Teses e Dissertações
Palavra-chave: Sistema Único de Saúde
Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica e as Práticas Colaborativas para o cuidado integral
Daiene Aparecida Alves Mazza, Brígida Gimenez Carvalho, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 20/05/2020
Introdução: Os profissionais do NASF-AB se encontram diante de uma aposta que pressupõe
uma relação de trabalho colaborativa, sendo que o grau de articulação esperado entre esses
trabalhadores, e destes com a equipe de referência e com outros componentes da rede são
essenciais para a produção da qualidade do cuidado. Buscando-se compreender as práticas
colaborativas desenvolvidas pelos NASF-AB de forma mais ampliada, utilizou-se o
referencial teórico das dimensões de colaboração, e as premissas da ergologia. Esta
possibilitou uma análise para além do trabalho prescrito, considerando a perspectiva dos
profissionais, a relação que eles estabelecem com o meio em que estão implicados, bem como
as singularidades existentes na realização das atividades. Objetivo: O estudo teve como
objetivo compreender os elementos estruturantes das práticas colaborativas desenvolvidas no
processo de trabalho de equipes NASF-AB para o cuidado integral em municípios que
integram a 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Método: Trata-se de um estudo
exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, de caráter abrangente, realizado em três
municípios da 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Os participantes da pesquisa
foram profissionais que integram as equipes da NASF-AB em cada município analisado. O
estudo foi realizado através de: revisão de literatura; definição de locais de pesquisa e
participantes; observação do participante; e entrevista semiestruturada. Para análise dos
dados, foi utilizado o método de análise de discurso proposto por Martins e Bicudo.
Resultados: O estudo revelou que aspectos macro e micropolíticos estão presentes de modo
conjunto e indissociável no cotidiano de atuação do NASF-AB, sendo que fatores referentes à
infraestrutura, gestão do trabalho, formação para o SUS, relação entre as equipes e
características dos profissionais influenciam a organização e o processo de trabalho do NASFAB. O espaço de apoio matricial possibilitou aos trabalhadores o desenvolvimento de
elementos essenciais para a colaboração, como respeito mútuo, comunicação aberta e escuta
de diversos pontos de vista, e o estabelecimento de consenso, tendo como essência o cuidado
do usuário. A interpretação das práticas realizadas pelo NASF-AB demonstrou o
desenvolvimento de práticas colaborativas na rotina desses profissionais expressas nos
atendimentos individuais, nas visitas domiciliares, no planejamento e execução de atividades
coletivas e na articulação com a rede. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos
profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito,
sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho. Conclusão: Este estudo
explorou a potência do trabalhador, de modo a desenvolver práticas colaborativas
considerando suas singularidades e o contexto em que estão inseridos. A operacionalização do
apoio matricial e o desenvolvimento de práticas colaborativas se mostraram favorecidos nos
municípios de pequeno porte, que integram equipes NASF-AB modalidade 2 e 3. As práticas
colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das
renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo
de trabalho.
Tratamento de dislipidemias em usuários de alto risco pelo SUS: não adesão e efetividade em coorte populacional de pacientes
Felipe Assan Remondi, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/03/2019
O objetivo do trabalho foi analisar a não adesão e a efetividade da terapêutica com
hipolipemiantes fornecidos pelo Sistema Único de Saúde para usuários de alto risco
do estado do Paraná, entre 2008 e 2013. Para tanto, foi realizada uma coorte
retrospectiva com o universo de pacientes assistidos no período de 2008 a 2012,
acompanhados até 2013 para avaliação da adesão e do controle laboratorial. As
informações foram obtidas no sistema eletrônico da Secretaria de Estado para o
gerenciamento do fornecimento destes medicamentos. O cálculo da não adesão foi
realizado a partir da combinação da taxa de posse, proporção de dias cobertos e
média de dias entre as dispensações, sendo caracterizados como não aderentes os
indivíduos que tiveram resultados insatisfatórios em ao menos duas das três medidas
realizadas. O controle laboratorial foi avaliado pelos resultados categorizados da
lipoproteína de baixa densidade (LDL), liproproteína de alta densidade (HDL)
colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG). As análises de associação foram realizadas
por meio da comparação de médias, correlação e regressão multivariada com
distribuição de Poisson ou de Cox. Foram analisados 6751 usuários, sendo que a
caracterização da não adesão restringiu-se a 5697 que tiveram quatro ou mais
dispensações no período e, paralelamente, a de controle laboratorial para 5596
usuários que possuíam informações deste desfecho passível de avaliação. A
população de análise foi composta principalmente por mulheres, indivíduos entre 50
e 59 anos de idade e com predominância de uso da atorvastatina. Observou-se que
as regionais de saúde com maior porte populacional apresentaram maior número de
usuários vinculados ao programa e, ao mesmo tempo, maior taxa de descontinuidade.
