Teses e dissertações

Introdução: Os problemas relacionados ao sono têm consequências para a saúde individual e para os serviços de saúde. Estão potencialmente relacionados com a etiologia e a cronificação da dor musculoesquelética e da fibromialgia. A manutenção ou mudanças de certos comportamentos e tratamentos não farmacológicos podem auxiliar na prevenção e controle desses desfechos. No entanto, não está clara a direção da associação entre os problemas relacionados com o sono e a dor crônica, assim como a influência de tratamentos não farmacológicos da dor e as consequências na qualidade do sono. Objetivo: Investigar a associação entre os parâmetros do sono e a atividade física, a dor crônica musculoesquelética e os tratamentos não farmacológicos para fibromialgia em adultos. Objetivos específicos: 1) Analisar a associação entre a prática de atividade física no tempo livre (AFTL) e a qualidade do sono em estudantes universitários; 2) Sintetizar a evidência científica sobre as associações bidirecionais prospectivas entre problemas relacionados com o sono e dor crônica musculoesquelética; e 3) Sistematizar a evidência científica acerca dos efeitos de tratamentos não farmacológicos da fibromialgia sobre parâmetros do sono. Métodos: Os objetivos específicos foram contemplados na forma de três estudos, com resultados e discussões abordados separadamente. O objetivo 1 foi contemplado na forma de um estudo transversal da relação entre atividade física no tempo livre e qualidade do sono. Um questionário online foi aplicado em estudantes de uma universidade pública do sul do Brasil em 2019. Modelos estatísticos de regressão logística e análise de covariância foram desenvolvidos e ajustados por fatores de confusão. Para contemplar o objetivo 2, foi realizada uma revisão sistemática com meta-análise de estudos de coorte disponíveis nas bases PubMed, Scopus, Web of Science, PsycINFO e Cochrane Library desde seu início até 19 de julho de 2022. As diretrizes da guia Meta-analysis Of Observational Studies in Epidemiology foram rigorosamente seguidas. Por fim, o objetivo 3 foi contemplado na forma de uma revisão sistemática de estudos experimentais e quase-experimentais disponíveis nas bases PubMed, Scopus, Web of Science, PsycINFO e Cochrane Library, desde seu início até 05 de novembro de 2023. As recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses for Protocols foram fielmente observadas. Resultados: Objetivo 1) Foram analisados 2.626 estudantes universitários. Nas análises ajustadas, praticar AFTL de 4 a 7 vezes/semana associou-se com menor probabilidade de má qualidade do sono (odds ratio, OR=0,71; intervalo de confiança, IC 95%=0,52–0,97) em comparação com não praticar AFTL. Ademais, aqueles que praticavam AFTL tiveram médias significativamente menores nas pontuações do Pittsburgh Sleep Quality Index global, duração e qualidade subjetiva do sono, e pontuações de disfunção diurna comparado com os que não praticavam AFTL. Objetivo 2) Dezesseis estudos, com um total de 153.187 indivíduos, foram incluídos na meta-análise. Indivíduos com problemas relacionados ao sono (PRS) no baseline apresentaram incidência 1,79 vezes maior (OR=1,79; IC 95%=1,55–2,08; I 2=84,7%; p<0,001) e persistência 2,04 vezes maior (OR=2,04; IC 95%=1,42– 2,94; I2=88,5%; p<0,005) de dor crônica musculoesquelética (DCME) do que aqueles sem PRS. Por outro lado, indivíduos com DCME no baseline apresentaram incidência 1,83 vezes maior de PRS (OR=1,83; IC 95%=1,49– 2,26; I2=89,4%; p<0,001) do que aqueles sem DCME. Objetivo 3) Noventa e cinco estudos experimentais e quase-experimentais com um total de 6.137 adultos com idade média de 48,7 anos foram incluídos. Os parâmetros do sono foram avaliados em 45,3% dos estudos com o Pittsburgh Sleep Quality Index. O tempo médio de acompanhamento da intervenção foi de 8,7 semanas. Entre os 91 artigos com indivíduos subdivididos por grupos, 11,1% foram alocados na intervenção ou terapia cognitiva comportamental, 10,9% eletroestimulação craniana ou transcraniana ou transcutânea, 5,4% exercícios aeróbicos, 4,3% Tai Chi e 4,3% mindfulness. Entre os 35 artigos que contemplam as intervenções predominantes, 65,7% apresentaram melhora significativa nos parâmetros do sono comparado com os alocados nos grupos controle (p<0,05). Conclusões: Em síntese, em grupos populacionais específicos, como o de estudantes universitários, a prática de AFTL pode contribuir para a melhor qualidade do sono. Evidências robustas reforçam a associação longitudinal entre PRS e incidência e persistência de DCME em adultos, assim como estudos prospectivos suportam a existência de uma relação bidirecional entre DCME e PRS. Por fim, a evidência disponível sugere que tratamentos não farmacológicos para a fibromialgia podem resultar em uma melhora do sono em adultos.
