Repercussões do financiamento e da organização dos serviços de saúde bucal para o modelo de atenção odontológica na macrorregião Norte do Paraná.
Caroline Pagani Martins, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 24/02/2022
A conjuntura crítica perpetrada pela crise política e econômica ocorrida no Brasil em 2014 se somou a ascensão de um governo federal fortemente direcionado ao neoliberalismo, resultando em reformas econômicas centradas na austeridade fiscal, alterações emblemáticas na política de Atenção Básica (AB) e novas regras de financiamento federal do Sistema Único de Saúde (SUS). A compreensão dos efeitos dessas novas conformações para a assistência odontológica é imprescindível. Assim, o presente estudo teve como objetivo analisar as repercussões do financiamento e da organização dos serviços de saúde bucal para o modelo de atenção odontológica na macrorregião Norte do Paraná. Para tanto, realizou-se um estudo de natureza quanti-qualitativa desenvolvido em dois movimentos. O primeiro, quantitativo, foi constituído por um estudo descritivo e exploratório que, por meio de dados secundários, buscou avaliar indicadores de saúde bucal da macrorregião Norte do Paraná entre 2013 e 2019, identificando possíveis desafios para a consolidação dos pressupostos da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB). No segundo movimento, qualitativo, foram entrevistados presencialmente entre julho e outubro de 2021, a partir de um roteiro semiestruturado, 29 gestores de saúde de 16 municípios da macrorregião Norte do Paraná. Utilizando-se o método de análise de discurso preconizado por Martins e Bicudo em 2005, foi investigada a percepção desses gestores sobre os principais desafios enfrentados na consolidação dos pressupostos da PNSB na atenção odontológica. Os resultados apontam um cenário atual preocupante para a macrorregião Norte do Paraná, com quedas abruptas no quantitativo de procedimentos individuais e ações coletivas, na contratualização de equipes de saúde bucal (eSB) e nas coberturas de eSB e de primeira consulta odontológica programática. Demonstram também que a organização da saúde bucal macrorregião analisada ainda prioriza condutas atreladas a modelos considerados ineficazes e ineficientes por serem produtivistas e curativistas, enquanto as Redes de Atenção à Saúde Bucal (RASB) se encontram fragilizadas devido aos amplos vazios assistenciais e pela dificuldade da Atenção Básica (AB) em atuar como coordenadora do cuidado. Ademais, outros problemas identificados foram a opção por modalidades de contratação menos estáveis e mais precarizadas, como a “pejotização”, o rompimento com as equipes multiprofissionais e a reordenação do trabalho com vistas ao cumprimento de metas, em uma perspectiva focalizada e produtivista, desconsiderando as reais necessidades dos territórios. A continuidade de políticas públicas de caráter universal que se pautam pela equidade é fundamental para os avanços em termos de acesso, utilização e resolutividade dos serviços. Dessa forma, a atual situação da PNSB suscita preocupação pois, caso não passe a ser financiada adequadamente e a receber priorização política, poderá se traduzir tão somente em uma política residual e focalizada.
