexto, estratégias institucionais que promovam a saúde mental, com foco no fortalecimento da resiliência e na ampliação das redes de apoio social, podem representar alternativas eficazes à medicalização do sofrimento psíquico entre estudantes universitários.
AS EMENDAS PARLAMENTARES FEDERAIS NO FINANCIAMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: REPERCUSSÕES PARA A GESTÃO MUNICIPAL DO SUS
KARLA GIOVANA BAVARESCO ULINSKI, Brigida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 31/03/2025
Desde a impositividade do orçamento federal, iniciada em 2014, tornou-se obrigatória
a execução de parte das emendas parlamentares (EPs), e definiram-se percentuais
mínimos a serem gastos em ações e serviços públicos de saúde com esses recursos.
Com isso, essa fonte de financiamento passou a ocupar lugar de destaque nas
despesas do Ministério da Saúde (MS), especialmente na modalidade de
transferências aos municípios. Tais fatos, aliados a um contexto de austeridade fiscal,
condicionaram as EPs como uma importante estratégia para o custeio do Sistema
Único de Saúde (SUS) e da Atenção Primária à Saúde (APS) no âmbito local. Frente
a esse cenário, o objetivo principal desta tese foi analisar os efeitos da alocação de
recursos federais por EPs para o financiamento da atenção primária e para a gestão
financeira do SUS no âmbito municipal. O método envolveu duas etapas: uma, de
abrangência nacional e caráter quantitativo, consistiu na análise de dados secundários
sobre a execução das despesas em saúde do MS com foco nas transferências
federais por EPs aos municípios. Nessa etapa, o efeito do repasse das EPs sobre o
financiamento municipal foi verificado de forma estratificada por porte populacional
dos municípios, por meio de modelos de equações de estimativas generalizadas. A
outra etapa, de caráter qualitativo, compreendeu um estudo de caso, de cunho
exploratório, desenvolvido em nove municípios da Macrorregião Norte do Paraná, por
meio de entrevistas com equipes gestoras, realizadas entre julho e setembro de 2022,
cujos resultados foram submetidos à análise hermenêutica crítica. A análise dos
resultados apontou que o repasse de EPs para a APS apresentou: grande
discrepância nos valores per capita entre os municípios de diferentes portes
populacionais; inexistência de correlação com a despesa municipal em ASPS
naqueles com mais de 10.000 habitantes; e associação inversa com a despesa em
atenção primária à saúde (p < 0,050) em todos os grupos avaliados. O estudo de caso
demonstrou que as EPs restringem a autonomia da gestão local do SUS,
comprometem o processo de planejamento e a execução orçamentária-financeira.
Conclui-se que as EPs não garantem maiores investimentos na APS no âmbito
municipal; mas sim, substituem fontes de investimento, permitindo que recursos próprios, anteriormente planejados para essa área, sejam destinados a outros fins. A
coexistência de fragilidades estruturais de gestão - predominantes em grande parte
dos municípios –, somada à escassez de recursos financeiros e à elevada demanda
assistencial, favorece a configuração de uma lógica impulsiva na execução das EPs,
em detrimento de ações planejadas e sustentáveis em áreas estruturantes da saúde,
como é o caso da APS.
CONSTRUÇÃO COLETIVA DO COAPES EM UM MUNICÍPIO DE GRANDE PORTE: PERCEPÇÃO DOS SERVIDORES DE SAÚDE
JULY ANNE ROSSI MICHELIN, Alberto Durán González
Data da defesa: 14/03/2025
Introdução: Um cenário de práticas é onde se coloca a prática sob reflexão nos
diversos espaços do Sistema Único de Saúde (SUS). A integração entre ensino e
serviço possibilita grandes oportunidades de articulações que proporcionam o
fortalecimento do SUS e a melhoria da formação em saúde. Em 2015, instituíram-se
diretrizes para celebrar Contratos Organizativos de Ação Pública Ensino-Saúde
(COAPES) objetivando fortalecer a integração entre ensino, serviços e comunidade
no âmbito do SUS. Esse instrumento foi proposto para facilitar os processos de
negociação e tomadas de decisão que envolvam essas ações de integração.