Este trabalho estuda a possibilidade de, através do método psicodramático,desenvolver práticas interdisciplinares e interprofissionais com dois grupos de residentes que atuam em Unidades Básicas de Saúde da cidade de Londrina e que fazem parte da Residência Multiprofissional de Saúde da Família ofertada pelo Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina. Apresenta a evolução brasileira do sistema do cuidado em saúde desde o início do século XX até chegar ao surgimento das equipes do Núcleo Ampliado da Saúde da Família (NASF). Justifica-se esse trabalho pelo entendimento das diretrizes que criam o NASF de que suas equipes devem ter na interdisciplinaridade a principal força transformadora. Descrevem como se dá a formação de grupos, as principais forças que agem facilitando essa formação. Retrata o Psicodrama e seus ramos como a ciência que estuda e trata esses fenômenos relacionais. Aponta caminhos que ajudam a encontrar formas de se estabelecer grupos com mais disponibilidade para percepção de alteridades, inclusive nos papéis profissionais. O grande desafio do trabalho é dar resposta à necessidade de amparar-se os grupos mesmo depois de construídos como tal.
O Sistema Único de Saúde (SUS) representa o sistema público de saúde brasileiro com a missão de proporcionar acesso universal, integral e com equidade à saúde para todos os cidadãos, estabelecida através de seus princípios doutrinários. No entanto, o financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS) tem enfrentado obstáculos. A introdução do Programa Previne Brasil (PPB) em 2019, juntamente a alterações políticas como a Emenda Constitucional 95 e a revisão do Programa Nacional da Atenção Básica (PNAB) em 2017, levanta questões sobre o impacto dessas medidas nos princípios do SUS. Diante disso, questiona-se o quanto a nova política de financiamento da APS tenciona para fortalecer ou não os princípios do SUS. A pesquisa teve como objetivo analisar a evolução normativa do PPB na gestão da Atenção Primária e suas implicações nos princípios doutrinários do SUS. Trata-se de um estudo qualitativo que utilizou a análise das portarias publicadas entre 2019 e 2022 como fonte de dados. Os documentos foram obtidos por meio do Sistema Saúde Legis com o assunto Previne Brasil. Outra estratégia de busca foi conduzida através da análise das próprias portarias, identificando aquelas que faziam referência ao PPB em seu conteúdo, mesmo que não tivessem sido inicialmente capturadas pelo Saúde Legis. Os resultados apontaram que o PPB passou por ajustes desde sua implementação, evidenciados por 30 portarias entre 2019 e 2022. O eixo da capitação ponderada concentrou o maior número de portarias, assim como o ano de 2020. No que se refere ao conteúdo das portarias, estas abordam desde a definição de alguns regramentos, instituição de incentivos e definições de metas, porém ganham destaque o volume de atos que estabelecem a prorrogação das normas sobre o cadastramento e o atingimento dos indicadores de desempenho. Posto isso, verificou-se que as alterações produzidas por essa nova política de financiamento apresentam aspectos que podem tanto fortalecer quanto fragilizar os princípios do SUS. Por mais que algumas das medidas do PPB tenham coerência com os princípios do SUS, não se pode negar que a densidade dos elementos que prejudicam a implementação dos princípios do SUS são muito maiores e, portanto, no conjunto da obra seria arriscado afirmar que esse programa iria ofertar benefícios para APS.
O panorama que temos hoje no que se refere à política pública e ao entendimento – mais ou menos coletivo – do campo da Saúde Mental é fruto de um processo cujas raízes históricas e políticas podem ser encontradas em uma série de acontecimentos que, articulados e entrelaçados com a efervescência do período de redemocratização e principalmente com a Reforma Sanitária, fundaram a Reforma Psiquiátrica no Brasil. De toda uma série de acontecimentos históricos para o cenário da Luta Antimanicomial, a criação do primeiro CAPS do país, chamado de Professor Luís da Rocha Cerqueira, inaugurado em 1987 na cidade de São Paulo, foi o grande marco da concretização da nova proposta de atendimento à saúde mental. A partir de então, o CAPS passou a figurar como elemento central na organização do novo modelo de atenção à saúde mental, até os dias atuais. Esta pesquisa qualitativa, de abordagem cartográfica, teve por objetivo mapear a relação entre a oferta de serviços do CAPS e a necessidade dos usuários, trazendo para a análise a afetação do sujeito-pesquisador quando do encontro com seu objeto- pesquisado. Os resultados, a começar pela análise da dificuldade de acesso ao campo para realizar da pesquisa, passando pela observação das relações entre os atores desta cena e chegando, finalmente, à observação e escuta dos usuários, apontaram uma multiplicidade de fatores que, na constituição do serviço, podem constituir barreiras em vez de instituir cuidado em saúde: a insuficiência numérica do serviço diante da demanda; o arranjo escolhido pela gestão para a organização do serviço; o esvaziamento da proposta terapêutica do CAPS. Apesar, destas barreiras, no entanto, foi possível perceber que o encontro é o verdadeiro locus de produção de cuidado, pois neste espaço, a despeito dos entraves da macropolítica, é possível estabelecer vínculo, reconhecer e recolher os afetos que se organizam sob a forma de discurso e de demanda e organizar uma oferta, qualquer que seja ela, pensada e dirigida para aquela necessidade de saúde que se apresenta.