A inserção da saúde bucal no PSF, perspectivas e desafios: a visão de odontólogos do Paraná
Adriana Prestes do Nascimento Palú, Adriana Mitsue Ivama
Data da defesa: 26/04/2004
O Programa Saúde da Família (PSF) surge como uma estratégia de reorientação das práticas sanitárias no Brasil. A inclusão da saúde bucal no PSF constituiu um avanço na reorganização das ações de saúde bucal na atenção básica. Representou a incorporação do conceito de saúde bucal como um componente da saúde em seu sentido mais amplo. O presente estudo teve como objetivo central a análise da inserção do odontólogo no PSF, no Paraná. Trata-se de uma pesquisa social com abordagem qualitativa. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com dezessete odontólogos que atuam no PSF. No tratamento do material coletado foi utilizado o programa N-Vivo e foi realizada análise de conteúdo. Os resultados obtidos demonstraram que esses profissionais se inseriram no PSF de maneira não homogênea, com formação acadêmica distanciada da atuação de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde e de forma geral insuficiente para atuar neste modelo, com necessidades de (re)capacitação, na perspectiva da educação permanente. Na sua atuação cotidiana, estes profissionais cumprem as atribuições preconizadas referentes às ações clínicas, nem sempre sob um novo enfoque da saúde-doença, encontram deficiência na assistência secundária e não exercem plenamente as ações coletivas. Foram evidenciadas diferenças na atuação em equipe, e no estabelecimento de vínculos com a comunidade, sendo que estes eram facilitados quando havia melhor domínio conceitual e compreensão do modelo de atenção. Embora a maioria deles esteja consciente das mudanças em suas práticas, há dificuldades em lidar com tais mudanças. A precarização da forma de contratação parece ter grande influência no envolvimento do profissional com o serviço, principalmente em estratégias de longo prazo, à medida que explicitam dúvidas acerca do seu futuro e da própria estratégia do saúde da família. Concluímos que a inclusão da saúde bucal aponta para a mudança das práticas na atenção básica, embora haja muitas deficiências. Os principais desafios evidenciados no trabalho, tanto para a formulação de políticas como para a gestão dos serviços, foram a descontinuidade da atenção em outros níveis de atenção, o distanciamento entre a formação e o modelo de atenção vigente e a precarização das formas de contratação. A educação permanente dos profissionais, bem como a inserção de profissionais comprometidos com o processo, podem contribuir para a efetiva reorientação das práticas, voltadas para a promoção, prevenção, tratamento e reabilitação da saúde bucal, de modo universal, equânime e integral.
Pré-natal odontológico e saúde bucal: percepções e representações de gestantes
Lucimar Aparecida Britto Codato, Luiza Nakama
Data da defesa: 03/10/2005
A gravidez é um período fisiológico complexo. Nele, além das mudanças físicas e emocionais, são sugeridos crenças e mitos envolvendo a saúde do binômio mãe-filho. Neste contexto, a atenção odontológica muitas vezes é tida como prejudicial e contraindicada. Por outro lado, nessa fase a mulher normalmente está mais receptiva a novos conhecimentos, que podem levar à adoção de novas e melhores práticas de saúde, cujos benefícios se estenderão aos demais membros da família, em decorrência do importante papel da mãe no cuidado da família. A presente pesquisa teve como proposta identificar a percepção de gestantes usuárias do SUS e gestantes assistidas no serviço privado sobre saúde bucal no período gestacional, por meio de uma abordagem qualitativa, com análise de conteúdo e, nela, análise temática. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas até obter-se saturação em relação à compreensão dos objetivos dessa pesquisa. Para isso, foram necessárias 9 entrevistas entre as usuárias do SUS e 8 entre as gestantes do serviço privado. Como o número de entrevistas entre os dois grupos ficou muito próximo, optou-se por entrevistar 10 gestantes em cada grupo, totalizando, portanto, 20 entrevistas. Neste estudo, foram identificadas seis categorias de análise: auto-cuidado durante o período gestacional, atenção odontológica durante a gestação, visão dos sujeitos de pesquisa sobre gravidez e suas conseqüências na saúde bucal, como as gestantes resolvem seus problemas de saúde bucal, a mãe na promoção de saúde bucal, os profissionais de saúde. Nelas, foram identificadas vinte e seis representações. A análise e interpretação dos dados mostraram a existência de mitos, medos e restrições relacionados à atenção odontológica no pré-natal, que a busca pela atenção odontológica entre as usuárias do SUS parece ser mais rotineira e sistemática, quando comparadas às gestantes assistidas por convênio, possivelmente relacionada à oportunidade de resolver problemas odontológicos pré-existentes, enquanto identificou-se entre as gestantes assistidas por convênio a existência de atenção odontológica programada, exceto durante o pré-natal. Entre as gestantes assistidas por convênio, percebeu-se que a atenção odontológica no pré-natal parece estar relacionada a aspectos emergenciais, e muito atrelada ao consentimento médico, demonstrando, dessa forma, confiança incondicional no profissional médico.
