A mortalidade infantil e a assistência a saúde em Londrina, 1997.

Dissertação de mestrado


Resumo

O objetivo do trabalho foi o de estudar aspectos da assistência à saúde das crianças menores de um ano de idade, residentes em Londrina, que foram a óbito em 1997, bem como o de descrever esse grupo de crianças segundo características da gestação, do parto, do recém-nascido, da mãe e da família, estimando, para algumas variáveis, as probabilidades de morte. A partir da identificação dos 107 casos de óbitos de menores de 1 ano, feita por meio da Declaração de Óbito, foram realizadas entrevistas com as mães e levantamento de dados, sobre a assistência à saúde dessas crianças, em prontuários hospitalares e em Unidades Básicas de Saúde. Utilizou-se, ainda, como fonte complementar de dados, para cálculo de coeficientes, dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), tabulados pela Autarquia do Serviço Municipal de Saúde de Londrina. O coeficiente de mortalidade infantil, obtido neste estudo, foi de 13,2 por mil nascidos vivos. A maioria das mortes (56,1%) ocorreu no período neonatal, principalmente no período neonatal precoce (49,5%). As causas de morte mais freqüentes foram as perinatais (43,9%), seguidas por anomalias congênitas (22,4%) e causas externas (14,0%). As estimativas de risco evidenciaram probabilidades altas de morte para os nascidos prematuramente (de 63,6 a 880,0 por mil nascidos vivos), para os nascidos de gestação múltipla (67,1 por mil nascidos vivos) e para os nascidos com baixo peso ou muito baixo peso (de 37,2 a 493,2 por mil nascidos vivos). O coeficiente de mortalidade segundo a escolaridade de mãe demonstrou que, comparados às crianças de mães com nível superior, os nascidos vivos de mães sem escolaridade tiveram um risco de morte 4,5 vezes maior. As famílias das crianças viviam, na maioria, em casa própria (59,3%), porém 42,9% acomodavam 3 ou mais pessoas por cômodo. Quanto ao saneamento básico, observou-se alta proporção (96,7%) de famílias servidas pela rede pública de água, embora menor parcela (84,6%) com canalização interna, além de alta freqüência de famílias com coleta regular de lixo. Todavia, o escoamento de dejetos para a rede pública coletora foi observado em somente 40,7% das casas. Segundo a classe social, as famílias foram classificadas, predominantemente, como proletárias (56,5%) ou subproletárias (32,6%) e a renda mensal per capita era inferior a 1 salário mínimo para uma grande parcela (41,8%). Quanto aos aspectos relacionados à assistência à saúde da gestante, observou-se que 22,3% das mães não realizaram pré-natal, sendo que seus filhos apresentaram um coeficiente de mortalidade cerca de 11 vezes maior do que os de mães que fizeram esse acompanhamento. Contudo, das mães que fizeram pré-natal no serviço público, uma alta proporção (66,1%) o iniciaram apenas no segundo trimestre de gestação e apenas 59,0% receberam o mínimo de cinco consultas. Dos prontuários avaliados, somente 1,6% continham ficha perinatal completa e 36,0% com anotação de risco gestacional. Entre os procedimentos recomendados, durante o atendimento pré-natal, verificou-se que apenas metade das gestantes tiveram o cálculo da data provável do parto anotado em prontuário, também sendo insatisfatórias as freqüências de anotação em prontuário de: altura uterina, cálculo da idade gestacional e ausculta de batimentos cárdio-fetais a partir da 20a semana de gravidez. A maioria dos partos (89,1%) foi realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que 31,6% das mães tiveram que procurar um segundo ou terceiro hospital, para atendimento. Menos da metade das mães que tiveram parto normal foram monitoradas adequadamente quanto aos batimentos cardiofetais, durante o trabalho de parto. A taxa de cesáreas entre as parturientes usuárias do SUS foi de 40,0%, em comparação a 81,8% entre as atendidas por convênios privados. Os recém-nascidos foram, quase na totalidade (93,1%), recepcionados na sala de parto por pediatra, sendo necessário aplicar técnicas de reanimação em 66,3%. Do total de crianças, 65 (60,7%) não chegaram a receber alta hospitalar após o nascimento, embora 10,7% tenham sobrevivido além do período neonatal. Uma parcela das crianças que recebeu alta após o nascimento (42 casos) não chegou a receber acompanhamento ambulatorial (14,3%). Das que receberam acompanhamento em programas de atenção à saúde, cerca de 50,0% estavam em atraso ou haviam abandonado o atendimento. A maioria das mães opinaram favoravelmente sobre os atendimentos recebidos nas diversas fases; opiniões negativas foram emitidas principalmente em relação ao atendimento ao parto (38,9% das mães) e quanto ao acompanhamento ambulatorial da criança (32,2%). A menor proporção de mães opinando negativamente sobre o serviço (22,0%) foi apresentada pelo componente de atenção pré-natal. Mais da metade dos óbitos (56,1%) foram classificados como evitáveis por adequado controle da gravidez, de atenção ao parto, por diagnóstico e tratamento precoces ou por imunização.Os resultados desta investigação sugerem que, apesar da mortalidade infantil, em Londrina, estar apresentando valores constantemente em redução, existem, ainda, diversos aspectos da assistência à saúde que necessitam ser aprimorados, o que, a par de melhorias nas condições de vida dessa população, provavelmente, poderia evitar a ocorrência desses eventos indesejáveis.

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