Justifica-se a realização deste estudo como forma de explorar as ações de
articulações realizadas pela Secretaria Municipal de Saúde de um município de
grande porte para celebração do COAPES. Objetivo: Analisar o processo de
implantação e desenvolvimento do COAPES em um município de grande porte,
visando à organização e disponibilização de Unidades Básicas de Saúde como
cenários de práticas de ensino e aprendizagem, sob a percepção de profissionais
envolvidos. Método: Pesquisa descritiva com abordagem qualitativa utilizando como
referencial teórico alguns princípios do Pensamento Complexo propostos por Edgar
Morin. Realizaram-se 21 entrevistas semiestruturadas, no período de 19 de julho e
12 de setembro de 2023, com duas categorias de profissionais: aqueles que
participaram da implantação do COAPES e que, no momento da entrevista, não
mais atuavam no Serviço Municipal de Saúde, e aqueles que atuavam com o
COAPES no momento da entrevista. Utilizou-se como referencial metodológico para
organização dos resultados a análise de conteúdo proposta por Bardin. Resultados:
Antes da portaria que estabeleceu o COAPES, a organização dos cenários de
prática de ensino e aprendizagem seguia questões pessoais. Com a implantação do
COAPES foi possível realizar diagnóstico dos serviços de saúde, o
geoprocessamento e estratégias para sistematização dos cenários de prática.
Quanto a contextualização da realidade após sete anos da implantação do
COAPES, há um destaque para a pandemia de Covid-19 e suas principais
consequências. Referente as percepções dos servidores de saúde da secretaria
sobre a presença de discentes nos cenários de ensino e aprendizagem, há
abordagem sobre aspectos ligados às relações, ao significado do estudante nesse
espaço e as implicações na interção ensino-serviço. Considerações Finais: O
COAPES resulta de um processo constituído historicamente; sete anos após a
implantação é executado como um processo. Muitos avanços foram identificados
com essa organização de forma contratual, atendendo aos princípios do SUS na
distribuição em cenários de práticas. O processo de distribuição de discentes em
cenários de práticas não deve ser apenas uma etapa, mas um tema a ser
implantado, avaliado e construído de forma coletiva com todos os atores desse
contexto.
EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE COLETIVA: APROXIMAÇÕES ACADÊMICAS E PROFISSIONAIS
JOAMARA GOMES DOMINGUES DE OLIVEIRA , Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 26/02/2025
Introdução: A institucionalização da Saúde Coletiva no Brasil foi e é mediada por muitos
acontecimentos desde a década de 1970 advindos da Saúde Pública, quando se inicia
formalmente sua estruturação por meio de avanços das ciências sociais na saúde e na
formação de recursos humanos, sendo nesta década criados os primeiros programas de
mestrado e doutorado em Saúde Pública e Medicina Social do país, que mais tarde foram
integrados ao campo hoje formado pela Saúde Coletiva. Na primeira década dos anos 2000,
em decorrência da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e seus princípios,
especialmente o da integralidade, inicia-se uma ampliação do campo de atuação da Educação
Física por meio de resoluções e políticas públicas decorrentes da visão ampliada de saúde,
conectando a Educação Física à Saúde Pública. Objetivo: analisar aproximações acadêmicas
e profissionais da Educação Física com a Saúde Coletiva. Objetivos específicos: 1) verificar a
intenção de atuar no SUS de estudantes de bacharelado em Educação Física de três
instituições públicas do Paraná; 2) verificar a inserção de profissionais de Educação Física nos
mestrados acadêmicos em Saúde Coletiva e Saúde Pública no Brasil de 2010 a 2019.