Condições de saúde bucal, estado nutricional e fatores associados em idosos de Londrina, Paraná
Arthur Eumann Mesas, Selma Maffei de Andrade , Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 16/12/2005
O aumento da proporção de idosos na população tem estimulado a realização de estudos que integrem as diferentes áreas da saúde e possam fundamentar o planejamento de ações de promoção de saúde. Este estudo teve por objetivo verificar condições de saúde bucal, estado nutricional e associações entre más condições de saúde bucal e desnutrição em indivíduos idosos. A população de estudo foi constituída por 267 idosos com idade entre 60 e 74 anos e residentes no conjunto habitacional Ruy Viermond Carnascialli, no município de Londrina, Paraná, excluindo-se os de alta dependência funcional. Os dados foram coletados em visitas domiciliares com entrevista e exame clínico, mediante consentimento livre e esclarecido. A média de idade encontrada foi de 66,5 anos, sendo que 59,9% eram mulheres, 60,2% tinham menos de 4 anos de escolaridade e 83,9% pertenciam às classes econômicas C ou D. Quanto às condições de saúde bucal, 43,1% eram edêntulos, 83,5% tinham menos de 20 dentes naturais presentes, 76,4% usavam e 49,4% necessitavam de algum tipo de prótese removível. A ausência de contatos oclusais posteriores entre dentes naturais ou de próteses foi observada em 27% da amostra. A maioria (60,7%) dos idosos, no entanto, considerou "boa" sua saúde bucal. O risco nutricional e desnutrição foram identificados pela Mini Avaliação Nutricional em 21,7% dos idosos. Na análise multivariada, gênero (feminino), escolaridade (< 4 anos) e idade (67 a 74) associaram-se de forma significativa ao edentulismo e à presença de menos de 20 dentes, ao qual se associou, também, o tabagismo. A autopercepção ruim da saúde bucal não foi associada a nenhuma das condições de má saúde bucal analisadas, porém, apresentou como fatores independentemente associados, o gênero (feminino) e a depressão. O risco nutricional demonstrou associação estatisticamente significativa com a ausência de oclusão posterior e com a autopercepção ruim, mesmo após o controle das variáveis gênero, idade, escolaridade, classe econômica, depressão e déficit cognitivo. Conclui-se que as elevadas freqüências das más condições clínicas de saúde bucal indicam a necessidade de uma maior atenção odontológica à população idosa. A associação independente observada entre a ausência de oclusão posterior e o risco nutricional aponta para a importância da manutenção ou reabilitação da condição mastigatória para o adequado estado nutricional do idoso. Os idosos com percepção ruim da sua saúde bucal, independentemente da presença de depressão, tiveram maior chance de apresentarem risco nutricional ou desnutrição, sugerindo que, além de observações clínicas, dados subjetivos como a autopercepção devam ser considerados na avaliação das condições de saúde bucal de idosos e na sua relação com o estado nutricional.
