Teses e dissertações

A associação dos diagnósticos de Doença de Alzheimer (DA) e sarcopenia é bastante comum, afinal são duas doenças que afetam a população idosa e há evidências de que compartilham alguns aspectos da fisiopatologia. Ao mesmo tempo, a sarcopenia é subdiagnosticada nessa população porque pode ser interpretada como um fenômeno natural na evolução da demência, mas na realidade pode estar contribuindo para o agravamento da funcionalidade na pessoa com DA. Analisar os fatores associados ao diagnóstico de sarcopenia provável em pacientes que iniciaram o tratamento recentemente para a DA foi o objetivo principal deste estudo longitudinal. Foram entrevistados 55 idosos com o diagnóstico de DA que estavam em acompanhamento médico na Policlínica do Município de Londrina/Brasil durante os anos de 2022 e 2023. Foram excluídos idosos com diagnóstico de Doença de Alzheimer em estágio avançado pelo Clinical Dementia Rating ou que tivessem diagnóstico concomitante de outras doenças que pudessem causar sarcopenia. Os idosos foram submetidos a um questionário sociodemográfico, avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC), avaliação cognitiva por meio do MEEM, avaliação de funcionalidade através do Índice de Katz e ao questionário de triagem de sarcopenia SARC-F+CP em três momentos: no início, com 4 e 8 meses. Além disso foram coletados exames laboratoriais referentes ao estado nutricional. Dos 55 idosos analisados,15 (27,3%) estavam com sarcopenia provável ao final de 8 meses de acompanhamento. O diagnóstico de sarcopenia provável não teve associação com o tipo de anticolinesterásico em uso, com o relato de efeitos colaterais relacionados ao tratamento da DA, com comorbidades, com polifarmácia, com o uso de medicações com potencial anorexígeno, com alterações laboratoriais, com a prática de exercício físico, nem com redução no escore do MEEM ou valor do IMC. Não houve associação do diagnóstico de sarcopenia com o sexo, no entanto, quanto maior a idade, maior o risco de sarcopenia, RR= 1,091 (IC95% 1,018- 1,170, p=0,013), ou seja, aumento de 9% no risco a cada ano de vida. Houve associação da redução da circunferência de panturrilha com a sarcopenia, sendo CP < 33- 34 cm RR= 9,391 (IC95% 2,973-29,664, p<0.001). Os idosos com sarcopenia provável tiveram mais quedas, RR= 2,459 (IC95% 1,190-5,081, p=0,015) e pioraram funcionalidade, RR= 5,136 (IC95% 2,593 10,175, p=0,015) em comparação aos idosos sem sarcopenia. A prevalência de sarcopenia em idosos com doença de Alzheimer é alta e deve ser investigada durante o acompanhamento de cada paciente idoso, para prevenir desfechos negativos como quedas e perda de funcionalidade.
Introdução: A internet é necessária para vida cotidiana contemporânea. Porém a literatura científica traz evidências de que o uso excessivo de internet pode trazer prejuízos para a saúde. Entres os tipos de uso disfuncional de internet, o uso problemático de internet é considerado um tipo de dependência digital que pode trazer prejuízos para a saúde física e mental, e para o desempenho no trabalho e nos estudos. O uso problemático de internet está associado ao desenvolvimento de algumas enfermidades, como doenças psiquiátricas, tais como os transtornos alimentares. Objetivo: Investigar a relação do uso problemático de internet e de transtornos alimentares em estudantes universitários. Casuística e métodos: Foi realizado um estudo transversal e descritivo a partir da aplicação de um questionário online. A população de estudo foi composta pelos estudantes de graduação da Universidade Estadual de Londrina que participaram da primeira fase do Projeto GraduaUEL que foi um estudo transversal realizado no ano de 2019 com objetivo de estudar as condições de vida e saúde desses estudantes. A coleta dos dados foi realizada através de um questionário online enviado em 2023 para 2.565 alunos, destes 214 responderam e após aplicação dos critérios de exclusão, 74 alunos compuseram a amostra estudada. Para medir o uso problemático de internet foi utilizado a versão brasileira do instrumento “Questionário de Uso Problemático de Internet” ou “PIQUE-SF-9/UPI-9” e para a triagem da presença de transtornos alimentares foi utilizada a versão brasileira para o questionário “SCOOF”. Foram coletadas variáveis sociodemográficas e do estado de saúde dos estudantes além do tempo de uso de rede social. Para classificação dos estudantes que apresentaram uso problemático de internet foi realizado o cálculo de percentil. Os alunos que obtiveram pontuação acima do percentil 75 (pontuações maiores que 24 pontos na escala “PIQUE-SF-9/UPI-9”) foram considerados usuários problemáticos de internet. Para verificar a associação entre o desfecho e as variáveis independentes foi feito o cálculo da medida de razão de prevalência (RP), através da regressão de Poisson com variância robusta. Resultados: O percentual de estudantes com o uso problemático de internet foi de 20,3%. Quanto a presença de transtorno alimentar, 33,8% alunos apresentaram triagem positiva. O uso problemático de internet associou-se positivamente com a presença de transtornos alimentares na população estudada (RP: 2,46; IC95%: 1,31 – 4,59; p = 0,005). Outra variável que apresentou associação com transtornos alimentares foi ter sentido vergonha do corpo frequentemente/muito frequentemente ou sempre (RP: 6,33; IC95%: 1,63 – 24,51; p = 0,008). Conclusão: Os resultados encontrados apontam para o uso problemático de internet como um fator importante que pode influenciar na construção de hábitos alimentares, e consequentemente, prejudicar o desenvolvimento de uma relação mais saudável com o corpo e com a comida na população jovem adulta.