A não adesão foi registrada em 37,0% dos usuários, com maior risco no caso do sexo
feminino, idade entre 40 e 70 anos residência em regionais de saúde de 300 a 500 mil
habitantes. A taxa de desistência na obtenção dos medicamentos em até um ano foi
de 29,3%, sendo a persistência inicial (até três dispensações) preponderante (15,6%)
em comparação a persistência tardia (até 12 meses; 13,7%). O controle laboratorial
inadequado, por sua vez, foi de LDL (>100mg/dL): 45,9%; HDL (<40mg/dL para
homens ou <50mg/dL para mulheres): 31,1%; CT (>190mg/dL): 28,0%; e TG
(>150mg/dL): 32,3%. Tanto na comparação de médias entre aderentes e não
aderentes, quanto na análise multivariada com o controle por fatores de confusão
(sexo, idade, medicamento, dose, densidade populacional do local de residência), a
não adesão esteve associada a piores taxas de controle para LDL (HR=2,34; IC95%
2,14-2,54), HDL (HR=3,28; IC95% 2,97-3,63), CT (HR=2,99, IC95% 2,69-3,32) e TG
(HR=2,34; IC95% 2,13-2,59). As diferenças nos padrões de obtenção, elevada taxa
de desistência em um ano, não adesão superior a um terço dos usuários e sua
correlação com a falta de controle laboratorial apontam para a necessidade de
reconhecer a problemática no sistema de saúde brasileiro e adoção de medidas de
aprimoramento das políticas instituídas visando melhor controle das doenças crônicas
não transmissíveis no Brasil.
Gestão de trabalho no SUS em municípios de pequeno porte
Stela Maris Lopes Santini, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 14/09/2018
Este estudo teve o objetivo de compreender a gestão do trabalho no SUS em
Municípios de Pequeno Porte (MPP) por meio da análise da organização da gestão
do trabalho, dos instrumentos utilizados para provimento e fixação dos trabalhadores
e sua interface com os modelos de administração/gestão pública. Faz parte da
pesquisa denominada ―A gestão do trabalho no SUS em MPP do Paraná a partir do
olhar da Equipe Gestora‖, Chamada Pública de Projetos 04/2012-Programa de
Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS): Gestão Compartilhada em
Saúde, Edição 2011. O estudo foi desenvolvido nos MPP da macrorregião norte do
Estado do Paraná, utilizando abordagem quantitativa e qualitativa. A coleta de dados
ocorreu em três movimentos, sendo o primeiro o levantamento da composição das
Equipes Gestoras (EG) da saúde; o segundo foi realizado por meio de entrevista
estruturada para caracterização do perfil dos Responsáveis pela Área de RH/GT, no
período de novembro/2013 a outubro/2014; e o terceiro abordou aspectos sobre a
gestão do trabalho e dos instrumentos de gestão utilizados. Os dados foram obtidos
por meio de encontros com representantes das equipes gestoras (REG), durante o
curso ―A gestão da força de trabalho no SUS em MPP‖, realizado no período de
março a junho de 2015. Foi possível entrevistar 73 responsáveis pela área de
RH/GT durante o segundo movimento. Destes, 50 (68,5%) encontravam-se atuando
nas prefeituras e 23 (31,5%) nas secretarias municipais de saúde. Mesmo que os
responsáveis pela área de RH/GT estivessem centralizados nas prefeituras, as EG
da saúde também executavam ações nessa área. Dentre as potencialidades da
gestão do trabalho em MPP, foram destacadas a pouca distância física entre as
secretarias municipais e a autonomia para adesão a programas. As fragilidades
foram relacionadas à falta de autonomia para: provimento das equipes, deliberação
para pagamento de direitos trabalhistas e definição para alocação de servidores. Os
Planos de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) não eram específicos para a área da
saúde e geralmente não vinculavam todos os seus servidores. Os MPP possuíam
oferta de profissionais de saúde em seus próprios territórios. No entanto,
determinados programas corriam o risco de ter seus incentivos financeiros
suspensos por dificuldades de provimento de determinadas categorias profissionais.