Métodos: esta tese foi estruturada no modelo de compilação de artigos, e cada objetivo
específico foi trabalhado em um artigo científico, cada um com métodos, resultados,
discussão e considerações finais próprios. O primeiro objetivo foi desenvolvido a partir de um
estudo transversal e descritivo em que 349 estudantes responderam questionário sobre
informações sociodemográficas, percepções sobre o SUS, conhecimento sobre Programas
Públicos para Práticas Corporais e Atividades Físicas (PCAF) e intenção de atuação
profissional no SUS, especificamente em Unidades Básicas de Saúde (UBS), hospitais que
atendem SUS e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Para contemplar o objetivo dois, foi
realizado um estudo descritivo em que se buscou identificar os programas com nome Saúde
Coletiva e Saúde Pública com dissertações defendidas no período de interesse (2010-2019),
sendo elegíveis 35 programas de mestrado acadêmico para esta investigação. Nos sites desses
programas realizou-se busca das dissertações e posteriormente, identificou-se a formação
inicial de cada egresso (a) no currículo Lattes, sendo identificados 149 egressos com
formação inicial em Educação Física. Resultados: artigo 1) Cerca de quatro em cada 10
estudantes referiram ter intenção de atuar em ao menos uma das possibilidades analisadas:
30,4% em UBS, 27,5% em hospitais e 24,6% nos CAPS. As prevalências foram maiores entre
as mulheres, entre os que referiram avaliação mais positiva sobre o SUS, entre os que
conheciam programas públicos que ofereciam PCAF e entre aqueles que já tinham ouvido
falar do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF-AB) e do Programa Academia da Saúde
antes de entrar na universidade. Artigo 2) Foram analisadas informações de 5.629 egressos e
destes, 149 (2,6%) tinham formação inicial em Educação Física. Dos 35 programas
investigados, 27 (77,1%) tinham ao menos um egresso com formação inicial em Educação
Física. Os programas com maior percentual de egressos com formação inicial em Educação
Física foram UFRGS (11,3%), FURG (10%), UNIFESP (6,4%), UFSC (6,1%), UECE
(5,8%), UNISINOS (5,1%) e UEFS (4,8%). Considerando a análise ano a ano (2010 a 2019),
observou-se que a porcentagem de egressos com formação inicial em Educação Física variou
de 1,9% a 4,3% e quando realizada a análise por quinquênio (2010-2014 e 2015-2019), apesar
de não ter sido observada diferença significativa, verificou-se crescimento de 36,4%, sendo
maior na região Sul (76,1%), mas sendo observada diminuição de 20% na região Sudeste.
Conclusão: no primeiro artigo, considerando que a Educação Física é uma profissão que possibilita ampla atuação, pode-se considerar relativamente alta a proporção de estudantes
que referiu interesse em atuar no SUS, especialmente na APS. No segundo artigo, no geral,
houve crescimento da participação de egressos da Educação Física em mestrados acadêmicos
em Saúde Coletiva e Saúde Pública no Brasil no período de 2010 a 2019. Entretanto essa
participação ainda é incipiente e mostra grande variação entre as regiões e entre as instituições
do país. Como conclusão geral da tese reforça-se a importância de potencializar experiências
sobre a Saúde Coletiva e a Saúde Pública em cursos de graduação em Educação Física, tanto
na licenciatura como no bacharelado, por docentes com expertise no assunto para
instrumentalizar adequadamente os futuros PPEF (Professores e Profissionais de Educação
Física) sobre as especificidades e possibilidades desse campo de atuação profissional, bem
como sobre as possibilidades de inserção em cursos de pós-graduação Stricto Sensu na área de
Saúde Coletiva e Saúde Pública.