O câncer de mama é indiscutivelmente um problema de saúde pública no Brasil, pois possui alta taxa de incidência e é a segunda causa de morte entre as mulheres. Trata-se de um agravo que traz um prejuízo por morte evitável e produz mutilações, deturpação de identidade, acometimento biopsicossocial e impacto econômico. Nesse sentido, a perspectiva hegemônica e patriarcal da mama como um símbolo de constituição da feminilidade e de construção social da mulher (subordinada ao homem) pode influenciar a maneira como as questões de gênero são consideradas no rastreamento e no diagnóstico precoce de câncer de mama. Isso posto, valendo se do método qualitativo do tipo história oral de vida, o objetivo geral desta dissertação é investigar as questões de gênero que atravessam a trajetória, o acesso e o cuidado das mulheres com câncer de mama. O estudo foi realizado a partir dos diagnósticos de câncer de mama da Unidade da mama, ambulatório do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema (CISMEPAR) situado em Londrina, que atende os municípios das 17ª e 18ª Regionais de Saúde do Paraná. Desse modo, foram conduzidas sete entrevistas com apoio de um roteiro semiestruturado entre os meses de agosto e novembro de 2023, organizado em forma de contação de história a fim de trazer as narrativas das mulheres sobre as suas vivências em relação ao diagnóstico de câncer de mama. Convém mencionar que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição na qual a pesquisadora está vinculada. Para as discussões, utilizaram-se três eixos de análise: a) o acesso e a assistência à saúde, destacando o papel da Atenção Primária à Saúde (APS) no auxílio das mulheres ao longo de seus percursos; b) a divisão sexual do trabalho e o papel social de gênero, abordando o cuidado com a casa e com os filhos somado aos trabalhos remunerados externos ao lar (por exemplo, cozinha, serviço doméstico, educação infantil, artesanato e costura) e a consequente sobrecarga feminina em atividades diárias e; c) os sentimentos frente ao diagnóstico, verificando como os medos e as angústias associados ao câncer de mama afetam a vida social das mulheres e sua busca pela identificação clínica da doença. Tais pilares se revelam aspectos dificultadores no que se refere ao cuidado da saúde da mulher e ao diagnóstico precoce de câncer de mama. Em vista disso, a elaboração e a implementação de políticas públicas voltadas para essa população, com metas e financiamentos, representam uma das propostas para melhoria desse cenário. Entre as medidas necessárias estão as garantias de: acesso à creche e à escola em horários alternativos; direitos para mães trabalhadoras; igualdade salarial entre gênero e raça; e direitos sexuais e reprodutivos. E também investimentos no setor saúde como financiamentos, qualificação da APS e educação permanente em saúde para detecção e rastreamento das condições de saúde, com foco no câncer de mama a fim de proporcionar identificação e agilidade no diagnóstico e tratamento.
Introdução: Os estudantes universitários vivem situações estressantes com especificidades desta população, que muitas vezes inclui mudanças abruptas em sua rotina, de locall de moradia, frustraçao ou desempenho insuficiente com o curso escolhido, o que pode contribuir para o desenvolvimento de inúmeros problemas de saúde, como o burnout. Este, por sua vez, tem se mostrado um importante fator ao desenvolvimento de pensamentos e ideações suicidas (IS), além de constituir um fator de risco para o suicídio propriamente dito. O aumento da prevalência de burnout e IS na população universitária reforça a importância de entender a possível relação entre estas duas variávies. Objetivo: analisar a associação entre burnout e IS em estudantes de graduação de uma universidade pública. Métodos: Trata-se de um estudo transversal com estudantes de todos os cursos de graduação de uma universidade pública paranaense. A variável independente, burnout, foi aferida por meio da escala Copenhagen burnout Inventory adaptada para estudantes brasileiros. A variável dependente foi a IS, obtida da última questão do Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9). As variáveis de caracterização e de ajuste foram: sexo, idade, orientação sexual, raça/cor, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, prática de atividade física, uso de substâncias ilícitas, diagnóstico médico de depressão e de ansiedade, índice de massa corporal, violência ou assédio sexual no ambiente acadêmico, violência verbal no ambiente acadêmico e violência sexual na infância ou adolescência. A associação entre IS e o burnout – total e seus domínios (contínua) – foi medida pela regressão logística multinomial. Para delinear os fatores fortemente associados com a IS, foi realizada regressão logística binária. Para avaliar a contribuição das variáveis sociodemográficas na escala de burnout (pontuação total), a análise de regressão linear utilizou o método de ajuste pelo AICC. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: Dos 3.058 estudantes avaliados, 32,4% (n=992) apresentaram IS, sendo que destes, 7,9% (n=242) relataram IS quase todos os dias. A média da escala de burnout nos estudantes que relataram ausência de IS foi de 75,55 (EP = 0,73), estatisticamente superior ao dos estudantes que relataram IS, média de 85,79 (EP = 0,70). Observou-se que o burnout total e suas dimensões (pessoal, acadêmico, relacionados a colegas e aos professores) apresentaram associação estatisticamente significativa com IS em todos os modelos de análise. As variáveis associadas à IS foram ser não heterossexual, autorrelato de diagnóstico médico de depressão, tabagismo, ausência de atividade física, cor da pele não-branca e maiores pontuações na escala de burnout. Foram associadas ao burnout a violência verbal, ser do sexo feminino, autorrelato de diagnóstico médico de ansiedade, ausência de atividade física, violência sexual na universidade, ser não-heterossexual e autorrelato de diagnóstico médico de depressão. Conclusão: Ainda há necessidade de aprofundamento no estudo da associação entre burnout e IS em estudantes de graduação, porém, ainda é necessário compreender mais profundamente os efeitos que as variáveis exercem umas sobre as outras através de estudos com diferentes delineamentos e populações.