Algumas legislações foram destacadas como limitadoras para o provimento de
pessoal, sendo elas a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a Emenda
Constitucional (EC) n. 41/2003. As formas de seleção frequentemente aplicadas nos
MPP foram os concursos públicos e os testes seletivos; as admissões por estatuto,
emprego público, contratos, credenciamentos e cargos comissionados. A categoria
médica foi considerada como a de maior dificuldade para provimento. Com a adesão
ao Programa Mais Médicos (PMM) foi atendida a expectativa de provimento dessa
categoria. A rotatividade dava-se mais frequentemente em situações de: vínculos
não estáveis, não inserção a PCCS, exigência de cumprimento de carga horária
contratual e baixos vencimentos. Desenvolviam-se ações que contribuíam para a
fixação dos profissionais, dentre elas, a preferência por contratação de profissionais
já residentes nos municípios e concessão de plantões ou de vínculos adicionais.
Concluiu-se que a gestão do trabalho dos MPP ainda apresenta resquícios da
Administração Pública Patrimonial (APP); as características da Administração
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Pública Burocrática (APB) mostraram-se evidentes nos controles e nas formalidades
dos processos de trabalho, e as influências da Administração Pública Gerencial
(APG) estão sendo vivenciadas nos múltiplos vínculos, em outras formas de
flexibização e na legislação.
Problemas e estratégias de gestão do SUS em municípios de pequeno porte
Elisangela Pinafo, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 06/04/2017
Este estudo teve o objetivo de compreender a dinâmica da gestão do SUS em
Municípios de Pequeno Porte (MPP) por meio da análise dos problemas e as
estratégias de gestão utilizadas no cotidiano desses municípios. Trata-se de um
subprojeto, fruto de uma pesquisa maior denominada “A gestão do trabalho no SUS
em MPP do Paraná a partir do olhar da Equipe Gestora” aprovada pelo edital do
PPSUS/2013. O estudo foi desenvolvido nos MPP da macrorregião norte do estado
do Paraná, por meio de método misto, utilizando abordagem quantitativa e
qualitativa. A coleta de dados ocorreu em dois movimentos. No primeiro foi realizado
o levantamento do nome e função desempenhada pelas pessoas que integravam a
equipe gestora dos municípios estudados. O segundo movimento abrangeu duas
fases: na primeira, com aspecto quantitativo exploratório, foi caracterizado o perfil da
equipe gestora; a segunda fase abordou aspectos qualitativos sobre os problemas e
as estratégias de gestão, cujos dados foram obtidos por meio de discussões com
integrantes chave das equipes, que foram gravadas durante um curso sobre “A
Gestão do SUS em MPP”. A análise quantitativa ocorreu por meio da análise de
frequência pelo Programa EPI INFO versão 3.5.1. As discussões durante o curso
foram gravadas e transcritas, e realizada análise compreensiva das falas conduzida
pelo referencial teórico da Teoria do Jogo Social e relações de poder, de Carlos
Matus. Em relação ao perfil das pessoas integrantes da equipe gestora, destaca-se:
média de idade de 37,8 anos, 66,7% são do sexo feminino, 70,5% referiram possuir
ensino superior completo. A especialização na área de Gestão e Modelos de
Atenção à Saúde foi a que mais se destacou com 40,2%, 43,6% possuíam
experiência de atuação nas funções de gestão no município de um a seis anos,
97,9% sentiam-se preparados para exercerem sua função e a maioria da equipe
gestora referiu conhecer os instrumentos de gestão e participar de sua elaboração.