O CUIDADO ÀS CRIANÇAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL EM REGIÃO DE SAÚDE DO ESTADO DO PARANÁ
EDYANE SILVA DE LIMA, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 18/11/2024
A violência sexual contra crianças é um fenômeno histórico, cultural e de causas
multifatoriais enraizado nas sociedades, que se expressa através do abuso e
exploração sexual, demandando cuidados integrais e sistematizados. Este trabalho
tem como objetivo geral analisar o cuidado às crianças vítimas de violência sexual em
região de saúde do estado do Paraná. O referencial teórico utilizado acerca do
fenômeno está amparado em uma perspectiva histórico-crítica, com aspectos de
gênero, sustentado por Minayo, Saffioti e Bourdieu. Quanto à dimensão do cuidado,
as discussões se pautam em Merhy, Onocko Campos e Pinheiro. O estudo é de
caráter analítico, utilizando uma abordagem multimétodos, com a triangulação de
resultados de dados quantitativos e qualitativos em duas etapas. A primeira etapa
envolveu a coleta de dados quantitativos, que foram desdobrados em: a) Dados sobre
violência sexual contra crianças no Brasil; e b) Dados sobre violência sexual contra
crianças em região de saúde do estado do Paraná. A segunda etapa, correspondeu
aos dados qualitativos, organizados da seguinte maneira: a) Revisão de escopo sobre
a violência sexual contra criança no campo da saúde coletiva; b) Análise de manuais
orientativos sobre violência sexual contra crianças em âmbito nacional, estadual e
municipal; c) Clipagem de notícias sobre violência sexual contra crianças; e d)
Pesquisa de campo com profissionais que atuam no cuidado às crianças vítimas de
violência sexual. O cenário da pesquisa incluiu os municípios de Toledo, Palotina e
Mercedes, no estado do Paraná. Foram entrevistados/as 36 profissionais que atuam
na linha de cuidado às crianças vítimas de violência sexual, incluindo assistentes
sociais, agentes comunitários de saúde, psicólogos/as, conselheiros/as tutelares,
enfermeiros/as e técnicos/as em enfermagem, lotados na atenção primária, média e
alta complexidade, além da rede intersetorial. A coleta de dados ocorreu entre julho e
dezembro de 2023, por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas de forma
presencial e virtual. As entrevistas foram gravadas, transcritas integralmente e
organizadas conforme a metodologia de análise categorial de conteúdo. Para a
análise das narrativas, foi utilizado o método hermenêutico dialético, com auxílio do
software Nvivo. Os resultados revelaram que o Brasil registrou um aumento nas
notificações de violência sexual contra crianças entre zero e nove anos, com taxas
variando entre 33,6% e 49,6%, majoritariamente contra meninas pretas e pardas,
tanto na ocorrência quanto na reincidência do fenômeno. Nos municípios
investigados, a violência sexual se apresentou principalmente contra meninas
brancas, com a maioria dos casos ocorrendo nas residências. Identificou-se que os
principais conceitos elucidados pela literatura acerca da violência sexual infantil e
saúde incluem: Violência de Gênero e Violência Sexual (maus-tratos, abuso sexual,
incesto, crime sexual, estupro, tráfico e exploração sexual). Quanto à cobertura
midiática, a temática é pouco abordada, limitando-se ao mês de maio, alusivo à
campanha de combate à violência sexual (maio Laranja). Os manuais orientativos de
enfrentamento e cuidados das situações de violência sexual apresentam dinâmicas
variadas. No contexto brasileiro, os documentos norteadores datam de 2002, 2010 e
2022, enquanto no estado do Paraná, as diretrizes e protocolos remontam a 2014,
2018 e 2021. Nos municípios pesquisados, os decretos e fluxos de atendimento foram publicados entre 2018 e 2020, com reflexos das mobilizações a partir da Lei da Escuta
Especializada de 2017. A partir das entrevistas, foi possível compreender a concepção
dos/as profissionais sobre violência sexual, com uma perspectiva ampliada, mas com
raras menções aos aspectos de gênero e às relações de desigualdade de poder. As
percepções sobre o cuidado envolveram o acolhimento, o atendimento, o
acompanhamento e os encaminhamentos, com relatos de experiências e casos
emblemáticos. No entanto, a notificação, que também é mecanismo de cuidado e dá