Saúde Bucal dos Homens Jovens: Ponta Grossa, Paraná-Brasil
Claudia Saveli, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 31/08/2006
O objetivo deste estudo foi conhecer o estado geral de saúde dos jovens de 18 anos do sexo masculino de Ponta Grossa, Paraná, Brasil e como se dá o acesso aos serviços odontológicos. A metodologia utilizada foi de um estudo transversal em uma amostra aleatória de alistandos (n= 421) do Exército Brasileiro. O instrumento de coleta de dados foi o utilizado no levantamento nacional SBBRASIL, e para aferir o motivo dos jovens que nunca foram ao dentista o instrumento utilizado e pré-testado baseou-se na literatura. Associações entre prevalência de cárie, índice CPO-D e seus componentes com as variáveis estudadas foram avaliadas por meio do teste de Kruskall-Wallis. A prevalência de cárie foi de 75,54% e o índice CPO-D médio foi igual a 6,02. Obteve-se o percentual de 21,5% de jovens que necessitavam de tratamento odontológico. Diferenças estatisticamente significativas foram encontradas entre prevalência de cárie dentária e nível sócio – econômico, sendo os grupos de menor escolaridade e renda os com piores indicadores. Averiguou-se que 55,58% apresentavam doença periodontal, e em média 3,34 dos sextantes apresentavam sangramento. Dentre os 5,5% de jovens que apresentavam alteração de tecido mole, a presença de “piercing” foi a mais encontrada. Na amostra obtida encontrou-se o percentual de 7,13% de entrevistados que nunca foram ao dentista, e os dos que foram 52,43% utilizaram o serviço público, sendo o motivo de maior procura por consulta de rotina e manutenção. Grande maioria dos jovens considerou o atendimento de bom a ótimo. Observou-se que quanto melhor a autopercepção do jovem em relação à sua saúde bucal menor o índice CPO-D (p =0,00). O estudo considerou que o profissional da Odontologia vem a ser o ator principal no processo saúde /doença bucal e o maior responsável para que a situação das condições bucais venha a melhorar.
Caracterização dos usuários de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos em uma Unidade Básica de Saúde: análise do uso irregular de medicamentos e das condições de saúde bucal
Ana Carolina Bertin de Almeida Lopes, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/05/2010
A Organização Mundial da Saúde considera que as doenças crônicas, como as doenças cardiovasculares e o diabetes mellitus assumiram caráter epidêmico, acompanhado pelo aumento no consumo de medicamentos para sua prevenção e tratamento. As doenças periodontais, especialmente a periodontite, têm sido relacionadas à presença e à evolução do diabetes mellitus e das doenças cardiovasculares. Este estudo teve como objetivos caracterizar os usuários de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e avaliar as condições de saúde bucal desses usuários. Realizou-se um estudo transversal com 397 indivíduos maiores de 18 anos que retiraram medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos na UBS Centro Social Urbano (CSU), no município de Londrina, PR. As informações foram obtidas através de formulário com questões estruturadas, semi-estruturadas e abertas com dados autoreferidos. A média de idade encontrada foi de 63,9 anos, a maioria do sexo feminino (65,5%), com escolaridade de um a quatro anos (44,6%), e classes socioeconômicas (ABEP) predominantes C1, C2 e D (78,4%). Os anti-hipertensivos mais utilizados foram os inibidores da enzima de conversão de angiotensina (IECA) (63,5%), os diuréticos tiazídicos (54,9%) e os betabloqueadores (27,7%). Entre os antidiabéticos o mais consumido foi o cloridrato de metformina (23,2%). A prevalência de uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos foi de 35,8% e teve como principal motivo relatado o esquecimento. Os diabéticos consumiram em média 3,9 medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos e os hipertensos 1,6. Na análise multivariada o trabalho remunerado (não exercer) e a coexistência da hipertensão arterial e do diabetes mellitus apresentaram associação independente ao uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos. Em relação às condições de saúde bucal identificou-se 35% de prevalência de edentulismo e associação das variáveis faixa etária (ser idoso) e ter hipertensão arterial e diabetes mellitus com o risco periodontal (sangramento gengival e/ou mobilidade dentária). Apesar da amostra estudada representar uma população específica que utiliza medicamentos e que recebeu diagnóstico de hipertensão arterial e/ou de diabetes mellitus, os resultados apresentados evidenciaram que uma proporção significativa dos usuários fazia uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos e que as condições de saúde bucal analisadas foram insatisfatórias. Dessa forma, a promoção do uso racional de medicamentos, das medidas não medicamentosas e a atenção à saúde bucal devem ser priorizadas em portadores de doenças crônicas.