Da análise qualitativa foram constituídas as seguintes categorias: Os problemas da
gestão em MPP; As estratégias realizadas no cotidiano da gestão; Limites da gestão
do SUS em MPP. A equipe gestora posiciona-se enquanto atores sociais e jogadores
responsáveis pela transformação da realidade da gestão nestes municípios. Os
problemas identificados abrangeram: o processo de descentralização da gestão do
SUS, sem respeitar a estrutura e os limites dos municípios; a reprodução do modelo
biomédico de atenção à saúde; o número insuficiente de médicos nos MPP; e a
oferta insuficiente de serviços de Média e Alta Complexidade (MAC). Para o
enfrentamento desses problemas, a equipe gestora lança mão de diversas
estratégias como: compra de serviços de MAC; adesão a programas e pactuações;
acordos informais. Mesmo assim tais estratégias não foram potentes para a
completa resolução dos problemas, o que os tornam em desafios para a gestão do
SUS nestas localidades. Esses desafios são mais exacerbados nos municípios
menores, devido a alguns limites como sua invisibilidade frente à organização do
sistema de saúde; a falta de empoderamento dos gestores de MPP, levando a uma
participação pouco efetiva no Consórcio Intermunicipal de Saúde e nas instâncias de
gestão (Comissões Intergestoras Bipartite/Comissões Intergestoras Regionais); e a
incipiente gestão interfederativa. Os enfrentamentos dos problemas devem ser
conduzidos por processos políticos e sociais. É necessário reorganizar o processo
de descentralização, para que o estado assuma uma posição de coordenação
efetiva e co-participação na constituição das redes de atenção e no processo de
regionalização, com financiamento condizente, retomando a responsabilidade pelo
atendimento da população nos níveis de maior complexidade. Também é preciso
fomentar o empoderamento do gestor municipal, com a implantação de uma cultura
de enfrentamento dos problemas de forma coletiva e compartilhada entre os entes
federados. Os trabalhadores de saúde e a população devem ser mobilizados em
defesa deste sistema. Torna-se necessário compreender que os problemas
enfrentados pelos municípios extrapolam a capacidade de gestão e passam a uma
outra dimensão maior, que é o SUS ser visto enquanto uma política de Estado e um
projeto a ser defendido por toda sociedade.
As comissões intergestores regionais e a gestão interfederativa no norte do Paraná, 2011 a 2013
Sônia Cristina Stefano Nicoletto, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 26/02/2015
No Brasil, a política de saúde requer um sistema universal, integral, com participação
social, financiado pelo Estado. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem como diretrizes
organizacionais a descentralização e a regionalização. Em regiões de saúde quando
se aposta na construção de Rede de Atenção em Saúde (RAS) há relevância a
gestão interfederativa. A Comissão Intergestores Regional (CIR) é o espaço para o
desenvolvimento das inter-relações dos atores para a tomada de decisão sobre a
RAS. Diante disso, o estudo foi desenvolvido com objetivo de compreender as CIR da
macrorregião norte do Paraná no âmbito da gestão interfederativa. Com abordagem
qualitativa, tem duas dimensões, uma exploratória e descritiva, outra compreensiva.
Os dados são das atas das CIR, de grupos focais com gestores municipais e de
entrevistas com representantes da gestão estadual. Para análise utiliza-se a
hermenêutica-dialética que permite a interpretação dos dados cotejando-os com o
referencial teórico, em uma ação objetivada, para ultrapassar o discurso manifesto e
compreender os significados. As CIR foram tomadas como jogo social fundamentado
na teoria de Carlos Matus. A categoria poder teve destaque. A política de saúde
paranaense foi apresentada como cenário. As pautas das CIR estavam permeadas
por demandas das políticas nacional e estadual. Os representantes da gestão
estadual eram os principais condutores das reuniões, seguindo as orientações da
Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA/PR). Os assuntos, organizados em
dezoito temas, foram mais informados do que deliberados. A rotatividade e o
despreparo de gestores municipais dificultam a construção de um coletivo coeso. A
dinâmica de trabalho dos gestores municipais foi apontada como estressante e sem
valorização. O prefeito não participa diretamente da CIR, mas é um ator importante
dado o poder político que detém. A dinâmica das CIR tem sido, em alguns casos,
discutir e rediscutir uma problemática, sem resolver ou efetivar a solução. A
distribuição do poder é assimétrica e a vontade de uns prevalece sobre a dos demais.
Existem conflitos, mas eles acontecem mais fora das reuniões. Alguns acordos foram
firmados com apatia. A Rede Mãe Paranaense e a Rede de Urgência e Emergência
estavam sendo construídas, mas sem um eficiente sistema de governança. Alguns
“arranjos” e “movimentos” como o Conselho de Secretários Municipais de Saúde, a
SESA/PR e o Ministério da Saúde interferem diretamente nas pautas e nas reuniões.
Outros, como o prestador hospitalar, o Consórcio Intermunicipal de Saúde, o
Conselho de Saúde e o Ministério Público interferem mais na execução das decisões.
Alguns nós no cenário do SUS precisam ser enfrentados referentes à sociedade, à
política, à gestão e ao planejamento. Para desconstruir hegemonias que operam
contra o SUS é importante a implantação de colegiados de gestão nos pontos de
atenção das RAS, integrados com as CIR, formando uma Rede de Colegiados de
Gestão Regional. Mas tanto nos colegiados de gestão como nas CIR o processo
decisório necessita ser estabelecido dentro de acordos solidários em torno da missão
de garantir o direito à saúde, integral e com qualidade, para a população.