visibilidade à violência, constitui um desafio para sua materialização. Além disso,
os/as trabalhadores/as sinalizaram a necessidade de materiais informativos e
campanhas sobre o tema. Com base nos achados da pesquisa, considera-se que o
processo de cuidado às crianças vítimas de violência sexual nesta região ainda
enfrenta limitações na operacionalização da linha de cuidado nacional como diretriz
para a atenção integral. Observa-se que, nestes municípios, o processo de
organização do cuidado ocorre de forma autônoma, levando em consideração as
particularidades locais. Há uma necessidade urgente de ações de enfrentamento e
qualificação profissional, especialmente porque a violência é um fenômeno histórico,
que ganha novas formas para as quais as políticas públicas ainda não estão
preparadas, principalmente com a utilização das tecnologias. Diante disso, a pesquisa
sugere que abordagens como educação para sexualidade, educação para paz e
formação continuada, articuladas com as instâncias de saúde e a rede intersetorial
para a atenção, a prevenção e o enfrentamento do fenômeno são fundamentais.
Também se destaca a importância da sensibilização de gestores/as e órgãos de
participação nos níveis locais, para que possam efetivar os instrumentos protocolares
em práxis cotidianas e transformadoras, capazes de viabilizar políticas efetivas para
que as crianças possam exercer seu direito de viver de forma saudável e protegida.
SARCOPENIA EM IDOSOS EM TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DE DOENÇA DE ALZHEIMER
LINDSEY MITIE NAKAKOGUE , Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 25/10/2024
A associação dos diagnósticos de Doença de Alzheimer (DA) e sarcopenia é bastante
comum, afinal são duas doenças que afetam a população idosa e há evidências de
que compartilham alguns aspectos da fisiopatologia. Ao mesmo tempo, a sarcopenia
é subdiagnosticada nessa população porque pode ser interpretada como um
fenômeno natural na evolução da demência, mas na realidade pode estar contribuindo
para o agravamento da funcionalidade na pessoa com DA. Analisar os fatores
associados ao diagnóstico de sarcopenia provável em pacientes que iniciaram o
tratamento recentemente para a DA foi o objetivo principal deste estudo longitudinal.
Foram entrevistados 55 idosos com o diagnóstico de DA que estavam em
acompanhamento médico na Policlínica do Município de Londrina/Brasil durante os
anos de 2022 e 2023. Foram excluídos idosos com diagnóstico de Doença de
Alzheimer em estágio avançado pelo Clinical Dementia Rating ou que tivessem
diagnóstico concomitante de outras doenças que pudessem causar sarcopenia. Os
idosos foram submetidos a um questionário sociodemográfico, avaliação do Índice de
Massa Corporal (IMC), avaliação cognitiva por meio do MEEM, avaliação de
funcionalidade através do Índice de Katz e ao questionário de triagem de sarcopenia
SARC-F+CP em três momentos: no início, com 4 e 8 meses. Além disso foram
coletados exames laboratoriais referentes ao estado nutricional. Dos 55 idosos
analisados,15 (27,3%) estavam com sarcopenia provável ao final de 8 meses de
acompanhamento. O diagnóstico de sarcopenia provável não teve associação com o
tipo de anticolinesterásico em uso, com o relato de efeitos colaterais relacionados ao
tratamento da DA, com comorbidades, com polifarmácia, com o uso de medicações
com potencial anorexígeno, com alterações laboratoriais, com a prática de exercício
físico, nem com redução no escore do MEEM ou valor do IMC. Não houve associação
do diagnóstico de sarcopenia com o sexo, no entanto, quanto maior a idade, maior o
risco de sarcopenia, RR= 1,091 (IC95% 1,018- 1,170, p=0,013), ou seja, aumento de
9% no risco a cada ano de vida. Houve associação da redução da circunferência de
panturrilha com a sarcopenia, sendo CP < 33- 34 cm RR= 9,391 (IC95% 2,973-29,664,
p<0.001). Os idosos com sarcopenia provável tiveram mais quedas, RR= 2,459
(IC95% 1,190-5,081, p=0,015) e pioraram funcionalidade, RR= 5,136 (IC95% 2,593
10,175, p=0,015) em comparação aos idosos sem sarcopenia. A prevalência de
sarcopenia em idosos com doença de Alzheimer é alta e deve ser investigada durante
o acompanhamento de cada paciente idoso, para prevenir desfechos negativos como
quedas e perda de funcionalidade.