Prevalência e Fatores Associados à Doença Periodontal em Puérperas, Londrina – PR
Carolina de Alcântara Lopes dos Santos, Zuleika Thomson, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 16/06/2010
A doença periodontal é considerada um problema de saúde pública em todo o mundo devido à alta incidência e prevalência, e afeta grande parte da população. Nos estágios mais avançados, se não tratada, leva a perda dentária interferindo diretamente na qualidade de vida das pessoas. Tendo em vista que as alterações hormonais da gestação podem interferir no início e progressão da doença periodontal, a pesquisa teve como objetivos: estimar a prevalência da doença periodontal em puérperas e determinar a gravidade; verificar os fatores associados à doença periodontal. Trata-se de um estudo transversal, cuja população foram todas as puérperas, residentes em Londrina, Paraná, que tiveram seus partos em maternidade pública, que atende parturientes de baixo e médio risco, nos meses de maio e junho de 2009. Os dados foram obtidos por meio de entrevista e exame clínico odontológico. A classificação da doença periodontal foi realizada pelo Índice Periodontal Comunitário (IPC). A variável dependente foi a presença da doença periodontal (gengivite e periodontite) e as variáveis independentes envolveram características sociodemográficas, cuidados com a saúde bucal e condições de saúde e hábitos maternos antes e durante a gestação. Na análise estatística foi utilizada a regressão de Poisson. Houve 41 exclusões e 15 (3,1%) perdas, totalizando uma amostra final de 472 entrevistas realizadas. A maioria das puérperas (66,3%) tinha entre 20 e 34 anos, idade média de 24,3 anos; 64,6% estudaram, no mínimo, até o fundamental completo; 72,7% eram brancas; quanto à classificação econômica (ABEP), a maioria pertencia à classe C (71,4%), 65,3% não trabalhavam fora e somente 25,6% viviam com mais que um salário mínimo. A prevalência da doença periodontal observada foi de 41,1%, entre estas, 42,8% apresentavam bolsa periodontal de 4-5 mm. Na análise multivariada, a idade de 20 anos ou mais, a baixa escolaridade (até quatro anos de estudo), o sangramento gengival anterior à gestação (auto-referido) e o hábito de fumar há mais de 10 anos foram significativamente associadas à doença periodontal (p<0,05). Os resultados apresentados sugerem a necessidade de melhoria no acesso ao atendimento odontológico às gestantes, tanto na atenção básica, como nos serviços odontológicos especializados, garantindo ações de promoção, prevenção e tratamento odontológico resolutivo e de qualidade.
Uso de Substâncias Psicoativas e Condição de Saúde Bucal de Adolescentes em Conflito com a Lei
Marcela Aparecida Tasso Pereira, Dinarte Ballester
Data da defesa: 02/03/2012
O despertar para a adolescência e as mudanças de hábito implicam em riscos para a saúde bucal. O objetivo deste estudo foi de verificar as condições de saúde dos adolescentes do CENSE (Centro de Socioeducação) - Foz do Iguaçu com ênfase no uso de substâncias psicoativas e sua influência na saúde bucal. O estudo transversal foi realizado com participantes de 12 a 18 anos de idade (n=114), em internação provisória entre os meses de outubro de 2010 e março de 2011. Foram realizadas entrevistas e exames por um cirurgião dentista calibrado, buscando avaliar as condições socioeconômicas, o uso de substâncias psicoativas e aspectos de saúde bucal através dos índices CPOD (conforme recomendações da OMS) e o instrumento utilizado para mensurar o impacto das condições bucais na qualidade de vida dos adolescentes no último ano foi o Oral Health Impact Profile (OHIP-14). Foi feita análise descritiva dos dados e aplicação do teste qui-quadrado. A maioria dos entrevistados (62,3%) era de pardos ou negros, com renda familiar até um salário mínimo (50,9%) e não freqüentava a escola (63,2%). Entre os entrevistados, 78,1% fez uso de substâncias psicoativas no mês anterior à apreensão. As substâncias consumidas por mais dias no mês foram o tabaco (12 dias) e a maconha (11 dias), e a idade média de início de uso foi de 13,5 anos (DP±1,18). Com relação à saúde bucal 31,2% nunca foram ao dentista, o índice CPOD médio encontrado foi 5,16 (DP±3,34), 12,3% eram livres de cárie e 29,9% apresentaram índice CPOD maior que 6,0. Entre os adolescentes entrevistados 90% apresentou algum tipo de impacto da saúde bucal na qualidade de vida referida, medido pelo OHIP-14 , 60% relatou já ter sentido dor nos dentes ou boca e 62% já se preocupou com os problemas bucais. A variável renda familiar baixa (p=0,01) e a presença de