O USO PROBLEMÁTICO DE INTERNET E A SUA RELAÇÃO COM TRANSTORNOS ALIMENTARES EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS
PATRÍCIA DE JESUS SOUZA , Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 13/08/2024
Introdução: A internet é necessária para vida cotidiana contemporânea. Porém a
literatura científica traz evidências de que o uso excessivo de internet pode trazer
prejuízos para a saúde. Entres os tipos de uso disfuncional de internet, o uso
problemático de internet é considerado um tipo de dependência digital que pode trazer
prejuízos para a saúde física e mental, e para o desempenho no trabalho e nos
estudos. O uso problemático de internet está associado ao desenvolvimento de
algumas enfermidades, como doenças psiquiátricas, tais como os transtornos
alimentares. Objetivo: Investigar a relação do uso problemático de internet e de
transtornos alimentares em estudantes universitários. Casuística e métodos: Foi
realizado um estudo transversal e descritivo a partir da aplicação de um questionário
online. A população de estudo foi composta pelos estudantes de graduação da
Universidade Estadual de Londrina que participaram da primeira fase do Projeto
GraduaUEL que foi um estudo transversal realizado no ano de 2019 com objetivo de
estudar as condições de vida e saúde desses estudantes. A coleta dos dados foi
realizada através de um questionário online enviado em 2023 para 2.565 alunos,
destes 214 responderam e após aplicação dos critérios de exclusão, 74 alunos
compuseram a amostra estudada. Para medir o uso problemático de internet foi
utilizado a versão brasileira do instrumento “Questionário de Uso Problemático de
Internet” ou “PIQUE-SF-9/UPI-9” e para a triagem da presença de transtornos
alimentares foi utilizada a versão brasileira para o questionário “SCOOF”. Foram
coletadas variáveis sociodemográficas e do estado de saúde dos estudantes além do
tempo de uso de rede social. Para classificação dos estudantes que apresentaram
uso problemático de internet foi realizado o cálculo de percentil. Os alunos que
obtiveram pontuação acima do percentil 75 (pontuações maiores que 24 pontos na
escala “PIQUE-SF-9/UPI-9”) foram considerados usuários problemáticos de internet.
Para verificar a associação entre o desfecho e as variáveis independentes foi feito o
cálculo da medida de razão de prevalência (RP), através da regressão de Poisson
com variância robusta. Resultados: O percentual de estudantes com o uso problemático de internet foi de 20,3%. Quanto a presença de transtorno alimentar,
33,8% alunos apresentaram triagem positiva. O uso problemático de internet
associou-se positivamente com a presença de transtornos alimentares na população
estudada (RP: 2,46; IC95%: 1,31 – 4,59; p = 0,005). Outra variável que apresentou
associação com transtornos alimentares foi ter sentido vergonha do corpo
frequentemente/muito frequentemente ou sempre (RP: 6,33; IC95%: 1,63 – 24,51; p
= 0,008). Conclusão: Os resultados encontrados apontam para o uso problemático
de internet como um fator importante que pode influenciar na construção de hábitos
alimentares, e consequentemente, prejudicar o desenvolvimento de uma relação mais
saudável com o corpo e com a comida na população jovem adulta.