conflitos familiares (p=0,01) apresentaram significância com relação ao uso de substâncias psicoativas. Nesta pesquisa os indivíduos que faziam uso de substâncias psicoativas apresentaram proporcionalmente um maior impacto referido da saúde bucal na qualidade de vida, e ainda quanto maior o consumo durante o mês maior foi o impacto na saúde bucal entre os adolescentes do CENSE-FI. Clinicamente os indivíduos que não fizeram uso de substância apresentaram maior proporção de elementos dentais livres de cárie, enquanto os que fizeram uso apresentaram número maior de problemas dentais. Conclui-se que os adolescentes em internação provisória no CENSE-FI apresentaram uma condição de saúde bucal pouco satisfatória, com alta prevalência de impacto na qualidade de vida em decorrência de problemas bucais. O uso de substâncias psicoativas entre os adolescentes avaliados pode ter influenciar negativamente a saúde bucal.
Atores, espaços e instrumentos de governança na rede de atenção à saúde bucal
Bárbara Viera Pimentel, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 28/02/2020
O estudo objetivou analisar o processo de governança na Rede de Atenção à Saúde Bucal (RASB) em uma região do estado do Paraná, por meio da compreensão sobre o termo governança, caracterização da rede, identificação de atores, espaços, fluxos e análise de instrumentos envolvidos no processo de governança. No primeiro momento, foi realizado pesquisa exploratória, por meio de revisão de literatura e análise documental a fim de analisar em que medida o termo governança tem sido abordado e conceituado na produção científica e nas normas oficiais brasileiras, subdivididas em: Identificação; Busca da literatura (palavraschave, bases de dados e aplicação de critérios definidos); Avaliação e Análise dos dados. O segundo momento tratou-se de um estudo descritivo e exploratório com obtenção de dados secundários por meio de base de dados, com o objetivo de compreender a organização dos serviços de saúde bucal existentes nos municípios da região, divididos e apresentados em: Identificação; Caracterização; Atividade; Atendimento e Informações gerais; analisados pelo programa Epi-Info. No terceiro momento, tratou-se de um estudo de abordagem qualitativa, realizada a identificação de atores, espaços, compreensão de fluxos e instrumentos de governança, por meio da realização de entrevistas semiestruturadas, com informante-chave, o qual identificou novos espaços e atores para sequenciamento de novas entrevistas. A análise dos dados foram segundo os pressupostos do método de análise de discurso e sob a perspectiva teórica da governança proposto por Marques (2013). Diversos conceitos de governança foram encontrados nas publicações científicas, no entanto, poucos foram utilizados para denominar processos referentes à regionalização para a estruturação das Redes de Atenção à Saúde. Percebeu-se a dificuldade de se operacionalizar a descentralização nos contextos locais e as normativas pouco conseguem fortalecer a cooperação e relações de solidariedade entre eles. A organização da RASB se deu por oito tipos de estabelecimentos, tais como: Unidade Básica; Centro de Especialidade; Consultório isolado; Hospital Geral e Especializado, Policlínica, Posto de Saúde e Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico. No que concerne à natureza jurídica, 90,5% são de administração pública, sendo 6,7%, entidades sem fins lucrativos e 2,7% entidades empresariais. Quanto ao modelo de gestão, a municipal foi a mais evidente (77,7%), sendo 19,5% gestão dupla e 2,7% estadual. Foi evidente a ausência dos atores não governamentais no processo de governança e a capacidade do ente municipal gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo dos atores sociais, econômicos e institucionais em sua dimensão regional. Foi verificada a predominância das relações informais como instrumento da governança, com o uso de tecnologias para sua comunicação, por meio de WhatsApp, E-mail e telefone. A inexistência de proximidade e conhecimento das realidades locais, a inexistência de discussões acerca de projetos que atendam a interesses comuns, dificulta a construção de uma relação no âmbito regional sob a perspectiva da governança. É necessária a participação de profissionais da saúde bucal em ações regionais, de forma mais cooperativa e integrada, com a presença de atores estratégicos com capacidade de influenciar o processo de governança e assim superar sua fragmentação e incipiência, com aspiração de promover uma atenção à saúde bucal de forma mais integral e equânime.
A organização do trabalho em saúde bucal nas equipes da rede de atenção básica em municípios de pequeno porte do norte do Paraná
Vera Lúcia Ribeiro de Carvalho Bueno, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 26/05/2014
O objetivo desse estudo foi analisar a organização do trabalho em saúde bucal nas equipes da Rede de Atenção Básica em municípios de pequeno porte do norte do Paraná. Trata-se de um estudo transversal, teórico, empírico, de natureza analítico compreensiva, com abordagem quantitativa/qualitativa. A região norte foi representada pelas regiões administrativas de Apucarana, Londrina e Cornélio Procópio que correspondem às seguintes Regionais de Saúde (RS): 16ª RS, 17ª RS e 18ª RS. A pesquisa aconteceu em duas etapas, sendo que a coleta de dados da primeira etapa, designada como quantitativa, aconteceu entre julho e dezembro de 2010, e a da segunda etapa, designada como qualitativa, entre junho e julho de 2011, com exceção do segundo grupo focal da 18ª RS que foi realizado em junho de 2012. Na primeira etapa foram aplicados dois questionários, um específico para coordenadores de Unidades Básicas de Saúde (UBS) e outro para os demais profissionais. Para análise descritiva, utilizaram-se as medidas de ocorrência. Na segunda etapa foram realizados grupos focais. Responderam às questões específicas para coordenadores 90 profissionais. De 295 profissionais que atuavam na Equipe Saúde Bucal, (ESB) responderam às questões 178 (60,3%). Foram realizados nove grupos focais, sendo cinco com coordenadores de UBS e quatro com membros da ESB. Os resultados revelaram que, na cidade pequena, existe uma grande proximidade entre as pessoas, mas isso não resultou em gestão democrática e participativa, nem em vínculo com a população e trabalho em equipe. Nesses municípios, os recursos para implantação das ESB foram absorvidos de maneira acrítica dificultando a implantação/implementação da Política Nacional de Saúde Bucal, como estabelecem os textos ministeriais e resultando em uma rotina de atividades sem planejamento. Nos referidos locais, persistia a falta de integração entre os profissionais da ESB e da UBS. Ambos alegaram que não se integravam por causa da demanda excessiva que os impedia de fazer reuniões, o que pode ser questionado tendo em vista que diversos não cumpriam suas cargas horárias. Foi observado dificuldade de se romper com o sistema incremental e efetivar os princípios da universalidade e integralidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Quanto à organização do trabalho, observou-se uma dicotomia entre atividades de promoção/prevenção e atividades clínicas com preferência pelo atendimento clínico, tanto dos profissionais, dos gestores, como também da população. Os dentistas alegaram que não cumpriam a carga horária de trabalho devido à baixa remuneração. Quanto à gestão, observou-se que era influenciada por quatro atores diferentes: Coordenador ESB, Coordenador UBS, Prefeito/secretário de saúde e RS. Esta última se destacou como ente articulador entre os municípios, sendo um importante local para debater o modelo assistencial e apoiar a efetivação do SUS. Para a implantação da Política Nacional de Saúde Bucal, sugere-se a adoção de sistemas de trabalho por compromisso em que se definem ações com metas, previamente acordadas, acompanhadas por instâncias de participação democrática e gestores.